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Primeiro capítulo completo da obra Oluap: O Guerreiro de Paulo Marsal pela Dialógica Editora.
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Paulo Marsal
Paulo Marsal
São Paulo
Dialógica Editora 2015
Oluap: O Guerreiro ©2015, organizadores
Revisão Adriana Salerno
Ilustrações e Capa
Emílio Catrufo (Estúdio Escola Modelo Design) Thyago Bastos (Estúdio Escola Modelo Design)
Editoração
Paulo Marsal
Revisão Técnica Wagner Guedes
Impressão e acabamento
Gráfica Viena
MARSAL, Paulo Henrique Mello Oluap: O Guerreiro MARSAL, Paulo. Oluap: O Guerreiro, São Paulo: Dialógica Ed., 2015. 232 p.; 21 cm ISBN: 978-85-67070-06-3 1. Oluap. I. Título. 2. O Guerreiro. II. Título.
Todos os direitos reservados. A reprodução, ainda que parcial, por qualquer meio, das páginas que compõem este livro, para uso não individual, mesmo para fins didáticos, sem autorização escrita do
editor, é ilícita e constitui uma confrontação danosa à cultura.
Direitos de edição reservados à
Dialógica Editora Rua Quintino Bocaiuva, 176 cj. 525
São Paulo-SP, 01004-010 (11) 3105-4720 | (11) 3106-1392
www.dialogicaeditora.com.br
IN MEMORIAM
Mãe: Glauciana Mello Marsal
Avó: Judith Aparecida Tanganelli Marsal
AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha esposa pela paciência e
força durante o processo de concepção da
obra, aos meus colegas Chen Su e Wang
Ting Liu pela ajuda com as traduções ao
Mandarín, ao meu amigo Wagner Guedes
pelo auxílio nos quesitos filosóficos, ao meu
amigo, quase irmão, Emílio Catrufo pelas
ilustrações e a todos que de alguma forma
me apoiaram para que este livro
acontecesse.
DEDICATÓRIAS
Primeiramente a Odin e à minha esposa
Viviane Marsal, também ao meu pai José
Marcos Marsal, à minha avó Isabel e aos
meus irmãos.
SUMÁRIO
O NASCIMENTO ........................................................... 13
O APRENDIZADO ......................................................... 29
A CAÇADA .................................................................... 53
O QUINQUÊNIO ............................................................ 83
O CASAMENTO .......................................................... 115
O FILÓSOFO ............................................................... 155
O NOVO REI ............................................................... 165
O ACORDO ................................................................. 187
A ARTICULAÇÃO ........................................................ 209
PREFÁCIO
Numa era distante, onde a ferocidade era parte integrante do homem, bem como a busca incessante por bens e riquezas, estavam os Vikings, metade guerreiros, metade homens, cuja morte se dava pela honra e destino por eles próprios traçados. Há quem ainda afirme e defenda a interseção dos deuses...
Fortes e destemidos, eram consi-derados servos incondicionais desses deuses, por isso trilhavam e percor-riam, explorando sem temor toda a Europa dos séculos VIII ao XI.
É exatamente neste mundo, que nasce Oluap de Nordvestland –, um personagem intrépido que faz deste romance épico, minuciosamente escrito por Paulo Marsal, um atrativo aos que procuram ação e aventura, contextualizada por decisões e dramas infindos, devida e minuciosamente pensados nos mais ricos detalhes.
Filho da linda Björk e de Socram, um ferreiro amigo do Rei Ragnar, de quem salvou a vida, Oluap, O Guerreiro, teve seu destino traçado ainda em sua infância, fato que indiscutivelmente torna sua trama ainda mais convidativa aos primórdios do “imperialismo” vi-king.
Uma obra literária de tirar o fôlego, desde seu primeiro capítulo até o desfecho final, atribuindo estética, drama e aventura a cada cena; tudo isso, dentro de ilimitada peripécia atre-
lada a uma nobre estrutura narrativa. Por isso, o conto faz com que contemplemos os limites da interação e reflexão sobre os valores humanos, a gratidão e as virtudes de povos treinados para conquistas e desafios, sejam eles quais fossem – valendo-se, por vezes da força excessiva que impregnava e motivava os nórdicos da época.
Tão por isso, a leitura torna-se recomendável para idades a partir dos doze anos, pois a promessa imposta nas páginas que seguem é de inte-gração ao desbravamento e à história rigorosamente retratada ou seja, tal como se passou. Nesse contexto, não há pretensões ou apologias à violência ou aos métodos mais violentos empre-gados de conquistas ou defesas, mas resta a este romance, certa obriga-toriedade ao retratar as conquistas e mazelas de uma época, onde os mais fortes e destemidos eram vangloriados como libertadores e heróis.
Oluap agora é esse homem, uma vez que nasceu com o desígnio dos deuses para reinar, sem abandonar jamais as características indiscutíveis de honra-dez e obstinação, seja quando tratar de gratidão e amor, seja quando for levado à prova de lealdade e perse-verança junto ao Rei, à família, ao amor ou ao Deus Thor!
Wagner Guedes
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_____________________________ Oluap: O Guerreiro |
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1 O NASCIMENTO
Foi o mais terrível inverno que já se ouviu falar, onde
o branco era a única cor que se podia ver e o silêncio ouvir,
além de pessoas e animais entocados para fugir do álgido
clima, entretanto, ao norte do típico e costeiro vilarejo
agrícola de Nordvestland, em uma pequena e rústica
alcova construída em madeira, nascia Oluap, filho de
Socram, o ferreiro do Rei Ragnar de Sørligard.
Apesar do intenso frio e do anelo que dominavam o
seu corpo, aquele se tornou o dia mais feliz na vida de
Björk, a encantadora mãe de Oluap, cujos longos cabelos
castanhos brilhavam como Sol e os olhos cor de mel
encantavam quem os pudessem ver, desde que Socram
deixou o séquito real para se unir a ela em brullaup em um
dia de Frigg (sexta-feira), após o mundr de dezesseis
onças de prata serem pagos ao Sigurvinsson, o pai de
Björk, por volta de 830 d.C.
Na morada da família de Socram, tomada de imensa
exaltação, a parteira, uma caquética senhora de cabelos
grisalhos, surpresa com o tamanho do menino que
acabara de nascer, proferiu ao pai:
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| 14 _______________________________ O NASCIMENTO
– Senhor, é um menino enorme, e ele será um
grande homem como tu!
– Não! Ele será um guerreiro e um homem muito
melhor do que eu! – respondeu Socram orgulhoso. – E a
minha Björk, como está? – perguntou preocupado.
– Ela está bem, Senhor.
Feliz com o nascimento de seu primogênito, com um
sorriso de orelha a orelha; o alto e magro, porém forte,
Socram, procurou por sua amada esposa aleitada e disse:
– Björk, tu me deste um grande menino.
– Que alegria! Ele terá um próspero futuro no
castelo, graças aos deuses tu és amigo do Rei, e o nosso
pequeno poderá treinar e aprender a lutar como tu sempre
quiseste – replicou a belíssima senhora, regozijando,
apesar de afadigada.
– Isso mesmo mulher, ele será um guerreiro, e o
maior de todos!
– Querido, qual nome tu vais colocar?
– Será Oluap e será conhecido como Oluap de
Nordvestland.
– Que assim seja! – completou Björk glorificada.
Alguns anos se passaram e o gosto do jovem Oluap
pelos armamentos que seu pai forjava chamava atenção,
então ao completar cinco anos, Socram o levou para caçar
e começou a lhe ensinar as artes do manuseio da espada.
Aos poucos o sagaz jovenzinho demonstrava uma
habilidade impressionante com as armas e com a luta
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Paulo Marsal ______________________________ 15 |
corpo a corpo, pois mesmo pequeno ele era capaz de
cortar e carregar lenha para seu pai, o que demonstrava
uma força física peculiar para a idade.
Percebendo o grande potencial de seu filho, Socram
antecipou a ida do menino ao Castelo do Rei Ragnar, onde
ele iniciaria um forte treinamento militar.
No sétimo natalício de Oluap, ávido, Socram o
acordou cedo, antes mesmo do nascer do Sol e juntos,
montados em um robusto cavalo negro, rumaram para o
castelo do Rei Ragnar, localizado a cerca de dois dias de
cavalgada dali. Ambos carregavam um punhado de prata,
um barril de hidromel, um galão de água e duas peles,
além de suas afiadas espadas.
Em meio a um tortuoso trajeto coberto de neve, um
silêncio ensurdecedor quase fazia esquecer o frio que se
sentia nos ossos, porém, indiferente às intempéries,
entusiasmado Socram indagou:
– Tu estás feliz com a tua ida ao castelo?
– Sim Senhor meu pai, eu quero muito ser um
homem forte como o Senhor e me tornar um poderoso
guerreiro – afirmou o jucundo Oluap.
– Que bom filho! Com certeza tu serás!
– Pai, tu podes me contar como é o Castelo do Rei?
– perguntou curioso.
– Posso filho! Eu vou te contar como o teu avô me
contou... – disse o Pai, com certa nostalgia. – Imagine que
no topo do mais alto monte ao centro de Sørligard em
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| 16 _______________________________ O NASCIMENTO
posição dominante e cercado por uma grande e circular
muralha de pedras está o castelo do Rei Ragnar,
imponente com seus vários torreões como no castelo de
Asgard... Lá existem apenas dois acessos, os quais são
muito bem guardados pelo exército do Rei. Dentro há uma
povoação muito maior que a de nossa vila, um jardim e um
campo de treinamentos... Foi o Rei Yngwie, o avô do Rei
Ragnar, quem iniciou a construção do castelo, se
baseando em um sonho que ele tivera com Odin... Foram
quase trinta anos para que o castelo ficasse pronto...
Oluap, aquele é o lugar mais bonito e seguro em que eu já
estive – contou Socram com alegria.
– Por Odin! – exclamou empolgado. – Eu quero
muito conhecer o castelo do Rei Ragnar! Pai, nós iremos
demorar muito para chegar? – perguntou o menino
impaciente.
– Não, se não pegarmos uma tempestade,
deveremos chegar por lá amanhã ao pôr do sol, agora te
concentres no caminho para que tu não o esqueças para
quando quiseres nos visitar, pois tua mãe já o espera.
– Sim Senhor, mas mal saímos de casa e ela já me
aguarda? – estranhou o garoto.
– Sua mãe te ama mais do que tudo neste mundo,
meu filho, e se ela pudesse te ensinar o que tu irás
aprender no castelo, ela o faria para que tu não partisses.
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Paulo Marsal ______________________________ 17 |
– Eu entendi, e eu também a amo, logo que
possível eu voltarei para vos ver, o quanto antes, eu
prometo!
– Pois bem Oluap, então agora esqueça o resto e te
foques no caminho!
– Sim Senhor!
As horas se passaram e a noite do primeiro dia de
viagem surgia, porém antes que ficasse escuro demais,
Socram optou por parar e montar acampamento para
deixá-los em segurança diante às árvores. Sem pestanejar
amarrou o cavalo em um grande e velho tronco, pediu para
Oluap reunir bastantes lenhas para fogueira, enquanto ele
limpava a neve e preparava um abrigo seguro longe do
chão.
Com a fogueira acesa, ambos foram instalar
algumas armadilhas para capturar o jantar e aproveitaram
para conversar:
– Então, Oluap o que tu pensas de tua primeira
viagem? – perguntou Socram, interessado.
– Meu pai, está sendo muito divertida – alegre,
atendeu o menino.
– E o caminho? Consegues guardar?
– Sim Senhor, eu me guio pelas montanhas, pelo
Sol, pela Lua e pelo rio, não vou me perder, e quando eu
puder vos visitar irei – respondeu confiante. – Demos
sorte, não é mesmo?
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– Sim, não pegamos a tempestade, Thor deve estar
olhando por nós. Tu estás com frio?
– Sim, estou!
– Então pegue uma pele no cavalo, tu esperas pelo
o quê?
– Pelo Senhor meu pai! O Senhor não está usando
uma...
– Ora Oluap, deixe de bazófia e vá te cobrir! Eu não
estou com frio por isso não a peguei, mas se tu estás, vá
lá e pegue! Nunca espere pelos outros para te protegeres
e ficar em segurança, a não ser que seja para vos defender
também! Como pensas que me será útil ou me protegerá
se tu adoecer? Agora vá e te protejas do frio! – repontou o
pai com veemência.
– Estou indo! – disse envergonhado e de cabeça
baixa.
– Mas vá depressa, pois acredito que pegamos
algo.
Com o javali assando no fogo e a escuridão os
inundando, o cheiro da carne começava a atrair animais
como lobos, gerando inquietude no menino:
– Que barulho é esse pai? – inqueriu Oluap,
espaventado.
– Devem ser os lobos nos espreitando filho.
– Mas não ouvi uivos aqui por perto, como podem
ser lobos?
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Paulo Marsal ______________________________ 19 |
– Oluap, assim como nós não fazemos barulho para
caçar, esses também não o fazem, porém não te
preocupes estamos em segurança, pois estamos no alto
das árvores e temos uma bela fogueira para os manter
longe de nós, mas se te fazes menos pávido, pegue aqui
minha espada, contudo coma bem, beba um pouco de
água e depois tente dormir, pois amanhã a nossa viagem
será longa – disse o Pai tomando um pouco de seu
hidromel.
– Sim Senhor meu pai!
A noite gelada passou, a fogueira se apagou e a
viagem viria a recomeçar, mas antes parte da carne foi
guardada ou comida e parte descartada junto às árvores.
No cair da noite, já adormecido, cansado pela
viagem, abraçado ao pai, Oluap e Socram chegaram ao
castelo do Rei Ragnar:
– Abra o portão! – vozeou Socram. – Abra o portão!
– Quem ousa incomodar ao Rei e aos teus servos a
esta altura? – proferiu o vigia.
– Diga ao Rei que é Socram de Nordvestland que
ele não hesitará em me receber – exclamou
corajosamente.
Assustado com o visitante, o vigia correu ao chefe da
guarda, quem procurou pelo Rei:
– Meu Senhor, me desculpa te aborrecer, mas um
homem chamado Socram de Nordvestland está aqui para
te ver!
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– Onde ele está? – replicou o Rei surpreso.
– Ao portão Meu Senhor, devo mandá-lo embora?
– Não ouse! Mande-o entrar, o leve ao salão, sirva-
lhe e peça para que ele me aguarde.
– Sim, Meu Senhor, agora mesmo!
Após pai e filho se empanturrarem, mesmo que
exaustos, em especial Oluap, o Rei Ragnar adentra no
salão gritando:
– Ora, ora, ora se não é o homem que salvou a
minha vida, o que fazes aqui Socram? A que devo a
honra?
– Meu Senhor! Trouxe meu filho Oluap para treinar
com os teus homens, se é que ainda será possível.
– Hahaha! – gargalhou exageradamente o Rei. –
Ora Socram, tu não precisas destas formalidades de Meu
Senhor por aqui... E claro, ainda será possível o treinar, ou
pensas que teu Rei não cumpres com a palavra, ainda
mais aos amigos?
– Perdão, Meu Senhor!
– Já disse que podes parar com este dislate de Meu
Senhor, me chama apenas de Ragnar, afinal além de meu
amigo, ainda és tu o ferreiro de nossa armada, deixa disto!
Porém, me diga qual é a idade de teu rebento, meu bom
amigo?
– Agora são sete anos, Meu Sen... Perdão, Ragnar!
– gaguejou Socram.
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Paulo Marsal ______________________________ 21 |
– Bem melhor assim! Ora, mas ele é apenas um
rapazote, muito novo, não?
– É sim, porém te asseguro que ele irá te
surpreender. Ele é forte e muito bom com a espada, apesar
da idade.
– Veremos, mas agora vamos nos divertir, meu
bom amigo, eu tenho bastantes cervejas e hidromel para
nós, além de muito para te contar, então ponhas o garoto
para dormir, porque amanhã ele terá um dia cheio –
ordenou o robusto homem de voz grave, cabelos e barbas
loiros.
– Como não, mas antes eu gostaria de te pedir um
favor...
– Sim, digas o que tu desejas...
– Eu quero que Oluap não tenha regalias em
relação aos outros jovens, por favor, Ragnar.
– Impossível! Ele é teu filho, ao menos terá que
aprender a desenhar sons como tu e terá também que me
acompanhar nas caçadas, pois a rainha só me deu
mulheres, seis até agora, no mais ele será tratado como
os outros, eu te prometo meu amigo! Entretanto, agora
vamos à farra, afinal faz muito tempo que não te vejo.
– Verdade! Então vamos aproveitar – respondeu
Socram bem animado.
Enquanto seu pai patuscava com o Rei, Oluap,
deslumbrado com o alcácer que lhe fugia a vista de tão
colossal, comovido pelo Rei e buliçoso com o futuro,
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| 22 _______________________________ O NASCIMENTO
tentava dormir, todavia sem muito sucesso, pois sua
ansiedade o consumia. Os minutos passavam como horas
e quanto mais ele tentava não se distrair, mais ele sonhava
com a sua estreia, porém com tanto negrume e com o
aconchego de uma boa cama, o jovenzinho que
costumava a dormir ao chão, acabou pegando no sono.
Ao nascer do Sol, Socram acordou o filho para o tão
desejado primeiro dia no castelo:
– Vamos Oluap, o Sol já nasceu e está na hora de
levantar! Vamos, levanta, vamos!
Como Socram nunca havia visto antes, Oluap pulou
da cama, quase como um gato, pronto para sua estreia
junto ao Rei Ragnar, e correndo se dirigiu ao salão
tentando descobrir o que lhe esperava, contudo para sua
surpresa a sala estava quase vazia, havia apenas o Rei a
sua espera, e então ao alcançá-lo, Socram lhe transmitiu:
– Filho, deixar-te-ei e voltarei à nossa morada.
Neste instante tu irás conhecer o castelo acompanhado
pelo Rei, e a partir de amanhã passarás ao alojamento
juntamente com os demais aprendizes.
– Mas pai, eu quero que tu fiques, eu tenho medo...
– retrucou tristemente.
– Oluap, o medo nunca te trará algo de proveitoso,
seja forte, tu já és quase um homem e já pode ficar
sozinho, além do mais, tua mãe e teu irmão me esperam.
Preciso chegar por lá antes que ela conceba teu novo
germano.
_____________________________ Oluap: O Guerreiro |
Paulo Marsal ______________________________ 23 |
– Sim Senhor! Eu serei forte! – acatou, após um
vigoroso suspiro.
– Muito bem, agora eu partirei em paz. O Rei
Ragnar vai te mostrar o castelo, adeus meu filho!
– Adeus meu pai!
Sozinhos no imenso salão, cujas paredes eram
repletas de ornamentos talhados à mão, o Rei Ragnar
cumprimenta o garoto, o leva para explorar o castelo,
aproveita para conhecer melhor o filho de seu amigo e
narra algumas histórias dele com Socram:
– Muito bem jovenzinho, dar-te-ei a honra de
conhecer o castelo guiado por mim, o Rei Ragnar de
Sørligard... Mas, antes me conte, dormiu bem?
– Dormi sim, Meu Senhor! – disse o menino, um
pouco desconcertado com a poderosa presença.
– Já esteve em um castelo antes?
– Não, é a primeira vez, Meu Senhor...
– Pois bem, teu pai me contou que tu és muito bom
com a espada, é verdade?
– Sim, Meu Senhor!
– Bom! Vou terminar de te mostrar o castelo
e depois quero que tu me mostres se é bom mesmo...
– Sim, Meu Senhor! – concordou Oluap, agora mais
à vontade.
– Entretanto, vou te contar como teu pai salvou
minha vida e, por conseguinte como nos tornamos amigos.
– Será uma grande honra Rei Ragnar...
|Oluap: O Guerreiro _____________________________
| 24 _______________________________ O NASCIMENTO
– Eu e a minha guarda estávamos cavalgando
pelas terras do sul, quando um de meus homens saltou de
teu cavalo sobre mim, me jogando e rolando comigo pelo
chão molhado até uma árvore. Irritado e todo ralado eu
levantei esbravejando; O que tu pensas que estás
fazendo, desejas morrer pela minha espada? Foi quando
ele me mostrou uma flecha atravessada em seu braço
direito, e onde percebi que além de me salvar da flecha ele
também evitou que eu abalroasse contra o carvalho,
salvando assim a minha vida e impedindo que eu me
ferisse ainda mais... Oluap, tu sabes quem foi este
homem?
– O meu pai! – respondeu cheio de orgulho.
– Isto mesmo, Socram de Nordvestland, o homem
quem salvou a minha vida. A partir daí ele passou a ser
meu amigo e a me escoltar por anos, até que ele conheceu
e engravidou tua mãe, a doce Björk, lá pelas imediações
de Nordvestland, por onde resolveu ficar. Quando ele me
contou sobre vós, ele aproveitou para pedir que eu te
admitisse treinar junto aos meus homens.
– Meu Senhor, será uma honra treinar com os teus
homens.
– Hahaha! O teu pai me disse praticamente a
mesma coisa quando te pedi para ser o meu ferreiro –
disse o Rei sorrindo.
– Será uma honra – repetiu o garoto sorrindo.
_____________________________ Oluap: O Guerreiro |
Paulo Marsal ______________________________ 25 |
– Basta de enrolação! Agora eu quero ver do que tu
és capaz garoto – determinou o Rei, assim que chegaram
à área de treinamentos.
Interessado, o Soberano de Sørligard selecionou
dois garotos, um enorme já com pelos no rosto, o outro
bastante robusto e assustador, os quais ele sabia que
possuíam um excelente desempenho na prática marcial e
os levou até Oluap dizendo:
– Jovenzinho, estes dois garotos irão te desafiar.
Um deles o enfrentará em um embate corpo a corpo e o
outro em uma luta de espadas. Quero ver como tu vais
proceder com dois de nossos melhores aprendizes, tu
estás pronto?
– Sim, Meu Senhor! – aquiesceu Oluap, convicto.
– Então que comece a contenda! – disse o Rei
ávido em conhecer o resultado.
Com a respiração e o coração disparados, Oluap
cerrou os punhos e avançou em direção a um dos garotos
e antes mesmo que o petiz pudesse se mexer, Oluap o
alvejou com um soco direto no nariz e em seguida com
uma pujante joelhada no queixo, a qual desacordou o seu
adversário, sem demora Oluap rolou velozmente no curso
do outro jovem sacando de imediato sua espada e a
direcionando até quase escorá-la no peito do rapaz, a
quem deu-se a reação de soltar a espada e levantar as
mãos.
|Oluap: O Guerreiro _____________________________
| 26 _______________________________ O NASCIMENTO
Espantado com o que acabara de ver e sem saber o
que dizer, o Rei com muita energia aplaudiu gritando:
– Hail, Oluap de Nordvestland! Hail, Oluap de
Nordvestland! Hail, Oluap de Nordvestland! Hail!