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É bem certo que um amigo traz outro amigo e assim o número dos que abraçaram esta missão continua a aumentar. Começá- mos com umas dezenas em 2006, aquando da celebração da geminação. Sabíamos que o objectivo de sermos mais de mil era algo ambicioso, mas também estávamos conscientes de que a causa a que nos dedicámos era nobre e não poderia passar indiferente a muita gente. “Catito, catito” (a pouco e pouco), como se diz no Gungo, vamos caminhando. Estamos quase nos 600. Recordamos que os "Mil & Tal Amigos" são pessoas amigas do "Grupo Missionário Ondjoyetu" que têm por objectivo apoiar a presença da equipa missionária da diocese de Leiria-Fátima que se encontra na Missão do Gungo, diocese do Sumbe, Angola. Quem pertencer aos "Mil & Tal Amigos" contribui para este projecto com pelo menos um euro por mês. Em contrapartida, é mantido a par do desenrolar desta missão, pelos meios que o grupo tem ao seu alcance, nomeadamente o jornal "Ondjoyetu". Para obter mais informações e se inscrever pode contactar-nos por algum dos meios indicados na “Ficha Técnica”. A todos os que são "Mil & Tal Amigos" dizemos "Twapandula", que quer dizer Obrigado. Nota: Os amigos que fizerem transferência bancária deverão enviar um mail para: [email protected], confir- mando a operação. NDJOYETU “A Nossa Casa” Jornal do Grupo Missionário da Diocese de Leiria-Fátima Ondjoyetu | Agosto de 2009 | Ano VI | N º 18 | Gratuito Festa Grande Numa catedral criada por Deus, à sombra de uma mulembeira, no dia 19 de Julho, foi dia de festa grande. Na mesma celebra- ção, reuniu-se o Dia do Catequista, o encerramento do Ano Paulino e a celebração de catorze casamentos. Os noivos, perfilados no corredor central, faziam guarda de honra ao cortejo de entrada em que os catequistas cantavam um cântico alusivo a S. Pau- lo. (Ler na página 3). Mil & Tal Amigos Distribuição de brinquedos no Gungo no Dia da Criança

Ondjoyetu 18 A4 · Sabíamos que o objectivo de sermos mais de mil era algo ... faziam guarda de honra ao cortejo de entrada em que os catequistas cantavam um cântico alusivo a S

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É bem certo que um amigo traz outro amigo e assim o número dos que abraçaram esta missão continua a aumentar. Começá-mos com umas dezenas em 2006, aquando da celebração da geminação. Sabíamos que o objectivo de sermos mais de mil era algo ambicioso, mas também estávamos conscientes de que a causa a que nos dedicámos era nobre e não poderia passar indiferente a muita gente. “Catito, catito” (a pouco e pouco), como se diz no Gungo, vamos caminhando. Estamos quase nos 600.

Recordamos que os "Mil & Tal Amigos" são pessoas amigas do "Grupo Missionário Ondjoyetu" que têm por objectivo apoiar a presença da equipa missionária da diocese de Leiria-Fátima que se encontra na Missão do Gungo, diocese do Sumbe, Angola.

Quem pertencer aos "Mil & Tal Amigos" contribui para este projecto com pelo menos um euro por mês. Em contrapartida, é mantido a par do desenrolar desta missão, pelos meios que o grupo tem ao seu alcance, nomeadamente o jornal "Ondjoyetu".

Para obter mais informações e se inscrever pode contactar-nos por algum dos meios indicados na “Ficha Técnica”. A todos os que são "Mil & Tal Amigos" dizemos "Twapandula", que quer dizer Obrigado. Nota: Os amigos que fizerem transferência bancária deverão enviar um mail para: [email protected], confir-

mando a operação.

NDJOYETU “A Nossa Casa”

Jornal do Grupo Missionário da Diocese de Leiria-Fátima

Ondjoyetu | Agosto de 2009 | Ano VI | N º 18 | Gratuito

Festa Grande

Numa catedral criada por Deus, à sombra de uma mulembeira, no dia 19 de Julho, foi dia de festa grande. Na mesma celebra-ção, reuniu-se o Dia do Catequista, o encerramento do Ano Paulino e a celebração de catorze casamentos. Os noivos, perfilados no corredor central, faziam guarda de honra ao cortejo de entrada em que os catequistas cantavam um cântico alusivo a S. Pau-lo. (Ler na página 3).

Mil & Tal Amigos

Distribuição de brinquedos no Gungo no Dia da Criança

2 ONDJOYETU

ONDJOYETU Jornal do Grupo Miss ionário da Diocese de Leir ia-Fát ima

Entrevista ao Sr. Vitorino (2ª parte) O Sr. Vitorino

Guluve (VG) esteve em missão por ter-ras portuguesas durante dois meses. Chegou ao nosso país no dia 16 de Abril e regressou a Angola no passado dia 13 de Junho. Durante a sua esta-dia cá, e entre as muitas actividades que teve, consegui-mos arranjar um tempinho para lhe fazer algumas per-guntas. Aqui fica a segunda parte da entrevista. Ondjoyetu (O)- O que é que

achou de mais diferente do seu país?

VG - A primeira coisa que achei engraçada foi as torneiras: a água sai fria de um lado e quente do outro! Depois a neve que nem é fuba, nem sal, nem é nada, é uma coisa que cai do céu! Outra coisa que achei engraça-da foi perceber como é que o lixo pode formar uma energia e ver as ventoi-nhas eólicas na serra. Gostei também de ver a calçada das ruas, pois a nós custam-nos muito fazer isso. O - Neste momento, que está

quase de partida, quais são os sentimentos que leva consigo?

VG - Levo no meu coração tudo o que vivi e todos os que estiveram e viveram comigo. Um dia será que vou voltar? Só Deus sabe. O - Qual vai ser a primeira his-

tória que vai partilhar com a sua comunidade?

VG - A minha viagem de avião para Portugal, como funciona as coisas todas; as casas de banho, a mesinha para colocar o tabuleiro, o cinto, que devemos mascar pastilha por causa dos ouvidos e tantas outras coisas que o mano Armando me ensinou durante a viagem. Depois vou contar o acolhi-mento que tive, como as comunidades me trataram e o que vivi.

Hei-de contar tudo e dizer-lhes que é melhor ser cristão, trabalhar em fra-ternidade pois só com Deus podemos ir além. Sem fé como é que eu poderia vir aqui?

O - Agora que tem uma nova percepção do mundo, como vê o trabalho dos voluntários no Gungo? VG - O trabalho dos missionários é a entrega total às comunidades e está a dar bons frutos. O trabalho da equipa está a ser muito bom pois está a criar projectos de desenvolvimento

para as comunidades dos vários cen-tros, como é o caso dos combustíveis, dos medicamentos, do pão, dos alfaia-tes, entre outros, que nós nunca tería-mos conseguido sozinhos. Este traba-lho tem permitido alargar as comuni-dades da comuna do Gungo e está a ser muito bem feito. O - Sabendo como se processa a

vida em Portugal, o que diria aos jovens que neste momento pen-sam em fazer voluntariado na sua comunidade?

VG - Que é preciso muita formação e uma preparação muito grande para que as pessoas entrem no ritmo da missão. É muito importante a partilha e troca de impressões e experiências entre os dois povos, pois é isso que implica uma geminação. Dir-lhes-ia também que vão porque são todos precisos. O - Quer deixar uma última

mensagem antes de partir? VG - Sim! Quero dizer um muito

obrigado por aquilo que fizeram por mim. Os primeiros que tiveram este pensamento de me trazerem cá que Deus os abençoe, lhes dê amor, cora-gem e fé. Levo-vos no meu coração e tudo o que foi feito por mim será entregue às comunidades. Agradeço a todos os que contribuíram para esta visita tanto os que estão lá em Angola, em especial à mana Lina que tratou dos meus papéis, como os que estão cá e que são tantos. Continuem a rezar pelas nossas comunidades porque nós Estamos Juntos!

Cátia Biscaia , Rute e Ti’ Vitorino

Ficha Técnica Ondjoyetu: Jornal do Grupo Missionário da Diocese de Leiria Fátima. Contactos: Seminário Diocesano, 2414 - 011 Leiria; Tel.: 926 031 382; E-mail: [email protected] Blog: www.ondjoyetu.blogspot.com Tiragem: 2.300 exemplares Distribuição: Gratuita Textos: Eq. Missionária, Angélica Filipe, Cátia Biscaia, Ana Rute, Ti Vitorino, Maria Inês Pereira, P. Vítor Mira, Elsa e Celina Pedro

Editorial Neste mês de Agosto completam-se três

anos da ida do primeiro grupo que se deslo-cou para Angola a fim de assumir a Missão do Gungo, no contexto da Geminação entre as dioceses de Leiria-Fátima e Sumbe.

Toda a caminhada feita é motivo para dar-mos graças a Deus por tudo o que Ele tem realizado através de todas as pessoas que têm alimentado e mantido vivo este sonho. Entre todas temos particularmente presen-tes os voluntários e de modo especial o P. David Nogueira que tem sido a “pedra angu-lar” deste projecto em terras de Missão.

Em tempo de balanço, recordamos aqui as mudanças que se têm dado ao longo deste ano. A 15 de Abril regressou o Armando Franco, depois de seis meses Missão. Mas já antes, a um de Abril, partira o casal Tiago e Maria Antónia Gomes, que regressaram a 25 de Junho. Nesse mesmo dia seguiu viagem a Maria Angélica Filipe que regressará, se Deus quiser, a 22 de Setembro. Nesse mes-mo dia virá o P. David para umas merecidas férias, tendo o regresso a Angola marcado para o dia 25 de Outubro. Neste dia 26 de Agosto parte a Maria Inês Pereira, por um ano. A Ana Sofia Pereira já vai quase com um ano e meio de missão, não estando ainda definida a data do seu regresso.

Pedimos a Deus que toque outros corações para que a nossa Missão do Gungo continue a ter os missionários de que precisa.

Aproveitamos este espaço para dar mais algumas informações.

O contentor que enviámos em Junho já está em território Angolano e, ao que pare-ce, já não faltará muito para o seu levanta-mento.

De 18 a 20 de Setembro decorrem em Fáti-ma as Jornadas Missionárias, uma boa oportunidade para refrescar o espírito mis-sionário num ambiente de partilha, forma-ção, oração e convívio. Para mais informa-ções e inscrições contacte-nos (ver caixa da Ficha Técnica).

No dia 22 de Novembro (domingo), no Teatro José Lúcio da Silva, em Leiria, terá lugar um espectáculo organizado pelo Ond-joyetu. Por agora reserve esta tarde; dare-mos mais detalhes.

A partir de meados de Setembro o Grupo Missionário Ondjoyetu passará a ter como sede o Seminário Diocesano de Leiria, dei-xando de ser Regueira de Pontes. Muito obrigado a esta paróquia por todos estes anos de acolhimento e pelo o apoio que deu a este grupo e projecto.

P. Vítor Mira

A vida é feita de acontecimentos e a missão, na linha da frente, ligando e implicando tantas pessoas, vai tendo muitos acontecimentos. Uns são mais festivos, outros mais “normais” e dos últimos vamos partilhar alguns.

A meados de Junho chegou o nosso tio Vitorino, após dois meses em Portugal. Veio cheio de histórias e conta-as com um empolgamento que nos faz prender a atenção. Ajudado pelas fotografias, vai partilhando o que viveu e aproveitando as oportunidades para transmitir os ensinamentos e exemplos que recebeu.

Falando de chegadas e partidas, no final de Junho, a família da linha da frente passou por várias alterações em poucas horas. No dia vinte e cinco ficá-mos reduzidos a três elementos com a partida do Tiago e da Antónia, que ter-minaram os três meses de missão. Mas, no dia vinte e seis, a família voltou a crescer e, agora, somos quatro com a mãe Angélica. A quem partiu, mais uma vez, obrigado pelo contributo que deixa-ram. Uma das riquezas desta missão está na diversidade que cada voluntário traz. Diversidade de saberes e até de sabores. Uma das novidades experimen-tadas com a vinda da mãe Angélica é a sopa de “beldroegas” do quintal.

Numa catedral criada por Deus, à som-bra de uma mulembeira, no dia 19 de Julho, foi dia de festa grande. Na mesma celebração, reuniu-se o Dia do Catequis-ta, o encerramento do Ano Paulino e a celebração de catorze casamentos. Os noivos, perfilados no corredor central, faziam guarda de honra ao cortejo de

entrada em que os catequis-tas cantavam um cântico alusivo a S. Paulo. Cada cate-quista levava um cajado na mão como sinal da missão de pastores das comunidades que lhes foram confiadas.

Os noivos e noivas, de várias idades e experiências, assumiram o compromisso do matrimónio diante de uma numerosa assembleia. Desde o ano 2004 que não se realizavam casamentos no Gungo e esta festa veio dar mais esperança a quem está em caminhada de prepara-ção quer para o Matrimónio quer para os outros sacramentos.

S. Paulo foi recordado mais uma vez neste ano e marcou-se o encerramento do ano Paulino com a visualização do filme sobre a vida deste apóstolo. A tec-nologia ao serviço da evangelização per-mitiu conhecer melhor e deixar-se desa-fiar por um grande exemplo. A capela do Calipe foi pequena para tanto espectador que alguns até subiram para os camaro-tes empoleirando-se nos paus da estru-tura do telhado.

Um dos dinamismos iniciado no Gun-go neste ano 2009 foi a Infância Misio-nária. Temos já vários grupos de crian-ças interessadas que puxam pelos seus assessores e querem começar a cami-nhar em grupos. São pequenos missio-nários em quem o valor da oração e da prática da caridade vão sendo as máxi-mas de vida.

Neste momento uma das grandes preocupações é o desalfandegamento do contentor que já está em solo angolano. Falta-nos acabar de tratar de toda a documentação para que o processo pos-sa ser entregue no porto e se venha a fazer o levantamento. Dentro daquela “lata” vêm muitas horas de trabalho e a generosidade de muita gente e que pre-cisa de chegar àqueles para quem foi pensada. E, se Deus quiser e os homens ajudarem, há-de chegar ao destino. É preciso trabalho, paciência e resistência e uma dose grande de oração.

Por estes acontecimentos e outros há sempre muitos motivos para fazer festa, grande ou pequena. As nossas vidas têm sempre muito que podemos agradecer Àquele que faz tudo acontecer. Twapan-dula Ñgala (Obrigado Senhor)!

A Equipa Missionária

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3 ONDJOYETU

Adobes - Festa Grande

Como tem acontecido nos últimos anos, o Grupo Missionário Ondjoyetu realizou uma semana mis-sionária no Alentejo. Este ano decorreu de 8 a 16 de Agosto na Aldeia da Mata.

Partilhámos com a comunidade momentos de oração, celebração e animação da Eucaristia e formações sendo o sacer-dócio o tema mais abor-dado. Os nossos dias foram enriquecidos pelos sorrisos e abraços da comunidade, que tão bem nos acolheu. As nossas actividades foram centradas nas visitas ao lar de idosos, às famílias e também desenvolvemos traba-lho junto das crianças. Terminávamos todas as noites com um momento de convívio onde a música e a dança esta-

vam presentes. A vigília realizada na sexta-feira foi um momento marcante desta semana missionária, onde pudemos assistir a testemunhos emocionan-tes. Em forma de despe-dida, apresentámos um pequeno filme à comuni-dade, com fotografias das actividades realizadas ao longo da semana. Agradecemos a todos os

que ajudaram nesta missão, com um obrigado muito especial aos Padres Pau-lo e Rui que nos têm acompanhado. Nunca estamos sós porque Deus nos Ama e Chama, apenas devemos aprender a escutar a Sua palavra.

Estamos Juntos!

Elsa Pedro

Projecto Grão a Grão “Deus que Chama e Ama” Recordamos que está em decurso o pro-

jecto “Grão a Grão”, integrado na campa-nha “Agir para Desenvolver – Projectos de Esperança”, lançada pela FEC (Fundação Evangelização e Culturas).

O nosso projecto consiste em construir um posto de moagem no centro do Gungo. Para isso pretendemos adquirir uma máquina de moagem, formar os líderes locais em processos de moagem e gestão, envolvendo assim a comunidade local no projecto. Assim daremos um importante contributo para o primeiro dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio: Erradi-car a fome e a pobreza .

Todo o processo de transformação do milho em farinha é desenvolvido pelas mulheres, moendo na pedra com ferra-mentas pesadas e tradicionais; com o pro-jecto “Grão a Grão” iremos recorrer a novas técnicas, formar a população local e melhorar as condições de higiene de todo este processo de transformação.

Celina Pedro

Todas as histó-rias têm um princí-pio e esta história que vos vou contar também teve um início. Sim! É uma história de conhe-cimento, vivência e de Amor. Mas a dife-rença desta história para todas as outras é que não é uma história de fantasia e irreal, mas de um Amor bem concreto.

Na realidade, surgiu na minha vida uma altura em que ouvi falar de Deus, das suas maravilhas e daquilo que Ele fazia através de nós. Mas como é possível? Muitas vezes ao falar de Deus tudo nos parece tão distante e vago. Mais tarde tive a oportunidade de o (re)conhecer em inú-meras coisas… há algo de fantástico e quase inacreditável em toda a sua obra e foi nesses pequenos sinais que percebi que afinal Deus está bem próximo de nós. Descobri que são vários os desafios que Ele nos coloca e está nas nossas mãos aceitá-los e vivê-los com a nossa vida.

Santo Agostinho dizia: “Ama e faz o que quiseres”, não para que possamos fazer tudo o que nos apetece mas sim para que possamos amar tudo aquilo que fazemos, para deixar a mão de Deus e a marca que Ele deixou na nossa vida. E é essa marca de Amor que tenho em mim que quero demonstrar. A marca de alguém que se sente amada por Deus e que aceitou o desafio de falar desse Amor, de falar de Deus. Só se pode partilhar aquilo que se tem.

Ao sentir esse amor do Pai só o posso dar porque já não faz sentido guardar uma coisa tão boa que ao ser partilhada vai crescer ainda mais…. É como uma chama que ao ser partilhada aumenta a sua dimensão, a sua luz, o seu calor…. Sim…. É uma chama de Amor!

Deus não nos pede para que dêmos muito, mas sim convida-nos a dar tudo! Para sermos tudo, em tudo o que faze-mos! E percebi que a missão é a forma que encontrei de dar tudo o que sou e o que tenho. Não dar muito, pois na minha pequenez ainda há muito tesouro a con-quistar! Por isso sei “que a vida não vai parar, vai como o vento, tens tudo a dar não percas tempo. Podes saber que vais chegar ONDE DEUS ME LEVAR!”

Mana Inês

A Maria Inês Pereira é da Barreira, tem 23 anos, terminou em Dezembro a licenciatura em Fisioterapia e parte para Angola, por um ano, dia 26 de Agosto. Em 2007 já tinha estado dois meses naquele país.

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Onde Deus me levar

4 ONDJOYETU

“Estado de Deslumbramento”

Há mais de um mês que estou em Angola e conti-nuo em “estado de delum-bramento”! Os dias pas-sam, as situações repetem-se, mas são sempre momentos únicos e fantás-ticos de emoções fortes.

As duas primeiras sema-nas foram passadas no Sumbe que, embora seja uma cidade, abalou ou modificou o meu conceito de cidade.

Depois, subimos ao Gungo e aí, as emoções foram contínuas e mais inten-sas! Para começar, a viagem: cerca de 150 Km que nos levaram 12 horas a per-correr, descontando aqui o tempo que parámos para uma rápida refeição, uma paragem de 1 hora para descarregar alguma carga e mais o tempo de “desatascar” o jipe que caiu num buraco dissimulado pelo capim. Era noite cer-rada (aqui anoitece às 18h) e a picada é cheia de buracos, valas, sulcos, pedras. Às tantas uma roda entrou num buraco e a outra ficou suspensa a uns 30 cm do chão. Com o jipe completamente carre-gado, foi obra tirá-lo de lá! A solução foi cavar, levantar o carro, cortar alguns ramos de árvores para atulhar o buraco e, principalmente, a experiência, capa-cidade de improviso e a paciência do Padre David!

Seguimos viagem e a minha emoção foi bem forte quando, ao passarmos nas aldeias, encontrávamos as pessoas na beira do caminho entoando cânticos de boas vindas. Crianças e adultos que se mantinham acordados apesar de ser já noite há tanto tempo, simplesmente para saudarem o “Patele” (padre) e as “manas”. Os sorrisos que vi estampados no rosto de algumas pessoas, não pode-rei nunca mais esquecer!....

Chegámos ao bairro de Calipe eram 23:15 h. À nossa espera tínhamos um grupo de pessoas cantando as boas-vindas com grande entusiasmo. À boa maneira do Gungo, ofereceram-nos cadeiras para nos sentarmos e um copo de água refrescante.

A aldeia de Calipe situa-se na zona de montanha a cerca de 1000 m de altitu-de. É totalmente rodeada de altos mor-ros, um lugar quase paradisíaco não fosse a carência de tanta coisa conside-rada básica. As casas são feitas de adobe ou simplesmente paus cobertos de bar-ro, o chão de terra batida e a cobertura de capim ou chapa. A cozinha fica no exterior e compõe-se de um simples abrigo feito de capim no centro do qual

se faz o fogo para cozinhar. Uma coisa que me impres-sionou foi o facto de fazer bastante frio de manhã e à noite e verificar que as crianças andam pouco aga-salhadas. Algumas meninas têm o seu pano tradicional para se embrulharem, mas não é suficiente. Tanto crianças como adul-

tos manifestam um interesse enorme pelos livros que levamos connosco. Era quase comovedor observar adultos ou jovens adolescentes a olharem embeve-cidos os livros infantis!

Fiz algumas visitas à escola do bairro. Só quem já por aqui esteve, acredita que as crianças têm aquelas condições para trabalhar!!! Uma das salas de aula, a do 1ºano, não tinha absolutamente nada para além de uma pequena mesa para a professora. As crianças sentam-se no chão ou em pequenos pedaços de adobe e escrevem no colo. O quadro é composto por pequenos quadrados de madeira colados na parede…Há ainda outra sala em que os alunos também escrevem no colo embora todos tenham um banquinho igual. As outras salas tinham carteiras para todos os alunos mas mais nenhum outro tipo de mate-rial didáctico. Mas a alegria das crian-ças, o entusiasmo com que me recebe-ram, os sorrisos rasgados, as canções lindas que cantaram, encheram-me de alegria e de comoção!

Os momentos mais fortes desta esta-dia no Gungo aconteciam nas orações da manhã e da noite e nas celebrações da missa. O entusiasmo e a fé manifes-tados nestes momentos, tornam-nos quase mágicos. Os cânticos, em umbun-do, são cheios de sentimento e uma musicalidade comovedora e sempre acompanhados por palmas. No ofertó-rio as pessoas vão levar os produtos da terra: umas maçarocas, uma abóbora, ginguba (amendoim), bananas, feijão… cantando e dançando com entusiasmo no centro da igreja.

Depois é a forma calorosa de as pes-soas nos saudarem, nos acolherem… Sempre com tanta simplicidade, tanto carinho e alegria!

Este calor humano e a beleza das pai-sagens cativam-nos o coração, pren-dem-nos e fazem-nos sentir que vale a pena deixarmos para trás o nosso con-forto, a nossa casa, aquilo que julgáva-mos ser indispensável ao nosso dia a dia!...

Mãezinha Angélica