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Processo Brum
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Processo: 11000097912 - TJ/RS - Comarca de Alvorada
Prolator da decisão: Juiz Jose Pedro de Oliveira Eckert
Vistos, etc. Merece acolhida o pedido de aditamento à inicial,
formulado pelo Ministério Público às fls. Isso porque, depreende-se da
leitura dos autos que não sobreveio o recebimento da presente
demanda, encontrando-se a mesma na fase preliminar de oferta de
manifestação preliminar dos réus. Por conseguinte, RECEBO o
aditamento à exordial. No que pertine aos pleitos liminares arrolados
e requeridos pelo MP, entendo que os mesmos devem vingar em
parte, na forma que segue. As ilegalidades dos processos licitatórios
envolvendo o Município de Alvorada e a empresa Planning
Propaganda e Marketing restaram apuradas através de auditoria
empreendida pelo Tribunal de Contas, relativo ao exercício de 2010
(período de verificação de 28/06 à 09/07 e 30/08 à 10/09/2010).
Imperioso dizer que a matéria não é nova para este magistrado,
considerando que manifestei-me no processo nº 003/2.11.0002604-
6, desvendando o modo operandi do desvio de dinheiro público da
forma que segue: Segundo relatório de Auditoria Ordinária
Tradicional - Acompanhamento de Gestão n.º 02/2009, Processo n.]
1194-0200/09-6, do Executivo Municipal de Alvorada, exercício 2009,
lavrado pelo Serviço de Auditoria Municipal do Tribunal de Contas do
estado, fls. 21/45, restaram constatadas irregularidades nas
contratações relativas a serviços gráficos e de comunicação,
envolvendo a empresa Planning Propaganda e marketing contratada
pelo Município de Alvorada. Conforme apurado pelo TCE, entre o
exercício de 2006 e 2009, houve 'uma evolução significativa nos
gastos com publicidade, demonstrando-se um acréscimo de
326,37%, no comparativo entre os dois exercícios (...)' (fl. 39). Veja-
se que os valores empenhados no exercício de 2006 restou
consolidado em R$ 937.812,06, sendo que em 2009, totalizou R$
3.572.169,16. Somados os quatro exercícios (2006 a 2009), chega-
se a vultuosa importância de R$ 9.148.077,85. Ademais, ultimou-se a
ocorrência de burla do devido processo legal licitatório, haja vista que
a '(...) empresa Planning Propaganda e Marketing procedeu a
contratação e intermediação de toda produção de materiais gráficos
para o Executivo Municipal. Todas as contratações dos serviços
gráficos foram através de duas empresas: Gráfica Santos e Real
Graphics. (...)' (fl. 39). Nesse sentido, registro os apontamentos dos
técnicos do TCE, com relação aos seguintes empenhos efetivados
pelo Executivo Municipal: Empenhos n.ºs 9887 (fl. 24), 11660 (fl.
25), 6129 (fl. 25), 9397 (fl. 28), 4190 (fl. 28), 9398 (fl. 29), 4189 (fl.
30), 6410 (fl. 31), 1067 (fl. 32), 2532 (fl. 33), 8307 (fl. 34), 6072 (fl.
34), 6073 (fl. 35) e 6611 (fl. 36), todos vinculados ou a empresa Real
Graphics, ou a Gráfica Santos. As ilegalidades licitatórias constatadas
pelos técnicos do TCE, assoma-se a noticia criminis, empreendida
pelo ex-funcionário da Prefeitura de Alvorada, Sr. Marcos Roberto
Caduri de Almeida, perante o Procurador-Geral do TCE, fls. 17/20, de
esquema de corrupção e desvio de dinheiro público no Executivo
local, decorrente de contratos de publicidade e propaganda
superfaturados com a empresa Planning (cujos sócios são ADYR
BARBOSA NOGUEIRA e JORGE LUIZ THOMAZ DE SOUZA). Esta, por
seu turno, subcontratou, mediante o artifício de licitação dirigida, as
empresas GRÁFICA SANTOS (de JEFERSON TEIXEIRA DOS SANTOS,
seu proprietário de fato) e REAL GRAPHICS (de propriedade de KELLY
DE FÁTIMA RODRIGUES NUNES, esposa de Jeferson), previamente
escolhidas por integrantes do Poder Executivo local, que emitiam
notas fiscais adulteradas e superfaturadas contra a Prefeitura de
Alvorada. Os tentáculos da organização criminosa atingem servidores
da municipalidade, dentre os identificados, DARLENE REGINA PAGANI
que teria recebido de propina uma camionete HILUIX, placas ILD
8364 [nesse sentido, vide os termos do Relatório de Investigação n.]
016/2010 ¿ fl. 73].¿ Posteriormente, em nova auditoria, desta feita
ordinária tradicional, Processo nº 426-0200/10-0, demonstrou a
continuidade da prática ilegal por parte dos requeridos em burla
evidente aos postulados dos princípios regentes da Administração
Pública, com infringência especial aos ditames da eficiência e da
economicidade, de modo semelhante ao já descrito por mim no feito
criminal anteriormente apontado. O TCE é conclusivo no sentido de
que o objeto das despesas realizadas, quase que exclusivamente
referiu-se a aquisição de materiais impressos e serviços gráficos,
compras que deveriam ser realizadas pela Auditada por meio de
regular procedimento licitatório, haja vista o significativo valor das
despesas. No entanto, foi realizada por meio de intermediação de
empresa de publicidade, com o pagamento de comissão no
percentual de 10%, em completa burla à Lei de Licitações e Contratos
Administrativos, e sem a comprovação do atendimento ao princípio
da isonomia e seleção da proposta mais vantajosa à Administração
Pública, elencado no art. 3º da Lei Federal n.º 8.666/93. No quadro
abaixo, se demonstram os valores passíveis de recomposição ao
Erário, no montante de R$ 99.432,94 (noventa e nove mil
quatrocentos e trinta e dois reais e noventa e quatro centavos),
correspondente ao valor da intermediação pago à empresa Planning
Propaganda e Marketing Ltda. No caso em apreço, tenho que a
matéria probatória pré-processual é farta, apontando indícios da
ocorrência de afronta aos princípios constitucionais da moralidade,
legalidade, impessoalidade e competitividade previstos para as
contratações entabuladas pela Administração Pública. Fábio Medina
Osório1, ao conceituar o que seria improbidade administrativa,
preleciona que ¿a improbidade decorre da quebra do dever de
probidade administrativa, que descende, diretamente, do princípio da
moralidade administrativa, traduzindo dois deveres fundamentais aos
agentes públicos: honestidade e eficiência funcional mínima. Nesse
norte, imperioso reconhecer que se encontra presente, no caso em
comento, o fumus boni juris, requisito essencial para o acolhimento
do pleito liminar, o qual consiste na probabilidade de os fatos
imputados ao agente público serem verossímeis. Veja que, não é
necessário, por óbvio, que o ato ímprobo esteja cabalmente provado,
já que tal pressuposto será averiguado por ocasião da sentença, mas
que haja indicativos de que os fatos elencados na inicial sejam
plausíveis de terem ocorrido conforme narrados pelo autor, conforme
ocorre neste feito. No mesmo sentido, cumpre destacar que se
encontra preenchido o periculum in mora, na exata medida em que a
necessidade e urgência se mostram presentes em razão de que ao
ser deflagrada a presente ação, presumível que os demandados
possam dilapidar seus patrimônios ou transferi-los a terceiros
[laranjas], com o nítido propósito de frustrar a aplicação da lei
vigente, bem como em face a gravidade dos fatos elencados na
exordial e o montante do proveito angariado indevidamente, o qual
ultrapassa a cifra de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais). Nessa
seara, a Constituição Federal de 1988 que, em seu art. 37, § 4º,
assentou que: Art. 37 (...) § 4º - Os atos de improbidade
administrativa importarão a suspensão dos direitos políticos, a perda
da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao
erário, na forma e gradação previstas em lei, sem prejuízo da ação
penal cabível. Grifos. No tocante aos requisitos ensejadores do
deferimento do pleito liminar, Fábio Medina Osório2, ao comentar a
indisponibilidade de bens nas ações de improbidade administrativa,
conquanto equiparando-a ao sequestro (lembrando-se que tais
medidas cautelares não se confundem), preleciona que: (...) não se
mostra crível aguardar que o agente público comece a dilapidar seu
patrimônio para, só então, promover o ajuizamento de medida
cautelar autônoma de seqüestro dos bens. Tal exigência traduziria
concreta perspectiva de impunidade e de esvaziamento do sentido
rigoroso da legislação. O periculum in mora emerge, via de regra, dos
próprios termos da inicial, da gravidade dos fatos, do montante, em
tese, dos prejuízos causados ao erário. A indisponibilidade patrimonial
é medida obrigatória, pois traduz conseqüência jurídica do
processamento da ação, forte no art. 37, parágrafo 4º, da
Constituição Federal. Esperar a dilapidação patrimonial, quando se
tratar de improbidade administrativa, com todo respeito às posições
contrárias, é equivalente a autorizar tal ato, na medida em que o
ajuizamento de ação de seqüestro assumiria dimensão de `justiça
tardia¿, o que poderia se equiparar a denegação de justiça. Com
efeito, o periculum in mora repousa, no caso dos autos, no dano em
potencial que decorre da demora natural no trâmite da ação, em face
o inúmero de demandados, caso em que se não indisponibilizados os
bens, os requeridos podem deles se desfazer, tornando-se ineficaz os
pedidos formulados na peça inicial. Nesse sentido, colaciono o
seguinte precedente, in verbis: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO
DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA - LIMINAR DE ANTECIPAÇÃO
DOS EFEITOS DA TUTELA - INDISPONIBILIDADE DE BENS - FATOS
GRAVES ENVOLVENDO CORRUPÇÃO EM OBRA PÚBLICA - PROPINA
PAGA PELAS EMPRESAS AOS ADMINISTRADORES PÚBLICOS - PROVA
SUFICIENTE A JUSTIFICAR UMA RESPOSTA IMEDIATA DO
JUDICIÁRIO, A FIM DE QUE NÃO PAIRE SOBRE O PAÍS A SENSAÇÃO
DE IMPUNIDADE A QUEM AGRIDE OS PRINCÍPIOS BÁSICOS DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA - POSSIBILIDADE LEGAL (CPC, ART. 273,
I) NÃO EXCLUÍDA PELO ART. 7º DA LEI 8.429/92 - CASO EM QUE O
PATRIMÔNIO DOS RÉUS NÃO É EXPRESSIVO - RISCO EFETIVOO DE,
EM NÃO HAVENDO A INDISPONIBILIDADE, A SENTENÇA FINAL, UMA
VEZ ACOLHIDA A POSTULAÇÃO, PERDER AS CONDIÇÕES DE
EFETIVIDADE NO QUE TANGE ÂS CONSEQUÊNCIAS PATRIMONIAIS.
RECURSO DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70045329760,
Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Irineu
Mariani, Julgado em 07/12/2011) Os cartéis em licitações prejudicam
substancialmente os esforços do Estado em empregar seus recursos
no desenvolvimento do país, ao beneficiar indevidamente empresas
que, por meio de acordo entre si, fraudam o caráter competitivo das
licitações. Ainda que a Administração busque racionalizar suas
compras por meio de controles orçamentários mais estritos e de
melhoria nas formas de contratação como por meio do uso do pregão
eletrônico, isso não impede a ação dos cartéis, que provocam
transferência indevida de renda do Estado para as empresas pré-
determinadas. A política brasileira de defesa da concorrência é
disciplinada pela Lei n.º 8.884, de 11 de junho de 1994, que visa
justamente assegurar que o Estado empregue seus recursos de
maneira apropriada, contribuindo para que suas compras sejam feitas
pelo menor preço possível e sem favorecer qualquer empresa,
respeitando-se elevados padrões de isonomia, qualidade e eficiência.
Note-se, é de fundamental importância que as licitações sejam
transparentes e econômicas. Transparência e economicidade estão
intimamente relacionadas à concorrência em uma licitação. Licitações
com regras transparentes e amplamente conhecidas facilitam a
participação de maior número de licitantes, e, se houver efetiva
concorrência entre tais participantes, as contratações serão mais
econômicas, em benefício do cidadão. Assim sendo, subsistindo
veementes indícios da fraude nos contratos entabulados entre o ente
público e as empresas de propaganda já citadas, cabível se mostra o
deferimento do pleito de antecipação de tutela para o fim de tornar
indisponíveis os bens dos requeridos, com o fito de assegurar
eventual ressarcimento ao erário. A indisponibilidade de bens é meio
eficaz e seguro para garantir que os agentes satisfaçam futura
reparação aos cofres públicos, sem contudo retirar o direito dos
demandados de usufruírem de seu patrimônio, mas evitando que
dilapidem seus bens em prejuízo da coletividade. Com efeito, não se
está falando aqui de uma sanção propriamente dita, mas sim de uma
providência cautelar, pois conforme frisado por Maria Sylvia Zanella
Di Pietro3, essa medida ¿tem nítido caráter preventivo, já que tem
por objetivo acautelar os interesses do erário durante a apuração dos
fatos, evitando a dilapidação, a transferência ou ocultação dos bens,
que tornariam impossível o ressarcimento do dano. Conceituado a
providência acauteladora vindicada, Wallace Paiva Martins Júnior
sustenta que tem por objetivo ¿assegurar a eficácia dos provimentos
condenatórios patrimoniais, evitando-se práticas ostensivas,
fraudulentas ou simuladas de dissipação patrimonial¿, concluindo, em
seguida, que Seu escopo é a garantia da execução da sentença que
condenar à perda do proveito ilícito ou ao ressarcimento do dano. A
propósito, como já se orientou o Superior Tribunal de Justiça, ¿A
indisponibilidade de bens na ação civil pública por ato de
improbidade, pode ser requerida na própria ação, independentemente
de ação cautelar autônoma¿.4 Por todo o exposto, no caso em
comento, a indisponibilidade de bens, em sede cautelar, visa
assegurar futuro ressarcimento aos cofres públicos em caso de
procedência da lide, salvaguardando os interesses da coletividade em
geral. Por outro lado, mostra-se inviável, em sede liminar o
deferimento da proibição de contratar da empresa PPG Planning
Propaganda e Marketing Ltda, visto que referido pedido exaure o
comando sentencial postulado e cabível dentre as sanções descritas
na lei nº 8.429/92. DIANTE DO EXPOSTO, DEFIRO PARCIALMENTE o
pleito formulado pelo Ministério Público em sede liminar para: A)
DECRETAR a indisponibilidade dos bens móveis, imóveis, valores e
semoventes por ventura existentes em nome de JOÃO CARLOS
BRUM, PLANNING PROPAGANDA E MARKETING LTDA, ADYR
BARBOSA NOGUEIRA e JORGE LUIZ THOMAZ DE SOUZA até o
montante de R$ 2.303.246,31 (dois milhões trezentos e três mil
duzentos e quarenta e seis reais e trinta e um centavos); B)
SUSPENDER a vigência e execução do contrato nº 042/2011,
entabulado entre o Município de Alvorada e a empresa PPG Plannig
Propaganda e Marketing Ltda. Oficie-se à CGJ solicitando a
comunicação a todos os Cartórios de Registros de Imóveis do Estado.
Oficie-se ao DETRAN e ao BACEN, informando os CPF's e CNPJ dos
requeridos, requisitando a indisponibilidade nos termos acima
referidos. Proceda, ainda, o Cartório na forma do art. 1.046, §2º5, da
CNJ. NOTIFIQUEM-SE os requeridos, novamente, para responder ao
aditamento à inicial, por escrito, facultada a juntada de documentos,
no prazo de 15 dias - art. 17, § 7.º, da Lei 8.429/92. Intimem-se.