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1 IPECONT – Instituto de pesquisas Contábeis e Tributárias – http://www.ipecont.com.br/contato Pressclipping em 04.julho.2016 "Toda ferramenta é uma arma se você a acreditar como tal." (Ani DiFranco) Operação Lava Jato PF deflagra Operação Abismo contra fraudes de R$ 39 mi no Centro de Pesquisa da Petrobrás Por Fausto Macedo, Julia Affonso e Ricardo Brandt 04/07/2016, 06h44 Ex-tesoureiro do PT, alvo principal, tem prisão decretada; Paulo Ferreira já está custodiado em São Paulo como investigado na Operação Custo Brasil A Polícia Federal deflagrou a Operação Abismo, 31ª fase da Lava Jato, nesta segunda-feira, 4. A ação, que tem apoio da Receita, cumpre 23 mandados de busca e apreensão e 1 de prisão preventiva, 4 custódias temporárias e 7 conduções coercitivas quando o investigado é levado para depor e liberado em São Paulo, no Rio e em Brasília. Veja quais foram todas as fases da Operação Lava Jato Delator aponta R$ 1 milhão em espécie a Vaccari Delação era oportunidade de ‘limpar passado’, diz dono da Carioca Delegado que interrogou Lula deixa a Lava Jato rumo à Olimpíada Congresso está em débito com a sociedade, alerta procurador sobre combate à corrupção O alvo principal é o ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira, que já está preso, contra quem a Abismo expediu um mandado de prisão preventiva. Paulo Ferreira foi capturado na Operação Custo Brasil, que mirou o ex- ministro Paulo Bernardo (Planejamento/Governo Lula). Segundo a Procuradoria da República, o esquema envolveu diversas empresas que pagaram mais de R$ 39 milhões em vantagens indevidas para empresa participante do certame, para Diretoria de Serviços e Partido dos Trabalhadores. Cerca de 110 Policiais Federais e aproximadamente 20 servidores da Receita Federal estão cumprindo as determinações judiciais nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal. A investigação central desta fase da Operação Lava Jato tem o objetivo de apurar a fraude ao processo licitatório, o pagamento de valores indevidos a servidores da Petrobrás e o repasse de recursos a partido político em virtude do sucesso obtido por empresas privadas em contratações específicas como, por exemplo, o projeto de reforma do Cenpes Centro de Pesquisas da Petrobrás na Ilha do Fundão na cidade do Rio de Janeiro.

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IPECONT – Instituto de pesquisas Contábeis e Tributárias – http://www.ipecont.com.br/contato

Pressclipping em 04.julho.2016

"Toda ferramenta é uma arma se você a acreditar como tal."

(Ani DiFranco)

Operação Lava Jato

PF deflagra Operação Abismo contra fraudes de

R$ 39 mi no Centro de Pesquisa da Petrobrás

Por Fausto Macedo, Julia Affonso e Ricardo Brandt

04/07/2016, 06h44

Ex-tesoureiro do PT, alvo principal, tem prisão decretada; Paulo Ferreira já está custodiado em São Paulo

como investigado na Operação Custo Brasil

A Polícia Federal deflagrou a Operação Abismo, 31ª fase da Lava Jato, nesta segunda-feira, 4. A ação, que

tem apoio da Receita, cumpre 23 mandados de busca e apreensão e 1 de prisão preventiva, 4 custódias

temporárias e 7 conduções coercitivas – quando o investigado é levado para depor e liberado – em São

Paulo, no Rio e em Brasília.

Veja quais foram todas as fases da Operação Lava Jato

Delator aponta R$ 1 milhão em espécie a Vaccari

Delação era oportunidade de ‘limpar passado’, diz dono da Carioca

Delegado que interrogou Lula deixa a Lava Jato rumo à Olimpíada

Congresso está em débito com a sociedade, alerta procurador sobre combate à corrupção

O alvo principal é o ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira, que já está preso, contra quem a Abismo expediu

um mandado de prisão preventiva. Paulo Ferreira foi capturado na Operação Custo Brasil, que mirou o ex-

ministro Paulo Bernardo (Planejamento/Governo Lula).

Segundo a Procuradoria da República, o esquema envolveu diversas empresas que pagaram mais de R$ 39

milhões em vantagens indevidas para empresa participante do certame, para Diretoria de Serviços e

Partido dos Trabalhadores.

Cerca de 110 Policiais Federais e aproximadamente 20 servidores da Receita Federal estão cumprindo as

determinações judiciais nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Distrito Federal.

A investigação central desta fase da Operação Lava Jato tem o objetivo de apurar a fraude ao processo

licitatório, o pagamento de valores indevidos a servidores da Petrobrás e o repasse de recursos a partido

político em virtude do sucesso obtido por empresas privadas em contratações específicas como, por

exemplo, o projeto de reforma do Cenpes – Centro de Pesquisas da Petrobrás – na Ilha do Fundão na

cidade do Rio de Janeiro.

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São apuradas as práticas de crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e fraude a licitação num contexto

amplo de sistemático prejuízo financeiro imposto à Petrobrás.

O nome Abismo é uma referência utilizada para a identificação desta nova fase da operação policial e

remete, dentre outros aspectos, às tecnologias de exploração de gás e petróleo em águas profundas

desenvolvidas no Cenpes, mas também à localização das instalações (Ilha do Fundão) e a demonstração

que esquemas como estes identificados levaram a empresa aos recantos mais profundos da corrupção e da

malversação do dinheiro público.

Os presos serão levados à sede da Polícia Federal em Curitiba nesta segunda, a exceção de Paulo Ferreira

que já preso na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo/SP em razão dos crimes a ele atribuídos

na Operação Custo Brasil.

Paulo Ferreira é suspeito de ligação com o esquema Consist – empresa de software que teria desviado R$

100 milhões de empréstimos consignados no âmbito do Ministério do Planejamento na gestão Paulo

Bernardo. Sob o comando de Paulo Bernardo, que liderou a Pasta de março de 2005 a janeiro de 2011 no

governo Lula, o Planejamento assinou acordo com o Sindicato Nacional das Entidades Abertas de

Previdência Complementar (SINAPP) e a Associação Brasileira de Bancos (ABBC). Essas entidades

contrataram a Consist para desenvolver o sistema de gerenciamento e controle dos créditos consignados.

De 2010 a 2015, o esquema teria gerado R$ 100 milhões em propinas sobre o contrato da Consist.

Outro ex-tesoureiro do PT investigado na Lava Jato é Delúbio Soares, alvo de condução coercitiva na 27ª

fase. Delúbio foi acusado pelos procuradores da República que integram a força-tarefa da Lava Jato por

suposto envolvimento no emblemático empréstimo de R$ 12 milhões tomado pelo pecuarista José Carlos

Bumlai, amigo do ex-presidente Lula, junto ao Banco Schahin – a transação ocorreu em outubro de 2004.

Delúbio foi condenado no Mensalão a 6 anos e oito meses de prisão por corrupção ativa.

Brasil tem salários mais altos do que nos Estados

Unidos

Renda por habitante na economia norte-americana é cinco vezes

mais elevada, mas servidores brasileiros dos poderes Legislativo e

Judiciário levam vantagem na remuneração

Os funcionários públicos brasileiros têm pouco o que reclamar caso vejam a remuneração que recebem

trabalhadores com a mesma função no exterior. A comparação tornou-se mais fácil após a popularização

de páginas na internet com informações salariais sobre todas as profissões, como, por exemplo, o site

norte-americano PayScale (www.payscale.com). A robustez da remuneração do funcionalismo no país

pode ser notada em funções dos Três Poderes. Mas, nos casos do Legislativo e do Judiciário, o contraste é

ainda maior. Isso ocorre apesar de os Estados Unidos terem renda por habitante cinco vezes superior à

brasileira.

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“Não é à toa que os concursos são tão concorridos no Brasil”, destaca o economista-chefe da Opus

Investimentos, José Márcio Camargo, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

(PUC-Rio). Ele explica que o poder de lobby dos funcionários públicos é muito forte no país. “Eles

tratam no dia a dia com os administradores eleitos, que dependem da burocracia”, diz Camargo.

A confrontação dos valores não é trivial, porque, nos Estados Unidos, a remuneração é apresentada por

hora ou então pela soma do que se recebe em um ano, enquanto no Brasil a referência para o salário é

mensal. Há também vantagens que são de difícil contabilização no caso dos brasileiros: vale-refeição, que

chega a R$ 700 mensais no Legislativo, e diversos tipos de auxílio, ignorados na análise.

Em todos os Poderes, o funcionário pode também ter uma função comissionada, em geral para os cargos

de chefia, que não é levada em conta na comparação. Tampouco são levados em conta os benefícios

previdenciários: funcionários públicos brasileiros que entraram por concurso anterior a 2013 têm direito a

aposentadoria integral. Os contratados depois disso, têm um fundo de pensão no qual as contribuições são

altamente subsidiadas. Nos Estados Unidos, inexiste padrão: cada órgão tem um fundo de pensão

específico. Outra peculiaridade brasileira é a estabilidade no emprego, que não existe nos EUA.

Fonte: Correio Braziliense

Cobertura sensacionalista

Record indenizará por reportagem inverídica no

programa Cidade Alerta

Simulação de um caso de homicídio teria citado o nome do autor indevidamente.

sábado, 25 de junho de 2016

A 7ª câmara de Direito Privado do TJ/SP manteve condenação de emissora de TV Record que produziu matéria no programa jornalístico Cidade Alerta vinculando indevidamente o nome de uma pessoa a um crime de homicídio. A indenização por danos morais foi fixada em R$ 30 mil. Consta dos autos que o programa, de cunho jornalístico/policial, reproduziu a simulação de um caso de homicídio em que o reclamante é apresentado como aquele que induziu um amigo a cometer o crime. Contudo, seu nome, que é citado no inquérito policial, sequer aparece na fase judicial. O desembargador Miguel Brandi, relator da apelação, afirmou em seu voto que a emissora prejudicou o reclamante e não cumpriu seu dever de informar a verdade, razões pelas quais, deve ser mantida a indenização por danos morais.

"O que se discute aqui não é o direito à informação ou o interesse público, mas sim o amadorismo e a

irresponsabilidade com que a emissora de TV conduziu a cobertura midiática e sensacionalista do caso."

Os desembargadores Luís Mario Galbetti e Mary Grün também participaram do julgamento e acompanharam a decisão do relator.

Processo: 0006728-96.2014.8.26.0283

Veja a decisão.

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Operação Custo Brasil ‘A gente vai cobrar’,

alerta Receita a alvos da Custo Brasil

Postado por José Adriano em 30 junho 2016 às 10:00

POR JULIA AFFONSO E FAUSTO MACEDO

O superintendente-adjunto da Receita Federal em São Paulo, auditor-fiscal Fábio Kirzner Ejchel,

informou que os alvos da Operação Custo Brasil serão tributados em seus ganhos ilícitos. “A gente vai

cobrar”, alertou Ejchel. “Com certeza serão abertas ações ficais do mesmo jeito que estão sendo abertas na

Lava Jato.”

A Receita integra a força-tarefa da Custo Brasil, deflagrada na quinta-feira, 23. A operação culminou com

a prisão do ex-ministro Paulo Bernardo (Planejamento/Govero Lula e Comunicações/Governo Dilma),

suposto beneficiário de R$ 7,1 milhões em propinas de um esquema de fraudes e desvios de empréstimos

consignados. Outros dez investigados tiveram a prisão decretada.

Há mais de duas décadas na carreira, Fábio Ejchel, habituado aos desafios de uma profissão que muitas

vezes enfrenta donos de grandes fortunas e poderosos da política, avalia que o País ‘está vivendo um

momento bastante conturbado’. Ele aponta para o que chama de ‘uma crise política, uma crise econômica

e uma crise ética’.

Nessa entrevista ao Estadão, o superintendente-adjunto reiterou uma frase que marcou o dia da Operação

Custo Brasil. “A corrupção é irmã gêmea da sonegação.”

ESTADÃO: Na Custo Brasil, a Receita está fazendo autuações?

FÁBIO EJCHEL, SUPERINTENDENTE-ADJUNTO DA RECEITA EM SÃO PAULO: Existe um

aspecto tributário. Quem ganhou dinheiro de forma ilegítima vai ter de pagar o tributo. A gente vai cobrar.

Essa atuação se dá no momento posterior à investigação. A gente vai trabalhar em conjunto com outros

órgãos e ver quais são os montantes. Com certeza serão abertas ações ficais do mesmo jeito que estão

sendo abertas na Lava Jato.

ESTADÃO: Como vê o momento do País?

FÁBIO EJCHEL: Definitivamente, o País como um todo está vivendo um momento bastante conturbado

em várias áreas. É uma crise política, uma crise econômica e uma crise ética. A gente nunca viveu uma

época como essa. Eu acho que é uma percepção em todo o País. Acho que juntou essas três crises que se

somam e impactam diretamente na Receita, principalmente, a crise econômica, porque a gente tem um

enorme desafio com relação à arrecadação, a gente precisa urgentemente de um incremento de

arrecadação, de uma recuperação da arrecadação para financiar o Estado. Na parte ética, a Receita tem um

papel apesar de não ser exatamente a missão da Receita. A Receita não foi criada para combate à

corrupção, diferente de Ministério Público, Polícia Federal que tem entre suas principais funções o

combate à corrupção. No nosso entendimento, apesar de não ser a principal função da Receita, tem um

papel muito relevante nisso. Por vários motivos, primeiro porque ela tem muitas informações que podem

subsidiar para esses outros órgãos. Por isso é muito importante esse trabalho colaborativo, enérgico entre

os órgãos, para as instituições que combatem esses malfeitos, trocarem informações e se organizarem.

Elas ficam muito mais fortes no combate às organizações criminosas se elas atuarem em conjunto

trocando informações. A corrupção e a sonegação, ambas estão intimamente ligadas.

ESTADÃO: De que forma?

FÁBIO EJCHEL: São vários os aspectos. Elas são irmãs gêmeas, primeiro porque são da mesma família,

a dos crimes. A gente está falando de sonegação dolosa, proposital. Não estamos falando do contribuinte

que apresentou uma declaração de imposto de renda e esqueceu de colocar um rendimento de um

dependente dele. Existe uma falha que pode acontecer, pode ser punido. Corrupção e sonegação estão

muito ligadas, porque frequentam o mesmo ambiente subterrâneo, da informalidade. Elas não estão na

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contabilidade das empresas, formalmente colocadas, ‘paguei propina para alguém’, ‘soneguei tantos

valores’. É um mundo diferente do formal, correto, que a gente está acostumado a ver. Um terceiro motivo

é que ambas prejudicam toda a sociedade e, pior, prejudicam mais a população mais pobre do que a mais

rica. A população mais rica acaba às vezes até se beneficiando mais diretamente da sonegação, da

corrupção, o que uma população mais pobre não tem como se beneficiar, porque ela não tem o poder, o

dinheiro para sonegar. Aquela não se beneficia, é mais prejudicada. As duas causam os mesmo efeitos

para a sociedade. Tanto a sonegação quanto a corrupção, existe a pequena e a grande. Outro ponto que

elas são bastante parecidas é que os meios que você utiliza para fazer uma são basicamente os meios que

você utiliza para fazer a outra.

ESTADÃO: Corrupção e sonegação são irmãs gêmeas?

FÁBIO EJCHEL: Como você faz uma corrupção? Você usa transações em espécie, em dinheiro, você

faz saques na boca do caixa, usa doleiros, faz remessas de dinheiro de forma ilegal. A lavagem de dinheiro

está junto da corrupção e da sonegação. Como você sonega um valor? Você tem de fazer uma transação

fora do sistema bancário oficial, tem de fazer transação em dinheiro. Se você vai mandar um dinheiro para

fora, não pode mandar pelas formas legais, pelo Banco Central, tem de mandar de forma ilegal. Elas usam

as mesmas ferramentas. Como irmãs, uma alimenta a outra. É um jogo em que quanto mais uma cresce,

mais a outra cresce. A pessoa fala: ‘eu vou pagar imposto, governo é corrupto, esse dinheiro vai ser todo

desviado ou mal utilizado, então, eu não vou pagar’. A corrupção acaba levando a um estímulo da

sonegação. A pessoa entra nesse submundo do crime, passa a ser uma pessoa que já está com seu telhado

de vidro, já passa a estar sujeita a ser achacada, a ter de pagar corrupção, porque ela já está em uma

situação errada e a coisa vai se retroalimentando. Apesar de elas serem muito iguais, a corrupção e a

sonegação, a sociedade não vê o sonegador de uma forma tão ruim como ela vê o corrupto. A corrupção é

combatida por todo mundo. A Polícia Federal prender o cara é legal, a Receita cobrar impostos não é

legal. É curiosa essa percepção que a gente vê na manifestação das pessoas. É uma manifestação

equivocada, porque a pessoa não percebe que o orçamento da União é como se fosse um grande

condomínio. Se alguém do nosso prédio não pagar despesa de condomínio, aquela parte que ele não pagou

vai ter de ser arcada pelos outros. Você tem de pagar o zelador, a limpeza. As pessoas veem com maus

olhos quando a gente combate a sonegação, é curioso. A carga tributária no Brasil é grande para quem

paga impostos.

ESTADÃO: Alguma estimativa da sonegação?

FÁBIO EJCHEL: É difícil calcular, porque são os dados não informados. O que a gente pode falar é que

no Estado de São Paulo a gente tem uma arrecadação de tributos federais de R$ 500 bilhões por ano. No

ano passado, a gente autuou, coisas que a gente conseguiu achar, têm coisas que a gente não conseguiu

chegar, lançou R$ 70 bilhões em auto de infração. Se esses R$ 70 bilhões tivessem sido pagos, talvez

pudesse diminuir a carga daqueles que pagaram os 500, diminuir proporcionalmente a carga de todos. Isso

em um quadro muito difícil que a gente vive de recursos escassos. A percepção que a gente tem é que

existe muita sonegação.

ESTADÃO: É difícil pegar o sonegador?

FÁBIO EJCHEL: É. O cerne do nosso trabalho é tentar ter uma inteligência no momento de programar

as ações fiscais para atingir o maior sonegador. É difícil, mas a gente se vale de um monte de informações.

Um outro lugar-comum que existe: as pessoas falam: a Receita Federal além de não ser importante, além

de sonegação não ser uma coisa muito prejudicial, o que muita gente equivocadamente acha, ainda existe

uma outra falácia que diz que a Receita só se preocupa com o pequeno. Não é verdade. Dos R$ 70 bilhões

que a gente autuou no ano passado, R$ 63 bilhões, 90% foram em grandes contribuintes, grandes

empresas. Desses 70, lançamentos em pessoas físicas foram R$ 900 milhões. Você lançar R$ 900 milhões

em pessoas físicas, você pega várias pessoas, tem casos de malha. As pessoas têm a sensação que a gente

está trabalhando só esses casos pequenos, porque talvez seja isso que ele vive. Na prática, nosso foco há

muito tempo tem sido os grandes contribuintes. Tanto que mais de 90% dos autos são em grandes

contribuintes.

ESTADÃO: A Receita está participando do cerco aos alvos da Lava Jato.

FÁBIO EJCHEL: A gente já autuou quase R$ 2 bilhões da Lava Jato e estima que vai autuar em termos

de lançamento mais de R$ 10 bilhões. A gente tem mais de 320 ações fiscais abertas no âmbito da Lava

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Jato. Tem 60 auditores trabalhando exclusivamente na Lava Jato. A gente tem aprendido muito com a

Lava Jato.

ESTADÃO: A Operação Zelotes gerou algum reflexo para a Receita em São Paulo?

FÁBIO EJCHEL: Uma boa parte desses R$ 70 bilhões que a gente lançou no ano passado e dos R$ 60

(bilhões) que a gente lançou no ano anterior, em São Paulo, acabam indo parar no Carf (Conselho

Administrativo de Recursos Fiscais). A gente lamenta que tenha acontecido, mas se existia o problema é

muito bom que ele tenha sido debelado. Não existe nada mais frustrante para um bom fiscal, que trabalha,

que fica às vezes 2 anos fazendo um trabalho sério, e depois vê que lá na frente alguém está negociando

aquilo, derrubando o auto que ele fez para receber propina. É uma pena que aparentemente exista isso,

mas é muito bom que tenha sido trabalhado. O contencioso tem que existir, mas de uma forma justa. Se

realmente um auto de infração for mal feito, estiver equivocado, tiver que ser derrubado, ele vai ser. É

legítimo isso. Mas um auto de infração bem feito ser exonerado por corrupção é muito grave.

ESTADÃO: O auto de infração pode ser contestado em qualquer instância?

FÁBIO EJCHEL: Se o auto for mantido na 1ª instância, ele tem direito à 2ª instância, que é o Carf.

Eventualmente, conforme o caso, mesmo se for mantido lá existe um recurso especial para a Câmara

Superior do Carf. Desses R$ 70 bilhões que a gente lança, uma menor parte é paga diretamente e uma boa

parte vai para o contencioso. Tanto na 1ª quanto na 2ª instâncias os casos de maior valor e aqueles em que

há representação para fins penais são priorizados. É um processo de muitos anos. Esse é um problema que

a gente tem. Infelizmente, no Brasil, existe até um estímulo ao contencioso. Em muitos casos vale até a

pena para a empresa não pagar e postergar o pagamento. Um dos motivos mais básicos, bem fácil de

entender, é que os lançamentos feitos pela Receita são corrigidos à taxa de juros Selic, só que taxa de juros

simples. Se a pessoa tem o dinheiro, se ela fizer qualquer aplicação, ela ganha juros compostos. Isso ao

longo dos anos, como a tendência do contencioso é durar algum tempo, acaba dando uma diferença. Até

como aplicação financeira, às vezes vale a pena. Em uma você está pagando juros simples, na outra está

ganhando juros compostos, se você tiver esse dinheiro. Muita coisa precisaria ser mudada para a gente não

estimular o contencioso. Ao contrário, estimular que as pessoas pagassem o mais rápido possível. O

contribuinte tem direito ao contencioso quando é legítimo. Estou falando do contencioso meramente

protelatório, o cara já sabe que errou mesmo, mas ele só vai ganhar tempo.

ESTADÃO: Na Custo Brasil, a Receita está fazendo autuações?

FÁBIO EJCHEL: Existe um aspecto tributário. Quem ganhou dinheiro de forma ilegítima vai ter de

pagar o tributo. A gente vai cobrar. Essa atuação se dá no momento posterior à investigação. A gente vai

trabalhar em conjunto com outros órgãos e ver quais são os montantes. Com certeza serão abertas ações

ficais do mesmo jeito que estão sendo abertas na Lava Jato.

ESTADÃO: Por que chegamos a essa crise ética no patamar que vivemos hoje?

FÁBIO EJCHEL: Talvez seja um pouco histórico, talvez não tenha começado agora, recentemente,

talvez sempre tenha existido. Talvez hoje, justamente, por serem dos últimos governos, um mérito dos

últimos governos, a gente ter instituições sólidas, fortes, independentes que podem coibir isso, isso esteja

aparecendo mais. Talvez tenha aumentado nos últimos tempos. Talvez a sensação de impunidade, acho

que isso tenha levado a gente a uma sensação de impunidade, de que essas pessoas nunca seriam atingidas,

chegou a isso. É uma junção de fatores. Até difícil saber quem começou primeiro. Se começou porque

tinha facilidade ou se tinha facilidade porque começou. É uma conjuntura em um ponto muito complicado

para o País. A gente precisa dar uma virada nisso, sob pena de o País não sobreviver. Operações como a

Custo Brasil são muito preocupantes, porque a gente vê que está no coração do governo. A gente não pode

ter uma elite, um governo em que isso aconteça. Isso tem de ser coibido e a gente tem que de contar com

essas instituições que são independentes, com as pessoas de bem do País para dar uma virada, com a

sociedade, com a indignação das pessoas.

ESTADÃO: Há remédios para a crise ética?

FÁBIO EJCHEL: Eu acredito fortemente que a gente tem. É a reação da sociedade, desses órgãos

independentes, que podem coibir esses malfeitos. A Justiça, os próprios políticos de bem que a gente tem,

o próprio governo. Acho que se a gente tiver um grupo do bem maior do que o do mal, o bem vai

prevalecer. Acho que é isso que precisa acontecer e o que vai acontecer. A gente tem que sair do círculo

vicioso e entrar no círculo virtuoso.

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ESTADÃO: O País vai sair maior dessas crises?

FÁBIO EJCHEL: É o que a gente espera. Depois que a gente sair disso, a gente vai ter um País crescendo

em bases muito mais saudáveis, muito mais sólidas daquela que talvez a gente estava. O País estava

crescendo em uma base que a gente vê que não era muito saudável. Aí sim virar uma potência mundial, o

que o Brasil deveria ser já.

Fonte: Estadão via http://blogdosped.blogspot.com.br/2016/06/operacao-custo-brasil-

gen...$%7Bblogdosped%7D+($%7BBlog+do+SPED%7D)

PF: fraudes na Lei Rouanet somam R$ 180 mi e

ministério falhou na fiscalização

28/06/2016 12h13

São Paulo

Fernanda Cruz – Repórter da Agência Brasil

Produtores culturais que integram um grupo ligado a eventos são responsáveis pelo desvio de cerca de R$

180 milhões de recursos da Lei Rouanet, do governo federal, segundo a Polícia Federal. Foram cumpridos

hoje (28), na chamada Operação Boca Livre, 14 mandados de prisão temporária de integrantes desse

grupo, que atua desde 2001 em São Paulo. De acordo com a PF, o Ministério da Cultura falhou na

fiscalização na concessão dos incentivos fiscais.

Os mandados de prisão ainda estão sendo cumpridos. Os detidos serão encaminhados para a

Superintendência da PF, na região da Lapa, na capital paulista. Em Brasília, policiais cumprem busca e

apreensão na sede do Ministério da Cultura.

A ação investiga mais de 10 empresas patrocinadoras que trabalharam com o grupo e estima-se que mais

de 250 projetos tiveram recursos desviados. As empresas recebiam os valores captados com a lei e ainda

faturavam com a dedução fiscal do imposto de renda. Com isso, o montante desviado pode ser ainda maior

do que R$ 180 milhões, conforme a PF.

A organização apresentava iniciativas ao Ministério da Cultura e à Secretaria da Cultura do Estado de São

Paulo para a aprovação e utilização de verbas de incentivo fiscal previstas na Lei Rouanet. As

investigações mostram que os recursos foram usados para custear eventos corporativos, shows com

artistas famosos em festas privadas para grandes empresas, livros institucionais e até mesmo festa de

casamento, segundo o Ministério da Transparência.

Criada em 1991, a Lei Rouanet, concede incentivos fiscais para projetos e ações culturais. Por meio a lei,

cidadãos (pessoa física) e empresas (pessoa jurídica) podem aplicar parte do Imposto de Renda devido em

projetos culturais. Atualmente, mais de 3 mil projetos são apoiados a cada ano por meio desse mecanismo.

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Saiba Mais

PF investiga desvios na Lei Rouanet; entenda como funciona a lei

Falha na fiscalização

Rodrigo de Campos Costa, delegado regional de Combate e Investigação ao Crime Organizado, disse que

as irregularidades eram evidentes, com documentos fraudados de forma grosseira. “Houve, no mínimo,

uma falha de fiscalização do Ministério da Cultura”, afirmou.

Em nota, o Ministério da Cultura informou que as investigações para apuração de uso fraudulento da Lei

Rouanet têm o apoio integral do ministério e que “se coloca à disposição para contribuir com todas as

iniciativas no sentido de assegurar que a legislação seja efetivamente utilizada para o objetivo a que se

presta, qual seja, fomentar a produção cultural do país”.

Segunda fase

Na segunda fase da Operação Boca Livre, o objetivo será descobrir o porquê da falta de fiscalização das

fraudes. “Esses projetos já saíam encarecidos [do Ministério da Cultura] com valores estratosféricos”,

disse Karen Louise, procuradora do Ministério Público Federal.

“Há um procedimento de fiscalização, do próprio Ministério da Cultura. São fatos relacionados a 2014.

Nós temos que aproveitar a operação para punir aqueles que desviaram recursos, mas também melhorar os

procedimentos preventivos de fiscalização do dinheiro público”, disse o ministro da Justiça, Alexandre de

Moraes.

Os presos na operação poderão responder por crimes como organização criminosa, peculato, estelionato

contra União, crime contra a ordem tributária e falsidade ideológica, cujas penas podem chegar a até 12

anos de prisão.

Edição: Maria Claudia

Empresário da Setal omitiu propina de R$ 103

milhões em acordo de delação

Felipe Varanda - 19.dez.2003/Folhapress

MARIO CESAR CARVALHO DE SÃO PAULO

01/07/2016 02h00

O empresário Augusto Mendonça omitiu em seu acordo de delação com procuradores que houve

pagamento de propina de US$ 32 milhões, o equivalente hoje a R$ 103 milhões, nos contratos da

Petrobras para a construção de duas plataformas para exploração de petróleo, a P51 e a P52. Trata-se de

um dos maiores subornos da Lava Jato.

A omissão foi apontada pelo juiz federal Sergio Moro em audiência em que o empresário era testemunha

em uma ação penal que tem como réu Zwi Skornicki, lobista de um estaleiro de Cingapura.

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Mendonça, que foi sócio do estaleiro Setal, demorou 19 meses para relatar o suborno de US$ 32 milhões.

No depoimento original sobre as duas plataformas, feito à Polícia Federal de Curitiba em 30 de outubro de

2014, ele foi vago sobre eventuais subornos no caso da P51 e P52.

Disse apenas que "ouviu comentários de que haveria pagamentos de comissões a Renato Duque",

referindo-se ao ex-diretor da Petrobras preso em Curitiba sob acusação de receber propina na estatal e que

foi indicado pelo PT, segundo procuradores.

Em audiência na Justiça no último dia 16, o "ouviu falar" de Mendonça virou uma propina de US$ 32

milhões. Ele contou que as duas plataformas foram contratadas em 2003 e 2004 por US$ 1,6 bilhão (R$ 5

bilhões) e que houve o pagamento de 2% de comissão, ou US$ 32 milhões.

DIVISÃO

O suborno, segundo Mendonça, foi dividido em partes iguais entre Duque e Zwi Skornicki, que atuava

como representante comercial do estaleiro Keppel Fels, de Cingapura, um gigante desse mercado.

A P51 e a P52 foram construídas em Angra dos Reis e Niterói, no Estado do Rio, por um consórcio

formado pela Setec, antigo nome da Setal, e o Keppel Fels.

A nacionalização de plataformas foi uma política adotada pelo ex-presidente Luz Inácio Lula da Silva.

Moro ficou aparentemente atônito com o que considerou uma revelação. "Salvo engano meu, senhor

Augusto, eu não lembro de ter ouvido o senhor relatar esses últimos fatos aqui antes", disse.

Mendonça contra-argumentou que havia prestado depoimentos à PF sobre esse suborno. O juiz pediu

então que o Ministério Público acrescentasse esse depoimento ao processo.

Os procuradores juntaram o trecho da delação de Mendonça em que fala apenas que "ouviu comentários"

sobre comissão no contrato das duas plataformas.

A omissão de informações em uma delação pode ter duas consequências, a depender da avaliação do

Ministério Público e do juiz: 1) Mendonça pode ser chamado para complementar as lacunas; e 2) o acordo

pode ser rompido, sem que as informações que ele relatou deixem de ser usadas.

Isso ocorreu uma só vez na Lava Jato, com o lobista Fernando Moura, ligado ao ex-ministro José Dirceu.

Ele voltou à prisão por tentar mudar o que dissera na delação.

Mendonça foi o primeiro empresário a fechar um acordo de delação e nunca foi preso. Ele já havia

corrigido uma informação de sua delação em setembro do ano passado. À época, Mendonça disse que se

enganara ao relatar que Duque recebera dele US$ 6 milhões no exterior. O montante foi enviado para

conta do próprio Mendonça no Uruguai, segundo ele.

OUTRO LADO

Os advogados Wagner Lacerda e Marta Saad, que defendem Augusto Mendonça e Zwi Skornicki, não

quiseram se pronunciar sobre a omissão apontada pelo juiz Sergio Moro.

Num primeiro contato, Lacerda disse apenas que Mendonça prestara informações sobre as plataformas à

Polícia Federal.

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*

OUTROS CASOS DE OMISSÕES

De novo Augusto Mendonça já teve que corrigir sua delação uma vez. Em agosto, ele admitiu que ficou com parte

de propina US$ 6 milhões paga a Renato Duque

Camargo Corrêa Empreiteira não revelou doação a José Sarney Filho (que seria propina disfarçada) e pagamento de

R$ 350 mil em dinheiro ao ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado

Julio Camargo Lobista inicialmente omitiu pagamento de US$ 5 milhões a Eduardo Cunha por medo de retaliação

Fernando Moura Operador do PT teve o acordo de delação anulado. Antes, ele havia dito que José Dirceu foi responsável

pela indicação de Duque e por sugerir que Moura fugisse na época do mensalão, mas depois desmentiu

Andrade Gutierrez Executivos tiveram que completar a delação para, por exemplo, informar sobre contas no exterior usadas

para pagar propina de US$ 6,42 milhões

Sem prerrogativas

Por ordem de Teori, inquérito contra Delcídio vai

para Curitiba

30 de junho de 2016, 21h56

O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, enviou nesta quinta-feira (30/6) ao juiz federal

Sergio Fernando Moro inquérito no qual o ex-senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS) é investigado

por suposto recebimento de propina no esquema de corrupção na Petrobras, na compra da refinaria de

Pasadena, nos Estados Unidos.

Teori atendeu pedido da Procuradoria-Geral da República após a cassação do mandato de Delcídio pelo

Plenário do Senado, em maio. Com a perda do foro por prerrogativa de função, a PGR entendeu que a

investigação deve ser remetida para a 13ª Vara Federal em Curitiba, comandada por Moro, onde corre a

maioria dos processos ligados à operação “lava jato”.

Delcídio do Amaral foi preso após gravação feita pelo filho de Nestor Cerveró; ele firmou delação

premiada e agora aguarda em regime domiciliar.

Delcídio do Amaral foi preso no dia 25 de novembro do ano passado, depois que Bernardo Cerveró, filho

do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, gravou uma reunião na qual o então

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senador propunha pagar R$ 50 mil por mês à família e auxiliar num plano de fuga para o ex-diretor, que

estava preso em Curitiba, deixar o país.

Após a prisão, Delcídio resolveu colaborar com as investigações e assinou acordo de delação premiada

com a PGR. Ele responde em recolhimento domiciliar. Com informações da Agência Brasil.

Revista Consultor Jurídico, 30 de junho de 2016, 21h56

Construtora Delta lavou R$ 370 mi em obras

viárias e do Pan do Rio, diz PF

O empresário Carlos Augusto Ramos, conhecido como Carlinhos Cachoeira, é detido em Goiânia

MARCO ANTÔNIO MARTINS DO RIO

30/06/2016 13h10 Erramos: esse conteúdo foi alterado

As investigações da Polícia Federal e do MPF (Ministério Público Federal) que deram origem à operação

Saqueador, nesta manhã de quinta (30), descobriram que a construtora Delta cometeu irregularidades em

obras do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) e na construção do parque

aquático Maria Lenk, obra realizada em 2006 para o Pan de 2007. O parque aquático será local de

competição na Olimpíada. Lá serão disputadas provas de salto ornamental.

Entre 2007 e 2012, segundo os investigadores, a Delta lavou R$ 370 milhões por operadores escolhidos

pelo esquema que realizaram pagamentos a 18 empresas de fachada criadas pelo empresário Carlos

Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, preso esta manhã em Goiânia. Já entre 2006 e 2012, o Dnit

repassou à empresa cerca de R$ 11 bi à Delta. O MPF constatou fraudes em licitação, superfaturamento,

desvios de verba pública e pagamentos indevidos em projetos de infraestrutura.

"Em cada uma das obras que conseguimos identificar, a Delta obteve alguma vantagem. No caso do

parque Maria Lenk houve uma dispensa indevida de licitação. Há casos em que as obras sequer foram

feitas", explicou o procurador da República Leandro Mitidieri.

Até as 12h desta quinta, três haviam sido presas. Duas em Goiás: além de Carlinhos Cachoeira, ainda foi

detido o diretor da Delta Cláudio Abreu. Em São Paulo, a PF prendeu o empresário Adir Assad. Outros

dois ainda não foram detidos. Um deles, no Rio, é o empresário Fernando Cavendish, dono da Construtora

Delta. Cavendish deixou o Brasil no último dia 22. A PF acredita que ele deve fazer algum contato com a

polícia nas próximas horas. O outro procurado, este em São Paulo, é Marcelo Aboud. A sua defesa já fez

contato com a PF informando que ele irá se entregar nas próximas horas.

A operação Saqueador descobriu um esquema montado, de acordo com o procurador da República

Leandro Mitidieri, pela Delta Construções para lavar dinheiro de propina repassados à agentes públicos.

Para tentar descobrir o caminho do dinheiro, peritos da Polícia Federal passaram 30 dias realizando

análises contábeis na documentação da Delta.

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"Seguimos o dinheiro ao inverso tentando chegar à origem. Assim conseguimos o vínculo direto com as

obras públicas", afirmou o delegado Tácio Muzzi, da Delegacia de Repressão à Corrupção e Crimes

Financeiros (Delecor).

OUTRO LADO

A defesa de Fernando Cavendish afirmou estar "estarrecida com a decretação de sua prisão" e que "tomará

as providências judiciais para reverter esta insuportável ilegalidade".

"A prisão foi requerida nos autos de inquérito policial que tramita há mais de três anos, no qual Fernando

Cavendish sempre atendeu às solicitações da autoridade policial, nada justificando a adoção desta medida

extrema", afirma a defesa.

Procurado, o advogado Miguel Pereira Neto classificou como desnecessária a detenção de seu cliente,

Adir Assad, que já cumpria pena em prisão domiciliar.

De acordo com ele, não há nenhum episódio novo em relação aos fatos descobertos pelas operações Lava

Jato e Monte Carlo que justifiquem a detenção. A defesa entrará com pedido de habeas corpus ainda nesta

quinta.

"O Supremo Tribunal Federal já havia se entendido que a reclusão de Adir não era necessária. Não faz

nenhum sentido prendê-lo no momento em que estava num regime de restrição de direitos, sem que tenha

surgido algo novo", argumentou.

A Delta afirmou que não vai comentar o ocorrido.

+ ERRAMOS: O conteúdo desta página foi alterado para refletir o abaixo

30/06/2016 18h39 Diferentemente do informado no título da reportagem e na homepage, o valor

que a Delta teria desviado em obras viárias e do Pan é de R$ 370 milhões, e não R$ 307 milhões.

Opinião pública

"Lava jato" devolveu democracia aos brasileiros, diz cientista

político

29 de junho de 2016, 20h41

Por Marcelo Galli

A operação “lava jato” devolveu aos brasileiros o sentido da democracia após o “deserto” criado pela falta

de legitimidade representativa da classe política, na opinião do cientista político e especialista em

segurança pública Luiz Eduardo Soares. Por esse motivo, a operação que investiga fraude em contratos e

desvio de verbas da Petrobras tem grande apoio da opinião pública.

“O que a Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal fizeram foi dar sentido e conteúdo democrático a

boa parte das virtualidades e energia desprendida em 2013 e 2014”. Ele se referiu às manifestações de

2013 e à polarização ocorrida durante a eleição que elegeu a presidente Dilma Rousseff. “Por isso essa

dose de afeto e paixão que se deposita na operação”, disse, durante palestra nessa terça-feira (28) em

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evento promovido pelo Conselho Nacional do Ministério Público que debateu a experiência italiana no

combate à corrupção com a mãos limpas e as perspectivas da “lava jato”.

Um exemplo do sucesso da operação na opinião pública, segundo o coautor da série de livros Tropa de

Elite, foi um vídeo a que assistiu recentemente no YouTube em que milhares de jovens ovacionavam o

juiz federal Sergio Moro em um festival de rock. O fato, para ele, tem um significado histórico porque

revela que o Brasil vive um momento “precioso” e “cheio de potencialidade”. Soares classificou Moro

como “um herói popular”.

O cientista político elogiou a virada da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, de permitir a prisão

após uma decisão de segunda instância. Ele avalia que a mudança significou uma “aposta” e

“investimento” de confiança do STF na “lava jato”. “Se não houvesse essa virada, talvez a operação não

avançasse com tanta celeridade.”

Durante a palestra, Soares fez uma homenagem ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que

estava na plateia do auditório do Ministério Público Militar, em Brasília, onde ocorreu o evento. Falou que

o nome do PGR “pesa” e “significa” muito para o combate à corrupção e o crime organizado atualmente

no Brasil. Contou uma história que provocou risos do público para exemplificar esse respeito. Disse que

sua mulher ficou preocupada ao saber que ele tinha recebido uma carta assinada por Janot. “Você nunca

teve negócios com a Petrobras”, teria dito a mulher, segundo Soares, que explicou para ela que se tratava

só de um convite para participar do evento.

Marcelo Galli é repórter da revista Consultor Jurídico.

Revista Consultor Jurídico, 29 de junho de 2016, 20h41

Lei de Licitações e imposto sobre herança são

prioridades do Senado até o recesso

Anderson Vieira | 30/06/2016, 14h48 - ATUALIZADO EM 01/07/2016, 19h22

O presidente do Senado, Renan Calheiros, reuniu a imprensa na manhã desta quinta-feira (30) para anunciar

uma lista de projetos prioritários a serem analisados até o recesso parlamentar, que se inicia em 18 de julho.

São nove proposições, entre elas, a atualização da Lei de Licitações, prevista no PLS 559/2013, o reajuste

das alíquotas dos impostos incidentes sobre doações e herança (PEC 96/2015) e a regulamentação da

exploração de jogos (PLS 186/2014).

Renan Calheiros lembrou que a modernização da legislação sobre licitações públicas é urgente e importante

e está diretamente ligada à criação de uma subcomissão que tratará das obras inacabadas no país. Ele

informou que na próxima terça-feira (5) haverá uma reunião com o presidente interino Michel Temer sobre

o assunto.

Os senadores vão sugerir ao presidente que peça aos governadores e aos ministros listas com todos as obras

com recursos federais iniciadas e não finalizadas, com as respectivas prioridades.

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- Por ser anacrônica, essa lei tem colaborado, com o grande cemitério de obras inacabadas existentes hoje

no país. Algo em torno de 30 mil, entre pequenas, médias e grandes. Só de restos a pagar temos R$ 250

bilhões - afirmou.

O relator do texto é o senador Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE). Ele informou que a norma será voltada

para valorizar o bom projeto executivo, essencial para que um empreendimento comece e termine sem

atrasos. Além disso, segundo o parlamentar, haverá a criação de um seguro, que possa garantir a conclusão

dos trabalhos.

Herança

A PEC 96/2015, que prevê o reajuste das alíquotas de impostos sobre doações e heranças, também tem a

relatoria de Fernando Bezerra Coelho, que admitiu tratar-se de um tema polêmico sobre o qual não há

acordo.

O senador explicou que a proposta é uma alternativa ao Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF). O texto

estipula alíquota de até 27,5%, conforme o valor do bem. Segundo ele, a iniciativa deve gerar de R$ 12

bilhões a R$ 15 bilhões de receita extra para a União.

- Até R$ 3 milhões serão isentos. Hoje há incidência de 8% cobrados pelos estados. Essa nova alíquota será

cobrada pela União com faixas crescentes de taxação, chegando até 27,5%, assim como o Imposto de Renda

- explicou.

Abuso de autoridade

O presidente do Senado pretende votar também antes do recesso o anteprojeto sobre abuso de autoridade.

Sem apresentar detalhes sobre a proposta, disse tratar-se de uma cobrança antiga do Supremo Tribunal

Federal (STF), juntamente com a regulamentação do mandado de injunção. Questionado pelos jornalistas,

Renan negou que o assunto tenha relação com a operação Lava Jato:

- Não adianta. Ninguém vai interferir na Lava Jato. A operação está andando e já tem muita gente presa.

Esta investigação e outras mostram um momento de afirmação das instituições. Além disso, a sociedade

quer que essas coisas se esclareçam - afirmou.

O presidente afirmou que não vai tomar a iniciativa de mudar a Lei de Delação Premiada, embora considere

que há pontos da norma que precisam ser melhorados.

- O Brasil precisa pegar experiência de outros países. Nos Estados Unidos, por exemplo, se houver

vazamento, a delação é totalmente anulada - analisou.

Crise

Renan Calheiros admitiu que alguns projetos são polêmicos e que não conduzirão a um consenso. Ainda

sim, disse que está confiante na votação. Ele reafirmou que o Senado deve ser a solução da crise política e

econômica.

- Vamos ter tempo para isso e vamos tocar os projetos, ainda que controversos. Na volta do recesso, no

segundo semestre, deliberaremos sobre a autonomia do Banco Central, a regulamentação da terceirização e

a atualização do Código Penal - previu.

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Com 40 mil habitantes, 'Vale da Eletrônica' vira

polo de start-ups

Jorge Araujo - 21.jun.2011/Folhapress

Engenheiros trabalham na cidade de Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais

FILIPE OLIVEIRA ENVIADO ESPECIAL A SANTA RITA DO SAPUCAÍ (MG)

30/06/2016 02h00

Aplicativos para conseguir caronas ou chamar um garçom, um aparelho vestível que ajuda atletas a

analisar e melhorar seu desempenho, escova de dentes com sensores que a conectam a um jogo para

crianças de três anos.

Esse são alguns projetos que são desenvolvidos na tecnológica Santa Rita do Sapucaí, cidade de 40 mil

habitantes no sul de Minas Gerais.

Conhecida como "Vale da Eletrônica", a cidade foi escolhida para abrigar e desenvolver novas start-ups.

Capitaneado pela Telefónica, em parceria com Ericsson e Inatel (Instituto Nacional de

Telecomunicações), centro de referência em engenharia baseado na cidade, o programa (chamado

crowdworking) selecionou 20 de 90 projetos submetidos por alunos e ex-alunos da faculdade.

Ele possibilitará que os empreendedores desenvolvam suas ideias, testem modelos de negócios, tenham

orientações de especialistas e encontrem investidores, durante um período de oito meses.

Enquanto são desenvolvidas, as start-ups podem usar a estrutura do Inatel, que inclui salas de robótica, de

desenvolvimento de games, laboratórios para a criação de ideias e impressoras 3D.

O objetivo é que, ao final do período, Telefónica e Ericsson possam se beneficiar dos projetos que derem

frutos, fechando parcerias comerciais ou investindo nas start-ups mais promissoras.

Entre as escolhidas, apresentadas ao público nesta terça-feira (28), estão iniciativas ligadas a saúde,

internet das coisas e aplicativos.

PULSEIRA ANTI-AEDES

A Pulse Tech, por exemplo, é uma empresa que quer desenvolver uma pulseira que, a partir de um som

inaudível ao ouvido humano, espanta o mosquito Aedes AegyptI.

Danilo Germiani, 21, de Ouro Fino (MG), é sócio da empresa e aluno de engenharia da computação. Teve

a ideia com mais três colegas em aula de empreendedorismo.

O método para espantar os mosquitos foi descoberto na leitura de um artigo de universidade das Filipinas

encontrado na internet, diz.

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O grupo desenhou a pulseira e desenvolve a placa que emitirá o som. Esperam ter um protótipo em três

meses.

DE OLHO NOS CARROS

Em outro estágio estão os irmãos Marília e Marcos Bontempo, de 23 e 19 anos, sócios na empresa Spark

Telecom.

A companhia possui, entre seus produtos, um software que analisa imagens de câmeras de segurança para

identificar a presença de carros estacionados.

O serviço é usado para monitoramento de 500 vagas de zona azul na cidade de Conselheiro Lafaiete

(MG), e ajuda a prevenir fraudes, segundo os desenvolvedores.

As provas da ostentação da família Cunha

Por Mateus Coutinho, Ricardo Brandt, Julia Affonso e Fausto Macedo

11/06/2016, 17h00

Relatório da Procuradoria-Geral da República reúne extratos de cartões de crédito do presidente afastado

da Câmara e de sua mulher, Cláudia, usados em lojas de grife e restaurantes badalados do mundo; ela

virou ré da Lava Jato por 'lavar' US$ 1 mi de propina

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Foto: Reprodução

Relatório de análise da Procuradoria Geral da República sobre as contas na Suíça do presidente afastado

da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), reuniu os principais documentos compartilhados

por autoridades estrangeiras que comprovam para a força-tarefa da Operação Lava Jato que o dinheiro que

circulou nelas pertence ao parlamentar. Esse dinheiro, dizem os investigadores, sustentou uma vida

faustosa e rotina de ostentação da família do peemedebista em viagens a Paris, Roma, Madri, Dubai e

Miami.

O documento, intitulado Relatório de Análise 113/2015 da Secretaria de Pesquisa e Análise da PGR, foi

anexado ao processo criminal aberto nesta quinta-feira, 9, pelo juiz federal Sérgio Moro – dos processos

da Lava Jato, em Curitiba – contra a mulher de Cunha, a jornalista Cláudia Cruz.

O documento faz parte dos casos em trâmite no Supremo Tribunal Federal (STF), que tem o deputado

como alvo – por ter foro privilegiado, sua parte nas acusações foi separada da mulher.

Documento

RELATÓRIO DE ANÁLISE 113/2015 DA PGR PDF

O documento agrupa os extratos, que indicam os desembolsos milionários em lojas de grifes, restaurantes

badalados e hotéis de luxo frequentados pelo casal Cunha, em viagens realizadas entre 2012 e 2014.

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, aponta que essa vida de luxo era sustentada com dinheiro

publico – desviado no esquema de cartel e corrupção montado na Petrobrás.

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Gastos. Os registros de gastos de Cláudia Cruz, que virou réu em processo aberto por Moro, mostram, por

exemplo, os gastos de 7,7 mil euros na loja da Chanel, em Paris, em janeiro de 2014, de US$ 4,4 mil na

Prada, em Roma, de US$ 2,2 mil na Victoria’s Secrets, de Miami, entre outros caprichos.

Na denúncia que entregou à Justiça Federal no Paraná, a Procuradoria da República sustenta que a mulher

de Cunha usou propina paga ao marido no esquema de corrupção da Petrobrás para cobrir elevadas

despesas com luxos comprados no exterior.

O relatório reúne ainda nos seus anexos os extratos dos cartões de crédito usados por Cunha em suas

viagens fora do Brasil.

Segundo a acusação, a mulher do parlamentar consumiu US$ 854.387,31 em artigos de grife, como

bolsas, sapatos e roupas femininas. “Os recursos que aportaram na conta de Cláudia Cruz foram

utilizados, por exemplo, para pagar compras de luxo feitas com cartões de crédito no exterior”, aponta a

Procuradoria, que atribui à ré os crimes de lavagem de dinheiro e de evasão de divisas.

“Outra parte dos recursos foi destinada para despesas pessoais diversas da família de Cunha, entre elas o

pagamento de empresas educacionais responsáveis pelos estudos dos filhos do deputado afastado, como a

Malvern College (Inglaterra) e a IMG Academies LLP (Estados Unidos).”

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O procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba,

destacou a comprovação de que foi dinheiro público que financiou essa rotina de luxo em Paris, Roma e

Dubai da mulher de Cunha.

“Essa propina foi recebida pelo Eduardo Cunha numa conta no exterior e essa propina foi passada para

outra conta que era escondida no exterior por Cláudia Cruz. Cláudia Cruz cometeu dois tipos de lavagem

de dinheiro com base nesse dinheiro, mais de US$ 1 milhão. Um tipo de lavagem de dinheiro foi pela

ocultação no exterior desses mais de US$ 1 milhão que são fruto de propina, propina recebida pelo marido

Eduardo Cunha. A outra lavagem de dinheiro foi a conversão desse dinheiro em bens de luxo. Dinheiro

público foi convertido em sapatos e roupas de grifes”, afirmou.

Cunha. O documento, de 57 páginas, reúne os elementos que provam para a PGR que Cunha era o dono

das contas identificadas pela Suíça. Deltan Dallagnoll atacou o álibi do deputado afastado que alega não

ser o dono das contas no exterior, abastecidas com recursos do operador de propinas do PMDB João

Augusto Rezende Henriques – essas contas sustentaram os consumos de alto padrão de Cláudia, mulher de

Eduardo Cunha.

Ao Conselho de Ética da Câmara, onde enfrenta um processo de cassação, Eduardo Cunha tem batido na

tecla que não mantinha contas no exterior e, sim, trustes.

“De modo bastante simples, quem cria um truste em benefício próprio é como se usasse o truste como

depositário. É como se a pessoa entregasse para o seu gerente de banco o dinheiro para depois recebê-lo

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de volta. E de modo bastante simples, nós podemos dizer que para esconder quem é o verdadeiro

proprietário do dinheiro, os criminosos mais antiquados, mais defasados, usavam ou usam laranjas e testas

de ferros. Os criminosos mais modernos, mais sofisticados, usam offshores e trustes”, afirmou Deltan.

O juiz Sérgio Moro também desmontou o álibi da família Cunha, na decisão em que aceitou denúncia

contra Cláudia. “Em princípio, o álibi de que as contas e os valores eram titularizados por trusts ou off-

shore é bastante questionável, já que aparentam ser apenas empresas de papel, sem existência física ou

real . A Köpek (da mulher de Cunha, Cláudia Cruz), aliás, menos do que isso”, assinala Moro.

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Brasil. Num dos trechos do documento, foi destacado que para abrir a conta Triunph, Eduardo Cunha

declarou que os documentos do banco deveriam ser encaminhados para um endereços nos Estados Unidos,

embora ele não morasse naquele país. “A justificativa alegada é que Eduardo Cunha ‘mora em país onde

os serviços postais não são seguros’” (veja documento abaixo).

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COM A PALAVRA, O CRIMINALISTA PIERPAOLO BOTTINI

Claudia Cruz responderá às imputações como fez até o momento, colaborando com a Justiça e entregando

os documentos necessários à apuração dos fatos. Destaca que não tem qualquer relação com atos de

corrupção ou de lavagem de dinheiro, não conhece os demais denunciados e jamais participou ou

presenciou negociações ilícitas.

A NOTA DIVULGADA POR EDUARDO CUNHA NO TWITTER:

“Trata-se de procedimento desmembrado do inquérito 4146 do STF, em que foi apresentada a denúncia,

pelo Procurador Geral da República, ainda não apreciada pelo Supremo.

Foi oferecida a denúncia do Juízo de 1º Grau, em que o rito é diferenciado, com recebimento preliminar de

denúncia, abertura de prazo para defesa em dez dias e posterior decisão sobre a manutenção ou não do seu

recebimento.

O desmembramento da denúncia foi alvo de recursos e Reclamação ainda não julgados pelo STF que, se

providos, farão retornar esse processo do STF.

Independente do aguardo do julgamento do STF, será oferecida a defesa após a notificação, com certeza

de que os argumentos da defesa serão acolhidos.

Minha esposa possuía conta no exterior dentro das normas da legislação brasileira, declaradas às

autoridades competentes no momento obrigatório, e a origem dos recursos nela depositados em nada tem a

ver com quaisquer recursos ilícitos ou recebimento de vantagem indevida.

Eduardo Cunha”

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Um tiro no coração de Eduardo Cunha

Por Fabio Fabrini e Fábio Serapião, 01/07/2016, 13h30

Delação do ex-vice da Caixa atinge em cheio presidente afastado da Câmara

A delação ponto a ponto, conforme relato de fonte com acesso às investigações ao Estado:

Como Fábio Cleto conheceu Cunha e Funaro:

Fábio Cleto trabalhou no Itaú, deixou o banco e montou seu próprio negócio, um fundo de investimentos.

Conheceu no mercado Lúcio Bolonha Funaro, que o convidou para ocupar uma sala do escritório dele, em

São Paulo. Ali montou uma “mesa de operações financeiras”. Funaro o apresentou a Eduardo Cunha

Como Fábio Cleto chegou à Vice-Presidência da Caixa:

Em 2011, Funaro, via Eduardo Cunha, o indicou para o cargo na Caixa. Quem mandou o currículo do

delator para Eduardo Cunha foi Funaro. Dois dias depois da nomeação, Funaro o fez assinar uma “carta de

renúncia”. Assim, a qualquer momento, Cleto poderia ser destituído do cargo, dependendo da vontade de

Eduardo Cunha.

PF faz buscas na casa de Joesley Batista, da Friboi

Propinas a Cunha em 5 operações do FI-FGTS seriam de ao menos R$ 15,9 mi

Cunha decidia investimentos pelo valor e mandava reprovar projetos de interesse do PT, afirma

delator

Se ele cometeu irregularidades, que responda por elas, afirma Cunha sobre seu delator

Amigo de Cunha está disposto a fazer delação premiada

Como as propinas eram definidas:

Toda terça-feira, às 7h30, Fábio Cleto era recebido por Cunha em Brasília. Primeiro, esses encontros

ocorriam em um apartamento funcional do deputado; depois passaram a ocorrer na residência da

Presidência da Câmara. Nesses reuniões, Cleto levava a Cunha, a pedido do deputado, as informações

pormenorizadas com nomes de empresas que buscavam o FI-FGTS para pedir parcerias e incentivos

financeiros para tocar seus projetos milionários. Segundo o delator, ao tomar conhecimento dos valores

dos projetos, Cunha dizia, conforme o relato de fonte com acesso às investigações: “Esse aqui interessa,

trabalhe para aprovar. “Quando não interessava, Cunha dizia: “Esse não interessa, vamos melar isso. Se é

bom pro PT, não interessa”. Cleto apontou seu motorista, funcionário da Caixa, como testemunha das idas

à residência de Cunha.

Como foram os pagamentos:

Fábio Cleto indicou 12 operações milionárias com grupos empresariais que buscaram recursos do FI-

FGTS. Ele afirma que não recebeu propina diretamente das empresas. Essa tarefa cabia a Cunha e Funaro,

conforme relatou.

Cleto afirma que não pedia nada para as empresas, não tinha contato com elas. Sua função, disse, era

eminentemente técnica, de um “profissional de mercado”. “Nunca pedi propina para ninguém, era sempre

Eduardo Cunha ou o Funaro. Sabia pelo Eduardo Cunha o montante (da propina)”, afirmou, conforme

fonte com acesso às investigações

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Os porcentuais

Segundo Cleto, Cunha dizia que exigia 1% do valor de cada projeto: 80% desse montante ficava com

Eduardo Cunha. Cleto recebia quantias menores que eram depositadas em uma conta sua na Suíça. Os

depósitos eram realizados pela Carioca Engenharia. No acordo de delação que fechou, o colaborador se

comprometeu a pagar R$ 5 milhões a título de multa.

Os citados

Cleto não apontou nome de nenhum outro político. Só falou de Eduardo Cunha. Afirmou que conheceu o

ex-ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), em uma “ocasião social”, mas n]ao o

envolveu em negócios ilícitos.

As provas apresentadas

Fábio Cleto entregou seus votos nas reuniões do FI/FGTS como prova. Os votos de Cleto foram

requisitados pela Procuradoria-Geral da República à Caixa, mas ele próprio se antecipou e entregou a

documentação aos investigadores. Depois que a Lava Jato analisou o conteúdo dos votos, Cleto fez

inúmeros depoimentos na PGR, todos filmados, gravados e registrados formalmente. Cleto entregou,

ainda, uma planilha de “prestação de contas” produzida por Funaro.

Os casos citados

1) Empresa Lanza Linhas Amarelas do Metrô S/A. Captou R$ 386,7 milhões do FI-FGTS. A operação foi

aprovada em abril de 2012 com a concessionária Metrô/Rio, da Invepar, na qual a OAS tem participação.

Eduardo Cunha, segundo Cleto, pediu sua ajuda nessa operação. “Sei que Eduardo Cunha tem um ótimo

relacionamento com Léo Pinheiro”, disse Cleto, segundo o relato de fonte com acesso às investigações.

Nesse caso, Cunha disse a Cleto que ficou com 0,30% do montante como propina. Cleto diz que recebeu

R$ 46,5 mil. O dinheiro foi depositado em sua conta no exterior pela Carioca Engenharia.

2) SANEATINS

Houve uma operação de participação acionária do FI/FGTS, no valor de R$ 90,5 milhões, aprovada em

2011. A Saneatins é uma parceria do Governo de Tocantins com a Odebrecht Ambiental. Cunha pediu

“apoio” para Cleto votar pela aprovação do projeto. Cleto atendeu. Cunha disse que ficou com 1% de

propina, segundo o delator. Para Cleto, foram pagos R$ 36 mil.

3) OAS

Houve captação de R$ 250 milhões para projetos como a concessão da Rodovia Raposo Tavares, da qual a

OAS é concessionária. Cleto avisou Cunha sobre o “desembolso” da operação. Cunha disse, segundo o

delator, que ficaria com 1% do valor. Cleto recebeu R$ 100 mil, sempre pagos no exterior.

4) ELDORADO

Funaro fez uma “apresentação pessoal”, de Cleto, ao controlador da Eldorado, Joesley Batista. “Conheci

Joesley num jantar na casa do Lúcio”, relatou, conforme c=fonte com acesso às investigações.

O negócio com ao FI FGTS envolveu captação de recursos feita pela ELDORADO. O valor era de R$ 1,8

bilhão para obras de saneamento, logística e energia em fábrica no Mato Grosso. O valor foi reduzido para

R$ 840 milhões, depois subiu para R$ 940 milhões.

Cleto diz ter recebido R$ 940 mil. Cunha teria ficado com 1%, do montante, o que equivale a R$ 9,4

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milhões, mas o delator supõe que o deputado recebia porcentual superior. Cunha “estipulava, anunciava” o

valor que caberia a Cleto.

5) BRADO LOGÍSTICA

A empresa, da América Latina Logística (ALL), requereu participação acionária do FI/FGTS em um

projeto orçado em R$ 400 milhões, que foi aprovado no início de 2013. Segundo ele, Eduardo Cunha lhe

pediu que aprovasse o projeto.

Cleto diz ter sido informado de que a propina para Cunha foi de 0,5% por cento sobre o montante da

operação. Cleto recebeu R$ 80 mil.

6) BR VIAS

Também teria ocorrido negociação ilícita para aporte do FI-FGTS na Via Rondon, da BR Vias.

6 Mitos Jurídicos que você precisa esquecer

Publicado por Rick Leal Frazão

Graduando em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA), Ex-Estagiário da Justiça Federal

e da Defensoria Pública do Estado do Maranhão, Técnico em Informática pelo Instituto Federal do

Maranhão (IFMA) e administrador do site do Núcleo de Estudos de Direitos Humanos da UFMA.

Gente, não é TOC nem nada assim, mas fico profundamente incomodado quando vejo algumas coisas que

as pessoas falam, principalmente na televisão.

Não é saci, cuca, nem lobisomem, mas existem muitos mitos jurídicos rondando por aí e sendo espalhados

todos os dias nas redes sociais.

Assim, mesmo não tendo um bigode, hoje serei um caçador de mitos e vou trazer um pouco de

esclarecimento sobre alguns deles que você definitivamente precisa esquecer.

1) É preciso fugir 24h para não ser preso em flagrante

Realmente eu não sei de onde saiu essa ideia de que fugir por 24h impediria o flagrante, mas só pra deixar

claro veja o que diz o Código de Processo Penal:

Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:

I - está cometendo a infração penal;

II - acaba de cometê-la;

III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em situação que faça

presumir ser autor da infração;

IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam presumir ser ele

autor da infração.

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Se você prestar atenção a lei não menciona o prazo de 24h que provavelmente surgiu da interpretação de

alguém.

A lei não deixa claro usando a expressão “logo depois” exatamente para que o juiz aprecie no caso

concreto se ainda há flagrância ou não.

Em outras palavras, mesmo que já passadas 24h se a pessoa for encontrada com elementos que indiquem

ser ela a autora do crime poderá ser presa em flagrante e a legalidade dessa prisão dependerá do que

entender o juiz e das circunstâncias do caso concreto.

2) É necessário esperar 48h para comunicar o desaparecimento de alguém

Esse mito veio dos filmes e séries americanos (CSI, Law and Order e afins), pois lá é assim, porém no

Brasil as buscas iniciam imediatamente após a notificação às autoridades.

No que diz respeito a menores de idade existe até o art. 208, § 2º, do Estatuto da Criança e do Adolescente

que estabelece expressamente o início imediato das buscas.

Então se algum parente desapareceu você pode e deve procurar a polícia imediatamente para registrar o

ocorrido, levando elementos que ajudem a identificar a pessoa, como fotos, comprovante de residência,

documentos etc.

3) A lei do silêncio começa a partir das 22hs

Já tratei disso no post sobre barulho de vizinhos, mas não custa repetir que a legislação federal não

estabelece um limite de horário para fazer barulho.

Basta que o som esteja em intensidade desproporcional a ponto de causar incômodo e perturbar o sossego

e descanso das pessoas para que seja possível intervenção do Estado no sentido de fazê-lo cessar.

No entanto, é preciso verificar as normas do seu condomínio e a legislação municipal e estadual do lugar

em que você mora.

É importante lembrar que a perturbação do sossego é inclusive considerada uma contravenção penal (art.

42 da Lei das Contravencoes Penais), podendo levar o infrator ao suplício de sofrer um processo criminal.

4) Ligar o pisca-alerta te autoriza a fazer qualquer coisa

Já vi gente ligar o pisca alerta pra diversas coisas: estacionar em local proibido, fazer ultrapassagem

indevida, passar sinal vermelho, fazer o carro virar Transformer, sair voando, se teleportar.

Gente, o pisca-alerta não é um salvo conduto pra você fazer o que quiser no trânsito sem consequências.

Olha o que diz o Código de Trânsito:

Art. 40. O uso de luzes em veículo obedecerá às seguintes determinações:

V - O condutor utilizará o pisca-alerta nas seguintes situações:

a) em imobilizações ou situações de emergência;

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b) quando a regulamentação da via assim o determinar;

Ou seja, se não for uma situação de emergência é proibido usar o pisca-alerta, sendo considerado tal ato

uma infração média passível de multa (art. 251 do Código de Trânsito).

E vamos convir que assistir Peppa Pig ou a preguiça de procurar uma vaga não são emergências!

5) Tiririca pode assumir a presidência do país

As fontes desse mito são correntes do Whatsapp e Facebook e afirmam que ele sucederia na Presidência

do país por ser o deputado mais votado e porque os presidentes da Câmara e do Senado por serem

investigados não poderiam assumir.

O art. 80 da Constituição Federal coloca a seguinte sequência para os casos de ocupação temporária do

cargo de Presidente da República quando de sua ausência:

Art. 80. Em caso de impedimento do Presidente e do Vice-Presidente, ou vacância dos respectivos cargos,

serão sucessivamente chamados ao exercício da Presidência o Presidente da Câmara dos Deputados, o do

Senado Federal e o do Supremo Tribunal Federal.

A Constituição não diz mais nada, a sequência acaba aí e caso todos esses presidentes estejam impedidos

seus respectivos vices assumem.

Caso os vices também não possam os regimentos internos de cada uma dessas entidades preveem as

sucessões, de modo que o país nunca ficará acéfalo.

Além disso, existe uma coisa chamada presunção de inocência no Brasil ou pelo menos existia antes do

Supremo dar uma decisão absurda que critiquei em outro post.

A presunção de inocência significa que alguém deve ser considerado inocente até que se prove o contrário

em um processo no qual se respeitem as garantias do acusado.

Na prática, mesmo que os presidentes da Câmara e do Senado sejam investigados isso não significa que

estejam inaptos pra permanecer em suas funções.

No caso de Eduardo Cunha, o STF decidiu afastá-lo excepcionalmente porque ele estava atrapalhando as

investigações, mas é preciso deixar claro que essa não é a regra geral.

6) Se você compartilhar essa PEC conseguiremos aprová-la por iniciativa popular

Essa também vem do Whatsapp e demonstra um claro desconhecimento do texto constitucional.

Veja o que o art. 60 da Constituição fala sobre emendas à Constituição:

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:

I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;

II - do Presidente da República;

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III - de mais da metade das Assembléias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada

uma delas, pela maioria relativa de seus membros.

Ou seja, não existe a previsão de emendas por iniciativa popular, que é um mecanismo valido apenas para

leis ordinárias (art. 61, § 2º, da Constituição).

Por isso preste mais atenção em quem você vota pra deputado e senador porque só eles podem propor

emendas à Constituição em seu nome.

Conclusão

Então é isso JusAmiguinhos, é vivendo e aprendendo, vida que segue.

Procurem checar o que vocês andam compartilhando pra não falar besteira e acabar perpetuando mitos

jurídicos como esses.

Se vocês conhecem mais mitos comentem, me sigam no JusBrasil e vejam mais textos no blog.

As caricaturas de um país patético

É com metáforas que pretendo construir esse texto sobre um país cheio de contradições e aberrações. Vamos

lá!

Certo dia, um povo acordou atônito com tantas notícias ruins: subornos, falcatruas e desonestidades de toda

ordem. As cores verde e amarela até amanheceram manchadas. Estamos falando de um tal Brasil, gigante

por natureza e tão pobre no âmbito da justiça social. Mas como surgiu esse país? A história conta que

embarcações portuguesas em rota para as Índias, de repente, foram levadas para outro destino, na Costa do

Atlântico. De repente mesmo!

Chegando lá, encontraram um pau de cor vermelho acentuado, bastante resistente, duro mesmo, o pau-

brasil! Gostaram tanto dele que deram o nome àquelas terras de Brasil. Não há consenso com a palavra

Brasil, mas pode-se afirmar que o vocábulo talvez tenha origem latina, “Brasília”, e significava cor de brasa

ou vermelho. De qualquer forma, a origem do lugar vem de um pau! Até aí tudo bem! Não há nada que

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desabone esse nome Brasil originário do pau-brasil, o detalhe é que a história desse lugar é um amontoado

de histórias hilárias. Vou tentar descrever algumas delas que eu denominaria de caricaturas.

Outro dia se passou e veio a independência desse lugar realizada justamente pelo filho do colonizador,

situação patética, jamais vista, um jovem chamado D. Pedro I. A história narra esse episódio com a figura

do monarca montado em um cavalo que se desloca para um tal riacho do Ipiranga e de lá solta um grito, o

grito da independência. Que independência era essa?! Claro que ninguém ouviu esse grito, o vale é enorme

e diz a lenda que o jovem imperador tinha uma voz suave.

Mais tarde, para eternizar esse simulacro de independência, ou seja, essa lenda contada pelos vencedores,

convoca-se um pintor famoso, também chamado Pedro, o Pedro Américo, para retratar o dia da

independência, cujo quadro foi pintado em 1888, dispondo a figura do imperador numa postura de homem

valente e de prontidão para um possível ataque dos portugueses que dominavam o Brasil até o momento.

Haja simulação!

Mais um dia vai e outro vem, e o país das caricaturas continua no seu curso. Dessa vez o imperador Pedro,

agora Segundo, quer dizer Pedro II, que sempre aparece em imagens mais velho que seu pai, Pedro I ̶ coisas

de Brasil ̶ , decide ir a uma famosa exposição em Paris, chamada de Exposição Universal, quando foi

apresentada ao mundo a monumental Torre Eiffel. Então, de volta para seu reinado, Pedro II descobre que

seu trono simplesmente não mais existia, virou pó, o país havia se transformado de uma hora para outra em

uma república, através de um golpe militar registrado pelos livros de história em 1889. A primeira pergunta

de um rei sem reinado era onde haviam guardado sua coroa.

Outro aspecto desconcertante e cômico do país das caricaturas é sua bandeira com a descrição: “Ordem e

Progresso” e seu hino nacional com versos, tais como: “Ouviram do Ipiranga... De um povo heroico o brado

retumbante”. O brado retumbante desse povo heroico significando o grito que talvez nunca houve, e o povo

heroico poderia muito bem ser substituído por sofrido, expropriado e enganado. Outro trecho diz: “Deitado

eternamente em berço esplêndido...“. Conseguirá esse país se levantar um dia?! Pois é, então o hino e a

bandeira nacionais representam uma singela caricatura de um país que só existe no imaginário de alguns.

Um tempo depois, um presidente mineiro, apaixonado pela música “Peixe Vivo”, gravada por Milton

Nascimento, decide tirar da “cidade maravilhosa”, o Rio de Janeiro, uma das mais belas do mundo, com

seus morros imponentes adornando o mar, o título de capital do país e substituí-la por uma cidade feita de

concreto armado, rodeada de modernos palácios localizada no Cerrado goiano, no meio do nada. O pau-

brasil vem rendendo..., gerou o Brasil e depois uma sementinha: a capital, Brasília.

Brasília tem no seu traçado um lago artificial, aliás, tudo ali soa artificial. Sua arquitetura, por exemplo, é

um plano geométrico com um amontoado de edifícios de concreto armado, em um deles fica o chefe máximo

da nação do pau-brasil, em formato de um imenso caixote revestido de vidro. É vidro em cima, é vidro dos

lados, haja vidro, suspenso em pilotis, cujo nome é Palácio do Planalto, que mais se parece a um aquário

gigante. Próximo dali, ergueram-se dois pratos separados por duas torres que têm o nome de Congresso.

Alguém está fazendo a refeição com eles, são os ratos roedores da riqueza desse país. Segundo seu

idealizador, aquele edifício representaria a democracia de uma forma imponente, pois era a edificação até

então mais alta da cidade moderna. Alguém acredita nisso?!

Por trás de histórias mal contadas e cheias de contradições, deita-se eternamente a terra do pau-brasil,

formando suas caricaturas de um país patético...

Fonte: Ycarim Melgaço

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STF suspende enxurrada de ações contra

jornalistas do Paraná

ESTELITA HASS CARAZZAI, DE CURITIBA

MÔNICA BERGAMO, COLUNISTA DA FOLHA

01/07/2016 09h57 - Atualizado às 20h36

Depois de percorrerem 9.000 quilômetros e participarem de 25 audiências na Justiça, jornalistas da

"Gazeta do Povo", do Paraná, conseguiram suspender o andamento das ações por danos morais movidas

por dezenas de juízes e promotores do Estado contra eles.

A decisão de paralisar os processos, considerados uma "ação orquestrada" pelo jornal e criticados por

entidades de imprensa, foi dada pela ministra Rosa Weber, do STF (Supremo Tribunal Federal), na noite

desta quinta (30).

"É uma vitória. Nossos cinco profissionais finalmente voltam a ter uma rotina normal de trabalho, de

vida", afirma o diretor de redação da Gazeta do Povo, Leonardo Mendes Júnior.

Os magistrados e promotores afirmam terem sido ofendidos por uma reportagem sobre os "supersalários"

da categoria, publicada em fevereiro. Na avaliação dos autores, a matéria foi "tendenciosa" e

"irresponsável", já que sugeriu que a categoria cometia irregularidades.

O jornal usou dados públicos para mostrar que, na soma, a remuneração de juízes e promotores

ultrapassava o teto constitucional. A categoria argumenta, porém, que férias, 13° e outros benefícios não

se somam ao teto.

Eles entraram com 48 ações individuais de dano moral em 19 cidades do Paraná –num caso que lembra a

enxurrada de processos de fiéis da Igreja Universal contra a repórter Elvira Lobato, da Folha, em 2008.

"Os juízes têm total direito constitucional de entrar com as demandas, embora eu não concorde com o

mérito delas. O problema é o abuso desse direito, numa ação orquestrada para tentar intimidar os

jornalistas. A ministra Rosa Weber mostrou uma vez mais a isenção e a imparcialidade do STF em

matéria dessa natureza, que envolve a liberdade de expressão", diz o advogado Alexandre Kruel Jobim,

que representa a Gazeta do Povo e seus jornalistas.

Os cinco repórteres que produziram o material tiveram que viajar por dias a fio, numa van, para

comparecerem às audiências, sob pena de responderem à revelia, o que acabou inviabilizando seu trabalho

por semanas.

As indenizações pedidas somam R$ 1,5 milhão.

FUNDAMENTOS

A decisão desta quinta reconsidera um despacho do final de maio, quando a ministra havia negado a

suspensão dos processos.

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A defesa da Gazeta do Povo argumentava que nenhum juiz do Paraná seria isento para julgar a causa –26

deles já haviam se declarado impedidos nas ações, muitos porque também haviam entrado com pedidos de

indenização.

Na época, Weber entendeu que não havia discussão de interesse da magistratura, e sim de direitos

fundamentais da personalidade de cada autor.

Agora, a ministra reviu a decisão e decidiu suspender o trâmite dos processos até o julgamento do mérito

da ação no STF.

A ANJ (Associação Nacional de Jornais) comemorou a decisão da ministra e afirmou que "em hipótese

alguma questiona o direito constitucional de todo cidadão de recorrer à Justiça em defesa de seus direitos,

mas entende que as ações propostas coordenadamente por magistrados e integrantes do Ministério Público

buscavam intimidar a 'Gazeta do Povo' e a imprensa brasileira de um modo geral".

"Diante da decisão da ministra Rosa Weber, a ANJ confia que, ao julgar o mérito da reclamação da

'Gazeta do Povo', o Supremo Tribunal Federal decidirá com a isenção, reconhecendo o primado da

liberdade de expressão tal como assegurado pela Constituição Federal."

Em nota, a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) disse que "aplaude e expressa" profundo alivio com a

decisão, que "corrige grave injustiça imposta aos jornalistas".

"O suplício a que foram submetidos os repórteres do Jornal, alvo de vendeta de reduzida parcela de

membros do judiciário do Paraná, não poderia perdurar por mais tempo sob pena de se legitimar um

processo inquisitório em pleno século 21."

DIREITO DE AÇÃO

A Amapar (Associação dos Magistrados do Paraná) defende que os juízes e promotores que se sentiram

ofendidos exerceram seu "direito de ação", previsto na Constituição.

"A imprensa deve ser livre, mas, se abuso houver, ele deve ser reparado", informou, em nota.

Para a associação, a Gazeta do Povo "extrapolou o direito à liberdade de expressão" e prestou um

"desserviço" à sociedade ao sugerir que a categoria havia cometido irregularidades ao receber seu salário.

O jornal afirma que seu objetivo era "expor e debater o sentido do teto constitucional".

A Amapar, por sua vez, nega ter articulado uma reação coordenada, embora tenha oferecido assistência

jurídica a quem se sentisse ofendido.

Opinião

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Receita Federal atua para encarecer preço de

medicamentos essenciais

25 de junho de 2016, 18h20

Por Ronaldo Rayes e Bruno Henrique Coutinho de Aguiar

Os consumidores de medicamentos no Brasil contam há 15 anos com uma importante desoneração fiscal

sobre suas compras - a redução a zero do encargo do PIS e da Cofins sobre o preço de uma lista de

medicamentos produzidos a partir de substâncias classificadas pelo Ministério da Saúde como cruciais

para a saúde pública. Contudo, essa importante benesse fiscal está comprometida pela postura agressiva

que a Receita Federal do Brasil vem adotando frente a fiscalizações que vem sendo levadas a cabo nos

laboratórios e distribuidores destes medicamentos.

O ônus de PIS e Cofins sobre medicamentos em geral é, atualmente, de 12%, custo totalmente repassado

no preço aos consumidores. Todavia, há uma lista com mais de 1.500 substâncias que, uma vez aplicadas

na produção de medicamentos, autoriza a total desoneração do PIS e Cofins sobre o preço do

medicamento, através do aproveitamento pelos laboratórios detentores do registro dos medicamentos de

um crédito presumido de 12% sobre o valor final de venda. Ou seja, apesar de ser onerado a 12%, uma vez

produzido com uma das 1.500 substâncias listadas pelo Ministério da Saúde, acaba sendo, por

conseguinte, totalmente desonerado em razão do aproveitamento do crédito presumido.

A Anvisa, por meio da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos – CMED, no ato do registro

de medicamento cuja substância seja beneficiada com o crédito presumido de PIS e Cofins, define o preço

máximo que o laboratório poderá praticar para aquele medicamentolevando em conta a desoneração total

do PIS e Cofins, de modo que o fabricante, distribuir ou varejista estão proibidos de embutir nas suas

vendas qualquer custo relacionado a PIS e COFINS.

Esse controle de preço é público e pode ser consultado nas revistas de preços de medicamentos

disponíveis em todas as farmácias do Brasil ou pelo site da Anvisa. Além disso, semestralmente, a Anvisa

recebe relatório fornecido por todos os laboratórios farmacêuticos com detalhes e pormenores de todas as

vendas realizadas, preço por unidade de medicamento, custos envolvidos na produção, entre um sem

número de outras informações. Portanto, o governo, por meio da Anvisa, tem absoluto controle dos preços

praticados e da fiel observância pelos laboratórios da desoneração total de PIS e Cofins sobre

medicamentos produzidos com as substâncias beneficiadas.

Nesse contexto, não faz sentido, devemos admitir, que a Receita Federal, órgão do governo, declare

ignorância a respeito de quais medicamentos estão beneficiados pela desoneração fiscal e exija dos

laboratórios documentos que demonstrem que cada um de seus medicamentos foram autorizados pela

Anvisa a aproveitar o crédito presumido de PIS e Cofins. O transtorno para os laboratórios, neste caso, é

que a legislação não previu a existência de um documento específico autorizando a fruição do benefício de

PIS e Cofins para cada medicamento registrado, pois a desoneração já é diretamente refletida na definição

do preço máximo autorizado pela Anvisa no ato de registro.

A legislação, inclusive, determina que a própria Anvisa comunique periodicamente a Receita Federal a

respeito dos medicamentos que fazem jus ao benefício do crédito presumido do PIS e da Cofins. Não há

razão, portanto, para submeter os laboratórios a exigência não prevista em lei e que não podem cumprir,

qual seja, apresentar um documento oficial atestando expressamente que tal e qual medicamento faz jus ao

benefício. Isso porque, o simples ato de registro na Anvisa já permite a fruição do benefício.

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Todavia, auditores fiscais da Receita Federal, buscando atingir a meta estipulada no Plano Anual de

Fiscalização divulgado pelo Ministério da Fazenda, que determina a lavratura de R$ 150 bilhões em

autuações no ano fiscal de 2016, são precipitados em autuar os laboratórios por suposta utilização

indevida de crédito presumido de PIS e Cofins, abdicando do expediente de oficiar previamente a Anvisa

para atestar a legitimidade do benefício para tal e qual medicamento.

O governo, ansioso por arrecadar tributos em período tão conturbado da economia brasileira, imagina

estar retirando recursos dos mais ricos (laboratórios farmacêuticos), quando, em verdade, está onerando

ainda mais o dia a dia dos mais necessitados (enfermos), pois que a glosa do direito ao crédito presumido

do PIS e da Cofins sobre medicamentos essenciais indubitavelmente terá seu encargo repassado para os

consumidores.

*Texto alterado às 10h49 desta segunda-feira (27/6) para alteração no título.

Ronaldo Rayes é sócio do Rayes & Fagundes Advogados Associados

Bruno Henrique Coutinho de Aguiar é coordenador da área Tributária e sócio do Rayes & Fagundes

Advogados Associados

Revista Consultor Jurídico, 25 de junho de 2016, 18h20

País está cheio de desonerações fiscais

'seletivas'

desoneração de produtos , guerra fiscal , desoneração de IPI , pis e cofins , sucos e bebidas

postado 28/06/2016 10:53:59 - 1.320 acessos

Na mira do governo entre as ações para resgatar o equilíbrio das contas públicas, as chamadas

desonerações ainda contam com mais de 30 programas de alívio tributário em vigor. Na lista, além da

conhecida redução do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para máquinas e tanquinhos de lavar

roupas, constam benefícios inusitados, como a redução do IPI sobre concentrado para elaboração de

refrigerantes e até uma redução a zero desse mesmo imposto para néctar de fruta, benefícios concedidos

em 2012. As chamadas "bebidas frias”, aliás, são contempladas com a renúncia de tributos em vários

outros itens, como a redução de aumentos previstos de IPI, PIS e Cofins para refrigerantes, cerveja e até a

alíquota zero de PIS Cofins para água mineral.

Esse tipo de desoneração "seletiva” é criticado pelos economistas, por distorcer as condições competitivas

e desestimular a busca de competitividade pelas empresas. "Assistimos nos últimos seis anos a um

governo extremamente sensível a grupos de interesse”, diz Marcos Lisboa, presidente do Insper.

Na lista da Receita Federal de desonerações instituídas nesses anos, também é possível encontrar reduções

de IPI para lã de aço e papel sintético. Há também benefício fiscal para alguns produtos tipicamente

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brasileiros, caso do charque e do queijo reino. Entre as desonerações concedidas no rol de ações

anticíclicas de governos recentes, e que já deixaram de vigorar, havia itens como papéis de parede,

luminárias e lustres, pisos laminados, de madeira, vinílicos e placas d

A recuperação judicial no Brasil Em uma crise, muitos empresários não têm meios de identificar onde se perde mais

Os pedidos de recuperação judicial tiveram aumento de 165,7% somente no 1º trimestre deste ano, de acordo

com dados divulgados pela Boa Vista SCPC. No atual cenário de crise, esses dados tendem a aumentar. O

grande entrave para o empresário brasileiro é que os problemas vão além da crise e passam pelo aspecto

cultural de gestão. Muitos empreendedores não conhecem profundamente suas empresas, desprezam dados

contábeis relativos a centros de custos e focam a atenção só no resultado final. Em um momento de crise,

não possuem ferramentas para identificar onde a empresa está perdendo mais dinheiro e acabam por gerar

enormes passivos bancários e fiscais, sem possibilidade de recuperação.

A Lei de Recuperação e Falências (Lei 11.101/05) mostra-se incapaz de oferecer soluções completas para

as empresas em dificuldade. Segundo levantamentos independentes, apenas 1% das empresas que pedem

recuperação judicial quitam seu passivo. As demais, ou têm sua falência decretada, ou saem da fase judicial

do processo de recuperação (após 2 anos) com dívidas comerciais e fiscais impossíveis de serem pagas.

O primeiro erro da Lei está na exclusão do passivo tributário do rol de credores sujeitos ao processo. Não

adianta recuperar a empresa perante bancos e fornecedores, deixando o passivo fiscal se avolumar. O

segundo foi proteger excessivamente os bancos, sob o pretexto de que isso faria baixar as taxas de juros pela

menor exposição dos bancos ao risco.

Os juros não baixaram e as garantias (cessão fiduciária de recebíveis futuros e alienação fiduciária sobre

bens móveis e imóveis) inviabilizaram o processo de recuperação, na medida em que permitem aos bancos

ocupar a condição de "extraconcursais", ou seja, de "tomar" da devedora seu faturamento futuro e seus bens

móveis e imóveis, necessários para a sua continuidade produtiva. Com tais garantias, a empresa fica sem

capital de giro e a maior parte do que comercializa reverte em favor dos bancos que têm travas bancárias.

Em poucos dias faltará dinheiro para repor o estoque, pagar as contas de consumo e até mesmo os salários.

A única forma de equilibrar a Lei de Recuperação e Falências é colocar dentro do processo de recuperação,

sem qualquer privilégio, todos os credores, inclusive os bancos e o fisco. Além disso, é necessário que

empresários acompanhem minuciosamente os centros de custos, fazendo correções necessárias no menor

prazo, de forma a evitar a criação de um passivo além de sua capacidade de pagamento.

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Antes de pedir uma recuperação judicial, duas perguntas devem ser feitas. Se a empresa não estivesse

pagando dívidas do passado seria capaz de gerar resultados suficientes para pagar todos os seus custos

mensais, inclusive impostos? A sobra de caixa seria suficiente para pagar o passado e permitir uma vida

digna aos sócios?

Se as respostas forem positivas, a recuperação judicial teria grandes chances de ser viável, não fosse a

exclusão dos bancos e do fisco do rol de credores.

Maicel Anesio Titto é sócio fundador do Montenegro e Titto Advogados Associados

Direito Civil Atual

Compare a incapacidade nos sistemas brasileiro e

argentino

27 de junho de 2016, 8h45

Por Maurício Requião

Deficiência — sobre o qual já falamos aqui na ConJur em duas oportunidades (leia aqui e aqui) — voltou

à tona no Brasil a discussão sobre a questão da incapacidade de exercício.

O estudo comparado de legislação, que é sempre útil, se mostra ainda mais importante quando surgem

novidades de grande monta, com o consequente abalo de certezas longamente impostas. Não que se espere

buscar soluções milagrosas em outros ordenamentos, mas sim que a eles se volte com a ideia de que olhar

como pensa o outro pode ser também ótima oportunidade para repensar o próprio agir.

Entretanto, ao contrário do que muitas vezes é feito, não se buscará aqui realizar comparação com

sistemas europeus. Escolhe-se uma nação vizinha e explico as razões. Isso se dá, em primeiro, lugar

porque se trata de nação cujo desenvolvimento se deu em contexto histórico similar ao nosso, de colônia

europeia na América do Sul, o que em si já é um fator de aproximação e interesse. Em segundo lugar

porque acredita-se que tal estudo pode se fazer mais necessário em situações de ordem prática, até mesmo

em virtude dos frequentes negócios realizados entre cidadãos das duas nações, dada a sua proximidade

geográfica e frequente intercâmbio. Por fim, dentre as diversas razões, pesou a escolha por conta de a

nação em questão ter passado também por recente revisão do seu sistema de capacidades, por força do seu

novo Código Civil que entrou em vigor em 1° de agosto de 2015.

É justamente com base nestas considerações que se realizará, como o leitor já deve ter descoberto,

comparação entre o sistema das incapacidades no atual ordenamento brasileiro e no dos hermanos

argentinos.

Embora novo, o CC argentino segue a tradição do seu antecessor, com linguagem consideravelmente

prolixa e tendência bem maior a apresentar explicações que melhor seriam deixadas à doutrina, se

comparado com o brasileiro. Há também certa promiscuidade entre abordagem de direito material e direito

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processual, o que acontecia também no nosso Código Civil, por exemplo, no que toca à curatela, e que foi

retificado pelo nosso novo Código de Processo Civil (CPC/2015). Por questão de recorte metodológico,

quando necessário as questões processuais serão neste texto apenas tangenciadas, mas não aprofundadas.

Acertadamente, ao contrário do que acontece na legislação pátria, no CC argentino, o Título I, que trata

das pessoas, inclui não somente as questões relativas à capacidade, mas também aquelas relativas à tutela

e curatela. Aproveita-se a oportunidade para repetir que não há razão para que tais temas, notadamente a

curatela, continuem sendo tratadas dentro do Direito de Família.

No novo Código Civil argentino convivem três modelos de restrição de capacidade: a pessoa incapaz, a

com capacidade restringida, e os inabilitados. Trataremos dos três casos no decorrer do texto.

A capacidade de exercício está inicialmente regulamentada no seu artigo 23, que determina que todos os

seres humanos têm capacidade de exercício, excetuadas as exceções previstas naquele Código e por

sentença judicial.

Já na sequência (artigo 24), temos o rol dos que integram a condição de incapazes, que são o nascituro, o

menor de 18 anos[1] e a pessoa assim declarada por sentença judicial, na medida que for determinada pela

sentença.

Já aqui se nota a mudança positiva em relação ao Código Civil argentino anterior no que toca à regulação

da incapacidade absoluta — o fazia no artigo 54. Isso porque, por um lado, foram excluídos do rol os

“dementes”, bem como porque o próprio uso de tal palavra foi afastado de toda a legislação. Ademais,

retirou-se ainda o surdo-mudo da condição de absolutamente incapaz.

A partir dos 13 anos é possível que tenhamos o segundo modelo, o do sujeito que tem sua capacidade

restringida através de sentença judicial, em caso de vício (a exemplo do que acontece no artigo 4°, II, do

CC brasileiro) ou por uma “alteración mental permanente o prolongada, de suficiente gravedad, siempre

que estime que del ejercicio de su plena capacidade puede resultar un daño a su persona o a sus bienes”

(artigo 32), similar às situações de incapacidade anteriormente previstas no CC brasileiro, ou mesmo às

restrições de capacidade ao portador de transtorno mental que ainda hoje são possíveis no ordenamento

pátrio.

Acredita-se que ao aplicar esta restrição à capacidade, até pela própria redação do artigo, o juiz deve

indicar quais atos são afetados. Além disso, deve ainda indicar quais apoios serão necessários à pessoa que

teve sua capacidade restringida.

Encontra-se aqui, portanto, a capacidade do portador de transtorno mental tendo que sofrer restrições e

não simplesmente colocada como condição inerente de tal sujeito, como antes acontecia nos Códigos

Civis brasileiro e argentino.

Também no novo Código Civil argentino, a exemplo do que acontece no brasileiro após a inserção da

tomada de decisão apoiada, há a possibilidade de um sistema menos restritivo de direitos do que a

curatela. A demanda por tal sistema menos restritivo já ecoava na doutrina argentina, com menções, por

exemplo à necessidade de se ter um mecanismo similar à sauvegarde de justice francesa[2].

Assim é que o seu artigo 43 trata de sistemas de apoio ao exercício da capacidade, definindo-o como

“qualquer medida de caráter judicial ou extrajudicial que facilite à pessoa que o necessite a tomada de

decisões para dirigir sua pessoa, administrar seus bens e celebrar atos jurídicos em geral”.

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Também aqui o interesse no apoio parte do sujeito a ser apoiado, que pode designar uma ou mais pessoas

de sua confiança para atuarem como seus apoiadores. No mesmo sentido da medida brasileira, o sistema

de apoio deve favorecer a autonomia e facilitar a exteriorização da vontade do sujeito apoiado.

Quando vai abordar as restrições à capacidade, segue linha similar àquela do Estatuto da Pessoa com

Deficiência e do CPC/2015. Assim, desvincula capacidade de eventual internação (artigo 31, a), bem

como determina que as restrições à capacidade são de caráter excepcional e devem se dar sempre

buscando o benefício da própria pessoa (artigo 31, b).

No campo da saúde do interdito se preocupa com o caráter interdisciplinar para o seu tratamento (artigo

31, c), e com o uso das técnicas terapêuticas que menos lhe limitem a autonomia (artigo 31, f).

Já ao abordar os aspectos processuais, além de destacar o já falado caráter interdisciplinar que deve ser

observado também no processo de interdição, indica a necessidade de ter o incapaz um assistente legal no

processo que deverá ser proporcionado pelo Estado caso o interdito não disponha de recursos (artigo 31,

e).

Na disciplina da curatela, determina que o curador deverá tratar tanto dos aspectos pessoais como

patrimoniais do curatelado, com foco na recuperação da saúde deste.

Interessante a possibilidade prevista no CC argentino (artigo 139) de o sujeito capaz, por meio de diretiva

antecipada, designar quem eventualmente viria a ser seu curador, embora pendente de aprovação judicial.

Este mecanismo que não se apresenta no nosso atual Código Civil certamente poderia ser adotado, ainda

mais considerando hoje a existência do mecanismo de tomada de decisão apoiada. Ter-se-ia, assim, mais

um modo de privilegiar a autonomia do sujeito que venha a ter sua capacidade de alguma maneira

restringida.

Ao contrário do que acontece no sistema brasileiro, em que os atos dos incapazes podem gerar nulidade

(absolutamente incapazes) ou anulabilidade (relativamente incapazes), no sistema argentino os atos dos

incapazes geram a nulidade dos atos, a partir da inscrição da sentença no Registro de Estado Civil e

Capacidade das Pessoas, nos termos do artigo 44. É possível, entretanto, buscar a nulidade de atos

anteriores a este registro, desde que eles prejudiquem a pessoa incapaz ou com capacidade restringida, e: a

enfermidade mental era ostensiva à época da celebração do ato; ou quem contratou o fez de má-fé; ou o

ato tenha sido a título gratuito.

Por fim, o novo Código, a exemplo do anterior, manteve a figura dos inabilitados em paralelo à dos

incapazes e dos agora com capacidade restringida. Na vigência do Código anterior, definia a doutrina

argentina a inabilitação como sendo “una institución destinada a proteger a las personas que se

encuentran afectadas por diversos tipos de deficiencia morales, psíquicas o de conducta, que inciden

sobre su discernimiento, colocándolas en situación de inferioridad para la gestión de su patrimonio”[3].

Entretanto, ao contrário do Código anterior, que no seu artigo 152, bis, colocava como sujeitos passíveis

de inabilitação: a) o ébrio habitual e o usuário de tóxico que estivessem expostos a realizar atos jurídicos

que prejudicassem seu patrimônio; b) as pessoas com deficiência nas suas capacidades mentais que

pudessem vir a causar dano aos seus patrimônios; c) os pródigos que pudessem expor sua família à perda

de patrimônio; o novo Código Civil argentino manteve a inabilitação unicamente aplicável à figura do

pródigo.

No que toca a estes é interessante notar que deixa claro o novo texto legal (artigo 48) que a proteção se dá

não para o inabilitado, mas sim para os seus familiares, já que só há possibilidade de inabilitação do

pródigo quando este possuir cônjuge ou filhos menores ou incapazes. Muito mais acertada e sincera,

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portanto, do que a posição adotada no nosso CC que permite inserções indevidas de terceiros na

autonomia de sujeitos maiores e que não possuem qualquer dever de sustento para quem quer que seja.

Quanto aos efeitos da inabilitação, será ela apenas para fins patrimoniais, com a nomeação de um apoiador

que atuará como assistente para os atos de disposição inter vivos e demais atos que sejam determinados

pelo juiz em sentença.

O que se pode concluir por este breve estudo é que a ideia de privilegiar a autonomia e restringir o mínimo

possível a capacidade dos sujeitos se apresenta como uma tendência no Direito Civil contemporâneo.

Certamente que tais mudanças trazem novos desafios, especialmente sobre como conferir essa autonomia,

sem, entretanto, deixar que sujeitos eventualmente vulneráveis fiquem à mercê de eventuais abusos. O que

não se pode, certamente, é que o medo da comunidade jurídica em lidar com tais desafios promova

retrocessos a direitos conquistados a tanto custo.

*Esta coluna é produzida pelos membros e convidados da Rede de Pesquisa de Direito Civil

Contemporâneo (USP, Humboldt-Berlim, Coimbra, Lisboa, Girona, UFMG, UFPR, UFRGS, UFSC,

UFPE, UFF, UFC e UFMT).

[1] Há alguns regramentos diferenciados para a capacidade decisória do adolescente a partir dos 13 anos

no que toca a questões relacionadas a tratamentos médicos. Assim, aquele que tem entre 13 e 16 tem

poder para decidir sobre tratamentos que não sejam invasivos, sendo que a partir dos 16 passam a ter o

mesmo poder decisório que um adulto no que toca aos cuidados sobre seu próprio corpo.

[2] TOBÍAS, José W. La enfermedad mental y su tratamiento por el derecho privado: debates y tendências

actualizadoras. In: BORDA, Guillermo Antonio (dir). La persona humana. Buenos Aires: La Ley, 2001,

p.201.

[3] MATERRA, Marta del Rosario; NOYA, Gustavo Eduardo. Los inhabilitados. In: BORDA, Guillermo

Antonio (dir). La persona humana. Buenos Aires: La Ley, 2001, p.228.

Maurício Requião é advogado, doutor em Direito pela UFBA. Professor de Direito Civil na UFBA e

Faculdade Baiana de Direito.

Revista Consultor Jurídico, 27 de junho de 2016, 8h45

Falta de cuidado

Pai é condenado a pagar R$ 50 mil a filho por

abandono afetivo

27 de junho de 2016, 13h09

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Negligenciar deveres básicos inerentes à maternidade e à paternidade, como a falta de atenção e cuidado,

gera danos à moral do cidadão. Por isso, a 2ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal

manteve sentença que condenou um pai a pagar R$ 50 mil de danos morais ao filho, devido ao abandono

afetivo.

Na ação, o filho relatou ter sofrido com a ausência do pai, que nunca fez questão de exercer o direito de

visita estipulado no juízo de família. Marcava de ir encontrá-lo e não aparecia, telefonava bêbado e na

companhia de mulheres estranhas. Além disso, o pai teria transferido bens de sua propriedade para

não deixar herança e sempre tratou os seus dois outros filhos do atual casamento de forma diferenciada.

Segundo o autor da ação, por causa desse abandono, teve doença pulmonar de fundo emocional

e problemas comportamentais. Por isso, pediu que o pai fosse condenado a pagar R$ 200 mil pelos danos

morais sofridos por ter crescido sem o apoio e o auxílio paterno esperados.

Citado, o pai negou o abandono lamentado pelo filho. Afirmou que sempre esteve presente e o ajudou; que

as visitas não eram feitas regularmente porque a mãe dele impunha dificuldades, mas mesmo assim

encontrava o filho em locais públicos; e que a instabilidade da ex-mulher gerou situação desagradável para

ele e sua atual esposa.

Em primeira instância, a 3ª Vara Cível de Brasília condenou o pai a pagar R$ 50 mil de indenização. De

acordo com a decisão, “não há danos morais diretamente decorrentes da falta de afeto, como parece

pretender a expressão 'danos morais por abandono afetivo'".

Segundo a sentença, a simples falta de afeto, ou mesmo a falta de amor, não são puníveis pelo

ordenamento jurídico, considerando que não há qualquer obrigação jurídica de dar afeto. "Na realidade,

para que se fale em danos morais, é necessário perquirir sobre a existência de responsabilidade, no caso,

subjetiva, que gere o dever de indenizar", diz trecho da sentença.

Contudo, no caso específico, a decisão entendeu que o dano moral ficou configurado. Isso porque apesar

de não existir punição para a falta de afeto, a falta do dever de cuidado pode resultar na indenização. No

caso específico, a sentença concluiu que as provas comprovam que houve o dano sofrido pelo autor,

inclusive resultando em problemas de saúde e comportamentais.

“A falta de atenção e cuidado, que implica ausência de proteção, tem presumidamente o condão de ensejar

danos em detrimento da esfera jurídico-moral do cidadão, o que se traduz pela configuração do dano

moral subjetivo. Trata-se de dano que atinge a psique humana, provocando desconforto psicológico,

sentimentos de ansiedade, frustração, profunda tristeza, baixa auto estima, dentre outros. Tem-se, pois, à

toda evidência, que estão presentes os elementos ensejadores do dever de indenizar por danos morais

decorrentes da violação dos deveres paternos”, diz a sentença, mantida pelo TJ-DF. Com informações da

Assessoria de Imprensa do TJ-DF.

Revista Consultor Jurídico, 27 de junho de 2016, 13h09

Opinião

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Prazo que restringe doação de sangue por

homossexual homem é razoável

28 de junho de 2016, 7h17

Por Gil Cunha De Santis, Maria Cleusa Guedes e Eugênia Maria Amorim Ubiali

A proibição de doação de sangue por homossexuais masculinos está sendo questionada no Supremo

Tribunal Federal por meio de Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 5.543) com pedido de liminar

contra normas do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que

consideram homens homossexuais temporariamente inaptos para a doação de sangue pelo período de 12

meses a partir da última relação sexual.

O autor da ação é o Partido Socialista Brasileiro (PSB) que entende que as normas que impedem que

homossexuais doem sangue revelam-se “absurdo tratamento discriminatório por parte do Poder Público

em função da orientação sexual”.

Na verdade, os serviços de hemoterapia têm sido pressionados por doadores a aceitar a doação de sangue

de homens que tiveram relações sexuais com outros homens, denominados pela sigla HSH, que

consideram a recusa além de discriminatória, antiética e ilegal. Sobre relevante assunto, tecemos algumas

considerações que visam contribuir para o esclarecimento da questão.

No Brasil, os critérios para a doação de sangue foram estabelecidos por portarias do Ministério da Saúde.

As portarias 2.712, de 12 de novembro de 2013, e 158, de 04 de fevereiro de 2016, e que entrará em vigor

em outubro deste ano, em substituição à primeira, estabelecem inaptidão por 12 meses para a doação de

sangue para homens que tenham tido relação sexual com outro homem:

Art. 64. Considerar-se-á inapto temporário por 12 (doze) meses o candidato que tenha sido

exposto a qualquer uma das situações abaixo:

IV - homens que tiveram relações sexuais com outros homens e/ou as parceiras sexuais

destes;

Nesse sentido, o primeiro aspecto a considerar é o risco de transmitir agentes infecciosos por transfusão de

sangue. Há décadas, sabe-se que a transfusão pode ser veículo para a transmissão de agentes infecciosos

ao receptor, tais como os vírus das hepatites B e C, o Tripanosoma cruzi (causador da doença de Chagas)

e, a partir da década de 1980, o HIV (causador da Aids). No início da epidemia de Aids, a população sob

maior risco de contaminação pelo HIV era a de homossexuais do sexo masculino; por isso, a partir de

então, foram adotadas medidas para reduzir o risco de transmitir o HIV para os receptores de sangue, entre

as quais, considerar inaptos para a doação os HSHs.

Porém, continuava a ocorrer a contaminação de receptores de sangue transfundidos com produto obtido de

doadores com testes sorológicos negativos. A razão é que os testes sorológicos são incapazes de detectar a

contaminação do sangue em todos os casos, mesmo depois da introdução dos testes com maior

sensibilidade ou de testes de detecção de material genético dos vírus HIV, da hepatite B e da hepatite C,

conhecido como NAT (teste do ácido nucleico).

Estes testes permitiram a redução da denominada “janela sorológica” ou “janela imunológica” ou “janela

do teste”, que é o intervalo de tempo entre a infecção pelo vírus da Aids e a detecção de anticorpos anti-

HIV ou do antígeno p24 (parte integrante do vírus HIV) no sangue. Os anticorpos são produzidos pelo

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sistema de defesa do organismo em resposta à infecção pelo HIV, e os exames irão detectar a presença

deles, o que confirmará a infecção pelo vírus.

Com estes testes a positividade do exame mudou de algumas semanas para algo como 10 a 20 dias (um

pouco mais longa para o vírus da hepatite B). Ou seja, indivíduos que se tenham contaminado por um dos

vírus acima mencionados e tenham doado sangue menos de dez dias depois da contaminação podem

transmiti-lo ao receptor, pois os testes para a sua detecção são virtualmente negativos.

Nossa experiência no Hemocentro de Ribeirão Preto mostra a frequência de sorologia positiva, é menor

que 0,1% para as hepatites B e C e inferior a 0,05% para o HIV, enquanto que a prevalência deste último

vírus entre os HSHs foi de 15,4%, sendo que apenas 45,8% deles estavam cientes de sua condição

sorológica, segundo importante pesquisa publicada em 2015 por grupo da Faculdade de Ciências Médicas

da Santa Casa de São Paulo (Veras et al, 2015), ou seja, mais de 300 vezes superior à frequência

encontrada entre os doadores de sangue.

Nos termos do Boletim Epidemiológico Ano IV, 1, do Ministério da Saúde mostrando a prevalência de

HIV em diversos grupos da população brasileira entre o 2º semestre de 2014 e o 1º semestre de 2015,

verifica-se que:

"Entre os indivíduos com 13 anos ou mais de idade, a principal via de transmissão é a sexual, tanto

entre os homens quanto entre as mulheres; em 2014, essa categoria correspondeu a 95,4% entre os

homens e 97,1% entre as mulheres (Tabela 15). Entre os homens, observa-se um predomínio da

categoria de exposição heterossexual, porém uma tendência de aumento na proporção de casos em

Homens que fazem sexo com Homens (HSH) nos últimos dez anos, a qual passou de 34,9% em 2005

para 44,9% em 2014. ” (grifos nossos).

Presume-se que a frequência de indivíduos na janela dos testes mantenha aproximadamente a mesma

proporção na população de doadores de sangue e na de HSHs, ou seja, maior nesta última, o que permite

inferir do risco relativo de transmissão considerando-se as duas populações mencionadas.

E mais! Além dos agentes infecciosos para os quais são realizados testes de detecção, há a possibilidade

de transmissão de agentes normalmente não testados, como alguns vírus ditos emergentes (por exemplo,

vírus Zika), e que poderiam ser transmitidos ao receptor por doadores que a eles estariam mais expostos.

Assim, mais importante que o suposto direito à doação voluntária do sangue é o dever de preservar a

saúde do receptor de sangue (paciente) e, atualmente, a única maneira de evitar a transmissão nessas

situações (janela sorológica e agentes não testados) é por meio da aplicação de questionário clínico-

epidemiológico ao candidato à doação, de modo a considerar inaptos aqueles que se julgar oferecerem

maior risco (HSHs, usuários de drogas injetáveis, usuários de alguns medicamentos, pluralidade de

parceiros sexuais, dentre outros).

Ainda que, eventualmente, o citado questionário, utilizado em todos os Serviços de Hemoterapia, possa

ser considerado invasivo da intimidade do candidato no que diz respeito às suas práticas sexuais,

notadamente de sexo anal, que foi associado a risco mais elevado de contaminação pelo HIV, segundo

publicação do CDC-EUA (Smith et al. MMWR 2005: 54 (RR02): 1-20), é meio complementar para evitar

a doação de sangue do chamado “comportamento de risco acrescido”.

Em razão do exposto acima, temos que a adoção do prazo de 12 meses entre a potencial exposição por via

sexual e a doação de sangue pode ser considerada razoável para garantir maior segurança transfusional

para o receptor, que é quem se tem obrigação constitucional de proteger (CR art. 200, I). Não se trata de

discriminação de pessoas por sua orientação sexual, pois HSHs podem doar sangue desde que respeitado o

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prazo de 12 meses, e também porque homossexuais do sexo feminino não estão sujeitas à inaptidão

temporária, pois o risco de contaminação por via sexual nesta situação é considerado desprezível.

Ademais, no Brasil existe maior prevalência de infecção pelos vírus da hepatites B e C e o HIV, o que

deve se refletir em maior risco transfusional, pois haveria maior contingente de indivíduos no período de

janela sorológica quando da doação de sangue. Além disso, o acesso restrito pela população aos testes

para a detecção desses vírus, estimula alguns indivíduos a buscar tais testes por meio da doação de sangue

(denominados buscadores de testes sorológicos), que em artigo publicado pela Fundação Prosangue-SP foi

de 8,8% do total de candidatos à doação (Gonçales et al, 2006).

Essa atitude representa grande perigo para a segurança transfusional, pois os buscadores de testes

sorológicos, geralmente desconhecem o fenômeno da janela dos testes e, por isso, tendem a doar sangue

poucos dias depois do evento que julgam tê-los exposto a risco de contaminação, e antes da eventual

positivação do teste. Ou seja, no caso de o candidato à doação de sangue tiver mantido relações sexuais

com parceiro contaminado pelo vírus HIV e tiver contraído o vírus, somente a partir do 10º dia após o

contágio, o vírus será detectado em seu sangue. A doação de sangue antes desse período, terá resultado

negativo e esse sangue poderá ser transfundido em até quatro pacientes (uma doação pode gerar até quatro

componentes sanguíneos: concentrado de hemácias, plasma, plaqueta, sangue total) que, possivelmente,

serão contaminados pelo vírus.

E, não importa quantas vezes essa bolsa de sangue seja testada, ela sempre dará resultado negativo, pois a

resposta imunológica, ou seja, a produção do anticorpo contra o vírus, não é gerada dentro da bolsa de

sangue e sim no organismo do doador.

Em outros países também foram determinados os prazos de inaptidão para doadores do sexo masculino

que tiveram relações sexuais com outros homens. Nos Estados Unidos, era por prazo indeterminado para

HSH desde 1977, mas, em 2015, o prazo foi reduzido para 12 meses. Na Alemanha, Suíça e Holanda,

entre outros, a inaptidão é definitiva. No Canadá e na Nova Zelândia, o prazo é de cinco anos. Outros

países como Reino Unido, Argentina, Austrália e Suécia o prazo é de 12 meses.

Membros de organizações de homossexuais reivindicam o direito de doar sangue, pois consideram

discriminatória a exclusão, mesmo que temporária, de HSH. No entanto, temos que o aspecto mais

importante a considerar na exclusão temporária de doadores HSH não é o seu suposto direito de doar

sangue (ou de impor a sua doação de sangue, o que, em última análise, significa impor o transplante de

tecido seu — o sangue — em outro indivíduo), mas sim o direito do receptor de receber sangue o mais

seguro possível.

Portanto, o direito relevante a ser preservado é o do receptor e não o do doador, independentemente de sua

orientação sexual ou de eventual condição clínica de que ele seja ou tenha sido acometido, como, por

exemplo, o câncer, entre outras.

Nessa linha de argumentação, o Council of Europe declarou o seguinte, em sua Resolução 5, de 2008:

“4. ensure that blood establishments are ultimately responsible for the quality and safety of

the blood and blood components collected; in particular, blood establishments should:

4.1. be responsible for the final acceptance or deferral of donors on the grounds of a risk

assessment based on regularly updated epidemiological data, and bearing in mind the right

of blood recipients to the protection of their health, and the resulting obligation to minimise

the risk of transmission of infectious diseases. These rights and obligations override any other

considerations, including individuals’ willingness to donate blood;”

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(tradução — “4. afirma que os serviços de hemoterapia são, em última análise, os

responsáveis pela qualidade e pela segurança do sangue e de seus componentes coletados; em

especial, os serviços de hemoterapia devem:

4.1. responsabilizar-se pela aceitação ou recusa de doadores com base na avaliação de risco

de acordo com dados epidemiológicos atualizados, tendo em mente o direito do receptor à

proteção de sua saúde e a consequente obrigação de minimizar o risco de transmissão de

doenças infecciosas. Esses direitos e obrigações sobrepõem-se a quaisquer outras

considerações, inclusive a vontade individual de doar sangue.”

O ato de doar sangue é uma manifestação de altruísmo em benefício da sociedade, sem nenhuma

expectativa de vantagem própria, e, principalmente, sem impor a própria vontade.

Por fim, deve-se também considerar que a sociedade e a justiça têm condenado instituições que

transfundem sangue e médicos responsáveis por serviços de hemoterapia por eventuais contaminações do

receptor por agentes infecciosos, por considerá-los responsáveis pelo resultado da transfusão, mesmo

utilizando-se da melhor técnica disponível. Entretanto, a sociedade, como no exemplo de HSH, por vezes

procura impor critérios menos rígidos de seleção de doadores, o que pode tornar menos segura a

transfusão de sangue. A prevalecer esse tipo de imposição, não é razoável atribuir o ônus da

responsabilidade aos entes que realizam transfusão de sangue, pois seria admitir a responsabilidade a

quem não tem autoridade de adotar medidas preventivas do dano.

Conclui-se, portanto, que o afrouxamento dos critérios de seleção de doadores poderia aumentar o risco

transfusional, que o direito relevante a ser protegido é o do paciente de receber sangue o mais seguro

possível e que a responsabilidade pelos resultados da transfusão deve decorrer do correspondente direito

de os profissionais envolvidos adotarem os critérios técnicos de seleção de doadores. Assim, faz-se

necessário manter a restrição de doação de sangue dos HSHs da maneira como ela está redigida na

portaria em vigor.

Referências

- Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais.

Boletim Epidemiológico. Ano IV, 01, 2015. Brasília.

- Brasil. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria 158 de 04 de fevereiro de 2016. Redefine o

regulamento técnico de procedimentos hemoterápicos. Diário Oficial da União; Poder Executivo, de 05 de fevereiro

de 2016. Seção 1, p. 37.

- Council of Europe Resolution. 5 on donor responsibility and on limitation to donation of blood and blood

components,

http://www.coe.int/documentlibrary/default.asp?urlwcd¼https://wcd.coe.int/ViewDoc.jsp?id¼1262019; 2008.

- Gonçales TT, Sabino EC, Murphy EL, Chen S, Chamone DAF, McFarland W. Human immunodefiebcy virus test-

seeking motivation in blood donors, São Paulo, Brazil. Vox Sanguinis. (2006) 90, 170-176.

- Smith DK, Grohskopf LA, Black RJ, Auerbach JD, Veronese F, Struble KA, Cheever L, Johnson M, Paxton

LA, Onorato IM, Greenberg AE; U.S. Department of Health and Human Services. Antiretroviral postexposure

prophylaxis after sexual, injection-drug use, or other nonoccupational exposure to HIV in the United States:

recommendations from the U.S. Department of Health and Human Services. MMWR Recomm Rep. 2005 Jan 21;54

(RR-2):1-20.

- de Sousa Mascena Veras MA, Calazans GJ, de Almeida Ribeiro MC, de Freitas Oliveira CA, Giovanetti

MR, Facchini R, França IL, McFarland W; SampaCentro Study Group. High HIV Prevalence among Men who have

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Sex with Men in a Time-Location Sampling Survey, São Paulo, Brazil. AIDS Behav. 2015 Sep;19(9):1589-98. doi:

10.1007/s10461-014-0944-3.

Gil Cunha De Santis é médico hematologista e hemoterapeuta, doutor e ciências médicas pela Faculdade de

Medicina de Ribeirão Preto (USP), gerente médico e diretor médico do Laboratório de Terapia Celular do

Hemocentro de Ribeirão Preto.

Maria Cleusa Guedes é advogada, especialista em Direito Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas, assessora

jurídica do Hemocentro de Ribeirão Preto.

Eugênia Maria Amorim Ubiali é médica hematologista e hemoterapeuta, mestre em Ciências Médicas pela

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) e coordenadora médica do Hemocentro de Ribeirão Preto.

Revista Consultor Jurídico, 28 de junho de 2016, 7h17

Contas à Vista

Crise leva as finanças públicas ao "estado de

calamidade"

28 de junho de 2016, 8h05

Por José Mauricio Conti

A grave crise financeira que assola o país nos últimos anos acaba de produzir mais uma novidade no

âmbito do Direito Financeiro.

No último dia 17 de junho, o governo do Rio de Janeiro surpreendeu a todos com a decretação de “estado

de calamidade pública”[1]. O referido decreto inovou ao decretar calamidade pública no âmbito da

administração estadual com fundamento em uma série de considerações de índole eminentemente

financeira: fala-se na grave crise econômica, na queda de arrecadação proveniente do ICMS e dos

royalties do petróleo, e na Olimpíada sediada na cidade do Rio de Janeiro.

A criatividade do povo brasileiro, especialmente de seus representantes, realmente impressiona, e cada vez

mais justifica a fama do “jeitinho brasileiro”, mundialmente conhecido[2]. Foi “aplicada” recentemente

em nossas contas públicas, com a já famosa “contabilidade criativa”, e agora envereda para outros

campos, com esse “alargamento” do conceito de calamidade pública, para que abranja também a situação

de caos nas finanças públicas.

Vê-se na legislação referente a situações de calamidade pública uma nítida previsão voltada à ocorrência

de desastres naturais. Na Lei 12.340, de 1º de dezembro de 2010, com as alterações posteriores,

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especialmente as da Lei 12.983, de 2014, há regras voltadas à transferência privilegiada de recursos entre

entes federados nessas situações, cuidando também do Fundo Nacional para Calamidades Públicas

(Funcap), em razão de desastres (artigo 1º-A).

O Sistema Nacional de Defesa Civil (Sindec), disciplinado pelo Decreto 7.257, de 2010, estabelece que o

Poder Executivo federal poderá “apoiar” — é o que diz o decreto — ações dos governos estaduais e

municipais em situação de emergência ou calamidade pública, provocadas por desastres. Há, no decreto,

uma definição expressa do que se entende por calamidade pública. Nos termos do artigo 2º, inciso IV,

estado de calamidade é a “situação anormal, provocada por desastres, causando danos e prejuízos que

impliquem o comprometimento parcial da capacidade de resposta do poder público do ente atingido”. E

desastre é o “resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem sobre um ecossistema

vulnerável, causando danos humanos, materiais ou ambientais e consequentes prejuízos econômicos e

ambientais” (artigo 2º, II). O reconhecimento do estado da calamidade enseja, então, a transferência de

recursos federais para ações de socorro, assistência às vítimas, restabelecimento de serviços essenciais e

reconstrução nas áreas atingidas pelo desastre.

Importa ressaltar que, no fundo, o que está em jogo são questões financeiras, pois o objetivo que se

pretende com essa atitude do governo fluminense é facilitar o acesso a recursos que, de outro modo,

seriam inviáveis — e coloca questões de Direito Financeiro no centro das atenções.

Vê-se com isso quão relevantes são os instrumentos previstos no âmbito do Direito Financeiro para a

solução dos mais variados problemas enfrentados pela administração pública.

Alguns deles têm inclusive previsão constitucional, como se pode constatar em relação aos créditos

extraordinários.

Os créditos extraordinários são modalidades de créditos adicionais, a serem utilizados na fase de execução

orçamentária, para permitir a alteração dos orçamentos públicos, dada a necessária flexibilidade para

adequar o cumprimento da lei orçamentária à realidade, que nem sempre se apresenta tal como se previa à

época da respectiva aprovação. Estão regulados pelo artigo 41, III e 44 da Lei 4.320, de 1964, que os

define como sendo aqueles “destinados a despesas urgentes e imprevistas, em caso de guerra, comoção

intestina ou calamidade pública”, e podem ser “abertos por decreto do Poder Executivo, que deles dará

imediato conhecimento ao Poder Legislativo”. A Constituição da República, em seu artigo 167,

parágrafo 3º, prevê que a “abertura de crédito extraordinário somente será admitida para atender a

despesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade

pública, observado o disposto no artigo 62”, dispositivo em geral reproduzido nas Constituições

estaduais[3].

Isso facilita e agiliza eventuais alterações na lei orçamentária que se façam necessárias em situações de

urgência, permitindo a realocação de recursos, voltando-as ao atendimento das necessidades emergenciais,

motivadas pelos fatos mencionados.

Outro instrumento importante é a existência de fundos orçamentários, que estão previstos nos artigos 71 a

74 da Lei 4.320, de 1964, por meio do qual são alocadas receitas que se destinam a finalidades específicas.

Propiciam maior segurança jurídica e financeira para o cumprimento das finalidades para as quais foram

criados, sendo de grande relevância em inúmeras políticas públicas, por permitirem, dentre outras

vantagens, o estabelecimento de regras para a utilização dos recursos e a transferência do saldo positivo

para o exercício financeiro seguinte.

É o caso do Fundo Nacional para Calamidades Públicas[4], fundo federal de natureza contábil e financeira

vinculado ao Ministério da Integração Nacional, que tem como finalidade “custear, no todo ou em parte,

ações de prevenção em áreas de risco de desastre e ações de recuperação de áreas atingidas por desastres

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em entes federados que tiverem a situação de emergência ou o estado de calamidade pública reconhecidos

(...)” (artigo 8º — Lei 12.340, com redação dada pela Lei 12.983). É composto de dotações orçamentárias,

doações e outros recursos (artigo 9º, I a III), sendo seus recursos geridos por um conselho diretor

(artigo 10) e submetidos a controle social por meio de conselhos com a participação da sociedade civil

(artigo 9º, parágrafo 4º).

Os fundos são importantes também porque é por meio deles que se operacionaliza a maior parte daquele

que é o principal instrumento financeiro para resolver os problemas causados em decorrência de

calamidades púbicas, que são as transferências intergovernamentais.

Em um federalismo cooperativo, como é o que se observa no Brasil, a colaboração financeira entre os

entes federados é fundamental para a viabilização da maior parte das políticas públicas, sendo as

transferências intergovernamentais o pilar no qual se sustenta este sistema de organização das finanças do

Estado federal.

Interessam particularmente para esse caso as transferências voluntárias condicionadas, por serem próprias

para situações não ordinárias e terem destinação específica, não sendo possível sua livre utilização, mas

apenas e tão somente nas finalidades para as quais foi feito o repasse dos recursos[5]. Um instrumento que

carece de legislação mais detalhada, havendo no âmbito das normas gerais basicamente o artigo 25 da Lei

de Responsabilidade Fiscal (LRF), o que se mostra insuficiente em face da relevância que apresenta para

as finanças públicas, devendo merecer maior atenção pelos legisladores.

Há outras disposições importantes de natureza financeira aplicáveis a situações de calamidade pública,

como flexibilizações nas restrições aos empenhos (Lei 4.320/1964, artigo 59), suspensão de contagem de

prazos para reduzir excessos em despesas com pessoal e recondução de dívidas aos limites máximos,

dispensa do cumprimento das metas de resultado fiscal e limitação de empenho (LRF, artigo 65) e outras

encontráveis em legislações esparsas.

São muitas as possibilidades que a legislação financeira tem à disposição para solucionar os problemas

que a realidade nos traz, inclusive os emergenciais. É necessário, contudo, que sejam bem utilizadas,

respeitando-se o ordenamento jurídico, e se evite que uma indevida flexibilização na condução das

finanças públicas possa levar a manipulações orçamentárias pouco transparentes que desviem recursos de

despesas obrigatórias em áreas prioritárias como educação e saúde para financiar gastos com

a Olimpíada[6].

A decretação de calamidade pública em decorrência de graves problemas financeiros, que podem

inviabilizar a prestação de serviços públicos essenciais, eventualmente vindo a causar verdadeiros

“desastres” na saúde, educação, segurança pública, limpeza urbana e tantas outras áreas de atuação do

poder público, é medida no mínimo inusitada e, talvez não seja exagero dizer, exótica. É também mais

uma demonstração da “administração-bombeiro”, que só se preocupa em apagar incêndios, várias vezes

criticada nesse espaço[7].

Certamente, a má gestão financeira pode ser um verdadeiro desastre, comparável a grandes calamidades

naturais, se não pior. Porém, seria um fato imprevisível, que justifica a aplicação do sistema excepcional?

Ou seria uma tragédia anunciada, decorrente de um conjunto de atos deliberados que levaram a essa

situação, a despeito de todos os avisos?

Interessante notar que a Lei 12.983/2014 trata dos desastres em conjunto com ações de prevenção em

“áreas de risco”. Do jeito que alguns governantes conduzem a administração, certos entes da federação

estão se transformando em verdadeiras “áreas de risco financeiro”.

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[1] Decreto estadual 45.692, de 17/6/2016: “Decreta estado de calamidade pública, no âmbito da

administração financeira do Estado do Rio de janeiro, e dá outras providências”.

[2] Vide coluna Contas maquiadas não vão tornar nosso país mais bonito, publicada em 12/2/2013.

[3] Como é o caso do Rio de Janeiro, no artigo 211: “São vedados: (...) § 3º - A abertura de crédito

extraordinário somente será admitida para atender a despesas imprevisíveis e urgentes, como as

decorrentes de guerra, comoção interna ou calamidade pública, observado o processo legislativo do artigo

167, § 3º, da Constituição da República”.

[4] Criado pelo Decreto-lei 950, de 1969, e atualmente regulado pela Lei 12.340, de 2010 e alterações

posteriores.

[5] As transferências voluntárias já foram abordadas na coluna Transferências voluntárias geram

desequilíbrio federativo, publicada em 28/8/2012.

[6] Como expressado pelo recente editorial do Estadão do último dia 24/6/2016 (“Calamidade e

incompetência”).

[7] Vide colunas LDO é instrumento eficiente para a administração pública, publicada em 9/4/2013,

Refinanciar dívidas nada mais é do que postergar problemas, publicada em 3/5/2016; entre outras.

José Mauricio Conti é juiz de Direito em São Paulo, professor associado da Faculdade de Direito da USP,

doutor e livre-docente em Direito Financeiro pela USP.

Revista Consultor Jurídico, 28 de junho de 2016, 8h05

Opinião

Decisão do Carf sobre tributação de planos de saúde

gera insegurança

28 de junho de 2016, 8h43

Por Halley Henares Neto e Dirceu José Vieira Chrysostomo

O Conselho Administrativo de Recurso Fiscais (Carf) alterou recentemente o seu posicionamento

acerca da incidência da contribuição previdenciária sobre valores pagos pelas empresas a seus

funcionários e executivos a título de assistência médica ou seguro saúde. A abrupta mudança da

jurisprudência administrativa gera insegurança jurídica ao estabelecer nova orientação

interpretativa, agora no sentido de que os valores pagos e cobertos por planos de saúde pelas

empresas devem integrar o chamado salário-contribuição, para fins de determinação de valores que

integrarão a base de cálculo da contribuição previdenciária.

A legislação brasileira é clara ao dispor sobre a regra de não incidência da contribuição previdenciária

sobre valores pagos a título de assistência médica pelas empresas. Conforme a letra "q" do artigo 28,

parágrafo 9º, da Lei 8.212/91, a contribuição ao INSS não deve incidir sobre “o valor relativo à

assistência prestada por serviço médico ou odontológico, próprio da empresa ou por ela conveniado,

inclusive o reembolso de despesas com medicamentos, óculos, aparelhos ortopédicos, despesas médico-

hospitalares e outras similares, desde que a cobertura abranja a totalidade dos empregados e dirigentes

da empresa”.

A despeito da meridiana clareza do texto normativo acima, o Carf, em decisão da Câmara Superior,

mudou posicionamento que vinha sufragando até então, no sentido de que bastava haver o pagamento de

assistência médica e cobertura a todos os funcionários (totalidade dos empregados e dirigentes) da

empresa para que a mesma não integrasse tais valores ao salário-contribuição para fins de incidência de

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contribuição previdenciária ao INSS, e adotou outro, em sentido inverso, passando a interpretar que a

norma jurídica que trata da não incidência de INSS não deve ser aplicada aos casos em que a empresa, a

despeito de cumprir o requisito do pagamento da totalidade dos seus empregados, faz distinção entre os

planos e coberturas de saúde entre os seus funcionários segurados.

Em outras palavras, segundo esta nova diretriz o Carf entende que sempre que houver patamares de

valores e tipos de planos e coberturas diferentes entre os funcionários de uma empresa, quaisquer que

sejam a sua remuneração, cargo ou assunção de benefícios correspondentes ao grau das

responsabilidades que desempenham ou do salário que auferem, essa distinção, por si só, tem o condão

de desnaturar o benefício da não incidência prevista na Lei e que portanto o valor relativo a mesma,

nessas hipóteses, deve incorporar o salário-contribuição para fins da incidência respectiva contribuição

previdenciária.

Data máxima vênia, entendemos que a Lei 8.212/91, com as alterações introduzidas pela Lei 9528/97, ao

criar a regra da não incidência impõe que o requisito ou ‘critério material’ necessário para a caracterização

do pagamento como parcela não salarial (portanto não sujeita ao INSS) é o de que a fonte pagadora

(empregador) tenha sob as suas expensas o pagamento de plano de saúde que possibilite a cobertura de

todos os seus empregados, assegurando-lhes plena assistência e amparo médico. Se dado contribuinte

empregador efetua este pagamento e cumpre este requisito, é óbvio, a partir da própria literalidade da Lei,

que ele preenche as condições necessárias para não incluir tais valores no salário-contribuição base para a

incidência da contribuição ao INSS. Basta isso!

Ao contrário, porém, o Carf, nessa recente decisão, que se espera seja revisitada e revista, em função de

seu caráter pedagógico no ordenamento jurídico e em vista da proeminência ocupada por este tribunal no

topo dos tribunais administrativos encarregados de concretizar, em caráter contencioso, a Função

Administrativa do Estado, no âmbito do Estado Democrático de Direito, fixa entendimento no sentido de

que além da condição de que essa cobertura seja para todos os funcionários, ela também seja uniforme e

homogênea, ou seja, que haja o mesmo valor de contribuição e que ele seja hábil a oferecer o mesmo tipo

de cobertura para a universalidade dos funcionários da empresa contribuinte.

Algumas observações cumprem destacar aqui:

1. O tribunal ou qualquer autoridade administrativa não pode distinguir onde a lei não o faz, sob

pena de ofender, a uma só vez, o primado da legalidade, agindo sob arbítrio em um campo no qual o

legislador não deixou espaço sequer para a discricionariedade, e atuando como legislador positivo,

criando condições que não estão expressas na norma jurídica. Com efeito, o referido artigo 28 é

claro quando diz que não integra o salário de contribuição os valores pagos a titulo de assistência

médica desde que pagos a todos os empregados. Não consta na literalidade da letra da lei, com o

perdão da tautologia, nenhuma outra condição, requisito ou fator de discrímen;

2. A despeito de a disposição literal de lei assim prever, o voto vencedor da relatora está baseado no

artigo 111, II do CTN que dispõe justamente sobre a necessidade de interpretação literal em casos

de isenção. Contudo, ao que parece, ela o faz para supeditar o seu entendimento, o que nos parece

um contra sensu, já que, ainda que se faça a “interpretação dos leigos” (literal), nos dizeres de

Ataliba, não há no texto desta regra o que qualquer outra restrição além da obrigatoriedade de a

assistência ser oferecida e paga a todos os funcionários da empresa empregadora, por exemplo, não

há nada que obrigue que o plano de saúde não possa ser graduado desde que o mesmo seja dado a

todos os funcionários.

3. Aliás, nem a interpretação literal, se fosse o caso de se aplicar o artigo 111 do CTN (pois

entendemos que não o é, já que não se trata de isenção, mas sim de mera ‘não incidência’, na

medida em que o que se discute é se o conceito do pagamento de assistência médica pode ou não

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integrar o conceito de salário contribuição e assim compor a base de cálculo e o fato gerador da

contribuição ao INSS) prescinde de exegese sistemática, a levar em conta aplicação de outras regras

e princípios constitucionais que forneçam subsídios para uma adequada compreensão da incidência

ou não de contribuições previdenciárias em hipóteses como a que analisamos, sobretudo em tema

ligado à saúde. É o caso, pois, de se analisar o alcance do artigo 195, I, “a” da CF/88 e os princípios

da isonomia e da proporcionalidade, ainda que se coadune com um método mais rigoroso de análise

literal.

Nesse sentido, o STJ já destacou mais de uma vez que “(....) o artigo 111 do CTN, que prescreve a

interpretação literal da norma, não pode levar o aplicador do direito à absurda conclusão de que

esteja ele impedido, no seu mister de apreciar e aplicar as normas de direito, de valer-se de uma

equilibrada ponderação dos elementos lógico-sistemático, histórico e finalístico ou teleológico, os

quais integram a moderna metodologia de interpretação das normas jurídicas.....” (STJ. REsp

192531/RS. Rel.: Min. João Octavio de Noronha. 2ª Turma. Decisão: 17/02/05. DJ de 16/05/05, p.

275.). Adotar posição de apego inarredável ao artigo 111 do CTN significa esvaziar o instituto da

isenção.

4. Assim, o pagamento de assistência médica diretamente pela empresa de modo amplo a “todos” os

funcionários, nos termos do art. 28, já descaracteriza essa remuneração do conceito de salário. À luz

do artigo 195, I, “a” da CF/88 e do artigo 28, I, da Lei 8.212/91, as contribuições previdenciárias

podem incidir sobre a remuneração advinda do trabalho, portanto, não podem incidir sobre parcelas

que o empregador paga como um “plus” ao empregado, em decorrência de ônus imposto pelo

Estado, justamente aquele quem deveria, nos termos do artigo 196 da Constituição, assumir a

função de prover a proteção à saúde pública. A tributação, in casu, só pode incidir no limite e na

quantidade do que efetivamente seja pago como salário. A criação de um novo requisito para a

caracterização da não incidência, a partir da criação deste requisito ou critério para determinação do

que vem a ser salário ou elemento apto a configurar salario-contribuição para fins de INSS.

constitui, então, também uma inovação para o conceito de salário, ao arrepio da Constituição e fora

dos parâmetros do artigo 110 do CTN.

5. Mais injusto ainda do que não desempenhar o seu papel atribuído constitucionalmente,

transferindo-o ao empregador, é o Estado tributá-lo sobre o próprio ônus atribuído. Esse expediente

contraria o artigo 196 da CF/88, que não é mera norma programática, mas sim concretizadora de

direitos individuais, dentre eles um dos mais importantes que é o da proteção constitucional à saúde

pública.

7. Princípio da Isonomia — os salários e benefícios não são homogêneos e uniformes em uma

empresa. Do ponto de vista prático e legal conjuntamente com a contratação ocorre o ajuste do

salário e não raras vezes de um pacote de benefícios ou assunção de outros custos. Esta situação

pode ser diferenciada a depender do cargo ou função a que se refere, na medida em que as

responsabilidades e poderes assumidos em contrapartida também podem ser distintos e

heterogêneos, sob a perspectiva funcional, de gestão, de desempenho ou qualquer outro critério que

o valha. Da mesma forma que a remuneração o valor da assistência médica (que também é um ônus

— custo — assumido pela empresa) não pode ser impingido a todos de modo igual e uniforme. A

isonomia transcende da mera igualdade formal (perante a lei) para a igualdade material (na lei),

tratando-se os desiguais de modo desigual, lembrando, nos dizeres de Celso Antônio Bandeira de

Mello, que em qualquer discriminação o fator de discrímen deve guardar nexo de pertinência lógica

com a situação discriminada.

Conclusão A decisão implica em insegurança jurídica, modificando a aplicação sedimentada da lei em um

determinado sentido e permitindo que muitas empresas possam ser autuadas pelo Fisco Federal, o que não

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se coaduna com a função do Estado que é, fundamentalmente, viabilizar a convivência harmônica da

sociedade.

A empresa se estrutura em conformidade com a ordem normativa, em consonância com a interpretação e

aplicação da lei feita pelo próprio Fisco, assume o custo de uma assistência médica aos seus empregados,

efetivando uma função que deveria ser do Estado e inesperadamente é surpreendida com uma modificação

que lhe acarreta a insegura situação de eventual autuação fiscal com a imposição de ônus decorrentes.

A nova interpretação feita pelo Carf afronta princípios constitucionais, não se coaduna com o sistema

normativo, transgredi direitos do contribuinte e se afasta do dever jurídico daquele órgão julgador de

realizar justiça.

Não há mais espaço para aumentar a carga tributária, quer por novas leis, quer por interpretações

desarrazoadas da lei. Basta de desrespeito ao contribuinte brasileiro.

Talvez seja também oportuno buscar a Justiça Tributária pelas ruas do Brasil, local onde o povo começou

se reunir para tomar o seu próprio destino, escrevendo e protagonizando a história do tempo de hoje e

amanhã.

Halley Henares Neto é sócio titular da Henares Advogados e presidente da Associação Brasileira de

Advocacia Tributária (ABAT).

Dirceu José Vieira Chrysostomo é ex-procurador geral do Estado de São Paulo, sócio da Henares

Advogados e diretor da Associação Brasileira de Advocacia Tributária (ABAT).

Revista Consultor Jurídico, 28 de junho de 2016, 8h43

Quando o divórcio se torna um problema – A

partilha de bens e a sociedade limitada

Holding Familiar & Proteção Patrimonial > Inicio > Empresa familiar > Quando o divórcio se torna um

problema – A partilha de bens e a sociedade limitada

Holding Familiar 29 de junho de 2016 0 Empresa familiar, Holding Familiar divisão do patrimonio,

divorcio

Quando o casal ou ao menos um dos cônjuges decide pelo divórcio, este poderá ou não vir acompanhado

da imediata partilha do patrimônio conjugal. Por óbvio que se o regime de bens for o da separação

convencional, como regra, não há que se falar em partilha de patrimônio comum. O mesmo sucederá no

tocante ao regime da separação legal, exceto naqueles casos em que a aquisição de bens na constância do

matrimônio tiver se dado com o esforço comum do casal.

No tocante aos regimes da comunhão parcial e da participação final nos aquestos, se nenhum dos cônjuges

tiver adquirido bens, a título oneroso, durante o casamento, também não haverá partilha.

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Já no caso da comunhão universal, a partilha só será afastada se a integralidade do patrimônio de cada um

dos cônjuges for composta de bens excluídos da comunhão. Havendo acordo entre os cônjuges quanto à

partilha do patrimônio conjugal, ela se processará sem maiores dificuldades, admitindo-se, até mesmo, que

um dos consortes fique com acervo maior do que o outro.

O problema surge quando não há consenso entre as partes, o que as remeterá para um litígio que, não raras

as vezes, ocasiona perdas patrimoniais para ambos os cônjuges. Quando o litígio envolve quotas de

sociedade limitada, as consequências podem ser ainda mais desastrosas, com prejuízos não só para o casal,

mas também, para todos aqueles que gravitam ao redor da pessoa jurídica.

A partilha de quotas sociais no divórcio ocorre, basicamente, em duas situações: a) quando ambos os

cônjuges são sócios de uma sociedade limitada, integrando as quotas sociais o patrimônio comum do casal;

b) quando apenas um dos cônjuges é sócio da sociedade limitada, mas as quotas de sua titularidade integram

o acervo comum a ser partilhado.

Sendo ambos os cônjuges sócios de uma sociedade limitada, o divórcio e a partilha do patrimônio conjugal

repercutirão, diretamente, no andamento dos negócios sociais. O fim do casamento não implica

necessariamente o desligamento de um dos cônjuges da sociedade limitada ou a dissolução total da pessoa

jurídica, já que, embora extinta a affectio maritalis, pode persistir a affectio societatis. Apesar de constituir

a exceção, nada obsta que ex-cônjuges permaneçam como sócios de uma sociedade limitada, após o

divórcio, cada qual com a participação societária definida na partilha.

O ponto de partida para uma eventual divisão de quotas sociais de sociedade limitada deve ser o contrato

social, o qual poderá, inclusive, estabelecer o critério de avaliação e de pagamento das quotas sociais, caso

um dos consortes deva desligar-se da sociedade. Outro instrumento jurídico complementar, propício à

regulação do procedimento de divisão de quotas, é o acordo de quotistas que, uma vez existente, será

oponível a todos aqueles que dele fizerem parte.

Quanto ao critério de avaliação previsto no contrato ou no acordo de quotistas, deverá refletir a real situação

econômico-financeira da pessoa jurídica ao tempo da partilha. Portanto, se o critério contratual for lesivo a

um dos cônjuges, não prevalecerá, hipótese em que se aplicará o disposto no art. 1.031 do Código Civil”.

Salienta-se que, como regra, a avaliação das quotas deve ser contemporânea à partilha e, não, à dissolução

da sociedade conjugal ou à cessação da vida em comum do casal, já que os efeitos patrimoniais do

matrimônio perduram até que efetivada a divisão do acervo comum. De fato, o patrimônio adquirido na

constância da sociedade conjugal ou anteriormente à separação de fato permanece em estado de indivisão

patrimonial enquanto não realizada a partilha.

A Noruega pode ter o segredo para acabar com a

sonegação de impostos?

Jonty Bloom e Ruth Alexander Do programa In Business, da BBC

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2 julho 2016

Já imaginou se todos soubessem quanto cada um ganha e quanto paga de impostos?

A sonegação de impostos é um problema comum a praticamente todos os lugares do mundo. Pessoas

físicas ou empresas por diversas vezes tentam achar brechas e oportunidades para evitar pagar o que os

governos consideram justo. Até mesmo alguns dos jogadores de futebol mais ricos do mundo, como

Neymar e Messi, enfrentam problemas na Justiça por suspeita de evasão fiscal.

Mas haveria uma forma de evitar que isso acontecesse? Qual será a melhor estratégia para impedir que as

pessoas sonegassem tantos impostos?

O Brasil, por exemplo, é o segundo país onde as pessoas mais sonegam impostos, segundo uma pesquisa

da Tax Justice Network (rede de justiça fiscal, em tradução livre, organização internacional independente

londrina que analisa e divulga dados sobre movimentação de impostos e paraísos fiscais).

De acordo com o estudo, só em 2010 o país somou US$ 280 bilhões em dinheiro não arrecadado por causa

de evasão fiscal.

Fiscalização flagra trabalho escravo e infantil em marca de roupas de luxo em SP

A Noruega tem uma lição sobre isso. A "tática" do país nórdico é a transparência total de seus

contribuintes. Lá, todos têm acesso a informações sobre o quanto qualquer cidadão do país recebe de

salário e o quanto paga de imposto. Seria uma forma de usar a própria sociedade para fiscalizá-la.

A prática, porém, não é replicada em muitos países e gera críticas principalmente sobre a questão da

segurança - se todos conseguem saber quem são os mais ricos de um país, esses podem ser um alvo fácil

da criminalidade.

Sem nenhuma dificuldade, é possível verificar quem é o dono e qual é a fortuna de qualquer pessoa que

vive nessas casas em Bergen

Sem segredos

Em Oslo ou em qualquer cidade da Noruega, antes mesmo da era digital já era possível saber detalhes

sobre as finanças de outros cidadãos. As pessoas podiam solicitar informações na prefeitura e obtinham

respostas em pouco tempo.

Hoje é ainda mais fácil para noruegueses descobrir quanto seus colegas ganham. Basta acessar o sistema

na internet.

"Eu já chequei quanto ganham meus colegas e meu chefe", disse à BBC Vera Lazanbatuna, jovem filipina

que trabalha em uma empresa de tecnologia em Oslo.

Vera conta que, no início, ela estranhou ser possível fazer isso - no país de origem dela seria algo

impensável. A jovem afirma, no entanto, que essa simples possibilidade traz "uma sensação de poder,

porque te permite entender o quanto você pode ganhar."

Isso ajuda a explicar por que a diferença salarial entre homens e mulheres na Noruega é uma das menores

do mundo.

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Há outras medidas que colaboram com a igualdade de gênero em termos de salário, mas a transparência é

um fator de peso. Até porque há casos em que mulheres se deram conta de que ganhavam menos que

homens para desempenhar a mesma função e descobriram isso checando essas informações no sistema.

Os próprios sindicatos publicam listas detalhadas dos valores pagos a cada empregado(a), evidenciando

eventuais distinções de gênero.

"Nas duas vezes em que me dei conta de que estavam pagando menos para mim do que para um homem

na mesma função, falei com meus chefes e eles mudaram isso."

Image copyright Thinkstock Image caption Sem nenhuma dificuldade, é possível verificar quem é o dono

e qual é a fortuna de qualquer pessoa que vive nessas casas em Bergen

Quando eles se tornaram tão 'cristalinos'?

Na Biblioteca Nacional de Oslo é possível encontrar um livro de capa dura cuja primeira página está cheia

de publicidade.

É o registro de toda a informação básica tributária de todas as pessoas que viviam na região de Oslo em

1918: nomes, endereços, renda anual e quantidade de impostos pagos.

Como disse à BBC Einar Lie, professor de História Econômica da Universidade de Oslo, essa prática é tão

antiga quanto a história do país.

"O primeiro imposto estatal que tivemos foi um pouco depois de a Noruega ter sido fundada como nação.

Antes, ela era parte da Dinamarca, até a guerra de Napoleão", explicou Lie.

Em 1814, a Noruega ganhou sua própria Constituição, Parlamento, governo, finanças estatais e, portanto,

seus próprios impostos.

"O primeiro imposto arrecadado foi para fundar o Banco Central da Noruega, e a lista com detalhes dos

pagamentos das pessoas foi publicada. Na segunda metade do século 19, a prática foi regulamentada: por

lei, assustos tributários precisariam ser públicos", afirmou Lie.

Image copyright Thinkstock Image caption Em 1814, a Noruega já tinha seu próprio Parlamento

Por que revelar algo que tantos ocultam?

A motivação para ser transparente era gerar confiança das autoridades no país nascente.

"Nas primeiras décadas, recomendava-se que a informação fosse anunciada em voz alta, porque muita

gente não sabia ler e escrever. Então a pessoa responsável lia as informações financeiras de cada habitante

na praça."

Se a ideia original era evitar que se desse um tratamento especial aos ricos e que funcionários do governo

se corrompessem, a estratégia parece ter dado resultado: a Noruega é um dos países menos corruptos do

mundo.

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Lie opinou: "Isso deve ter influenciado nos valores que temos sobre igualdade de salários. A Noruega é

um país onde as diferenças sociais são muito pequenas e acho que a transparência nas informações deve

ter sido importante para isso."

"Debatemos intensamente os salários dos executivos, que devem ser justificados, e são mais baixos na

Noruega que em qualquer outro país europeu", indicou.

Image copyright PIXABAY Image caption Os salários dos executivos na Noruega são os mais baixos

quando comparados a qualquer outro país europeu

O que dizem os chefes?

É difícil imaginar que muitos executivos ou donos de empresas queiram que seus empregados tenham

acesso total a dados sobre seus lucros e rendimentos.

Para recorrer à opinião de personagens mais ricos, bem-sucedidos e mais bem pagos, a BBC foi à

Conferência Anual das maiores organizações empresariais da Noruega.

Aqui está uma amostra de três das respostas da grande maioria dos representantes presentes sobre a

pergunta: você acha que é uma boa ideia a divulgação pública de registros de rendimento e impostos em

seu país?

- Eu gosto da transparência. Realmente, acho que pagar impostos é a coisa mais importante que uma

pessoa pode fazer para a sociedade.

- Acho que a transparência é algo bom. Evita que os salários dos gerentes cheguem a níveis absurdos. Mas

o lado ruim é que ajuda os criminosos a escolher as famílias mais ricas como vítimas, e temos visto um

pouco disso.

- Isso evita que haja pessoas que recebam salários astronómicos. Se há uma discrepância de 50 ou 100 ou

150 vezes entre o salário mais alto e o mais baixo, isso é absurdo. E se você está recebendo esse salário

astronómico e acha que está tudo bem, terá de ser capaz de admiti-lo e justificá-lo. É algo que me parece

justo.

Image copyright PIXABAY Image caption A atitude dos noruegueses tem muito a ver com a influência do

luteranismo

Um modelo replicável?

Se isso que você está lendo te deixa um pouco surpreso, talvez a pergunta que esteja fazendo seja: será

que todos os países do mundo poderiam replicar a ideia que tem dado certo na Noruega?

Para o professor de Antropologia da Universidade de Oslo Thomas Eriksen, a chave está em questões que

estão muito arraigadas na cultura.

"Tem a ver com a igualdade, que é algo muito forte na Noruega por razões históricas e também com a

influência profunda do luteranismo: a ideia de que tudo deve ser aberto, que não pode haver segredos,

porque se você tem segredos, é porque tem algo que quer esconder."

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Segundo ele, um dos aspectos negativos dessa liberdade de informações é que ela fez a Noruega ser um

país menos propenso a riscos, onde se sobressair aos outros é considerado um problema. Na opinião de

Eriksen, "há um certo desdém das pessoas pelo sucesso dos outros, uma certa cultura de 'inveja'".

Talvez - mas também o país tem muito de "invejável".

E quão viável é para outros países mudar seus costumes? Isso vai depender provavelmente de quão

distantes eles estão culturalmente de uma sociedade como a norueguesa e quão profunda precisaria ser a

mudança de caráter.