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1 Orações Místicas Venerável Joana de Jesus Maria (1564-1650) Nasceu na Espanha, em Terra dos Campos, filhas de João Rodriguez e Joana de la Fuente. Prometida em casamento quando tinha quinze anos, muito sofreu nas mãos de seu violento marido. Ficando viúva, ingressou nas Clarissas de Burgos no ano de 1626 e professou no ano seguinte. Seu influxo espiritual foi importante em via e depois da morte, ocorrida no ano 1650. Deixou muitos escritos, como cartas, poesias, relações de consciência e alguns tratados devotos. Vem, a porta está aberta! “Senhor meu e Deus meu, tens aberta esta chaga do lado, que é a porta da Vida, por onde se entra ao palácio de vosso real Coração, onde habita a plenitude de vossa divindade: não seja excluído ninguém de tanta graça! Venham, entrem e participem todos! Chamados todos! És o sol do mundo, para todos é a beneficiência de tua luz. Chama-os, e se queres, eu serei a pregadora. Eu terei a tua voz. Eu os chamarei com muitos gritos. Vós, Santos que estais na graça de Deus, vinde e entrai no descanso de sua glória, que a porta está aberta. Vós, os pecadores, que estais temendo o castigo de vossas culpas, vinde e entrai para pedir perdão, que tendes a porta aberta. Vós, os infiéis, que estais sentados nas trevas e na sombra da morte, vinde e entrai, que tendes a porta aberta... Que dizeis? Certamente que eu pensava que nada fazia de bom. Sempre julguei que todas as minhas ações, todas as minhas obras e palavras podiam servir mais de escândalo que de exemplo; mas se é verdade o que dizeis, demos graças a quem se

Orações Místicas Clarissas

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Orações Místicas Venerável Joana de Jesus Maria (1564-1650) Nasceu na Espanha, em Terra dos Campos, filhas de João

Rodriguez e Joana de la Fuente. Prometida em casamento quando tinha quinze anos, muito sofreu nas mãos de seu violento marido. Ficando viúva, ingressou nas Clarissas de Burgos no ano de 1626 e professou no ano seguinte. Seu influxo espiritual foi importante em via e depois da morte, ocorrida no ano 1650. Deixou muitos escritos, como cartas, poesias, relações de consciência e alguns tratados devotos.

Vem, a porta está aberta! “Senhor meu e Deus meu, tens aberta esta chaga do lado,

que é a porta da Vida, por onde se entra ao palácio de vosso real Coração, onde habita a plenitude de vossa divindade: não seja excluído ninguém de tanta graça!

Venham, entrem e participem todos! Chamados todos! És o sol do mundo, para todos é a beneficiência de tua luz. Chama-os, e se queres, eu serei a pregadora. Eu terei a tua voz. Eu os chamarei com muitos gritos. Vós, Santos que estais na graça de Deus, vinde e entrai no descanso de sua glória, que a porta está aberta. Vós, os pecadores, que estais temendo o castigo de vossas culpas, vinde e entrai para pedir perdão, que tendes a porta aberta. Vós, os infiéis, que estais sentados nas trevas e na sombra da morte, vinde e entrai, que tendes a porta aberta...

Que dizeis? Certamente que eu pensava que nada fazia de bom. Sempre julguei que todas as minhas ações, todas as minhas obras e palavras podiam servir mais de escândalo que de exemplo; mas se é verdade o que dizeis, demos graças a quem se

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devem, que é a nosso Deus e Senhor. Prostrai-vos como eu por terra e dizei comigo: Senhor, tua é a glória, teu o poder, teu o império! Quanto bem temos, tuas criaturas, tudo é teu! Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu Nome se dêem as graças, a honra, o louvor e a glória.”

Triviño, Maria Victoria – Escritoras Clarisas Españolas.

Antología. Biblioteca de Autores Cristianos – Madrid 1992 Jerônima da Ascensão (1605-1660) Nasceu em Tudela, Navarra de família nobre. Em 1633

ingressou no Mosteiro de Clarissas de Tudela. Enérgica, pobre e com relevantes dotes para guiar as almas, viveu profundamente a Presença de Deus. Deixou uma Autobiografia.

“De tua divina clemência, me admiro, Dom constante, Que a uma alma, que por ti morre, lhe aumentes o gozar-te. Já sei que és grande Senhor, e que sabes humanar-te E que te chamas meu Esposo, e assim te pergunto, amante: Quanto há de durar, meu Bem, e se é muito, dá-me forças, E as maçãs e flores que outra pediu nos Cantares. Ainda que eu não mereça, bem sabes que me arrojaste Um dardo até o coração, e que ferida me deixaste. Ó, meu Bem! Se não me curas, não há quem conheça esta

dor; Porque o curar e o ferir, para ti o reservaste. Muito esta chaga me dói, e gera um fogo tão grande, Que abrasa no coração, quanto há de terra e de carne. E por ser assim que sofro, por Ti, com sede insaciável,

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Desejo sempre que aumente até que chegue a gozar-te.” Triviño, Maria Victoria – Escritoras Clarisas Españolas.

Antología. Biblioteca de Autores Cristianos – Madrid 1992 Joana Maria de Santo Agostinho (1631-1698) De família nobre, nasceu em León, Espanha. Na infância

recebeu graças extraordinárias que a conduziram a viver a Presença de Deus. Aos doze anos ingressou no Mosteiro de Clarissas de León, professando aos dezesseis anos de idade. Edificou a comunidade com seus heróicos exemplos e foi também abadessa.

Amando-te “Jesus amoroso, que amando me chamas, Que amando me levas, que amando me guardas. Amando me buscas e amando me falas E amando me ensinas, e amando me desenganas. Amando me queres, e amando me curas, E amando te escondes e amando te demoras. Amando te mostras, e amando descansas E amando me advertes de todas as minhas faltas. Amando te esquivas e amando te humanizas, E amando te humilhas e amando me exaltas. Amando me escutas e amando me falas E amando me incendeias com tua chama. Amando convidas e amando ofereces E amando me deste o que mais amava. Amando ao Amado, quase a Ele te igualas

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E amando o fazes fazer o que mandas.” Triviño, Maria Victoria – Escritoras Clarisas Españolas.

Antología. Biblioteca de Autores Cristianos – Madrid 1992 Maria de Santo Tomás de Vilanova (+1804) Narcisa Caicedo e Aldago. Ingressou no Mosteiro Clarissas

de Vilanova. Deixou diversos escritos com notas reveladoras de uma extraordinária vida de oração.

“Ó meu Jesus Nazareno! Este é aquele livro pelo qual dizes:

Em minha mão te tenho, Esposa minha, Igreja santa. Ao qual se pode bem responder: Que chagas são estas que tens no meio de teus pés, de tuas mãos e de teu lado? Ao que Ele dirá: Estas não são chagas para mim, senão uma escritura de meus amigos, um memorial seu, que para não esquecer-me deles, os escrevi em minhas mãos. De maneira que a vida do Cordeiro Crucificado é livro onde se escrevem os nomes dos escolhidos, porque é a regra de todas as nossas ações, e com ela nos devemos conformar. (...)

Ó Amado! Ó Amado! Ó Amado! Ó doçura do meu coração! Não por meus merecimentos, mas por tua infinita bondade, ensina-nos; ilumina-nos, a fim de que aprendamos a ler no livro da sabedoria da chaga de teu amorosíssimo e amantíssimo lado. Ó doce amor! Ó deleite! A todos convido, de sorte que nos abrases com a chaga de teu divino fogo. E assim abrasados e derretidos, e traspassados com a eficassíssima suavidade, quando abrirás a estes pobres mendigos e descobrirás o formosíssimo Reino que está dentro de ti, o qual é Tu mesmo, com tuas riquezas? Quando me arrebatarás, e me levarás, e transportarás, e

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esconderás em ti, aonde nunca mais apareça? E quando, findos todos os impedimentos e estorvos, me darás um espírito contigo, para que nunca me possa apartar de ti, e que somente neste divino peito se me faça justiça de amor?”

Triviño, Maria Victoria – Escritoras Clarisas Españolas.

Antología. Biblioteca de Autores Cristianos – Madrid 1992 Maria Joaquina da Encarnação (1787-1843) Maria Joaquina de Alcalá de Guadaira nasceu em 1787.

Entrou nas clarissas de Alcalá de Guadaira e professou aos vinte anos, em1807. Exercitou as virtudes em grau heróico e recebeu muitos favores místicos em sua contínua união com Deus.

Eucaristia “Este Senhor que assim assiste as suas criaturas e tudo mais,

fazendo que todas elas vivam, se movam e subsistam por Ele e nele, como disse o apóstolo: em Deus vivemos, nos movemos e somos. Como se ainda não estivesse satisfeito em assistir assim as suas criaturas, e que assim vivessem elas nele e por Ele, inventou seu amor outro modo que só Ele pode inventá-lo para viver em suas criaturas. Que elas vivessem nele com a mesma vida, com a mesma alma, com o mesmo corpo, com a mesma Carne e Sangue e com a mesma divindade de Deus. Humanando-se, tomando carne e sangue e depois convertendo-se em substância de pão e vinho, ou convertendo a substância de todos em sua própria Carne e Sangue, para que, por meio deles, O comêssemos. E, sustentados com este celestial manjar, ficássemos naquilo mesmo que recebemos. Como o mesmo Jesus

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Cristo disse: O que come minha carne e bebe o meu sangue está em mim e Eu nele. E assim como o Pai vive em mim e Eu no Pai, assim vivo em quem me recebe e ele vive em mim.

Ò Sacramento admirável! Ó obra estupenda de todo o poder de Deus onipotente! Ó invenção do amor infinito de um Deus enamorado pelos seres humanos! Ó graça incomparável, a da pessoa humana sendo elevada à dignidade de Deus!”

Triviño, Maria Victoria – Escritoras Clarisas Españolas.

Antología. Biblioteca de Autores Cristianos – Madrid 1992 Maria Anunciação (1827-1892) Felipa Hermoso de Mendoza nasceu em Estella, Navarra.

em 1850 ingressou no Mosteiro de Clarissa de Vivar del Cid - Burgos. Foi mestra de noviças e Abadessa. Morreu em 1892. Escreveu poesias e outras obras em prosa.

À Virgem Maria “Ave, Mãe de Deus Trino, objeto de meu carinho. Salve, Menina, salve, salve, filha de Joaquim e Ana; Como o sol da manhã nasces límpida, sem pecado: Só quem te criou sabe o bem do teu nascimento. Com humilde rendimento, felicito os teu dias. Com todos as Hierarquias, recebe, Mãe, o meu afeto. Por Joaquim, de reis tu vens; por Ana, de sacerdotes; Os anjos com suas vozes te darão os parabéns. Eles conhecem que tens com seu Deus tanto poder, Que não pode compreender a humana natureza: Admirável é tua grandeza ao ponto de nascer.

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Bendita tua conceição, bendito teu nascimento; Bendito seja o momento em que tiveste respiração: Bendito teu coração, benditos sejam teus olhos, Benditos teus membros todos, benditas sejam tuas potências Benditas sejam tuas ciências, e teus passos tão formosos. Batei, batei, disse Cristo, e a porta se abrirá: Corre, Mãe, sob o efeito desse grito. Pois sabemos, está escrito, eras canal verdadeiro Das graças do Cordeiro, venham sobre os mortais: Afasta-nos dos males que padece o orbe inteiro.” Triviño, Maria Victoria – Escritoras Clarisas Españolas.

Antología. Biblioteca de Autores Cristianos – Madrid 1992 Francisca das Chagas de Jesus (1860-1899) Colometa Martí y Valls nasceu em Badalona e ali iniciou a

vida religiosa nas Clarissas aos vinte e dois anos. Deixou diversos escritos espirituais.

Amado, Jesus meu! Vós sois meu dono absoluto, e desejo

conhecer-vos; e é tão grande o meu desejo que o escrevo para que me deis a conhecer se quereis me comprazer. Meu Esposo! Tudo quanto vos digo é, porque se vos chegasse a conhecer me parece que jamais me esqueceria de vós, e sempre vos daria glória, única coisa que aspiro. Concede-me por vossa infinita misericórdia e amor. Amor e sacrifício é o que me convém Ó Jesus! Meu Bem e meu Tudo! Dai-me a vossa santíssima bênção. Quando será a hora em vos conhecerei? Desejo-o vivamente, e por caridade vos rogo e não me negueis.

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Meu doce Jesus! Hoje é um dia de graças. Os grandes do mundo fazem muitas mercês no dia de seu santo, e Vós, que sois poderosíssimo e tão generoso, creio que não vos esquecereis desta graça que vos peço e tão vivamente desejo. Concede-me esta graça que de coração desejo; espero que não me negareis, pois vos alegrais em presentear vossas esposas, e ainda que indigna, tudo espero de vossa liberalidade. Meu doce Jesus, tenho vivas ânsias de conhecer-vos. Quando será o dia em que vos conhecerei? Ó, se fosse logo! Ai, Senhor, quanto retardais o tempo de dar-vos a conhecer! Cumpri meus desejos, Esposo Amante! Satisfazei minhas súplicas, pois sois meu redentor e meu protetor.”

Triviño, Maria Victoria – Escritoras Clarisas Españolas.

Antología. Biblioteca de Autores Cristianos – Madrid 1992 Emília de São João Batista ( 1861-1902) Emília Júlia Sanchez López nasceu em Granada. Aos

catorze anos ingressou no Mosteiro de Clarissas de Granada, junto com sua irmã Florentina. Foi poetisa, colaborando em diversas revistas espanholas.

Imaculada Conceição “Tu, a estrela esclarecida de quem o sol raios toma! Pomba única de Deus entre mil escolhida! Toda pura, tão perfeita em formosura, Que o Criador enamorado de teu ser imaculado, Em suas obras divinas contigo se deleitava, Quando no mar vales traçava e firmava as colinas. Contigo, quando amoroso formou do dia a luminosidade

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Porque a sua amada servisse como nimbo luminoso. Quando plena, a lua brilhou serena, Para esplêndida seara de tua planta soberana. E a essa abóbada esplendente astros lançou rutilantes, Que brilharam deslumbrantes em tua imaculada fronte. Contigo, quando celeste tule estendeu nos horizontes, E neve nos altos montes para galas de tua veste. E torrentes de pérolas deu ao mar e corais Que fossem logo em teus lábios, porta de conselhos sábios: E em floridas maravilhas pelos prados e vergéis Jasmins semeou e cravos para tua fronte e tuas faces. Contigo, lá na criação, quando na pessoa humana quis ver Sua imagem, e o paraíso, trouxe prevista redenção. Abria-lhe, e um ninho te colocava, a ti sua única pomba, Sobre a estrelada abóbada, e ao ver tua luz que destila De brumas isenta e nuvens, serafins e querubins Te aclamam do mar estrela. Bendita a sem mancha, disse o Senhor e, diante de seu

assento, Lá, sobre o firmamento, dobrou o anjo seu joelho: E no céu, os astros, com ígneo vôo, Bordando o manto de safira traçaram teu nome santo; Nome que todos os seres cantam ao deixar o nada, Chamando-te Imaculada entre todas as mulheres. Triviño, Maria Victoria – Escritoras Clarisas Españolas.

Antología. Biblioteca de Autores Cristianos – Madrid 1992 Clara Sanchez Garcia ( 1902-1973)

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Joana da Conceição Sanchez Garcia nasceu em Torre de Cameros e cresceu em Reboller, Sória. Ingressou no Mosteiro de Clarissas de Sória em 1922, onde foi mestra de noviças e Abadessa. escreveu cartas, poesias, pensamentos e comentários do Evangelho.

Deus é amor Abismada em vosso abismo, Amor! Amor infinito! Santíssima Trindade, imenso abismo de amor, Misericórdia e bondade. E abismada no abismo do Coração de Maria, Doce abismo maternal, sempre, sempre eu abismada, Pelo tempo e eternidade. Que graça e felicidade! Já sou bem-aventurada! E enquanto dura meu alento sobre a ara do altar, Sempre em Maria e por ela unida ao grande sacrifício, Te ofereço minha imolação com a imolação de Cristo. Em meu viver e morrer, em meu pensar e trabalhar, Em meu orar, em meu cantar, em meu íntimo sentir, Que humilde possa dizer: Pai, te ofereço Jesus, E com Ele me ofereço, Deus meu, por Maria Imaculada. Pai, recebe o Teu Filho! Recebe também com Ele o meu coração contrito E a toda a criação que puseste em meu coração E pela qual a ti me obrigo. Eu quero, unida a Jesus, ser oceano de paz Seu benéfico sereno, ser seu rosal, flor e aroma, Sua dulcíssima harmonia, de todos a salvação, De ti glória e alegria. Amor...! Amor infinito! Amor misericordioso!

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Amor poderoso! Amor imenso...! Amor santo...! Amor eterno...! Meu amor! E, todo inclinado a mim, minha alma se ampara em ti... Só em ti cada instante, em cada ato, cada dia E no maternal regaço de nossa Mãe Maria Amor...! Amor infinito! Amor misericordioso! Creio, creio em teu poder! Eu te ofereço minha dor com amor... Me abandono ao teu querer! Sou pó... pó... cinza... sou lodo... lodo... lama. Olha-me, meu Jesus tão bom, compadece-te de mim Que sem merecer, espero... que tua vontade eu adoro... Em mim e em todas as coisas, sempre e no mundo inteiro Faça-se a tua vontade! Esposa de teu querer, o que tu quiseres eu quero! Faça-se a tua vontade aqui na terra, meu Deus, Como se faz no céu! A Palavra de Deus Palavra de Deus, ilumina-nos! Palavra de Deus, converte-nos! Palavra de Deus, perdoa-nos! Palavra de Deus, cura-nos! Palavra de Deus, purifica-nos! Palavra de Deus, ensina-nos! Palavra de Deus, fortalece-nos! Palavra de Deus, salva-nos! Palavra de Deus, diviniza-nos! Palavra de Deus, santifica-nos! Palavra de Deus, beatifica-nos!

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Palavra de Deus, faz-nos ditosos no eterno Amor! Triviño, Maria Victoria – Escritoras Clarisas Españolas.

Antología. Biblioteca de Autores Cristianos – Madrid 1992 Isabel Maria do Menino Jesus (1921) Isabel Maria Santos Rodrigues nasceu em Valadollid e

professou entre as Clarissas de Tarragona em 1955. Inteligente, de palavra fácil, possui vários escritos. Colaborou em várias revistas e publicações franciscanas.

A solidão Meu Jesus! Que deliciosos momentos os que a alma passa

em solidão e, mais íntima contigo, entabula um místico colóquio que lhe faz desfrutar por antecipação a bem-aventurança da glória. É que na solidão se produz o silêncio das potências e este silêncio conforta o coração e lhe permite ouvir melhor tua voz, Senhor. Por isso, todos os santos desejam o retiro, o afastamento dos ruídos mundanos. Na solidão se purifica a pessoa humana e, admirando a sua alma como num espelho, busca-se a si mesma aprende a desterrar vícios e más inclinações e amar a virtude. Quem gosta da solidão, sabe o que Deus sabe e toma gosto dele. A condição essencial da solidão é a entrada no interior da alma, a qual faz um balanço com um olhar retrospectivo da vida passada e, ao mesmo tempo, compõe o programa da vida futura. Esta confrontação da vida vivida e da vida projetada nos levará à exploração em busca do nosso fim: a possessão do céu, a salvação da alma, a glorificação de Deus.

Meu Jesus, sim com tua divina graça podemos todos superar a natureza humana e sobrenaturalizar nossos atos para adquirir a

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perfeição no estado que a cada um assinalaste. Porém atualmente, poucas pessoas desejam enfrentar-se com seu eu. Alguém disse que nos tempos que vivemos, perdeu-se o segredo da solidão e é certo. O mundo de hoje quer aturdir-se e não escutar a voz de seu coração, de sua consciência. É mais cômodo fazer-se de surdo às insinuações do bem que docemente os admoesta.

E que belo é, Senhor, isolar-se, pensar, em silêncio exterior. Escutar-se, conhecer-se mais... Com efeito, pensar é “comer”, alimentar-se de idéias. Que indizível encanto encerra a solidão para as almas profundas, reflexivas, que sabem captar os valores do espírito! Pensando se aprende a viver, pois são os sentimentos e as emoções equilibradas pela razão e pela vontade, as fazes distintas dos pensamentos que, com as alegrias e as dores, tecem e formam a urdidura da própria existência.

O pensamento é a essência do espírito. Por isso, Senhor, quão formoso é “sonhar acordado”, pensar em solidão, já que a vida produz uma imensa fadiga e a alma exige seu repouso. (...)

Quando o coração dialoga consigo mesmo, quanto bem aprecia o imperfeito em que ele existe e que desejos lhe vem de elevar-se a outros climas de superior espiritualidade. Por esse imenso gozo da alma experimentar encontrar-se a si mesma em solidão: obrigada, meu Jesus, obrigada!”

Recordações Meu Jesus! Quanto é grato viver as recordações! Existem

datas no decurso de nossa existência que jamais se apagaram de nossa mente e coração. Existem as que assinalam acontecimentos adversos e que, ao evocá-los, nos fazem reviver a dor daqueles dias amargos. Pelo contrário, existem outras datas felizes e venturosas que com júbilo rememoramos para colher um pouco “

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o tempo com a mão” e viver de novo, mesmo que com o pensamento, o passado, aqueles dias que já não são, pois a recordação é negação de vida perene. E que fugazes, Senhor, chegam a ser as horas felizes! Passam voando, como a ave pelo firmamento. Recordar...! Que formosa palavra quando a recordação é bela! Porém, que são as recordações? São essas maravilhosas gotas do elixir da vida que, tomadas em doses convenientes, rejuvenescem a alma e nos proporcionam alegrias e gozos naquelas horas cinzas que todos temos, pois, ainda que se refiram a datas passadas, vem a ser um alimento vital nos momentos tristes que as vezes nos invadem.

Ao recordar, com que ilusão, meu Jesus, sentimos em nossos corações os mesmos afetos que então! E quiséramos que a emotividade de outros tempos não ficasse encerrada na arca do esquecimento, já que a recordação une o presente com o passado através de anos e mais anos. Mas, como a memória se debilita, só pelo grau de claridade de uma recordação podemos medir, imperfeitamente, o tempo transcorrido desde aquela data. Também as recordações se imprimem em nossa sensibilidade, segundo a força emocional que as produziu, pois na recordação é essencial a consciência do eu, do sujeito...

Como sente a pessoa humana, Senhor, a nostalgia do passado, do pretérito a que somente já lhe une a alegria da recordação! Ai, que os dias são como os navios. Levam todas as coisas amáveis e belas da vida e se perdem no horizonte distante para não voltar mais... Pelo doce “ofício” de viver recordando, e afim de que com ele te siga amando, uma palavra de gratidão brota de meus lábios: obrigada, meu Jesus, obrigada!”

Triviño, Maria Victoria – Escritoras Clarisas Españolas. Antología.

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Biblioteca de Autores Cristianos – Madrid 1992 Chiara Colomba Ângeli (1819-1893) Ingressou em 1837 no Mosteiro Santa Clara em Assis. Foi

abadessa por trinta e cinco anos consecutivos. Deixou muitos escritos autobiográficos, redigidos por obediência, que testemunham as graças de oração e contemplação que ela viveu, e a grandeza de seu coração.

“Jesus, eu me escondo no vosso sacratíssimo Coração

adorável, e ali quero permanecer sempre fechada e bem enclausurada com dupla chave, uma da caridade ardente e a outra do temor... Ó Coração amabilíssimo de meu Esposo Divino, vede como eu estive até agora fechada e aprisionada pelo respeito humano e por muitos e muitos pecados. Ó! Que vos movam à piedade as minhas misérias! Quebra, meu Jesus, esta minha clausura do corpo, que me impede de voar como pomba ao vosso amantíssimo Coração! Sim, quero que o meu coração não seja mais da terra e das criaturas, ainda que estas sejam boas e santas: porque vós sois ciumento e não quereis divisões nos corações consagrados a vós com o dúplice voto de castidade e de clausura. Meu Jesus, coloca-me hoje exatamente na clausura do vosso doce Coração: ali serei verdadeira prisioneira de amor. Não permitais que eu sais do cárcere de amor... Meus Jesus, sou a vossa pomba: portanto, o meu ninho, a minha morada com todas as minhas filhas espirituais será o vosso Coração ferido; e fazei que dali jamais partamos, que nesta amantíssima clausura vivamos e nela morramos entre as cruzes aqui na terra, para voar ao céu.

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Lainati, Chiara Augusta – Temi Spirituali dagli Scritti del Secondo Ordine Francescano. Santa Maria degli Angeli, Assisi 1970. Venerável Chiara Isabela Fornari (1697-1744) Ana Felice Fornari, nasceu em Roma. Ingressou nas

Clarissas de Todi, vivendo muitas provações espirituais. Exerceu o ofício de mestra de noviças e de abadessa. Deixou numerosíssimos escritos, como relações teológicas ou autobiográficas.

“Ó Senhor! Levai vós todos os meus conhecimentos e

afetos, meus sofrimentos e operações. Fazei que eu saia de mim mesma para firmar-me unicamente em vós, em vós e por vós. Sim, fazei que não tenha amor senão em vós e que eu me sirva de minhas paixões somente por vós. E na virtude de vossa santíssima graça morram em mim todos os temores, esperanças, aflições e desejos naturais, para que vós sejais objeto imutável do meu amor. E assim, em vós concentrada esta alma em tudo e por tudo, ó meu Jesus Crucificado, a manejareis e tratareis ao vosso gosto e glória do eterno Pai na unidade do Santo Espírito por todos os séculos dos séculos.”

“Ó martírio de amor que me traspassa! Ardo de amor, ó Deus, Mas não posso te amar quanto desejo. Cada hora assim me derreto, E enquanto em tal martírio se liqüefaz o coração, Me consuma o tormento, e não o amor. Meu Jesus, se não fazes que te ame tanto,

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Que sinta em todo lugar, Derreter-me a alma como a neve ao fogo, Assim grande dor me assalta, Que arderei de gritar em alta voz Que maior sofrimento é o meu que a tua cruz. Eu sei bem que por mim tanto pensaste, Mas desejava sofrer E morrendo apagaste o teu desejo; Mas também eu quero, e não posso Só por ti liqüefazer-me cada momento, Perdoa-me, meu bem, é mais tormento. Tu, Senhor, fazes que eu te ame, E que sofrer eu deseje Por ti, meu sumo bem, Mil dores, mil penas. Somente o meu deleite Seja sofrer, seja morrer por ti, meu Deus. Que eu te ame, mas te ame tanto Que seja queimada Pelas chamas de amor de minha alma. Desejava uma alma fervorosa Sofrer ou morrer. Uma outra sofrer, mas não morrer, Pedia ao seu Senhor Com ardente coração: E porém, a minha alma Nem sofrer, nem morrer deseja. Indiferente a tudo, Por graça de meu Deus, A sofrer, a morrer estou pronta também eu.

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O sofrer me dá alegria, O morrer não desprezo, E nada me importa Nem sofrer, nem morrer, porque estou morta. Ó meu Divino Amor, Só o vosso querer Me dá todo júbilo e prazer: Se sofro, vos louvo, Se não sofro, gozo. Se morro, e se não morro, Igualmente, Senhor, vos amo e vos adoro!” “Ó doce, querido Menino Jesus, eu creio em ti, vos adoro,

eu vos amo como meu verdadeiro e sumo sacerdote, enquanto com o vosso exemplo ensinaste aos sacerdotes de vossa Igreja a observância de suas obrigações, isto é, de oferecer incessantemente orações e sacrifícios ao Altíssimo para obter o perdão das culpara para as almas, e de ser como a arca da ciência para com a divina Lei, para custodiá-la, para comunicá-la, para explicá-la aos povos no seu tempo oportuno. E porque por meio dos sacerdotes o vosso grande Pai manifesta os oráculos, preceitos e conselhos divinos às criaturas; enfim, tudo aquilo que é necessário e assim, cada sacerdote é um composto de doutrina, verdade e santidade.

Portanto, vos agradeço por tantas fadigas feitas pela salvação eterna desta pobre alma; e pelos méritos de vossa sagrada infância, da Virgem Maria, vossa Mãe e do Patriarca São José, seu esposo, vos suplico concedei-me a graça que sempre mais eu seja capaz de receber todos os efeitos das orações necessárias e eficazes do vosso sumo sacerdócio, que fazeis por

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mim com vontade deliberada junto ao vosso eterno Pai. E já que vós, vivendo na carne mortal, não só orais contemplando a divindade e sabedoria que tendes, como bem-aventurado, ainda que vos adoremos sobre o feno de vosso presépio, mas também orais com ciência infusa e experimental, enquanto em vós se conservam todos os tesouros de Deus; e por isso pedis ao vosso querido Genitor inumeráveis dons e graças para todas as almas com gritos e muitas lágrimas e com incomparável reverência e veneração. Com estes e outros atos inefáveis nos declarais o íntimo afeto do vosso Coração sacerdotal, e cumpris heroicamente todos os outros ofícios dados pelo Pai eterno ao vosso grande sacerdócio. Assim seja abraçada, seguida e amada por todos os vossos súditos aquela divina Lei plena de verdade e caridade, explicada por vós com doutrina admirável e aprovada com obras irrevogáveis pela vossa puríssima santidade. Não sendo vós pontífice de natureza estrangeira que a nossa, antes sois pleno de compaixão e misericórdia, por isso em vós tenho grande confiança e prometo muita obediência às vossas divinas inspirações interiores e também de renovar continuamente o bom uso da união de caridade com os meus próximos, e ter grande prontidão em ressaltar-me no cumprimento de vossa santa Lei, em virtude das vossas ações, como meu querido sumo sacerdote.”

“Ó meu Jesus, por aquele amor com o qual vós, Criança,

estáveis fechado nas vísceras de Maria santíssima, e o espírito e a respiração desta Virgem, vossa Mãe, vos servia de vida, (...) fazei que a minha alma seja menina ao receber-vos no Santíssimo Sacramento, encontrando-se então verdadeiramente fechada nas vossas puríssimas vísceras onde o meu coração se mova segundo

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os comandos do vosso divino beneplácito: porque não quero outro modo para agir senão as vossas moções, nem outra respiração senão o vosso Espírito, já que vós sois o caminho, a verdade e a vida de todos os que querem ser crianças e permanecer fechados no vosso seio, ó meu Jesus sacramentado. Amém”

“Adoro-vos e vos agradeço, ó eterno Pai, que por vosso

amor infinito nos quisestes fazer o dom de vosso próprio Filho. Peço-vos todas aquelas graças necessárias de disposições, conhecimentos, estima e veneração e todos os afetos possíveis de amor para recebê-lo com a maior gratidão e saber imitá-lo e obedecer sempre e em tudo.

Adoro-vos e vos agradeço, ó eterno Verbo, que vos fizestes pleno dom de si mesmo e de todos os vossos méritos aos seres humanos. Peço-vos caridade ardente, sumo desejo de receber-vos com amor e fruto, e para viver sempre em vós e por vós.

Adoro-vos e vos agradeço, ó Espírito Santo, que cooperastes neste santíssimo mistério: peço-vos caridade ardente, humildade profundíssima e todas as disposições para dignamente receber o Filho de Deus. Amém.

Lainati, Chiara Augusta – Temi Spirituali dagli Scritti del Secondo Ordine Francescano. Santa Maria degli Angeli, Assisi 1970. Maria do Menino Jesus(+1908) Foi uma das fundadoras do mosteiro de Clarissas de

Lourdes, França. Escreveu uma autobiografia, que revela uma

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grande simplicidade e fineza de ânimo e muita vivacidade. Ingressou no mosteiro de Lião, e foi mestra de noviças.

“Ó meu Jesus, que todos os meus pensamentos, as minhas

palavras, as minhas ações sejam a vossa maior glória, a minha salvação e a salvação dos meus irmãos. Uno tudo aquilo que farei, que sofrerei, àquilo que fizestes e sofrestes por nós. Revesti-me da caridade, da humildade, do amor e de todas as virtudes que desejais encontrar em minha alma. Ó meu divino Salvador, liga-me a vós com vínculos de um amor indissolúvel e que esses liames se apertem sempre mais! Ó divino Coração de meu Jesus, escondido no Santíssimo Sacramento, abri-me a porta do vosso Coração e não permiti que dali eu saia jamais... Queimai, cortai, quebrai todos os liames que me retém longe de vós. Vós somente sois a minha alegria, a minha felicidade, o meu tudo! Nada quero além de vós. A minha alma tem sede de vós, Senhor: que o vosso amor seja a minha bebida! Que o meu alimente seja compreender a vossa santa vontade! Que incessantemente os meus pensamentos subam para vós! Meu Deus, vos ofereço todas as batidas do meu coração como todos os atos de amor, todos os meus olhares para contemplar-vos, todas as minhas palavras para bendizer-te, todos os meus passos para aproximar-vos de vós e correr atrás do vosso perfume! Que todas as minhas ações sejam a vossa maior glória e para a salvação dos pobres pecadores. Concede-me a graça de caminhar com fidelidade e coragem neste caminho de recolhimento e de oração contínua que me pedis. Que tudo o que fizer aqui seja unicamente para vos dar prazer!”

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Lainati, Chiara Augusta – Temi Spirituali dagli Scritti del Secondo Ordine Francescano. Santa Maria degli Angeli, Assisi 1970. Elisabeta Gianozzi (1887-1925) Nasceu perto de Florença, de uma família de camponeses.

Em 1920 recebeu o hábito das Clarissas em Coverciano, Florença. Conservam-se somente alguns fragmentos de seus escritos.

“Ó meu bom Jesus, o meu amor é todo para vós, o meu

coração é todo para vós, assim como eu inteira. Há toda uma coisa imensa entre vós e eu, como vos me dissestes que me pusestes à parte em vosso Reino, dividistes entre eu e vós os vossos interesses, que sãos os bens e os frutos do Paraíso. Ó meu Jesus, mas deverei recompensar-vos de tanto amor que tendes por mim; sou uma pobre mulher, que não tenho tempo e não sei dizer em todas as coisas “faça-se”. Ó meu bom Jesus, o coração está resolvido de escrever estas pequenas linhas, para levar-me adiante; começo, assim, desperto. Maria, vós sois minha Mãe: tomai este coração e fazei-o como deve ser, por amor de vosso Filho e meu Esposo. Quando me visto, ó Senhor, revesti-me das vossas santas virtudes; ao sair da cela, fazei que esteja sempre diante de vós, como diante do Santíssimo Sacramento. (...) Ó meu Jesus, vos ofereço todos os pensamentos, palavras, obras, todas as palpitações do meu coração, que coloco para vossa glória.”

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Lainati, Chiara Augusta – Temi Spirituali dagli Scritti del Secondo Ordine Francescano. Santa Maria degli Angeli, Assisi 1970. Maria Imelda da Eucaristia (1901-1935) Yvone Bernard nasceu em Malboro, Estados Unidos. A

família residiu no Canadá, onde ingressou num Mosteiro de Clarissas em Valleyfield, tornando-se mais tarde uma das fundadoras de outro mosteiro em Rivière du Loup. Deixou redigidos diversos apontamentos espirituais.

“O louvor, a glória, a sabedoria, a ação de graças, a honra, o

poder e a força sejam para o nosso Deus por todos os séculos. Amém. (Ap 7,12) Ó Deus três vezes Santo, inefável Trindade, Pai eterno, Verbo, Espírito de Amor, humildemente prostrada diante de vossa divina majestade, eu, a mais indigna de vossas servas, imploro a vossa clemência e suplico a vossa infinita bondade de usar para comigo de misericórdia, por amor de meu Jesus. Dignai-vos receber a minha modesta oferta. Eu sei que ela é indigna de vós e eu também sou indigna de oferecê-la. Eis porque suplico à Rainha das Virgens, Maria Imaculada, de apresentá-la ela mesma. O Espírito de Amor me inspira de fazê-la objeto de um voto, Ele que haveis enviado à minha alma de um modo todo especial para santificar-me e conduzir-me com segurança até vós. Faço o seguinte voto: eu vos dou para sempre, ó inefável Trindade, vos dou pelo tempo e pela eternidade toda a glória, todo o louvor, toda a felicidade, todo o prazer, todo o gozo, numa palavra, tudo aquilo que em minha vida inteira poderia desfrutar e buscar pela eternidade. Dou-vos igualmente todos os frutos satisfatórios das boas obras que poderei realizar,

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todas as indulgências que poderei ganhar durante todo o curso de minha vida, todos os méritos que poderei alcançar. Vos abandono também todo o tesouro que atualmente possuo. Numa palavra, vos dou tudo, ó meu Deus, vos abandono tudo sem reservas, com uma vontade livre, seguindo a inspiração de vossa graça, com um coração alegre e reconhecido. Vos dou todos os meus direitos: agora sois o dono absoluto! Disponde segundo o beneplácito de vossa divina Sabedoria... O meu coração transborda de alegria ao pensamento que agora sou pobre, pobre, e que eu comparecerei diante de vós, ó meu soberano Juiz, com as mãos vazias. Vós sois agora a minha única riqueza. Não tenho direito a qualquer recompensa, nada me é devido. A mim a fadiga, o sofrimento. A vós, ó meu Deus, a honra, o louvor, a glória!

Quero, ó inefável Trindade, renovar-vos este voto um número infinito de vezes, a cada batida de meu coração, a cada suspiro e cada vez que eu disser o Glória ao Pai e pronunciarei o vosso nome adorável e as palavras louvor e glória. Dignai-vos receber minha oferta, abençoar-me e dar-me uma graça poderosa, que me conduza sobre os cumes da perfeição, até à consumação da união divina, e me faça morrer de amor, para poder eternamente dar-vos, ó meu Deus, uma maior glória. Amém!”

“Ó Divino Menino, pequeno Ser de graça, de beleza, de bondade, me olhais com o vosso doce olhar suplicante... “Se tu finalmente quisesses...”, pareces dizer-me. Sim, vos compreendo... Ó admirável comércio! Sim, vinde! Permiti-me abraçar-vos, com o mais profundo e reverente amor... apertar-vos ao meu coração, mas vos sentireis mais aquecido em vosso presépio? Eu vos tomo e me dou... Dignai-vos também vós acolher-me como eu vos acolho. Quero dar-me como vós vos dais. Sim, me abandono finalmente. Vos faço a solene promessa.

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Renuncio a mim, deixo a mim mesma, esqueço a minha vontade, a minha personalidade toda inteira, me perco e me entrego sem medida, sem reservas, com alegria, com felicidade, com a mais completa segurança, com toda a confiança, com todo o amor de uma esposa que se abandona ao mais poderoso, ao melhor, ao mais amoroso, ao mais fiel dos esposos. (...) Ó Menino divino, que viestes trazer sobre esta terra a paz às almas de boa vontade, dá-me em profusão, e que sempre a minha alma se abandone deliciosamente a vós.”

Lainati, Chiara Augusta – Temi Spirituali dagli Scritti del Secondo Ordine Francescano. Santa Maria degli Angeli, Assisi 1970. Bem-aventurada Maria Crucificada Satélico (1706-1745) Nasceu em Veneza e recebeu o nome de Elisabetta Maria.

Viveu no Mosteiro de Clarissas de Ostra Vétera, Ancona, agora extinto. Exerceu o ofício de mestra de canto e música. Escreveu, por ordem de seu confessor, uma autobiografia e também deixou muitas cartas. Foi beatificada pelo Papa João Paulo II em 1995.

“Meu Jesus, quero absolutamente ser toda vossa. Vós

unicamente quero no meu coração. Eu me desaproprio de tudo, e somente quero a vós. Não quero satisfações próprias, nem consolações espirituais. Enfim, só vós. Senhor, tende paciência, que eu sempre vos quero amar, e amar verdadeiramente. Mas ajuda-me, porque sabeis que não posso nada. Compadecei-vos de meus defeitos, porque vos digo de verdade,, que não são voluntários. Numa grande família sempre há algum filho doente e débil. Imaginai que eu sou destes; por isso tenho mais motivos

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de esperar em vós, que me tereis mais atenção, que não tendes com os outros, como um pai tem para com o seu filho doente. Vós sois o meu Pai, vós o meu irmão, vós o meu querido Deus: por isso, tende paciência, que a vós quero sempre recorrer com toda a confiança em todas as minhas necessidades também temporais. Eu me ofereço a toda a vossa divina disposição. Não tenhais receio. Realizai em mim tudo o que quereis. Fazei de conta que tendes na mão um cera mole. Imprimi tudo o que quereis em minha alma. Não tenhais receio de minha delicadeza. Tratai-me como quereis.”

Lainati, Chiara Augusta – Temi Spirituali dagli Scritti del Secondo Ordine Francescano. Santa Maria degli Angeli, Assisi 1970. Catarina de Bolonha (1413-1463) Catarina Vigri, nascida em Ferrara, ali ingressou no

mosteiro de Terciárias Agostinianas, que depois se transformou em Mosteiro de Clarissas. Foi fundadora do mosteiro de Bolonha e exerceu enorme influência espiritual na sua época. Foi escritora, poetisa, pintora e compositora.

“Meu Senhor Jesus, dá-me a graça de que eu te ame

ardentemente. Meu Senhor Jesus faze-me sentir com quanto imenso amor Tu me amaste e me amas. E eu queria te amar, mas sem ti não posso. Meu amor, Jesus, faze-me morrer de amor. Meu Deus, dá me a graça que eu tenha por ti um amor reverente, humilde, temeroso, obediente, servindo-te, agradecendo-te; e contínuo sentimento dos benefícios que me fizeste. Amor, Cristo Jesus Crucificado, com os estímulos do teu amor, crucifica-me

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inteira contigo. Amor jubilosíssimo e gloriosíssimo, quando poderei de ti me inebriar? Quando poderei face a face ver-te, quando poderei docemente abraçar-te e familiarmente beijar-te? Quando estarei contigo, e em coisa nenhuma te ofenda e de ti jamais me separe? Quanto tempo tenho para estar longe da tua face, permanecer sem ti no exílio, dor contínua e morte eterna? Enquanto estou nesta vida saúdo-te, doce Jesus, e me recomendo a ti. Amém!”

“Ó doce Maria, com quanto desejo, olhavas o teu Filho, Cristo, homem e Deus? Quando tu o deste à luz sem sofrimento A primeira coisa, creio, que fizeste, Tu o adoraste, ó de graça plena, Pois sobre o feno no presépio o puseste, Com poucos e pobres panos o cobriste Maravilhando-te e gozando, creio eu. Ó, quanto gáudio tinhas e quanto bem Quando o mantinhas nos teus braços. Dize-me, Maria que talvez convém Que um pouco por piedade me satisfaça: Beijavas tu então em sua face Bendizendo-o e dizias: Filhinho meu? Quando Filhinho, ou Pai e Senhor, Quando Deus, quando Jesus chamavas, Ó quão doce amor sentias no coração Quando no regaço o tinhas e o amamentavas. Quantos doces atos de amor suave, Viste, estando com teu Filhinho pio. Quando um pouco de dia ele dormia,

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E tu, despertar querendo o paraíso Baixinho andavas e ele nem sentia, Pois a tua boca punhas no santo rosto E dizias com um materno riso; Não durmas mais, não durmas mais.” Rainha Piedosa “Rainha piedosa, plena de humildade, Estrela matutina, que aparece na aurora Por tua bondade, Virgem bem-aventurada Nossa advogada, diante de Deus sempre! Ajuda-me, Senhora, no meu sofrimento Pois que és Mãe do Senhor e Messias. Não tardes, Virgem bela e pia, Tira-me deste afã e leva-me contigo. Ó Mãe de Cristo, Virgem leal, Dá-me as asas de tua santa ajuda, Para que não perca o fruto de tão duras dores. Ó ajuda-me, Mãe do meu Senhor, Por aquela altitude que te doou o seu amor Fazendo-te advogada dos pecadores. Ó Mulher cortês e plena de caridade, Em versos se expande a tua grande piedade E não me escondas a tua bondade. Agora vês, Mãe do Filho de Deus, Quanto me faz sofrer o inimigo Para tirar-me das mãos de teu doce Filho. Socorre-me, Rainha, e não me abandones Que é chegada a hora de abandonar o mundo E que o inimigo não me possa devorar.

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Ó Esposa gentil do eterno Pai Dele tu nos vieste só para nos salvar. Agora me aconselhas e não retardes. Alteza imperial, se a ti fui oferecida Para salvação de toda a minha vida, Peço, por mim reza, ó doce advogada. Amém. Lainati, Chiara Augusta – Temi Spirituali dagli Scritti del Secondo Ordine Francescano. Santa Maria degli Angeli, Assisi 1970. Maria Emanuela de Jesus (1885-1965) Nasceu em Cremona,recebendo o nome de Luigia.

Ingressou no mosteiro de Clarissas de Bergamo, onde foi mestra de noviças por dez anos.

“Meu Deus, não sou digna do título augusto de esposa do Coração de Jesus... Ó Deus de amor, dá-me a graça de tornar a amar-vos. Dá ao meu coração uma única paixão, a paixão de um amor imenso por vós, a sede de sofrer, de sofrer sempre, porque viver sem sofrer é viver sem amar, e viver sem amar é morrer... A alma mais se une a Deus sofrendo que operando; o sofrer é a nascente e o alimento do amor; quando se ama se quer imitar, e não se pode imitar Jesus senão sofrendo com Ele. A cruz dos padecimentos é um verdadeiro estigma de amor...”

Lainati, Chiara Augusta – Temi Spirituali dagli Scritti del Secondo Ordine Francescano. Santa Maria degli Angeli, Assisi 1970.

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Bem-aventurada Camila Varani (1485-1524) Nasceu em Camerino, filha do príncipe da cidade. Em 1481,

vestiu o hábito de Clarissa no Mosteiro Santa Clara de Urbino. Fundou o mosteiro de Camerino e de Fermo. Foi uma grande mística e escritora, deixando numerosas obras, famosas na literatura mística, precursora da devoção ao Coração de Jesus. O Papa João Paulo já aprovou o decreto de sua canonização.

“Ó doce Jesus, que duras palavras querer que eu tome a

cruz! Então tu queres colocar-me na cruz, Bondade inefável? Não sabes quanto eu sou débil para sofrer? Mas, pobre de mim... Se tu que és candor da eterna luz, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, tão delicado, foste posto na cruz, eu que sou terra e cinza, estarei livre desta cruz? Tu que não cometeste pecado foste crucificado por mim e eu te recusarei ser crucificada por ti? Dá-me, Senhor, esta grandeza de alma e gratidão; que eu deseje de todo o coração sofrer por ti, ser crucificada por ti, pois que coisa nenhuma dá mais suavidade à tua divindade quanto este lírio de tal desejo. Mas ninguém duvide que junto desta grande pureza vem depois essa crucificação; porém, que a alma ornada desta pureza continuamente se acende no amor desta crucificação. Nem mais fala ao seu Esposo que não lhe venha o desejo de ser ligada e fazer por ele quanto sabe que Ele fez por ela.”

Lainati, Chiara Augusta – Temi Spirituali dagli Scritti del Secondo Ordine Francescano. Santa Maria degli Angeli, Assisi 1970 Santa Eustóquia de Messina (1434-1485)

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Esmeralda Calafato, filha de família nobre de Messina, ingressou no mosteiro de Clarissas perto de sua cidade e foi fundadora do Mosteiro de Messina. Escreveu o “Livro da Paixão”. Foi uma grande mística e reformadora da Ordem das Clarissas.

“Ó meu dulcíssimo amor, Jesus Cristo, todo o meu bem e

toda a minha esperança, todo o meu conforto, toda a minha paz! Louvo e agradeço-te, meu único Senhor, por tantos benefícios que me fizeste, minha esperança, que me criaste e agora me governas sobre a terra. Ó meu amor, eu que mereço ser lançada, por meus pecados e ingratidão, no profundo do inferno, não posso, nem conheço, nem poderia enumerar os grandes benefícios que me fizeste, sem o meu merecimento, especialmente o benefício da vocação, porque me chamaste no caminho da perfeição: eu merecia perdição e tu me deste o perdão; eu merecia ser despedida e tu me aproximaste... ó meu dulcíssimo Senhor, desejaria morrer por teu santo amor, assim como tu morreste por mim. Eu vim a ti; dá-me a graça de que eu te siga como fizeram os teus servos pelo caminho das cruzes e tribulações, e que sustente penas e angústias com alegria. Dá-te a conhecer, que eu te ame sobre todas as coisas com todo o coração, não para minha utilidade e não para meu mérito, mas como meu redentor. (...)

Senhor, as chagas que tu tiveste no teu santíssimo corpo, que eu as tenha no coração; com a lança que perfurou o teu santíssimo lado, com aquela seja perfurado o meu coração; os pregos com os quais foram pregados mãos e pés, eu os tenha pregados ao coração. Senhor, tu tiveste coroa de espinhos e eu tenha compungido o coração; tu, com fel e vinagre foste

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dessedentado de amarga dor e eu o seja de angústias e de dores, e por nenhuma consolação possa jamais me alegrar; tu foste pleno de grandíssimas amarguras e vergonhas e eu esteja todo o tempo da minha vida em grande dor e amargura. Não consintas que eu vá por outro caminho, que aquele por onde tu andaste. Meu Senhor, tu que és vaso de divindade, te fizeste vaso de amarguras e de vergonha. Ó, que devo ser eu, mísera pecadora, plena de toda imundície e abominação? Não permitas que eu não morra senão por teu amor.

Ó meu amor, realiza este desejo, porque a tua benignidade atende aquelas pessoas que te pedem. E a mim, porque não ouves? Porque não mereço? Ó Senhor piedoso e liberal doador, concede-me estas graças pelo mérito de tu amarga paixão! Não te peço ouro, nem prata, mas te peço chagas, porque para mim é grande vergonha ver-te, Senhor, chagado e que eu não esteja chagada contigo. Meu amor, leva-me desta vida ou dá-me chagas, que por nada posso viver assim; porque tu foste morto por mim com tantas penas, não posso eu viver sem ti. Ó doce amor, atende-me, tu que és o meu Senhor único e meu amor. Tu és o meu desejo, meu conforto, meu gáudio, meu refúgio, minha aspiração, e tu somente és a minha esperança e todo o meu bem. Ó meu dulcíssimo Senhor, obra de tuas mãos e tua criatura eu sou; o afã dos teus suores, o preço inapreciável de teu sangue. Com esta fé te peço, não me podes faltar, porque és Deus eterno, que com o Pai e o Espírito Santo vives, e reges, a terra e abismo, pelos séculos sem fim. Amém.

Lainati, Chiara Augusta – Temi Spirituali dagli Scritti del Secondo Ordine Francescano. Santa Maria degli Angeli, Assisi 1970.

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Maria Teresa Marani (1907-1943) Nasceu em Matélica e entrou em um mosteiro de Clarissas

de sua cidade natal, onde fez sua profissão em 1928. Redigiu um diário de 1929 a 1940.

“Meu Jesus! Meu único amor, te agradeço pelos sofrimentos

que me mandas e por aqueles que me enviarás. Quero sofrer tudo o que sofro e tudo o que deverei sofre por teu puro amor. Se tu quiseres que eu permaneça neste estado por toda a eternidade, eu também quero. Toma tudo: prazeres, roupa, afeições, saúde, honra; tudo, tudo; porque me deixas o coração para amar-te sempre mais. Faze que me torne semelhante a ti na dor. Dá-me tantas almas e toma o resto... (...) Ó Senhor! Tenho mil e mil motivos de amor e sofrer, mas aquele que mais me atrai, é que se torna muito agradável a ti e a ti me assemelha. Amo sofrer, porque quando sofro me sinto segura, em meu lugar; quando não tenho sofrimento, tivesse eu tudo no mundo, tudo me causa náusea, sentindo-me um separada, porque não tenho motivo de estar sobre a cruz com Jesus. Eu quero dar ao meu dileto amor por amor! Coração por coração! Cruz por cruz!

O sofrer por ti me inebria e me dá um ardor imenso! Somente abrir os lábios, me reacende a sede de sofrer, não com mérito, com alegria e escondida. Quanto sou feliz, meu Senhor! O sofrimento tem para mim os atrativos do ímã e possui a doçura do leite e do mel! Sim, eu te exprimo o meu desejo de sofrer, Senhor: eu tenho sede, e porque tenho sede de amor, tenho sede de dor: é loucura, com efeito, procurar o amor sem a dor.”

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“Lava-me, ó Jesus, envolve-me, ó Jesus, dessedenta-me, ó Jesus, inebria-me, ó Jesus, com o teu preciosíssimo sangue, a fim de que, morta a mim mesma, não precise viver senão das virtudes de teu preciosíssimo sangue e porassa ser a alegria do teu divino Coração... Ó Coração adorado de Jesus...! Este mísero ser, num acesso do teu amor escolheste para ti, e que agora demora em corresponder e tu, com tanta bondade suportaste, com tanta longanimidade e misericórdia, faze que vencido pelo excesso de teu amor se dê a ti sem retorno... Aperta-me com o mais forte liame, atrai-me a ti com a tua força divina, Dou-me inteira ao teu Coração adorado; e toma completa posse desta tua criatura mísera, que quer perder-se completamente em ti.”

Lainati, Chiara Augusta – Temi Spirituali dagli Scritti del Secondo Ordine Francescano. Santa Maria degli Angeli, Assisi 1970. Maria da Trindade (1901-1942) Louise Jacques nasceu em Pretória, na África do Sul, filha

de pais protestantes. Órfã de mãe, o pai, pastor protestante suíço, levou-a com outros irmãos para sua terra natal. Professora em Milão, se faz instruir na doutrina católica e, em 1928, recebe o batismo, a crisma e a eucaristia. Ingressa no mosteiro de Clarissas na cidade de Jerusalém, Israel, onde depois de quatro anos, morre de tuberculose. Deixou escrito , por obediência a sua mestra de noviças, uma coleção de textos com o título “Colóquio Interior”.

“O caminho que conduz ao meu Coração, alguns o chama

de amor, outros de sofrimento. O amor sem sofrimento não

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conduz ao meu Coração. Amor e sofrimento são inseparáveis, inseparáveis no seu crescer, inseparáveis nas suas exigências, unidos indissoluvelmente; mas há um fruto que eles produzem infalivelmente e que os seres humanos esquecem seguidamente de nomear quando falam do caminho que conduz a mim. É a alegria. Conserva em teu coração este tríplice nome do caminho que conduz ao meu coração: amor, sofrimento, alegria. (...) Tu não tens grandes sofrimentos para oferecer-me, mas as pequenas cosias cotidianas; se as recolhes todas, são como orvalho que formam um grande rio. Eu os conheço todos. Nenhuma oferta é perdida. (...) O amor e o sofrimento são inseparáveis. Aqueles que amo com predileção, honro com provas.”

Lainati, Chiara Augusta – Temi Spirituali dagli Scritti del Secondo Ordine Francescano. Santa Maria degli Angeli, Assisi 1970. Chiara Camila Celina do Divino Amor (1902-1926) Ambrosina de Marchi nasceu em Milão. Com vinte anos

entrou no mosteiro de Clarissas de Assis. Morreu aos vinte e quatro anos de tuberculose, tendo emitido a sua Profissão Solene pouco antes. Deixou diversos escritos íntimos e cartas.

“Tu és luz, tu és amor, ó Jesus! Então quando descerem

sobre nós as nuvens tenebrosas, ou se esfriar o sentimento de palpitação de nossa vida, então exatamente com a esperança e a certeza da vitória cantaremos aos céus e à terra a alegria de mais intimo martírio por amor, no amor, do amor. Assim combaterás por nós, por mim; eu cantarei mais forte o nosso ‘Jesus dileto, nossa vida!’ e tu, meu diletíssimo, manterás a tua criatura na

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intimidade do teu Coração, por sua infantil dedicação e confiante abandono ao teu doce, divino, ainda que doloroso amor. Coração de Jesus, venha o teu Reino! É a minha aspiração de todo dia, de todo momento. Eu me esqueço, para que tu reines com o teu amor na intimidade de cada alma que deve ser absolutamente tua. Quero a santidade e para esquecer-me, penso que tu abraças a criatura débil, doente... Sou eu, Jesus, esta criatura inerme, que não tem senão uma força, aquela de comprazer-se e experimentar em si mesma a sua impotência para todo o bem. Então tu te abaixas para mim, me apertas ao coração. Eu compreendo tudo, tudo e me abandono dócil à tua graça para tornar-me santa. Quero ser apóstola. Viverei a vida de uma hóstia, como tu na Santíssima Eucaristia. Jesus, para consolar-te farei minha todas as tuas penas, todo sacrifício, toda dor; para viver a tua vida, quero morrer em tudo o meu ser crucificado; para possuir-te, quero ser por ti e para sempre possuída. Toma esta minha vontade, para que torne-se tua, e no martírio escondido do coração, que eu te ofereço, bem-aventurada, se imole todo o meu ser no teu grandioso sacrifício. Ó Coração de meu Jesus, ó fornalha ardente da mais ardente caridade, te peço de dar-me um raio de tua chama divina! Por ti, por ti, meu Rei de amor, eu quero somente palpitar e suspirar e consumar-me, num inebriante martírio de amor, numa apaixonada agonia de amor. Por ti, por ti, somente por ti, que és o amor...”

“Meu Jesus adorado, tu disseste: ‘Não há amor maior do que

este: dar a vida pelo próprio amigo’. Jesus, tu deste a vida por mim, por mim, tua pobre, pequena amiga. Eu dou por ti, amigo único, amante divino, a minha vida, toda a minha vida!... Estarei sempre próxima de ti, te verei sempre, te sentirei na palpitação de

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toda erva, meditarei o teu amor imenso contemplando a amplidão do céu, perguntarei o teu nome aos muros de minha clausura; pedirei a tua luz e a doçura do teu sorriso em cada manifestação da natureza que tem sempre fascínio para as almas simples, de ti somente enamoradas. E te amarei intensamente, ternissimamente e fortemente nas almas irmãs, porque é propriamente meu tudo o que é teu, e a esposa deve ter todas as inclinações do Esposo. To o disseste: ‘Amai-vos como eu vos amei”! Aumenta, portanto, este amor e seja grande, infinito como aquele que tu tens por cada uma de nós, tão espiritual, tão sobrenatural, que é propriamente o amar-te nas almas!”

Lainati, Chiara Augusta – Temi Spirituali dagli Scritti del Secondo Ordine Francescano. Santa Maria degli Angeli, Assisi 1970 Maria Consolata Betrone (1903-1946) Pierina Betrone nasceu em Saluzzo. Ingressou no mosteiro

de Clarissa Capuchinhas de Borgo Po, de onde saiu para uma fundação em Moriondo. Por obediência ao diretor espiritual, redigiu uma breve autobiografia, relações espirituais mensais e um diário.

“Ó Jesus, também eu cantarei, cantarei sempre: na hora da luta como na hora do amor; na hora da alegria, como naquela da dor e assim, exatamente assim, se consumará a minha vida, amando-te e sacrificando-me. E o meu canto de amor, os meus tênues sacrifícios, através do teu coração, conquistarão valor infinito; e tu, na tua condescendência inefável, te dignarás fazer-me descer sobre três Igrejas: qual chuva de amor, de refrigério e de misericórdia imensa, assim como fizeste por mim. Ó, sim,

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sinto que serei uma apóstola de teu Coração, da tua misericórdia, sempre, até o termo dos séculos! Tu me disseste, ó Jesus!... Jesus, eu creio, creio e confio em ti!... Jesus, te amo!”

Lainati, Chiara Augusta – Temi Spirituali dagli Scritti del Secondo Ordine Francescano. Santa Maria degli Angeli, Assisi 1970 Maria Pia Rinaldi (1887-1936) Nasceu em Pisa e recebeu o nome de Dorina. Ingressou no

mosteiro de Clarissas de Fucecchio. Redigiu de forma bastante contínua um diário.

“Meu Jesus, tesouro meu, vim para adorar-te, para satisfazer

as tuas impaciências de amor, para apagar todos os teus desejos, os teus pedidos, as tuas intenções divinas. Vim para pedir-te aquelas graças que concederás àqueles que querem dispor-se a recebê-las, aqueles tesouros com os quais quiseste enriquecer as almas, e não te são pedidos ou são ingratamente rejeitados. Tenho fome de ti, ó Jesus; tenho sede de ti. Toma o meu coração, dá-me o teu, ou melhor, funde-os, estes dois corações, que não podem estar mais divididos, nem por um instante: faze-os um só, e que tenham o mesmo soar de amor.

“Jesus Hóstia, amor de minha alma, te abraço, te aperto com

ternura ao meu coração. E o que desejarei eu, agora, sobre a terra? Dá-me a possibilidade de voar, onde possa transcorrer lá em cima estes momentos de céu! Anjos, Santos todos do paraíso, amai, louvai, bendizei por mim o meu dileto. E vós, justos da terra, vinde em meu socorro, a fim de que nada falte à vinda do

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Esposo. Maria Santíssima, minha cara Mãe, faze-me asa com o vosso precioso manto, impede-me às distrações e ao demônio de interromper estes momentos bem-aventurados, para que eu possa sempre melhor aprender a voz do divino Mestre, que agora fala. Abençoa-me junto a Jesus, agora e sempre.”

Lainati, Chiara Augusta – Temi Spirituali dagli Scritti del Secondo Ordine Francescano. Santa Maria degli Angeli, Assisi 1970 Venerável Francisca Farnese (15931651) Nasceu em Parma e ingressou num mosteiro de Clarissas

Urbanistas em Roma. Dali partiu para uma reforma que se iniciou em Farnese e se estendeu às fundações de Albano, Palestrina e outro de Roma. Deixou vários escritos que defendem os valores essenciais da vida claustral e seu amor pela oração.

“ Minha cara Senhora, dona de meu coração, de minha vida,

beatíssima Virgem Maria, a ti, minha doce Senhora, dei o meu coração e pretendo que esta doação seja irrevogável, e com tal coração toda me alegro das tuas grandezas e de tuas graças, que o Senhor Deus largamente te deu. E queria ter infinitas vidas, infinitas almas, infinitos afetos, cada um grande e poderoso como és tu, para explicá-los todos em gozo, alegrar-me e congratular-me contigo, digníssima Senhora do Altíssimo Deus, minha cara Senhora. Nem isto seria bastante para o meu desejo, amor, gosto e contentamento, por aquilo que queria ter e poder, sendo tal e tanta a tua dignidade, Virgem e Rainha beatíssima, que não se pode encontrar palavras bastantes para exprimir. Se céu és

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chamada; és a admiração do céu, mais alta, mais ampla e mais sublime. Se sol és chamada: és mais que o sol, única e sem par, que com a tua clara e esplendíssima luz iluminas todo o mundo e o céu ainda. Se lua és chamada: esta é a mãe dos humores, assim tu és mãe das graças em maior abundância, e da fonte das graças ainda. Se estrela és chamada: melhor que todas guias as pessoas ao felicíssimo porto da salvação. Se aurora é chamada: tu avanças, porque precedeste o sol da justiça, e por meio de ti terminou a noite da culpa e teve início o feliz dia da graça. Se fonte és chamada: tu és mais límpida e cristalina, nem jamais cessas de jorrar as graças. Se rio és chamada: mais copiosamente vais enchendo os vales dos humildes e necessitados. Se aqueduto te chamas: trouxeste do céu a água viva do Verbo divino. Se templo és chamada: és muito digna, porque no teu seio beatíssimo retiveste o Santo dos Santos, aquela Sabedoria incriada, que não cabe na grandeza do céu. Se nave és chamada: és ornada de todos os enfeites porque trouxeste ao mundo o Pão dos anjos. Se Mãe dos viventes és chamada, se diz pouco: sendo tu a Mãe do Criador de todos. Em suma, não encontro hieróglifo que exprima a tua grandeza e a tua dignidade. Me alegro e congratulo contigo, que és Virgem e Mãe de Deus, título que absorve em si tudo quanto de bom, de belo, de perfeito, de sublime, de singular, de divino possa jamais compreender uma criatura.”