22
o REVISTA

Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

  • Upload
    others

  • View
    0

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

...

O)

O) ...

o o, a: <(

:::ii:

REVISTA

Page 2: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

EDITORIAL •

ÉTICA

Boa parte deste número da Revista é preenchida com temas relacionados com Ética e Deonto­logia. Na rubrica de opinião, um oportuno texto do Professor Barahona Fernandes e nas páginas do dossier o resumo de algumas das comunicações apresentadas no III Congresso Internacional de Ética, uma iniciativa da Ordem dos Médicos de França. ·Além disso, são publicados também dois documen­tos enviados pelo Conselho Nacional de Ética e Deontologia. Quis o acaso que a recepção destes textos, de proveniência diversa e da autoria de especialistas de diferentes áreas, ocorresse num momento em que esses temas ganham renovada actualidade.

De facto, a Classe Médica tem estado, nos últimos anos, em foco com temas que, de uma forma ou outra, acabam por cair nas malhas da Ética e da Deontologia. Inseminação artificial, trans­plante de órgãos e eutanásia são apenas alguns exemplos.

E como se não bastassem as dificuldades e as dúvidas que os novos conhecimentos e o desenvolvimento das novas tecnologias médicas nos colocam quase diariamente nos planos ético e deontológico, a Classe Médica é também confrontada com a crescente «agressividade» da indústria farmacêutica.

O problema não é novo, mas ciente de que ele ganhava novos contornos em Portugal e preo­cupado com a situação, o Conselho Nacional de Ética e Deontologia tornou público em comunicado, publicado na Revista da Ordem dos Médicos, a sua posição relativamente a determinadas campanhas que tinham como alvo a Classe Médica. Isto bastante antes da Comunicação Social ter relatado com razoável pormenor alguns casos.

Sempre em busca de matéria para criticar a Profissão e com reconhecida aptência para atrib,uir ao todo acções de uma parcela mínima, muitos procuraram rapidamente retirar proveitos e ensaiar campanhas a partir desses casos.

Sem ilibar os colegas que embarcaram em propostas nada dignificantes, a Ordem dos Médicos não pode também deixar de lamentar que os responsáveis por determinados Laboratórios tenham optado por fórmulas que, embora impróprias para quem as aceita, também não dignificam quem a promove.

São casos para esquecer e que não deverão repetir-se.

ORDEM DOS MÉDICOS - 3

Page 3: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

REVISTA

Director

Manuel E. Machado Macedo

Redactores

Bernardo Teixeira Coelho

José Carlos Couto Soares Pacheco

Rui-de Melo Pato

Manuel António Leitão da Silva

Fernando Costa e Sousa

José Germano Rego de Sousa

MARÇO 1991

Depósito Legal n.' 7421/85

Propriedade, Admlnlstraçio e Redacçio:

Ordem dos Médicos Avenida Almirante Reis, 242, 2. º Esq.

Telef. 80 54 12 - 1000 LISBOA

Preço avulso: 200$00

PUBLICAÇÃO MENSAL

27 500 exemplares

Execução gràflca:

Sogapal, Lda. Casal da Fonte/ Porto de Paiã

Telefs. 4790142/49 - 2675 ODIVELAS

4 - ORDEM DOS MÉDICOS

SUMÁRIO

OPINIÃO .::._ «ÉTICA E VALORES HUMANOS», um artigo do Prof. Barahona Fernandes. Em foco, as questões éticas e deontológicas que se colocam aos médicos.

(pág. 6)

· ACTUALIDADE - Dois documentos apreciadospelo Conselho Nacional de Ética e Deontologia Médi­cas, remetidos pela Comissão de Ética do Hospital deS. João.

(pág. 10)

DOSSIER - Resumo de algumas das comunicações apresentadas dos especialistas de diferentes áreas no «3.° Congres D'Ethique Medicale», uma iniciativa da Ordem dos Médicos de França e que decorr�u em Paris, nos dias 9 e 10 de Março.

(pág. 23)

Page 4: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

OPIN/ÂO

,

ETICA E

VALORES HUMANOS

• PROF. BARAHONA FERNANDES

O bom senso, a «Arte do Clínico» e a formação «moral» dos médicos -tradicionalmente formulada no clássico juramento de Hipócrates - respeitou desde sempre determinados limites para as nossas intervenções profissionais -frente aos valores do «humano», aos autênticos interesses dos nossos doentes - ante o viver, o sofrer e o morrer.

Dito mais brevemente:

- Ao cuidar do sofrimento do Ho­mem, temos que consciencializar cla­ramente que nem tudo que é possíveldeve ser feito.

Tem-se multiplicado recentementeos esforços para superar os excessosdo tecnicismo científico, humani­zando a pragmática da clínica. Em1969 defendemos essas tendênciascomo «Medicina Humana» comple­tando os dados objectiváveis com asvivências pessoais do «dolente» ( o so­frer causado pela «doença» e os con­flitos que implica) e referindo todo oacontecer à personalidade na situaçãode «estar enfermo» em relação com omédico e o conjunto do ambiente,tanto ecológico como sócio-histórico­cultural.

Além desta Humanização da medi­cina, levanta-se cada vez mais o pro­blema da valoração da qualidade éticados actos médicos. Ou seja a reflexãoda validade, legitimidade e justezadas decisões clínicas e da investigaçãodeterminadas pelos extraordináriosprogressos das ciências médicas.

Já não basta a formalização legal edeontológica das regras, preceitos einterdições do nosso proceder. Care­cemos de nos sensibilizar a uma refle­xão mais aprofundada e sócio-histó­rico culturalmente fundamentada dos«problemas de consciência» levanta­dos em cada caso clínico. Daí o inte­resse e a necessidade da Ética: a filso­fia dos valores:

1) Até cerca de meados do nossoséculo, a deontologia médica «a mo­ral da profissão» aprendia-se atravésdos exemplos de condutas tidas por dignas, justas e virtuosas dos nossosmaiores Mestres das Ciências Médi­cas, da sua «Arte» e de outros médi­cos ou de autores famosos que cadaqual mais ou menos reflectidamentetomava como paradigma.

6 - ORDEM DOS MÉDICOS

A partir dos anos 50, nomeada­mente com a iniciativa do ensino daPsicologia Médica ( como propedêu­tica «antropológica» da medicina clí­nica) começou.também, na Faculdadede Medicina de Lisboa, Miller Guerraa reger o Curso de Deontologia ( eainda da História da Medicina).

Já não basta a formalização legal e deontológica das regras, preceitos e interdições do nosso proceder. Carecemos de nos sensibilizar a uma reflexão mais aprofundada e sócio-histórico culturalmente fundamentada dos «problemas de consciência» levantados em cada caso clinico. Daí o interesse e a necessidade da Ética: a filosofia dos valores.

Eram disciplinas «humanísticas»que vinham completar a apredizagemdas ciências naturalistas, na épocaainda com forte raiz positivista, liga­das aos «factos», aos «dados» de ob­servação e não considerando «cientí­fica» a análise das vivências e aprecia­ções espirituais.

Os extraordinários progressos re­centes das Ciências Médicas em todosos campos (até na psiquiatria bioló­gica explicativa, fundo em que as­senta a psicopatologia compreensiva)levantaram problemas humanos etica­mente cada vez mais difíceis. Pense­se apenas na cirúrgia das implant ções de órgãos, reanimação, nas diáh ses, as fecundações in vitro, planea­mento familiar e aborto preventivo eas terapêuticas incisivas (com efeitoscolaterais, tantas vezes perturbado­ras) pelos antibióticos, psicofárma­cos, anti-imunitários, etc.

Muitos pensarão que bastaria ape­nas o mellhor descernimento e legí­tima aplicação a cada caso em si, dasnormas e das regras, das obrigações epreceitos deontológicos formais.

2) As dúvidas e controvérsias so­bre a validade ética destes e outroscasos em que há que tomar decisões graves (operar, reanimar, ou não ! )obrigam e esta palavra, já por si, im­plica um dever ético!) a reflectir sobreo problema. São situações (por ex. um coma prolongado, um estado«apático» com vigilidade elementar eactividades exclusivamente vitais e re­flexas, em que é difícil encontrar «melhor solução». Jaspers chamo lhes «situações limites», em que se de­bate o viver ou morrer, a angústia dosofrimento e dos riscos das decisõesinabaláveis.

São situações irrevogáveis, «extre­mas», em que por exemplo se levantaa hipótese da «eutanásia» - do «bemmorrer». Deve o médico abster-se (ou não) de incrementar e prolongar asterapias intensivas, havendo com altaprobabilidade um prognóstico total­mente fechado, ou sofrimentos intole­ráveis e insanáveis. Será permitido aoclínico não ficar apenas «passivo» eagir no sentido de apressar o fim deum vegetar sem significação huma­na?*

3) Nestas situações não basta o sa­ber científico. O que importa é a «sa­bedoria» do clínico, que tem de deci­dir (ou não) intervir sobre o Homemdoente. Algo de análogo, embora me­nos dramático, se dá todos os dias, ao

tivazes ble

xõ'dis mo sab cisã«va

T,o s

que vel. ser

emzar ao de»

4 xõequepec

des mé· pod justisões pelacen sões tens·

Page 5: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

diagnosticar, receitar, operar ou pla­near um tratamento, medidas preven­tivas, promover a Saúde - tantas ve­zes em circunstâncias difíceis e pro­blemáticas.

É então que são necessárias refle­xões que são o objecto, das chamadas disciplinas éticas, ou seja da filosofia moral ou (axiologia) - o conjunto de saberes e de juízos da apreciação, de­cisão e aplicação das «normas» e dos «valores».

Trata-se pois, não daquilo que é -o ser - mas daquilo que «deve ser»que é justo, legítimo, valioso, desejá­vel. .. dito numa palavra: para deverser considerado um «bem».

Na clínica há pois que atender não só aos «saberes» mas também aos «deveres». São os «valores» essencial­mente humanos, que constituem o

er moral» e outras facetas do que amamos a Pessoa cultural ( o «ser

espiritual pessoal» ligado ao espírito objectivo) formado e aceite em cada grupo e sociedade e internalizado e elaborado por cada indivíduo, como o seu peculiar modo de (ser espiritualpessoal). Não basta o intelecto (os·processos cognitivos, o saber). Entraem acção o valorar o apreciar e ajui­zar que dizem respeito à finalidade,ao sentido, à legitimidade, à «virtu­de» dos nossos actos.

4) Na prática quotidiana as refle­xões éticas respondem à pergunta: «o que devemos fazer nas circunstâncias peculiares à profissão médica? To­mada no seu melhor significado hu­mano - o Homem médico está em re­lação, não só empática, mas também activa e interveniente, face ao Ho­mem doente. Estão em jogo processos cognitivos (o diagnóstico, etc.) mas

mbém afectivos e decisórios. Além Logos, o Pathos ...

Nessa situação de intrarelação dão­se múltiplas interacções recíprocas entre as personalidades e com o am­biente sócio-histórico-cultural (e tam­bém bio-físico, ecológico, agora alta­mente tecnificado ).

Os cuidados médicos, além de de­verem ter uma base científica e uma técnica adequada, devem também ser eticamente válidos, quer dizer «cer­tos», justos, legítimos. Dito singela­mente visando o «bem» e só o bem dos nossos doentes.

5) Afinal tratar-se-ia de banalida­des que estão no espírito de todos os médicos. Como homens que somos, podemos «falhar», cometer erros, in­justiças, desacertos nas nossas deci­sões. Somos mesmo «perturbáveis» pelas circunstâncias em que nos con­centrarmos. Pense-se apenas nas deci­sões cirúrgicas, nos tratamentos in­tensivos, especiais e mesmo nas tera-

OPINIÂO

pias actuais fortissimamente incisivas, que não discutiremos em pormenor.

6) Os avanços da medicina bioló­gica (bioquímica, genética, imunolo­gia, psico-fisiologia, imagiologia, etc.) nem sempre são considerados de modo «convergente» (como propuse­mos no nosso ensino) com os aspectos humanos - entre os quais a ética assu­miu recentemente um papel de rele­vo. Daí as tendências para um certo «dualismo» neo-cartesiano ... A cha­mada «bio-ética» tende conceptual­mente a ser encarada nessa perspecti­va, apoiando-se mais na «filosofia analítica» e na dita «meta-ética dos

Os cuidados médicos, além de deverem ter uma base científica e uma técnica adequada, devem também ser eticamente válidos,

quer dizer «certos», justos, legítimos. Dito singelamente visando o «bem» e só o bem dos nossos doentes.

anglo-saxões. Devemos-lhe, no en­tanto, muitos sãos e justos critérios sobre o valor de certas decisões escla­recidas e outras. Por exemplo: dia­gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia ge­nética no embrião (ou já no feto). Deve-se ou não interromper a gravi­dez? São conhecidas as oposiçães (re­ligiosas e legais) contra a prática ge­nérica do aborto. Nesse caso especial, quais os valores em questão? Quando não há probabilidade de nascer uma criança com possibilidades de desen­volvimento autenticamente humano; quando os progenitores dão o seu consentimento? E nenhum deles está afectado psicopatologicamente para ser capaz de tal decisão. Quando os clínicos chegam a um consenso sobre o prognóstico ... Qual é o valor de

vida, do existir bio-psico-sócio-cultu­ral ( «há quem fale da alma») desse «ente» em evolução para numa situa­ção insanável. Quais as virtudes de preservar esse viver biológico sem uma finalidade e sentido humanizá­veis? O que será moral e legítimo fa­zer? Qual o valor de viver nessas cir­cunstâncias? Quem deve assumir a responsabilidade e os encargos de um ser vivo não plenamente humaniza­do? Como escolher entre as centenas de casos em questão aqueles que de­vem ou não ser ainda ajudados a vi­ver?

7) Nestas e outras circunstânciastorna-se necessário definir uma hie­rarquia de valores compreendendo a sua nova significação. E o problema do «ethos» que vem dos gregos, da «moralidade» tão discutida na idade média e no século XVIII ( atingindo feições prejorativas nos ditos «mora­listas», e depois na «dupla moral» possibilidades «bem humana» por fa­lível e perturbável. ..

Não é possível tratar aqui dessa problemática ético-filosófica. Se ou­samos propor o uso do conceito de «antropoética» é porque pensamos -a partir da nossa experiência de mais de meio século de cuidar dos que so­frem - que é necessária uma visão glo­bal («conspectiva» - ou seja actual e retro- e prospectiva) dos problemas humanos - a todos os níveis - tanto biológicos como psicológicos e so­ciais.

8) A ética da problemática humana- a antropoética - radica-se destemodo no nosso ponto de vista conver­gente ( das múltiplas disciplinas em in­teracção multidisciplinar e a co-acçãotanto naturalistas como humanistas)liga-se o nosso modelo da personali­dade que centra essas disciplinas noestudo da pessoa humana ( as múlti­plas «antropociências»).

Dizemos aqui apenas que supervi­sando as controvérsias por exemplo entre o «freudismo» e o «psicolo­gismo fenomenológico» e o «sociolo­gismo», «espiritualismo», etc., po­dem-se diferenciar na personalidade em situação no Mundo múltiplos «sis­temas funcionais» hierarquizados -desde a base orgânica (anatomo-fisio­lógica e biológica) e, assentando nes­te, o «fundo vital» (já bio-psicológico) e apoiando-se na última, os processos afectivos, cognitivos básicos até as su­perestruturas (já sócio-culturalmente modeladas) do carácter, do intelecto e da Pessoa cultural, já referida.

Ao contrário das tendências aristo­télicas-kantianas de formalizar os va­lores de modo categorial (a priori) e partindo de Scheller e Nicolai Hart­mann, podemos neste modelo referir

ORDEM DOS MÉDICOS - 7

Page 6: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

.os valores às diferentes categorias de afectos ( desde os vitais - o valor da «vida» até aos anímicos (o valor da simpatia, do amor. .. ) e os espirituais como as diferentes virtudes (que to­dos conhecemos já como maior com­ponente do Logos, o ser justo, digno, sincero, autêntico, responsável, auto­crítica, auto-controlado ...

Neste conjunto complexo há uma acentuada relatividade e mesmo hie­rarquia dos valores, de modo compa­rável ao que se dá com os «sistemas funcionais» da personalidade. Assim por ex. o valor da força, da energia, para a acção (ao nível organo-vital) é a base para os valores de ocupação do trabalho, do gosto ein aprender ( de começo de modo senso-motor na primeira infância) e depois mais con­creto sobre o objecto presente e só na aproximação da adolescência, lógico­dedutivo, abstracta. Nesses diferentes níveis estão os valores do «jogo» (pra­zeres lúdicos) da execução de tarefas, do domínio da linguagem, da sabedo­ria do seu uso escrupuloso e sensato *.

9) Todos estes sistemas funcionaise valores conexos se referem e cen­tram no Eu o Proprium, o «Self», ori­gem das decisões com valia ética, com auto-determinação, liberdade, deci­são responsável e auto-crítica.

Os problemas éticos da Psiquiatria, que não é possível abordar agora, exi­gem consieração, por vezes muito di­fícil e delicada, destes e outros valo­res ligados ao viver e existir pessoais, em relação com a família e a socieda­de; o v.g. o atestar do médico sobre a capacidade de trabalho, de governar os seus bens, de ser ou não imputável ( e responsável) pelas suas faltas e de­litos ... e outros problemas da Psiquia­tria forense. Outros casos dizem res­peito aos problemas de interesse na práxis, como o consentimento escla­recedor pelo próprio enfermo de um certo tratamento, da sua ou não hospi­talização, acompanhamento e apoio, etc.

10) Dada a multidisciplinaridade eenorme complexidade das decisões éti­cas e as responsabilidades que envol­vem estes temas tanto em relação aos doentes e suas famílias como mesmo em relação aos próprios médicos assis­tentes, tantas vezes inseguros na auto­nomia das suas decisões, resolveu-se constituir e institucionalizar grupos de trabalho de diferentes especialidades (também em medicina legal, sociolo­gia, direito e outras disciplinas)) para formular consensos deliberativos e decisórios melhor (eticamente) funda­mentados.

A recém formada Comissão Ética da Faculdade de Medicina de Lisboa e do Hospital de Santa Maria (agora em boa hora, irmanados nesta con-

8 - ORDEM DOS MÉDICOS

OPINIÂO

Têm sido muito discutidas as relações do sentido ético com os processos lógicos. Também neste campo se dá a luta entre «Mente» e «Razão». Certos extremistas pretendem mesmo reduzir a ética ao «instinto» quando na realidade humana normal os valores éticos superam precisamente os impulsos vitais, avaliam-nos e escolhem e decidem («vontade») aqueles que «devem» ser efectivados.

juntura) já iniciou os seus trabalhos e · teve a amabilidade de me convidar aexpor algumas reflexões que exponhoà vossa crítica nesta nota preliminar.

Junto da Presidência do Conselhode Ministros funciona também o"Conselho de Ética" para avaliar osproblemas·morais em questão e emitir

em base legal pareceres sobres estas questões na área da biologia, medi­cina e Saúde.

Terminados com o voto do aperfei­çoamento ético destas actividades. Apenas desejámos articular a teoria dos valores e seus deveres, - visto na perspectiva antropoética, - (com as normas legais adaptadas e ajustadas aos novos problemas que, cada dia, a práxis médica nos suscita e merecem atenção e reflexão de todos os partici­pantes na magna campanha pela saúde dos portugueses.

Têm sido muito discutidas as rela­ções do sentido ético com os proces­sos lógicos. Também neste campo se dá a luta entre «Mente» e «Razão». Certos extremistas pretendem mesmo reduzir a ética ao «instinto» quando na realidade humana normal os valo­res éticos superam precisamente o impulsos vitais, avaliam-nos e esc lhem e decidem («vontade») aqueles que «devem» ser efectivados. As in­vestigações de Piaget mostram as re­lações íntimas entre o desenvolvi­mento no adolescente dos valores éti­cos e dos juízos lógicos.

Nota

* A eutanásia é dada aqui apenascomo um exemplo de situação limite,«típica» da exigência de valoração éti­ca. Referimos a lit. para a sua discus­são mas não podemos omitir a nossaposição contrária à eutanásia activa -em acordo com o voto final do Coló­quio sobre a Eutanásia realizado naAcademia das Ciências de Lisboa em1989. Mesmo no caso do doente estarlúcido, esclarecido e propor ele pró­prio o apressar da morte, esta vedade - tanto ética como legalmente -ajudar ao «suicídio» do doente. Umarelação e atitudes psicologicamentecompreensivas poderão atenuar o so­frer e facilitar um «bem morrer» -uma morte bem humanizada, que sepoderia chamar «antrogroeutanásia.

*Têm sido muito discutidas as relações dosentido ético com os processos lógicos.Também neste campo se dá a luta entre«Mente» e «Razão». Certos extremistaspretendem mesmo reduzior a ética ao «ins­tinto» quando na realidade humana nor­mal os valores éticos superam precisa­mente os impulsos vitais, avaliam-nos e es­colhem e decidem («vontade») aquelesque «devem» ser efectivados. As investiga­ções de Piaget mostram as relações íntimasentre o desenvolvimento no adolescentedos valores éticos e dos juízos lógicos.

Page 7: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

ACTUALIDADE

A RESPONSABILIDADE CRIMINAL PQR INTERVENÇÕES E TRATAMENTOS MEDICOS

Respondendo à solicitação do Conselho Nacional de Ética e Deontologia Médicas, publicam-se neste número da Revista dois documentos remetidos pela Comissão de Ética do Hospital de S. João. São dois textos que pela sua impor­tância e actualidade ajudam a esclarecer os médicos.

1. Anteriormente a 1 de Janeiro de1983, na vigência do Código Penal de 1852, escasseavam normas tipificado­ras de crimes no âmbito do direito pe­nal médico. As soluções encontra­vam-se nos princípios gerais da lei pe­nal.

A partir de 1983 a situação legal é outra, bem diferente, com um trata­mento jurídico-penal em malha muito apertada.

Com efeito, o novo Código Penal define, a par de outros casos também regulamentados por leis avulsas, o re­levo penal das intervenções e trata­mentos médico-cirúrgicos com e sem consentimento do paciente, do abor­to, da inseminação artificial, da viola­ção do segredo profissional e funcio­nal, dos atestados falsos, da alteração de análise e de receituário.

Vai este parecer circunscrito à apreciação das intervenções e trata­mentos:

a) com autorização; b) sem autori­zação; e) com oposição.

a) INTERVENÇÕES E TRATA­MENTOS AUTORIZADOS(art.º 150.º do Código Penal)

2.1. As intervenções e tratamentosmédicos autorizados não constituem, em princípio - e só em princípio -ofensas corporais, caso sejam verifi­cados comutativamente os seguintes requisitos:

a) Sejam medicamente indicados;b) Sejam executados de acordo

com as leges artis por médico ou pes­soa legalmente autorizada, o mesmo será que dizer sejam executados com a perfeição técnica, a sua oportuni­dade e conveniência ajustadas ao caso e a idoneidade dos meios utilizados, na formulação de um magistrado do Ministério Público ( cfr. Código Penal Anotado dos Drs. Manuel Leal Hen­riques e Manuel Simas Santos, vol. II, pág. 138):

e) Possuam finalmente terapêuticaem sentido lato, de molde a prevenir, diagnosticar, debelar ou minorar uma doença, um sofrimento, uma lesão ou fadiga corporal ou uma perturbação mental.

10 - ORDEM DOS MÉDICOS

2.2. Tudo o mais constitui ofensas corporais porque ultrapassa a lacitude dessas actuações, nomeadamente, o caso se verifica nas intervenções em campos ainda não conhecidos e expe­rimentados, nas intervenções não pra­ticadas por pessoas autorizadas legal­mente ou, sendo-o, sejam realizadas com incorrecta forma técnica e cientí­fica.

b) INTERVENÇÕES E TRATA­MENTOS ARBITRÁRIOS

'(art.º 158.º do Código Penal)

3.1. As intervenções e tratamentoslevados a cabo sem consentimento do paciente, ou do respectivo represen­tante legal, preenchem um crime con­tra a liberdade daquele, punível com prisão até três anos e multa até 120 dias.

Este crime consuma-se logo que há intervenção ou tratamento sem con­sentimento válido (v.g., quando o pa­ciente está inconsciente ou quando os cuidados médicos ultrapassam o con­sentimento prestado).

3.2. Bastará, no entanto, o consen­timento presumido, ou seja, que se verifiquem circunstâncias que permi­tam inferir com segurança que o con­sentimento não seria recusado, para ter-se como justificada a conduta do agente e não ser punido, e dois casos:

a) Só puder ser obtido o consenti­mento com o adiamento que implique um período para a vida ou um grave perigo para o corpo ou para a saúde -prevê-se pois, uma situação de perigo que desaconselha a espera do consen­timento real (v. g., quando o médico actua para salvar um suicida em es­tado de inconsciência);

b) Foi dado para uma intervençãoou tratamento diferente, mas que foi realizado é imposto pelo estado dos conhecimentos ou experiência de me­dicina, como meio para evitar um pe­rigo para o corpo ou para a saúde; e não se verificarem circunstâncias que permitam concluir, com segurança, que o consentimento seria recusado (caso do alargamento do campo ope­ratório).

3.3 ... o consentimento só é eficaz -condiciona o art. 0 159. 0 do Código Pe-

nal - quando o paciente tiver sido de­vidamente esclarecido sobre a índole, alcance, evergadura e possívejs con­sequências da intervenção ou trata­mento, salvo se isso implicar o escla­recimento de circunstâncias que, a se­rem conhecidas pelo paciente, seriam susceptíveis de lhe provocar perturba­ções comprometedoras da finalidade visada.

3.4. Esse consentimento pode ser expresso por qualquer meio; deve tra­duzir uma vontade séria, livre e escla­recida; é livremente revogável até à execução do acto; e só é eficaz se prestado por quem tenha mais de 1J.. anos e discernimento necessário, p. dendo a competência para o prestar ser deferida ao respectivo represen­tante legal, em caso de menoridade de 14 anos ou de incapacidade (art.º 38.º do Código Penal). Como a maioridade é atingida aos 18 anos, ve­rifica-se, neste particular, que os re­quisitos relativos à capacidade para a prestação do consentimento não coin­cidem com os requisitos da capaci­dade civil. A lei Penal - ao contrário da lei civil - entendeu que, em princí­pio, a partir dos 14 anos existe a capa­cidade natural para ponderar, dar conta e extensão da conduta consenti­da.

3.5. Se o consentimento existir mas o médico actuar sem dele estar cienteserá punido pelo crime de intervençãomédica arbitrária sob a forma de ten­tativa ( a pena é prevista para o crimeconsumado especialmente atenuada -art. º 23. º, n. º 2 do C.P.).

3.6. Se, diferentemente, o consen menta não existir mas por erro negli­gente o médico suposer verificados os seus pressupostos, será ele punido com prisão até seis meses e multa até 50 dias. Aqui a punição resultou de não ter o cuidado de averiguar, como lhe incumbia, se estavam reunidos to­dos os requisitos que preste relevân­cia jurídica ao consentimento.

e) OPOSIÇÃO ÀS INTERVEN­ÇÕES E TRATAMENTOS

(art.º 156.º do C. P.)

4.1. Coisa substancialmente dife­rente é a prática de intervenções e tra­tamentos com oposição do paciente ou do representante legal, portanto, com a existência de constrangimento.

Nesse caso configura-se o crime de coacção punível com pena de prisão até dois anos ou multa até 180 dias.

4.2. No âmbito desta situação, se

Page 8: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

o representante legal se opuser àaconselhável intervenção ou trata­mento médico quiç:1 juris?

No que respeita aos menores, caso para que concretamente é pedido este parecer, estatui o art.º 1918.º do Có­digo Civil que, quando a segurança, a saúde, a formação moral ou a educa­ção de um menor se encontre em pe­rigo e não seja caso de inibição do exercício do poder paternal, pode o tribunal, a requerimento do Ministé­rio Público ou de qualquer parente do menor a cuja guarda ele esteja confiado, de facto ou de direito, de­cretar as providências adequadas.

O processo vem regulado na lei Te­tular de Menores mas o seu iter não se compadece com as muitas realidades vividas pelos profissionais de saúde.

O processo inicia-se com a petição · icial, que não carece de ser articula-

. O réu é citado para contestar noprazo de oito dias (art.º 195.º da lei Tutelar de Menores). Oferecida a contestação, ou findo o prazo para a sua apresentação, o juiz proferirá o despacho saneador no prazo de cinco dias. Se o julgador, neste despacho, não tiver os elementos factuais para decidir desde logo, e se mais outras diligências não se justificarem, seguir­se-á a audiência de discussão e julga­mento.

Tudo demasiadamente moroso. Mesmo a hipótese de uma providên­cia cautelar estaria também nesses an­gustiosos casos de emergência, fora de causa. Seria um processo a instau­rar, quando não estiver pendente o processo sobre a questão de fundo, o tribunal a proceder às averiguações sumárias que entenda por conve­niente com vista à prolacção da deci­são provisória e cautelar (art.0 157.0).

inda depois de autorizado o pedido, torização provisória entenda-se, te­

ria de, em acção própria, ou na já pendente, a questão ser apreciada a final, confirmativa da decisão provi­sória e cautelar!

4.3 Desalentador quadro para a to­mada de decisões no quotidiano das vivências de um grande Hospital. Que os devotados profissionais de saúde encontrem algum lenitivo moral no escrito pelos Profs. de Direito Figuei­redo Dias e Sinde Monteiro: «Se o doente tem direito de ser tratado por um médico a quem o direito penal se não coibe de pedir inteira responsabi­lidade, e também do próprio interesse do médico - ou, para dizer com He­gel, do «seu direito» - que a ordem jurídica não lhe tolha, mas antes esti­mule o afinamento do seu sentimento de responsabilidade (BMJ n.0 332, pág. 61).

Doutor Rui Moreira de Sá e Guerra

OITODIINE Colchoes o opédicos

preferência ortopédico se tornou

ORTODINE o único colchão isento de IVA. ORTODINE o único colchão aprovado pela DGH (Direcção­-Geral dos Hospitais) como col­chão ortopédico com indicação essencial para problemas de co­luna, e que, em Exposições Inter­nacionais (de inventores) mere­ceu a distinção de duas medalhas de ouro (Alemanha e Suíça).

Ortodine oferece-lhe capa e reguladores para o

conforto e flexibilidade desejada

Em Exposição no C. Comercial Libersil, Loja 12 Tel. 3477965

Desejo receber mais informações sobre as vantagens do colchão Ortodine.

Nome __________ Empresa _________ _

Morada Cód. Postal ____ Tele!. ___ _

Envie este cupão para FACOMOL Av. 5 de Outubro, 10 - Sala 17,, 1.° andar - 1000 LISBOA• Tel. 571118

Page 9: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

• ACTUALIDADE

RELAÇÃO DOS PAIS COM OS FILHOS MENORES E DOS TUTORES COM OS DEFICIENTES MENTAIS E EVENTUAL CONFLITO COM O RESPONSÁVEL DA EQUIPA DE SAÚDE

Os Profissionais de Saúde, even­tualmente, poderão deparar com si­tuações de conflito entre a esclarecida consciência profissional de adequada­mente servir, proteger e curar e a oposição insensata de Pais e Tutores dos utentes menores ou deficientes mentais. As questões que se podem colocar podem ser de tipo legal, social e ético. Aqui e agora apenas referiria as que dizem respeito ao domínio ético e deontológico ficando no domí­nio do opinável fundamentando.

1. A questão mais frequente entrenós, é a que se refere a crianças pelas intervenções cirúrgicas necessárias e que, eventualmente, impliquem transfusões sanguíneas.

A recusa formal deste tipo de inter­venções, por parte dos Pais ou Tuto­res, evocando razões religiosas ou ou­tras, poderá criar situações de confli­tos de consciência profissional e ou de atitudes, com eventuais repercus­sões legais.

2. Creio que deveríamos raciocio­nar nos seguintes parâmetros:

a) Os Pais e Tutores não são pro­priamente senhores dos Filhos ou Tu­telados; deverão sim encaminhá-los para a autonomia possível, proporcio­nando-lhes os melhores meios educa­tivos e sanitários disponíveis.

b) Cada pessoa, desde a fecunda­ção, tem direito natural, inerente a cada estrututa humana, à vida e às condições adequadas para desenvol­ver a própria personalidade e respec­tivas capacidades, em vista da liber­dade e responsabilidade possíveis.

e) O juízo de válor sobre o que écientifíca e tecnicamente pertinente e ajustado a cada situação, no respei­tante a questões de Saúde, incumbe ao Médico, que deverá fazer o dia­gnóstico e prognóstico apropriados.

d) Os Pais, os Tutores e a Equipade Saúde têm uma complementar fun­ção e missão social de promoverem o bem integral da criança ou deficiente mental. E todos devem respeitar a identidade psicossomática e progres­sivamente social de cada pessoa em evolução mais ou menos lenta ou pre­cária.

12 - ORDEM DOS MÉDICOS

3. Ninguém tem o direito de inter­vir na mutação fundamental da perso­nalidade doutrem e muito menos de­cidir sobre a vida ou a morte de ino­centes, de pessoas que ainda não tive­ram oportunidade de se definirem responsavelmente.

Neste sentido, os Pais ou Tutores, que pretendam impedir insensata­mente o desenvolvimento dos filhos menores ou dos Tutelados:

Os Profissionais de Saúde, eventualmente, poderão deparar com situações de conflito entre a esclarecida consciência profissional de adequadamente servir, proteger e curar e a oposição insensata de Pais e Tutores dos utentes menores ou deficientes mentais.

a) Moralmente perdem o direitode se apresentarem como tais, visto que são determinadamente inimigos porque criam-lhe situações de risco de vida pelo menos de perturbações do desenvolvimento sadio.

b) Não é legítimo tomar decisõesirreversíveis sobre a vida e a identi­dade dos Filhos e Tutelados em nome duma perspectiva filosófica e religio­sa, que não se pode presumir que é a que eles pretenderão para a própria orientação de vida adulta. E muito menos se pode pôr em risco a vida dos outros em nome duma perspec­tiva ética pessoal.

e) Se tomam insensatas atitudescontra a saúde e a vida dos inocentes, a sociedade tem o direito e o dever de

os proteger, retirando-lhes, prov1so­ria ou definitivamente, consoante os casos, a perigosa paternidade ou tu­tela sobre os inocentes.

4. Em casos da emergência, pa­rece-nos que a Equipa da Saúde de­verá usar os meios adequados à recu­peração da saúde da criança ou de ciente mental, desde que lhe é con­fiado o utente, a Equipa compartilha, no domínio da saúde, uma determi­nada responsabilidade social, cuja so­lução cientifíca e técnica não deve de­pender da opinião de ignorantes que poriam em risco a vida ou o equilíbrio de menores.

5. Sendo pois evidente que acriança tem direito à vida, à saúde e identidade, tanto os Pais, Tutores, como a Equipa de Saúde deverão agir na linha dos melhores interesses das crianças e dos deficientes mentais. Quem agir em sentido contrário actua como inimigo dos indefesos, que de­veria defender, proteger e desenvol­ver.

E, neste campo, poder-se-ia racio­cinar em termos de cooperação e res­pectiva responsabilidade moral, caso os inocentes sofram danos por incú­ria, seja de quem for.

6. O objectivo será conseguirmelhor para a criança e o deficiente, protegendo-os da ignorância e da in­sensatez dos incompetentes, que se podem tornar seus reais inimigos.

O ideal seria encontrar um quadro legal que a todos protegesse dos maus tratos ou intervenções impertinentes. E neste domínio algo já se pode con­seguir pela pertinente intervenção pontual do Juiz. A equipa de Saúde é que nunca deverá desistir de cumpri com a sua missão, correndo os riscos necessários, para que sejam promoto­res da saúde e defensores da vida hu­mana, desde a fecundação até à morte cerebral, fazendo o que lhe seja possí­vel para que cada pessoa, esclarecida­mente, disfrute de vida de qualidade e ajude os outros a assumirem a pró­pria vida responsavelmente.

Frei Bernardo, O.P.

Page 10: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

NOTÍCIAS

,

PREMIO BIAL

Reuniu no dia 12, no Círculo Universitário do Porto, para a sua sessão final, o Júri do Prémio Biai de Medicina Clínica - 1990, constituído pelos Professores Nuno Grande (seu Presidente), Armando Porto, da Faculdade de Medicina de Coimbra, Cordeiro Ferreira, da Faculdade de Ciências Médicas de Lisboa, Eurico de Figueiredo, do Instituto de Ciências Biomé­dicas Abel Salazar do Porto, Falcão de Freitas, da Faculdade de Medicina do Porto e Torres Pereira, da Faculdade de Medicina de Lisboa. Este júri é formado por Catedráticos indicados pelos Conselhos Científicos daquelas Escolas Médicas e o seu Presidente escolhido dentre aqueles.

Para esta edição do Prémio, que obteve o apoio do Conselho de Reitores das Universidades, foram admitidos a concurso 33 trabalhos.

O Prémio Bial-199'0 recaiu na obra «O Diário do Orientador» da autoria do. Dr. José Manuel Falcão da Silva Tavares, Assistente de Clínica Geral no Centro de Saúde de Abrantes.

b segundo lugar foi atribuído à obra intitulada «Evolução dos Doentes Crónicos com Elevado Consumo de Consultas/ Ano, tipo de Atendimento e Relação Médico Doente», da autoria do Dr. Idalmiro Rocha Carraça, médico Clínico Geral e Psiquiatra no Centro de Saúde da Alameda em Lisboa.

Obtiveram menções honrosas os trabalhos «Dispepsia. Causas, sintomas e diagnóstico» do Dr. José Eduardo Pina Cabral, de Coimbra, «A investiga­ção em Clínica Geral» do Prof. Rogério Gonzaga, do Porto, «Icterícia. Diagnóstico diferencial» dos Drs. Manuel Arsénio dos Santos e Adélia Simão, de Coimbra e «Oncologia para Clínicos Gerais» do Dr. Herelander Marques, do Porto.

O Prémio Biai de Medicina Clíriica, instituído em 1984, destina-se a contemplar as melhores obras de carácter científico, originais e inéditas, da autoria de, pelo menos, um médico de nacionalidade portuguesa e dirigidas ao Médico Clínico Geral.

• ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS MÉDICOS DE SAÚDE PÚBLICA

(Regulamento dos concursos de habilitação e de provimento da carreira médica de

saúde pública)

1. No que diz respeito aos aspectos glo­bais deste novo diploma nada se alterou de substancial relativamente ao anterior, a Portaria n.º 146/89 de 28 de Fevereiro, agora revogada. As alterações dizem somente respeito aos concursos de habilita­ção e de provimento para· chefe de serviço de saúde pública, e isto por força do De­creto-Lei n.0 73/90 de 06 de Março.

A revisão da Portaria anterior_ era dese­jável e urgente, pois apesar da sua curta vigência, demonstrou-se impraticável no que dizia respeito à hierarquização dos concorrentes ao provimento de assistentes de saúde pública. A desadequação a uma justa distribuição qualitativa dos mesmos, permitindo que um candidato ficasse em 11. 0 lugar no concurso em determinada A.R.S., e com os mesmos concorrentes, ficasse em 3.º lugar noutra A.R.S., im­punha a sua revisão. Surpreendentemente, até porque o maior número de concorren­tes é e será exactamente para os concursos de provimento para assistente de saúde pública, a nova Portaria copia da anterior pontos e vírgulas. As impugnações, a des­confiança e a insatisfação continuarão, com prejuízo e desmotivação dos concor­rentes, sobretudo com graves prejuízos para os Serviços, pelo longo período que medeia entre o aviso de abertura e a data de provimento o que conduz ao desprestígio do Ministério da Saúde.

2. Os diplomas de idoneidade contêmerro demasiado desagradável para os médi­cos desta carreira, sobre o qual qualquer outro comentário para além do que já manifestámos telegraficamente em 18/2/91, se tornará desagradável.

3. Os aspectos mais valorizados nasavaliações curriculares dos vários concur­sos, ou não fazem parte do perfil do médico de saúde pública definido no De­creto-Lei n. 0 73/90 de 06 de Março, ou são os aspectos complementares do mesmo. Parece privilegiar-se a investigação não pertinente para os problemas de saúde da população em que está inserida, a publica­ção de artigos ou trabalhos, a inscrição em congressos, seminários e conferências, em vez do desenvolvimento de intervenção programada, do diagnóstico da situação, da promoção da educação para a saúde, do desenvolvimento da articulação intersecto­rial, da responsabilização pelos núcleos de planeamento e controlo, etc.

4. A homologação do diploma que confere o grau de especialista em saúde pública deve competir ao organismo res­ponsável pela formação médica comple­mentar, a nível do Ministério da Saúde - o Departamento de Recursos Humanos, e não a Direcção-Geral de Cuidados de Saúde Primários que não tem essa compe­tência.

Page 11: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

• �

o

REUNIÃO DA SECÇÃO MONOESPECIALIZADA DE MEDICINA FÍSICA E DE REABILITAÇÃO

Novembro de 1990 - Bruxelas

Ordem do dia: - Alocução do Presidente.- Aprovação da acta da reunião

anterior (Março/90).- Relatório do Secretariado.- Relatório do Tesoureiro.- Discussão do relatório sobre o

ensino da Especialidade na CEE.Projecto de síntese.

- Congresso de Dresde em 1992.- Eleição do novo Presidente da

Secção.- Questões diversas.

Reunião realizada na sede daUEMS, marcada pela apresentação, estudo e discussão de questões impor­tantes e ainda pelas visitas do Secre­tário-Geral cessante, Prof. Dr. Guy Des Maretz, e a do actual Secretário­-Geral, Dr. Peiffer.

Estiveram ausentes os representan­tes da Grécia, Luxemburgo, Grã-Bre­tanha, Dinamarca e Irlanda.

Os trabalhos começaram com uma breve alocução do Presidente da Sec­ção, Prof. Dr. André Bardot, que cessa funções por virtude de regra esta­tutária da UEMS, que se congratulou pelo trabalho já realizado, nomeada­mente, citando as mais importantes, a elaboração do Livro Branco da Espe­cialidade, compilação e estudo sobre acessibilidade, formação, titulação, demografia, etc., da Especialidade, reclassificação socio-profissional do doente inválido. Considerou que o conhecimento actual do estado da Especialidade nos países comunitários permite elaborar, desde já, o Regula­mento de um Colégio Europeu (aliás, na senda de alguns já existentes -Anestesiologia, Urologia) em que um dos seus objectivos será o estudo sobre as bases de ensino teórico e prático da Especialidade.

Antes de finalizar, além da comuni­cação do falecimento do Dr. Konings (representante belga) e da apresenta­ção de mais um representante espa­nhol Dr.ª Raquel Vallero, informou­-nos ' do reconhecimento da MedicinaFísica e de Reabilitação como especia­lidade independente na Grã-Bretanha (Abril/90).

Ponto 2 Aprovado por unanimidade.

Ponto 3 O secretário de Secção, Dr. Ma­

couin, depois de relatar a correspon-

NOTÍCIAS

dência recebida, procedeu à leitura das normas (Regulamento Interior da UEMS) para a eleição do novo Presi­dente e, ainda, do artigo 24. º da ROi, respeitante à composição das Secções Monoespecializadas, que « ... são en­carregadas pelo Conselho de Direcção do estudo dos problemas levantados pelo Tratado de Roma respeitantes à definição, formação, qualificação e exercício da profissão na especialidade visada». Como se vê, a competência que lhes é delegada é fundamental na preparação para a futura adopção do Regulamento Estatutário do Colégio Europeu de Medicina Física e Reabili­tação -' CEMPR.

Ponto 4 O relatório do Tesoureiro será apre­

sentado somente na próxima reunião. De assinalar o cumprimento das

quotas por Portugal.

Ponto 6 Dr. Gadomski (Alemanha) referiu­

-se multo sucintamente ao Congresso Internacional a realizar em Dresde (Setembro/92), sob auspício da Fede­ração Europeia de Medicina Física e de Reabilitação, de que é Presidente o Dr. Van Oeste!.

Ponto 7 Para o cargo de Presidente, apresen­

taram-se três candidatos, tendo sido eleito, por escrutínio secreto, o Prof. Dr. Luis Pablo Rodriguez e Rodriguez (Espanha). Ponto 8

Levantado pela representação espanhola o problema Cuidados de Saúde Primária/Técnicos de Diagnós­tico e Terapêutica, mas, dado o adian­tado da hora, foi inscrito na agenda da próxima reunião.

Caberá aqui o conhecimento da resolução D8909 (adopção por unani­midade em Abril/89) do Comité Per­manente .dos Médicos Europeus, que a seguir se apresenta.

«L'évolution des techniques et !e dévelopment incontrôlé des centres de formation pour auxiliaires médicaux concernés par Ia réadaptation dans Ies douze-pays de la Communauté Euro­péenne, rendent de plus en plus neces­saire, Iorsqu'ils doivent intervenir dans une struture de soins multidiscipli­naire, l'intégration de ces auxiliaires médicaux dans une équipe dirigée par um médecin spécialiste compétent en réadaptation.

- que se soit un médecin spécialisteformé em readaptation dans sa disci­pline dirigeant une équipe monospé­cialisée chargée du traitement de ces patients, ou

- que se soit un médecin spécia�ist.eformé em readaptation dans sa d1sc1-pline dirigeant une équipe monospé­cialisée chargée du traitement de ces patients, ou . . . . - que se soit un médecm special�steen Médecine Physique et Réadaptat10n dirigeant une équipe polyspécialisée capable de prendre en charg.e, ei:i, coll�­boration étroite avec le medecm tra1-tant, les patients que lui adressent l�s autres médecins, spécialistes ou omm­praticiens, pour tout ou partie de Ieur traitement de réadaptation, selon Ie choix opéré par !e médecin traitant en accord avec !e patient.

Dans toute équipe de réadaptation ainsi integrée, la responsabilité du dia­gnostic et du traitement ne peut être assumée que par !e médecin compé­tent. Celui-ci, seu!, peut juger de l'opportunité de modifier le traiteme prescrit ou d'en adapter Ie mod d'administration, en tenant compte des avis et suggestions que les autres membres de I'équipe, ayant un contact privilégié avec !e patient, ont la faculté d'émettre à I'occasion des réunions de travai! régulierement organisées en équipe.

Dans tous les cas, la décision et Ia responsabilité terminales restent du seu) :ressort du médecin compétent.

Esta Resolução mereceu, nesta reu­nião, alteração, que se pretende ratifi­cada pelo Comité Permanente, pas­sando a sua redacção a ser: « ... em toda a estrutura de cuidados de reabili­tação, quer sejam serviços de reabilita­ção de hospitais públicos ou privados, ou nos serviços de reabilitação de poli­clínicas, a direcção de equipa médica e de reabilitação, deve ser assumida pelo médico especialista em Medicina Física e de Reabilitação ... ».

Ponto 5 Embora a ordem estabelecida para

esta reunião tivesse sofrido alteração em todos os pontos, nós conservamo­-la, reservando somente para o fim este ponto que passou ao título Estudo do Projecto de Estatuto do Colégio Europeu de Medicina Física e de Reabilitação - CEMPR, que se junta na integra, bem como sua nota expli­cativa.

Este projecto, após divulgação a todos os Colegas da Especialidade para reflexão crítica, será de novo exaustivamente apreciado, face a alte­rações pertinentes sugeridas pela Classe nos países comunitários, antes de ser adoptado definitivamente.

* * *

Agendada a próxima reumao da Secção Monoespecializada de Medi­cina Física e de Reabilitação para 4 de Abril de 1991, Paris.

Page 12: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

NOTÍCIAS

X INfflRMTIOML CONGIIBSS

OF EMEKGENCY SUK<IBKY

Usbon, June 16 • 19, 1991

Vai decorrer em Lisboa, de 16 a 19 de Junho, o X Congresso Internacional de Urgência. Cirúrgica. O presidente de Honra do Congresso é o Dr. José Augusto Borges de Almeida, enquanto a presidência da Comissão Organizadora está a cargo do Dr. Jorge dos Santos Bessa

COMPETÊNCIA DE IMUNOHEMOTERAPIA

CONDIÇÕES DE ADMISSÃO

1 - Chefes de Serviço e Assistentes Hospitalares graduados oriundos de serviços de Imunohemoterapia e/ou de serviços com as valências de Hematologia Clínica e Imunohemoterapia.

2 - Assistentes Hospitalares de Imunohemoterapia mediante apreciação curri­cular.

3 - Assistentes Hospitalares de Hematologia Clínica e Patologia Clínica com pelo menos 18 meses de actividade em Serviço Hospitalar de Imunohemote­rapia, mediante apreciação curricular.

4 - Qualquer médico com curriculum que não se enquadrando nos padrões anteriores, demonstre possuir condições para ser admitido por consenso.

Os curricula serão avaliados caso a caso e a decisão final dependerá do Con­selho Nacional Executivo sob parecer da Comissão de Admissão por Consenso.

ESPECIALIDADE DE SAÚDE PÚBLICA

NORMAS DE ADMISSÃO

De acordo com a decisão do Conselho Nacional Executivo poderão requerer a sua inscrição no Colégio de Especialidade de Saúde Pública da Ordem dos Médicos, os médicos de nacionalidade portuguesa que satisfaçam cumulativa­mente os seguintes requesitos: a) Possuir pelo menos o primeiro grau da Carreira Médica de Saúde Pública,

conferido pela entidade competente do Ministério da Saúde.b) Ter frequentado com aproveitamento um Curso de Saúde Pública com a

duração mínima de um ano lectivo.c) Ter exercido funções compatíveis com a prática médica de Saúde Pública

durante pelo menos três anos.Recomenda-se que o período de apresentação das candidaturas seja de 6

meses a partir da divulgação destas normas.

18 - ORDEM DOS MÉDICOS

CURSO INTERNACIONAL DE ONCOLOGIA PEDIÁTRICA

Curso Internacional de Oncologia Pediátricà - 7 e 8 de Outubro de 1991, Centro de Lisboa do Instituto Portu­guês de Oncologia Pediátrica.

O Programa será constituído por Conferências, Lições e uma Mesa Re­donda. As primeiras versarão o Dia­gnóstico e a Tecnologia Moderna e o Treino de um Cirurgião Pediatra On­cologista. As segundas versarão Mar­cadores, Biologia Molecular e Citogé­nica, Resistência aos Fármacos em Quimioterapia, Avanços em Patolo­gia Morfológica, Leucémias, Linfo­mas Hodgkinianos e não Hodgkinia­nos, Transplantação de Medula Ós­sea, neuroblastomas, Radomiosarco­mas, Tumores das Partes Moles (par além de radomiosarcomas), Tumor de Células Germinais, Infecção no doente Imuno deprimido. Finalmente a Mesa Redonda versará o «Trata­mento Conservador ou Radical em Cirurgia Pediátrica». Haverá ainda uma apresentação da forma como Or­ganizar um Departamento de Oncolo­gia Pediátrica, com referência às Ins­talações recentemente inauguradas no Centro de Lisboa do Instituto Por­tuguês de Oncologia de Francisco Gentil.

A língua oficial será o inglês. Como prelectores estrangeiros

conta-se já com a presença de nomes como Giulio D'Angio, Mark Nesbitt, Cario Dominici, Danny Miller, Heat­her Me Dowell, W. Delepine, Daniel Hays.

A inscrição antes de 1 de Julho será no valor de 100 ECUs, antes de 5 de Outubro de 150 ECUs e depois de 5 de Outubro de 200 ECUs. Para Membros da Sociedade Portugues de Oncologia Pediátrica o valor da inscrição será respectivamente de: 10, 15 e 20 000$00.

Todos os interessados em participar deverão dirigir-se ao Secretariado do Curso: Serviço de pediatria - Centro de Lisboa - Instituto Português de Oncologia de Francisco Gentil - Pa­lhavã - Lisboa - Portugal Tel. 72 65 16/726 90 52/726 73 37.

Este Curso é apoiado não só pelo Centro de Lisboa do Instituto Portu­guês de Oncologia de Francisco Gen­til como pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, pela Sociedade Portuguesa de Cirurgiões Pediatras e pelo Núcleo Regional do Sul da Liga Portuguesa Contra o Cancro.

Course Coordinator

Prof. Dr. A. Gentil Martins

Page 13: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

NOTÍCIAS

CARTA AO-MINISTRO DA SAÚDE Em Março do corrente ano, o Conselho Nacional da Ordem dos Médicos enviou ao Senhor Ministro da Saúde a carta que

aqui se reproduz. Trata-se, acima de tudo, de um balanço das relações entre a Ordem dos Médicos e a Tutela durante o último ano.

Senhor Ministro da Saúde,

Excelência,

Decorrido cerca de um ano do início das funções que desempenha julgou pertinente o Conselho Nacional Exe­cutivo da Ordem dos Médicos fazer um balanço das relações entre as duas instituições no seu duplo aspecto da forma que revestiram e dos resultados objectivos alcançados.

a) Quanto à forma.

Após um longo período tumultuosode relaçõe bastante difíceis com o seu antecessor foi com o maior agrado que este Conselho registou uma atitude inteiramente diferente por parte de Vossa Excelência. Só tem de agradecer a forma aberta, afável e de fácil comu­nicação que marcou todos os encon­tros formais ou informais que tiveram lugar.

Não pode deixar de sublinhar este Conselho o facto de terem cessado todas as manifestações públicas de ani­mosidade desse Ministério relativa­mente à Classe Médica e, em particu­lar, à sua Ordem.

Tomou este Conselho boa nota dos protestos reiterados por parte de Vossa Excelência de considerar, como seria aliás natural, a Ordem dos Médicos como interlocutor privilegiado cuja opinião seria respeitada e acolhida para, dentro dos condicionalismos políticos existentes, pautar a sua polí­tica face aos problemas dos Médicos e da Saúde em geral. Registou também com esperança este Conselho a coinci­dência entre as metas expostas por Vossa Excelência e os princípios pro­gramáticos que o orientam.

Aliás este facto foi comprovado pela acção positiva que Vossa Excelência assumiu nas negociações que tiveram lugar entre este Conselho e o Grupo Parlamentar do PSD a respeito da reformulação da Lei de Bases da Saúde.

Foi este convencimento que levou este Conselho a adoptar uma atitude da maior colaboração e certa expecta­tiva que permitisse a Vossa Excelência tempo, por um lado para alcançar um conhecimento informado dos assun­tos, e, por outro, distanciamento que evitasse uma mudança brusca de orien­tação, que compreendíamos ser politi­camente difícil.

20 - ORDEM DOS MÉDICOS

Com a maior franqueza verificámos perante o desenrolar dos aconteci­mentos que talvez essa atitude não se tivesse justificado ou tivesse porven­tura sido mal interpretada.

b) Quanto aos resultados.

Tentemos observar duma forma friae desapaixonada os factos mais rele­vantes que tiveram objectivamente lugar durante este ano, no duplo aspecto do que se não fez e do que aconteceu.

A- Por omissão.

1 - Não foi alterado o Dec. -Lei 73/90, referente a Carreiras Mé­dicas. Por exemplo a designação de Es­pecialista Hospitalar mantém-se inalterada.

2 - Não foi alterado positivamente o Dec.-Lei 19/88, referente à Ges­tão Hospitalar.

3 - Não foi alterado o Dec. -Lei 90/88 referente ao regime de tra­balho dos Internos, nomeada­mente no que se refere à exclusi­vidade obrigatória.

4 - Não foram alterados os despa­chos n.0

' 3, 4 e 5 de 89 que restrin­gem a liberdade de escolha e per­vertem o espírito da Convenção.

5 - Não foi reformulado o quadro das Convenções quer no aspecto de forma contratual, quer finan­ceiro, assistindo-se objectiva­mente à sua progressiva atrofia quer por dificuldade de acesso quer por estrangulamento finan­ceiro.

6 - Não foi nomeada a Comissão tendo em vista a harmonização de idoneidades, especialidades e curricula de Internato que Vossa Excelência propusera.

7 - Não houve continuidade nas negociações relativamente ao Estatuto Disciplinar.

B- Por acção.

1 - Foi publicado, contra a opinião da Ordem dos Médicos, um diploma sobre Convenção em Clínica Geral. (Port.ª 667 /90).

2 - Foi publicada a Portaria 425/90, que regulamenta o Processo de Formação Específica em Exerci­cio dos Médicos Clínicos Gerais da Carreira Médica de Clínica

Geral, sem que a Ordem tivesse sido ouvida.

3 - Foi publicado, contra a opinião da Ordem dos Médicos, um Diploma sobre o exercício de Clí­nica privada nos Hospitais Públi­cos (Despacho 14/90).

4 - Os pontos fundamentais de prin­cipio que apresentamos como crí­tica ao projecto sobre Pré�Car­reira (definição de áreas, curri­cula, idoneidades e regimes de trabalho) não foram tomados em conta na resposta desse Ministé­rio, que se cingiu a aspectos meramente acessórios e instru­mentais.

5 - Contrariamente ao que tinha sido requerido por esta Ordem, a pre­sidência dos Júris dos Concursos de provimento para os lugares de assistente manteve um carácter administrativo na linha da tutela e não técnico (Portaria 116/91) e, bem pelo contrário, alargou-se esse sistema aos concursos de provimento de Chefes de Serviço. (Port.ª 114/91).

Senhor Ministro, pensamos que os exemplos são suficientes. Os factos falam por si e afigura-se desnecessário adjectivá-los.

Aguardamos, com o maior em­penho, da parte de Vossa Excelência um esforço de convergência entre o discurso e a praxis objectiva.

Se assim não for, não poderemos por mais tempo deixar de fazer eco a profundo mal-estar existente nas estru­turas médicas e cuja expressão nos chega pelos mais variados canais, como com certeza também a Vossa Excelência.

Temos consciência do risco assu­mido para a nossa imagem junto da classe que representamos ao escolher a orientação referida no convencimento de que os assuntos se resolvessem a contento geral.

Não desejamos prolongar por muito mais tempo esta postura sob pena de sermos, justamente, acusados de laxismo e conivência pela Classe Médica, à qual sentimos obrigação de transmitir as reflexões que levamos neste momento à consideração de Vossa Excelência.

Com respeitosos cumprimentos, subscrevemo-nos com a mais elevada consideração

Pel'O Conselho Nacional Executivo

Page 14: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

DOSSIER

,

NESTE DOSSIER, OS RESUMOS DE ALGUMAS DAS COMUNICAÇÕES APRESENTADAS POR ESPECIALISTAS

DE DIVERSAS ÁREAS, NO TERCEIRO CONGRESSO INTERNACIONAL DE ÉTICA MÉDICA, UMA INICIATIVA

DA ORDEM DOS MÉDICOS DE FRANÇA.REALCE TAMBÉM PARA AS

CONCLUSÕES E PARA AS PALAVRAS DO DR. LOUIS RENE.

------------------- ORDEM DOS MÉDICOS 23

Page 15: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

DOSSIER

SESSÃO DE ENCERRAMENTO

Docteur Louis RENE PRESIDENTE DU CONSEIL

NATIONAL DE L'ORDRE DES

MEDECINS

Monsieur le Ministre Messieurs les Représentants des Ministres

Mesdames, Messieurs, Mes Chers Confrêres,

En écoutant les rapporteurs et tout au long de ces deux journées, nous avons tous pris conscience de la multi­plicité des problemes nouveaux que posent les progres de la médecine -mais en même temps de la difficulté de leur trouver une solution.

Les débats ont montré le conflit qui risque d'opposer les intérêts de la per­sonne aux contraintes sociales. Mais le respect de la personne, de sa dignité, de ses droits est-elle une problemati­que spécifique de l'éthique médicale?

Les institutions démocratiques n'ont-elles pas elles aussi à réaliser un équilibre toujours précaire entre liberté et égalité? Que l'on déplace cet équilibre (trop d'égalité au prix de la liberté par exemple), et survient l'écla­tement du corps social, ou même l'emprise autoritaire de l'Etat sur l'individu comme le soulignait déjà Maí'tre Maurice Garçon à un Congres de Chirurgie. Je me rappelle encore l'y avoir entendu dire : «Les citoyens ont droit à la protection de l'Etat, et l'Etat limite certains droits de l'individu au profit d'autres droits supérieurs de la collectivité».

Respect de la liberté d'autrui et pro­tection de la communauté.

Premier paradoxe de la médecine une mesure appliquée à un grand nom­bre profit à quelques uns et s'inscrit dans le long terme.

Deuxieme paradoxe : la santé varie selon les personnes, les lieux, les épo­ques, les cultures. Les principes tradi­tionnels de la morale médicale ne four­nissent pas de réponse.

24 - ORDEM DOS MÉDICOS

Premier paradoxe de la médecine : une mesure appliquée à un grand nombre profit à quelques uns et s'inscrit dans Je long terme. Deuxieme paradoxe : la santé varie selou les personnes, les lieux, les époques, les cultores. Les principes traditionnels de la morale médicale ne fournissent pas de réponse.

L'éthique médicale exprime les valeurs d'une civilisation, mais le niveau de développement des popula­tions interfere sur l'expression même de ces principes : les déclarations fon­damentales de Nuremberg, d'Helsinki et de Tokyo sur la morale médicale ont

été complétées à Manille pour être adaptées aux réalités de pays en voie de développement.

Au cours de ces journées, nou avons réalisé qu 'il ne saurait être ques­tion de donner des recettes qui permet­traient à chaque cas de trouver sa solu­tion. II est préférable de définir l 'esprit qui anime ceux qui ont à affronter ces redoutables défis. Et ce serait une illu­sion de croire que la science apportera inéluctablement la réponse à chaque situation concrete. De même, on ne peut rechercher la solution dans la voie suivie par ces états qui soumettent la médecine à leur volonté et qui dictent au médecin ses devoirs. Dans une série de voyages récents, j'ai pu constate� le désastre sanitaire engendré par une médecine d'Etat, omnipotente et ten­taculaire.

*

* *

Cependant, la sensiblerie, même sin­cere qui cache l'incompétence est dan­gereuse. II n'est de plus grand malhe pour un malade que d'avoir affaire à un médecin ignorant. Aucun progres ne sera obtenu si tous, quelles que soient nos fonctions nous ne croyons pas à la nécessité d'assurer une forma­tion initiale et continue scientifique, psychologique, éthique de qualitéi.·

Bien sfir, nous n 'avons pas abordé l'ensemble des questions qui se posent aux médecins et à la s·ociété. Mais nos sommes bien décidés à poursuivre la pratique des colloques inter-régionaux tels que nous en avons déjà organisés ces deux dernieres années.

Pourquoi ne pas appeler de nos voeux, à l'heure de l'Europe, d'autres congres que pourraient organiser nos confreres de la Communauté dans d'autres capitales européennes avec le même souci d 'approfondir notre réflexion éthique humaniste.

C'est le souhait que je forme à l'issue de ce Congres.

Page 16: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

DOSSIER

CONCLUSÕES Professeur Jacques DEBRAY,

· Médecin Honoraire des Hôpitaux,Professeur Emérite de la Facultéde Médecine de Paris Saint-Antoine.

La définition de Ia responsabilité dans l'exercise de la profession médi­cale correspond à celle que donne Ie Littré : I'obligation de répdndre de ses actes, d'en être le garant.

Elle s'engage à travers delix actions essentielles : l'établissement d'un dia­gnostic aussi _exact que possible et la

ise en oeuvre d'une thérapeutique efficace exigeant une connaissance précise et a_ctualisée des moyéns choisis en forfction de leurs meilleures indica­tions, mais aussi de leurs risques éven­tuels pour le patient, aussi bien dans le court terme que le long terme.

Cette responsabilité a concerné de tout temps le praticien appelé à pren­dre en charge des patients. Mais elle a depuis un demisiecle vu s'affirmer la diversité de ses aspects et s'alourdir son poids spécifique dans l'exercise de la profession.

Pour nous-même, quarante années d'exercice de cette responsabilité, tant dans le domaine Iibéral qu 'hospitalier, puis comme responsable et coordon­nateur d 'une équipe consacrée à la recherche clinique et thérapeutique ainsi qu'à l'enseignement, nous ont donné une position privilégiée pour la réflexion sur l'évolution des diverses formes de cette responsabilité médi-ale.

Ainsi, en cancérologie, nous avons assisté à la naissance puis au dévelop­pement _des nouvelles armes dans le traitement des cancers et des leucé­mies, au perfectionnement de leur coordination à l 'intérieur de stratégies de plus en plus élaborées. Nous avons apprécié leur efficacité, souvent au prix de risques calculés, parfois seule­ment révélés par le suivi à long terme de patients bien observés. Essais théra­peutiques contrôles ; introduction de la notion de randomisation ; nécessité croissante d'une information à la fois honnête et éclairée, mais également adaptée à la psychologie des patients et de leurs familles, ont particulierement parqué l'expression de la responsabi­lité médicale en ce domaine.

Les conflits fréquents entre la classi­que et respectable notion de secret médica! professionnel et les exigences d'une épidémiologie en pleine crois-

Pour nous-même, quarante années d' exercice de cette responsabilité, tant dans le domaine libéral qu'hospitalier, puis comme responsable et coordonnateur d'une équipe consacrée à la recherche clinique et thérapeutique ainsi qu'à l'enseignement, nous ont donné une position privilégiée pour la réflexion sur l'évolution des diverses formes de cette responsabilité médicale.

sance, sous la surveillance attentive de la «commission informatique et liber­tés», ont exigé du médecin ces dernie­res décennies, en même temps que des connaissances sans cesse réactualisées dans le domaine de son exercise, une prise de conscience des demandes accrues des patients, des familles et de la société pour l'obtention des meil­leurs résultats aux moindres risques.

La guenson de maladies constam­ment mortelles voici cinquante ans (certains cancers et leucémies, endo­cardites malignes, méningites tubercu­leuses, ... ) n'a pas été réalisée sans tátonnements, échecs compris et analysés avant d'être surmontés. Le public n'en a pas toujours conscience.

Cependant son information dans le domaine des sciences biologiques fon­damentales et des succes thérapeuti­ques les plus marquants, est en cons­tant développement, support d'une exigence accrue d'amélioration de ces éventuels états pathologiques et de guérison, si possible au moindre ris­que.

Ainsi s'explique, au moins en partie, l'augmentation réguliere des plaintes, recours en justice, justifiés ou non.

Simultanément les découvertes bio­logiq ues les plus fondamentales, notamment grâce à la génétique, à l'immunologie, à la bielogie molécu­laire, permettant une extension des greffes d'organes et les développe­ments des grossesses médicalement assistées sous différents aspects, ouvrent des horizons chargés d'inter­rogations auxquelles le scientifique, le médecin ne peuvent répondre seuls, car ils impliquent pour certains d'entre eux un minimum d'accord sur la défi­nition de la vie, la nature de l'homme, l'éventuelle limitation du pouvoir scientifique et parfois de véritables choix de société.

Ainsi l 'heureuse formulation de Monsieur Jean Bernard : «nouveaux pouvoirs de la science - nouveaux espoirs de l'homme» a-t-elle comme corollaire que la responsabilité médi­cale n 'appartient plus exclusivement aux médecins, mais ceux-ci demeurent et demeureront toujours les plus con­cernés, renvoyés dans les cas extrêmes à leur conscience professionnelle.

Ces notions, ces problemes, doivent de plus en plus être exposés et discutés tres tôt dans la formation des futurs médecins.

Le but de cette table ronde, en con­frontant des réflexions nées de «postes d'observation» divers et privilégiés, est d'aider à une meilleure compréhension des points de vue, préalable et indis­pensable à l'établissement de consen­sus raisonnables dans les problemes les plus difficiles.

ORDEM DOS MÉDICOS - 25

Page 17: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

DOSSIER

EPIDÉMIOLOGIE DE LA DQULEUR ET ÉTHIQUE MEDICALE Docteur Jan STJERNSWARD,

Chef de I'Unité du Cancer et des Soins Palliatifs, OMS - GENEVE.

Plus de 50 millions d'être humains meurent chague année dans Ie monde. D'apres une étude faite au Royaume­Uni, la douleur est le symptôme somi­nant. Ce qui est fait pour soulager la douleur chez les cancéreux peut servir de modele, montrant ce que l'on peut faire et aussi Jes obstacles qui expli­quent pourquoi cela n'a pas été fait.

Le cancer est un probleme mondial de premiere importance. Chague année, environ 7 millions de nouveaux cas sont diagnostiqués, dont la moitié dans les pays en développement, et 5 millions environ de malades meurent. Les données de prévalence indiquent qu'il y a actuellement environ 14 mil­lions de sujets atteints d 'un cancer.

Dans les pays développés, 670/o des hommes atteints d'un cancer et 600/o des femmes mourront de leur maladie ; dans les pays en développement, les chiffres sont beaucoup plus élévés. Des huit formes Jes plus fréquentes de cancer, cinq dominent dans Jes pays en développement. Même si le diagnostic est posé à un stade précoce, Je traite­ment n'est curatif que dans trois types de cancer ; les soins palliatifs sont nécessaires dans l'ensemble des huit formes.

Entre 300/o et 500/o des cancéreux souffrent d'une douleur ou sont traités pour cette derniere. On estime égale­ment qu'au bas mot 4 millions de per­sonnes souffrent actuellement d 'un douleur cancéreuse, avec ou sans trai­tement satisfaisant. La douleur est de plus en plus fréquente à mesure que la maladie progresse. De nombreuses publications montrent que la douleur cancéreuse est souvent insuffisamment traitée. Une analyse de 12 enquêtes couvrant pres de 2.600 malades dans les pays développés laisse à penser que plus de 500/o des malades souffrent d'une douleur non traitée. On ne dis­pose pas d'estimations concernant le traitement de la douleur cancéreuse dans les pays en développement.

Si les tendances actuelles persistent, il faut s'attendre à ce que la mortalité due au cancer augmente dans presque toutes les régions du monde. Les prin-

26 - ORDEM DOS MÉDICOS

cipales raisons en sont une augmenta­tion générale de la moyenne d'âge de la population mondiale, les succes remportés dans la lutte contre les autres problemes de santé et un usage accru du tabac. La consommation de tabac est en augmentation de plus de 20/o par an dans les pays en développe­ment. En l'an 2000, il est vraisembla­ble qu 'il y aura 1,5 million de cas sup­plémentaires de cancer du poumon chague année, par suite de J'augmen­tation de l'usage du tabac, et 900/o de ces malades seront incurables.

Une três bonne amélioration de la qualité de vie des cancéreux et de leurs familles peut être obtenue par I'application des connaissances existantes sur la lutte contre la douleur et les autres symptômes.

Une tres bonne amélioration de la qualité de vie des cancéreux et de leurs familles peut être obtenue par l'appli­cation des connaissances existantes sur la lutte contre la douleur et les autres symptômes. A l'échelon mondial, cependant, les soins palliatifs sont encore un domaine négligé et, de ce fait, plusieurs millions de cancéreux souffrent chague jour inutilement.

Bien que plus de la moitié des cancé­reux vivent dans les pays en développe­ment, moins de 100/o des ressources destinées à la lutte contre le cancer leur sont destinées.

Bien qu'ils soient la seule option réaliste pour la majorité des cancé-

reux, les soins palliatifs ne reçoivent qu'une faible part des ressources dis­ponibles pour la lutte contre le cancer. La plus grande partie est destinée au traitement curatif, d'un coiit relative­ment élévé pour des effets limités. De plus, il n'y a généralement que peu ou pas de formation du personnel sani­taire à ce type de soins. La qualité de vie et le confort avant la mort pour­raient être considérablement améliorés si l'on appliquait les connaissance actuelles sur les soins palliatifs, con­naissances qui sont trop souvent igno­rées ou considérées comme une «solu­tion bonne pour la corbeille à papiern. Tout au contraire, les soins palliatifs devraient être considérés, aussi bien dans les pays développés que dans les pa.ys en développement, comme fai­sant partie intégrant du traitement du cancer. Les soins curatifs et les soins palliatifs ne s'excluent pas mutuelle­ment mais, pour la plupart des cancé­reux, aucun traitement curat if n'existe. La qualité de vie chez ces malades serait grandement améliorée s'ils pouvaient recevoir des soins pal­liatifs pendant toute l'évolution de leur maladie.

Le fait que seule une minorité de patients atteints de cancer bénéficient du soulagement de leur douleur -bien qu 'il existe pour cela une méthode à la fois simple et peu coiiteuse - pose plusieurs problemes d'éthique.

lls concernent l'équité dans l'utilisa­tion des ressources qui, nous le savons, sont tres limitées ; l'usage discutable de moyens permettant de lutter contre le cancer (thérapeutiques «agressives» ; l'éthique des traitements visant à pro­longer la vie (norme : la volonté du malade, principes de proportion, d'équivalence, de relativité) ; enfin l'euthanasie.

La mise en application des recom­mandations faites dans ce domaine par l'Organisation Mondiale de la Santé, pourrait avoir des conséquences consi­dérables sur la qualité de vie des cancé­reux et de leurs familles. Cela ne néces­siterait pas de tres gros moyens finan­ciers, mais un engagement politique sérieux et une autorité responsable. < 1 >

O) Traitement de la douleur cancéreuse et soins palliatifs - Rapport d'un Comité d'experts de l'OMS. Série de rapports technique 804. Organisation Mondiale de la Santé. Genêve, 1990.

Page 18: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

DOSSIER

NOUVELLES RESPONSABILITÉS DE L'HOPITAL PUBLIC Madame Claudine ESPER,

Directeur des Affaires Juridiques, Assistance Publique, Hôpitaux de PARIS

Depuis de nombreuses · années, Ia responsabilité des hôpitaux publics est engagée lorsqu 'une faute est établie à leur encontre par Ie malade ou par sa famille. Cela peut être une faute Iourde, particulierement grave, si un acte médica) est en cause ; il suffit d'une faute simple lorsqu'il s'agit d'un acte de soins ou encore d 'un acte rele­vant de I'organisation ou du fonction­nement du service. Dans toutes ces hypotheses, !e requêrant doit prouver la faute, !e dommage qu'il a subi de ce fait, !e lien de causalité entre la faute et !e préjudice.

Les juridictions administratives,depuis de nombreuses années égale­men t, atténuent cette obligationIorsqu'il y a une disproportion inac­ceptable entre !e motif de l'hospitalisa­tion et les conséquences réelles decelle-ci. Un malade est entré à l 'hôpitalpour une intervention courante oubénigne. II en sort atteint d'un dom­mage irréversible. Selon les cas, Ia juri­diction déduit la faute ou !e lien decausalité des circonstances de l'espece.

Ces orientations, bien connues detous les praticiens sont remises encause par plusieurs décisions récentes.

Deux domaines doivent être men­tionnés.

1) L'infection à I'hôpital.

Pour Ia premiere fois, par un arrêtdu 9 décembre 1988, le Conseil d'Etat a condamné I'hôpital public, en l 'occurrence l 'Assistance Publique -Hôpitaux de Paris, en présumant la faute à l'occasion d'une infection dont un malade a été atteint lors d 'une hos­pitalisation (aff. Cohen).

Cette jurisprudence entre mainte­nant en application courante.

2) La technique nouvelle.

Tres récemment, !e 20 décembre1990, la Cour administrative d'appel de Lyon a condamné I'hôpital public à l'occasion d'une intervention chirurgi­cale concernant une déviation osseuse. Les praticiens avaient fait usage d'une méthode nouvelle, dont tous Ies élé-

28 - ORDEM DOS MÉDICOS

ments n'étaient pas encore connus à la date de l'intervention. Se fondant sur Ie risque anormal subi par !e malade traité ainsi, la juridiction administra­tive a condamné l'hôpital en I'absence de faute, sur la seule base du risque.

Les juridictions administratives, depuis de nombreuses années également, atténuent cette obligation lorsqu'il y a une disproportion inacceptable entre Ie motif de I'hospitalisation et Ies conséquences réelles de celle-ci.

Jusqu'alors, cette notion de risque n'avait été utilisée qu'exceptionnelle­ment en droit public de Ia santé. Elle est ainsi appliquée à un domaine d'activité courant de l'hôpital.

Ces orientations se cumulent avec les dispositions récentes de la loi sur Ia recherche biomédicale, dite loi Huriet, du 20 décembre 1988, dont Ies textes d'application sont en cours de paru­tion.

Bouleversant l'ordre établi des com­pétences et attribuant Ies litiges rele­vant de ce secteur d'activité aux juri­dictions de l'ordre judiciaire, ce texte régit de Ia maniere suivante Ia respon­sabilité de I'hôpital public, lorsqu'il est promoteur.

Si la recherche présente un bénéfice direct pour celui sur leque) elle est pra­tiquée, il y a présomption de responsa­bilité à !'encontre du promoteur en cas de dommages ; si cette recherche ne présente aucun bénéfice direct pour Ie sujet qui Ia supporte, tout dommage est réparé par !e promoteur, même en l'absence de faute, sur_Ia seule base du risque.

A ce jour, en présence de cette évo­lution tant jurisprudentielle que légis­lative, diverses questions se posent.

- Cette orientation, manifestementprotectrice du malade, rend essentielle la distinction entre acte de soins et acte de recherche ? Mais ou est exactement la frontiere ?

II n 'est plus de l'intérêt des hôpitaux publics de qualifier indfiment un acte «d'acte de recherche». Au contraire, !e malade peut y être enclin, étant tres protégé en ce cas par !e cumul de Ia jurisprudence Gomez et de la loi sur la recherche.

Au moment ou les hôpitaux accom­plissent, par la recherche, des progres techniques considérables, il ne con­vient pas, par des incertitudes juridi­ques de nature à soulever les craintes des praticiens, de freiner ces progres. Le Conseil d'etat, distinguant l'acte médica! de l'acte de soins, d'organisa­tion ou de fonctionnement, a toujours été soucieux de ne pas entraver l"é_volu­tion technique. Revient-on actuelle ment sur cette tendance en faisant peser sur !e budget des hôpitaux des condamnations quelquefois tres lour­des ?

- La situation actuelle pose demaniere aigue la question suivante.

Le progres bénéficie en premier lieu à ceux qui sont hospitalisés. Convient­il de faie supporter à ces malades une frange de risque, liée à l'aléa d'une thérapie, notamment lorsqu'elle est nouvelle ? Ou au contraire la collecti­vité, qui finance déjà Ie progres médi­ca!, doit elle également couvrir cet aléa et intervenir en cas de dommage par !e biais de la sécurité sociale et du budget des hôpitaux ? Une solution d'assu­rance individuelle peut s'opposer dans cette hypothese à une action de solida­rité collective.

A un moment ou les pouvoirs publics sont soucieux du financement de la santé publique, la réponse à cette question n'est pas neutre.

Page 19: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

DOSSIER • SOINS PALLIATIFS OU CURATIFS:

LES GUIDES À LA DÉCISION Professeur Robert ZITTOUN,

Chef de Service d'Hématologie de I'Hôtel-Dieu de PARIS.

Les soins palliatifs peuvent être opposés aux traitements à visée cura­tive de Ia médecine moderne sur tous les plans : Ies objectifs en sont la pré­servation de Ia qualité de vie et de la personnalité à l'aide d'une approche essentiellement clinique, pluri-discipli­naire, ayant comme finalité l 'être umain dans son environnement natu-1 et familial. Les traitements à visée

curative sont au contraire orientés vers Ia guérison, Ia prolongation de la durée de vie, Ia réparation d'organes défaillants à l 'aide de méthodes médico-techniques de plus en plus spé­cialisées ; cette orientation conduit à considérer toute mort comme un échec. L'opposition palliatif-curatif est cependant souvent simpliste et d'ordre philosophique alars que la pratique médicale montre qu'il y a un continuum et des transitions entre soins curatifs, palliatifs et de phase ter­minale. II apparait nécessaire égale­ment d'insérer Ies soins palliatifs, et notamment la prévention de Ia douleur et le soutien psycho-social, dans toute démarche curative.

La médecine à visée curative est cependant tellement dynamique qu'elle en vient couramment à préférer ses propres finalités à celles de l 'indi-idu souffrant, et qu'il devient néces­aire, à certaine phase de Ia maladie,

de «changer de registre ou d'orbite». A ne pas opérer un tel changement qualitatif, on risque de procéder à des investigations et traitements inutiles aggravant Ia souffrance des patients, et également des familles et des soi­gnants.

La décision médicale de recourir à des soins palliatifs au Iieu de traite­ments à visée curative ou d'essais clini­ques expérimentaux doit reposer sur l'analyse des probabilités découlant de chaque option et sur I'appréciation des divers résultats possibles, en tenant compte des valeurs de l'individu malade. Les conditions d'une décision médicale adéquate sont I 'établissement d 'un pronostic correct, reposant sur I'évolution de la maladie et l'apprécia­tion de l'état somatique actuel, et, d'autre part, une bonne communica­tion avec Ie patient permettant, si pos­sible, sa participation aux choix.

L'information du patient sur Ies diffé­rentes options possibles est inséparable d'une écoute de son dire, de sa souf­france, et de ses désirs, d'une analyse de ses réactions psychologiques -no­tamment du degré de déni ou d'accep­tation de Ia situation - La décision, reposant sur l'ensemble de ces élé­ments, doit en ontre tenir compte des préférences des différents partenaires de l 'environnement familial et soi­gnant.

LES SOINS PALLIATIFS À DOMICILE

Professor Vittorio VENTAFRIDDA,

Chef de la Division de Soins Palliatifs, Institut National du Cancer, Milan - ITALIE.

L 'usage approprié de ressources limitées est l'un des principes de l'éthi­que des soins palliatifs. C'est dans ce contexte qu 'il faut considérer I 'inter­vention à domicile en faveur des mala­des cancéreux en phase terminale, représentant 700"/o des cas. L'hospitali­sation ne correspond pas aux besoins psycho-sociaux du malade et une grande partie des possibilités technolo­giques d 'intervention clinique peut être effectuée à domicile.

Actuellement Ies ressources budgé­taires sont concentrées dans le secteur des thérapeutiques contre Ie cancer effectuées en milieu hospitalier et ceei entraine dans bien des cas un gaspil­lage inutile d'agents thérapeutiques.

Des recherches effectuées dans ce but ont prouvé que les malades de can­cer et les grands malades en phase ter­minale préferent généralement se faire soigner à domicile.

L'intervention à domicile se base sur le soutien du malade et de sa famille jusqu'au moment du déces et pendant la phase de deuil qui s'ensuit.

Les modalités d 'intervention peu­vent être les suivants :

- soit une équipe de soins palliatifs del'hôpital, reliée à une équiped'intervention à· domicile agissantsous sa responsabilité et composée

·par des médecins, des infirmiers,une assistante sociale, un psycholo­gue, des bénévoles,

- soit une équipe autonome collabo­rant avec les institutions publiquesou avec le médecin de famille.

La famille est le pivot de l'interven­tion à domicile et doit être préparée à son rôle de membre de l'équipe théra­peutique.

Le domicile doit être adapté aux besoins du malade et il faut y installer le nécessaire (lit, matelas, fauteuil rou­lant, objects de toilette ... ). II faut éga­lement prévoir des moyens de commu­nication rapides entre le domicile et le centre de soins palliatifs ainsi que l 'intensification des interventions au cours des derniers jours de vie du malade, ceei aussi bien en ce qui con­cerne les soins au malade que le sou­tien de la famille. Pendant cette période le contrôle des symptômes doit être encare plus attentif de façon à ce que l'exitus ait lieu sans souffrance. Le rapport du temps consacré par les soi­gnants à un malade est de 1 pour le médecin de 3 pour les infirmiers, de 6 pour les bénévoles. L'unité de l'équipe et de la famille est indispensable. Des recherches ont démontré l'améliora­tion de la qualité de vie des malades traités à domicile par rapport aux malades soignés à l'hôpital. En ce qui concerne la question financiere, il est prouvé que l 'intervention à domicile est bien moins couteuse que l'interven­tion hospitaliere.

ORDEM DOS MÉDICOS - 29

Page 20: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

• �

o

DOSSIER

,

EVOLUATION ET DONNEES

ACTUELLES DE LA SCIENCE

Monsieur Michel OLIVIER,

Conseiller Honoraire à la Cour

de Cassation.

Ma participation à cette table ronde consacrée à l'évaluation et la pratique médicale, a pour titre «Evaluation et données actuelles de la science». D'aucuns d'entre vous vont peut-être pouvoir s'étonner de voir ce sujet d'ordre essentiellement médica!, traité par !e magistral que je suis et dont les connaissances en ce domaine, acquises pendant un quart de siecle aupres des médecins au travers des problemes que leur posent l'expertise comme aussi la réparation du préjudice corporel, mes connaissances ne sont que rudimentai­res et limitées.

Que! peut donc être l'apport du juriste dans !e domaine de l'évaluation et de la qualité des soins dispensés par !e corps médica!.

A bien y réfléchir, je veux l'entre­voir dans la recherche d 'une approched'une part du fondement comme leslimites juridiques des divers organis­mes et individualités maintenant encharge de J'évaluation méaicale,d'autre part des solutions judiciairesqui peuvent être trouvées aux contesta­tions qui éventuellement, risquentd'être Jevées à !'encontre, sinon de cette action, du moins de ses consé­quances dans ses rapports avec lanotion de «données actuelles de lascience».

Ce sont ces deux points que je vaismaintenant m 'efforcer de soulignerdans les brefs moments qui me sontimpartis.

Je voudrais tout d'abord, dans !ecadre contractuel qui pour !e juristedéfinit l'acte médica!, et dont les deuxcocontractants sont !e praticien d 'unepart, !e patient d'autre part, rappeleraux dispositions du décret Nº 79.506

· du 28 jun 1979 portant code de déon­tologie médicale. Ils justifient en effetjuridiquement l'évaluation des soins eten fixent les limites.

C'est tout d'abord l'article 34 qui,ai-je besoin de vous !e rappeler, dis­pose : «Des Jors qu 'il a accepté de répondre à une demande !e médecins'engage à assurer personnellement àson malade, des soins consciencieux etdévoués», ce à quoi il pourrait ajouter

30 - ORDEM DOS MÉDICOS

«et conformes aux données actuelles de la science» pour reprendre la for­mule constamment reprise par la juris­prudence, notamment en matiere de responsabilité médicale.

D'autre part, l'article 9 du même code qui, dans son alinéa 2, précise que dans toute la mesure compatible avec l'efficacité des soins et sans négli­ger son devoir d'assistance morale, il doit limiter ses prescriptions et ses actes à ce qui est nécessaire.

Aussi, et en dehors de tout aspect économique et collectif, se trouve déli­mitée et fondée J'évaluation médicale qui, ainsi qÚ'a bien voulu !e dire Mon­sieur !e Professeur MATILLON, notamment dans son exposé introduc­tif «es(.au quotidien l'apprentissage et la mise en pratique d'un esprit d'éva­Juation qui n'est qu'une forme actuelle mieux structurée, mieux organisée à un art de décider en médecin. Etant entendu que l'évaluation n'est pas un contrôle mais la recherche d'une qua­lité de soins.

Le praticien est donc, de par les tex­tes législatifs, soumis à la double obli­gation de dispenser tous les soins nécessaires à l'état de son patient mais seulement ceux qui !e sont eu égard aux données actuelles de la science.

Mais pour répondre à cette double exigence, reconnaissons que la tâche du médecin n'est pas aisée du fait, en particulier, ainsi qu 'il a été précisé, «du nombre et de la complexité tou­jours croissante des techniques médi­cales aujourd'hui disponibles».

Pour leur permettre d'effectuer des choix pertinents en matiere d'investi­gations diagnostiques comme de théra­peutiques, les médecins ont à leur dis­position, il et vrai dans une mesure encore restreinte, les moyens mis en oeuvre par l'Agence Nationale pour !e Développement de l'Evaluation Médi­cale, notamment Jes conférences de consensus qui dans les conditions que vous savez, émettent des recommanda­tions.

II n'appartient pas au juriste de por­ter un jugement sur la valeur de ces recommandations de nature médicale ; il serait totalement incompétent. II ris­que cependant d'être amené à se poser la question de savoir quelle est au plan juridique leur autorité.

On peut penser qu'elles vont s'imposer aux praticiens en raison même des conditions de fiabilité dans Jesquelles elles sont prises. Mais quelle sera Jeur autorité vis-à-vis des tiers ? Qu 'adviendra-t-il en particulier lorsqu'un patient estime que, Jes elé­ments du diagnostic porté ou la théra­peutique recommandée ne sont pas conformes à l'exigence jurispruden­cielle des données actuelles de 1 science, et qu'il prétend que de ce fait il a été victime au moins d 'une perte de chance et donc a subi un préjudice.

Force sera alors à l'assureur ou au juge saisi de recourir à une mesure d'instruction, à une expertise. Mais en l' état actuel les listes d 'experts judiciai­res ou privés ne comportent ni rubri­que, ni experts inscrits.

II faudra donc trouver des candidats et surtout les former à cette discipline nouvelle qu'est l'évaluation médicale et la qualité des soins. II y a !à un aspect nouveau de la collaboration nécessaire entre juriste et médecin en vue de résoudre Jes problemes relative­ment fréquents que pose la mise en cause de la responsabilité médicale.

Notons à ce propos dans !e cadre de l'organisation des structures et des méthodes de travai! des conférences de consensus, qu'il est prévu que des experts seront choisis par !e comit · d'organisation. Mais il est évident qu ceux-ci ne pourraient en cas de conten­tieux être désignés pour Jes affaires dans lesquelles ils auraient donné leur avis à la conférence.

Tels sont tres brievement exposés mais avec l'espoir qu'ils pourront pro­voquer de plus longs débats Jes élé­ments que !e juriste pourrait apporter comme contribution aux travaux de cette table ronde.

Je demeure convaincu que les diffi­cultés tenant à la contestation des soins prodigués, vont être réelles n'en n'auront pas moins qu'un caractere tres marginal compte tenu des condi­tions tres rigoureuses et parfaitement fiables dans lesquelles vont fonction­ner les conférences de consensus char­gées, est-il besoin de !e rappler, de définir une position dans une contro­verse portant sur une procédure médi­cale dans !e but d'améliorer sa prati­que médicale.

Page 21: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

DOSSIER

RESPONSABILITÉ MÉDICALE:. L'ÉTAT DES LIEUX Maitre Catherine PALEY-VINCENT,

Avocat au Barreau de PARIS, Membre du Consei de l'Ordre des Avocats à la Cour d'Appel de PARIS, Ancien Secrétaire de la Conférence.

Le rapport qui s'instanre entre !e médecin et !e malade est intrinseque­ment inégal, mais tempéré par un nou­veau «risque du métier» : la mise en cause d 'une responsabilité médicale. Véritable «habit d 'Arlequin», elle répond à des principes de droit et à des compétences juridictionnelles diffé­rentes selon l'exercise professionnel du praticien incriminé.

Elle s'articule autour d'une trilogie: la faute, qu'elle soit technique ou liée àun manque d'humanisme, !e dommage qui en résulte et le lien de causalité nécessaire entre eux pour fonder une condamnation.

LA RESPONSABILITE CIVILE

Jugée par les Tribunaux civils, elle concerne les médecins dans leur exer­cice privé. Liés à leur patient par un contrat de soins, ils sont tenus d'une · obligation de moyens consistant, non à garantir un résultat, mais à offrir des soins consciencieux, attentifs, pru­dents et conformes aux données actuelles de la science médicale.

A cette obligation technique s'ajoute !e devoir d'informer pour

obtenir un consentement éclairé du patient.

Tout manquement, mêine minime, peut donner lieu à indemnisation.

Si !e lien de causalité entre faute et préjudice ne peut être établi avec certi­tude, une réparation peut être allouée suivant !e critere de la «perte de chance» : par faute du médecin, !e malade n'a pas bénéficié de toutes ses chances de guérison ou de survie.

L'assureur du médecin supporte !e coiit des condamnations pécuniaires prononcées contre !ui.

LA RESPONSABILITE ADMINISTRATIVE

Relevant des regles du droit public et de la seule compétence des Tribu­naux admínistratifs (en appel, du Con­seil d 'Etat), elle est une répouse à l'usager du service public qui est en droit d'en attendre un bon fonctionne­ment.

Sauf faute détachable de tout lien avec !e service, !e médecin n'est pas personnellement responsable. L'admi­nistration fait écran entre !ui et !e malade. Elle répond pour !ui de la défaillance du service public,

- pour une faute lourde, s'il s'agitd'un acte médical justifiant l'inter­vention personnelle du médecin ouexécuté sous son contrôle et sa sur­veillance,

- pour une faute simple concernant

un acte de soins ou de fonctionne­ment.

LA RESPONSABILITE PENALE

Evoquée devant les Tribunaux répressifs, elle concerne tout praticien, qu 'il exerce en public ou en privé. Elle s'appuie sur les dispositions du Code Pénal qui prévoient et répriment la maladresse, l'imprudence, l'inatten­tion, la négligence et !e non-respect des lois et des reglements. Outre l'indem­nisation financiere du dommage qui demeure à la charge de l'assureur ou de l'administration, elle donne lieu des condamnations personnelles, pe1 nes d'emprisonnement et d'amende figurant au casier judiciaire.

D 'acces ais é (il suffit de porter plainte au commissariat !e plus proche), peu coiiteuse (l'avocat n'est pas nécessaire, les frais d'expertise sont avancés par l'Etat), efficace (!e dossier médica! est immédiatement saisi) et médiatique (l 'inculpation fait grand bruit et le non-lieu passe sous silence), la procédure pénale demeure trop fréquente.

LA RESPONSABILITE DISCIPLINAIRE

Quelle que soit la nature de la res­ponsabilité juridique qui peut être mise en cause, le comportement d'un médecin peut être incriminé devant les juridictions ordinaires s'il est contraire aux regles de la Déontologie médicale.

PARLER DE LA MORT AVEC LE MALADE Professeur René SCHAERER,

Chef de Service d'Oncologie Médicale, Professeur Agrégé, Hôpital des Sablons, Grenoble.

II y a une différence entre informer un patient de son diagnostic ou de son traitement et l'informer de sa mort possible ou inéluctable. L'expérience clinique et la littérature publiée per­mettent de discuter ce point et de mon­trer que l'espoir comme fonction psychologique indispensable à la qua­lité de la vie doit toujours être préservé laissant la possibilité au malade de res­ter un «être de désir». A l'inverse, l'annonce d'une mort inéluctable con­tient selon des observations psycha­nalytiques, une violence que le malade n'a ni souhaitée, ni même pu imaginer.

32 - ORDEM DOS MÉDICOS

Toutefois, sans formuler un pronostic fatal, !e médecin répondra aux attentes de son malade en !e laissant lui-même parler de sa mort dans les termes et au moment qu'il choisit, en l'aidant à

préciser ses reperes et ses besoins, à

exprimer ses craintes et son espoir, à poursuivre sa quête spirituelleó Les fondements éthiques d'une telle atti­tude doivent dépasser la lecture des sondages d 'opinion, généralement

· favorables à «la vérité» mais qui netiennent pas compte de la concrétudeclinique. En France, le code de déon­tologie conseille de révéler «un pro­nostic fatal qu'avec la plus grande cir­conspection», la référence éthique ducode de déontologie et de ses commen­tateus est généralement 1 'intéret dumalade. L'Association Médicale Mon-

diale, dans ses déclarations, se réfere de façon plus générale aux «droits de l'homme» : dans cette perspective, la «liberté de toute personne humaine» serait un argument de poids pour piai­der en faveur du droit à connaí'tre tout ce qui la concerne, y compris l'appro­che de sa mort ; inversement le «droit à la santé» impose qu'on réfléchisse à l'aggravation des conditions de vie que peut provoquer l'annonce d'un pro­nostic fatal. Ainsi, c'est le respect de la personne humaine malade en ce qu'elle a d'unique, de personnel, de non généralisable, mais aussi de tou­jours semblable aux bien portants, qui doit conduire à l'attitude que nous proposons : une attitude qui n 'est ni «la vérité», ni son contraire, mais celle de l'écoute et de l'accompagnement.

A

G

E

A

Page 22: Ordem dos Médicos – Portal Oficial · sobre o valor de certas decisões escla recidas e outras. Por exemplo: dia gnostica-se com os actuais métodos sofisticados uma grave anomalia

• DOSSIER

SECRET MÉDICAL ET INFORMATIQUE Madame Louise CADOUX,

Vice-Président Délégué de la Commission Nationale de l'lnformatique et des Libertés.

SECRET MEDICAL : Définition donnée par la jurisprudence de I'arti­cle 378 du Code pénal. Principe juridi­que de base : sont tenues au secret médica! Ies personnes ne participant pas directement à la thérapeutique du patient.

Assouplissement du principe: secret médica! partagé.

Le principe est, dans Ies faits, mis à mal:

- du fait de l'organisation des soins,notamment dans le secteur public :multiplicité des intervenants, parti­cipation du personnel administratifà la gestion des dossiers, missiond 'enseignement du secteur publichospitalier ;

- du fait de I'introduction des tech­nologies nouvelles de l'informa­tion : micro-informatique, réseaux,utilisation du minitel permettantd'accumuler des données médicalessur Ies patients, de Ies copier, de lesfaire circuler, d'ou dilution des res­ponsabilités ;

- du fait du désir, légitime, des Cais­ses de Sécurité Sociale de maitriserIes dépenses de santé; projet d'affi­nement du codage des actes biologi­ques, certains codages étant révéla­teurs de la maladie des assurés ;

- du fait de Ia curiosité, moins légi­time, des assureurs : cf fichier de200.000 noms dits des risquesaggravés montés par Ies compa­gnies d'assurances ;

- du fait de la propension desemployeurs, à I'occasion del 'embauche, de «proposer» destests de dépistage de certaines mala­dies (Sida) ;

- du fait des recherches médicales,surtout des recherches épidémiolo­giques qui s'appuient sur desréseaux d'informateurs médicaux,des transferts de données en dehorsde Ia sphere des intervenants médi­caux participant aux soins directsdes malades, tout en conservant uncaractere au moins indirectementnominatif des données.

SOLUTIONS PRECONISEES PAR LA CNIL:

- Affirmation du principe selonleque!, même s'il n'est pas expressé­ment mentionné dans Ia loi du 6 jan-

34 - ORDEM DOS MÉDICOS

vier 1978 qui l'a créée, la CNIL a la compétence pour en assurer le respect, comme de toute autre disposition législative garantissant !e respect de la vie privée et de l'intimité de la per­sonne humaine ;

- Position de principe hostile, endehors d'une position claire du législa­teur, à admettre des dérogations de fait : position de la CNIL dans le domaine de la recherche épidémiologi­que (délibération de février 1985), en face du projet de codage des actes bio­logiques ; rappels fréquents que les données médicales ne doivent être transmises ni aux employeurs, ni aux assureurs ;

- Suppression, grâce à la CNIL, dufichier des risques aggravés ;

- Recommandations tendant àassurer la confidentialité des données médicales :

• séparation des traitements de don­nées administratives et de donnéesmédicales dans les hôpitaux ;

• utilisation, pour la recherche épi­démiologique, de microordina­teurs autonomes dédiés à I'appli­cation ;

• méfiance à l'égard des réseaux ;• utilisation de procédures de

cryptage de données ;• utilisation d'algorithmes d'anony­

misation de données ;• contrôle des acces : mots de passe,

cartes à mémoire ;• procédures particulieres lors d�

l'emploi de minitels.

ÉTHIQUES DE L'ÉCONOMIE ET ÉCONOMIE DE L'ÉTHIQUE: LES CHOIS IMPLICITES

Monsieur Jean-Paul MOAITI,

Economiste à l'INSERM, Unité 240 «Evaluation des risques et des actions de prévention», Hôpital Bicêtre.

La traditionnelle opposition entre éthique médicale et approche écono­mique nous semble entretenir une dou­ble confusion : elle ignore que des choix, en apparence techniques, dans la mesure économique peuvent recou­vrir des choix de valeurs fondamenta­les (- par ex. le choix d'un taux d'actualisation, variable qui permet de comparer les couts et des avantages intervenant à différents moments du temps peut renvoyer à des arbitrages tres différents entre le présent et le futur, voire entre générations) ; elle ignore également que nombre de pro­blemes qui relevent de l'éthique médi­cale (ex. qui doit avoir acces au dia­gnostic prénatal des maladies généti­ques ? comment traiter des patients au stade terminal ? faut-il déclencher une intervention néonatale sur des préma­turés de três faible poids de naissance ? ... ) reviennent, en pratique, à fixer des seuils dans l'allocation des ressour­ces collectives à telle ou telle action médicale.

De façon quelque peu provocatrice, on développera également l 'idée que la légitime importance accordée à l'éthi­que et à la déontologie dans l'exercise

médica! a une racine profondément économique. C'est l'impossibilité structurelle de réguler la production de soins par !e marché (à la différence de la plupart des activités de fourniture de biens et services) qi explique la spécifi­cité de la relation médecin/malade.

Au travers de divers exemples con­crets, on montrera cependant que la rationalité économique visant à utiliser au mieux les ressources collectives e• l'exigence éthique de faire tout ce qu peut aller dans le sens de l 'intérêt du patient individuei peuvent souvent s'avérer convergentes. Une contradic­tion éventuelle n 'intervient que dans les circonstances ou une dépense sup­plémentaire n'est susceptible d'appor­ter qu 'un bénéfice individuei Iimité alors que les ressources ainsi sacrifiées pourraient être utilisées de façon plus efficace pour d'autres individus. Dans ce cas, l'approche économique ne doit pas dicter autoritairement la décision mais aider à rendre plus transparents et sujets à débat les choix implicites qui se pratiquent quotidiennement dans notre systeme de soins (et qui révelent par ex. qu'on dépense trois fois plus de ressources par la mise sous dialyse pour gagner une même année de vie «ajustée sur la qualité» que par trans­plantation cardiaque et dix fois plus que par le dépistage et le traitement médica! précoce de l'HTA).