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Comercializar os produtos da agricultura familiar em espaço próprio e toda semana não é mais uma realidade distante para os agricultores familiares dos municípios de Jacobina, Miguel Calmon e Serrolândia, do Território do Piemonte da Diamantina, na Bahia. Desde o ano de 2003 esta prática vem se tornando frequente na região e com isto garantindo a pequenos agricultores inserção no mercado local. Eles garantem em média 800 reais por mês e com isto uma segurança a mais para continuarem produzindo de forma orgânica. Primeiro, foram os agricultores de Jacobina, depois os de Miguel Calmon e, recentemente, os de Serrolândia. Além destes, mais dois municípios já deram andamento a organização para também terem seus alimentos comercializados. Para isto, foi necessário realizar um trabalho de sensibilização e mobilização social para impulsionar as pessoas a se reunirem e terem a sua própria feira da agricultura familiar. Esta iniciativa vem sendo desenvolvida na região pela Cooperativa de Assistência a Agricultura Familiar Sustentável do Piemonte (COFASPI) com o apoio de instituições sociais e governamentais. “Passamos durante 90 dias fazendo reunião todos os meses para chegar ao engajamento de cada família ao que era o trabalho orgânico. Aí chegamos nesta feira aqui, com esta quantidade de famílias que já dura oito anos”, informa Seu Zacarias, agricultor e presidente da Associação de Produtores e Produtoras Agroecológico de Jacobina (APAEJ), sobre como se deu a criação da feira deste município. As famílias ao desenvolverem a agricultura sustentável trazem muitos benefícios para o meio ambiente, para saúde pública e para a inclusão do homem do campo na economia. Estes benefícios têm base na modificação da lógica de produção, que valoriza os produtos locais, as sementes crioulas, as espécies adaptadas e um calendário de produção que respeite as características de cada espécie, permitindo assim uma produção que se baseie na dinâmica ecológica dos agroecossistemas, minimizando a necessidade de insumos externos e abolindo o uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos sintéticos. Como explica seu Zacarias, “este é o nosso objetivo com conhecimento de não colocar as coisas tóxicas na terra, para não intoxicar nem a terra, nem a água, nem o produtor e nem o consumidor”, argumenta. Ele explica ainda que esta feira gera confiança para que eles continuem produzindo e disponibilizando alimentos saudáveis para a população. Para continuar realizando este trabalho, entre outras medidas, eles adotaram o fundo rotativo. As feiras disponibilizam para a população dos três municípios alimentos e produtos livres de agrotóxicos, como frutas, aipim e seus derivados, licuri, biscoitos, hortaliças, mel, licor, artesanato, pão integral, galinha, ovos caipira, entre Bahia Ano 5 | nº 162 | junho | 2011 Jacobina- Bahia Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Organização comunitária garante a Agricultura familiar sustentável espaço no mercado interno 1 Seu Zacarias na barraca que monta toda quarta-feira em Jacobina Feira orgânica do município de Serrolândia

Organização comunitária garante à agricultura familiar sustentável espaço no mercado interno

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Page 1: Organização comunitária garante à agricultura familiar sustentável espaço no mercado interno

Comerc ia l izar os produtos da agricultura familiar em espaço próprio e toda semana não é mais uma realidade distante para os agricultores familiares dos municípios de Jacobina, Miguel Calmon e Serrolândia, do Território do Piemonte da Diamantina, na Bahia. Desde o ano de 2003 esta prática vem se tornando frequente na região e com isto garantindo a pequenos agricultores inserção no mercado local. Eles garantem em média 800 reais por mês e com isto uma segurança a mais para continuarem produzindo de forma orgânica.

Primeiro, foram os agricultores de Jacobina, depois os de Miguel Calmon e, recentemente, os de Serrolândia. Além destes, mais dois municípios já deram andamento a organização para também terem seus alimentos comercializados. Para isto, foi necessário realizar um trabalho de sensibilização e mobilização social para impulsionar as pessoas a se reunirem e terem a sua própria feira da agricultura familiar. Esta iniciativa vem sendo desenvolvida na região pela Cooperativa de Assistência a Agricultura Familiar Sustentável do Piemonte (COFASPI) com o apoio de instituições sociais e governamentais.

“Passamos durante 90 dias fazendo reunião todos os meses para chegar ao engajamento de cada família ao que era o trabalho orgânico. Aí chegamos nesta feira aqui, com esta quantidade de famílias que já dura oito anos”, informa Seu Zacarias, agricultor e presidente da Associação de Produtores e Produtoras Agroecológico de Jacobina (APAEJ), sobre como se deu a criação da feira deste município.

As famílias ao desenvolverem a agricultura sustentável trazem muitos benefícios para o meio ambiente, para saúde pública e para a inclusão do homem do campo na economia. Estes benefícios têm base na modificação da lógica de produção, que valoriza os produtos locais, as sementes crioulas, as espécies adaptadas e um calendário de produção que respeite as características de cada espécie, permitindo assim uma produção que se baseie na dinâmica ecológica dos agroecossistemas, minimizando a necessidade de insumos externos e abolindo o uso de agrotóxicos e fertilizantes

químicos sintéticos.Como explica seu Zacarias, “este é o nosso objetivo

com conhecimento de não colocar as coisas tóxicas na terra, para não intoxicar nem a terra, nem a água, nem o produtor e nem o consumidor”, argumenta. Ele explica ainda que esta feira gera confiança para que eles continuem produzindo e disponibilizando alimentos saudáveis para a população. Para continuar realizando este trabalho, entre outras medidas, eles adotaram o fundo rotativo.

As feiras disponibilizam para a população dos três municípios alimentos e produtos livres de agrotóxicos, como frutas, aipim e seus derivados, licuri, biscoitos, hortaliças, mel, licor, artesanato, pão integral, galinha, ovos caipira, entre

Bahia

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1Seu Zacarias na barraca que monta toda quarta-feira em Jacobina

Feira orgânica do município de Serrolândia

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outros. Para seu Zacarias, a importância da feira é garantir a confiança do agricultor em continuar produzindo para um mercado que sempre vai existir. Ele também deixa clara a preocupação de investir no consumidor e assim respeitá-lo ao oferecer produtos livres de agrotóxicos.

Organização socialNos três municípios que já realizam as suas feiras,

as famílias desenvolvem maneiras diferentes de se organizarem. Em Serrolândia, as barracas são ocupadas por seis comunidades, no total de seis barracas divididas entre 35 famílias. Em Jacobina são 17 barracas uma por família e em Miguel Calmon são 16 barracas compartilhadas por 16 famílias.

Como acontece na barraca de D. Eliene e D. Márcia onde está sendo vendidos vários produtos de 17 famílias da comunidade do Maracujá, zona rural de Serrolândia. D. Eliene, que vê os seus primeiros clientes se aglomerarem na frente da sua barraca na espera do beiju feito na hora e o caldo de galinha caipira com aipim, afirma que os produtos que vende são todos naturais “livres de remédios”. Ela explica ainda que sempre armou sua barraca na própria comunidade e que agora tem a possibilidade de vender na cidade.

Os feirantes também, antes de começarem a comercializar os produtos, decidiram coletivamente a tabelação dos preços, a divisão das barracas e a não competirem entre si. Estas medidas evitam que eles tenham prejuízo e ainda favorece o desenvolvimento igualitário de todos os integrantes da APAEJ como afirma seu Zacarias, “a gente tem aqui [em Jacobina] um controle de agricultura, um controle de produzir para trabalhar para vender para não dar prejuízo para ninguém”. Todas estas e outras decisões são discutidas nas reuniões mensais da Associação constituída por eles.

Eles também passaram por um processo de troca de conhecimentos, de formação e receberam e continuarão recebendo o acompanhamento de técnicos da COFASPI para verificar se estão sendo ou não utilizados agrotóxicos nas plantações.

“O município precisava desta feira e apesar das dificuldades foi uma conquista muito grande para os agricultores. Agora os agricultores estão sendo valorizados”, considera Márcia, a filha de dois dos participantes desta feira.

Hoje muitos produtores que já desenvolviam a agricultura familiar de forma sustentável contam com esta organização para vender os seus produtos. Outros encontraram este canal para fortalecer ainda mais a prática da agricultura de forma sustentável e ainda de garantir a comercialização direta dos seus alimentos. Outro beneficio é oportunizar um espaço frequente para que estes profissionais tenham seu

trabalho valorizado e visto por outras pessoas. P a r a t o d o s / a s o s / a s a g r i c u l t o r e s

entrevistados/as, a consciência da importância de alimentos orgânicos para a saúde das pessoas e para a preservação ambiental ultrapassa a produção e comercialização de produtos e, apesar dos desafios, chega ao ato da sua própria alimentação cotidiana.

Esta prática vem demonstrar as potencialidades do meio rural da região Semiárida baiana, que muitas vezes é vista e tachada como fonte de problemas sociais e econômicos. Neste sentido, atualmente, através de ações de organizações sociais em parcerias com as pessoas da comunidade, vem se construído uma ideia e uma prática de Convivência com o Semiárido.

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Apoio:

D. Márcia preparando os primeiros beijús da manhã, na feira de Serrolândia.

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