Orientações Acolhimento Institucional

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O documento refere-se às orientações para o acolhimento institucional de crianças e adolescentes em situação de risco no Estado do Paraná

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  • 11

    Braslia, Junho de 2009

  • Presidente da Repblica Federativa do BrasilLuiz Incio Lula da Silva

    Ministro do Desenvolvimento Social e Combate FomePatrus Ananias

    Secretrio Especial dos Direitos Humanos /PRPaulo Vannuchi

    Presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criana e do AdolescenteCarmen Silveira de Oliveira

    Vice-Presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criana e do Adoles-centeFabio Feitosa da Silva

    Presidente do Conselho Nacional de Assistncia SocialValdete de Barros Martins

    Vice-Presidente do Conselho Nacional de Assistncia SocialPadre Nivaldo Luiz Pessinatti

  • Crditos

    COORDENAOConselho Nacional dos Direitos da Criana e do AdolescenteConselho Nacional de Assistncia Social

    ELABORAO

    RedaoAna Anglica Campelo de Albuquerque e Melo MDS/SNAS/DPSEJuliana Maria Fernandes Pereira - MDS/SNAS/DPSESupervisoSolange Stella Serra Martins - MDS/SNAS/DPSE

    ColaboraoGT Pr-Convivncia Familiar e ComunitriaHitomi Leila Yamao de Arajo Diviso de Engenharia do FNAS/MDS

    COMIT DE REVISO PS-CONSULTAFrederico Jorge de Souza Leite - CNASMiriam Maria Jos dos Santos - CONANDASolange Stella Serra Martins CONANDA

    Redao FinalAna Anglica Campelo de Albuquerque e Melo - MDS/SNAS/DPSEJuliana Maria Fernandes Pereira - MDS/SNAS/DPSEShyrlene Nunes Brando MDS/SNAS/DPSE

    Superviso FinalSolange Stella Serra Martins - MDS/SNAS/DPSE

    ColaboraoParticipantes da Consulta PblicaEspecialistas ConvidadosJlio Csar Vieira GuimaresNina Rosa do Amaral CostaSolange A. Serrano

  • Sumrio

    5

    APRESENTAO ................................................................................................................. 15

    RESOLUO CONJUNTA N 1, DE 18 DE JUNHO DE 2009 ............................ 16 A

    RESOLUO CONJUNTA N 2, DE 16 DE SETEMBRO DE 2010 .................... 16 B

    INTRODUO ....................................................................................................................... 18

    CAPTULO I ............................................................................................................................ 21

    1 ANTECEDENTES ............................................................................................................. 21

    2 PRINCPIOS ...................................................................................................................... 24

    2.1 Excepcionalidade do Afastamento do Convvio Familiar ....................... 24

    2.2 Provisoriedade do Afastamento do Convvio Familiar ............................ 25

    2.3 Preservao e Fortalecimento dos Vnculos Familiares e Comunitrios ...................................................................................................... 26

    2.4 Garantia de Acesso e Respeito Diversidade e No-discriminao ... 27

    2.5 Oferta de Atendimento Personalizado e Individualizado ...................... 27

    2.6 Garantia de Liberdade de Crena e Religio ............................................... 28

    2.7 Respeito Autonomia da Criana, do Adolescente e do Jovem .......... 28

  • Sumrio

    6

    CAPTULO II ........................................................................................................................... 30

    3 ORIENTAES METODOLGICAS ................................................................................ 30

    3.1 Estudo Diagnstico ............................................................................................. 30

    3.2 Plano de Atendimento Individual e Familiar .............................................. 32

    3.3 Acompanhamento da Famlia de Origem ................................................... 36

    3.4 Articulao Intersetorial ..................................................................................... 44

    3.4.1 Articulao no mbito do Sistema nico de Assistncia Social - SUAS ............................................................................................................ 44

    3.4.2 Articulao com o Sistema nico de Sade - SUS ..................................... 46

    3.4.3 Articulao com o Sistema Educacional ....................................................... 47

    3.4.4 Articulao com outras polticas pblicas e demais rgos do Sistema de Garantia de Direitos .................................................. 48

    3.5 Projeto Poltico-Pedaggico .............................................................................. 50

    3.5.1 Atitude receptiva e acolhedora no momento da chegada da criana/adolescente e durante o perodo de acolhimento .................... 51

    3.5.2 No-desmembramento de grupos de crianas/adolescentes com vnculos de parentesco e fortalecimento de sua vinculao afetiva .. 52

    3.5.3 Organizao de registros sobre a histria de vida e desenvolvimento de cada criana e adolescente .......................................................................... 53

    3.5.4 Definio do papel e valorizao dos educadores/cuidadores e da famlia acolhedora ................................................................................................. 54

    3.5.5 Relao do Servio com a famlia de origem ............................................... 55

    3.5.6 Preservao e fortalecimento da convivncia comunitria ................... 57

    3.5.7 Fortalecimento da autonomia da criana, do adolescente e do jovem ................................................................................ 59

    3.5.8 Desligamento gradativo ..................................................................................... 61

  • Orientaes Tcnicas: Servios de Acolhimento para Crianas e Adolescentes

    7

    3.6 Gesto do trabalho e educao permanente ............................................. 62

    3.6.1 Seleo ...................................................................................................................... 62

    3.6.2 Capacitao ............................................................................................................. 64

    3.6.3 Formao continuada .......................................................................................... 66

    CAPTULO III ......................................................................................................................... 67

    4 PARMETROS DE FUNCIONAMENTO .......................................................................... 67

    4.1 Abrigo Institucional ............................................................................................... 68

    4.1.1 Definio ................................................................................................................... 68

    4.1.2 Pblico alvo ............................................................................................................. 68

    4.1.3 Aspectos fsicos ...................................................................................................... 69

    4.1.4 Recursos humanos ................................................................................................ 69

    4.1.5 Infra-estrutura e espaos mnimos sugeridos ............................................. 73

    4.2 Casa-Lar ................................................................................................................... 75

    4.2.1 Definio ................................................................................................................... 75

    4.2.2 Pblico alvo ............................................................................................................. 75

    4.2.3 Caractersticas ......................................................................................................... 76

    4.2.4 Aspectos fsicos ...................................................................................................... 77

    4.2.5 Recursos humanos ................................................................................................ 77

    4.2.6 Infra-estrutura e espaos mnimos sugeridos ............................................. 81

    4.3 Servio de Acolhimento em Famlia Acolhedora ...................................... 82

    4.3.1 Definio ................................................................................................................... 82

    4.3.2 Pblico alvo ............................................................................................................. 83

    4.3.3 Aspectos jurdico-administrativos ................................................................... 84

    4.3.4 Funcionamento do servio de acolhimento em famlia acolhedora .. 84

  • Sumrio

    8

    6

    4.3.5 Recursos humanos ................................................................................................ 90

    4.3.6 Infra-estrutura e espaos mnimos sugeridos ............................................. 92

    4.4 Repblica ................................................................................................................ 92

    4.4.1 Definio ................................................................................................................... 92

    4.4.2 Pblico alvo ............................................................................................................. 93

    4.4.3 Caractersticas ......................................................................................................... 93

    4.4.4 Aspectos fsicos ...................................................................................................... 95

    4.4.5 Recursos humanos ................................................................................................ 95

    4.4.6 Infra-estrutura e espaos mnimos sugeridos ............................................. 97

    4.5 Regionalizao do Atendimento nos Servios de Acolhimento .......... 97

    4.5.1 Servios de acolhimento para municpios de pequeno porte com compartilhamento de equipe ..................................................... 98

    4.5.2 Servios de acolhimento para crianas e adolescentes ameaados de morte ......................................................................................... 101

    Glossrio .............................................................................................................................. 103

    Anexo I .................................................................................................................................. 112

    Anexo II ................................................................................................................................. 114

  • 9Representantes do Conselho Nacional dos Direitos da Criana e do Adolescente CONANDAREPRESENTANTES GOVERNAMENTAIS

    Casa Civil da Presidncia da Repblica

    Titular: Ivanildo Tajra Franzosi

    Suplente: Alessandro Ferreira dos Passos

    Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome - MDS

    Titular: Solange Stella Serra Martins

    Suplente: Francisco Antonio De Sousa Brito

    Ministrio da Cultura

    Titular: Marcelo Simon Manzatti

    Suplente: Geraldo Vitor da Silva Filho

    Ministrio da Educao

    Titular: Rosilia Maria Roldi Wille

    Suplente: Leandro da Costa Fialho

    Ministrio do Esporte

    Titular: Danielle Fermiano dos Santos Gruneich

    Suplente: Carlos Nunes Pereira

    Ministrio da Fazenda

    Titular: Marcos Aurlio Santos de Souza

    Suplente: Fbio Eiji Kato

    Ministrio da Previdncia Social

    Titular: Eduardo Basso

    Suplente: Ana Maria das Graas Santos Aquino

    Ministrio da Sade

    Titular: Thereza de Lamare Franco Netto

    Suplente: Maria de Lourdes Magalhes

    Ministrio das Relaes Exteriores

    Titular: Mrcia Maria Adorno Cavalcanti Ramos

    Suplente: Mariana Bierrenba Bevenides

    Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto

    Titular: Mauro Ceza Nogueira do Nascimento

    Suplente: Fernando Cesar Rocha Machado

  • 10

    Ministrio do Trabalho e Emprego

    Titular: Renato Ludwig de Souza

    Suplente: Luiz Vieira da Paixo

    Ministrio da Justia

    Titular: Romeu Tuma Junior

    Suplente: Davi Ulisses Brasil Simes Pires

    Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidncia da Repblica

    Titular: Carmen Silveira de Oliveira (Presidente)

    Suplente: Ccera Bezerra de Morais

    Secretaria Especial de Polticas de Promoo da Igualdade Racial da Presidncia da Repblica

    Titular: Cristina de Ftima Guimares

    Suplente: Vago

    REPRESENTANTES DE ENTIDADES NO-GOVERNAMENTAIS

    TITULARES

    Inspetoria So Joo Bosco Salesianos Minas Gerais

    Representante: Miriam Maria Jos dos Santos

    Unio Brasileira de Educao e Ensino UBEE

    Representante: Fbio Feitosa da Silva (Vice-Presidente)

    Central nica dos Trabalhadores CUT

    Representante: Raimunda Nbia Lopes da Silva

    Conselho Federal de Psicologia - CPF

    Representante: Maria Luiza Moura Oliveira

    Confederao Nacional dos Bispos do Brasil CNBB/ Pastoral do Menor

    Representante: Andrea Franzini

    Associao Brasileira de Magistrados e Promotores da Justia da Infncia e da Ju-ventude - ABMP

    Representante: Helen Crystine Corra Sanches

    Aldeias Infantis SOS/Brasil

    Representante: Srgio Eduardo Marques da Rocha

    Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua

    Representante: Maria Jlia Rosa Chaves Deptulski

    Movimento Nacional de Direitos Humanos

    Representante: Ariel de Castro Alves

  • Orientaes Tcnicas: Servios de Acolhimento para Crianas e Adolescentes

    11

    Ordem dos Advogados do Brasil

    Representante: Glcia Thais Salmeron de Miranda

    Pastoral da Criana

    Representante: Maristela Cizeski

    Sociedade Brasileira de Pediatria- SBP

    Representante: Carlos Eduardo Nery Paes

    Associao Nacional dos Centros de Defesa da Criana e do Adolescente - ANCED

    Representante: Djalma Costa

    Instituto Brasileiro de Inovaes em Sade Social - IBISS

    Representante: Tiana Sento-S

    SUPLENTES

    Federao Brasileira das Associaes Crists de Moos

    Representante: Andrea Aparecida Nezio Paixo

    Viso Mundial - VMB

    Representante: Welinton Pereira da Silva

    Federao Nacional dos Empregados em Instituies Beneficentes, Religiosas e Filantrpicas - FENATIBREF

    Representante: Francisco Rodrigues Correa

    Fundao Abrinq pelos Direitos da Criana ABRINQ

    Representante: Roseni Aparecida dos S. Reigota

    Conselho Federal de Servio Social - CFESS

    Representante: Eriv Garcia Velasco

    Fundao F e Alegria do Brasil

    Representante: Vilmar Burzla

    Fundao So Paulo /FUNDASP PUC/SP

    Representante: Maria Stela Santos Graciani

    Associao Brasileira de Autismo

    Representante: Marisa Fria Silva

    Sociedade Literria Caritativa Santo Agostinho SLCSA

    Representante: Iralda Cassol Pereira

    Assemblia Espiritual Nacional Dos Bahs do Brasil

    Representante: Mary Caetana Aune Cruz

    Federao Nacional das APAEs FENAPAES

    Representante: Araclia Lcia Costa

  • 12

    Representantes do Conselho Nacional de Assistncia Social CNASMinistrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome - MDS

    Titular: Renato Francisco dos Santos Paula

    Suplente: Helena Ferreira Lima

    Titular: Valdete de Barros Martins

    Suplente: Ana Lgia Gomes

    Titular: Vernica Pereira Gomes

    Suplente: Maura Luciane de Souza

    Titular: Jos Ferreira Crus

    Suplente: Maria Jos de Freitas

    Ministrio do Planejamento, Oramento e Gesto - MPOG

    Titular: Jos Geraldo Frana Diniz

    Suplente: Mauro Ceza Nogueira do Nascimento

    Ministrio da Previdncia Social - MPS

    Titular: Rose Mary Oliveira

    Suplente: Ftima Aparecida Rampin

    Ministrio do Trabalho e Emprego MTE e Ministrio da Fazenda - MF

    Titular: Edna Aparecida Alegro (MF)

    Suplente: Maurcio Sarda Faria (MTE)

    Representante dos Estados

    Titular: Heloisa Mesquita

    Suplente: Tnia Mara Garib

    Representante dos Municpios

    Titular: Charles Roberto Pranke

    Suplente: Srgio Wanderly Silva

    REPRESENTANTES DAS ENTIDADES E ORGANIZAES DE ASSISTNCIA SOCIAL

    Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil CNBB

    1 Titular: Pe. Nivaldo Luiz Pessinatti

    Unio Social Camiliana

    1 Suplente: Antnio Celso Pasquini

    Federao Brasileira das Associaes Crists de Moos

    2 Titular: Renata Rodrigues Flores Alves

  • Orientaes Tcnicas: Servios de Acolhimento para Crianas e Adolescentes

    13

    Instituto Social, Educativo e Beneficente Novo Signo

    2 Suplente: Rosa Maria Ruthes

    Associao da Igreja Metodista

    3 Titular: Renato Saidel Coelho

    Federao Esprita Brasileira

    3 Suplente: Clodoaldo de Lima Leite

    REPRESENTANTES DOS USURIOS OU DE ORGANIZAES DE USURIOS

    Associao Para Valorizao E Promoo De Excepcionais - AVAPE

    1 Titular: Carlos Eduardo Ferrari

    Associao Brasileira de Autismo ABRA

    1 Suplente: Marisa Furia Silva

    Unio Brasileira de Cegos UBC

    2 Titular: Mizael Conrado de Oliveira

    Federao Nacional de Educao e Integrao dos Surdos

    2 Suplente: Joo Carlos Carreira Alves

    Federao Nacional das APAEs

    3 Titular: Maria Dolores da Cunha Pinto

    Movimento Nacional de Populao de Rua

    3 Suplente: Samuel Rodrigues

    REPRESENTANTES DOS TRABALHADORES DA REA DE ASSISTNCIA SOCIAL

    Federao Nacional dos Assistentes Sociais - FENAS

    1 Titular: Margareth Alves Dallaruvera

    Associao Brasileira de Educadores de Deficientes Visuais ABEDEV

    1 Suplente: Edivaldo da Silva Ramos

    Federao Nacional Dos Empregados Em Instituies Beneficentes, Religiosas E Filantrpicas FENATIBREF

    2 Titular: Geraldo Gonalves de Oliveira Filho

    Conselho Federal de Servio Social CFESS

    2 Suplente: Edval Bernardino Campos

    Federao Nacional dos Psiclogos FENAPSI

    3 Titular: Frederico Jorge de Souza Leite

    Ordem dos Advogados do Brasil OAB

    3 Suplente: Josenir Teixeira

  • 14

    Lista de Siglas

    BPC Benefcio de Prestao Continuada

    Cadnico Cadastramento nico para Programas Sociais do Governo Federal

    CAPS Centro de Ateno Psicossocial

    CNAS Conselho Nacional de Assistncia Social

    CONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criana e do Adolescente

    CRAS Centro de Referncia da Assistncia Social

    CREAS Centro de Referncia Especializado de Assistncia Social

    DPSE Departamento de Proteo Social Especial

    ECA Estatuto da Criana e do Adolescente

    FNAS Fundo Nacional de Assistncia Social

    GAA Grupo de Apoio Adoo

    GT Grupo de Trabalho

    IPEA Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada

    LOAS Lei Orgnica da Assistncia Social

    MDS Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome

    MEC Ministrio da Educao

    MinC Ministrio da Cultura

    MP Ministrio Pblico

    MS Ministrio da Sade

    MTE Ministrio do Trabalho e Emprego

    NOB/SUAS Norma Operacional Bsica do Sistema nico de Assistncia Social

    NOB-RH/SUAS Norma Operacional Bsica de Recursos Humanos do Sistema nico de Assistncia Social

    ONU Organizao das Naes Unidas

    PNAS Poltica Nacional de Assistncia Social

    PNCFCPlano Nacional de Promoo, Proteo e Defesa do Direito de Crianas e Adolescentes a Con-vivncia Familiar e Comunitria

    PR Presidncia da Repblica

    SEDH Secretaria Especial de Direitos Humanos

    SGD Sistema de Garantia de Direitos

    SNAS Secretaria Nacional de Assistncia Social

    SPDCA Subsecretaria de Promoo dos Direitos da Criana e do Adolescente

    SUAS Sistema nico da Assistncia Social

    SUS Sistema nico de Sade

    UBS Unidade Bsica de Sade da Famlia

    UNICEF Fundo das Naes Unidas para a Infncia

  • Orientaes Tcnicas: Servios de Acolhimento para Crianas e Adolescentes

    15

    OOOriO entntnttaaaa ess TTTcTTT nicas:as:as:ssas:a SeSeServivivivirvvviv oosooos dedeeeeeeeee AAAcAccAAAAcA olhlhimeimeimimmmmimeimemmmmimm nto paaapapapapppp rra aa CrCrCririrririiiriCrirrriaaanaanananaa aas ss eee Ae AAe Ae Ae ddodololeesessesces enenntntteeesesssss

    Apresentao

    O cuidado e a proteo se expressam em pequenos detalhes do dia-a-dia que com-pem uma referncia de segurana indispensvel ao desenvolvimento pleno das pes-soas. Por isso, a convivncia familiar e comunitria um direito fundamental e deve pautar as polticas pblicas voltadas para promoo e garantia de direitos de crianas e adolescentes.

    O tema prioritrio para o Governo Federal, e pede envolvimento de todas as esfe-ras de governo - estados, distrito federal, municpios e da sociedade civil, conselhos, dentre outros. Esta publicao foi elaborada em conjunto pelo Ministrio do Desen-volvimento Social e Combate Fome (MDS), Conselho Nacional dos Direitos das Crian-as e Adolescentes (Conanda) e Conselho Nacional de Assistncia Social (CNAS), com objetivo de ajudar na construo de polticas pblicas, especialmente dos servios de acolhimento do pas.

    A proposta reordenar os servios de acolhimento institucional (abrigo, casa lar) par-tindo do princpio de que toda situao de afastamento familiar deve ser tratada como excepcional e provisria, sendo imprescindvel investir no retorno das crianas e ado-lescentes ao convvio com a famlia de origem e, esgotada essa possibilidade, o enca-minhamento para famlia substituta.

    Outra forma de acolhimento apresentada o servio de Famlia Acolhedora, que tem mostrado resultados positivos ao garantir espaos de cuidado e referncia afetiva at que possa ser assegurada a convivncia da criana ou do adolescente em sua famlia.

    Esperamos que cada um e cada uma que tiver esse documento em mos possa adapt-lo realidade de seu municpio, construindo aes concretas e articuladas entre Estado e diversos atores sociais para que todas as crianas e adolescentes possam crescer com amor, cuidado e proteo em famlia.

    Patrus Ananias

    Ministro de Estado do Desenvolvimento Social e Combate Fome

  • ConandaConandan a

    Resoluo 1/2009

    RESOLUO CONJUNTA N 1, DE 18 DE JUNHO DE 2009

    Aprova o documento Orientaes Tcnicas:

    Servios de Acolhimento para Crianas e Adolescentes.

    O CONSELHO NACIONAL DE ASSISTNCIA SOCIAL CNAS e o CONSELHO NACIONAL

    DOS DIREITOS DA CRIANA E DO ADOLESCENTE CONANDA, no uso de suas atribui-

    es estabelecidas respectivamente, no art. 18 da Lei N 8.742, de 07 de dezembro de 1993 e no artigo 2 da Lei N 8.242, de 12 de outubro de 1991,

    CONSIDERANDO a Resoluo Conjunta N 01, de 13 de dezembro de 2006, do CNAS e

    do CONANDA, que aprovou o Plano Nacional de Promoo, Proteo e Defesa do Direi-

    to de Crianas e Adolescentes Convivncia Familiar e Comunitria;

    CONSIDERANDO que a regulamentao ora proposta uma ao prevista no Plano

    Nacional de Promoo, Proteo e Defesa do Direito de Crianas e Adolescentes Con-

    vivncia Familiar e Comunitria e representa um compromisso partilhado entre o Mi-

    nistrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome, a Secretaria Especial dos Direi-

    tos Humanos (SEDH), o CNAS e o CONANDA, para a armao, no Estado brasileiro, do

    direito de crianas e adolescentes convivncia familiar e comunitria;

    CONSIDERANDO as contribuies recebidas por meio da Consulta Pblica ao docu-

    mento: Orientaes Tcnicas: Servios de Acolhimento para Crianas e Adolescentes

    de organizaes sociais, gestores, dos Conselhos de Assistncia Social e Conselhos dos

    Direitos da Criana e do Adolescente de mbito Estadual, Municipal e do Distrito Fede-

    ral, entre outros, e o trabalho de sistematizao realizado pelas Comisses de Poltica

    do CNAS e do CONANDA e do Grupo de Trabalho CNAS/CONANDA, que resultou no

    documento nal entregue aos referidos Conselhos Nacionais;

    16A

  • 17A

    RESOLVEM:

    Art. 1. Aprovar o documento Orientaes Tcnicas: Servios de Acolhimento para

    Crianas e Adolescentes.

    Art. 2. O CNAS e o CONANDA devero adotar medidas para divulgao desse docu-

    mento e fazer o acompanhamento da regulamentao dos Servios de Acolhimento

    para Crianas e Adolescentes no mbito Estadual, Municipal e do Distrito Federal.

    Art. 3. Esta Resoluo entra em vigor na data de sua publicao.

    VALDETE DE BARROS MARTINS

    Presidente do CNAS

    FBIO FEITOSA DA SILVA

    Presidente do CONANDA

    Em exerccio

    (DOU n 124, de 2 de julho de 2009)

  • ConandaConandan a

    CONSIDERANDO a aprovao da RESOLUO CONJUNTA N 1, DE 18 DE JUNHO DE

    2009, que aprovou o documento Orientaes Tcnicas: Acolhimento para Crianas e

    Adolescentes,

    RESOLVEM:

    Art. 1. Alterar a redao do item "4.5.2 - Servios de acolhimento para crianas e

    adolescentes ameaados de morte", conforme texto abaixo:

    4.5.2. Servios de acolhimento para crianas e adolescentes ameaados de

    morte

    Nos casos de crianas e adolescentes ameaados de morte, sua manuteno

    no contexto familiar e comunitrio de origem pode representar srio risco a

    sua segurana. Trata-se de uma situao particularmente delicada, na qual

    pode ser necessrio o encaminhamento para servio de acolhimento em

    localidade distinta do municpio de residncia habitual. Nestes casos, preciso

    considerar que a proximidade do servio de acolhimento com a comunidade

    de origem, a manuteno das atividades rotineiramente desenvolvidas e o

    convvio com sua rede social local - parmetros que devem orientar os

    servios de acolhimento em geral - no so aconselhveis, por colocarem em

    Resoluo 2/2010

    RESOLUO CONJUNTA N 2, DE 16 DE SETEMBRO DE 2010

    Altera o texto do documento Orientaes Tcnicas: Servios de Acolhimento para Crianas e Adolescentes.

    O CONSELHO NACIONAL DE ASSISTNCIA SOCIAL CNAS e o CONSELHO NACIONAL

    DOS DIREITOS DA CRIANA E DO ADOLESCENTE CONANDA, no uso de suas atribui-

    es estabelecidas respectivamente, no art. 18 da Lei N 8.742, de 07 de dezembro de 1993 e no artigo 2 da Lei N 8.242, de 12 de outubro de 1991,

    16B

  • 17B

    risco a segurana da criana ou adolescente ameaado podendo tambm

    representar risco para as demais crianas e adolescentes atendidos no mesmo

    servio.

    Dessa forma, podem ser firmados acordos formais entre municpios de

    diferentes regies, a fim de viabilizar a transferncia da crianas ou

    adolescente ameaado para outro municpio, de modo a possibilitar seu

    acolhimento em servios distantes de sua comunidade de origem e, assim,

    facilitar a sua proteo. Nestas situaes o servio deve tambm manter

    articulao com programas de proteo aos quais as crianas e adolescentes

    atendidos estejam vinculados, alm do Sistema de Justia e do Sistema de

    Segurana Pblica, de modo a propiciar condies de segurana tanto para a

    criana ou adolescente ameaado quanto para os demais ali acolhidos.

    Em todos os casos, recomenda-se que os servios de acolhimento que

    atendam crianas e adolescentes ameaados de morte atuem em articulao

    com programas especficos de proteo, como o Programa de Proteo

    Criana e ao Adolescente Ameaado de Morte - PPCAM. Finalmente, ressalta-

    se que o encaminhamento da criana ou adolescente ameaado de morte

    para servio de acolhimento deve ser considerado apenas quando esgotadas

    outras alternativas que preservem seus vnculos familiares, como, por

    exemplo, a mudana de contexto ou cidade acompanhado da famlia, de

    familiar ou responsvel.

    Art. 2. O CNAS e o CONANDA devero adotar medidas para divulgao dessa

    alterao no referido documento.

    Art. 3. Esta Resoluo entra em vigor na data de sua publicao.

    CARLOS EDUARDO FERRARI

    Presidente do CNAS

    FBIO FEITOSA DA SILVA

    Presidente do CONANDA

    (DOU n 182, de 22 de setembro de 2010)

  • 18

    O presente documento tem como nalidade regulamentar, no territrio nacional, a organizao e oferta de Servios de Acolhimento para Crianas e Adolescentes, no mbito da poltica de Assistncia Social. Sua formulao levou em considerao diversas discusses sobre essa temtica, realizadas em diferentes fruns - regionais, nacionais e internacionais - cabendo destacar as Conferncias Estaduais e Nacional dos Direitos da Criana e do Adolescente realizadas em 2007, e, em especial, os en-contros do Grupo de Trabalho Nacional Pr-Convivncia Familiar e Comunitria GT Nacional1. Alm disso, constituram importantes subsdios para a elaborao deste documento o Plano Nacional de Promoo, Proteo e Defesa do Direito de Crianas e Adolescentes Convivncia Familiar e Comunitria e o Projeto de Diretrizes das Naes Unidas Sobre Emprego e Condies Adequadas de Cuidados Alternativos com Crianas2.

    A verso inicial do documento, elaborada pelo Departamento de Proteo Social Es-pecial (SNAS/MDS), e apresentada ao Conselho Nacional de Assistncia Social (CNAS) e ao Conselho Nacional dos Direitos da Criana e do Adolescente (CONANDA) para anlise e aprimoramento, foi disponibilizada para consulta pblica em 2008. Uma co-misso, composta por representantes do MDS, dos Conselhos e por especialistas na rea, responsabilizou-se pela redao nal do documento, analisando e contemplan-do as contribuies recebidas. A aprovao do documento ocorreu em Assemblia conjunta do CNAS e CONANDA, realizada em 18 de junho de 2009.

    A regulamentao ora proposta uma ao prevista no Plano Nacional de Promo-o, Proteo e Defesa do Direito de Crianas e Adolescentes Convivncia Familiar e Comunitria e representa um compromisso partilhado entre o MDS, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH), o CONANDA e o CNAS, para a armao, no Estado brasileiro, do direito de crianas e adolescentes convivncia familiar e co-munitria.

    Os servios de acolhimento para crianas e adolescentes integram os Servios de

    1 Iniciado em 2005 por iniciativa do Fundo das Naes Unidas para a Infncia (UNICEF), com cooperao tcnica da Associao Brasi-leira Terra dos Homens e apoio da Secretaria Especial dos Direitos Humanos - SEDH, do Instituto Camargo Corra e do Instituto C&A,, o GT Nacional reuniu representantes governamentais (estados e municpios) e no governamentais para a discusso e proposio de parme-tros nacionais para o atendimento em servios de acolhimento para crianas e adolescentes. A relao dos membros do GT encontra-se no Anexo I.2 Elaborado a partir de um amplo processo de discusso conduzido pelo Comit dos Direitos da Criana da Organizao das Naes Unidas (ONU), UNICEF e Servio Social Internacional, o documento contou com a contribuio de especialistas, governamentais e no-governamentais, de diversas nacionalidades. Em agosto de 2006, o documento foi discutido no Brasil em uma Reunio Intergovernamen-tal, que reuniu especialistas representantes de mais de 40 pases, o Comit dos Direitos da Criana da ONU, o Servio Social Internacional e o UNICEF. Em junho de 2009, durante a 11 Sesso do Conselho de Direitos Humanos da ONU, foi aprovado o Projeto de Resoluo sobre Diretrizes para Cuidados Alternativos para Crianas, que ser levado Assemblia Geral das Naes Unidas. Na ocasio, a Unio Europia e o Canad zeram agradecimento ao Brasil, por ter liderado a discusso do documento com as representaes governamentais.

    Introduo

  • Orientaes Tcnicas: Servios de Acolhimento para Crianas e Adolescentes

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    Alta Complexidade do Sistema nico de Assistncia Social (SUAS), sejam eles de na-tureza pblico-estatal ou no-estatal, e devem pautar-se nos pressupostos do Esta-tuto da Criana e do Adolescente (ECA), do Plano Nacional de Promoo, Proteo e Defesa do Direito de Crianas e Adolescentes a Convivncia Familiar e Comunitria, da Poltica Nacional de Assistncia Social; da Norma Operacional Bsica de Recursos Humanos do SUAS, da Norma Operacional Bsica do SUAS e no Projeto de Diretrizes das Naes Unidas sobre Emprego e Condies Adequadas de Cuidados Alternati-vos com Crianas.

    Adaptado realidade e cultura local, o presente documento dever nortear a orga-nizao, no pas, dos diversos servios de acolhimento para crianas e adolescen-tes e das Repblicas para jovens. Em nenhuma hiptese, todavia, esses parmetros devero representar perda da qualidade dos servios de acolhimento atualmente prestados nas diversas localidades, sendo permitidos arranjos distintos quando es-tes representarem maior qualidade no atendimento ofertado.

    Embora a Proteo Social Especial de Alta Complexidade contemple servios de aco-lhimento que podem atender crianas e adolescentes acompanhados de seus pais ou responsveis, o presente documento se reporta exclusivamente queles servios que acolhem crianas e adolescentes que se encontram sob medida protetiva de abrigo (Art. 101, ECA), ou seja, em situao de abandono ou afastados do convvio familiar pela autoridade competente. No documento esto contemplados, ainda, parmetros para a organizao de Repblicas, destinadas ao atendimento de jovens que atingem a maioridade em servios de acolhimento para crianas e adolescentes e que, aps os 18 anos, precisam de apoio durante um perodo de transio.

    importante destacar que os servios de acolhimento para crianas e adolescen-tes no devem ser confundidos com estabelecimentos organizados para o acom-panhamento de adolescentes que estejam cumprindo medidas scio-educativas de internao em estabelecimento educacional (ECA, Art. 112), bem como com estabelecimentos destinados Educao Infantil, regidos pela Lei N 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

    O reconhecimento, na legislao vigente, do direito convivncia familiar e comu-nitria, da excepcionalidade e provisoriedade do afastamento do convvio familiar e dos princpios que qualicam o atendimento nos servios de acolhimento est fundamentado, dentre outros aspectos, no prprio desenvolvimento cientco e nas diversas investigaes que mostraram que um ambiente familiar saudvel o me-lhor lugar para o desenvolvimento da criana e do adolescente. Diversas pesquisas concluram que o afastamento do convvio familiar pode ter repercusses negativas sobre o processo de desenvolvimento da criana e do adolescente quando o aten-dimento prestado no servio de acolhimento no for de qualidade e prolongar-se desnecessariamente. Desse modo, quando o afastamento for necessrio, tanto o acolhimento quanto a retomada do convvio familiar reintegrao famlia de ori-gem ou, excepcionalmente, colocao em famlia substituta - devem ser realizados segundo parmetros que assegurem condies favorveis ao desenvolvimento da criana e do adolescente.

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    Introduo

    O impacto do abandono ou do afastamento do convvio familiar pode ser minimi-zado se as condies de atendimento no servio de acolhimento propiciarem expe-rincias reparadoras criana e ao adolescente e a retomada do convvio familiar. Dessa forma, tais servios no devem ser vistos como nocivos ou prejudiciais ao de-senvolvimento da criana e do adolescente, devendo-se reconhecer a importncia dos mesmos, de forma a evitar, inclusive, a construo ou reforo de uma auto-ima-gem negativa ou de piedade da criana e adolescente atendidos, por estarem sob medidas protetivas. As orientaes e parmetros aqui apresentados tm justamente como objetivo estabelecer orientaes metodolgicas e diretrizes nacionais que possam contribuir para que o atendimento excepcional no servio de acolhimento seja transitrio, porm reparador.

    O presente documento est organizado em trs captulos. O Captulo I se inicia com uma breve sntese do processo histrico de aprimoramento do atendimento a crian-as e adolescentes em servios de acolhimento, por meio da elaborao do Estatuto da Criana e do Adolescente e do Plano Nacional de Promoo, Proteo e Defesa do Direito de Crianas e Adolescentes Convivncia Familiar e Comunitria e a im-plementao do Sistema nico de Assistncia Social. A segunda seo, reiterando marcos regulatrio e normativo vigentes, apresenta princpios que devem nortear o atendimento em servios de acolhimento para crianas e adolescentes. O Captulo II est reservado para as Orientaes Metodolgicas (3) a m de contribuir para que, caso seja necessrio o afastamento de criana e adolescente do convvio familiar, os servios de acolhimento possam exercer a funo de proteo e cuidado, de forma excepcional e provisria. No sentido de avaliar a necessidade de encaminhamento da criana ou adolescente para o servio de acolhimento, a seo 3.1 aponta algu-mas orientaes para o Estudo Diagnstico. Para assegurar a qualidade de atendi-mento dos servios de acolhimento para crianas e adolescentes e a provisoriedade do acolhimento, o item 3.2 apresenta orientaes para elaborao do Plano de Aten-dimento Individual e Familiar; o item 3.3 traz orientaes para o Acompanhamento da Famlia de Origem; e o item 3.4 aborda a articulao intersetorial. Os aspectos que devem ser contemplados na elaborao do Projeto Poltico-Pedaggico do servio de acolhimento esto contemplados no item 3.5 e o Captulo II nalizado com orientaes para seleo, capacitao e formao continuada dos prossionais que atuam nesses servios (3.6). No ltimo captulo so apresentados Parmetros de Funcionamento das diferentes modalidades de servios de acolhimento: Abrigo Institucional (4.1), Casa-lar (4.2), Servio de Acolhimento em Famlia Acolhedora (4.3) e Repblica (4.4). Aps a denio de cada servio so apresentados o pblico ao qual se destina, os aspectos fsicos mnimos sugeridos para seu funcionamento, e os recursos humanos que minimamente devem possuir para assegurar um atendi-mento de qualidade para crianas, adolescentes e jovens. O Captulo III nalizado com a proposta de regionalizao do atendimento nos servios de acolhimento para assegurar atendimento em municpios de pequeno porte (4.5.1) e a crianas e ado-lescentes ameaados de morte (4.5.2).

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    Captulo l1 Antecedentes

    No Brasil, as origens do atendimento a crianas e adolescentes em servios de acolhi-mento remontam ao perodo colonial. Mas foi apenas com a promulgao do Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA) que crianas e adolescentes passaram a ser con-cebidos como sujeitos de direito, em peculiar condio de desenvolvimento e que o encaminhamento para servio de acolhimento passou a ser concebido como medida protetiva, de carter excepcional e provisrio (Art.101). O ECA assegurou, ainda, o di-reito de crianas e adolescentes convivncia familiar e comunitria, prioritariamente na famlia de origem e, excepcionalmente, em famlia substituta3 (Art. 19).

    Em conformidade com as disposies do ECA, deve-se recorrer ao encaminhamento da criana e do adolescente a servios de acolhimento apenas quando esgotados to-dos os recursos para sua manuteno na famlia de origem, extensa ou comunidade. A histria brasileira revela, todavia, que, frente situao de pobreza, vulnerabilida-de ou risco, a primeira resposta qual durante muitos anos se recorreu foi o afasta-mento da criana e do adolescente do convvio familiar. A promulgao do ECA veio romper com essa cultura, ao garantir a excepcionalidade da medida, estabelecendo, ainda, que a situao de pobreza da famlia no constitui motivo suciente para o afastamento da criana e do adolescente do convvio familiar (Art. 23).

    Para garantir a excepcionalidade do afastamento do convvio familiar, o Art.130 do ECA estabelece que, nos casos de violncia praticada por familiar ou responsvel com o qual a criana ou adolescente resida, a autoridade judiciria poder deter-minar o afastamento do agressor da moradia comum. De forma a promover a qua-lidade dos servios de acolhimento, o ECA prev, ainda, aes de scalizao e con-trole social, ao exigir a inscrio das entidades que ofertam programas de abrigo no Conselho Municipal dos Direitos da Criana e do Adolescente (Art. 90) e estabe-lecer princpios para sua organizao4 (Art. 92). Do mesmo modo, como constituem servios que compem a rede socioassistencial, os servios de acolhimento devem tambm possuir registro no Conselho Municipal de Assistncia Social e submeter-se tambm sua scalizao.

    A despeito dos direitos assegurados no ECA, o Levantamento Nacional de Abrigos para Crianas e Adolescentes, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econmica Apli-

    3 O direito convivncia familiar e comunitria e a igualdade entre lhos biolgicos e adotivos j havia sido assegurado, em 1988, pela Constituio Federal. 4 I- preservao dos vnculos familiares; II integrao em famlia substituta, quando esgotados os recursos de manuteno na famlia de origem; III atendimento personalizado e em pequenos grupos; IV desenvolvimento de atividades em regime de co-educao; V no desmembramento de grupos de irmos; VI evitar, sempre que possvel, a transferncia para outras entidades de crianas e adoles-centes abrigados; VII participao na vida comunitria local; VIII preparao gradativa para o desligamento; IX participao gradativa para o desligamento.

  • Captulo I | 1. Antecedentes

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    cada (IPEA)5, em 2003, identificou o descompasso existente entre a legislao e a realidade dos servios de acolhimento para crianas e adolescentes no Brasil6. A pesquisa foi realizada em 584 servios de acolhimento para crianas e adoles-centes co-financiados com recursos do MDS e representou um marco na mobiliza-o nacional para a discusso acerca do direito de crianas e adolescentes con-vivncia familiar e comunitria. Esse processo iniciado em 2002, com a Caravana da Comisso de Direitos Humanos da Cmara dos Deputados7, ganhou impulso, em 2004, aps a publicao da pesquisa, quando o Ministro Chefe da SEDH e o Mi-nistro de Estado do MDS, com o apoio do UNICEF, convocaram outros Ministrios e atores para a formao de uma Comisso Intersetorial que apresentou os sub-sdios ao CONANDA e ao CNAS para elaborao do Plano Nacional de Promoo, Proteo e Defesa do Direito de Crianas e Adolescentes Convivncia Familiar e Comunitria. Os Conselhos analisaram e aprimoraram o documento, aprovado em assemblia conjunta em 2006, aps incorporao das sugestes apresentadas na consulta pblica8. Ressalte-se que, alm dos dois Conselhos e do Poder Pblico, a sociedade civil teve tambm uma importante participao na construo coletiva do Plano Nacional.

    Paralelo a esse processo, em 2004, foi aprovada, pelo CNAS, a Poltica Nacional de Assistncia Social (PNAS), com o objetivo de concretizar direitos assegurados na Constituio Federal (1988) e na Lei Orgnica de Assistncia Social (1993). A PNAS organiza a matriz de funcionamento do Sistema nico de Assistncia Social (SUAS), inaugurando no pas um novo paradigma de defesa dos direitos socioassistenciais. Na seqncia, a aprovao da NOB/SUAS estabeleceu parmetros para a operacio-nalizao do Sistema nico em todo o territrio nacional. Em 2006, foi aprovada a NOB-RH do SUAS que, dentre outros aspectos, estabeleceu parmetros nacionais para a composio das equipes que devem atuar nos servios de acolhimento.

    A organizao do SUAS como um sistema pressupe a articulao da rede socioas-sistencial com as demais polticas pblicas e com o Sistema de Garantia de Direitos (SGD)9 e elege a famlia como foco central de ateno. A previso de servios de carter preventivo e de fortalecimento de vnculos familiares e comunitrios10, de atendimento especializado a indivduos e famlias em situao de ameaa ou vio-

    5 IPEA/CONANDA. O direito convivncia familiar e comunitria: os abrigos para crianas e adolescentes no Brasil / Enid Rocha Andrade da Silva (Coord.). Braslia, 2004.6 Dentre outros resultados a pesquisa apontou que 50,1% das crianas e dos adolescentes foram abrigados por motivos relacionados pobreza 24,1% exclusivamente em funo da situao de pobreza de suas famlias; 86,7% tinham famlia, sendo que 58,2% mantinham vnculos familiares, com contato regulares; apenas 43,4% tinham processo na justia; e somente 10,7% estavam em condio legal de adoo; 20% estava no servio h mais de 6 anos. Para 35,5% das crianas e dos adolescentes a principal diculdade para o retorno ao convvio familiar era tambm a situao de pobreza de suas famlias. 7 No primeiro semestre de 2002, o Departamento da Criana e do Adolescente (DCA) do Ministrio de Justia (MJ), a Secretaria de Estado de Assistncia Social (SEAS) do Ministrio da Previdncia e Assistncia Social (MPAS) e o Fundo das Naes Unidas para a Infncia (UNICEF) reuniram-se com a nalidade de discutir os dados apresentados pela Caravana da Comisso de Direitos Humanos da Cmara dos Deputados sobre os programas de abrigo. Em agosto de 2002 foi realizado o Colquio Tcnico sobre a Rede Nacional de Abrigos. No nal de 2002, o CONANDA e o DCA do Ministrio de Justia alocaram recursos para nanciar a pesquisa iniciada em 2003 pelo IPEA. 8 Resoluo Conjunta N 1 de 13 de dezembro de 2006. 9 Sistema de Garantia de Direitos (SGD) -Conjunto de rgos, entidades, autoridades, programas e servios de atendimento a crian-as, adolescentes e suas respectivas famlias, que devem atuar de forma articulada e integrada, na busca de sua proteo integral, nos moldes do previsto pelo ECA e pela Constituio Federal. A Constituio Federal e o ECA ao enumerar direitos, estabelecer princpios e diretrizes da poltica de atendimento, denir competncias e atribuies instalaram um sistema de proteo geral de direitos de crianas e adolescentes cujo intuito a efetiva implementao da Doutrina da Proteo Integral. Esse sistema convencionou-se chamar de Sistema de Garantia de Direitos (SGD). Nele incluem-se princpios e normas que regem a poltica de ateno a crianas e adolescentes cujas aes so promovidas pelo Poder Pblico (em suas esferas Unio, estados, Distrito Federal e municpios e Poderes Executivo, Legislativo e Judicirio) e pela sociedade civil, sob trs eixos Promoo, Defesa e Controle Social.10 Proteo Social Bsica.

  • Orientaes Tcnicas: Servios de Acolhimento para Crianas e Adolescentes

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    lao de direitos11 e de servios de acolhimento para crianas e adolescentes12 tem importncia basilar no que diz respeito concretizao do direito convivncia fa-miliar e comunitria.

    Um grande desao que colocado para a implementao do SUAS no pas o de reordenar os servios de acolhimento e romper com prticas incompatveis com os marcos regulatrios vigentes. De acordo com a PNAS (2004, p.37),

    A nfase da proteo social especial deve priorizar a reestruturao dos servios de abrigamento - dos indivduos que, por uma srie de fatores, no contam mais com a proteo e o cuidado de suas famlias - para as novas modalidades de atendimento. A histria dos abrigos e asilos antiga no Bra-sil. A colocao de crianas, adolescentes, pessoas com deficincias e idosos em instituies para proteg-los ou afast-los do convvio social e familiar foi, durante muito tempo, materializada em grandes instituies de longa permanncia, ou seja, espaos que atendiam a um grande nmero de pes-soas, que l permaneciam por longo perodo s vezes a vida toda. So os chamados, popularmente, como orfanatos, internatos, educandrios, asi-los, entre outros.

    Nesse sentido, o presente documento visa estabelecer parmetros de funcionamen-to e oferecer orientaes metodolgicas para que os servios de acolhimento de crianas e adolescentes possam cumprir sua funo protetiva e de restabelecimento de direitos, compondo uma rede de proteo que favorea o fortalecimento dos vn-culos familiares e comunitrios, o desenvolvimento de potencialidades das crianas e adolescentes atendidos e o empoderamento de suas famlias.

    A elaborao dos parmetros apresentados neste documento d continuidade ao compromisso do MDS, da SEDH, do CONANDA, do CNAS e da sociedade civil orga-nizada com a armao, no estado brasileiro, do direito de crianas e adolescentes convivncia familiar e comunitria.

    11 Proteo Social Especial de Mdia Complexidade.12 Proteo Social Especial de Alta Complexidade

  • 24

    2 PRINCPIOS

    Os servios de acolhimento para crianas e adolescentes devero estruturar seu atendimento de acordo com os seguintes princpios:

    2.1 Excepcionalidade do Afastamento do Convvio Familiar

    Todos os esforos devem ser empreendidos no sentido de manter o convvio com a famlia (nuclear ou extensa, em seus diversos arranjos), a fim de garantir que o afastamento da criana ou do adolescente do contexto familiar seja uma medida excepcional, aplicada apenas nas situaes de grave risco sua integridade fsica e/ou psquica13.

    Como este afastamento traz profundas implicaes, tanto para a criana e o adoles-cente, quanto para a famlia, deve-se recorrer a esta medida apenas quando repre-sentar o melhor interesse da criana ou do adolescente e o menor prejuzo ao seu processo de desenvolvimento. Destaca-se que tal medida deve ser aplicada apenas nos casos em que no for possvel realizar uma interveno mantendo a criana ou adolescente no convvio com sua famlia (nuclear ou extensa).

    Para que este princpio possa ser aplicado, importante que se promova o fortaleci-mento, a emancipao e a incluso social das famlias, por meio do acesso s polti-cas pblicas e s aes comunitrias. Dessa forma, antes de se considerar a hiptese do afastamento, necessrio assegurar famlia o acesso rede de servios pblicos que possam potencializar as condies de oferecer criana ou ao adolescente um ambiente seguro de convivncia.

    Destaca-se que, em conformidade com o Art. 23 do ECA, a falta de recursos materiais por si s no constitui motivo suciente para afastar a criana ou o adolescente do convvio familiar, encaminh-los para servios de acolhimento ou, ainda, para invia-bilizar sua reintegrao. Nessas situaes o convvio familiar deve ser preservado e a famlia, obrigatoriamente, includa em programas ociais ou comunitrios de apoio, e demais medidas previstas no artigo 101 do ECA14.

    Nos casos em que o motivo que ensejaria a aplicao da medida de abrigo referir-se falta ou precariedade de condies de habitao da famlia, deve-se recorrer a medidas que preservem o convvio familiar e mantenham a famlia, a criana e

    13 Projeto de Diretrizes das Naes Unidas Sobre Emprego e Condies Adequadas de Cuidados Alternativos com Crianas (2006). Disponvel em http://www.presidencia.gov.br/sedh. Acesso em: 02/02/2009. 14 Quando identicado que a famlia preenche os critrios para insero no Programa Bolsa Famlia ou em outro programa de transfe-rncia de renda, deve-se viabilizar seu encaminhamento para os rgos responsveis pelo cadastramento.

    Captulo l

  • Orientaes Tcnicas: Servios de Acolhimento para Crianas e Adolescentes

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    o adolescente em condies de segurana e proteo, como a incluso imediata de todos seus membros conjuntamente em servios de acolhimento para adultos com crianas ou adolescentes e acesso moradia subsidiada, dentre outras. Parale-lamente, deve ser providenciado, junto s polticas de habitao e trabalho, e outras que o caso indicar, os encaminhamentos necessrios para alcanar solues mais denitivas para a situao.

    Do mesmo modo, caso haja criana, adolescente ou algum outro membro da fa-mlia com deficincia, doenas infecto-contagiosas, transtorno mental ou outros agravos, isso no deve por si s motivar o afastamento do convvio familiar ou a permanncia em servios de acolhimento. Nessas situaes deve-se proceder a en-caminhamentos para atendimentos prestados em servios da rede ou at mesmo no prprio domiclio, os quais possam contribuir para a preveno do afastamento ou para a reintegrao familiar. Se identificado que a criana, o adolescente ou ou-tro membro da famlia preenche os critrios para incluso no Benefcio de Presta-o Continuada (BPC)15, deve-se viabilizar seu encaminhamento para o Centro de Referncia de Assistncia Social (CRAS)16, ou rgo responsvel para realizar sua insero. Destaca-se, ainda, a importncia da incluso e do acompanhamento da criana, do adolescente e da famlia nos servios de sade adequados a demanda apresentada 17. Tais medidas so fundamentais para evitar que a situao de pobre-za, associada presena de deficincia, resulte em afastamentos motivados pre-dominantemente por estes aspectos. De modo a viabilizar o acesso aos servios das diversas polticas pblicas, orienta-se que sejam formalizados, entre os rgos responsveis por tais polticas, protocolos de ao que assegurem a prioridade de acesso e o encaminhamento imediato das famlias nessa situao a tais servios, programas, projetos, benefcios e aes.

    2.2 Provisoriedade do Afastamento do Convvio Familiar

    Quando o afastamento do convvio familiar for medida mais adequada para se ga-rantir a proteo da criana e do adolescente em determinado momento, esforos devem ser empreendidos para viabilizar, no menor tempo possvel, o retorno seguro ao convvio familiar, prioritariamente na famlia de origem e, excepcionalmente, em famlia substituta (adoo, guarda e tutela), conforme Captulo III, Seo III do ECA.

    Todos os esforos devem ser empreendidos para que, em um perodo inferior a dois anos, seja viabilizada a reintegrao familiar para famlia nuclear ou extensa, em seus diversos arranjos ou, na sua impossibilidade, o encaminhamento para famlia substituta. A permanncia de crianas e adolescentes em servio de acolhimento por perodo superior a dois anos dever ter carter extremamente excepcional, e

    15 Benefcio da Assistncia Social que garante renda bsica, no valor de um salrio mnimo, estabelecido pela Constituio Federal e regulamentado pela LOAS, dirigido s pessoas com decincia e aos idosos, a partir de 65 anos de idade, observado, para acesso, o critrio de renda previsto na Lei.16 Centro de Referncia de Assistncia Social - Unidade pblica estatal de base territorial, localizada em reas de maior vulnerabilidade social. Executa servios de proteo bsica, organiza e coordena a rede de servios socioassistenciais local da poltica de assistncia social. porta de entrada para a rede de servios socioassistenciais da Proteo Social Bsica do Sistema nico de Assistncia Social.17 Ver Articulao Intersetorial Item 3.4

  • Captulo I | 2. Princpios

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    estar fundamentada em uma avaliao criteriosa acerca de sua necessidade pelos diversos rgos que acompanham o caso.

    Quando o prognstico de permanncia da criana e do adolescente no servio de acolhimento for de mais de dois anos, deve ser encaminhado Justia da Infncia e da Juventude relatrio baseado no acompanhamento da situao pelo servio de acolhimento e em outros servios da rede que tambm prestem atendimento criana, ao adolescente e sua famlia. Tal relatrio ser fundamental para subsidiar a avaliao, por parte da Justia, quanto melhor alternativa para a criana e o ado-lescente, seja a continuidade dos esforos para o retorno ao convvio familiar ou o encaminhamento para famlia substituta.

    Nas situaes em que se mostrar particularmente difcil garantir o direito convivn-cia familiar, como, por exemplo, no caso encaminhamento para adoo de crianas e adolescentes com perl de difcil colocao em famlia substituta18, faz-se especial-mente necessrio o esforo conjunto dos atores envolvidos no sentido de buscar o fortalecimento da autonomia e das redes sociais de apoio das crianas e adolescen-tes que aguardam adoo, e perseverar no desenvolvimento de estratgias para a busca ativa de famlias para seu acolhimento.

    Em nenhuma hiptese a perspectiva de um acolhimento de longa permanncia deve acarretar a desistncia pela busca de alternativas para se garantir criana e ao adolescente seu direito ao convvio familiar, prioritariamente com a famlia de origem e, excepcionalmente, a substituta.

    2.3 Preservao e Fortalecimento dos Vnculos Familiares e Comunitrios

    Todos os esforos devem ser empreendidos para preservar e fortalecer vnculos familiares e comunitrios das crianas e dos adolescentes atendidos em servios de acolhimento. Esses vnculos so fundamentais, nessa etapa do desenvolvimen-to humano, para oferecer-lhes condies para um desenvolvimento saudvel, que favorea a formao de sua identidade e sua constituio como sujeito e cidado. Nesse sentido, importante que esse fortalecimento ocorra nas aes cotidianas dos servios de acolhimento - visitas e encontros com as famlias e com as pessoas de referncias da comunidade da criana e do adolescente, por exemplo.

    Crianas e adolescentes com vnculos de parentesco, no devem ser separados ao serem encaminhados para servio de acolhimento, salvo se isso for contrrio ao seu desejo ou interesses ou se houver claro risco de violncia19.

    18 Crianas que j passaram da primeira infncia e adolescentes, crianas e adolescentes com decincia ou necessidades especcas de sade, pertencentes a minorias tnicas, que faam parte de grupos grandes de irmos, dentre outros. 19 Projeto de Diretrizes das Naes Unidas Sobre Emprego e Condies Adequadas de Cuidados Alternativos com Crianas (2006). Disponvel em http://www.presidencia.gov.br/sedh. Acesso em: 02/02/2009.

  • Orientaes Tcnicas: Servios de Acolhimento para Crianas e Adolescentes

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    2.4 Garantia de Acesso e Respeito Diversidade e No-discriminao

    A organizao dos servios dever garantir proteo e defesa a toda a criana e ado-lescente que precise de acolhimento. Devem ser combatidas quaisquer formas de discriminao s crianas e aos adolescentes atendidos em servios de acolhimento e s famlias de origem, baseadas em condio scio-econmica, arranjo familiar20, etnia, religio, gnero, orientao sexual, ou, ainda, por serem pessoas com necessi-dades especiais em decorrncia de decincia fsica ou mental, que vivem com HIV/AIDS ou outras necessidades especcas de sade.

    De modo a possibilitar a oferta de um atendimento inclusivo e de qualidade nos servi-os de acolhimento a crianas e adolescentes, o Projeto Poltico Pedaggico21 do servi-o deve prever estratgias diferenciadas para o atendimento a demandas especcas, mediante acompanhamento de prossional especializado. Alm disso, a articulao com a poltica de sade, de educao, esporte e cultura deve garantir o atendimento na rede local a estas crianas e adolescentes (servios especializados, tratamento e me-dicamentos, dentre outros) e a capacitao e apoio necessrio aos educadores/cuida-dores e demais prossionais do servio de acolhimento. Tal aspecto importante para garantir, de fato, um atendimento individualizado e personalizado, com estratgias metodolgicas condizentes com as necessidades da criana e do adolescente. Todos os equipamentos da rede socioassistencial devem, ainda, respeitar as normas de acessibi-lidade, de maneira a possibilitar o atendimento integrado a usurios com decincia.

    Em ateno ao princpio da no-discriminao, os servios de acolhimento devem buscar o crescente aprimoramento de estratgias voltadas preservao da diversi-dade cultural, oportunizando acesso e valorizao das razes e cultura de origem das crianas e dos adolescentes atendidos, bem como de suas famlias e comunidades de origem.

    Em ateno, ainda, ao princpio da no discriminao, destaca-se que a presena de decincia ou de necessidades especcas de sade no deve motivar o encaminha-mento para servio de acolhimento ou, ainda, o prolongamento da permanncia da criana ou adolescente nestes servios.

    2.5 Oferta de Atendimento Personalizado e Individualizado

    Toda criana e adolescente tem direito a viver num ambiente que favorea seu pro-cesso de desenvolvimento, que lhe oferea segurana, apoio, proteo e cuidado. Nesse sentido, quando o afastamento for necessrio e enquanto solues para a retoma-da do convvio familiar forem buscadas, os servios de acolhimento devero prestar cui-

    20 Formas de organizao interna famlia, incluindo os papis e funes familiares, modos de representar e viver as relaes de gnero e de gerao, de autoridade e afeto. Os arranjos familiares podem ser compreendidos em torno da relao de parentalidade (famlias com ou sem lhos, lhos conjuntos do casal, lhos de diferentes unies, etc) e em relao conjugalidade (famlias nucleares, famlias mono-parentais, etc) e tambm em relao presena de demais parentes e agregados (famlias nucleares e famlias com relaes extensas).21 Ver Item 3.5 do Captulo II das Orientaes Metodolgicas

  • Captulo I | 2. Princpios

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    dados de qualidade, condizentes com os direitos e as necessidades fsicas, psicolgicas e sociais da criana e do adolescente. Para tanto, o atendimento dever ser oferecido para um pequeno grupo e garantir espaos privados, objetos pessoais e registros, inclusive fotogrcos, sobre a histria de vida e desenvolvimento de cada criana e adolescente.

    A organizao de condies que favoream a formao da identidade da criana e do adolescente implica o respeito sua individualidade e histria de vida. O plane-jamento do atendimento no servio deve possibilitar, portanto, espaos que pre-servem a intimidade e a privacidade, inclusive, o uso de objetos que possibilitem criana e ao adolescente diferenciar o meu, o seu e o nosso.

    2.6 Garantia de Liberdade de Crena e Religio

    Os antecedentes religiosos de crianas e adolescentes devem ser respeitados tan-to pelo servio de acolhimento quanto por aqueles com os quais venha a manter contato em razo de seu acolhimento. Nenhuma criana ou adolescente dever ser incentivado ou persuadido a mudar sua orientao religiosa enquanto estiver sob cuidados em servio de acolhimento22.

    Visando a garantia do direito liberdade de crena e culto religioso, assegurado no Art. 16 do ECA, os servios de acolhimento devem propiciar, ainda, que a criana e o adolescente possam satisfazer suas necessidades de vida religiosa e espiritual. Nesse sentido, deve ser viabilizado o acesso s atividades de sua religio, bem como o di-reito de no participar de atos religiosos e recusar instruo ou orientao religiosa que no lhe seja signicativa23.

    2.7 Respeito Autonomia da Criana, do Adolescente e do Jovem

    As decises acerca de crianas e adolescentes atendidos em servios de acolhimen-to devem garantir-lhes o direito de ter sua opinio considerada. O direito escuta, viabilizada por meio de mtodos condizentes com seu grau de desenvolvimento24, deve ser garantido nas diversas decises que possam repercutir sobre seu desenvol-vimento e trajetria de vida, envolvendo desde a identicao de seu interesse pela participao em atividades na comunidade, at mudanas relativas sua situao familiar ou desligamento do servio de acolhimento25.

    A organizao do ambiente de acolhimento tambm dever proporcionar o forta-lecimento gradativo da autonomia, de modo condizente com o processo de desen-volvimento e a aquisio de habilidades nas diferentes faixas etrias. O desenvolvi-

    22 Projeto de Diretrizes das Naes Unidas Sobre Emprego e Condies Adequadas de Cuidados Alternativos com Crianas (2006), p.24. Disponvel em http://www.presidencia.gov.br/sedh. Acesso em: 02/02/2009. 23 Idem24 Podem ser realizadas atividades ldicas como jogos, leitura e construo de estrias, desenhos, dramatizaes de situaes prximas s reais, dentre outras estratgias que garantam escuta a criana e ao adolescente, de acordo com sua etapa de desenvolvimento, de forma a respeitar e validar os contedos apresentados.25 Projeto de Diretrizes das Naes Unidas Sobre Emprego e Condies Adequadas de Cuidados Alternativos com Crianas (2006), p.24. Disponvel em http://www.presidencia.gov.br/sedh. Acesso em: 02/02/2009

  • Orientaes Tcnicas: Servios de Acolhimento para Crianas e Adolescentes

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    mento da autonomia nos servios de acolhimento no deve ser confundido, todavia, com falta de autoridade e limites. A liberdade deve ser vista como parceira da res-ponsabilidade, considerando que uma no pode ser adquirida sem a outra.

    Crianas e adolescentes devem ter a oportunidade de participar da organizao do cotidiano do servio de acolhimento, por meio do desenvolvimento de atividades como, por exemplo, a organizao dos espaos de moradia, limpeza, programao das atividades recreativas, culturais e sociais. No caso de servios de acolhimento institucional, esta participao pode ser viabilizada, inclusive, por meio da realiza-o sistemtica de assemblias, nas quais crianas e adolescentes possam se colocar de modo protagonista.

    Devem ser planejadas aes que favoream a interao das crianas e dos adoles-centes entre si e com os contextos nos quais freqentam, como a escola, a comuni-dade, e as instituies religiosas. O desenvolvimento da autonomia deve levar em considerao, ainda, a cultura de origem da criana e do adolescente e fortalecer a elaborao de projetos de vida individuais e o desenvolvimento saudvel, inclusive aps o desligamento e a entrada na vida adulta.

  • 30

    Captulo ll3 Orientaes Metodolgicas

    Enquanto o acolhimento for necessrio, fundamental ofertar criana e ao ado-lescente um ambiente e cuidados facilitadores do desenvolvimento, de modo a fa-vorecer, dentre outros aspectos: i. Seu desenvolvimento integral; ii. A superao de vivncias de separao e violncia; iii. A apropriao e ressignicao de sua histria de vida; e iv. O fortalecimento da cidadania, autonomia e a insero social. Em con-sonncia com diretrizes nacionais e internacionais de cuidados a crianas e adoles-centes em servios de acolhimento, as orientaes abordadas neste captulo visam contribuir para a melhoria dos atendimentos prestados nestes servios.

    3.1 Estudo Diagnstico

    O estudo diagnstico tem como objetivo subsidiar a deciso acerca do afastamento da criana ou adolescente do convvio familiar. Salvo em situaes de carter emer-gencial e/ou de urgncia, esta medida deve ser aplicada por autoridade competen-te, com base em uma recomendao tcnica, a partir de um estudo diagnstico, caso a caso, realizado por equipe interprossional do rgo aplicador da medida ou por equipe formalmente designada para este m. Em todos os casos, a realizao deste estudo diagnstico deve ser realizada sob superviso e estreita articulao com Conselho Tutelar, Justia da Infncia e da Juventude e equipe de referncia do rgo gestor da Assistncia Social26. Sempre que necessrio, o rgo aplicador da medida poder requisitar, ainda, avaliao da situao por parte de outros servios da rede como, por exemplo, da Delegacia de Proteo da Criana e do Adolescente e de servios de sade.

    Os uxos e responsabilidades referentes realizao do estudo diagnstico devero ser denidos a partir de acordos formais rmados entre os rgos envolvidos, con-siderando a realidade, os recursos existentes e o respeito s competncias legais de cada rgo da rede de atendimento e do Sistema de Garantia de Direitos.

    O estudo diagnstico deve incluir uma criteriosa avaliao dos riscos a que esto sub-metidos a criana ou o adolescente e as condies da famlia para superao das viola-es de direitos observadas e o provimento de proteo e cuidados. Com a devida fun-damentao terica, o estudo deve levar em conta a proteo e a segurana imediata da criana e do adolescente, bem como seu cuidado e desenvolvimento em longo prazo.

    26 A composio e o papel de tal equipe est melhor detalhada no item 3.4 - Articulao Intersetorial.

  • Orientaes Tcnicas: Servios de Acolhimento para Crianas e Adolescentes

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    Sem a pretenso de abarcar todas as questes relevantes que devero ser levan-tadas em um diagnstico, sugere-se que o mesmo possibilite identicar: composi-o familiar, histria e dinmica de relacionamento entre seus membros; valores e crenas da famlia; demandas e estratgias desenvolvidas para o enfrentamento de situaes adversas; e situaes de vulnerabilidade e risco s quais esto expostos os integrantes do grupo familiar. Nessa perspectiva, recomenda-se que o estudo diag-nstico contemple, dentre outros, os seguintes aspectos:

    !"Composio familiar e contexto scio-econmico e cultural no qual a fam-lia est inserida;

    !"mapeamento dos vnculos signicativos na famlia extensa e anlise da rede social de apoio da criana ou adolescente e de sua famlia (famlia extensa, amigos, vizinhos, padrinhos, instituies, etc.);

    !"valores e costumes da comunidade da qual a famlia faa parte, especial-mente, no caso de minorias tnicas ou comunidades tradicionais;

    !"condies de acesso da famlia a servios, programas e projetos das di-versas polticas pblicas que possam responder s suas necessidades;

    !"situaes de vulnerabilidade e risco vivenciadas pela famlia que repercu-tam sobre sua capacidade de prover cuidados;

    !"situao atual da criana ou adolescente e de sua famlia, inclusive motiva-o, potencial e diculdades da famlia para exercer seu papel de cuidado e proteo;

    !"histria familiar e se h padres transgeracionais de relacionamento com violao de direitos;

    !"situaes atuais e pregressas de violncia intra-familiar contra a criana e o adolescente, gravidade e postura de cada membro da famlia em relao mesma;

    !"nos casos de violncia intra-familiar, se h conscincia da inadequao e das conseqncias negativas destas prticas para a criana e o adolescente e se h movimento em direo mudana e construo de novas possibi-lidades de relacionamento;

    !"anlise da intensidade e qualidade dos vnculos entre os membros da fam-lia (vinculao afetiva, interao, interesse e participao na vida da criana e do adolescente);

    !"percepo da criana ou adolescente em relao possibilidade de afasta-mento do convvio familiar se demonstra, por exemplo, medo de perma-necer na famlia ou tristeza por afastar-se da mesma;

    !"possibilidade de interveno prossional e encaminhamentos que visem superao da situao de violao de direitos, sem a necessidade de afasta-mento da criana e do adolescente da famlia;

    !"nos casos de violncia intra-familiar, se h possibilidade de afastamento do agressor da moradia comum para a manuteno da criana ou adolescente na moradia em condies de proteo e segurana (Art. 130 do ECA);

  • Captulo II | 3. Orientaes Metodolgicas

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    !"grau de risco e desproteo ao qual a criana ou adolescente estar expos-to se no for afastada do ambiente familiar;

    !"vericao da existncia de pessoas signicativas da comunidade para a criana ou adolescente que possam vir a acolh-los, de forma segura, no caso de necessidade de afastamento da famlia de origem.

    O processo de avaliao diagnstica deve incluir uma escuta qualicada de todos os envolvidos: integrantes da famlia, inclusive a criana e o adolescente27, pessoas da comunidade com vnculos signicativos com a famlia e prossionais que estejam prestando-lhes atendimento, dentre outros.

    Alm da avaliao dos riscos aos quais porventura a criana ou adolescente estejam expostos no ambiente familiar, antes de considerar o encaminhamento para servio de acolhimento como uma alternativa para garantir sua proteo, preciso observar se na famlia extensa ou comunidade h pessoas signicativas que possam e acei-tem se responsabilizar por seus cuidados.

    No estudo diagnstico deve-se buscar identicar, ainda, se a situao de risco qual est exposta a criana ou adolescente decorre exclusivamente do contexto social, histrico e econmico de vida da famlia e se a garantia de apoio, orientao e aces-so s diversas polticas pblicas seria suciente para reduzir os riscos e possibilitar a manuteno do convvio familiar.

    Alm de avaliar se h necessidade ou no de afastamento do convvio familiar, o estudo diagnstico deve analisar o perl e as demandas especcas da criana ou adolescente, de forma a subsidiar a deciso pelo encaminhamento para o servi-o de acolhimento que melhor atenda s suas peculiaridades. Para a identicao do servio mais adequado, deve-se considerar, ainda, sua estrutura fsica, recursos humanos e Projeto Poltico-Pedaggico, alm da possibilidade de manuteno de vnculos comunitrios da criana ou adolescente e a continuidade da freqncia mesma escola e aos equipamentos comunitrios aos quais estejam vinculados. Sal-vo nos casos em que o afastamento de sua comunidade de origem for essencial para garantir-lhes segurana, deve-se evitar que a incluso em um servio de aco-lhimento resulte no rompimento ou na fragilizao dos vnculos comunitrios e de pertencimento preexistentes.

    3.2 Plano de Atendimento Individual e Familiar

    Assim que a criana ou adolescente chegar ao servio de acolhimento, a equipe tcnica do servio, que, onde houver, poder contar com a contribuio da equipe responsvel pela superviso dos servios de acolhimento (ligada ao rgo gestor da Assistncia Social) para elaborar um Plano de Atendimento Individual e Familiar, no qual constem objetivos, estratgias e aes a serem desenvolvidos tendo em vista

    27 Podem ser realizadas atividades ldicas como jogos, leitura e construo de estrias, desenhos, dramatizaes de situaes prximas s reais, dentre outras estratgias que garantam escuta a criana e ao adolescente, de acordo com sua etapa de desenvolvimento, de forma a respeitar e validar os contedos apresentados.

  • Orientaes Tcnicas: Servios de Acolhimento para Crianas e Adolescentes

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    a superao dos motivos que levaram ao afastamento do convvio e o atendimento das necessidades especcas de cada situao. A elaborao deste Plano de Atendi-mento deve ser realizada em parceria com o Conselho Tutelar e, sempre que poss-vel, com a equipe interprossional da Justia da Infncia e da Juventude. Tal Plano dever partir das situaes identicadas no estudo diagnstico inicial que embasou o afastamento do convvio familiar.

    Quando o acolhimento tiver sido realizado em carter emergencial e/ou de urgn-cia, sem estudo diagnstico prvio, recomenda-se que este estudo seja realizado em at vinte dias aps o acolhimento, a m de avaliar a real necessidade da medida ou a possibilidade imediata de retorno da criana ou adolescente ao convvio familiar. Se o acolhimento emergencial tiver sido realizado sem prvia determinao da autori-dade competente, esta dever ser comunicada at o 2 dia til imediato, conforme o Art. 93 do ECA.

    No caso de crianas e adolescentes acolhidos sem referncia familiar, o fato deve ser comunicado Delegacia de Proteo Criana e ao Adolescente ou, quando no houver, delegacia mais prxima. O servio de acolhimento, em parceria com a referida delegacia, deve consultar o Cadastro Nacional de Crianas e Adolescentes Desaparecidos28 e outros Cadastros similares existentes nos Estados, a m de veri-car se no se trata de criana ou adolescente desaparecido. Nestes casos, tendo em vista a localizao de pais ou responsveis, deve-se, ainda, por meio de mtodos adequados, buscar informaes com a prpria criana ou adolescente como, por exemplo: seu nome completo, idade, nome de pessoas da famlia, escola onde es-tudava, bairro ou pontos de referncia de sua moradia, municpio de procedncia, etc. Recomenda-se que estas informaes sejam levantadas de modo gradativo no perodo inicial do acolhimento, pois, dependendo da idade, a criana pode no se lembrar de tais informaes aps certo perodo.

    Os cadastros de crianas e adolescentes desaparecidos devem tambm ser consulta-dos no caso de crianas e adolescentes acolhidos que estejam em processo de sada da situao de rua. Nestas situaes deve-se buscar analisar junto criana ou ao adolescente sua situao familiar, os motivos que levaram sada de casa e o desejo de retomada do contato com familiares, sobretudo com aqueles que a estiverem procurando.

    A situao de todas aquelas crianas e adolescentes j acolhidos deve tambm ser revista, de modo a garantir que todos estejam em acompanhamento. Para estas situa-es deve-se tambm, na elaborao do Plano de Atendimento considerar os moti-vos do afastamento e as intervenes realizadas at o momento, a partir dos quais devem ser delineadas outras intervenes necessrias tendo em vista o alcance de solues de carter mais denitivo para a criana e o adolescente.

    O Plano de Atendimento tem como objetivo orientar o trabalho de interveno du-rante o perodo de acolhimento, visando superao das situaes que ensejaram a aplicao da medida. Deve basear-se em um levantamento das particularidades,

    28 Cadastro Nacional de Crianas e Adolescentes Desaparecidos disponvel em: www.desaparecidos.mj.gov.br. O cadastro tambm possibilita a divulgao de informaes acerca de crianas e adolescentes que procuram por suas famlias, representando importante ferramenta para esgotar as possibilidades de localizao da famlia de origem.

  • Captulo II | 3. Orientaes Metodolgicas

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    potencialidades e necessidades especcas de cada caso e delinear estratgias para o seu atendimento. Tal levantamento constitui um estudo da situao que deve con-templar, dentre outros aspectos:

    !"Motivos que levaram ao acolhimento e se j esteve acolhido neste ou em outro servio anteriormente, dentre outros;

    !"Congurao e dinmica familiar, relacionamentos afetivos na famlia nu-clear e extensa, perodo do ciclo de vida familiar, diculdades e potenciali-dades da famlia no exerccio de seu papel.

    !"Condies scio-econmicas, acesso a recursos, informaes e servios das diversas polticas pblicas;

    !"Demandas especcas da criana, do adolescente e de sua famlia que re-queiram encaminhamentos imediatos para a rede (sofrimento psquico, abuso ou dependncia de lcool e outras drogas, etc.), bem como poten-cialidades que possam ser estimuladas e desenvolvidas;

    !"Rede de relacionamentos sociais e vnculos institucionais da criana, do adolescente e da famlia, composta por pessoas signicativas29 na comuni-dade, colegas, grupos de pertencimento, atividades coletivas que freqen-tam na comunidade, escola, instituies religiosas, etc.;

    !"Violncia e outras formas de violao de direitos na famlia, seus signica-dos e possvel transgeracionalidade30;

    !"Signicado do afastamento do convvio e do servio de acolhimento para a criana, o adolescente e a famlia;

    A partir deste levantamento inicial devem ser denidas estratgias de atuao que contribuam para a superao dos motivos que levaram ao acolhimento. Tais estrat-gias devem primar pelo fortalecimento dos recursos e das potencialidades da fam-lia (nuclear ou extensa), da criana, do adolescente, da comunidade e da rede local, a m de possibilitar o desenvolvimento de um trabalho que possa conduzir a solues de carter mais denitivo, como a reintegrao familiar, a colocao sob cuidados de pessoa signicativa da comunidade ou, quando essa se mostrar a alternativa que melhor atenda ao superior interesse da criana e do adolescente, o encaminhamen-to para adoo. Quando se tratar de adolescente com idade prxima maioridade com remotas perspectivas de colocao em famlia substituta devem ser viabiliza-das aes destinadas preparao para a vida autnoma.

    O Plano de Atendimento Individual e Familiar deve orientar as intervenes a serem desenvolvidas para o acompanhamento de cada caso, devendo contemplar, dentre outras, estratgias para:

    !"desenvolvimento saudvel da criana e do adolescente durante o perodo de acolhimento: encaminhamentos necessrios para servios da rede (sade,

    29 aquela com quem a criana ou adolescente tem laos afetivos ou com quem estabeleceu relaes de conana, que garanta prote-o e cuidado.30 Caracteriza a passagem de uma gerao a outra de formas de lidar com as crises, que no depende apenas do recurso da famlia nuclear, mas tambm dos legados familiares, ou seja, a forma como as outras geraes resolveram as mesmas crises. PENSO, Maria Apa-recida; COSTA, Liana F. (Orgs.). A transmisso geracional em diferentes contextos. So Paulo: Summus, 2008.

  • Orientaes Tcnicas: Servios de Acolhimento para Crianas e Adolescentes

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    educao, assistncia social, esporte, cultura e outros); atividades para o desenvolvimento da autonomia; acompanhamento da situao escolar; preservao e fortalecimento da convivncia comunitria e das redes so-ciais de apoio; construo de projetos de vida; relacionamentos e interao no servio de acolhimento educadores/cuidadores, demais prossionais e colegas; preparao para ingresso no mundo do trabalho, etc;

    !"investimento nas possibilidades de reintegrao familiar: fortalecimento dos vnculos familiares e das redes sociais de apoio; acompanhamento da fam-lia, em parceria com a rede, visando superao dos motivos que levaram ao acolhimento; potencializao de sua capacidade para o desempenho do papel de cuidado e proteo; gradativa participao nas atividades que en-volvam a criana e o adolescente; etc. Nos casos de crianas e adolescentes em processo de sada da rua deve-se,ainda, buscar a identicao dos fami-liares, dos motivos que conduziram situao de rua e se h motivao e possibilidades para a retomada da convivncia familiar;

    !"acesso da famlia, da criana ou adolescente a servios, programas e aes das diversas polticas pblicas e do terceiro setor que contribuam para o alcance de condies favorveis ao retorno ao convvio familiar31;

    !"investimento nos vnculos afetivos com a famlia extensa e de pessoas signifi-cativas da comunidade: fortalecimento das vinculaes afetivas e do papel na vida da criana e do adolescente; apoio aos cuidados com a criana ou adolescente no caso de reintegrao familiar ou at mesmo responsabiliza-o por seu acolhimento;

    !"encaminhamento para adoo quando esgotadas as possibilidades de retorno ao convvio familiar: articulao com o Poder Judicirio e o Ministrio P-blico para viabilizar, nestes casos, o cadastramento para adoo. Desde que haja superviso do Poder Judicirio, uma estratgia que pode ser empreen-dida tambm pelos servios de acolhimento, em parceria com Grupos de Apoio Adoo ou similares, diz respeito busca ativa de famlias para a adoo de crianas e adolescentes com perl de difcil colocao familiar.

    A elaborao do Plano de Atendimento Individual e Familiar deve envolver uma es-cuta qualicada da criana, do adolescente e de sua famlia, bem como de pessoas que lhes sejam signicativas em seu convvio, de modo a compreender a dinmica familiar e as relaes estabelecidas com o contexto. necessrio que a criana, o adolescente e as famlias tenham papel ativo nesse processo e possam, junto aos tcnicos e demais integrantes da rede, pensar nos caminhos possveis para a su-perao das situaes de risco e de violao de direitos, participando da denio dos encaminhamentos, intervenes e procedimentos que possam contribuir para

    31 Imediatamente aps a entrada da criana ou adolescente no servio de acolhimento a famlia deve ser encaminhada ao rgo res-ponsvel pela gesto do Cadnico no municpio, para que seja realizado seu cadastramento ou reviso cadastral, ressaltando-se a impor-tncia de preenchimento do campo 3.09, indicado a presena no grupo familiar de criana ou adolescente institucionalizado.

  • Captulo II | 3. Orientaes Metodolgicas

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    o atendimento de suas demandas. Tambm devem ser ouvidos outros prossionais que porventura estejam atendendo ou tenham atendido a criana, o adolescente ou a famlia, como nos casos de acompanhamento por equipes de sade mental, de outros servios da rede socioassistencial e da escola, dentre outros.

    Os Planos de Atendimento Individual e Familiar devero ser encaminhados para conhecimento do Sistema de Justia e do Conselho Tutelar, em prazo previamente acordado. Tais rgos devem acompanhar as intervenes realizadas com a famlia, sendo acionados quando necessria a aplicao de outras medidas protetivas para assegurar o acesso da criana, do adolescente ou da famlia aos servios disponveis na rede (ECA, Art. 101, Inciso I a VI).

    O desenvolvimento das aes do Plano de Atendimento deve ser realizado de modo articulado com os demais rgos e servios que estejam acompanhando a famlia, a criana ou o adolescente (escola, Unidade Bsica de Sade, Estratgia de Sade da Famlia, CAPS, CREAS, CRAS, programas de gerao de trabalho e renda, etc.), a m de que o trabalho conduza, no menor tempo necessrio, a uma resposta denitiva para a criana e o adolescente, que no seja re-vitimizadora ou precipitada. Para tanto, devero ser realizadas reunies peridicas para estudo de cada caso pelos prossionais envolvidos, para acompanhamento da evoluo do atendimento, veri-cao do alcance dos objetivos acordados, avaliao da necessidade de reviso do Plano de Atendimento e elaborao de estratgias de ao que possam responder s novas situaes surgidas durante o atendimento. As concluses resultantes de tais reunies serviro, inclusive, de subsdio para a elaborao de relatrios semes-trais a serem enviados autoridade judiciria e ao Ministrio Pblico.

    Os servios de acolhimento devem construir uma sistemtica de atendimento que possibilite o incio da elaborao do Plano de Atendimento Individual e Familiar imediatamente aps o acolhimento da criana ou adolescente, para que se alcan-cem, no menor tempo necessrio, solues de carter mais denitivo. Cabe ressaltar, nalmente, que a nfase do Plano de Atendimento deve ser na construo de estra-tgias para o atendimento, de modo a no transform-lo em mera formalidade. Um registro sinttico do Plano de Atendimento no deve, ainda, signicar sua limitao s estratgias inicialmente elaboradas, devendo-se garantir que seja sempre din-mico e aberto a mudanas, reformulaes e aprimoramento, baseado nas interven-es realizadas e em seus resultados.

    3.3 Acompanhamento da Famlia de Origem

    A implementao de uma sistemtica de acompanhamento da situao familiar, iniciada imediatamente aps o acolhimento, fundamental, pois, com o passar do tempo, tanto as possibilidades de reintegrao familiar, quanto de adoo podem tornar-se mais difceis. O prolongamento do afastamento da criana ou adoles-cente pode provocar enfraquecimento dos vnculos com a famlia, perda de refe-rncias do contexto e de valores familiares e comunitrios, exigindo preparao ainda mais cuidadosa no caso de reintegrao familiar. Do mesmo modo, o pro-longamento desnecessrio do encaminhamento para adoo, nas situaes em que esta constitui a melhor medida para a criana ou adolescente, pode reduzir

  • Orientaes Tcnicas: Servios de Acolhimento para Crianas e Adolescentes

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    consideravelmente as possibilidades de colocao familiar, em virtude das dificul-dades observadas no contexto brasileiro para a realizao de adoes de crianas maiores e de adolescentes.

    Dar incio ao acompanhamento da situao familiar imediatamente aps a chegada da criana ou adolescente importante, ainda, para que a equipe tcnica possa, no menor tempo possvel, fazer sua anlise quanto a real necessidade do acolhimento. Caso conclua que a manuteno do afastamento da criana ou adolescente do con-vvio familiar no necessria, a equipe tcnica responsvel pelo acompanhamento deve proceder aos encaminhamentos para viabilizar a imediata reintegrao. Nes-tas situaes a famlia tambm dever ser informada do seu direito a questionar o afastamento e requerer, junto Justia, por intermdio de advogado nomeado ou Defensor Pblico, a reintegrao da criana ou adolescente (ECA, Art. 141)32.

    Nos servios onde porventura haja crianas e adolescentes j acolhidos cuja situa-o familiar no esteja sendo acompanhada, a equipe tcnica deve tambm iniciar estes acompanhamentos, buscando solues que contribuam para assegurar a ex-cepcionalidade e a provisoriedade do acolhimento. O acompanhamento da situao familiar, nestas situaes, fundamental para se identicar:

    !"crianas e adolescentes que permanecem acolhidos unicamente pela situao de pobreza de suas famlias: situao que exige o investimento imediato em estratgias para seu retorno ao convvio familiar;

    !"crianas e adolescente, ou membros da famlia, com direito, mas sem acesso ao BPC. Nestes casos deve-se proceder ao encaminhamento para o CRAS - ou rgo gestor responsvel - para seu cadastramento no Benefcio, de-vendo tal medida ser acompanhada do investimento nas possibilidades de reintegrao;

    !"crianas e adolescentes sem possibilidades de reintegrao ao convvio fami-liar (famlia nuclear ou extensa): situao que exige imediatos encaminha-mentos para o Sistema de Justia, para o cadastramento para adoo e a Destituio do Poder Familiar.

    A interveno prossional na etapa inicial do acompanhamento deve proporcionar, de modo construtivo, a conscientizao por parte da famlia de origem dos motivos que levaram ao afastamento da criana e/ou do adolescente e das conseqncias que podem advir do fato. Esta conscientizao fundamental para que as prximas etapas possam ser planejadas, com acordos rmados entre servio e famlia, com vistas ao desenvolvimento de aes pr-ativas que contribuam para a superao de situaes adversas ou padres violadores que possam ter levado ao afastamen-to. A equipe tcnica do servio de acolhimento deve, ainda, acompanhar o trabalho desenvolvido com a famlia na rede local, mantendo-a informada, inclusive, a respei-to de possveis decises por parte da Justia.

    32 O Servio de Acolhimento pode tambm recorrer a advogado ou defensor pblico quando considerar que, apesar de fundamentada, a reintegrao ou o cadastro da criana ou adolescente para adoo est sendo obstado pelo Poder Judicirio.

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    Devem ser rmados