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Revista Brasileira de Cartografia (2013) N 0 65/2: 293-301 Sociedade Brasileira de Cartografia, Geodésia, Fotogrametria e Sensoriamento Remoto ISSN: 1808-0936 S B C ORIGINAIS DE LEVANTAMENTO CADASTRAL Originals of the Cadastral Survey of Field Cesar Rogério Cabral 1 ; Markus Hasenack 1 & Jürgen W. Philips 2 1 Instituto Federal de Santa Catarina - IFSC Curso Técnico de Agrimensura Av. Mauro Ramos, 950, Centro, 88020-300, Florianópolis, SC [email protected], [email protected] 3 Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC Curso de Pós Graduação em Engenharia Civil Rua João Pio Duarte, s.n., Córrego Grande, 88040-900, Florianópolis, SC [email protected] Recebido em 27 de janeiro, 2012/ Aceito em 12 de abril, 2012 Received on january 27, 2012/ Accepted on april 12, 2012 RESUMO Este texto apresenta uma proposta para o artigo 7º inciso I das Diretrizes do Cadastro Territorial Multifinalitário, que visam medições cadastrais urbana, neste sentido, deve-se entender esse trabalho como início das discussões sobre a importância e o conteúdo do croqui e da caderneta de campo, como partes integrantes dos originais do levantamento cadastral de campo, bem como, ter regras padronizadas para que qualquer técnico possa interpretar um o trabalho de outro, sendo o suporte para qualquer representação cartográfica posterior, no sentido de que, esta última deva sempre se referir aos valores originais dos levantamentos que devem ser arquivados de forma sistemática, por parcelas e para todas as parcelas, como documento. Palavras chaves: Cadastro, Originais de Levantamento, Croqui, Caderneta de Campo. ABSTRACT This paper presents a proposal for Article 7 paragraph I of the Guidelines of the Territorial Cadastre Multipurpose aimed at measuring urban cadastre, in this sense, one must understand this work as the beginning of discussions on the size and content of the sketch and the notebook field, as integral parts of the original cadastral survey of the field, as well as having standard rules for any technician can interpret a work of another, with the support for any subsequent cartographic representation in the sense that the latter should always refer to the original surveys that must be archived in a systematic way, for all parts and parcels, as a document. Keywords: Cadastre, Originals of Surveying, Sketch, Survey Notebook. 1. INTRODUÇÃO A atual Lei de Registros Públicos (Lei nº 6.015/73, Art. 176, II, 3) estabelece que: a - se rural, do código do imóvel, dos dados constantes do CCIR, da denominação e de suas características, confrontações, localização e área; b - se urbano, de

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Revista Brasileira de Cartografia (2013) N0 65/2: 293-301Sociedade Brasileira de Cartografia, Geodésia, Fotogrametria e Sensoriamento RemotoISSN: 1808-0936

S B

C

ORIGINAIS DE LEVANTAMENTO CADASTRAL

Originals of the Cadastral Survey of Field

Cesar Rogério Cabral1; Markus Hasenack1 & Jürgen W. Philips2

1 Instituto Federal de Santa Catarina - IFSCCurso Técnico de Agrimensura

Av. Mauro Ramos, 950, Centro, 88020-300, Florianópolis, [email protected], [email protected]

3 Universidade Federal de Santa Catarina - UFSCCurso de Pós Graduação em Engenharia Civil

Rua João Pio Duarte, s.n., Córrego Grande, 88040-900, Florianópolis, [email protected]

Recebido em 27 de janeiro, 2012/ Aceito em 12 de abril, 2012

Received on january 27, 2012/ Accepted on april 12, 2012

RESUMO

Este texto apresenta uma proposta para o artigo 7º inciso I das Diretrizes do Cadastro Territorial Multifinalitário, que

visam medições cadastrais urbana, neste sentido, deve-se entender esse trabalho como início das discussões sobre a

importância e o conteúdo do croqui e da caderneta de campo, como partes integrantes dos originais do levantamento

cadastral de campo, bem como, ter regras padronizadas para que qualquer técnico possa interpretar um o trabalho de

outro, sendo o suporte para qualquer representação cartográfica posterior, no sentido de que, esta última deva sempre

se referir aos valores originais dos levantamentos que devem ser arquivados de forma sistemática, por parcelas e para

todas as parcelas, como documento.

Palavras chaves: Cadastro, Originais de Levantamento, Croqui, Caderneta de Campo.

ABSTRACT

This paper presents a proposal for Article 7 paragraph I of the Guidelines of the Territorial Cadastre Multipurpose aimed

at measuring urban cadastre, in this sense, one must understand this work as the beginning of discussions on the size

and content of the sketch and the notebook field, as integral parts of the original cadastral survey of the field, as well as

having standard rules for any technician can interpret a work of another, with the support for any subsequent cartographic

representation in the sense that the latter should always refer to the original surveys that must be archived in a

systematic way, for all parts and parcels, as a document.

Keywords: Cadastre, Originals of Surveying, Sketch, Survey Notebook.

1. INTRODUÇÃO

A atual Lei de Registros Públicos (Lei nº6.015/73, Art. 176, II, 3) estabelece que: a - se

rural, do código do imóvel, dos dados constantes doCCIR, da denominação e de suas características,confrontações, localização e área; b - se urbano, de

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suas características e confrontações, localização,área, logradouro, número e de sua designaçãocadastral, se houver. Estes dados são obtidos apartir de um extrato do título (escritura oudocumento resultante do ato judicial). A exigênciade planta é feita no caso de registro de loteamentos,desmembramentos, dentre outros casos, quando asmesmas ficam arquivadas no Cartório de Registrode Imóveis.

A identificação do imóvel na escritura, feitaatravés do extrato do memorial descritivo, peloescrevente responsável por dar forma legal aodocumento, pode conter inconsistências técnicas.Isto porque o memorial descritivo foi elaborado porum técnico com habilitação para este fim, o mesmonão ocorrendo com o extrato contido na escritura.A matrícula, por sua vez, conterá dados retiradosda escritura.

Pela falta de confiabilidade na descrição literaldo imóvel e também pela ausência de dadossuficientes de medição , muitas vezes oriundas dedados geométricos antigos é possível imaginar oenorme volume de problemas existentes. Sãoproblemas que ao se constituírem, como documentode interpretação dúbia, acabam gerando conflitosterríveis tais como, sobreposições de títulos,invasões, esbulhos, e até crimes, acarretandoconseqüentemente, enormes prejuízos à justiça e àsociedade, envolvendo contratação de Advogados,perda de tempo e outros ônus desnecessários.

Neste sentido, a identificação do imóvel emuma carta cadastral baseada em originais delevantamento cadastral de campo, elaborada portécnico qualificado, poderia ser utilizada emsubstituição ao atual sistema de descrição utilizadopelo Registro de Imóveis, o que está proposto nasDiretrizes para o CTM.

2 .O SISTEMA ATUAL

Os levantamentos topográficos e cadastraisem área urbana,são feitos geralmente em sistemasisolados, utilizando-se sistemas locais ou sistemasgeorreferenciados com pouca ou nenhumaconsistência de homogeneidade. Um dos motivosgeradores deste procedimento é o de não existiruma rede pública de pontos fixos pertencentes aoSistema Geodésico Brasileiro com uma densidadesuficiente que permita a conexão dos levantamentosdas propriedades imobiliárias, como acontece empaíses com maior tradição em geodésia e cadastro.

Mesmo nos casos em que esta rede existe,implantadas pelas Administrações municipais, alémde não existir nenhuma lei que obrigue a suautilização para esta finalidade, não existe nenhumórgão público centralizador dos trabalhos, que exijaque estes sejam feitos dentro de determinadosmétodos e procedimentos.

Assim, o levantamento, da maneira como vemsendo executado, deixa de situar a geometria doreferido imóvel no contexto de outros imóveis, numúnico sistema de coordenadas.

Tradicionalmente uma planta, é o únicodocumento que representa o levantamento e contémas feições do imóvel, desenhadas numa escalaconveniente, com os ângulos, os rumos e a área dopolígono em questão, porém ,não apresentanenhuma representação do sistema utilizado comoreferência para o levantamento. Por último, esteselementos geométricos do polígono , quer sejamem coordenadas polares ou retangulares ,sãodescritos num memorial descritivo.

Desta forma os levantamentos dos limiteslegais das áreas urbanas, quase sempre oriundosde sistemas isolados, provocam duplicidade nolevantamento de um mesmo limite contíguo,pertencente a dois ou mais imóveis.

Fig. 1 Matrícula no Registro de Imóveis. Fonte:CRI2o ofício Florianópolis.

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Originais de levantamento cadastral

Conseqüentemente, paga-se duas vezes para olevantamento deste único limite. Cada levantamentodará origem a uma geometria diferenciada para omesmo limite mesmo que, sejam usadosequipamentos eletrônicos da mais alta precisão hojedisponíveis no mercado. O limite legal da parcela éaquele descrito no registro de imóveis e nem semprecorresponde ao limite físico. A determinação dolimite legal deve utilizar métodos que identifiquem asituação legal contida no documento (PIMENTEL;CARNEIRO,2012).

Os limites das parcelas de imóveis vizinhosnão são comparados entre si em nenhum órgãotécnico, permanecendo quase sempre uma lacunatécnica (oriunda dos levantamentos duplos emsistemas diferentes) tendo como resultado, uma linhadivisória com azimute e distância descritos de formadiferente em cada título de propriedade. Mesmoassim, ambas acabam merecendo, pela atuallegislação, a possibilidade de gerar a matrícula doimóvel correspondente.

3. ORIGINAIS DE LEVANTAMENTOCADASTRAL

Os originais do levantamento cadastral decampo (o croqui de medição e a caderneta decampo) são os documentos mais importantes detodo o trabalho de cadastro territorial, já que este ébaseado em medições. É somente nestesdocumentos que se encontram as medições, os seuscontroles e os métodos utilizados. Da sua clareza,da sua nitidez, dos números que aí se encontramescritos, depende seu valor, por isso é importanteque sejam determinados padrões para a elaboraçãodestes.

Desta forma, quando se pensa napossibilidade de utilizar tais informações para aconfecção da carta cadastral, para a possívelidentificação do imóvel no registro imobiliário e paraa garantia geométrica deste, deve-se fazer um estudorigoroso quanto à simbologia a ser utilizada nodesenho dos croquis e na maneira mais eficaz de seescrever os valores numéricos das medições, obtidasdurante a execução das operações de levantamento.

Os detalhes a serem levantados em campodevem ser representados graficamente em escalaaproximada e a mão livre, durante as medições oupreparados anteriormente. Os originais delevantamento cadastral de campo têm comoconteúdo mais importante, as anotações dos valores

numéricos das medições efetuadas no campo.Todas as medições efetuadas e controles devem serregistradas de forma sistemática, obedecendo regrasque uma vez fixadas, conduzem sempre ao mesmoprocedimento, qualquer que seja o profissional demedição, visando diminuir o risco de divergênciasnos trabalhos e ensejando comparabilidade e rápidacorreção de qualquer engano. As medições devemser efetuadas com precisões pré-estabelecidas, deum imóvel no contexto de outros, ambos ligados auma mesma base geométrica de referência única epública, de modo a fornecer informações confiáveiscapazes de dirimir quaisquer dúvidas sobre aintegridade geométrica dos imóveis levantados.Forma-se assim, o conjunto dos registros originaisoriundos de um levantamento sistemático ehomogêneo.

É com base nas informações contidas nestesoriginais de medição que a carta cadastralsistemática é confeccionada. Toda vez que senecessitar construir nova carta ou houver dúvidasentre limites, recorre-se aos originais de medição.Estes originais tornam-se importantes instrumentoscapazes de sanar de imediato tal disputa, permitindoa reconstituição original do limite do imóvel.

As informações constantes nos originais demedição permitem visualizar de pronto os imóveisque aí estão desenhados em escala aproximada, quecontém ainda as medições de todos os pontos deinteresse juntamente com o método que foi utilizadopara a medição de cada ponto. Esse é o motivo

Fig. 2 Croqui de medição. Fonte:geoserver.hochsauerlandkreis.de.

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pelo qual os originais de medição devem serconsiderados como documentos.

4.TIPOS DE ORIGINAIS DELEVANTAMENTO CADASTRAL

As anotações de campo efetuadas pelotécnico devem conter o registro completo de todasas medições feitas durante o levantamento. A melhorequipe de topografia pouco vale, se as anotaçõesnão forem completas e claras. As anotações decampo constituem-se no único registro disponível,após a equipe de campo ter deixado o local delevantamento e devem ser guardadas com evidênciaoriginal, mediante a qual se produzem as cartasprecisas em escalas grandes.

O registro é feito em croquis de medição, emcadernetas de campo através de formulários etabelas ou em armazenador eletrônico de dados(coletor de dados) e em monografias dos pontos darede. Quando o assunto se referir a questão depropriedade imobiliária, denominam-se osresultados destas medições, de originais dolevantamento cadastral e neste caso, devem serestabelecidos procedimentos gerais visando adesejável e imprescindível uniformidade doselementos resultantes dos trabalhos de campo. Destaforma, é de capital importância a padronização dosregistros efetuados durante as operações delevantamento. A metodologia e as especificaçõestécnicas, devem obedecer a padrões e ser seguidaspor todos os profissionais de forma que osapontamentos de campo possam ser,compreendidos em qualquer época mesmo poraqueles que não são os seus autores.

4.1 Croqui de Medição

O croqui de medição é o registro dasmedições em forma de desenhos e valoresnuméricos. Pode ser confeccionado parcialmente,antes da realização das medições e concluído durantea realização das mesmas, ou confeccionado apenasdurante a realização das medições.

Os croquis de medição descrevem asposições relativas dos pontos levantados e detalhesdo terreno, complementados por valores numéricosde medições, nomes, números e outra informaçãode forma descritiva e simbólica a fim de constituí-loem um documento completo de levantamento. Nogabinete, o croqui é usado para traçar as cartascadastrais e confeccionar os documentos de

levantamento. Todas as informações devem serassinaladas no croqui com a maior clareza possívelpois são informações permanentes que, no caso delevantamentos relativos à propriedade, podemtambém ter significado legal. (BLACHUT et al.,1979, p.290)

De acordo com o INSTITUTOAMBIENTAL DO PARANÁ (1995, p.23), oregistro da origem dos dados técnicos é o suportede um cadastro técnico, por este motivo éimportante que permaneçam arquivados noescritório central respectivo, servindo como arquivode segurança e para futuras consultas, devendo serregistrado em controle próprio.

A NBR 13.133, de maio de 1994, quenormaliza a execução de levantamentostopográficos, define o croqui no seu item 3.6, daseguinte forma: croqui é o “esboço gráfico semescala, em breves traços, que facilite a identificaçãode detalhes”mas, não apresenta procedimentos decomo confeccionar o croqui.

4.2 Caderneta de Campo

Caderneta de campo é um documentodestinado ao registro dos elementos numéricos(tabela de valores) das medições realizadas obtidasdurante as diversas operações de levantamento. Aseleção dos objetos a serem levantados por ocasiãoda medição, depende da finalidade do emprego dolevantamento. Durante o registro, devem seranotados os dados, devem ser realizados osesboços ou croquis assim como pequenos cálculosde verificação para conferir os resultados, que,normalmente permitem verificar em campo anecessidade de uma nova medição. (CINTRA &VEIGA, 1998).A caderneta é formada por uma listade valores numéricos de medições de ângulos e dedistâncias, nomes e outra informação em formadescritiva. Cada ponto medido por ângulo edistância deverá ter um número que servirá paracorrelacionar as medidas registradas nos croquiscom as medidas correspondentes registradas nacaderneta de campo. Os valores da tabela poderãoser registrados em cadernetas manuais oueletrônicas.

A importância do registro dos dados éenfatizada por diversos autores. McCORMAC(1991) apud CINTRA & VEIGA (1998) diz quenenhuma fase do levantamento é tão importantequanto o registro das coordenadas de campo;

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CINTRA (1993) apud CINTRA e VEIGA (1998)acrescenta que sua importância é tal quenormalmente em ações demarcatórias, cujoprocedimento está prescrito no Código doProcesso Civil, exige-se a anexação de uma cópiadas anotações de campo ao processo jurídicoestabelecido. Ainda de acordo com CINTRA eVEIGA (1998), os registros dos dados coletadosem campo podem ser divididos em dois grupos: osmanuais, utilizando-se uma caderneta de campo eos que são realizados eletronicamente, através dealguma forma de registro digital, como é o exemplodos coletores de dados.

4.2.1 Caderneta de Campo Manual

A caderneta de campo é constituídanormalmente por blocos de folhas impressaspadronizadas, com tabelas, onde as medições sãomanualmente registradas, permitindo assim aorganização dos registros dos valores medidos(coordenadas polares). Esta representa a formamais antiga para o registro dos dados coletados.

São documentos próprios de equipamentosda geração óptico-mecânica e tendem a cair emdesuso com o advento dos instrumentos eletrônicos(CINTRA & VEIGA, 1998).

A tabela 1 mostra um exemplo de cadernetade campo manual.

4.2.2 Caderneta de Campo Eletrônica

Em decorrência da automação dosequipamentos para levantamentos, começou-se apensar em uma forma de automatizar o registro dosdados coletados. Já na década de sessenta,começaram os primeiros testes neste sentido. Desdeaquela época, esta automação evoluiu bastante. Hojeem dia, os equipamentos já possuem memóriasinternas que permitem a gravação de centenas e atémilhares de medidas, com uma rapidez muitosuperior aos sistemas antigos (CINTRA & VEIGA,1998).

4.3 Monografia de um ponto de uma Rede deReferência Cadastral Municipal (RRCM)

Para a (NBR 14166/98) a RRCM é a redede apoio básico de âmbito municipal para todos osserviços que se destinem a projetos, cadastros ouimplantação e gerenciamento de obras, sendoconstituída por pontos de coordenadasplanialtimétricas, materializados no terreno,referenciados a uma única origem (Sistema

Geodésico Brasileiro - SGB) e a um mesmo sistemade representação cartográfica, permitindo aamarração e conseqüente incorporação de todosos trabalhos de topografia e cartografia naconstrução e manutenção da Planta CadastralMunicipal.

A estrutura geodésica de referência deve serconsiderada como um bem público, de utilidadepública, tendo seus valores registrados com fépública. Desta forma, a responsabilidade doestabelecimento, atualização e arquivamento dosdocumentos e dados deverá ser de responsabilidadede um órgão público.

Para (BLACHUT, et al., 1979), a definiçãoconfiável de uma parcela, é um problema delevantamento. Em levantamentos cadastrais só sãoaceitáveis aqueles levantamentos baseados em umarede de referência permanentemente monumentada,caso contrário o sistema é técnica e economicamenteinadequado. A rede de referência proporcionaprecisão uniforme, sendo a primeira informação aser representada na carta cadastral.

Cada ponto da rede de referência é medidoe documentado individualmente em forma de umamonografia, de tal forma que a qualquer tempo possaser verificado e se necessário, reconstituído. Sãoarquivados na base de dados de pontos da cartacadastral. Com relação aos pontos da rede dereferência esta base de dados contam no mínimo:

Tab. 1 - Exemplo de caderneta de campo manual.

Fig. 3 - Exemplo de caderneta de campo eletrônicada estação total marca Topcon modeloGTS 213.

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uma carta da unidade administrativa (município, porexemplo), com a representação do conjunto detodos os pontos que pertencem a rede, incluindosua numeração, ordem hierárquica, as linhas deintervisibilidade a outros pontos; a lista decoordenadas e a monografia de cada ponto com adata, o local e a assinatura do responsável técnico,como observado na Figura 4. (HASENACK2000).

Cada ponto após ter sido materializado noterreno, deverá ser referido por medição a pelomenos três testemunhos próximos (cantos de muros,cantos de edificações, interseções de meios-fios)localizados dentro de um raio de poucos metros doponto. As distâncias são medidas com auxílio detrena e registradas em monografias elaboradasindividualmente para cada ponto, indicando inclusiveo tipo de material utilizado na sua confecção, onúmero, a ordem hierárquica a que pertence e aintervisibilidade a outros pontos da rede.

5. REGISTROS DE CAMPO

Para fins cadastrais as medições de campodevem ser registradas sistematicamente, isto é,serem organizadas, padronizadas, conter a ligaçãoe a continuidade entre croquis adjacentes, utilizandopara tal formulários e cadernetas adequadas paraposterior processamento dos dados.

As observações de campo devem seranotadas em formulários específicos, dando origemaos registros de campo. Os registros de campo dão

origem aos originais de levantamento. Dependendodo método de levantamento utilizado, se empregamdiferentes tipos de registros de campo e podem serde dois tipos em: registros gráficos e tabela devalores.

5.1 Registros Gráficos

Constituem-se basicamente em croquis quedescrevem as posições relativas dos pontoslevantados e detalhes do terreno, complementadoscom valores numéricos oriundos das medições. Alémdisso, eles contém:

a) os pontos pertencentes à estruturageodésica de referência com os respectivosnúmeros;

b) as linhas de referência de medição;c) todos os pontos medidos, demarcados ou

não, (limite de propriedade, limite de edificações eoutros), com o número dos pontos que mais tardeserão submetidos ao processamento dos dados;

d) os valores numéricos das mediçõesexecutadas em campo;

e) os nomes das ruas;f) informações sobre o uso das

edificações;g) a indicação expedita do norte;h) o código do croqui adjacente;i) código identificador da parcela;j) observações diversasOs pontos limites de propriedade, devem ter

seus números correspondentes registrados noscroquis para que, a estes números, possam serassociadas às respectivas coordenadas plano-retangulares, tendo como resultado, uma lista decoordenadas plano- retangulares. Também por este

Fig. 4 – Pontos da rede de referência cadastral emárea urbana e extrato de monografia, do municípiode Neuenburg am Rhein, Alemanha. Fonte: Staadtl.Vermessungamt Freiburg (2003).

Fig. 5 - Extrato da monografia de um ponto da redede referência. Fonte:bfrvermessung.de/index.php?id=3074

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Originais de levantamento cadastral

motivo deve-se ter o cuidado de numerar cada novoponto de interesse.

5.1.1 Sinais Convencionados Para aRepresentação das Características do Terrenoe das Medições nos Croquis de Campo

Os sinais convencionados que aqui serãoapresentados não constituem uma lista completa,apenas uma sugestão dos autores. Serão divididosem sinais convencionados para a representação depontos, sinais convencionados para a representaçãode linhas, sinais convencionados para representaçãode alguns elementos topográficos junto às linhas erepresentação de alguns tipos de uso do solo (Figura6).

5.1.2 Sinais Convencionados Para aRepresentação de Pontos

Os pontos podem ser demarcados ou não.Eles devem ser desenhados no croqui com clareza.Dependendo da demarcação, os pontos podemestar assinalados dentro de um símbolo ou sinalpróprio, no caso dos pontos não demarcados osímbolo é um ponto A figura 7 mostra alguns tiposde símbolos usados para pontos demarcados e afigura 8, mostra símbolos usados para pontos nãodemarcados.

5.1.3 Sinais Convencionados Para aRepresentação das Linhas

As linhas servem para conectar os diversostipos de pontos, sendo em função disto,representadas de diversas formas e espessuras. Elaspodem ser: linha poligonal, linha de feições, linha dealinhamento imaginário e linha limite de propriedade.(figura 9)

5.1.4 Sinais Convencionados Para aRepresentação de Alguns ElementosTopográficos Junto às Linhas

Quando o limite de propriedade vieracompanhado sobre ou junto a ele, de elementosde características topográficas, estes elementos terãoparticular importância. Em conseqüência, seussímbolos incluirão o limite de propriedade. (figura10).

5.1.5 Sinais Convencionados Para aRepresentação de Alguns Tipos de Uso do Solo

Se na carta cadastral tiver indicação do uso eocupação do solo, uma codificação apropriada deve

Fig. 6 - Alguns elementos de um registro de medição.Fonte: dos autores.

Fig. 7 - Sinais convencionados para pontosdemarcados.

Fig. 8 - Sinais convencionados para pontos nãodemarcados.

Fig. 9 - Sinais convencionais para linhas.

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ser estabelecida, como a da figura 11, sendoanotada diretamente no croqui.

Fig. 10 - Detalhes topográficos junto às linhas limitede propriedade.

6. EXEMPLO DE REGISTRO GRÁFICO DECAMPO

A figura 12 mostra um registro gráfico (croqui)de um levantamento cadastral feito através demétodos e procedimentos bem definidos, para (MORAES et al., 1998 ) a indicação precisa dalocalização de um imóvel, depende deprocedimentos de levantamento que levem em contanão só os erros instrumentais mas também os errosobservacionais. Os números nos círculos não sãoparte do croqui e servem de referência pararepresentar as explicações que seguem:

1. prolongamento;2. distância final medida sobre um

alinhamento, representada por um sublinhado duplo,neste caso, 24,32m;

3. medida para controle de tensão entre doispontos medidos;

4. largura do portão;5. medida de controle do método ortogonal;6. distância inicial medida sobre um

alinhamento, neste caso, 0,0m;7. ponto levantado pelo método polar

controlado por duas direções distintas;8. controle do método de alinhamento;código de uso do solo;9. simbologia para indicação de residência.Em muitos sistemas cadastrais de países com

forte tradição em cadastro, o armazenamento dedados ainda é em meio analógico. Hoje em dia,existem muitos equipamentos de medição que sãodigitais, por esse motivo o armazenamento demedições em meio analógico tende a desaparecer.O armazenamento em meio digital oferece grandes

Fig. 11 - Representação de alguns tipos de uso dosolo.

Fig: 12 - Exemplo de registro gráfico. Fonte: autores.

vantagens, por exemplo, acesso rápido, atualizaçãomais fácil, com uso multifinalitário. A idéia paraarmazenamento integrado de dados de medição(originais de medição), com elementos da cartacadastral em meio digital é antiga, sendo o caminhopara o futuro. Hoje em dia não há razão para nãointegrar em meio digital os dados originais demedição com uma carta cadastral. Espera-se comisso, desenvolvimento adicional de hadware esoftware (por exemplo, cadernetas de campoeletrônicas, que possam ser usadas quase comopapel) (STEINHÖFEL, 1998).

O sistema do registro de terra na Alemanha éum sistema compartilhado. A situação legal dapropriedade é descrita no ofício de registro de terrasdenominado “Grundbuch” . A descrição geométricados limites das parcelas territoriais contidos na cartacadastral automatizada (ALK), e os registros decampo e os registros textuais no registroautomatizado das parcelas (ALB) estão nas mãos

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Originais de levantamento cadastral

das autoridades cadastrais. A intercomunicaçãoentre o Grundbuch e o cadastro dão uma visão gerale completa sobre a situação física e legal dapropriedade da terra. Ambos os registos sãomantidos constantemente atualizados. (HAWERK,2002; GUNDELSWEILER et al, 2007).

8. CONCLUSÕES

O trabalho de levantamento cadastral, deveser suficientemente preciso, pois deverá satisfazeros requerimentos mais importantes ou de maiorprecisão, neste caso, a garantia dos limites legaisdas propriedades imobiliárias.

O uso de simbologia adequada e deprocedimentos próprios para o registro dos dadoslevantados em campo, para cada método, mostra-se muito eficaz, permitindo padronização e fácilcompreensão, fundamental para que haja umainterpretação universal. Somente desta maneira, osregistros originais de levantamento de campo,poderão ser parte integrantes dos documentos legaisque dizem respeito às propriedades imobiliáriasconhecendo-se a qualquer tempo o histórico dasmedições efetuadas.

Somente através de medições sistemáticascom regras e procedimentos bem definidos, comreconhecimento jurídico-registral, apoiadas em umaestrutura geodésica de referência única e pública,materializada e densificada até o nível delevantamento, é que se consegue consistência nosdados originais de medição, fundamental emqualquer sistema cadastral.

Espera-se desta forma, que num futuro bempróximo estas regras já possam ser partes integrantese exigidas legalmente em cadastros .

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