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Articles of Entropia ! Or well & Huxley um ensaio dis tópico 2011-04-14 17:04:43 João Carlos Caribé Uma Distopia ou Antiutopia é o pensamento, a filosofia ou o processo discursivo baseado numa ficção cujo valor representa a antítese da utópica ou promove a vivência em uma “utopia negativa”. São geralmente c aracterizadas pelo totalitarismo, autoritarismo bem como um opressivo controle da sociedade. Nelas, caem-se as cortinas, e a sociedade mostra-se corruptível; as normas criadas para o bem comum mostram-se flexíveis. Assim, a tecnologia é usada como ferramenta de controle , seja do Es tado, de in stituições ou mesm o d e corporações. Wikipédia Nos meus tempos de criança costumava viajar no tempo assistindo às séries espetaculares de ficção, nos anos 60 e 70 era o que tinha de mais comum: Perdidos no Espaço, Viagem ao Centro da Terra, Terra de Gigantes dentre outros. Nasci na década que o homem foi à lua e assisti junto com minha famíli a a transmis são ao vivo de sta faç anha , sempre fui fascinado pelo futuro, pelo espetáculo da evolução e pelo avanço da tecnologia. O blog Paleo Future me remete àque les tempos, onde a visão futurística nunca se concretizou. Sempre curti ficção científica, mas ela sempre erra, é muito difícil prever o futuro, afinal o futuro não é feito apenas por idéias e conceitos, a sociedade é o grande determinante deste futuro, quem poderia imaginar um smartphone há dez anos? Quem poderia imaginar a Internet atual há dez anos? Eu tenho ousado imaginar como viveremos daqui há vinte anos, estou escreven do uma ficção, mas só o tempo irá me dizer s e estava certo. Imagine e ntão autores de 1932 e 194 9 escrevendo sobre o futuro, devem ter errado feio! Infelizmente não é o que parece. Em 1932  Aldous Huxley escreveu a distopia “Admirável Mundo Novo” e em 1949 George Orwell escr eveu “1984. Huxley descreve um mundo futurista com um país transcontinental, onde os indivíduos são todos de proveta e manipulados geneticamente para que se encaixem em determinada casta e nela permaneça

Orwell & Huxley um ensaio distópico

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Articles of Entropia !

Or well & Huxley um ensaio distópico2011-04-14 17:04:43 João Carlos Caribé

Uma Distopia ou Antiutopia é o pensamento, a filosofia ou o processo discursivo baseadonuma ficção cujo valor representa a antítese da utópica ou promove a vivência em uma“utopia negativa”. São geralmente caracterizadas pelo totalitarismo, autoritarismo bem como

um opressivo controle da sociedade. Nelas, caem-se as cortinas, e a sociedade mostra-secorruptível; as normas criadas para o bem comum mostram-se flexíveis. Assim, a tecnologiaé usada como ferramenta de controle, seja do Estado, de instituições ou mesmo decorporações.

Wikipédia

Nos meus tempos de criança costumava viajar no tempo assistindo às séries espetaculares de ficção,nos anos 60 e 70 era o que tinha de mais comum: Perdidos no Espaço, Viagem ao Centro da Terra,Terra de Gigantes dentre outros. Nasci na década que o homem foi à lua e assisti junto com minhafamília a transmissão ao vivo desta façanha, sempre fui fascinado pelo futuro, pelo espetáculo daevolução e pelo avanço da tecnologia. O blog Paleo Future me remete àqueles tempos, onde a visãofuturística nunca se concretizou. Sempre curti ficção científica, mas ela sempre erra, é muito difícil prever o futuro, afinal o futuro não é feito apenas por idéias e conceitos, a sociedade é o grande determinantedeste futuro, quem poderia imaginar um smartphone há dez anos? Quem poderia imaginar a Internetatual há dez anos? Eu tenho ousado imaginar como viveremos daqui há vinte anos, estou escrevendo

uma ficção, mas só o tempo irá me dizer se estava certo. Imagine então autores de 1932 e 1949escrevendo sobre o futuro, devem ter errado feio! Infelizmente não é o que parece. Em 1932 AldousHuxley escreveu a distopia “Admirável Mundo Novo” e em 1949 George Orwell escreveu “1984″.

Huxley descreve um mundo futurista com um país transcontinental, onde os indivíduos são todos deproveta e manipulados geneticamente para que se encaixem em determinada casta e nela permaneça

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satisfeito por toda vida. No mundo de Aldous, a luxuria e o prazer são extremamente estimulados e nãoexistem vínculos afetivos, que são combatidos com o estimulo à busca individual pela auto-realização.Neste mundo hipotético, vive-se para o consumo e o prazer. Depressões e pensamentos “negativos”,inclusive os de solidariedade, são combatidos com drogas de consumo livre e estimulado. Em AdmirávelMundo Novo, existem países que não foram “civilizados” onde sua sociedade, dita selvagem, constróifamílias e vínculos afetivos de forma natural, os sentimentos de solidariedade, família e pertinência sãomuito comuns no mundo dos selvagens.

Em 1984 o mundo futurístico também é compostos por países transcontinentais, e o cenário é de totalvigilantismo e totalitarismo. Todas as residências são vigiadas pela “teletela” que pela descrição se

assemelha à uma TV que também transmite audio e video à uma central, livros e a escrita privada eramproibidos. Ao contrário do cenário de Huxley, o de Orwell prevê a manutenção da estrutura familiar, ecoíbe veemente a luxuria e o prazer. No mundo de Orwell todos trabalham pelo coletivo e em sua maioriasão funcionários do Estado. O lazer é coletivo, cidadãos são praticamente obrigados a frequentaremclubes públicos, da mesma forma que são obrigados à assistirem os discursos do “Grande Irmão”, queparece ser um personagem criado para representar o lider supremo, mas que ninguém nunca viu orosto. Assim como a vida não tem valor algum na distopia de Huxley, na de Orwell ela além de não ter valor, corre o risco de nunca ter existido, pois o Ministério da Verdade, tem por função apagar osregistros históricos em todos os meios, de pessoas e fatos que possam colocar o regime do GrandeIrmão em risco.

Se analisarmos pela ótica econômica, o mundo de Huxley é o pior cenário do capitalismo, enquanto queo mundo de Orwell o pior do socialismo. Mas o que mais impressiona nas duas distopias, é suaaderência ao cenário socio-cultural do século XXI, seguindo a máxima de “Tostines” não saberemosdizer que Huxley e Orwell acertaram suas visões ou se foram seguidos como quem segue uma cartilha.

No século XXI, ou melhor na sociedade pós-moderna, o capitalismo segue em franca atividade, apesar da crise de 2008, por conta do consumismo insano, que leva a sociedade a ver no consumo seu maior objetivo de vida, quase uma religião. As pessoas são avaliadas por seus padrões de consumo e oprocesso de obsolescência programada e percebida criam constantemente signos e indicadores queacabam expondo quem esta ou não dentro destes padrões. O sistema financeiro sustenta a vida útildeste sistema perverso, adicionando novos entrantes sempre que necessários.

Neste sistema que corrompe e aprisiona, seus participantes lembram os hamsters que giram as rodasem suas gaiolas na expectativa de encontrarem o seu final, tal como a maldição de Sisifo. Presos nestesistema, pouco tempo sobra para os valores realmente importantes da vida. Nossos filhos ainda não sãoproduzidos em escala industrial como na distopia de Huxley, mas os prisioneiros do consumismo estão

sempre terceirizando o afeto e educação de seus filhos, e de quebra estão minando os laços afetivos,que passam a ser substituídos por laços de consumo. Troca-se o afeto pelos presentes, estamosensinando desde cedo a nossos filhos que o consumo é ainda mais importante que as relaçõescosanguineas, e que fazer girar a roda de Sisifo é a tarefa mais importante de todas, custe o que custar!Não sei dizer se o alto índice de divórcios se deve ao rompimento com valores conservadores ou se hojetambém tratamos nossos pares como produtos.

Constatar que nossa sociedade trata pessoas como bens de consumo, e laços afetivos estão cada vezmais enfraquecidos, potencializados por relações hedonicamente fúteis e luxuriosas, nos leva a pintar um cenário muito parecido com o de Huxley, quanto mais se adicionarmos o estilo de vida citado nosparágrafos anteriores.

Paradoxalmente, o capitalismo tido como o grande paladino que iria salvar a humanidade do totalitarismodo socialismo, tem se tornado cada vez mais um regime totalitário, mas como isto pode acontecer?

Estamos presenciando hoje em dia o surgimento de um quinto poder, o do e-Cidadão, que vem a somar-se aos três poderes do Estado e o poder das corporações. Os poderes do Estado estão limitados àsfronteiras geográficas das nações, por outro lado as corporações estão se tornando gigantestransnacionais, e não só isto, estão crescendo tanto verticalmente como horizontalmente,transformando-se em oligopólios. Se levarmos em conta que das 100 maiores economias do planeta, 51são corporações, não temos mais dúvidas de que elas estão se tornando muito mais poderosas que asnações, sobrepujando de forma cruel os três poderes do Estado.

Felizmente estamos assistindo nesta primeira década do século XXI, o surgimento de forçastransnacionais de cidadãos conectados, que estão derrubando ditaduras e promovendo mudançassubstanciais dentro de suas nações. Finalmente um poder que poderá se opor ao poder dascorporações! Enquanto o capitalismo é tido por Bauman como um parasita que corroí a sociedade,

quero concluir que a sociedade organizada e conectada, a e-Cidadania, transformou-se no parasita quecorroí o capitalismo. Estas duas forças, ou blocos de poder são transnacionais e eficientes, ou seja, aglobalização social parece ter se dado de forma mais rápida e eficiente do que a globalizaçãoeconômica, e pior, se deu de forma descontrolada, fugiu ao controle do establishment.

Não podemos nos esquecer da globalização politica, da criação de grandes blocos como o surgido naEuropa, que parece ser uma forma dos três poderes do Estado ganharem força e transnacionalidade,

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mas que vem dando claros sinais de que não vai muito bem. Estamos querendo homogenizar o que nãopode ser homogenizado, a diversidade é saudável em qualquer sistema. Mas de qualquer modo estatendência de formação de blocos transnacionais nos remete às duas distopias, e faz sentido, quantomenos interlocutores são necessários, mais fácil é a negociação.

Este cenário promete ficar ainda pior, pois vários especialistas estão prevendo o crescimento aindamaior das corporações, que tenderão a se tornar “mega corporações”, e com isto poderão ter um poder praticamente ilimitado. Mas existe o poder da e-Cidadania para contrapor-se a isto, a sociedadeconectada esta compartilhando conhecimento, arte, entretenimento, e até mesmo amor e compaixãosem a necessidade do intermediário, ou não? Redes sociais também são corporações e para piorar o

cenário, os servidores raiz de DNS da Internet estão subordinados à OMC!

Estamos sendo manipulados, estão nos dando linha como uma pipa que sobe ao sabor dos ventosascendentes? O poder corporativo poderá de uma hora para outra apertar um botão e desconectar os e-cidadãos? De que lado estão as corporações online, e de quem é o conteúdo que produzimos epublicamos online nestas redes sociais?

Estamos caminhando para um novo totalitarismo, o totalitarismo do capital, e o poder corporativo sabeque desarticular a e-cidadania não é tão simples como mandar desligar os servidores raiz. Por estarazão cria-se, com a ajuda laborosa da mídia mainstream. o momento Hobbesiano com o objetivo clarode fazer crer que a Internet é um espaço sem lei, para forçar o Estado a criar formas de controla-lo. Opoder corporativo só não mandou desligar a Internet porque assim como a sociedade ele tambémdepende dela, e depende de um rígido sistema de controle de propriedade intelectual e industrial paraimpedir que os e-cidadãos deixem de ser seus parasitas e volte a parasita-los livremente.

Pelo exposto nos temos de tomar algumas atitudes essenciais para evitar que sejamos cooptados por um novo regime totalitarista.

Nos politizarmos mais, nos preocuparmos com as questões de nossa sociedade; Aumentar a influência da sociedade civil na governança da rede;Nos aliarmos os poderes do Estado;Desconstruir incansavelmente o momento hobbesiano;Pensar e construir alternativas para uma Internet;Pensar local e agir global;Repensar nossa relação com o consumo;Pensar e novas formas de organização social.

Créditos: A imagem foi obtida no Paleo Future