12
Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 1 - Os Aikewára no YouTube: o mundo digital e ações afirmativas Maurício Neves Corrêa 1 (UNAMA) Resumo: Os Aikewára são um povo indígena tupi, que habitam o sudoeste paraense, mais precisamente na terra Sororó, entre as cidades de São Geraldo do Araguaia e São Domingos do Araguaia. No ano de 2009 as professoras Ivânia Neves e Alda Costa aprovaram o projeto “Crianças Suruí Aikewára: Entre tradição e as novas tecnologias na escola”. Nele foram produzidos 4 filmes didáticos para a escola Aikewára, com o objetivo de conciliar a tradição deste povo com as novas tecnologias. Um trailer destes vídeos foi disponibilizados na rede social de vídeos da web YouTube, como forma dos índios dessa aldeia se reconhecerem na internet, já que os vídeos postados pelo projeto foram os primeiros sobre os índios Aikewára do Pará. A repercussão da inclusão dos índios no YouTube vai além da internet. Palavras-chave: índios Aikewára, YouTube, tradição e tecnologias. Abstract: The Aikewára are an Tupi indigenous people who inhabit the southwestern Pará, more precisely Sororó on Earth, between the cities of São Geraldo do Araguaia and São Domingos do Araguaia. In 2009 the teachers Ivânia Neves and Alda Costa approved the project “Suruí Aikewára Children: Between tradition and new technologies in school”. In it were four movies produced textbooks for school Aikewára, aiming to reconcile the tradition of this people with new technologies. A trailer of these videos were made available on social networking web videos YouTube as a way of the Indians of this village if they recognize the Internet, since the videos posted by the project were the first on the Indians of Para Aikewára the effect of the inclusion of Indians in YouTube goes beyond the Internet. Palavras-chave: Indians Aikewára, YouTube, tradition and technology Introdução Na Amazônia brasileira, entre os rios Araguaia e Tocantins no sudeste do Pará, existe uma grande área verde preservada em meio à devastação. Este lugar é conhecido como terra Sororó, lar dos índios Aikewára. Depois de tempos difíceis onde apenas 33 índios mantiveram a chama da cultura Aikewára viva, a floresta e eles ameaçados pelo fogo forasteiro resistiram. Hoje mais de 300

Os Aikewára no YouTube: o mundo digital e ações afirmativas · 2015-01-22 · Depois de tempos difíceis onde apenas 33 índios mantiveram a chama da cultura Aikewára viva,

Embed Size (px)

Citation preview

Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 1 -

Os Aikewára no YouTube: o mundo digital e ações afirmativas

Maurício Neves Corrêa1 (UNAMA)

Resumo: Os Aikewára são um povo indígena tupi, que habitam o sudoeste paraense, mais precisamente na terra Sororó, entre as cidades de São Geraldo do Araguaia e São Domingos do Araguaia. No ano de 2009 as professoras Ivânia Neves e Alda Costa aprovaram o projeto “Crianças Suruí Aikewára: Entre tradição e as novas tecnologias na escola”. Nele foram produzidos 4 filmes didáticos para a escola Aikewára, com o objetivo de conciliar a tradição deste povo com as novas tecnologias. Um trailer destes vídeos foi disponibilizados na rede social de vídeos da web YouTube, como forma dos índios dessa aldeia se reconhecerem na internet, já que os vídeos postados pelo projeto foram os primeiros sobre os índios Aikewára do Pará. A repercussão da inclusão dos índios no YouTube vai além da internet. Palavras-chave: índios Aikewára, YouTube, tradição e tecnologias. Abstract: The Aikewára are an Tupi indigenous people who inhabit the southwestern Pará, more precisely Sororó on Earth, between the cities of São Geraldo do Araguaia and São Domingos do Araguaia. In 2009 the teachers Ivânia Neves and Alda Costa approved the project “Suruí Aikewára Children: Between tradition and new technologies in school”. In it were four movies produced textbooks for school Aikewára, aiming to reconcile the tradition of this people with new technologies. A trailer of these videos were made available on social networking web videos YouTube as a way of the Indians of this village if they recognize the Internet, since the videos posted by the project were the first on the Indians of Para Aikewára the effect of the inclusion of Indians in YouTube goes beyond the Internet. Palavras-chave: Indians Aikewára, YouTube, tradition and technology

Introdução

Na Amazônia brasileira, entre os rios Araguaia e

Tocantins no sudeste do Pará, existe uma grande área verde

preservada em meio à devastação. Este lugar é conhecido como

terra Sororó, lar dos índios Aikewára.

Depois de tempos difíceis onde apenas 33 índios

mantiveram a chama da cultura Aikewára viva, a floresta e eles

ameaçados pelo fogo forasteiro resistiram. Hoje mais de 300

Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 2 -

Aikewára vivem entre os troncos firmes dos castanhais da terra

indígena Sororó. Entre histórias, castanhas e estrelas...

(trecho do filme Tapi’i’rapé: O caminho da Anta)

A epígrafe acima fala um pouco sobre os índios castanheiros Suruí Aikewára.

Foi retirada do filme Tapi’i’rapé: O caminho da Anta. O tema do filme é as

constelações Aikewára. Fala de como os animais subiram ao céu por uma escada de

flechas, mas caíram quando a Anta, que era muito pesada, partiu a escada. Assim a

Anta, o Veado, a Onça e o Jabuti formaram as constelações. O que este filme

representa para os índios?

Este artigo vai fazer uma análise, a partir dos Estudos Culturais, da produção

dos filmes do projeto “Crianças Suruí - Aikewára: entre a tradição e as novas

tecnologias na escola”. A idéia é mostrar como o processo de produção dos vídeos,

ajudou os índios a afirmar sua cultura, além de melhorar o dialogo entre gerações.

Tapi'i'rapé: O caminho da Anta

Cartaz do filme.

Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 3 -

O filme Tapi’i’rapé é o quarto de uma série produzida pelo projeto

“Crianças Suruí Aikewára: entre a tradição e as novas tecnologias na escola”. O

objetivo do projeto é conciliar as novas tecnologias com a cultura indígena e

assim criar um material didático diferenciado para a escola Aikewára.

Uma das mídias usadas pelo projeto foi o Audiovisual. A intenção era que

através dos filmes, os Aikewára pudessem afirmar sua cultura ante suas novas

gerações. Havia um grande problema em relação ao Audiovisual na terra Sororó:

praticamente todas as casas possuem televisão, porém, antes do projeto, quase

nada da cultura Aikewára tinha sido transportado para esta mídia.

Esta ausência, somada a outros fatores oriundos com contato com a

sociedade envolvente, estava causando um problema de diálogo entre gerações

além de uma crise de identidade cultural. Muitas crianças estavam perdendo a

vontade de ser índio, já encontravam dificuldade com a língua tupi. Alguns

possuíam dois nomes, um indígena e outro “kamará”, expressão que eles usam

para designar os não-índios. Assim as meninas Teassu e Taraí, são chamadas de

Léia e Talita respectivamente. Sobre este assunto esclarece Ivânia Neves (2009:

p 141):

Muitas sociedades indígenas vivem nas fronteiras culturais e históricas do Ocidente. A forma como reagem a este contato muitas vezes gera uma série de dificuldade com suas próprias tradições. Nestas fronteiras, a negociação com futuro às vezes toma proporções dramáticas, pois produz uma sensação de não pertencimento, isto é, não pertencem nem a uma sociedade indígena, nem conseguem inserção no mundo ocidental.

Boa parte dos índios mais velhos se entristecia ao ver esta situação.

Umassú, um dos 33 índios que sobreviveram à grande depopulação sofrida pelos

Aikewára em função do contato, relata que muitos jovens haviam perdido a

vontade de ser índio, mas que depois de assistirem aos filmes e participarem das

outras atividades do projeto reviram estes conceitos. “Nós somos índios, e

temos que valorizar nossa cultura”, conta Umassú.

Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 4 -

A contribuição dos filmes

O que há nos filmes, que ajuda os índios a remexerem seus conceitos e

reafirmarem sua cultura? Vejamos um caso. Assim que as filmagens na terra Sororó

começaram, os índios queriam aparecer apenas com as roupas ocidentais mais

bonita, com os cabelos ainda molhados pelo banho. Nas primeiras imagens feitas

pelo projeto, não dá para identificá-los como Aikewára. Para Ivânia Neves ( 2010,

5-6)

Em relação ao corpo Aikewára, ele também se constitui hoje, nesta região de fronteira, de reestruturação e de negociação cultural. Se tradicionalmente eles não usavam as roupas ocidentais e as condições climáticas da região permitiam-lhes andar nus, a chegada das instituições ocidentais interferiu bastante em suas formas de vestir.

Figura 01 - Menina Teassu

Cena do Filme a Comida Aikewára

Esta imagem faz parte do primeiro filme concluído pelo projeto, A comida

Aikewára. As filmagens aconteceram durante a primeira viagem à Terra Indígena

Sororó. Este filme também faz uma apresentação do projeto, mas o tema principal

Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 5 -

é a culinária destes índios. Nela podemos observar que Teassu não usa pinturas

corporais, na hora de ser fotografada.

Quando voltamos para a segunda oficina,exibimos A comida Aikewára pela

primeira vez.

Imagem dos índios assistindo ao filme A Comida Aikewára

Foto Gilvandro Xavier

Pela primeira vez na terra Sororó, os Aikewára se reuniam para ver um filme

em que eles eram os protagonistas. Houve uma euforia na Aldeia. Os índios mais

velhos ficaram emocionados e as crianças encantadas.

Naquele momento, logo após a exibição do filme, os índios mais velhos

contaram histórias antigas. Mairá o cacique já tinha mil idéias para os próximos

filmes. Então eles decidiram fazer uma festa, uma festa tradicional para que fosse

filmada. Mairá falou para toda Aldeia: “vamos fazer uma Sapurahai, uma festa, eu

quero vocês bem bonitos...”

Assim, dois dias depois da exibição do primeiro filme, a aldeia amanheceu

diferente. Por todos os cantos, os Aikewára preparavam coisas para ser filmadas. A

Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 6 -

rede tradicional estava sendo tecida no meio da aldeia, ao mesmo tempo uma casa

tradicional era erguida, outros índios se pintavam. Em todas estas atividades, os

índios requeriam a filmadora. Eles queriam mostrar sua cultura.

Taraí Suruí

Cena do filme Sapurahai

Pela tarde começava a Sapurahai, e os Aikewára, decidiram qual a roupa ideal para aparecer no vídeo: o grafismo corporal indígena. Na roda de dança, conduzidos pelos índios mais velhos, eles cantavam suas músicas tradicionais. As crianças da terra Sororó desta vez se pintaram, não vestiam a “roupa de domingo”, mas sim sua cultura. Para Martín-Barbero (2004, 192):

As tecnologias não são meras ferramentas dóceis e transparentes e não se deixam usar de qualquer modo, são em última instância a realização de uma cultura, e dominação das relações culturais. Mas o redesenho é possível, se não como estratégia, ao menos como tática, no sentido que lhe dá M. de Certeau: o modo de luta daquele que não pode se retirar para o seu lugar e vê-se obrigado a lutar no terreno do adversário.

Algo semelhante ao que Barbero propõe em relação às apropriações da novas

tecnologias aconteceu entre os Aikewára. A própria TV, que outrora estava

causando um efeito devastador na cultura dos Aikewára, agora era uma ferramenta

que possibilitava uma ação afirmativa da própria cultura indígena. Hoje, faz parte

Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 7 -

do cotidiano das aldeia os Aikewára se reunirem à noite, na Kasona para assistirem

aos seus filmes e a filmes de outras sociedades indígenas.

Figura - Mãe pintando o filho Cena do trailer Índios Aikewára

Talita e Léia continuam a ser chamadas por estes nomes no dia a dia, mas

quando perguntadas como querem ser nomeadas no vídeo elas respondem: “Taraí

Suruí e Teassu Suruí”.

Pela aldeia, atualmente, as crianças tem um forte sentimento de ser

Aikewára, de ser índio. Os filmes contribuíram para isto acontecer. Os filmes

Aikewára, serviram como uma contra-mola dentro da engrenagem, uma resistência

no terreno “adversário”

Da rede Tekaweté às redes da web

Em uma das filmagens, a índia Arihêra ensina outros índios a fazer a

Tekaweté, a rede tradicional Aikewára. Ela conta uma antiga história sobre a rede:

-Maurício, minha mãe ensinava eu. Me ensinava pra afiar algodão. Aí ela fazia a

rede também. Aí ela falou pra mim assim:

Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 8 -

- Você não deve!

- Você não deve passar por cima dele não!

- Por que não pode?

- Não, faz mal. Assim ela vai ficar malfeita, ela falou pra mim.

Estas palavras estão na abertura do filme Tekaweté: a rede Aikewára. No

vídeo, Arihêra e os outros índios mais velhos ensinam as crianças da terra Sororó a

fazer a rede tradicional. Do tecer delicado dos fios, forma-se a rede que sustenta o

corpo dos índios no embalar da terra Sororó.

A história de Arihêra, também faz parte de um trailer sobre os filmes do

projeto que foi postado no YouTube, uma rede social que de vídeos. Este vídeo foi

o primeiro registro audiovisual da cultura Aikewára em outra rede de fios: a

internet.

Cena do trailer dos filmes dos índios Aikewára, postada no YouTube

Hoje, muitas sociedades indígenas já possuem eletricidade, televisão, fazem

uso de celular e acesso a internet, “querer isolá-los é não querer aceitar que eles

Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 9 -

fazem parte do mundo”, fala da antropóloga Ivânia Neves, professora e também

coordenadora do projeto Crianças Suruí Aikewára: Entre as tradições e as novas

tecnologias na escola, que está sendo realizado no ano de 2010.

O projeto trata justamente da busca pela conciliação das tecnologias com

cultura do povo indígena Aikewára do Pará. Nele, busca-se apresentar aos índios os

meios digitais como forma de registro de sua cultura e conseqüentemente sua

inclusão na internet. O que é um processo exterior ao projeto, muitos índios já

freqüentam lanhouses e o governo pretende instalar conexão com a internet na

escola que está sendo construída na terra Sororó.

Blog dos Aikewára

A partir do projeto foi criado um blog sobre os Aikewára do Pará, onde se

encontram textos escritos pelos próprios índios, um link para o site de fotografias

Flirck com fotos tiradas tanto pela equipe do projeto quanto das crianças da aldeia

e um canal no YouTube, site de vídeos da internet. Nele estes índios podem rever

nos filmes um momento de sua história e se identificar nesta rede onde cabem

milhares de pessoas que é a internet.

Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 10 -

Da mesma forma como acontecia em relação à TV, é preciso que haja

conteúdo da cultura deles na internet. Do contrário, o efeito da chegada da rede

mundial de computadores será mais uma mídia a contribuir para o apagamento de

sua cultura.

Tiapé Suruí, uma das lideranças da aldeia e escritor do blog, durante o

lançamento dos filmes, na VII Semana de Comunicação da UNAMA, fez uma fala

bastante incisava sobre a importância da tecnologia e procurou deixar bem claro

que eles se cosntituiam a partir de múltiplas identidades. Afirmo que os índios são

cidadãos, votam, tem os mesmos direitos que os resto dos brasileiros. Ele também

fez questão de registrar no blog estes seus posicionamentos. Para ele a internet

com suas reddes sociais é também um espaço de registro de suas memórias.

Há hoje, no YouTube, um canal exclusivo do projeto, onde já estão postados

04 filmes. Poder acessar estes filmes na internet é uma forma positiva de

identificação nos meios virtuais. Hoje, eles também passam a apropriar-se das

tecnologias como a câmera digital, celular, filmadora de forma a utilizar-se delas

positivamente, para o registro de sua cultura. Segundo Martín-Barbero (2004, 19):

A apropriação, ao contrário, se define pelo direito e capacidade de fazer os nossos modelos e as teorias, venham de onde venham, geográfica e ideologicamente. Isso implica não só a tarefa de ligar, mas também a mais arriscada e fecunda de redesenhar os modelos para que caibam nossas diferentes realidades, com a conseqüente e inapelável necessidade de fazer leituras oblíquas desses modelos, leituras “fora de lugar”, a partir de um lugar diferente, a partir de um lugar diferente daquele no qual foram escritos.

Na medida que os índios se apropriam de recursos tecnologicos para

fortalecer sua cultura, redesenham modelos de diálogo entre seu próprio povo, e

entre a sociedade evolvente. De certo modo, esta negociação fica mais justa.

No projeto foram feitos 4 filmes, A comida Aikewára, Takaweté- A rede

Aikewára, Tapi’i’irapé- O caminho da Anta e Sapurahai- A dança Aikewára. Um

trailer destes 4 filmes, foram disponibilizados na rede social de vídeos YouTube.O

Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 11 -

chip Sapurahay- A dança Aikewára, também foi postado. Sendo os vídeos do

projeto os primeiros vídeos dos índios Aikewára disponibilizados na rede.

Assim, quando se digita “aikewara” no espaço de busca do YouTube, estes

índios já podem se identificar. Usando a internet como ferramenta de arquivar

memórias, preservando um momento de sua história e conseqüentemente sua

cultura. Segundo Pierri Lévy:

O espaço cibernético é a instauração de uma rede de todas as memórias informatizadas e de todos os computadores. Atualmente, temos cada vez mais conservados, sob forma numérica e registrados na memória do computador, textos, imagens e músicas produzidos por computador. (1994, p1)

Quando viu seu povo no YouTube, Arihêra Suruí de 62 anos, quis saber se

havia índios de outras aldeias na tal “rede”, “tem dos kaiapó?”, “e dos xicrim?”.Na

fala da índia Arihêra, podemos perceber que ela anseia pela inclusão das

sociedades indígenas nas novas tecnologias. Assim como eles recebem informações

de outras culturas, querem mostrar a sua também.

Arihêra fica muito feliz em se ver na tela, pois segundo ela, é uma forma de

deixar suas lembranças e aprendizados para os mais novos quando chegar o

momento dela se juntar a seus antepassados. Ela lamenta que não tenha registros

de vídeo dos tempos antigos. Assim os mais novos não puderam ver e ouvir o que

falam os índios de outros tempos.

Sobre as sociedades anteriores à escrita, como era o caso dos Aikewára antes

do contato, Pierri Lévy (1999) reflete “A morte de um velho é uma biblioteca em

chamas”. Entre os Aikewára, ainda encontramos uma geração anterior à letra, e a

forma como eles se expressão é a partir de suas narrativas orais, que na verdade

são um processo de audiovisual, que envolve a palavras falada, mas também conta

como os gestos, com as onomatopéias. A mera transcrição mutila as narrativas,

pois deixa de lado a performance do narrador. Este é um dos motivos do sucesso

dos filmes ao ajudar uma cultura indígena a se afirmar. Além de preservar uma

“biblioteca viva”, mostra-se também a forma como ela se expressa.

Universidade Federal de Pernambuco - Núcleo de Estudos de Hipertexto e Tecnologias na Educação - 12 -

Mairá Suruí, pede a seu povo que fique bem bonito nas filmagens. Segundo ele

estas imagens vão percorrer o mundo todo pela internet. Agora, os Aikewára

começam a ter sua produção de vídeo disponível ao mundo. Este era um desejo

deles, mostrar sua cultura. Todo este processo é uma ação afirmativa.

Referências Bibliográficas LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. LÉVY, Pierre. A emergência do cyberspace e as mutações culturais <http://caosmose.net/pierrelevy/aemergen.html> Acessado em 01 de novembro de 2010. NEVES, Ivânia dos Santos. Materialidade da história do presente: corpo,

mediações e discursos entre os Aikewára. <http://www.unama.br/forumdeletras/images/stories/2010/pdf/sujeito-e-

predicado/ivania-dos-santos-neves.pdf> Acessado em 29 de outubro de 2010. NEVES, Ivânia. Tese de doutorado: A invenção do índio e as narrativas orais Tupi

/ Ivânia dos Santos Neves. – Unicamp. Campinas, SP : [s.n.], 2009.

MARTÍN-BARBERO, Jesús. Ofício de Cartógrafo: travessias latino-americanas da comunicação na cultura. São Paulo: Edições Loyola, 2004

1 Maurício CORRÊA, jornalista graduado. Atualmente cursando especialização em História Social da Amazônia. Universidade da Amazônia (UNAMA) Bolsista do projeto Crianças Suruí- Aikewára :Entre a tradição e as novas tecnologias. E-mail: [email protected]