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CENA I - EXT. PONTE DO ESQUELETO - DIA A ponte é o lugar preferido dos três. Todas as cenas necessárias de flashback, além da cena em que eles conversam pela primeira vez, devem se passar aqui. Os três estão brincando. Em corte, vemo-os em diferentes situações. Abraçados, correndo, brincado. Tudo entre eles é muito lúdico. LUZIA (OFF) Eu te juro três dias de amor eterno. DANIEL (OFF) O triângulo se destruindo, transmutando-se em afiadas linhas paralelas. Perfurando a carne, rasgando o coração. HECTOR (OFF) E se a tristeza e dor for inevitável, abre os braços e acolhe a ponta aguda que te fere o peito. Dele escorrerá a poesia de melhor safra. OS TRÊS Dá pra nadar na nossa cama. CENA II - EXT. PÁTIO DA ESCOLA - DIA DANIEL É sério, cara, eu acho que tô apaixonado! HECTOR Porra, preciso parar de chegar tarde nas aulas! É tão gata assim? DANIEL Não é questão de beleza, cara. Ela é linda, mas tem algo mais... Ela parece especial. HECTOR Bixo, a mina acabou de chegar. Você nem conhece ela. E você tá sempre se apaixonando por alguém. DANIEL

Os Amores Novo

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  • CENA I - EXT. PONTE DO ESQUELETO - DIA

    A ponte o lugar preferido dos trs. Todas as cenas necessrias de flashback, alm da cena em que eles conversam pela primeira vez, devem se passar aqui. Os trs esto brincando. Em corte, vemo-os em diferentes situaes. Abraados, correndo, brincado. Tudo entre eles muito ldico.

    LUZIA (OFF)

    Eu te juro trs dias de amor eterno.

    DANIEL (OFF)

    O tringulo se destruindo, transmutando-se em afiadas linhas paralelas. Perfurando a carne, rasgando o corao.

    HECTOR (OFF)

    E se a tristeza e dor for inevitvel, abre os braos e acolhe a ponta aguda que te fere o peito. Dele escorrer a poesia de melhor safra.

    OS TRS

    D pra nadar na nossa cama.

    CENA II - EXT. PTIO DA ESCOLA - DIA

    DANIEL

    srio, cara, eu acho que t apaixonado!

    HECTOR

    Porra, preciso parar de chegar tarde nas aulas! to gata assim?

    DANIEL

    No questo de beleza, cara. Ela linda, mas tem algo mais... Ela parece especial.

    HECTOR

    Bixo, a mina acabou de chegar. Voc nem conhece ela. E voc t sempre se apaixonando por algum.

    DANIEL

  • Dessa vez diferente. Cara... Eu acho que amor.

    HECTOR

    Ah, meus ouvidos! Cara, voc ainda nem trocou ideia com a garota!

    DANIEL

    MAs sei que ela tem que ser a me dos meus filhos.

    HECTOR

    Eu vou vomitar!

    DANIEL

    Voc no sabe como gostar de algu, Hector...

    HECTOR

    E voc sabe o que ficar idiota por cada garota nova que conhece. E sempre fica nessa punhetagem romntica e nunca chega em nenhuma delas.

    DANIELVoc sabe que eu sou tmido cara. E s quero que acontea alguma coisa se a garota tambms sertir alguma coisa por mim. Eu no sou como voc que...

    HECTOR

    "Que leva pra cama sem nem saber o nome". Eu j cansei de ouvir voc falar isso, mas no final quem vai pra casa frustrado e sempre voc. No t nem a pra esse papo de romanc...

    DANIEL

    Caralho.

    HECTOR

    Que foi? T tudo bem cara?

    DANIEL

    Olha ela l.

    HECTOR

    Ela quem, Dan?

    DANIEL

  • A garota que eu te falei, porra.

    HECTOR

    Voc no sabe nem o nome dela?

    DANIEL

    No conseguia ouvir nada, s ficar olhando pra ela. No sei o que fazer pra chegar nela.

    HECTOR

    Acho que nem vai precisar. Parece que ela t vindo pra c.

    DANIEL

    Cacete.

    Entra a musica A Despedida, de Anacleto de Medeiros. Vemos Luzia se aproximando. Daniel est suando frio, desesperados. Num caricato de desespero, Daniel chacoalha Hector. A msica para num corte e a cena volta "realidade".

    HECTOR

    Porra, segura a irmozinho.

    LUZIA

    Prazer. Meu nome Luzia.

    DANIEL (extremamente nervoso)

    Eu sou Hector e esse o Daniel.

    HECTOR

    No... Eu sou o Hector, e ele o Daniel.

    DANIEL

    Foi o que eu quis dizer.

    LUZIA

    Voc o Hector. Tambm est na minha sala no ?

    HECTOR

  • Estou sim! Seja bem vinda ao inferno.

    LUZIA

    A sala at que me pareceu bem comportada.

    DANIEL

    que o Hector o problema nela.

    HECTOR

    Ei!

    LUZIA (rindo)

    Vocs por um acaso tem um isqueiro?

    DANIEL (Ao mesmo tempo que Hector saca um isqueiro do bolso)

    No pode fumar na escola.

    LUZIA (rindo)

    Que fofo. No costuma quebrar regras, Dan?

    DANIEL

    Isso especialidade do Hector.

    LUZIA

    Vamos fumar fora daqui ento.

    HECTOR

    O dia que eu finalmente resolvo vir, algum me tira da escola. J vi que voc uma m influncia. Gostei de voc.

    DANIEL

    Outra m influncia era tudo o que eu precisava.

    Luzia puxa os dois pela mo e vo para um canto vazio da escola. Pulam o muro.

    CENA III - EXT. PONTE DO ESQUELETO - TARDE

  • Helio est terminando de bolar um baseado. Os trs parecem estar conversando h um tempo.

    LUZIA

    Ento voc mora sozinho?

    HECTOR

    Desde os 15.

    LUZIA

    Como voc conseguiu essa proesa?

    HECTOR

    Meus pais morreram num acidente.

    LUZIA

    Nossa, desculpa.

    HECTOR

    Tudo bem.

    LUZIA

    Mas por ser menor de idade voc deve ter passado por alguns problemas, no?

    HECTOR

    Minha tia quis me pegar pra criar, mas eu no suporto a velha. Arranjei algumas brigas com o conselho tutelar e eles queriam, por fim me mandar pra um orfanato.

    DANIEL

    O Hector ficou em casa por um ano, depois disso. O Conselho aceitou, j que nossos pais eram amigos de longa data.

    HECTOR

    Um ano depois, eu voltei pra casa dos meus pais e comecei a morar sozinho. De alguma forma, o conselho desencanou de vir atrs de mim.

    DANIEL

    O Hector se esconderia e moraria na mas no iria pra um orfanato, e muito menos pra

  • casa da tia.

    HECTOR (abraando Daniel e acendendo o baseado)

    Eu no ia conseguir ficar longe do meu irmozinho.

    LUZIA

    Hm, t com cheiro bom!

    HECTOR

    pra comemorar o incio de uma nova amizade.

    LUZIA

    Esse lugar muito bonito.

    DANIEL

    ... Uma das poucas coisas que vale a pena nessa cidade.

    HECTOR

    Falando nisso... Como voc veio parar nesse fim de mundo?

    LUZIA

    Minha me arranjou um trabalho na cidade ao lado. Era mais barato morar aqui. E vai ser bom pra ela. Ela teve um surto terrivel em So Paulo. No julgo. Aquela cidade mesmo um caos cinzento.

    DANIEL

    Mas e voc? No vai sentir falta de l?

    LUZIAMinha casa onde eu estiver. E a sade da minha me mais importante pra mim. (Olha o relgio) Falando nisso, eu preciso ir pra casa.

    HECTOR

    Eu ainda vou ficar um pouco por aqui.

    DANIEL

    Eu acho que eu tambm.

    HECTOR

    Voc no tinha aquela "coisa" pra fazer?

  • DANIEL

    ? Que co... Ah nossa! Puta cara, valeu! Eu quase me esqueo.

    HECTOR

    De boa! Apaream em casa a noite, se quiserem.

    LUZIA

    Pode deixar! Foi um prazer te conhecer, Hector.

    HECTOR

    O prazer foi meu, Luzia.

    Daniel e Luzia saem. Hector termina o baseado, olhando o horizonte.

    CENA IV - INT. CASA DE HECTOR (SALA) - NOITE.

    Hector abre a porta da casa para Daniel, que entra com a cabea nas nuvens e um sorriso de orelha orelha. Joga-se no sof. Algum disco toca na vitrola.

    DANIEL

    A vida no linda?

    HECTOR

    Lindo esse disco cara! Tom Waits, Sowordfishtrombone. A Cssia que me trouxe, encontrou num sebo. Vai... que cara essa?

    DANIEL

    Acabo de ter o melhor beijo da minha vida.

    HECTOR

    Pegou a Luzia?

    DANIEL

    No "peguei" ningum, Hector. A gente passou a tarde toda juntos e, quando foi se despedir me deu beijo.

  • HECTOR

    Porque voc no tomaria a iniciativa nunca! Gostei dessa garota. E por que ela no veio pra c?

    DANIEL

    Ela tinha que ir pra casa. Ela cuida da me dela. Parece que ela meio depressiva.

    HECTOR

    A Cssia passou aqui. Vai dar uma festa no final de semana, e eu j confirmei que vamos.

    DANIEL

    Ah, cara, no sei se t a fim. Voc sabe que eu no gosto muito de festas, e as da Cssia sempre ficam bem malucas.

    HECTOR

    No estou te convidando cara, estou te convocando. Ela j botou nosso nome da lista. O da Luzia tambm, alis, avisa ela amanh. T no vai fazer desfeita pra Cssia n cara? aniversrio dela, mano!

    DANIEL

    Parece que eu no tenho opo, n?

    HECTOR

    No, no tem. Amanh eu vou comprar bebida.

    DANIEL

    No vai pra aula de novo?

    HECTOR

    Qual a primeira?

    DANIEL

    Fsica.

    HECTOR

    Nem fodendo.

    DANIEL

  • Voc no iria independente da resposta, n?

    HECTOR

    Voc me conhece to bem cara.

    DANIEL

    Depois t no sabe porque bomba.

    HECTOR

    Ei, no vou bombar. Eu s repeti tantas vezes pra gente poder estudar juntos. Foi por amor, irmozinho. Enfim... Quer que eu compre a sua bebida?

    DANIEL

    Isso muito injusto! Eu nem bebo.

    HECTOR

    Ora, no seja egosta, Daniel. EU bebo.

    CENA V - EXT - LEMBRANAS

    Cenas de Hector e Daniel pequenos. Podemos ouvir e ver os pais de Daniel e Hector. Esto numa casa de campo e filmam seus filhos que brincam numa festa de aniversrio, provavelmente de Daniel. A Cssia pequena tambm est por perto, vestida de menino. uma festa fantasia. Daniel est de Batman, e Hector de Curinga.

    CENA VI

    Pessoas danam por toda a casa. Hector e Daniel chegam na festa, cumprimentando a todos. Cssia aparece tambm e pula em Daniel. Conversam com todos. Luzia ainda no est vista, mas entra depois de um tempo.

    LUZIA

    Hector! Daniel! Vocs chegaram. Agora posso dar meu presente pra Cssia?

    CSSIA

    Presente?

    LUZIA

  • Abre a boca e fecha os olhos.

    (Cssia obedece e Luzia coloca um papel em sua lngua)

    LUZIA

    Feliz Aniversrio.

    CSSIA

    Isso sim um presente!

    HECTOR

    Cara, eu te amo.

    LUZIA

    Tem pra ns trs;

    HECTOR

    CARA, EU TE AMO. (Toma o doce e sai correndo pela festa, feliz da vida)

    LUZIA (Para Daniel)E voc?

    DANIEL

    Eu nunca tomei isso.

    LUZIA

    Ento precisa conhecer.

    Daniel aceita. Luzia puxa Daniel para danar. Ele comea desajeitado. Beijam-se e logo est mais solto.

    LUZIA

    Eu vou pegar algo pra beber, voc quer?

    DANIEL

    Eu no bebo!

    LUZIA (ri)

  • Que pena. Eu volto logo... Voc t bem.

    DANIEL

    T tudo muito lindo!

    LUZIA

    Ento voc t bem. Eu j volto.

    DANIEL

    T bom, eu vou sentar um pouco.

    Luzia vai embora e Daniel senta no sof. Fecha os olhos e sorri. A msica vai abafando at desaparecer. Ele abre os olhos. Olha em volta. A festa est congelada. Ele levanta e procura no meio das pessoas Hector ou Luzia, sem sucesso. Caminha por um corredor e chega at o quintal. L, em meio a mais gente congelada, encontra Hector beijando Luzia.

    CORTA PARA - INT. CASA DE HECTOR. - MADRUDAGA

    Daniel est no escuro, sentado no sof. Hector entra, apreesivo. Acende a luz e encontra Daniel.

    HECTOR

    Puta susto, cara! No vi a chave la fora e achei que pudesse ser algum ladro.

    DANIEL

    A gente precisa conversar.

    HECTOR

    A gente te procurou por toda parte. Que que rolou?

    DANIEL

    Voc muito filho da puta, cara.

    HECTOR

  • Que foi cara? Por que voc t assim? T na bad?

    DANIEL

    Porra, cara, eu sou seu amigo.

    HECTOR

    Isso, por um acaso, tem a ver com a Luzia?

    DANIEL

    claro que tem a ver com a Luzia! Eu fui procurar vocs e encontrei vocs agarrados.

    HECTOR

    Ela no me disse nada sobre vocs estarem namorando. Foi s um beijo cara, que alarde.

    DANIEL (levantando-se num impulso, empurrando Hector contra a parede)

    Filho da puta!

    HECTOR

    Vai me bater? Ento bate! BATE!

    Daniel d um tapa.

    HECTOR

    Bate de mo fechada, seu merda.

    Daniel d um soco e Hector cai no cho, rindo. Daniel vai pra cima de Helio, desferindo mais golpes enquanto a gargalhada de Hector cresce. Hector enfim revida, ficando por cima de Daniel. Daniel para, caindo em si, arrependido por estar brigando com seu melhor amigo.

    HECTOR

    Voc bate bem, irmozinho.

    DANIEL

  • Cara, desculpa. Eu, eu t fora de mim, no queria ter te batid...

    Hector d um beijo em Daniel. Daniel se assusta, mas corresponde. Os dois vo para o quarto e vemos, na porta de entrada, a sombra de uma mo que corre pelo batente.

    CENA VII -INT. QUARTO DE HECTOR - DIA

    Daniel e Hector esto dormindo juntos. Luzia entra no quarto e abre a cortina.

    LUZIA

    Bom dia!!

    Daniel acorda, Hector s vira na cama.

    DANIEL

    Luzia? Que c t fazendo aqui?

    LUZIA

    Eu... Eu dormi aqui.

    DANIEL

    Ento...?

    LUZIA

    Sim, eu vi a briga horrorosa de vocs ontem. Nunca mais quero ver isso. Prefiro os beijos de reconciliao. T com vergonha?

    DANIEL

    ... No. T s surpreso. No sabia que voc tava a. Onde voc dormiu?

    LUZIA

    No sof.

  • DANIEL

    Devia ter vindo pra c. Ou usado o outro quarto.

    LUZIANo queria atrapalhar. E no sabia se podia usar o outro quarto... Sei l. Acho que deve ser o antigo quarto dos pais dele, no?

    DANIEL

    , mas eu j dormi naquele quarto milhes de vezes.

    LUZIA

    Hector, acorda!

    DANIEL

    Num domingo de manh? Voc s pode t brincando.

    Luzia pula na cama em cima dos dois. Tenta acordar Hector.

    LUZIA

    Vamos, Hector, est um lindo dia!

    HECTOR

    Eu quero que vocs morram!

    LUZIA

    Qual ! Preparei uma surpresa pra vocs.

    HECTOR

    Eu vejo quando acordar.

    LUZIA

    Me auda Dan.

    Dan e Luzia puxam Hector pelos ps e o tiram da cama.

    HECTOR

  • Meu deus, eu odeio vocs.

    LUZIA (dando um beijo em Hector)

    Bom dia pra voc tambm.

    CORTA PARA - MESA DA COZINHA

    Um imenso caf da manh est servido.

    DANIEL

    Meu deus!HECTOR

    Luzia, casa com a gente!

    LUZIA

    Aceito o pedido.

    DANIEL

    Isso t incrvel.

    LUZIA

    Que isso, s um agradinho. Eu sempre acordo com muita fome depois de um doce.

    DANIEL

    n... Falando nisso... Eu queria pedir desculpas... Pros dois... Sobre ontem.

    LUZIA

    Bobagem, Daniel. Esquece isso. Estamos bem.

    HECTOR

    Eu no tenho do que reclamar. (d um beijo em Daniel, que cora)

    LUZIA

    bonito ver vocs.

    HECTOR

  • Ficou olhando pela fechadura, ?

    LUZIA

    Besta, claro que no. Quero dizer o tempo todo. Vocs dois so como um s. So muito opostos e to complementares. Foi a primeira vez que vocs se beijaram.

    DANIEL (rindo, constrangido)

    Acho que nunca tinha pensado no Hector desse jeito.

    HECTOR

    Jura? Eu espero isso faz tempo.

    Daniel fica ainda mais rubro.

    HECTOR

    Pode imaginar, Luzia, o que ficar a vida toda perto desse cara e nunca ter tido uma chancezinha sequer?

    LUZIA

    Deve ter sido dureza!

    DANIEL

    Parem de me zoar, vocs dois.

    LUZIA

    Obrigada por me aceitarem junto de vocs. uma honra poder fazer parte de uma amizade bonita como a de vocs.

    HECTOR

    Ora, Luzia. Seja muito bem vinda em ns. (Beija-a. Ela olha para Dan, que ainda est um pouco constrangido, mas ele a beija tambm.)

    DANIEL

    Vou escolher um disco!

    CENA VIII - EXT. LAGO - FIM DE TARDE

  • Daniel e Cssia esto tomando um sorvete e caminhando.

    CASSIA

    Ento... Vocs esto juntos. Digo... Os trs.

    DANIEL

    Ainda no tinha pensado em nada disso. Mas... Parece que sim.

    CASSIA

    Puxa...

    DANIEL

    Foi tudo to natural. Quando dei por mim tnhamos tomado caf da manh e estvamos os trs, ouvindo um disco, deitados juntos no cho da sala.

    CASSIA

    Desculpa perguntar Dan, mas... Quero dizer. O Hector eu sei que j pegava uns caras por a de vez em quando... Mas voc? T surpresa.

    DANIEL

    Nem t pensando nisso, Cassia. Sei l. Rolou e foi bacana. Que bom que foi com o Hector.

    CASSIA

    Mas voc est apaixonado pela Luzia?

    DANIEL

    Completamente.

    CASSIA

    E o Hector?

    DANIEL

    O Hector meu brother. De certa forma, sempre fui apaixonado por aquele cara.

    CASSIA

  • Cuidado pra no misturar os sentimentos, Dan.

    DANIEL

    O que quer dizer com isso?

    CASSIA

    Eu te conheo faz tempo tambm. Sei que voc do tipo romntico, que escreve poesias e chora por amor. Cuidado pra no se machucar nisso.

    DANIEL

    Vou tomar cuidado, Cassia.

    CASSIA

    O que voc tem pelo Hector amor, e dos mais puros. Toma cuidado pra no estragar isso por causa de uma paixo.

    DANIEL

    Foi bom ficar com os dois.

    CASSIA

    No estou julgando. S achei que precisava dizer isso.

    DANIEL (ri)

    Obrigado Cssia. Acho que captei a mensagem.

    CASSIA

    Espero que vocs deem certo. Mas no posso deixar de dizer que uma pena. Uma mina to gata como a Luzia merecia uma mulher maravilhosa como eu ao lado dela no ?

    CENA IX - (Alguns meses depois) INT. QUARTO DE HECTOR - NOITE.

    Msica na vitrola. Hector est na cama. Daniel numa poltrona, lendo um livro. Luzia est no cho, encostada prxima janela.

    LUZIA

  • Meus amores, vocs esto ouvindo isso?

    HECTOR

    So s os gatos, Luzia.

    LUZIA (virando para Daniel)

    Miau.

    HECTOR (Entrando na brincadeira)

    Miau, miau. Miau.

    Os dois riem e se divertem como gatos. Sobem na Janela.

    DANIEL

    Desam da gente.

    Os dois param e olham Daniel. Depois se olham e juntos, saltam para o cho, indo pra cima de Daniel e fazendo ccegas.

    DANIEL

    Parem com isso

    Os trs se divertem. Cansam-se, por fim, jogando-se na cama, parando de rir aos poucos.

    LUZIA

    Eu amo vocs, meus amores.

    Ela olha para um e para outro. Os trs esto muito felizes. Ela senta, espontnea.

    LUZIA

  • Acho que t na hora de termos um filho.

    CENA X. EXT - CENA DE HECTOR E DANIEL PEQUENOS.

    Daniel est numa roupa de xerife e Hector numa de bandido. Contam os trs passos e sacam suas armas d'gua. Perseguem-se.

    CENA XI - CASA DE HECTOR. NOITE

    Hector est na sala, fumando um cigarro. Vitrola rodando, como de costume. Daniel e Luzia entram correndo, fazendo muito barulho.

    HECTOR

    Vocs parecem bastante animados.

    LUZIA

    Estamos mesmo.

    DANIEL

    E ficaremos ainda mais se sua resposta for sim.

    HECTOR

    Minha resposta?

    DANIEL

    Tem algo pra fazer no fim de semana?

    HECTOR

    No que eu me lembre.

    LUZIA

    Queria comemorar nosso terceiro ms de uma forma especial.

    HECTOR

    Estou ouvindo.

    DANIEL

    No stio da minha v. Minha tia cuida de l, mas eu pedi pra ela e disse que cuidaria no

  • fim de semana.

    HECTOR

    Faz tempo que no vou l!

    LUZIA

    Ento vamos?

    HECTOR

    T brincando? claro.

    LUZIA

    , mas a perguntaque a gente precisa de um sim ainda no essa. (Estala os dedos) Dan, meu amor.

    Daniel sai correndo

    HECTOR

    O que que vocs esto aprontando.

    Daniel volta com uma caixa. Pe em frente de Hector . De joelhos, Daniel e Hector abrem a caixinha e dela salta um gato.

    LUZIA

    A caixa foi s uma cerimnia. Eu vivo dizendo que a gente precisa ter um filho.

    HECTOR

    Porra, um gato? Eu sou alrgico gente.

    DANIEL

    Ora, voc adiquite anticorpos. O amor de pai supera isso.

    LUZIA

    Ele chama Chico.

  • HECTOR

    Adianta eu dizer no.

    LUZIA (fazendo voz de Chico)

    Voc me negaria, papai?

    CENA XII - EXT. CHCARA. TARDE

    Mudana gradual de tempo e cor. O tempo fecha e as cores vo, ao longo das cenas, adquirindo cores mais frias. Hector, Luzia e Daniel esto chegando na chcara.

    LUZIA (respirando fundo)

    Que lugar bonito!

    DANIEL

    Era da minha av. Minha tia comeou a cuidar daqui depois que a velha morreu.

    LUZIA

    Sua tia est por aqui?

    DANIEL

    No sei se ela j saiu. Mas eu falei com ela e ela disse que deixaria a casa pra gente nesses trs dias.

    HECTOR

    Eu t sentindo cheiro de comida da tia!

    Entram na casa. A Tia est colocando comida na mesa.

    HECTOR

    Tia!

    TIA

    Daniel, Hector! Venham aqui meus meninos (abraa os rapazes) Deixa eu olhar pra

  • vocs. Caramba, como vocs cresceram!

    HECTOR

    Nem um ano, tia. A Senhora que est ficando mais jovem.

    TIA

    Meu pequeno galanteador.

    DANIEL

    T tudo bem?

    TIA

    T sim. Eu achei que vocs fossem chegar mais tarde. Tava preparando uma comida, mas era pra ser surpresa.

    DANIEL

    Ora, a presena da senhora a melhor surpresa.

    TIA

    No me apresentam a moa?

    DANIEL

    Tia, essa a Luzia. Luzia, essa minha tia Tereza.

    LUZIA

    Muito prazer.

    TIA

    O prazer todo meu. Olha, eu deixei uma lista de coisas que eu preciso que vocs faam. Coisas simples, como cuidar das plantas. Tomem cuidado principalmente com as plantas. (olha pela janela e diz, sombria) Vem tempo feio a.

    HECTOR

    Pode deixar, tia.

    TIA

    Bom, eu vou deixar vocs.

    DANIEL

    Olha, eu no sei voc, mas ns trs estamos famintos. Fica pra comer com a gente.

  • TIANo quero atrapalhar. E alm do mais, seu tio vai chegar pra me pegar a qualquer instante.

    DANIEL

    Tem certeza?

    TIA

    Tenho sim. Vou esperar l fora. Fiquem a vontade e tentem no bagunar demais e nem se machucar. (Para Luzia) Esses dois viviam pregando peas um no outro e se machucando.

    DANIEL

    Quanta bondade, tia. Eu era o nico que me estrepava. O Hector e o primo que viviam fazendo maldades comigo.

    HECTOR

    Pode deixar que a gente cuida de tudo. E nenhum osso ser fraturado desa vez, eu prometo. Poxa, que saudade desse lugar.

    TIA

    Seus pais adoravam vir aqui, Hector... Bom. Desculpe. Vou deix-los.

    Beijam-se e se despedem. Os trs ficam a mesa, comendo.

    LUZIA

    O dia t lindo. No me parece que v fazer tempo feio.

    DANIEL

    No se preocupe. Minha tia pssima com previses do tempo. Deve ter pego essa mania com a minha v.

    LUZIA

    Que histria essa de pregar peas em voc?

    DANIEL

    Nunca mencionei nada sobre minhas pequenas cicatrizes?

  • LUZIA

    No!

    HECTOR

    Hoje a noite, ento, em volta de uma fogueira, as reminicncias das maldades de Hector contra Daniel.

    DANIEL

    Hahaha. Combinado. Mas antes eu quero encher a barriga e dar um mergulho.

    LUZIA

    TEM UMA PISCINA?

    DANIEL

    Tem, l nos fundos.

    LUZIA

    GENIAL! (sai correndo)

    DANIEL

    Luzia, come direito.

    LUZIA

    Depois! Vem Hector!

    Hector sai correndo atrs de Luzia. Daniel fica olhando o cu pela janela. Por fim, abandona o prato e vai atrs dos dois, que pularam sem roupas na gua. Ele pula de roupa e tudo.

    CENA XIII - Sala - Cair da tarde.

    Hector e Luzia esto no meio de uma gigantesca baguna. Vestem roupas ridculas que lhe servem de figurino. Esto encenando uma cena boba, onde Hector mantm Luzia como refm. Daniel, que ainda est em volta da piscina, ouve o barulho e corre para dentro. Hector o insere na cena, e os dois disputam pela "princesa". Aps render o bandido, o mocinho pede que a princesa escolha a pena, que ser algo como "torturar o condenado com cosquinhas at a morte". Essa cena a mais delicada entre os trs,

  • pois mostrar sua relao mais ntima. Vemos parte dos corpos entre os tecidos, olhos que se beijam, bocas que se veem. Perto deles h tintas coloridas, que eles usaram para fazer a maquiagem das personagens. Eles desenham nos corpos um do outro. Na testa, os simbolos. Luzia tem a base do tringulo ( _ ). Daniel tem um dos lados ( / ) e Hector o outro (\), cada qual de uma cor. Quando a cena termina, vemos claramente um tringulo na testa dos trs. (/_\)

    CENA XIV

    Ext. Fogueira - Noite/Madrugada

    Os trs bebem em volta da fogueira. Ainda esto com parte do figurino da cena anterior e os tringulos na testa, secos, descascando. J esto levemente embriagados, pelo que podemos ver pela quantidade de garrafas de vinho espalhadas pela grama.

    DANIEL

    Hector adorava me fazer pirraa. Quando a gente vinha pra c, ele e o Flvio, meu primo, se juntavam para pentelhar algum. Quem era esse algum?

    Luzia ri.

    HECTOR

    Eu fazia de tudo. Espinhos nos tnis dele, uma aranha num colcho em que ele ia dormir...

    DANIEL

    Mas teve uma vez que foi perigoso. Como eu levava as brincadeiras numa boa, sem me irritar... Ele resolveu apelar.

    HECTOR

    Antes dele acordar eu e o Flvio cavamos um buraco fundo pra caralho na frente daquela rvore.

    DANIEL

    Depois de um tempo brincando pela casa, o Flvio quis brincar de esconde-esconde. Adivinha onde me mandaram "bater cara"?

  • LUZIA (gargalhando)No!

    HECTOR

    Em cima do buraco.

    LUZIA

    Que maldade!

    DANIEL

    Os filhos da puta colocaram um tipo de rede em cima do buraco e cobriram com galhos e folhas. Eu nem percebi, fui correndo direto pro ponto determinado para bater cara.

    HECTOR

    A v do Dan veio correndo quando ouviu os berros do Dan.

    DANIEL

    Eles cavaram um buraco to fundo que eu no conseguia sair nem a pau. Eu era baixinho pra caramba na poca.

    HECTOR

    Meus pais que ajudaram o Dan a sair, porque eu e o Flvio tinhamos nos mandado pra bem longe daqui antes que a gente apanhasse... E ramos de doer a barriga.

    DANIEL

    Resultado: Me ralei bonito no brao e costas e consegui fraturar uma costela.

    LUZIA

    Meu deus!

    HECTOR

    Quando eu descobri, fiquei muito mal. Meu pai me bateu tanto que fui dormir de bunda quente.

    DANIEL

    nico lado bom nessa histria. Foi a nica vez que eu vi o Helio chorar. O pai dele fez questo dele apanhar na minha frente. Mas eu no podia rir porque tava todo dolorido.

    LUZIA

    Quantos anos vocs tinham?

  • HECTOR

    Uns nove ou Dez? Por a. Mas pouco tempo depois a gente j tava rindo disso tudo. Mas s depois de eu dar palavra de escoteiro que nunca mais faria uma coisa dessas.

    LUZIA

    Genial.

    HECTOR

    Hora do vinho.

    LUZIA

    Meu deus, esse vinho no acaba nunca?

    CENA XV Ext. Sala - Dia