Os Amores Novo

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CENA I - EXT. PONTE DO ESQUELETO - DIAA ponte o lugar preferido dos trs. Todas as cenas necessrias de flashback, alm da cena em que eles conversam pela primeira vez, devem se passar aqui. Os trs esto brincando. Em corte, vemo-os em diferentes situaes. Abraados, correndo, brincado. Tudo entre eles muito ldico.

LUZIA (OFF)Eu te juro trs dias de amor eterno. DANIEL (OFF)O tringulo se destruindo, transmutando-se em afiadas linhas paralelas. Perfurando a carne, rasgando o corao. HECTOR (OFF)E se a tristeza e dor for inevitvel, abre os braos e acolhe a ponta aguda que te fere o peito. Dele escorrer a poesia de melhor safra.OS TRSD pra nadar na nossa cama.

CENA II - EXT. PTIO DA ESCOLA - DIA

DANIEL srio, cara, eu acho que t apaixonado!HECTORPorra, preciso parar de chegar tarde nas aulas! to gata assim?DANIELNo questo de beleza, cara. Ela linda, mas tem algo mais... Ela parece especial.HECTORBixo, a mina acabou de chegar. Voc nem conhece ela. E voc t sempre se apaixonando por algum.DANIELDessa vez diferente. Cara... Eu acho que amor.HECTORAh, meus ouvidos! Cara, voc ainda nem trocou ideia com a garota!DANIELMAs sei que ela tem que ser a me dos meus filhos.HECTOREu vou vomitar!DANIELVoc no sabe como gostar de algu, Hector...HECTORE voc sabe o que ficar idiota por cada garota nova que conhece. E sempre fica nessa punhetagem romntica e nunca chega em nenhuma delas.DANIELVoc sabe que eu sou tmido cara. E s quero que acontea alguma coisa se a garota tambms sertir alguma coisa por mim. Eu no sou como voc que...HECTOR"Que leva pra cama sem nem saber o nome". Eu j cansei de ouvir voc falar isso, mas no final quem vai pra casa frustrado e sempre voc. No t nem a pra esse papo de romanc...DANIELCaralho.HECTORQue foi? T tudo bem cara?DANIELOlha ela l.HECTOREla quem, Dan?DANIELA garota que eu te falei, porra.HECTORVoc no sabe nem o nome dela?DANIELNo conseguia ouvir nada, s ficar olhando pra ela. No sei o que fazer pra chegar nela.HECTORAcho que nem vai precisar. Parece que ela t vindo pra c.DANIELCacete.

Entra a musica A Despedida, de Anacleto de Medeiros. Vemos Luzia se aproximando. Daniel est suando frio, desesperados. Num caricato de desespero, Daniel chacoalha Hector. A msica para num corte e a cena volta "realidade".

HECTORPorra, segura a irmozinho. LUZIAPrazer. Meu nome Luzia. DANIEL (extremamente nervoso)Eu sou Hector e esse o Daniel.HECTORNo... Eu sou o Hector, e ele o Daniel. DANIELFoi o que eu quis dizer.LUZIAVoc o Hector. Tambm est na minha sala no ?HECTOREstou sim! Seja bem vinda ao inferno.LUZIAA sala at que me pareceu bem comportada.DANIEL que o Hector o problema nela.HECTOREi!LUZIA (rindo)Vocs por um acaso tem um isqueiro?DANIEL (Ao mesmo tempo que Hector saca um isqueiro do bolso)No pode fumar na escola.LUZIA (rindo)Que fofo. No costuma quebrar regras, Dan?DANIELIsso especialidade do Hector. LUZIAVamos fumar fora daqui ento.HECTORO dia que eu finalmente resolvo vir, algum me tira da escola. J vi que voc uma m influncia. Gostei de voc.DANIELOutra m influncia era tudo o que eu precisava.

Luzia puxa os dois pela mo e vo para um canto vazio da escola. Pulam o muro.

CENA III - EXT. PONTE DO ESQUELETO - TARDE

Helio est terminando de bolar um baseado. Os trs parecem estar conversando h um tempo.

LUZIAEnto voc mora sozinho?HECTORDesde os 15.LUZIAComo voc conseguiu essa proesa?HECTORMeus pais morreram num acidente.LUZIANossa, desculpa.HECTORTudo bem.LUZIAMas por ser menor de idade voc deve ter passado por alguns problemas, no?HECTORMinha tia quis me pegar pra criar, mas eu no suporto a velha. Arranjei algumas brigas com o conselho tutelar e eles queriam, por fim me mandar pra um orfanato.

DANIELO Hector ficou em casa por um ano, depois disso. O Conselho aceitou, j que nossos pais eram amigos de longa data.HECTORUm ano depois, eu voltei pra casa dos meus pais e comecei a morar sozinho. De alguma forma, o conselho desencanou de vir atrs de mim. DANIELO Hector se esconderia e moraria na mas no iria pra um orfanato, e muito menos pra casa da tia.HECTOR (abraando Daniel e acendendo o baseado)Eu no ia conseguir ficar longe do meu irmozinho. LUZIAHm, t com cheiro bom!HECTOR pra comemorar o incio de uma nova amizade. LUZIAEsse lugar muito bonito.DANIEL... Uma das poucas coisas que vale a pena nessa cidade.HECTORFalando nisso... Como voc veio parar nesse fim de mundo?LUZIAMinha me arranjou um trabalho na cidade ao lado. Era mais barato morar aqui. E vai ser bom pra ela. Ela teve um surto terrivel em So Paulo. No julgo. Aquela cidade mesmo um caos cinzento.DANIELMas e voc? No vai sentir falta de l?LUZIAMinha casa onde eu estiver. E a sade da minha me mais importante pra mim. (Olha o relgio) Falando nisso, eu preciso ir pra casa.HECTOREu ainda vou ficar um pouco por aqui.DANIELEu acho que eu tambm.HECTORVoc no tinha aquela "coisa" pra fazer?DANIEL? Que co... Ah nossa! Puta cara, valeu! Eu quase me esqueo.HECTORDe boa! Apaream em casa a noite, se quiserem. LUZIAPode deixar! Foi um prazer te conhecer, Hector.HECTORO prazer foi meu, Luzia.

Daniel e Luzia saem. Hector termina o baseado, olhando o horizonte.

CENA IV - INT. CASA DE HECTOR (SALA) - NOITE.

Hector abre a porta da casa para Daniel, que entra com a cabea nas nuvens e um sorriso de orelha orelha. Joga-se no sof. Algum disco toca na vitrola.

DANIELA vida no linda?HECTORLindo esse disco cara! Tom Waits, Sowordfishtrombone. A Cssia que me trouxe, encontrou num sebo. Vai... que cara essa? DANIELAcabo de ter o melhor beijo da minha vida.HECTORPegou a Luzia?DANIELNo "peguei" ningum, Hector. A gente passou a tarde toda juntos e, quando foi se despedir me deu beijo.HECTORPorque voc no tomaria a iniciativa nunca! Gostei dessa garota. E por que ela no veio pra c?DANIELEla tinha que ir pra casa. Ela cuida da me dela. Parece que ela meio depressiva. HECTORA Cssia passou aqui. Vai dar uma festa no final de semana, e eu j confirmei que vamos.DANIELAh, cara, no sei se t a fim. Voc sabe que eu no gosto muito de festas, e as da Cssia sempre ficam bem malucas.HECTORNo estou te convidando cara, estou te convocando. Ela j botou nosso nome da lista. O da Luzia tambm, alis, avisa ela amanh. T no vai fazer desfeita pra Cssia n cara? aniversrio dela, mano!DANIELParece que eu no tenho opo, n?HECTORNo, no tem. Amanh eu vou comprar bebida. DANIELNo vai pra aula de novo?HECTORQual a primeira?DANIELFsica.HECTORNem fodendo. DANIELVoc no iria independente da resposta, n?HECTOR Voc me conhece to bem cara. DANIELDepois t no sabe porque bomba.HECTOREi, no vou bombar. Eu s repeti tantas vezes pra gente poder estudar juntos. Foi por amor, irmozinho. Enfim... Quer que eu compre a sua bebida?DANIELIsso muito injusto! Eu nem bebo.HECTOROra, no seja egosta, Daniel. EU bebo.

CENA V - EXT - LEMBRANAS Cenas de Hector e Daniel pequenos. Podemos ouvir e ver os pais de Daniel e Hector. Esto numa casa de campo e filmam seus filhos que brincam numa festa de aniversrio, provavelmente de Daniel. A Cssia pequena tambm est por perto, vestida de menino. uma festa fantasia. Daniel est de Batman, e Hector de Curinga.

CENA VIPessoas danam por toda a casa. Hector e Daniel chegam na festa, cumprimentando a todos. Cssia aparece tambm e pula em Daniel. Conversam com todos. Luzia ainda no est vista, mas entra depois de um tempo.

LUZIAHector! Daniel! Vocs chegaram. Agora posso dar meu presente pra Cssia?CSSIAPresente?LUZIAAbre a boca e fecha os olhos. (Cssia obedece e Luzia coloca um papel em sua lngua)LUZIAFeliz Aniversrio.CSSIAIsso sim um presente!HECTORCara, eu te amo.LUZIATem pra ns trs;HECTORCARA, EU TE AMO. (Toma o doce e sai correndo pela festa, feliz da vida)LUZIA (Para Daniel)E voc?DANIELEu nunca tomei isso.LUZIAEnto precisa conhecer.

Daniel aceita. Luzia puxa Daniel para danar. Ele comea desajeitado. Beijam-se e logo est mais solto.

LUZIAEu vou pegar algo pra beber, voc quer?DANIELEu no bebo!LUZIA (ri)Que pena. Eu volto logo... Voc t bem.DANIELT tudo muito lindo!LUZIAEnto voc t bem. Eu j volto.DANIELT bom, eu vou sentar um pouco.

Luzia vai embora e Daniel senta no sof. Fecha os olhos e sorri. A msica vai abafando at desaparecer. Ele abre os olhos. Olha em volta. A festa est congelada. Ele levanta e procura no meio das pessoas Hector ou Luzia, sem sucesso. Caminha por um corredor e chega at o quintal. L, em meio a mais gente congelada, encontra Hector beijando Luzia.

CORTA PARA - INT. CASA DE HECTOR. - MADRUDAGA

Daniel est no escuro, sentado no sof. Hector entra, apreesivo. Acende a luz e encontra Daniel.

HECTORPuta susto, cara! No vi a chave la fora e achei que pudesse ser algum ladro.DANIELA gente precisa conversar.HECTORA gente te procurou por toda parte. Que que rolou?DANIELVoc muito filho da puta, cara.HECTORQue foi cara? Por que voc t assim? T na bad?DANIELPorra, cara, eu sou seu amigo.HECTORIsso, por um acaso, tem a ver com a Luzia?DANIEL claro que tem a ver com a Luzia! Eu fui procurar vocs e encontrei vocs agarrados.HECTOREla no me disse nada sobre vocs estarem namorando. Foi s um beijo cara, que alarde.DANIEL (levantando-se num impulso, empurrando Hector contra a parede)Filho da puta!HECTORVai me bater? Ento bate! BATE!

Daniel d um tapa.

HECTORBate de mo fechada, seu merda.

Daniel d um soco e Hector cai no cho, rindo. Daniel vai pra cima de Helio, desferindo mais golpes enquanto a gargalhada de Hector cresce. Hector enfim revida, ficando por cima de Daniel. Daniel para, caindo em si, arrependido por estar brigando com seu melhor amigo.

HECTORVoc bate bem, irmozinho. DANIEL Cara, desculpa. Eu, eu t fora de mim, no queria ter te batid...

Hector d um beijo em Daniel. Daniel se assusta, mas corresponde. Os dois vo para o quarto e vemos, na porta de entrada, a sombra de uma mo que corre pelo batente.

CENA VII -INT. QUARTO DE HECTOR - DIA

Daniel e Hector esto dormindo juntos. Luzia entra no quarto e abre a cortina.

LUZIABom dia!!

Daniel acorda, Hector s vira na cama.

DANIELLuzia? Que c t fazendo aqui?LUZIAEu... Eu dormi aqui.DANIELEnto...?LUZIASim, eu vi a briga horrorosa de vocs ontem. Nunca mais quero ver isso. Prefiro os beijos de reconciliao. T com vergonha?DANIEL... No. T s surpreso. No sabia que voc tava a. Onde voc dormiu? LUZIANo sof.DANIELDevia ter vindo pra c. Ou usado o outro quarto.LUZIANo queria atrapalhar. E no sabia se podia usar o outro quarto... Sei l. Acho que deve ser o antigo quarto dos pais dele, no?DANIEL, mas eu j dormi naquele quarto milhes de vezes.LUZIAHector, acorda!DANIELNum domingo de manh? Voc s pode t brincando.

Luzia pula na cama em cima dos dois. Tenta acordar Hector.

LUZIAVamos, Hector, est um lindo dia!HECTOREu quero que vocs morram!LUZIAQual ! Preparei uma surpresa pra vocs.HECTOREu vejo quando acordar.LUZIAMe auda Dan.

Dan e Luzia puxam Hector pelos ps e o tiram da cama.

HECTORMeu deus, eu odeio vocs.LUZIA (dando um beijo em Hector)Bom dia pra voc tambm.

CORTA PARA - MESA DA COZINHA

Um imenso caf da manh est servido.

DANIELMeu deus!HECTORLuzia, casa com a gente!LUZIAAceito o pedido.DANIELIsso t incrvel. LUZIAQue isso, s um agradinho. Eu sempre acordo com muita fome depois de um doce. DANIELn... Falando nisso... Eu queria pedir desculpas... Pros dois... Sobre ontem.LUZIABobagem, Daniel. Esquece isso. Estamos bem.HECTOREu no tenho do que reclamar. (d um beijo em Daniel, que cora)LUZIA bonito ver vocs.HECTORFicou olhando pela fechadura, ? LUZIABesta, claro que no. Quero dizer o tempo todo. Vocs dois so como um s. So muito opostos e to complementares. Foi a primeira vez que vocs se beijaram.DANIEL (rindo, constrangido)Acho que nunca tinha pensado no Hector desse jeito.HECTORJura? Eu espero isso faz tempo.

Daniel fica ainda mais rubro.

HECTORPode imaginar, Luzia, o que ficar a vida toda perto desse cara e nunca ter tido uma chancezinha sequer? LUZIADeve ter sido dureza!DANIELParem de me zoar, vocs dois.LUZIAObrigada por me aceitarem junto de vocs. uma honra poder fazer parte de uma amizade bonita como a de vocs.HECTOROra, Luzia. Seja muito bem vinda em ns. (Beija-a. Ela olha para Dan, que ainda est um pouco constrangido, mas ele a beija tambm.)DANIELVou escolher um disco!

CENA VIII - EXT. LAGO - FIM DE TARDE

Daniel e Cssia esto tomando um sorvete e caminhando.

CASSIAEnto... Vocs esto juntos. Digo... Os trs.DANIELAinda no tinha pensado em nada disso. Mas... Parece que sim. CASSIAPuxa...DANIELFoi tudo to natural. Quando dei por mim tnhamos tomado caf da manh e estvamos os trs, ouvindo um disco, deitados juntos no cho da sala.CASSIADesculpa perguntar Dan, mas... Quero dizer. O Hector eu sei que j pegava uns caras por a de vez em quando... Mas voc? T surpresa. DANIELNem t pensando nisso, Cassia. Sei l. Rolou e foi bacana. Que bom que foi com o Hector.CASSIAMas voc est apaixonado pela Luzia?DANIELCompletamente.CASSIAE o Hector?DANIELO Hector meu brother. De certa forma, sempre fui apaixonado por aquele cara.

CASSIACuidado pra no misturar os sentimentos, Dan.DANIELO que quer dizer com isso?CASSIAEu te conheo faz tempo tambm. Sei que voc do tipo romntico, que escreve poesias e chora por amor. Cuidado pra no se machucar nisso. DANIELVou tomar cuidado, Cassia.CASSIAO que voc tem pelo Hector amor, e dos mais puros. Toma cuidado pra no estragar isso por causa de uma paixo. DANIELFoi bom ficar com os dois.CASSIANo estou julgando. S achei que precisava dizer isso.DANIEL (ri)Obrigado Cssia. Acho que captei a mensagem.CASSIAEspero que vocs deem certo. Mas no posso deixar de dizer que uma pena. Uma mina to gata como a Luzia merecia uma mulher maravilhosa como eu ao lado dela no ?

CENA IX - (Alguns meses depois) INT. QUARTO DE HECTOR - NOITE.

Msica na vitrola. Hector est na cama. Daniel numa poltrona, lendo um livro. Luzia est no cho, encostada prxima janela.

LUZIAMeus amores, vocs esto ouvindo isso?HECTORSo s os gatos, Luzia.LUZIA (virando para Daniel)Miau.HECTOR (Entrando na brincadeira)Miau, miau. Miau.

Os dois riem e se divertem como gatos. Sobem na Janela.

DANIELDesam da gente.

Os dois param e olham Daniel. Depois se olham e juntos, saltam para o cho, indo pra cima de Daniel e fazendo ccegas.

DANIELParem com isso

Os trs se divertem. Cansam-se, por fim, jogando-se na cama, parando de rir aos poucos.

LUZIAEu amo vocs, meus amores.

Ela olha para um e para outro. Os trs esto muito felizes. Ela senta, espontnea.

LUZIAAcho que t na hora de termos um filho.

CENA X. EXT - CENA DE HECTOR E DANIEL PEQUENOS.Daniel est numa roupa de xerife e Hector numa de bandido. Contam os trs passos e sacam suas armas d'gua. Perseguem-se.

CENA XI - CASA DE HECTOR. NOITEHector est na sala, fumando um cigarro. Vitrola rodando, como de costume. Daniel e Luzia entram correndo, fazendo muito barulho.

HECTORVocs parecem bastante animados. LUZIAEstamos mesmo.DANIELE ficaremos ainda mais se sua resposta for sim.HECTORMinha resposta?DANIELTem algo pra fazer no fim de semana?HECTORNo que eu me lembre.LUZIAQueria comemorar nosso terceiro ms de uma forma especial.HECTOREstou ouvindo. DANIELNo stio da minha v. Minha tia cuida de l, mas eu pedi pra ela e disse que cuidaria no fim de semana.HECTORFaz tempo que no vou l!LUZIAEnto vamos?HECTORT brincando? claro.LUZIA, mas a perguntaque a gente precisa de um sim ainda no essa. (Estala os dedos) Dan, meu amor.

Daniel sai correndo

HECTORO que que vocs esto aprontando.

Daniel volta com uma caixa. Pe em frente de Hector . De joelhos, Daniel e Hector abrem a caixinha e dela salta um gato.

LUZIAA caixa foi s uma cerimnia. Eu vivo dizendo que a gente precisa ter um filho. HECTORPorra, um gato? Eu sou alrgico gente.DANIELOra, voc adiquite anticorpos. O amor de pai supera isso.LUZIAEle chama Chico.HECTORAdianta eu dizer no.LUZIA (fazendo voz de Chico)Voc me negaria, papai?

CENA XII - EXT. CHCARA. TARDE

Mudana gradual de tempo e cor. O tempo fecha e as cores vo, ao longo das cenas, adquirindo cores mais frias. Hector, Luzia e Daniel esto chegando na chcara.

LUZIA (respirando fundo)Que lugar bonito!DANIELEra da minha av. Minha tia comeou a cuidar daqui depois que a velha morreu. LUZIASua tia est por aqui?DANIELNo sei se ela j saiu. Mas eu falei com ela e ela disse que deixaria a casa pra gente nesses trs dias. HECTOREu t sentindo cheiro de comida da tia!

Entram na casa. A Tia est colocando comida na mesa.

HECTORTia!TIADaniel, Hector! Venham aqui meus meninos (abraa os rapazes) Deixa eu olhar pra vocs. Caramba, como vocs cresceram!HECTORNem um ano, tia. A Senhora que est ficando mais jovem.TIAMeu pequeno galanteador.DANIELT tudo bem?TIAT sim. Eu achei que vocs fossem chegar mais tarde. Tava preparando uma comida, mas era pra ser surpresa.DANIELOra, a presena da senhora a melhor surpresa.TIANo me apresentam a moa?DANIELTia, essa a Luzia. Luzia, essa minha tia Tereza.LUZIAMuito prazer.TIAO prazer todo meu. Olha, eu deixei uma lista de coisas que eu preciso que vocs faam. Coisas simples, como cuidar das plantas. Tomem cuidado principalmente com as plantas. (olha pela janela e diz, sombria) Vem tempo feio a.HECTORPode deixar, tia. TIABom, eu vou deixar vocs.DANIELOlha, eu no sei voc, mas ns trs estamos famintos. Fica pra comer com a gente.TIANo quero atrapalhar. E alm do mais, seu tio vai chegar pra me pegar a qualquer instante.DANIELTem certeza?TIATenho sim. Vou esperar l fora. Fiquem a vontade e tentem no bagunar demais e nem se machucar. (Para Luzia) Esses dois viviam pregando peas um no outro e se machucando.DANIELQuanta bondade, tia. Eu era o nico que me estrepava. O Hector e o primo que viviam fazendo maldades comigo.HECTORPode deixar que a gente cuida de tudo. E nenhum osso ser fraturado desa vez, eu prometo. Poxa, que saudade desse lugar.TIASeus pais adoravam vir aqui, Hector... Bom. Desculpe. Vou deix-los.

Beijam-se e se despedem. Os trs ficam a mesa, comendo.

LUZIAO dia t lindo. No me parece que v fazer tempo feio.

DANIELNo se preocupe. Minha tia pssima com previses do tempo. Deve ter pego essa mania com a minha v.LUZIAQue histria essa de pregar peas em voc?DANIELNunca mencionei nada sobre minhas pequenas cicatrizes?LUZIANo!HECTORHoje a noite, ento, em volta de uma fogueira, as reminicncias das maldades de Hector contra Daniel.DANIELHahaha. Combinado. Mas antes eu quero encher a barriga e dar um mergulho.LUZIATEM UMA PISCINA?DANIELTem, l nos fundos.LUZIAGENIAL! (sai correndo)DANIELLuzia, come direito.LUZIADepois! Vem Hector!

Hector sai correndo atrs de Luzia. Daniel fica olhando o cu pela janela. Por fim, abandona o prato e vai atrs dos dois, que pularam sem roupas na gua. Ele pula de roupa e tudo.

CENA XIII - Sala - Cair da tarde.

Hector e Luzia esto no meio de uma gigantesca baguna. Vestem roupas ridculas que lhe servem de figurino. Esto encenando uma cena boba, onde Hector mantm Luzia como refm. Daniel, que ainda est em volta da piscina, ouve o barulho e corre para dentro. Hector o insere na cena, e os dois disputam pela "princesa". Aps render o bandido, o mocinho pede que a princesa escolha a pena, que ser algo como "torturar o condenado com cosquinhas at a morte". Essa cena a mais delicada entre os trs, pois mostrar sua relao mais ntima. Vemos parte dos corpos entre os tecidos, olhos que se beijam, bocas que se veem. Perto deles h tintas coloridas, que eles usaram para fazer a maquiagem das personagens. Eles desenham nos corpos um do outro. Na testa, os simbolos. Luzia tem a base do tringulo ( _ ). Daniel tem um dos lados ( / ) e Hector o outro (\), cada qual de uma cor. Quando a cena termina, vemos claramente um tringulo na testa dos trs. (/_\)

CENA XIV Ext. Fogueira - Noite/MadrugadaOs trs bebem em volta da fogueira. Ainda esto com parte do figurino da cena anterior e os tringulos na testa, secos, descascando. J esto levemente embriagados, pelo que podemos ver pela quantidade de garrafas de vinho espalhadas pela grama.

DANIELHector adorava me fazer pirraa. Quando a gente vinha pra c, ele e o Flvio, meu primo, se juntavam para pentelhar algum. Quem era esse algum?

Luzia ri.

HECTOREu fazia de tudo. Espinhos nos tnis dele, uma aranha num colcho em que ele ia dormir...DANIELMas teve uma vez que foi perigoso. Como eu levava as brincadeiras numa boa, sem me irritar... Ele resolveu apelar.HECTORAntes dele acordar eu e o Flvio cavamos um buraco fundo pra caralho na frente daquela rvore.DANIELDepois de um tempo brincando pela casa, o Flvio quis brincar de esconde-esconde. Adivinha onde me mandaram "bater cara"?LUZIA (gargalhando)No!HECTOREm cima do buraco.LUZIAQue maldade!DANIELOs filhos da puta colocaram um tipo de rede em cima do buraco e cobriram com galhos e folhas. Eu nem percebi, fui correndo direto pro ponto determinado para bater cara.HECTORA v do Dan veio correndo quando ouviu os berros do Dan.DANIELEles cavaram um buraco to fundo que eu no conseguia sair nem a pau. Eu era baixinho pra caramba na poca.HECTORMeus pais que ajudaram o Dan a sair, porque eu e o Flvio tinhamos nos mandado pra bem longe daqui antes que a gente apanhasse... E ramos de doer a barriga.DANIELResultado: Me ralei bonito no brao e costas e consegui fraturar uma costela.LUZIAMeu deus!HECTORQuando eu descobri, fiquei muito mal. Meu pai me bateu tanto que fui dormir de bunda quente.DANIELnico lado bom nessa histria. Foi a nica vez que eu vi o Helio chorar. O pai dele fez questo dele apanhar na minha frente. Mas eu no podia rir porque tava todo dolorido.LUZIAQuantos anos vocs tinham?HECTORUns nove ou Dez? Por a. Mas pouco tempo depois a gente j tava rindo disso tudo. Mas s depois de eu dar palavra de escoteiro que nunca mais faria uma coisa dessas.LUZIAGenial. HECTORHora do vinho.LUZIAMeu deus, esse vinho no acaba nunca?

CENA XV Ext. Sala - Dia Dia seguinte. Tempestade. O tempo est horrivel e o vento uiva do lado de fora. As cenas adquiriam um tom muto escuro. Hlio est sentado na varanda, fuma um cigarro e contempla a tempestade. D um longo trago.

HLIOUm dia assim to bonito e to feio no vi jamais.

LUZIACitando Shakespeare pra me deixar orgulhosa, Hlio?

HLIO (rindo)E o Daniel?

LUZIAAcho que ele no vai acordar to cedo. Foi a primeira vez que ele bebeu, no?

HLIOFoi sim... Droga! Queria que ele acordasse logo.

LUZIADeixa ele dormir Hlio. Vamos logo que eu preciso comprar mais cigarros. Os meus acabaram.

HLIOTa bom, vamos, os meus tambm esto no fim. Vou s pegar dinheiro e as chaves do carro.

(Hlio entra na casa e depois de um tempo sai. Caminha com Luzia at a sada do stio. Cmera mostra a baguna da noite anterior, depois entra na casa. Daniel est acordado.)

DANIELHlio? Luzia! (procura-os, desesperadamente) Cad vocs?

Essa cena, Daniel tomado por uma grande e inexplicvel angstia. correr pela casa toda gritando os nomes deles. A tempestade fica cada vez mais alta, cobrindo sua voz. Corre para fora da casa e se entrega a chuva, que comea a acalm-lo.

Corta.

(Daniel est sentado no sof, todo molhado, esperando os dois que demoraram bastante.)

HLIOOlha, O Dan t vivo.

DANIELPelo visto esqueceram mesmo que eu estava vivo.

LUZIAPor que voc t todo molhado?

DANIELOnde vocs foram?

HLIOFomos comprar cigarros e alguma coisa pra comer.

DANIELPodiam ter me chamado.

LUZIAVoc estava dormindo, Dan. No queramos te acordar logo no seu primeiro porre.

DANIELE aproveitaram que eu no fui e ficaram quatro horas l, curtindo o tempo, sozinhos.

HLIONo fala besteira, Daniel. Demoramos um pouco porque ficamos rodando at achar um lugar que vendesse os cigarros que a Luzia gosta e depois fomos dar uma volta.

LUZIAPrecisava de um arzinho poludo... No estou acostumada e ficar no stio.

DANIELEu quase fiquei louco aqui. No tem nada pra fazer e no sabia pra onde vocs tinham ido!

HLIO (abraando-o)Ei! Calma... A gente t aqui agora.

DANIEL (sentido.)No me deixem mais sozinho aqui.

LUZIA (indo at eles)Desculpe Dan... O Hlio queria te esperar, eu que estava muito desesperada pra sair... Devamos ter esperado.

DANIELVoc me ama, Luzia?

LUZIA claro que eu te amo! Que isso agora?

DANIELQuanto?

LUZIAMuito! Tanto quanto eu amo o Hlio.

(Beijam-se).

CENA ? - EXTERNO - TARDE

Helio est do lado de fora da casa. Daniel vem l de dentro e senta do lado de Hlio, pegando um cigarro de seu mao.

HLIOA gente te estragou mesmo, heim irmozinho.

Daniel ri. D uns tragos no cigarro e enfim fala.

DANIELQuero conversar com voc.

HLIOSobre o que?

DANIELSobre ns.

HLIONs... De ns trs?

DANIELNo... Ns dois.

HLIOEnto fala.

DANIELPromete que no vai me abandonar nunca?

HLIODan! C t estranho cara... Porque voc est falando disso?

DANIELPromete!

HLIOVoc sabe que voc a nica pessoa que eu no teria coragem de abandonar, Dan. Eu te amo desde moleque! Porque isso agora?

DANIELVoc acha que a gente vai dar certo... Ns trs?

HLIOSei l... Eu to curtindo o que a gente construiu. Mas a gente nunca sabe... A gente t crescendo n. A vida tem dessas de levar as pra lugares diferentes. Mas eu sei que farei o impossvel pra ficar perto de voc, irmozinho. Eu te amo.

DANIELVoc ama a Luzia?

HLIOA Luzia se tornou uma grande companheira, Dan. Eu gosto muito dela. Gosto de estar com vocs... Voc ama Luzia?

DANIELHlio... Cada vez que eu amo mais a Luzia, eu te amo menos. Desculpa, cara. (Abraa Hlio, caindo no choro)

HLIOUm dia assim to bonito e to feio no vi jamais.

Vemos que Luzia est atrs deles, ouvindo tudo. Apenas Hlio a v. Ela tem lgrimas nos olhos.

Cena ?? - Noturno - INT - QUARTO(Os trs esto no quarto, tudo muito mais frio.)

LUZIAEu amo muito vocs dois!

Cena ?? Dia seguinte

(Hlio acorda e Luzia no est na cama. Hlio vai at a cozinha e encontra uma carta. Hlio leva a carta para o sof e l.)LUZIA Meus amores: Eu acredito no sempre. Um dia eu vou voltar e deitaremos no asfalto frio, de mos dadas, a voz estrangulada de saudade... O silncio na boca tomando coragem pra virar voz. E ns diremos "eu te amo" e ento vocs descobriro que todos os meus poemas, absolutamente todos, foram escritos s pra vocs.Ns falaremos "eu te amo" e ningum duvidar mais.Mantenham o corao de vocs juntos.Com amor, Luzia.

(Hlio fica um tempo meditando sobre o que acabou de ler. Daniel entra na sala.)

DANIELHlio! Cad a Luzia?... Que cara de enterro...

(Hlio fica calado)

DANIELAconteceu alguma coisa?

(Hlio estende a carta. Daniel pega e l.)

DANIELNo... No! Eu vou atrs dela! (corre pra fora da casa) Luzia! Luzia, volta! Cad voc Luzia?

(Hlio corre atrs de Daniel e o agarra. Daniel se debate e os dois caem.)

DANIEL (SURTANDO)Me solta! Me solta! Ela no pode fazer isso! Porque ela fez isso Hlio? Eu... Eu a amo tanto!Hlio, eu preciso dela!

HLIOEu sei... Eu sei... Shh. Eu sei.

Helio fica acariciando os cabelos de Daniel, que chora desesperado.

FADE.

CORTA PARA CENA 10DOIS MESES DEPOIS PARQUE.

Daniel e Cssia tomam um sorvete. Esto conversando h algum tempo.

CASSIASoube que a Luzia voltou?

DANIELO que?

CASSIAPois. Pelo que ela falou, ela foi passar um tempo na casa de umas amigas em So Paulo.

DANIELNo quero saber.

CSSIADan, o que aconteceu entre vocs?

DANIELNo quero falar sobre isso, Cssia.

CASSIAMeu, eu t preocupada, cara! Voc vai e volta sozinho pra casa, no fala com mais ningum. Porra, Daniel, voc se afastou do Hlio.

DANIELCssia...

CASSIADAniel, eu sou sua amiga! Eu me preocupo com voc. No vou mais permitir que voc fique por a de cabea baixa. At suas notas voc conseguiu estragar. Voc no t bem e eu no vou ficar ignorante isso.

DANIELNs... Nos desentendemos na chcara. Voc tava certa. Eu disse que no ia misturar as coisas e misturei. Ver o Hlio e ela juntos estava me causando ciumes... Eu... Estava comeando a odiar o Hlio.

CASSIAO Helio sente muito a sua falta.

DANIELE eu a dele... Mas que... tem um vazio muito grande no meu peito. No ver a Luzia me mata, e ver o Hlio s me faz lembrar dela... Da gente.

CASSIADan, eu sei que voc t machucado, mas voc no pode se afastar do Helio assim. No t te fazendo bem. No sudvel deixar esse veneno correndo dentro de voc assim, Dan. Voc e o Hlio precisam um do outro. Sempre precisaram.Olha... Eu vou dar uma festa nesse fim de semana pra comemorar o fim das aulas. Aparece e conserta isso tudo, cara. No se maltrate assim.

Daniel fica em silncio. Cssia o observa por um tempo e, quebrando o clima, passa sorteve no nariz de Dan. Ele reclama e os dois riem.

CASSIA (pegando o celular)Ah, Deixa eu te mostrar minha mina!

CORTA PARA

CENA 11 - Festa.Daniel est do lado de fora. Arruma o cabelo no vidro de um carro. Est nervoso. De repente, a porta abre e Cssia sai por ela, dando um grito ao ver o amigo.

CASSIAGente! O Dan t aqui.

DANIELShhh, Cssia, Cssia. Sem alarde.

Cassia apresenta a sua namorada que est do lado. Ela a cumprimenta. Alguns outros amigos passam para apertar a mao. Eles vo entrando na festa. Helio logo aparece.

HELIO (Abrindo os braos)Porra, cara, que saudade!

DANIEL Me desculpa.

HELIOSem tempos para desculpas. A casa t cheia de cerveja!

DANIELA Luzia t a?

HELIOEu vi ela l embaixo, perto da fogueira.

Hlio tira um cigarro do bolso e entrega para Daniel. Eles no tem isqueiro. No quadro, j vemos Luzia que no nota os dois, perto da fogueira.

DANIELA gente vai l?

HELIONo precisa. Parece que ela t vindo pra c.

Eles se aproximam e Luzia abre um largo sorriso.

LUZIAPrazer, meu nome Luzia.

Comea uma msica dos anos 50. Os trs danam em volta da fogueira a coreografia de "Band Part", de Jean Luc Goddard