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I Simpósio Nacional de Educação em Astronomia – Rio de Janeiro - 2011 1 ATUAÇÃO DO GRUPO DE ASTROFÍSICA DA UEL E SUA IMPLICAÇÃO NA CRIAÇÃO DA COMISSÃO DE ENSINO DE ASTRONOMIA JUNTO A SAB Rute Helena Trevisan 1 1 UEL/Departamento de Física/[email protected] Resumo Descrevemos brevemente a atuação do Grupo de Astrofísica da UEL no Ensino de Astronomia, seus esforços na direção do aperfeiçoamento de professores de ciências, sua participação durante a criação do Programa de Mestrado em Ensino de Ciências e Educação Matemática com trabalhos com ênfase no Ensino de Astronomia na Universidade Estadual de Londrina, e sua contribuição na criação de uma Comissão de Ensino da SAB. Palavras-chave: Comissão de Ensino de Astronomia, SAB, Criação INÍCIO DO MOVIMENTO DE ENSINO DE ASTRONOMIA NO ENSINO FUNDAMENTAL NOS ANOS 80 Difícil desvincular o nascimento do movimento que chamamos hoje de Ensino de Astronomia do movimento no ensino básico do antigo primeiro grau, hoje Ensino Fundamental, na maioria dos estados brasileiros, o qual provocou uma verdadeira revolução no início dos anos 80. Isso se deve em grande parte, a falência do ensino e a situação política do país naquela época, em que os pensadores que antes eram, vamos dizer, proscritos, passaram a ter um papel de fundamental importância, atuando diretamente em todas as áreas (SEED, 1990). Nos anos de 1980, as autoridades de oposição ao governo militar perceberam que a Educação Brasileira carecia de novas estruturas, conceitos e perspectivas, no que diz respeito aos direitos da criança e do adolescente, começaram, então, a exigir reformas estruturais e curriculares para uma ampliação da melhoria da escola pública. Estas reivindicações ecoaram inicialmente no processo de elaboração da nova Constituição Federal de 1988 e nas iniciativas de reorganização do espaço político-institucional responsável pela educação. Em 1988, novas estruturas de direitos e deveres apareceram garantidas: Art. 227 – É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão.

Os caminhos do ensino de Astronomia ATAS - 1snea2011.vitis.uspnet.usp.br/sites/default/files/SNEA... · 2012-07-10 · ... entre eles: a formação inicial do professor de ciências

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I Simpósio Nacional de Educação em Astronomia – Rio de Janeiro - 2011 1

ATUAÇÃO DO GRUPO DE ASTROFÍSICA DA UEL E SUA IMPLICAÇÃO NA CRIAÇÃO DA COMISSÃO DE

ENSINO DE ASTRONOMIA JUNTO A SAB

Rute Helena Trevisan1

1 UEL/Departamento de Física/[email protected]

Resumo

Descrevemos brevemente a atuação do Grupo de Astrofísica da UEL no Ensino de Astronomia, seus esforços na direção do aperfeiçoamento de professores de ciências, sua participação durante a criação do Programa de Mestrado em Ensino de Ciências e Educação Matemática com trabalhos com ênfase no Ensino de Astronomia na Universidade Estadual de Londrina, e sua contribuição na criação de uma Comissão de Ensino da SAB.

Palavras-chave: Comissão de Ensino de Astronomia, SAB, Criação

INÍCIO DO MOVIMENTO DE ENSINO DE ASTRONOMIA NO ENSINO FUNDAMENTAL NOS ANOS 80

Difícil desvincular o nascimento do movimento que chamamos hoje de Ensino de Astronomia do movimento no ensino básico do antigo primeiro grau, hoje Ensino Fundamental, na maioria dos estados brasileiros, o qual provocou uma verdadeira revolução no início dos anos 80. Isso se deve em grande parte, a falência do ensino e a situação política do país naquela época, em que os pensadores que antes eram, vamos dizer, proscritos, passaram a ter um papel de fundamental importância, atuando diretamente em todas as áreas (SEED, 1990).

Nos anos de 1980, as autoridades de oposição ao governo militar perceberam que a Educação Brasileira carecia de novas estruturas, conceitos e perspectivas, no que diz respeito aos direitos da criança e do adolescente, começaram, então, a exigir reformas estruturais e curriculares para uma ampliação da melhoria da escola pública. Estas reivindicações ecoaram inicialmente no processo de elaboração da nova Constituição Federal de 1988 e nas iniciativas de reorganização do espaço político-institucional responsável pela educação. Em 1988, novas estruturas de direitos e deveres apareceram garantidas:

Art. 227 – É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão.

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Após longo processo de construção e debates nacionais, em busca de uma formação comum, a década de 90 ficou marcada com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB); a elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) pelo Conselho Nacional de Educação, e com a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), indicados pelo Ministério da Educação e do Desporto durante duas gestões consecutivas do governo federal para suprir tais necessidades.

Com intuito de orientar as práticas educacionais da educação brasileira, respeitando a diversidade de currículos escolares existentes nos Estados e Municípios, a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação estabeleceu as Diretrizes Curriculares para a Educação Brasileira.

A Astronomia, por possuir forte relação com as outras ciências, atualmente é parte integrante do corpo de conhecimentos dos conteúdos escolares e está diretamente ligada à prática social cotidiana e aos fenômenos do mundo que nos cerca.

O interesse que a Astronomia desperta nas crianças, é um motor poderoso o suficiente para permitir ao docente uma reorientação da estrutura escolar e aproveitar a sua curiosidade por essa ciência para não somente desenvolver conceitos básicos, mas favorecer o desempenho de outros pertences a diferentes disciplinas científicas e humanas. (TIGNANELLI, 1998).

No Brasil, a pesquisa do tema Ensino de Astronomia dentro do Ensino de Ciências tem mostrado vários problemas, entre eles: a formação inicial do professor de ciências que não contempla Astronomia (conteúdo e estratégias de ensino) para o Ensino Fundamental em seu currículo (BARROS, 1997; LANGHI, 2004; BRETONES, 1999; PUZZO et al., 2005); o material bibliográfico existente é pouco acessível e apresenta-se em publicações bastante reduzidas (MALUF, 2000; CAMINO, 1995; os livros didáticos, apesar do PNLD do MEC, continuam apresentando vários erros conceituais (BIZZO, 2000; FRACALANZA, 1992; CANALLE et. al., 1997; TREVISAN et. al, 1997; NARDI, 1996; LEITE et al., 1999; SOBRERA, 2002 e 2005; PRETTO, 1985) e as concepções alternativas que fazem parte de uma cultura popular que sempre esteve presente entre os professores, mesmo em suas aulas de ciências, as quais, apesar de serem desconhecidas por eles, influenciam no processo de aprendizagem, dificultando assim o trabalho do professor (DRIVER, 1989; NARDI, 1989; PANZERA E THOMAZ 1995; BISCH, 1998).

Atualmente, a Astronomia, com a Lei de Diretrizes e Bases, 1996, e os Parâmetros Curriculares Nacionais, 1997, está presente na disciplina de Ciências e Geografia no Ensino Fundamental e Física no Ensino Médio (LANGHI, 2004). Portanto, além dos documentos nacionais que orientam o currículo das escolas brasileiras, cabe a cada Estado e Município organizar seus próprios currículos de acordo com as suas realidades.

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O CASO DO ESTADO DO PARANÁ

No caso do estado do Paraná, foi realizada uma reestruturação curricular de pré a 8ª série, baseada na pedagogia de conteúdos e em idéias marxistas, num trabalho desencadeado a partir de 1987. Foi construído um currículo científico (SEED, 1990), baseado na teoria do conhecimento de Vigotsky, que passou algumas idéias à Piaget. Ele dizia que a interação humana leva à soluções dos problemas de conhecimento. Ao se propor um novo encaminhamento teórico-metodológico, para a aquisição da linguagem escrita, fez-se necessária a reorganização dos demais conteúdos curriculares das outras séries desse grau de ensino. Neste contexto, o Ensino de Ciências, teve como objetivo explicitar as necessidades históricas que levaram o homem a compreender e a apropriar-se das leis que movimentam, produzem e regem os fenômenos naturais. Para atingir tal objetivo, o conteúdo de ciências foi norteado por três eixos principais, os quais enfocam segundo uma visão de totalidade, possibilitando ao aluno, compreender o processo histórico, onde se dá a evolução e a elaboração dos conceitos científicos.

Estes três eixos são:

1) Noções de Astronomia 2) Transformação e Interação de Matéria em Energia 3) Saúde - Melhoria da Qualidade de Vida. A Astronomia foi colocada numa tentativa de retomar a questão histórica

e pela necessidade de conhecimento do homem moderno. A idéia é, partindo da Astronomia, abrir espaço para uma discussão mais ampla, interligando todas as áreas.

Em 1992, foi iniciada a implantação deste currículo no Paraná, tendo sido dado um acompanhamento aos professores do antigo “primeiro grau” (1a a 8a

série do Ensino Fundamental) por meio de cursos de especialização e de aprofundamento de currículo.

Nesta época, a partir de 1991, a Secretaria da Educação do Estado do Paraná iniciou o “Programa Estadual de Capacitação do Magistério” incluindo em seu programa conteúdos de Astronomia, com objetivo de sanar a lacuna na formação dos professores de Ensino Fundamental, que são pedagogos (1a a 4a séries) ou biólogos (5a a 8a séries), ambos sem formação alguma na área.

O Grupo de Astrofísica, convidado pelo prof. Roberto Nardi, doutor em Ensino de Física e grande incentivador do Ensino de Astronomia, na época docente do Departamento de Física da UEL, participou deste programa, a convite da SEED (Secretaria do Estado da Educação do Estado do PR. Foram ministrados de 1988 a 2009, 49 cursos de Astronomia para professores, num total de 1097 horas, por inúmeras cidades brasileiras, a maioria do Paraná (Tabela I): Após esta data, as atividades do grupo se delimitaram ao Planetário de Londrina, por motivo de aposentadoria da Coordenadora do Grupo, autora deste artigo.

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TABELA I – Curso de Astronomia para Professores, ministrado pelo

Grupo de Astrofísica da UEL entre 1988/2009

Curso * Local / Ano Carga Horária(h)

Formação do Sistema Solar Londrina-PR 1988 3

Teoria de Formação do Sistema Solar/ Astronomia e Meteorologia/ Currículo Básico- Ciências/Astronomia/ Observação do Céu Noturno I

Londrina-PR/Jaguapitã-PR/Ivaiporã -PR

1991

50

Metodologia no Ensino de Ciências. Astronomia e Meteorologia

Palotina-PR/Cornélio Procópio-PR/ Apucarana-PR 1992

60

Astronomia para 3a e 4a séries /Astronomia no Ensino de Primeiro Grau/ Observação do Céu Noturno-I

Cornélio Procópio-PR/ Vitória-ES/ Londrina-PR 1993

158

Jornalismo Especializado em Ciência e Tecnologia O Eclipse Solar/ Observação do Céu Noturno-II

Londrina-PR 1994 78

Oficinas de Astronomia para o Primeiro Grau/ Metodologia do Ensino do Sistema Solar Astronomia para 1 e 2 graus/ Observação do Céu Noturno (III)

Pitanga-PR/Niterói-RJ/Londrina-PR

1995

116

Astronomia no Ensino de Ciências: A Inovação Necessária/ Observação do Céu Noturno (IV)

Curitiba-PR/ Londrina-PR 1996 76

Medindo o Sistema Solar/ Medidas no Sistema Solar Oficinas de Astronomia/ Tópicos Especiais: Astronomia

Porto Alegre-RGS/ Angra dos Reis-RJ/ Jacarezinho-PR 1997

58

Astronomia/ Tópicos Especiais: Astronomia II Londrina-Pr/Jacarezinho/PR 1998 54

Matemática na Astronomia/ Curso de Astronomia para Professores

Cornélio Procópio-PR/ Londrina-PR

1999

56

Oficinas de Astronomia/ Matemática na Astronomia

Londrina-PR/ Ivaiporã-PR Paranavai-PR/ Cornélio Procópio-PR

2000

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*O número de alunos atendidos em todos os 46 cursos durante todo este período, foi um valor médio de 40 alunos por turma, totalizando então aproximadamente 1840 alunos atendidos.

Além dos cursos acima citados, o grupo de Astrofísica da UEL, participou ativamente da implantação do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Educação Matemática, o qual foi recomendado pela CAPES e implantado na UEL em 2002, tendo como proponentes os Departamentos de Física e de Matemática. Foram ministradas disciplinas de Astronomia e orientadas quatro monografias na área de Ensino de Astronomia entre 2003 e 2008 (Queiroz, 2008; Marrone Jr, 2007; Lima, 2006 e Puzzo, 2005), orientou entre 1993 e 2005, 17 Monografias de Especialização na área de Ensino de Astronomia e criou o Planetário de Londrina, inaugurado em 2007, o qual recebe em média 20.000 alunos das escolas públicas e particulares de Londrina, por ano.

Curso Local/Ano Carga Horária (h)

Matemática na Astronomia Paranavai-PR/ Cornélio Procópio-PR/ Votuporanga-SP 2001

50

Matemática na Astronomia Cornélio Procópio-PR / Faxinal do Céu-Pr 2002

48

Astronomia na Matemática/ Softwares de Astronomia no Ensino de Matemática/ Oficina de Astronomia: o Céu como um laboratório

Paranavaí-PR /Curitiba-PR 2003 26

Oficina de Astronomia/ Astronomia no Ensino de Matemática

Londrina-Pr/ Presidente Venceslau-SP/ Assis-SP/ Londrina-PR 2004

66

Observações do Céu Noturno V Londrina/PR 2005 24

I Curso de Férias de Astronomia para Crianças

Londrina/PR 2006 9

II Curso de Férias de Astronomia para Crianças / Introdução à Astronomia para Professores

Londrina/PR 2007 37

Introdução à Astronomia para Professores

Londrina 2008 30

Astronomia ao Alcance de todos Londrina 2009 20

Total de Horas /Aula 1.127

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O X SNEF- Simpósio Nacional de Ensino de Física (1993) em Londrina

Se formos seguir uma evolução quantitativa (números absolutos) dos

trabalhos de Astronomia nos SNEF do início dos anos 90, veremos que o X Simpósio Nacional de Ensino de Física, ocorrido em Londrina em 1993 sob a coordenação do professor Roberto Nardi (SNEF, 1993), foi um marco. Durante a reunião, alguns astrônomos profissionais presentes, preocupados com o andamento do Ensino de Astronomia nas escolas brasileiras e os sérios erros de Astronomia nos livros didáticos, surpresos com o grande número de trabalhos na área de Ensino de Astronomia, fizeram durante a Assembléia Geral uma proposta de moção (Figura 1) encaminhada pela profa. Silvia Helena Bechker Livi (Foto 1) da UFRGS, coordenadora do Encontro de Astronomia no 1o e 2o Graus ocorrido neste mesmo simpósio, com uma recomendação que “o Ensino de Astronomia fosse incluído nos cursos de aperfeiçoamento de professores e nos cursos de formação de professores”.

Além desta moção, o grupo assim constituído: (nome-formação-instituição de trabalho) Prof. Dr. Augusto Daminelli Neto - IAG/USP/SP Prof. Msc. Cleiton Joni Benetti Lattari - INPE - Fema/Assis/SP Prof. Dr. João Batista Garcia Canalle - IAG/USP - UERJ/RJ Prof.a Dr.a Rute Helena Trevisan - INPE - UEL/Londrina/PR Prof. Dr. Sergio M. Bisch - IAG/USP - UFES/Vitória/ES Prof.a Dr.a Silvia Livi - UFRGS/Porto Alegre/RGS

todos sócios da SAB, se denominou provisoriamente GEA (Grupo de Ensino de Astronomia) e resolveu levar para a XIX Reunião Anual da SAB, uma proposta de Criação de uma Comissão de Ensino, nos moldes da Secretaria de Ensino da SBF, a se realizar em Agosto do mesmo ano (1993).

Foto 1. Alguns dos astrônomos presentes no X SNEF, Londrina, 1993. Da esquerda para a direita: Professores: Rute Helena Trevisan, João Batista Garcia Canalle, Silvia Livi e Cleiton Joni Benetti Lattari.

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A FUNDAÇÃO DA CESAB

O GEA, formado durante o X SNEF (1993) em Londrina, levou para a XIX REUINÃO ANUAL da SAB em Caxambu, seu desejo de criar a Comissão de Ensino de Astronomia na SAB, cuja motivação se fazia devido principalmente a necessidade urgente de formação de professores de primeiro e segundo graus em Astronomia, em todo o território nacional, já que os programas da grande maioria dos currículos escolares dos cursos básicos passavam por uma reestruturação colocando Astronomia em Ciências.

Na programação da XIX Reunião Anual da Sab, 1993, foi incluída uma Mesa Redonda de Ensino, coordenada pelo professor Walter Maciel, composta por: Heloisa Maria Boechat (UFRJ): o Curso de Graduação em Astronomia; João Braga (INPE): A Pós-Graduação em Astronomia do INPE; Renato Las Casas (UFMG) ; Roberto Vieira Martins(ON); Rute Helena Trevisan(UEL) O Ensino de Astronomia no Ensino Fundamental do Paraná; Silvia Helena Livi (UFRGS) Onde está o Ensino de Astronomia?

Foram muitos os debates e entraves ocorridos durante esta Assembléia da SAB, na XIX Reunião Anual, ocorrida em Agosto de 1993, em Caxambu, MG. Finalmente se chegou a um consenso e ficou estabelecida durante os debates realizados, a necessidade de criar uma comissão de

Figura 1. Moção apresentada pela professora Silvia Livi e aprovada durante a Assembléia Geral do X SNEF, recomendando que “O Ensino de Astronomia seja

incluído também nos currículos de formação de professores nas disciplinas de Ciências e/ou Física e Geografia”. ATAS DO X SNEF, 1993.

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ensino, como prevê os estatutos da SAB, a qual seria eleita pela diretoria, sendo que as discussões ocorridas na mesa redonda na noite anterior mostraram a necessidade de promover outros eventos deste gênero. Foi lembrado que a referida comissão já existiu em outras épocas e que devemos reunir esforços fomentando localmente as discussões (discussão nas Atas na Figura 2).

Figura 2. Ata da XXI Assembléia Geral da SAB Boletim da SAB - Vol. 13 No 3, pg. 16. 1994

A seguir, a diretoria da SAB designou uma Comissão de Ensino a qual foi composta por: Walter Maciel, Roberto Martins, Heloisa Boechat, Rute Helena Trevisan, Sergio Bisch e Ivo Busko (Foto 2), tendo como primeiro

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objetivo promover uma mesa Redonda sobre o tema durante a XX Reunião Anual, a qual ocorreria em 1994, e onde teriam continuidade os debates iniciados anteriormente. (Figura 3, abaixo).

Figura 3. Editorial do Boletim Anual da SAB, Designando a Comissão de Ensino da SAB durante a XIX Reunião Anual

(Boletim SAB, Vol3, N4, 1994)

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Foto 2. Alguns elementos da recém formada Comissão de Ensino da SAB, e simpatizantes, tirada durante a XIX Reunião Anual em 1994. Da esquerda para direita: Heloisa Boechat, Rute Helena Trevisan, Cleiton Joni Lattari, Sergio Bisch, João Canalle, José Adolfo Campos, Orlando P. Fonseca Rodrigues, Gilson Gomes Vieira, Luiz Carlos Jafelice, Hisataki Shigueoka, Silvia Livi e Oscar Matsuura.

Os objetivos da CESAB definidos pela Comissão de Ensino foram discutidos e são eles (Trevisan, 1993):

a) Participar ativamente do aprimoramento dos conteúdos do LD, incentivando os sócios da SAB a participarem da literatura infantil e juvenil e de divulgação da Astronomia em suas respectivas áreas ou nas demais;

b) Participar na elaboração dos Currículos do Ensino Fundamental junto ao MEC, introduzindo Astronomia desde as séries iniciais;

c) Incentivar a publicação de artigos sobre Ensino de Astronomia, com apresentação dos mesmos em encontros científicos, inclusive na SAB;

d) Incentivar a criação de Encontros e Feiras de Ensino de Astronomia;

e) Criar Assessorias e Cursos para Professores de Ciências dando apoio didático e de conteúdo de Astronomia;

f) Incentivar Planetários e Observatórios Didáticos, tanto sua criação como sua participação mais ativa junto à professores do Ensino Fundamental e médio.

g) Incentivar a criação de Programas de Pós-Graduação na área de Ensino de Ciências (Astronomia)

h) Incentivar os Cursos de Graduação em Pedagogia e Biologia e inserirem conceitos de Astronomia em suas grades curriculares

Durante a XX Reunião Anual da SAB, tivemos uma segunda mesa Redonda de Ensino, coordenada pelo prof. Augusto Daminelli Neto, na qual foi apresentada a fala da Professora Rute Helena Trevisan sobre o tema: “ O ensino de Astronomia junto às professores de Ensino Fundamental no Paraná”.

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RESULTADOS DA CRIAÇÃO DA CESAB

A partir da criação da CESAB, o número de trabalhos apresentados nas áreas durante as reuniões da SAB cresceram sensivelmente. Segundo Bretones, 2006:

“Até início dos anos 90, tivemos somente 1 trabalho, apresentado em 1977, e 2 trabalhos em 1986. O primeiro trabalho tem por título “Curso de Introdução à Astrofísica” e foi apresentado por José Manuel Luís da Silva (OACEP). Trata de um curso sobre noções de Astrofísica desenvolvido com estudantes do ensino médio na disciplina de Física. Quanto aos trabalhos apresentados em 1986, um deles também trata de um curso de introdução à astronomia e astrofísica para o ensino médio, enquanto o segundo analisa os conteúdos de astronomia em livros didáticos de Geografia do ensino fundamental. Em 1993, foram apresentados 6 trabalhos e, a partir desse ano, começam a aparecer anualmente trabalhos voltados à educação em volume crescente. De uma média de 8 trabalhos por Reunião em meados da década de 90, passou-se a cerca de 17 trabalhos nos anos 2000. Em 2003, foram apresentados 26 trabalhos. Constata-se, portanto, que 1993 foi um marco no nascimento ou renascimento da seção de Ensino & História das reuniões da SAB.” (Bretones, et al.2006)

Trabalhos identificados na área de Ensino de Astronomia nos dois eventos (Bretones, et.al. 2006):

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A partir da consolidação da CESAB em 1994, vários pequenos grupos em várias universidades, observatórios e planetários brasileiros e estabelecimentos amadores e profissionais (clubes e associações), e que antes desta data já trabalhavam no ensino e divulgação de Astronomia, se sentiram mais incentivados a aumentar sua produção.

A produção bibliográfica nacional nesta área tem aumentado sensivelmente nos últimos anos, como é percebida mediante o crescente número de trabalhos apresentados em eventos sobre ensino de ciências e de física, a grande área na qual se insere o ensino da astronomia (CASTRO, PAVANI e ALVES, 2009). Uma análise de todo o material produzido, no Brasil, relacionado à área de educação em astronomia foi conduzido por Marrone Junior (2007).

Os Programas de Pós-Graduação em Ensino de Ciências criados pela CAPES, envolveram pesquisas na área de Ensino de Astronomia.

Revistas de divulgação como a “Ciência Hoje das Crianças” (entre várias outras), tem apresentado vários artigos de Astronomia voltados para as crianças, com autores convidados entre os sócios da SAB.

A produção de livros paradidáticos e livros infantis e infanto-juvenis de Astronomia surgiu intensamente nos anos 90, e vem aumentando.

Durante as reuniões anuais da SAB, atividades de ensino voltadas para professores passaram a acontecer e a criação das Olimpíadas Brasileiras de Astronomia pela Comissão de Ensino em 1998 (OBA,1998) coordenada por João Batista Canalle (Canalle et al. 1998) incrementaram o interesse de alunos e professores pela área.

Outros caminhos foram se abrindo para a pesquisa em Ensino de Astronomia, dentro da Pesquisa em Ensino de Ciências com a criação da ABRAPEC durante o I ENPEC (Encontro Nacional de Pesquisa em Ensino de Ciências), realizado em Águas de Lindóia, que continua realizando periodicamente encontros nacionais de pesquisa em educação em ciências (ENPECs) e, entre outras atividades, destaca-se também a publicação da "Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências - RBPEC".

Em 2004 foi lançada a revista RELEA (Revista Latino-Americana de Educação em Astronomia), voltada para o ensino e divulgação da Astronomia, em seus variados níveis e para atendimento a públicos com diferentes perfis, em diversos contextos de ensino formal e não-formal coordenada por Paulo Bretones e Luiz Carlos Jafelice (RELEA, 2004), a qual tem dado uma contribuição impar para o ensino de astronomia.

Agradecimentos: Agradeço aos colegas pela colaboração: Cleiton Lattari, João Batista Canalle e Oscar Matsuura.

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REFERÊNCIAS

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