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Texto integrante dos Anais do XX Encontro Regional de História: História e Liberdade. ANPUH/SP UNESP-Franca. 06 a 10 de setembro de 2010. Cd-Rom. Os contos populares de assombração como resignificadores da vida cotidiana em Caldas, Minas Gerais: uma análise sobre a cultura popular (1990-2009). Resumo O referido projeto tem como proposta analisar a cultura popular vivenciada em um município situado no sul de Minas Gerais, Caldas, através de uma prática antiga e muito presente no cotidiano da população, os contos de assombração. O mecanismo do medo exerce um papel essencial para a compreensão do universo mental das pessoas, e no dinamismo e perpetuação de tais práticas, que vêm se adaptando em novas culturas. Assim, propõe-se pesquisar as duas últimas décadas, entre o fim do século XX e início do XXI, com o intuito de se averiguar como o estudo da cultura popular pode nos auxiliar a compreender a dinâmica social de uma determinada sociedade. As essas histórias contadas vem se mantendo ao longo do tempo, sempre sendo recriadas pelo imaginário popular, através da tradição oral, e sua consequente circularidade. Porém, oponentemente não perderam sua essência, mesmo ganhando novas significações, sentidos e sujeitos. Partindo desse pressuposto a reflexão sobre a memória da população é fundamental para o entendimento dessa cultura fundamentada e vivenciada na oralidade e na informalidade, que influenciara a vida cotidiana da população e o dinamismo nesta aquisição de novos papéis sociais. Apresentação Os contos constituem-se por uma criação individual ou grupal que se cristalizam na memória coletiva e fazem parte da vida cotidiana, influenciando-a em vários setores, exatamente por determinar as práticas sociais. Uma sociedade sofre impactos em sua

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Texto integrante dos Anais do XX Encontro Regional de História: História e Liberdade. ANPUH/SP – UNESP-Franca. 06 a 10 de setembro de 2010. Cd-Rom.

Os contos populares de assombração como resignificadores da vida

cotidiana em Caldas, Minas Gerais: uma análise sobre a cultura popular

(1990-2009).

Resumo

O referido projeto tem como proposta analisar a cultura popular vivenciada em

um município situado no sul de Minas Gerais, Caldas, através de uma prática antiga e

muito presente no cotidiano da população, os contos de assombração. O mecanismo do

medo exerce um papel essencial para a compreensão do universo mental das pessoas, e

no dinamismo e perpetuação de tais práticas, que vêm se adaptando em novas culturas.

Assim, propõe-se pesquisar as duas últimas décadas, entre o fim do século XX e início

do XXI, com o intuito de se averiguar como o estudo da cultura popular pode nos

auxiliar a compreender a dinâmica social de uma determinada sociedade.

As essas histórias contadas vem se mantendo ao longo do tempo, sempre sendo

recriadas pelo imaginário popular, através da tradição oral, e sua consequente

circularidade. Porém, oponentemente não perderam sua essência, mesmo ganhando

novas significações, sentidos e sujeitos. Partindo desse pressuposto a reflexão sobre a

memória da população é fundamental para o entendimento dessa cultura fundamentada

e vivenciada na oralidade e na informalidade, que influenciara a vida cotidiana da

população e o dinamismo nesta aquisição de novos papéis sociais.

Apresentação

Os contos constituem-se por uma criação individual ou grupal que se cristalizam

na memória coletiva e fazem parte da vida cotidiana, influenciando-a em vários setores,

exatamente por determinar as práticas sociais. Uma sociedade sofre impactos em sua

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configuração a partir da cultura partilhada entre seus membros, onde suas atitudes e

crenças podem efetivamente mudar seu comportamento (Le Goff, 1996). E os contos

carregam em si vários sentidos como moralização, divertimento, vigília, punição,

servindo até mesmo como meio de educação para as crianças, podendo ver neles a

forma de expressão de uma sociedade (Vansina, 1982).

Quando o historiador busca as estruturas mentais, procura aquilo que os

indivíduos de uma dada época e sociedade têm em comum, algo que herdam das

gerações passadas e que serve de parâmetro para suas ações. Essa idéia se torna mais

nítida quando trabalhamos com comunidades menores, que possuem seus próprios

contos, se estes tem forte presença no imaginário coletivo. O município de Caldas é um

bom objeto para tal estudo. Seus contos populares de assombração permeiam o universo

mental da população que veem neles uma forma de diversão, mas que, intrinsecamente,

carregam uma forte religiosidade que é revestida ainda pela ação do medo.

Podemos analisar essa situação dentro de uma tradição oral bastante antiga e

dinâmica, onde seus elementos atravessam diversas gerações, remontando uma tradição

familiar, ou circulam em um âmbito maior (Ginzburg, 2006), como bairros específicos e

em alguns casos remetendo a toda cidade. Nesse sentido, é possível articular essa

pesquisa à proposta de Ginzburg, em seu ensaio O queijo e os vermes (2006), o qual

propõe uma visão original de cultura popular que não se liga a uma imposição cultural

vinda de cima e tão pouco a uma cultura original que resistiu a todo esse processo de

aculturação de uma elite letrada, procurando mostrar o conflito de classes. Porém, o

autor afirma que a cultura popular se define também pelas suas relações com a cultura

das elites, uma forma de reciprocidade entre dois níveis que absorvem elementos vindos

de fora.

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Ao pensar o conceito de circularidade cultural, a questão da tradição oral tal

como definida por Vansina (1982), é apontada como um testemunho, transmitido para

outras gerações, tendo em suas características particulares o verbalismo e a forma de

transmissão. “A origem das tradições pode, portanto, repousar num testemunho ocular, num boato ou

numa criação baseada em diferentes textos orais existentes, combinados e adaptados para criar uma

nova mensagem.” (Vansina, 1982, p. 159). Esse é o ponto fundamental para essa pesquisa,

dando embasamento à proposição de que os contos circulam em determinado espaço,

passando por um número incontável de pessoas que, ao recebê-los, repassam a outros

indivíduos. Contudo, quando caminhamos no terreno das representações, é

necessário muita cautela, exatamente por não existir precisão e, tentar fazê-lo é algo

inadequado (Darnton, 1986). Uma pessoa que é posta diante de um conto popular, pode

modificá-lo no processo de transmissão. Devido a isso, surge a imprecisão em se

analisar o imaginário coletivo (Vansina, 1982), devendo então ver a cultura como algo

em constante transformação.

O medo e religião são problemáticas que nos auxiliam compreender toda a

configuração desse sistema cultural perpetuado no município. Um outro trabalho

adotado inicialmente para se discutir a temática da religião e sua forte influência no

cotidiano das pessoas é A interpretação das culturas (1989) de Clifford Geertz que,

apresenta a religião como um complexo cultural capaz de desempenhar um papel

determinante na vida social, agindo sobre as representações. Desse modo, ela oferece

uma explicação cósmica para o mundo, vindo ainda a servir como modeladora de

atitudes. A partir então dessas duas funções culturais, podemos observar a tradição

religiosa como elemento ativo dentro de um grupo capaz de sintetizar as ações humanas.

Os “causos” carregam esse sentimento trazendo em si a incerteza, que o torna

maior diante do desconhecido. A força de tal narrativa cresce à medida que se ouve a

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história de alguém que, supostamente passara por uma situação real. Ao trabalhar com o

conceito do medo é necessário recorrer a obra História do Medo no Ocidente (2009) de

Jean Delumeau, onde ele pesquisa a Idade Media e a Moderna mostrando como vários

símbolos, mitos e representações ainda permanecem em uso em nosso mundo, servindo-

nos para entendê-lo em diversos aspectos, sobretudo culturais.

Os depoimentos dos moradores são fundamentais, visto a ausência de relatos

escritos. Toda a História fora transmitida oralmente, e isto vem permitindo a vivência

desses seres na memória coletiva (Le Goff, 1996). Dar voz a múltiplos narradores

significa possibilitar diferentes versões, percepções e representações de mundo (Odair,

2003), que a História documentada não permite.

O escuro e a noite são cúmplices dos fantasmas e de outros malefícios

(Delumeau, 2009). Ambos representam a incerteza, fazem ouvir e ver coisas

questionáveis. Instigados pelo medo, a população diante de um barulho que não é

familiar pode transformá-lo em um espírito que vaga enquanto aguarda o descanso

eterno. O sobrenatural, em muitas ocasiões, preenche a lacuna deixada pela razão. Logo

a primeira explicação para alguma coisa estranha aos nossos olhos, buscamos nas

crenças as respostas.

Muchembled (2001) diz que “nos países dominados pela religião católica, em

que se revaloriza o mito maléfico banalizando-o, integrando-o em um vasto imaginário

lúdico trazido pela literatura popular, a publicidade, os filmes, as histórias em

quadrinhos” (2001, p.288). Nesse ponto, Caldas torna-se um interessante objeto de

análise, ainda mais quando as representações das pessoas ultrapassam o limite desses

meios de comunicação e entretenimento.

A tradição oral possibilita que o diabo seja dinâmico, se transmutando em

diversos momentos e acabe por se adaptar ao espaço (Delumeau, 2009), sendo

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gradativamente mais valorizado sem qualquer tipo de banalização, devido ao

mecanismo do medo. Contar esses “causos” em lugares públicos reafirmam sua

existência, o que impede que a sua figura abandone o imaginário coletivo (Ginzburg,

2006), sendo cada vez mais perpetuado dentro da cultura do município. O que se

pretende discutir aqui não é a veracidade ou não desses fatos, mas sim analisar todo

complexo cultural que envolve tais práticas, abraçadas sobre um imaginário.

A recorrência à religião não ocorre apenas na procura de um padre. É possível

observar a aproximação de católicos aos terreiros de Umbanda, ou a outras práticas que

possuam traços africanos, permitindo considerar a existência de um hibridismo cultural.

Para analisar essas práticas e absorções de varias doutrinas, recorre-se a Laura de Mello

e Souza em O Diabo e a Terra de Santa Cruz (1986), que discute o medo no Brasil e

como ele surgiu através das heranças culturais européias, africanas e indígenas que “se

combinaram mais uma vez para engendrar praticas mágicas e de feitiçaria

extremamente complexos e originais” ( p.153).

Em poucos séculos as projeções mentais dos europeus se espalharam por todo o

continente e o processo colonizador misturado às culturas de outros povos, acabou por

tecer o imaginário colonial americano. A cidade, foco dessa pesquisa, mantém-se nesse

plano, exatamente por possuir um passado colonial que remonta ao século XVIII, sendo

palco de todos esses elementos discutidos.

O hibridismo cultural é visível no dia-a-dia da sociedade, onde elementos de

diversas religiões se mesclam e convivem juntas, produzindo novas concepções de

mundo e até mesmo cosmogonias (Souza, 1986). Demônios, encostos, espíritos da

natureza, almas penadas, exus são exemplos da combinação cultural presente no

imaginário coletivo.

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Entretanto a sustentabilidade da crença em fantasmas se deve à memória coletiva

que traz em si “causos” muito antigos e que vem se renovando a cada geração pela

tradição oral (Vansina, 1982).

A partir dela ainda podemos identificar a sobrevivência do passado e assim

perceber a transparência das representações de mundo implícitas e cristalizadas através

da construção da tradição, sempre adjetivando a memória como seletiva e fluída, onde o

individuo inconscientemente a altera, a partir de sua percepção do presente (Halbwachs,

1990; Bosi, 1994)

O forte cunho religioso da população, muitas vezes firmado em uma cultura oral,

norteia-nos na busca de sua identidade, tomando como base seu vínculo com o passado

(Bosi, 2003).

Assim Thompson (1992) e Halbwachs (1990) mostram que, a evocação da

memória social é fundamental nesse processo, onde essa identidade provém da

oralidade e cada lembrança de um sujeito social representa uma parte da teia da

memória coletiva.

Jacques Le Goff (1996) trabalha muito bem esse conceito, apontando-a como

essencial à formação da identidade coletiva, conservando certas informações e

permitindo ao historiador abordar os vários problemas, sem necessitar em absoluto de

fontes formais, que em determinados casos podem ter sido manipulados, distorcendo ou

simplificando fatos determinantes da camada popular.

Longe apenas de servir como ponte a um passado, a memória promove impactos

no presente, através da estruturação dos costumes. Cabe remeter à afirmação

thompsoniana de que as tradições se perpetuam em grande parte mediante a transmissão

oral (Thompson, 1998).

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A História Oral busca, com efeito, mostrar o que ainda não foi documentado e o

que só é possível identificar através da oralidade das pessoas (Portelli, 1997). Portanto,

a pesquisa está articulada à essa proposta quando entende que a História Oral possibilita

ao historiador adentrar em novos objetos de estudo, como o mito e as mentalidades.

Nesse sentido, os depoimentos dos moradores são fundamentais, pois não existem

relatos escritos. Toda a transmissão se deu através da tradição oral, que contribui para a

vivência dessas assombrações no imaginário coletivo.

Para maior compreensão desse método de pesquisa, procura-se trabalhar com a

obra Manual de História Oral de Verena Alberti, que sintetiza todo o processo de

construção de um projeto que utilizará essa metodologia, desde a preparação inicial da

proposta até a transcrição das entrevistas obtidas. Alberti ainda, orienta o modo como

deve ser tratado o acervo, para que desse modo haja uma maior conservação dos

materiais obtidos.

Busca-se ainda maiores referências para amarrar melhor método e teoria sobre o

assunto, utilizando-se artigos do livro Usos e Abusos da História Oral, organizado por

Marieta de Moraes Ferreira e Janaina P. Amado Baptista de Figueiredo.

Nunca houve um trabalho realizado na cidade que caminhe no sentido proposto

por tal projeto, onde se busca revalorizar uma cultura tão presente, vista apenas como

folclore, discurso exercido pelas classes dominantes para desvalorizar as práticas e os

costumes das classes menos favorecidas. E. P. Thompson mostra muito bem isso em seu

livro Costumes em Comum, obra necessária dentro da bibliografia fundamental,

discutindo o conceito de cultura popular com muita perspicácia, afirmando que é

necessário ter cuidado ao analisá-lo porque podemos cair em generalizações e para isso

é preciso colocá-la dentro do seu contexto histórico especifico.

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... não podemos esquecer que a “cultura” é um termo emaranhado,

que ao reunir tantas atividades e atributos em um só feixe, pode na

verdade confundir ou ocultar distinções que precisam ser feitas. Será

necessário desfazer o feixe e examinar com mais cuidado os seus

componentes: ritos, modos simbólicos, os atributos culturais de

hegemonia, a transmissão do costume de geração para geração (...)

(Thompson, 1998, p.22)

Esse trabalho pretende analisar a História de Caldas por ângulos jamais

estudados e de fato muito ignorados, por um viés em que a cultura influencia o meio

social. O período a ser analisado será da década de 90 do século XX até os dias de hoje,

mostrando como essas praticas ainda vivem com força na contemporaneidade e

modelam o cotidiano. Pretende-se evitar o tradicionalismo memorialista, procurando ver

a sociedade sob uma ótica cultural e social, dando ênfase na preservação da memória da

população, conservando-a, adentrando seu universo mental e trabalhando também com

histórias de vida de famílias. Procurando analisar o dinamismo entre a cultura popular e

o cotidiano da população, onde o ceticismo sobre a racionalidade das coisas, ganha cada

vez mais terreno nesses últimos anos.

A partir desse recorte histórico procura-se ainda entender a importância da

relação entre a tradição e os costumes, ligados diretamente a preservação dos contos e o

avanço de novas formas de cultura, que acabam por permear esse campo com tensões.

Pensando assim, o ato de contar histórias representa a grande forma de resistência dessa

prática cultural, exercida pelos diversos sujeitos sociais.

Sendo Caldas um bom objeto para tal estudo, a partir de todos os elementos já

citados e presentes no universo mental da população, pretende-se analisar como

proposta central o estudo da cultura, enquanto mecanismo que influencia o meio social,

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a partir dos contos de assombração que são determinantes na construção do imaginário

coletivo e das vivências cotidianas, muitas vezes modificando radicalmente a vida de

famílias inteiras, procurando assim catalogar e documentar os contos, permitindo uma

reflexão durante a duração do projeto.

A metodologia a ser utilizada para a realização da proposta dessa pesquisa

encontra-se no debate sobre História Oral, coletando inúmeras entrevistas com os

moradores do município, buscando escutar a maior variedade possível de contos e

analisar a memória da população de 1990 até o presente, para que possamos identificar

e discutir as formas como essa cultura negocia e vive diante de tantas outras

globalizadoras, como a cultura de massa.

Os materiais a serem analisados se firmam basicamente nas entrevistas

transcritas, que possibilitarão trabalhar com vivências e representações do imaginário

coletivo ou individual, mostrando algo não documentado e que só é possível identificar

através da oralidade das pessoas.

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