154
ELISEU MÂNICA OS CRITÉRIOS DE HABILITAÇÃO DO ADVOGADO NOS ESTADOS PARTES DO MERCOSUL Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Direito, área de concentração Relações Internacionais, no Curso de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina. Orientador: Prof. Dr. Welber Oliveira Barrai Florianópolis 2002

OS CRITÉRIOS DE HABILITAÇÃO DO ADVOGADO NOS … · rgeaoab regulamento geral do estatuto da advocacia e da ordem dos advogados do brasil ub a universidade de buenos aires ue uniÃo

  • Upload
    vudat

  • View
    220

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

  • ELISEU MNICA

    OS CRITRIOS DE HABILITAO DO ADVOGADO NOS ESTADOS PARTES DO MERCOSUL

    Dissertao apresentada como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em Direito, rea de concentrao Relaes Internacionais, no Curso de Ps-Graduao em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina.Orientador: Prof. Dr. Welber Oliveira Barrai

    Florianpolis2002

  • ELISEU MNICA

    OS CRITRIOS DE HABILITAO DO ADVOGADO NOS ESTADOS PARTES DO MERCOSUL

    Dissertao aprovada como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em Direito, rea de concentrao Relaes Internacionais, no Curso de Ps-Graduao em Direito da Universidade Federal de Santa Catarina, pela Banca Examinadora formada pelos professores:

    Florianpolis, 19 de fevereiro de 2002.

  • DEDICATRIA esposa Cleonice

    e aos filhos Jnior e Pmela, pelo apoio e compreenso.

  • AGRADECIMENTOS

    Ao orientador, Prof. Dr. Welber Oliveira Barrai, pelo contagiante estmulo pesquisa e pela ateno dispensada em todos os momentos da orientao.

    Pelo apoio, indicao de fontes de pesquisa, fornecimento de textos e elementos necessrios ao desenvolvimento do trabalho, agradecimentos:

    aos professores do Curso de Mestrado em Direito da UFSC; aos Diretores da URI, campus de Santo ngelo, professores Velei Soares Machado,

    Gilberto Pacheco e Eli Dutra;aos colegas professores do Curso de Graduao em Direito da URI, campus de Santo

    ngelo;Lizandra Arabidian, bibliotecria da URI, Campus de Santo ngelo;Marcos Herman Barbieri Folatre, advogado em Santo ngelo;Joo Delciomar Gatelli, colega de mestrado, pela troca de idias e sugestes; Reginaldo Delmar Hintz Felker, advogado, professor e conselheiro federal da OAB

    pelo RS;Renato Levi, advogado em Santana do Livramento;Marcelo Sancandi, advogado em Foz do Iguau;Francis Mnica Ribeiro, acadmico da Universidade de Braslia;Dr. Carlos Alfredo Amarelle, professor da Universidade de Buenos Aires, advogado,

    membro das Comisses de Estudos sobre o Mercosul do Colgio Pblico de Advogados da Capital Federal da Argentina e da Federao Argentina de Colgios de Advogados (FACA);

    Dra. Minerva Izquierdo Centurin, Diretora do Escritrio de Relaes Institucionais da Universidade Catlica Nossa Senhora da Assuno, Assuno;

    Fanny Abazza, secretria da Universidade Catlica Nossa Senhora da Assuno, Assuno;

    Elsa Molinari Minelli, Sub-Diretora de Departamento (Seccin Ttulos), da Suprema Corte de Justia do Uruguai;

    Stella Bolanos, funcionria da Secretaria Geral da Corte Suprema de Justia do Paraguai;

    Dr. Adolfo Rivas, professor da Faculdade de Cincias Jurdicas, da Universidade de Salvador, Argentina;

    Dra. Yanina Beux Bouchacourt, advogada e escriv em Montevidu e Rivera;Dr. Aurio Madruga Ferreira, advogado e presidente do Colgio de Advogados de

    Rivera;Dr. Eduardo P. M. Ventura, professor da Universidade Catlica de Buenos Aires;Dr. Fernando M. Martnez Sandres, Assistente Acadmico do Decano da

    Universidade da Republica do Uruguai, Montevidu;Ministrios de Educao dos Estados Partes do Mercosul.

  • "O sculo XXI nos encontrar unidos ou dominados."(Juan Domingos Pern)

  • RESUMO

    O tema abordado no presente trabalho de pesquisa refere-se aos critrios de habilitao do advogado nos Estados Partes do Mercosul. Seu objetivo analisar a perspectiva de desenvolvimento da advocacia comum nesse territrio, elaborando um mtodo que torne possvel sua concretizao. O estudo faz uma abordagem profunda sobre o tema. Inicialmente enfoca as regras do Acordo Geral sobre o Comrcio de Servios (GATS) e avalia suas possveis implicaes sobre uma eventual advocacia comum no Mercosul. A seguir estuda os critrios adotados pelos Estados Partes do Mercosul para habilitao do advogado. De posse das informaes e depois de sistematiz-las, aponta as semelhanas e diferenas existentes nos critrios e procedimentos de habilitao do advogado nos quatro Estados Partes e menciona os obstculos a serem superados para o desenvolvimento da advocacia comum no Mercosul. Entre estes, acentua-se a heterogeneidade dos currculos ds Cursos de Graduao em Direito, as dificuldades para o reconhecimento dos correspondentes diplomas e as diferenas nos critrios adotados pelos Estados Partes para habilitao do advogado. Como contribuio da pesquisa, elaborado um mtodo para viabilizar o desenvolvimento da advocacia comum no Mercosul, centrado em trs eixos fundamentais: a) promover a convergncia nos currculos dos Cursos de Graduao em Direito dos Estados Partes, como pressuposto para o reconhecimento dos correspondentes diplomas; b) estabelecer critrios bsicos comuns para habilitao do advogado nos Estados Partes; c) depois, internalizar essas medidas s legislaes dos Estados Partes, atravs da harmonizao do Direito.

    DIREITO - MERCOSUL. DIREITO - CURRCULO - GRADUAO. DIREITO - RECONHECIMENTO - DIPLOMA. DIREITO - ADVOCACIA - MERCADO COMUM.

  • RESMEN

    El tema abordado en el presente trabajo de investigacin se refiere a los critrios de habilitacin dei abogado en los Estados Partes del Mercosur. Su objetivo es analizar la perspectiva de desarrollo de la abogaca comum en ese territorio, elaborando un mtodo que haga posible su concretizacin. El estdio hace un profundo abordaje sobre el tema. Inicialmente enfoca las regias dei Acuerdo General sobre el Comercio de Servcios (GATS) y evalua sus posibles implicaciones sobre una eventual abogaca comum en el Mercosur. A seguir estudia los critrios adoptados por los Estados Partes del Mercosur para habilitacin dei abogado. De posesin de las informaciones y despes de sistematizarias, senala las semejanzas y diferencias existentes en los critrios y procedimientos de habilitacin dei abogado en los cuatro Estados Partes y menciona los obstculos a ser superados para el desarrollo de la abogaca comum en el Mercosur. Entre estos, se senala la hetrogeneidad de los currculos de los Cursos de Graduacin en Derecho, las dificultades para el reconocimiento de los correspondientes diplomas y las diferencias en los critrios adoptados por los Estados Partes para habilitacin dei abogado. Como contribucin de la pesquisa, elabora un mtodo para viabilizar el desarrolo de la abogaca comum en el Mercosur, centrado en tres ejes fundamentals: a) promover la convergencia en los currculos de los Cursos de Graduacin en Derecho de los Estados Partes, como presupuesto para el reconocimiento de los correspondientes diplomas; b) establecer critrios bsicos comunes para la habilitacin de los abogados en los Estados Partes del Mercosur; c) despes, internalizar esas medidas en las legislaciones de los Estados Partes, a travs de la harmonization del Derecho.

    DERECHO - MERCOSUR. DERECHO - CURRCULO - GRADUACIN. DERECHO RECONOCIMIENTO - DIPLOMA. DERECHO - ABOGACA - MERCADO COMUN

  • SUMRIO

    INTRODUO...................................................................................................... 12CAPTULO 1 AS REGRAS DO GATS E A ADVOCACIA NO MERCOSUL1.1 ESTRUTURA JURDICA DO GATS.............................................................. 15

    1.1.1 A elaborao do Acordo........................................................................... 151.1.2 Regras gerais sobre o comrcio internacional de servios........................ 171.1.3 0 GATS e as regras sobre interpretao dos tratados............................... 251.1.4 Eventuais implicaes do GATS sobre a advocacia comum no Mercosul 26

    1.2 O MERCOSUL E A ADVOCACIA.................................................................. 301.2.1 Tratados e acordos antecedentes ao Mercosul......................................... 301.2.2 Princpios do Tratado de Assuno.......................................................... 321.2.3 A liberdade de prestao de servios e de estabelecimento...................... 351.2.4 As regras do Mercosul sobre a advocacia............... ................................. 39

    CAPTULO 2 A HABILITAO DO ADVOGADO NOS ESTADOS PARTES DO MERCOSUL

    2.1 OS CRITRIOS DE HABILITAO................................................... ........... 452.1.1 Na Argentina............................................................................................ 452.1.2 No Brasil................................................................................................... 512.1.3 No Paraguai.............................................................................................. 592.1.4 No Uruguai............................................................................................... 63

    2.2 O PROCEDIMENTO PARA HABILITAO DO ADVOGADO................... 682.2.1 Na Argentina............................................................................................ 682.2.2 No Brasil................................................................................................... 702.2.3 No Paraguai............................................................. ................................ 72.2.4 ftXJiuguai......... ...................................................... .............................. 73

    NAffl^ILITAO tO ADVOGADO. 75c a W t u l q 3 m o v ia b il iz a r a a d v o c a c ia n o m Wc o s u l3.1 plFteLAis m SM SUPRDS................................. u................ 83

    3.1.1 sNliferi^l^^^abilitao nos Estados Partes.................. ............... 83

  • 3.1.2 Heterogeneidade nos currculos dos cursos de graduao em Direito noMercosul............................................................................................. . 84

    3.1.2.1 Na Argentina.............................................................................. 843.1.2.2 No Brasil..................................................................................... 883.1.2.3 No Paraguai...................... ....... ................................................. 953.1.2.4 No Uruguai................................................................................. 99

    3.1.30 reconhecimento dos diplomas de graduao em Direito....................... 1033.2 NECESSIDADE DE UNIFORMIZAO DAS LEGISLAES INTERNAS 106

    3.2.1 Principais mtodos de uniformizao do Direito...................................... 1063 .2.2 Por que a opo pela harmonizao?................... .................................... 111

    3.3 UM MTODO PARA VIABILIZAR A ADVOCACIA NO MERCOSUL...... 1133.3.1 A convergncia nos currculos e o reconhecimento de diplomas............. 1133.3.2 Definio de critrios comuns de habilitao.......................................... 1173.3.3 A harmonizao das legislaes internas.............................................. 124

    CONCLUSO........................................................................................................ 125REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 127LISTA DE ANEXOS.............................................................................................. 142

  • LISTA DE ABREVIATURAS

    ALADI ASSOCIAO LATINO-AMERICANA DE INTEGRAO ALALC ASSOCIAO LATINO-AMERICANA DE LIVRE COMRCIO CAPES COORDENAO DE APERFEIOAMENTO DE PESSOAL DE

    NVEL SUPERIOR CEE COMUNIDADE ECONMICA EUROPIACF CONSTITUIO FEDERALCMC CONSELHO MERCADO COMUMCONEAU COMISSO NACIONAL DE AVALIAO E HABILITAO

    UNIVERSITRIA CPACF COLGIO PBLICO DE ADVOGADOS DA CAPITAL

    FEDERALDNI DOCUMENTO NACIONAL DE IDENTIDADEEUA ESTADOS UNIDOS DA AMRICAEAOAB ESTATUTO DA ADVOCACIA E DA ORDEM DOS

    ADVOGADOS DO BRASIL FACA FEDERAO ARGENTINA DE COLGIOS DE ADVOGADOSGMC GRUPO MERCADO COMUMGATT ACORDO GERAL SOBRE TARIFAS E COMRCIOGATS ACORDO GERAL SOBRE O COMRCIO DE SERVIOSLOMAN LEI ORGNICA DA MAGISTRATURA NACIONAL MERCOSUL MERCADO COMUM DO SUL OAB ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASILOMC ORGANIZAO MUNDIAL DO COMRCIOPNB PRODUTO NACIONAL BRUTORGEAOAB REGULAMENTO GERAL DO ESTATUTO DA ADVOCACIA E

    DA ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL UB A UNIVERSIDADE DE BUENOS AIRESUE UNIO EUROPIAUNA UNIVERSIDADE NACIONAL DE ASSUNOUnB UNIVERSIDADE DE BRASLIAUNIDROIT INSTITUTO INTERNACIONAL PARA A UNIFICAO DO

    DIREITO PRIVADO

  • INTRODUO

    A advocacia importante servio para o desenvolvimento de um mercado comum, sobretudo porque este tem seu funcionamento disciplinado por normas jurdicas, em cujo delineamento e soluo de conflitos a contribuio do advogado indispensvel. Contudo, no se pode desconhecer que o tema interessa, diretamente, s empresas que atuam no territrio do Mercosul, para poderem contar com a assessoria de seus departamentos jurdicos em operaes comerciais e aes judiciais alm-fronteiras, bem como aos advogados, pela oportunidade de assistirem seus clientes em Estados de acolhimento.

    H vrias iniciativas abordando as perspectivas de desenvolvimento da advocacia no Mercosul, especialmente de pesquisadores e advogados; estes inclusive criaram uma entidade denominada Colgios e Ordens de Advogados do Mercosul (COADEM), da qual participam profissionais da advocacia dos Estados Partes, visando discusso e adoo de posies conjuntas sobre a matria. Entretanto, no havia ainda pesquisa analisando os critrios de habilitao do advogado nos Estados Partes a partir do previsto em suas legislaes internas, que o tema deste trabalho. As abordagens desenvolvidas normalmente centram-se no exerccio da profisso e no na habilitao do advogado, embora esta pressupunha aquele.

    A presente pesquisa tem como rea de estudo o direito comparado, no abrangendo os direitos comunitrio e da integrao, embora a eles se refira em algumas passagens. Seu objetivo analisar os critrios bsicos comuns de habilitao do advogado nos quatro Estados Partes, na perspectiva de viabilizar o desenvolvimento da advocacia comum1 no Mercosf Porm essa medida suficiente? Basta definir critrios bsicos comuns de habilitao do advogado para atingir o objetivo proposto? Outras medidas so necessrias? Quais?

    1 "Advocacia comum" tem aqui o sentido de advocacia que possa ser desenvolvida em todos os Estados Partes do Mercosul, seja pela prestao de servio ou pelo estabelecimento. Portanto, a expresso no tem o mesmo sentido de advocacia comunitria desenvolvida com base no direito comunitrio, como ocorre na Unio Europia, por exemplo.

  • 13

    Estes aspectos so analisados no presente trabalho, buscando-se oferecer uma contribuio efetiva sistematizao do problema e poltica a ser adotada sobre a matria.

    Por opo metodolgica, quando trata dos critrios e procedimentos de habilitao do advogado nos Estados Partes, a pesquisa analisa apenas estes, no incluindo no estudo os Estados Associados da Bolvia e do Chile. O trabalho tambm no tem por objetivo averiguar se os atos do Mercosul j foram incorporados ao direito interno de cada Estado Parte e possuem vigncia; o tema delimitado pesquisa dos contedos das decises tomadas no mbito do Mercosul, atravs do Tratado de Assuno ou outros tratados2 referentes matria.

    Quanto metodologia, foram utilizados os mtodos mais adequados pesquisa desenvolvida. Na abordagem, correspondente s linhas gerais de raciocnio, adotou-se o mtodo indutivo, que parte do particular e coloca a generalizao a partir dos dados particulares. Em relao ao procedimento, que se refere s etapas mais concretas da investigao cientfica, utilizaram-se os mtodos monogrfico (estuda aspectos de uma profisso), histrico (analisa fatos histricos) e comparativo (realiza comparaes para indicar semelhanas e diferenas). Como tcnicas de pesquisa, equivalentes s fontes utilizadas para levantamento de dados, o trabalho utilizou-se da documentao indireta, abrangendo a pesquisa documental, caracterizada como fonte primria, e a pesquisa bibliogrfica, tida, no caso, como fonte secundria. Aquela foi desenvolvida a partir de informaes obtidas em arquivos pblicos, enquanto a pesquisa bibliogrfica envolveu, sobretudo, livros e publicaes avulsas impressas ou obtidas por meio interativo.

    No Captulo 1 da dissertao so abordadas as regras do GATS3 e as normas do Mercosul sobre a advocacia. Quanto a estrutura jurdica do GATS, reala as regras gerais sobre o comrcio internacional de servios, entre as quais as clusulas de nao mais favorecida, tratamento nacional, participao crescente dos pases em desenvolvimento no comrcio mundial e de prioridade aos projetos de integrao regional. A abordagem segue com eventuais implicaes do GATS sobre a advocacia comum no Mercosul, estudadas a partir de regras de direito internacional sbre interpretao dos tratados, previstas na Conveno de Viena sobre Direito dos Tratados, de 19694. Num segundo momento, o estudo busca realar aspectos considerados relevantes sobre os tratados e acordos antecedentes ao

    2 O vocbulo "tratado" utilizado no sentido de gnero, cujas espcies so conveno, pacto, acordo, declarao, protocolo, ato geral, concordata, modus vivendi, compromisso, etc..3 Em ingls, General Agreement on Trade in Services, por isso a sigla GATS.4 Esta Conveno, conquanto ainda no tenha sido ratificada pelo Brasil, sistematicamente utilizada como fonte de Direito Internacional.

  • 14

    Mercosul, os princpios do Tratado de Assuno, a liberdade de prestao de servio e de estabelecimento do advogado e as normas do Mercosul sobre a advocacia.

    O Captulo 2 trata dos critrios e normas procedimentais previstas nas legislaes internas dos Estados Partes para habilitao do advogado. A seguir reala as principais semelhanas e diferenas existentes nos critrios de habilitao do advogado nos Estados Partes, sendo o rgo perante o qual formalizada a inscrio e o exame de admisso advocacia as diferenas mais expressivas. No Mercosul, somente o Brasil estabelece este exame para o graduado em Direito se inscrever como advogado, embora ele seja adotado em vrios pases do mundo, dentre eles Estados membros da Unio Europia, Japo e Estados Unidos. O prprio Brasil, que o reintroduziu em sua legislao a partir da vigncia do atual Estatuto da Advocacia e da OAB, em 1994, j o possua ao tempo das Ordenaes Filipinas, como requisito para atuar na Corte de Suplicao.

    Em relao ao procedimento, divide os Estados Partes em dois grupos: um composto pela Argentina e Brasil, cuja habilitao formalizada perante o rgo de classe dos advogados; outro, integrado por Paraguai e Uruguai, em que a inscrio, a exemplo da fiscalizao do exerccio profissional da advocacia, formalizada pelo rgo mximo do Poder Judicirio, Corte Suprema de Justia e Suprema Corte de Justia, respectivamente.

    O Captulo 3 analisa a unificao dos critrios de habilitao do advogado no Mercosul e faz trs abordagens sobre o tema, consideradas nucleares viabilizao da advocacia nos quatro Estados Partes. A primeira, trata das dificuldades a serem superadas, entre as quais reala a existncia de diferenas nos critrios previstos pelos Estados Partes para o graduado em Direito ou Advocacia se habilitar, a heterogeneidade nos currculos dos Cursos de Graduao em Direito ou Advocacia e a necessidade de reconhecimento dos diplomas expedidos no Mercosul nessa rea do conhecimento. A segunda, se refere necessidade de convergncia nas legislaes dos Estados Partes, estudando os principais mtodos de uniformizao do Direito e justificando a opo pela harmonizao no trabalho. A terceira abordagem, utilizando-se das informaes anteriores, analisa um mtodo para unificar os critrios de habilitao do advogado no Mercosul. Neste sentido, trata da necessidade de convergncia nos currculos dos Cursos de Graduao em Direito ou Advocacia como meio para tornar vivel o reconhecimento dos respectivos diplomas; da definio de critrios comuns de habilitao do advogado; e da harmonizao como instrumento para internalizar esses critrios comuns nas legislaes dos Estados Partes.

  • AS REGRAS DO GATS E A ADVOCACIA NO MERCOSUL

    1.1 ESTRUTURA JURDICA DO GATS

    1.1.1 A elaborao do Acordo

    Com o fim da Guerra Fria, o comrcio internacional tomou-se o item principal da pauta de negociaes da agenda internacional, em substituio ao denominado debate ideolgico5 que at ento prevalecia sobre o aspecto econmico-comercial. Em decorrncia, o GATT (Acordo Geral sobre Tarifas e Comrcio)6, depois a Organizao Mundial do Comrcio (OMC) e o GATS tiveram multiplicadas suas importncias no contexto das relaes internacionais7.

    A Rodada Uruguai, iniciada em 1986 e encerrada em 1994, que criou o GATS, foi precedida desse clima. Alm disso, desde o incio da dcada de 70 os Estados Unidos propunham a incluso do item servios na pauta das negociaes comerciais multilaterais do GATT, sem a concordncia dos pases em desenvolvimento8. Nessa poca os norte-

    5 Evidente que o comrcio internacional tambm baseado em princpios ideolgicos, embora este aspecto normalmente seja obscurecido, como se as negociaes multilaterais sobre comrcio mundial no fossem impulsionados pela ao humana, que sempre ideolgica, em razo da caracterstica ontolgica do ser humano.6 Cujas expresses, em ingls, significam General Agreement on Tariffs and Trade, da a razo da sigla GATT.7 GOYOS JR. Durval de Noronha O setor de servios e a Rodada Uruguai do GATT. Disponvel em: . Acesso em: 30 nov. 2000.8 MERCADANTE, Araminta de Azevedo. Comrcio de Servios. In: BARRAL, Welber Oliveira (Qrg.). O Brasil e a OMC: os interesses brasileiros e as futuras negociaes multilaterais. Florianpolis: Diploma Legal,2000, p. 108.

    http://www.noronhaadvogados.com.br/aulas/,au0103-l.htm

  • 16

    americanos haviam perdido a competitividade, em conseqncia da crise do petrleo e do sistema bancrio mundial, sendo este um dos motivos pelos quais pretendiam incluir os servios no mbito do GATT, sobretudo em relao a investimentos, telecomunicaes e tecnologia, como um dos mecanismos para solucionar a crise interna9.

    No incio da dcada de 80, "os EUA passaram a pressionar seus parceiros, em negociaes bilaterais, com tal agressividade, para extrair vantagens... Datam desta poca os primeiros 'acordos voluntrios de conteno' (...) um eufemismo para designao da aceitao da truculenta e ilegal intimidao comercial dos EUA"10.

    J as naes em desenvolvimento temiam "que os pases desenvolvidos teriam o domnio do comrcio internacional de servios e das novas tecnologias, excluindo os pases perifricos". que "as empresas multinacionais sempre foram as mais interessadas na liberalizao do comrcio de servios para dominar o mercado em escala mundial"11.

    O grande interesse pelo comrcio internacional de servios perfeitamentejustificvel: atualmente o comrcio entre os Estados representa aproximadamente US$ 850bilhes por ano, sendo o valor do mercado mundial de servios estimado em US$ 12 trilhes,equivalente a 60% do comrcio mundial. S a indstria de servios dos EUA emprega trsquartos da fora de trabalho do pas e gera 68% do Produto Nacional Bruto (PNB) americano.No contexto internacional, o setor de servios dominado pelas grandes potnciaseconmicas, sobretudo Estados Unidos e Unio Europia (U), os quais detm mais de dois

    1teros do mercado internacional, cabendo a esta um tero deste segmento .Conseqentemente, os Estados Unidos pressionaram os membros do GATT para

    aceitarem a incluso de servios nas negociaes multilaterais iniciadas em setembro de 1986, por ocasio do lanamento da Rodada Uruguai. Essa iniciativa resultou na instituio do GATS, concludo somente oito anos depois, em 199413

    H ainda que se considerar o desenvolvimento da globalizao, cuja dimenso econmica a mais visvel, caracterizada como um processo dinmico que impe

    9 PRONER, Caroline. O futuro do GATS. In: BARRAL, Welber Oliveira (Org.). Op. cit, p. 136.10 GOYOS JR. Durval de Noronha. O setor de servios e a Rodada Uruguai do GATT. Disponvel em: . Acesso em: 30 nov. 2000.u MERCADANTE, Araminta de Azevedo. Op. cit., p. 108-109.12 GOYOS JR. Durval de Noronha. Op. cit, p. 3.13 MERCADANTE, Araminta de Azevedo. Op. cit., p. 110.

    http://www.noronhaadvogados.com.br/aulas/au0103-1.htm

  • 17

    modificaes nas relaes internacionais14. E o comrcio internacional de servios deve ser analisado neste contexto e perspectiva, cujas regras sero analisadas a seguir.

    1.1.2 Regras gerais sobre o comrcio internacional de servios

    Nesta subseo, o estudo refere-se abrangncia do GATS, as obrigaes gerais assumidas pelos Estados Membros e os compromissos especficos, alm do estabelecido nos anexos e disposies institucionais do Acordo.

    Estruturalmente, o GATS faz parte da ordem jurdica da OMC. Ambos foram constitudos durante a Rodada Uruguai, realizada de 1986 a 1994, sendo que o GATS foi criado pelo Anexo 1B. O Acordo Geral sobre o Comrcio de Servios possui estrutura semelhante ao Acordo Geral sobre Tarifas e Comrcio (GATT), tendo como objetivo a liberalizao do comrcio a partir do princpio da no-discriminao no desenvolvimento da atividade comercial em territrio estrangeiro15.

    O GATS o primeiro acordo multilateral que estabelece regras sobre o comrcio internacional de servios e tem como seus scios todos os mais de 130 Estados Membros da OMC. O Acordo composto de 29 artigos originais e trs artigos bis16 (111, V e XIV), totalizando 32 artigos, e est subdivido em cinco partes. A Parte I, composta apenas do artigo I, refere-se ao mbito e definio do Acordo; a Parte II corresponde s obrigaes e disciplinas gerais, sendo integrada pelos artigos II a XV; a Parte UI refere-se aos compromissos especficos e composta dos artigos XVI a XVIII; a Parte IV diz respeito liberalizao progressiva, dela fazendo parte os artigos XIX a XXI; a Parte V refere-se s providncias institucionais e composta pelos artigos XXII a XXVI; e a Parte VI diz respeito s providncias finais e nela esto inseridos os artigos XXVII a XX3X17.

    14 PRONER, Caroline. Op. cit., p. 154.15 Idem, p. 137.16 A forma de elaborao normativa do GATS adota a sistemtica de repetir os artigos, utilizando-os em nmeros romanos, denominando o subseqente ao primeiro de artigo bis, normalmente o fazendo quando o artigo bis d continuidade ao contedo do artigo anterior. Ex.: artigo Hl bis. (In: OMC. Anexo 1B, Acordo Geral sobre o Comrcio de Servios. Disponvel em: . Acesso em: 30 nov. 2000).17 OMC. Secretaria. Anexo 1B, Acordo Geral sobre o Comrcio de Servios. Disponvel em: . Acesso em: 30 nov. 2000.

    http://www.wto.orghttp://www.wto.org

  • 18

    Conforme a Parte I, o Acordo abrange todas as operaes que caracterizam comrcio internacional de servios18, em suas vrias espcies: a) fornecimento transfronteira de servios, isto , do territrio de um Estado Parte para o territrio de qualquer outro Estado Parte, como, por exemplo, chamadas telefnicas internacionais e servios de transportes; b) servios prestados no territrio de um Estado Parte aos consumidores de qualquer outro Estado Parte, como hotelaria, educao e servios mdicos; c) por um provedor de servios de um Estado Parte, mediante presena comercial no territrio de qualquer outro Estado Parte, Como filiais de bancos e escritrios de agncias de publicidade; d) servios prestados por uma sociedade comercial, atravs da presena de pessoas fsicas no territrio de outro Scio, como servios de engenharia, arquitetura e consultores19.

    As obrigaes assumidas no GATS so classificadas20 em dois grupos: a) obrigaes e disciplinas gerais, aplicadas direta e automaticamente a todos os Membros, observada a existncia de compromissos por setores; b) compromissos especficos, cujo mbito limitado aos setores e atividades atravs dos quais um Estado Membro assume obrigaes21.

    A Parte II do GATS, que trata das obrigaes e disciplinas gerais, caracterizada como flexvel, eis que as divergncias entre os pases desenvolvidos e em desenvolvimento

    M Mso acentuadas, em decorrncia do conflito de interesses .As principais obrigaes gerais assumidas pelos Estados Membros do GATS

    referem-se aos seguintes aspectos23:a) Tratamento da nao mais favorecida. Esta clusula est prevista no artigo II e

    estabelece que qualquer medida coberta pelo Acordo, praticada por um Membro, deve imediata e incondicionalmente ser concedida aos servios e prestadores de servios de qualquer outro Membro, de forma no menos favorvel. Atravs das normas estabelecidas neste artigo do Acordo, busca-se a igualdade de tratamento entre os Estados Membros do GATS. Mas a previso no representa, necessariamente, uma medida liberalizante, porque um

    18 Exceto aqueles providos no exerccio de autoridade governamental e as restries constantes das listas nacionais especficas, que podem inclusive referir-se ao acesso aos mercados e ao tratamento nacional (MERCADANTE, Araminta de Azevedo. Op. cit., p. 112-114).19 MERCADANTE, Araminta de Azevedo. Op. cit., p. 112.20 PRONER, Caroline. Op. cit., p. 138; MERCADANTE, Araminta de Azevedo. Op. cit, p. 111.21 OMC. Secretaria. GATS: Servios. O GATS: objetivos, abrangncia e disciplinas. Disponvel em: . Acesso em: 28 nov. 2000; MERCADANTE, Araminta de Azevedo. Op. cit., p. 113-120.22 GOYOS JR. Durval de Noronha. A Rodada do Milnio da OMC e a posio do Brasil. Disponvel em: . Acesso em: 29 nov. 2000.23 OMC. Secretaria. GATS: Servios. O GATS: objetivos, abrangncia e disciplinas. Disponvel em: . Acesso em: 28 nov. 2000; MERCADANTE, Araminta de Azevedo. Op. cit, p. 113-120.

    http://www.wto.orghttp://www.noronhaadvogados.com.br/pal50clpthtmhttp://www.wto.org

  • 19

    Membro pode proibir todo o comrcio de uma espcie de servio para todos os fornecedores estrangeiros e com isso no violar a clusula da nao mais favorecida. Alm disso, caso o Estado pretenda praticar comrcio de servios de maneira incompatvel clusula de tratamento da nao mais favorecida, pode faz-lo desde que relacione o fator especfico na sua lista nacional em relao aos compromissos assumidos, incluindo-o entre as excees previstas no Anexo I24

    b) Transparncia. O artigo III estabelece a obrigatoriedade de publicidade imediata dos atos referentes a servios disciplinados pelo GATS. Cada Estado Membro deve informar, pelo menos anualmente, ao Conselho para o Comrcio de Servios, sobre a introduo de mudanas de leis, diretrizes ou regulamentos administrativos que possam afetar significativamente o comrcio em servios cobertos por seus compromissos especficos.

    c) Participao crescente dos pases em desenvolvimento. No artigo IV est prevista a participao crescente de pases em desenvolvimento Membros do GATS no comrcio mundial. O Acordo prev que isto se dar atravs da negociao de compromissos especficos que fortaleam a capacidade dos servios nacionais, sua eficincia e competitividade. Esse objetivo deve ser perseguido mediante acesso tecnologia em base comercial, assim como pela melhoria na disponibilidade de informao e a liberalizao de acesso ao mercado em setores e modos de atender seus interesses de exportao.

    d) Integrao econmica. Conforme o artigo V, o GATS no impedir para qualquer de seus Membros a realizao de acordo que liberalize o comrcio de servios entre pases, sobretudo se envolve s pases em desenvolvimento, desde que tal acordo tenha cobertura setorial significativa e proba medidas novas ou mais distintivas, entre outros. O acordo regional de integrao econmica deve ser comunicado imediatamente ao Conselho para o Comrcio de Servios.

    Sobre a matria, Araminta de Azevedo Mercadante, interpretando conjuntamente os artigos V e V bis do GATS, salienta que:

    O presente Acordo no impedir nenhum de seus Membros de ser parte ou de celebrar um acordo que liberalize o comr de servios e no impedir nenhum de seus Membros de ser parte em um acordo que estabelea a plena integrao, isto , uma integrao que conceda aos cidados das partes no acordo o direito de livre acesso aos mercados de emprego das partes, incluindo medidas concernentes s condies de salrios, outras condies de emprego e benefcios sociais25.

    24 MERCADANTE, Araminta de Azevedo. Op. cit., p. 113.25 Idem, p. 117.

  • 20

    e) Legislao nacional. O artigo VI estabelece que nos setores em que so realizados compromissos especficos, cada Membro assegurar que todas as medidas de aplicao geral que afetem o comrcio de servios devem ser administradas de forma razovel, objetiva eimparcial. Este procedimento se justifica porque as legislaes internas dos Estados Membros/* *J/\so o principal meio de controle sobre o comrcio de servios .

    f) Reconhecimento. De acordo com o artigo VII, um Estado Membro pode reconhecer a educao ou experincia adquirida, os requisitos atendidos, as licenas, certificados, diplomas ou ttulos concedidos por um outro pas. O reconhecimento pode ser alcanado atravs da harmonizao de legislaes internas dos pases envolvidos ou mediante acordo supranacional, devendo a medida ser comunicada, dentro de doze meses, ao Conselho para o Comrcio de Servios.

    g) Monoplios e prestadores de servios exclusivos. O artigo VIII do GATS estabelece que cada Membro assegurar que qualquer prestador de servios com monoplio em seu territrio no atue, na prestao dos servios no mercado pertinente, de forma incompatvel com suas obrigaes assumidas nos termos do artigo II e compromissos especficos.

    h) Prticas empresariais. O Acordo prev, em seu artigo IX, que os Membros reconhecem que certas prticas empresariais de prestadores de servios diferentes daquelas previstas pelo artigo VEQ, anteriormente mencionadas, podem dificultar a concorrncia e restringir o comrcio de servios. Se isto ocorrer, o Estado contratante dos servios, a pedido de qualquer outro Estado Membro, deve tomar providncias para eliminar essa prtica prejudicial concorrncia.

    i) Medidas de salvaguardas emergenciais. O artigo X prev a possibilidade de negociaes multilaterais para estabelecer medidas de proteo de emergncia, observando o princpio da no-discriminao.

    j) Pagamentos e transferncias. Nenhum Estado Membro poder aplicar restries a transferncias e pagamentos para transaes referentes a seus compromissos especficos (artigo XI). A exceo possvel apenas na hiptese de constatao das circunstncias previstas no artigo XII, que se referem a dificuldades na balana de pagamentos. A medida tem por objetivo manter o nvel de reservas financeiras adequado para implantao de programa de desenvolvimento econmico ou mesmo transio econmica.

    26 MERCADANTE, Araminta de Azevedo. Op. cit., p. 115.

  • 21

    k) Compras governamentais. O artigo XIII, ao disciplinar as compras governamentais, menciona que os artigos II, VI e VII no sero aplicados s leis, regulamentos ou exigncias que regem as contrataes de servios para propsitos governamentais, desde que no sejam destinados para revenda de carter comercial ou utilizados na prestao de servios com finalidade comercial.

    1) Excees gerais. admitida pelo artigo XIV do Acordo, a utilizao de excees gerais para proteger a moralidade ou a ordem pblica, a vida ou a sade das pessoas e animais ou na preservao de vegetais; quando forem indispensveis para o cumprimento de leis e regulamentos compatveis com o GATS, seinclusive coibindo prticas fraudulentas ou enganosas na contratao de servios; para resguardar a privacidade individual em relao ao processo, divulgao de dados pessoais e proteo do sigilo de registros individuais e contas.

    m) Subsdios. O Acordo prev em seu artigo XV o reconhecimento dos Estados Membros que os subsdios, em certas circunstncias, podem distorcer a livre concorrncia no comrcio de servios. Se isto acontecer, os Membros envolvidos devero desenvolver negociaes no sentido de elaborar normas bilaterais ou multilaterais necessrias para evitar a distoro provocada por tais subsdios no comrcio de servios.

    Por outro lado, os compromissos especficos so tratados na Parte III do Acordo. Eles correspondem s clusulas de acesso ao mercado (artigo XVI), ao tratamento nacional (artigo XVH) e a compromissos adicionais (artigo XVIII).

    O acesso ao mercado e o tratamento nacional so disciplinados conforme os compromissos inscritos nas listas nacionais, estabelecidos no conjunto das negociaes multilaterais, conquanto possam ter incio atravs de discusses bilaterais. Isto significa que, em relao ao acesso aos mercados, cada Membro deve negociar os servios e fornecedores de servios de qualquer outro Membro assegurando tratamento no menos favorvel que os

    27previstos de conformidade com o estabelecido em sua lista de compromissos especficos . Portanto, "os compromissos assumidos nas listas nacionais consolidam as negociaes realizadas e as restries aceitas, sejam elas restries de acesso aos mercados ou restries ao tratamento nacional"28.

    27 GARCIA JNIOR. Armando Alvares. Advocacia empresarial no Mercosul: guia de consultas. So Paulo: LTr, 1999, p. 125.28 MERCADANTE, Araminta de Azevedo. Op. cit., p. 118.

  • 22

    Os Membros podem ainda negociar compromissos adicionais quanto a medidas que no afetem o comrcio em servios previstos nos artigos XVI e XVII. Estes compromissos podem dizer respeito a qualificaes, padres ou servios autorizados.

    Alm do Acordo Base (Anexo IB) e seus Anexos, o GATS composto pelas Listas de Compromissos Especficos e Listas de Excees Clusula da Nao mais Favorecida, elaborada pelos Membros. Tais documentos fazem parte do Acordo desde o final da Rodada Uruguai, em 15 de abril de 1994, ocasio em que foram firmadas 95 listas de compromissos especficos sobre comrcio de servios e 61 listas de excees ao princpio da nao mais favorecida29.

    Ao dispor sobre a lista de compromissos especficos, o artigo XX permite que cada Membro identifique os setores de servios sujeitos s obrigaes estabelecidas pelo Acordo sobre acesso aos mercados e tratamento nacional, alm das excees listadas e as obrigaes que pretende incluir. Ou seja, cada Estado Parte deve mencionar em uma lista de compromissos especficos, os setores, subsetores e atividades sobre os quais assumir obrigao, indicando, para cada modo de prestao correspondente, os termos, limitaes e condies em matria de acesso aos mercados e tratamento nacional30. Assim, compromisso especfico significa aquele consignado em uma lista, correspondente obrigao de conceder acesso aos mercados e ao tratamento nacional unicamente s espcies de servios mencionados na lista, conforme as condies nela estabelecidas.

    As listas nacionais devem observar o padro uniforme estabelecido pelo GATS, para facilitar a compreenso e comparao, indicando inclusive as quatro modalidades de prestao de servios previstas no artigo I, quais sejam, fornecimento transfronteira, consumo realizado no exterior, presena comercial e presena de pessoas fsicas31.

    As listas de compromissos especficos so classificadas em horizontais e por setores. Em ambas, as anotaes devem ser distribudas nas seguintes colunas do modelo uniforme: a) na primeira coluna constam setor ou sub-setor ou todos os setores abrangidos pelo compromisso; b) na segunda coluna devem ser especificadas as restries de acesso ao mercado; c) na terceira coluna so informadas as restries ao tratamento nacional; d) na quarta coluna constam os compromissos complementares que os Membros queiram

    29 OMC. Secretaria. GATS: Servios. O GATS: objetivos, abrangncia e disciplinas. Disponvel em: . Acesso em: 28 nov. 2000; MERCADANTE, Aiaminta de Azevedo. Op. cit., p. 120.30 GARCIA JNIOR Armando Alvares. Op. cit, p. 128.31 OMC. Secretaria. GATS: Servios. O GATS: objetivos, abrangncia e disciplinas. Disponvel em: . Acesso em: 28 nov. 2000.

    http://www.wto.orghttp://www.wto.org

  • 23

    mencionar e que no estejam nas colunas enumeradas. Por conseguinte, a lista de compromissos especficos tem na primeira parte os compromissos horizontais, nos quais so informadas as limitaes impostas a todos os setores nela referidos, enquanto a segunda parte diz respeito aos compromissos por setores32.

    A segunda parte dos compromissos dividida em 12 setores, conforme sistemtica adotada pela Secretaria da OMC, correspondente a servios empresariais (inclusive de informtica); servios de comunicao; servios de construo e engenharia; servios de distribuio; servios educacionais; servios de meio ambiente; servios financeiros; servios de sade; servios de turismo e viagem; servios recreativos, culturais e esportivos; servios de transportes; outros servios. Eles so subdivididos em 160 sub-setores ou atividades de servios separadas33.

    H, por fim, os Anexos e disposies institucionais. que, face complexidade representada pelo comrcio de servios, vrios setores foram disciplinados em anexos especficos, os quais fazem parte do Acordo Geral sobre o Comrcio de Servios.

    No presente trabalho, limitado s regras gerais do GATS sob a perspectiva da advocacia34, o interesse restringe-se ao Anexo que trata da movimentao de pessoas fsicas prestadoras de servios, aplicvel movimentao temporria de pessoas naturais prestadoras de servios de um Membro no territrio de outro Membro do GATS. A hiptese mais comum uma pessoa natural de um Membro, empregado de um prestador de servio de outro Membro, que vai ao territrio deste para o desenvolvimento de atividade profissional temporria. Porm, conforme o item 2 do referido Anexo, o Acordo no tem aplicao s pessoas naturais que buscam acesso ao mercado de trabalho em territrio estrangeiro e tampouco abrange as questes referentes nacionalidade, residncia e ao emprego em carter permanente.

    O GATS tem como seu principal rgo o Conselho para o Comrcio de Servios, cujas funes so especificadas no artigo XXV, 2, do Acordo, ajuda tcnica para pases em desenvolvimento, provida em nvel multilateral pela Secretaria e decidida pelo Conselho para o Comrcio de Servios.

    32 MERCADANTE, Araminta de Azevedo. Op. cit., p. 123.33 OMC. Secretaria. GATS: Servios. O GATS: objetivos, abrangncia e disciplinas. Disponvel em: . Acesso em: 28 nov. 2000.34 Atividade que, conforme os documentos da Secretaria Geral da OMC, ainda no mereceu maior ateno do GATS, cuja atividade neste sentido tem se restringido a responder consultas expressamente formuladas sobre a matria. (OMC. Secretaria. GATS: Servios. O GATS: objetivos, abrangncia e disciplinas. Disponvel em: . Acesso em: 28 nov. 2000).

    http://www.wto.orghttp://www.wto.org

  • 24

    No entanto, conforme exsurge do texto do GATS e seus Anexos, as fiines do mencionado Conselho vo muito alm das formais boas intenes de "ajuda tcnica para os pases em desenvolvimento". Tanto as consultas (artigo XXII), como todas as alteraes de compromissos, listas e at mesmo intenes devem ser comunicadas a esse rgo (artigo XXI e XXIV), bem como as alteraes de leis, regulamentos ou diretrizes administrativas internas que dizem respeito ao comrcio em servios35.

    Tambm foram criados comits e grupos de trabalho, entre os quais constam: Grupo de Trabalho sobre Regras do GATS; Comit sobre Compromissos Especficos; Grupo de Trabalho sobre Servios Profissionais; Comit sobre Comrcio de Servios Financeiros; Grupo de Trabalho de Telecomunicaes Bsicas; Grupo Negociador de Servios de Transporte Martimo36; e, recentemente, o Comit de Agricultura37.

    Porm, mesmo com o grande nmero de rgos com finalidade de estudos em reas especficas do comrcio internacional de servios, as negociaes no evoluram nos ltimos tempos, em conseqncia do impasse na Conferncia Ministerial de Seattle, realizada no final de 1999. O ponto principal para o fracasso da denominada "Rodada do Milnio", foi a divergncia entre os Estados Membros da OMC, sobretudo porque os pases em desenvolvimento reclamam que as reformas estruturais e liberalizao comercial no lhes proporcionam melhoria da qualidade de vida e nem crescimento econmico. Tambm contribuiu nesse sentido o "acmulo de tenses entre os principais atores do comrcio internacional (EUA, Comunidade Europia e Japo)"38.

    Especificamente em relao ao GATS, os trabalhos foram retomados em abril de 2000, incluindo na pauta de negociaes, inicialmente, a predominncia de temas de interesse dos pases desenvolvidos. Estes priorizam a discusso sobre subsdios, salvaguardas, compras governamentais, normas tcnicas, liberalizao dos servios profissionais e reconhecimento de certificados, ttulos ou diplomas39.

    35 OMC. Secretaria. GATS: Servios. O GATS: objetivos, abrangncia e disciplinas. Disponvel em: . Acesso em: 28 nov. 2000.36 MERCADANTE, Araminta de Azevedo. Op. cit., p. 128.37 OMC. Secretaria. Reunio presidida pelo Diretor-Geral Mke Moore. 13-14.07.2000. Disponvel em: . Acesso em: 29 nov. 2000.38 BARRAL, Welber Oliveira (Qrg.). Op. cit., p. 28.39 GOYOS JR. Durval de Noronha. A rodada do milnio da OMC e a posio do Brasil. Disponvel em: . Acesso em: 28 nov. 2000; MERCADANTE, Araminta de Azevedo. Op. cit., p. 130.

    http://www.wto.orghttp://www.wto.orghttp://www.noronhaadvogados.com.br/pal50dpt.htm

  • 25

    1.1.3 O GATS e as regras sobre interpretao dos tratados

    Quanto s regras do GATS, entende o embaixador George lvares Maciel devem elas ser interpretadas a partir das normas substanciais estabelecidas pelo Acordo, no sentido de prevalncia aos interesses dos pases em desenvolvimento40.

    No entanto, eventuais divergncias na interpretao das regras deste Acordo e de tratados em geral devem ser analisadas seguindo determinados princpios, disciplinados pelo direito internacional, especialmente pela Conveno de Viena sobre Direito dos Tratados, de 1969. De acordo com estas regras, um princpio fundamental de um tratado o de sua obrigatoriedade, o qual consiste em que, uma vez firmado, o tratado obrigatrio para as partes. a clusula denominada pacta sunt servanda41. Decorre desse princpio, o subprincpio da supremacia das disposies do tratado sobre o direito interno da parte42, sendo este reconhecido apenas pelos sistemas monistas43.

    Outro princpio aplicvel aos tratados, o da boa-f, segundo o qual todo tratado deve ser cumprido pelas partes de boa-f. Esta tambm uma regra geral de interpretao, atravs da qual "um tratado deve ser interpretado de boa-f, segundo o sentido comum dos termos do tratado em seu contexto e luz de seu objeto e finalidade"44, isto , "como se as partes houvessem deliberado firm-lo e execut-lo sem a inteno de lesar a f uma das outras, mas buscando escopo lcito"45.

    Alm destes, h os princpios do efeito til, dos efeitos implcitos e da interpretao contra preferentem. Aquele orienta que se deve sempre preferir a interpretao que no leve a um sentido ambguo ou obscuro, evitando uma conseqncia obscura ou desarrazoada46. Conforme o princpio dos efeitos implcitos, o tratado deve ser interpretado como tendo as partes admitido os meios para execut-las e assumindo as conseqncias decorrentes do contedo aceito expressamente J o princpio contra preferentem orienta o intrprete no

    40 MACIEL, George lvares. Op. cit, p. 6.41 Artigo 26, da Conveno de Viena sobre Direito dos Tratados, de 23 de maio de 1969. In: BAHIA, Saulo Jos Casali. Tratados Internacionais no Direito Brasileiro. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 179-208.42 BAHIA Saulo Jos Casali. Op. cit, p. 138-139.43 O sistema monista concebe a idia de um nico sistema normativo abrangendo o direito internacional e o direito interno, enquanto o sistema dualista concebe o direito internacional e o direito interno como dois sistemas distintos, os quais jamais entrariam em conflito, em razo de as normas de um no ter qualquer aplicao no outro (BAHIA. Saulo Jos Casali. Op. cit, p. 71-73).44 Artigos 26 e 31, Io, da Conveno de Viena sobre Direito dos Tratados.45 BAHIA Saulo Jos Casali. Op. cit, p. 139.46 Artigo 32, alneas a e b, da Conveno de Viena sobre Direito dos Tratados.

  • 26

    sentido de que "as regras devem ser interpretadas, em relao a quem as redigiu, sempre de modo estrito"47.

    Para a aplicao de normas de tratado, a Conveno de Viena estabelece igualmente outros mecanismos de soluo, que so tcnicas gerais de hermenutica, as quais possibilitam extrair da regra o sentido correto, utilizando as interpretaes literal, sistemtica, teleolgica e histrica.

    Diz-se literal a interpretao na qual o texto deve ser apreendido em seu sentido comum, considerando certa deficincia tcnica de elaborao, sendo permitido dar conotao especial ao texto apenas na hiptese de meno expressa autorizando-a48.

    Interpretao sistemtica a que abrange o contexto do tratado, isto , o texto, seu prembulo, eventuais anexos e acordos a ele concernentes, alm de observar "qualquer regra xpertinente de direito internacional aplicvel nas relaes entre as partes"49.

    Teleolgica a interpretao que considera o tratado " luz de seu objeto e finalidade", inclusive para conciliar textos de verses diferentes do tratado, na hiptese de haver neles diferena imo resolvida atravs de outra tcnica50.J a interpretao histrica, a que autoriza se recorra a meios suplementares de interpretao, em particular aos trabalhos preparatrios do tratado e s circunstncias de sua concluso, a fim de confirmar o sentido resultante da aplicao da interpretao contextualizada e conforme seu objeto e finalidade. o que estabelece a Conveno de Viena sobre Direito dos Tratados51.

    1.1.4 Eventuais implicaes do GATS sobre a advocacia comum no Mercosul

    A partir do estudo de regras estabelecidas no GATS e exame de literatura a respeito do tema, percebe-se que h interpretaes divergentes sobre o comando normativo imanente das clusulas nele estabelecidas.

    Conforme j mencionado, os rgos da OMC e do GATS, assim como os pases desenvolvidos, do s normas estabelecidas no Acordo uma interpretao substancial e restrita, inclusive de auto-aplicabilidade e de eficcia plena. Diverso, porm, o entendimento

    47 BAHIA. Saulo Jos Casali. Op. cit, p. 139.48 Artigo 31, Io e 2, da Conveno de Viena sobre Direito dos Tratados.49 Artigo 31, Io a 3o, da Conveno de Viena sobre Direito dos Tratados.50 Artigo 31, Io e 4o, da Conveno de Viena sobre Direito dos Tratados.51 Artigo 32, da Conveno de Viena sobre Direito dos Tratados.

  • 27

    de outros setores, sobretudo dos pases em desenvolvimento, como o Brasil e a ndia. Estes interpretam que o GATS possui regras desprovidas de eficcia direta, pois contm elementos apenas delineadores do comrcio internacional, necessitando de disciplinamento complementar52.

    Neste trabalho de pesquisa no h pretenso de aprofundar a discusso a respeito dessa controvrsia. Entretanto, o tema enfocado por que considerado relevante ao contexto da anlise.

    Para o Embaixador brasileiro George Alvares Maciel, certos aspectos referentes a servios continuam sendo um tema novo, porquanto o GATS estabeleceu os princpios bsicos e as regras gerais, incluindo algumas clusulas especficas, porm sua plena fruio depender de acordos especiais ainda no firmados. Conforme ele,

    A Parte II do Acordo (GATS) fundamental, uma vez que formula a clusula da nao mais favorecida; como tambm fundamental a Parte III que enuncia o principio do tratamento nacional O Acordo, em seu artigo IV, focaliza a especial ateno que devem merecer, nas negociaes futuras, os pases em desenvolvimento. Para estes, o tratamento nacional, segundo o GATS, antes um objetivo de longo prazo do que, na prtica, a obrigao de concesses imediatas. O GATS sobretudo um lanamento de princpios gerais, um programa e bases de negociaes especficas, reconhecendo que os pases em desenvolvimento tero que avanar mais lentamente que os demais na trilha de liberalizao do comrcio de servios53 (grifou-se).

    Caroline Proner reala a estrutura flexvel do GATS, na qual o Brasil, na condio de pas em desenvolvimento, poderia se utilizar de salvaguardas e subsdios, com a finalidade de proteger servios considerados essenciais ao seu desenvolvimento econmico. Contudo, esta regra de proteo dos pases em desenvolvimento no vem sendo observada pelo GATS, cujos painis designados para resolver os litgios, alm de atuarem "de forma pouco transparente", "se limitam a analisar os casos em confrontao com as normas e princpios do GATT"54

    Contudo, algumas regras inseridas no Acordo devem ser consideradas relevantes na anlise do tema, sobretudo: a) participao crescente dos pases em desenvolvimento Membros do GATS no comrcio mundial (artigo IV); b) estmulo e prioridade integrao econmica, sobretudo envolvendo pases em desenvolvimento, conforme prev o artigo V; c)

    52 MACIEL, George lvares. A dimenso multilateral. O papel do GATT na expanso da economia. A Rodada Uruguai e a criao da OMC em 1994. Disponvel em: . Acesso em: 4 dez. 2000; GOYOS JR. Durval de Noronha. A rodada do milnio da OMC e a posio do Brasil. Disponvel em . Acesso em: 22 nov. 2000; LAMPREIA, Luiz Felipe Palmeira. Por fora e por dentro da OMC. Disponvel em: . Acesso em: 1. dez. 2000.53 MACIEL, George lvares. Op. cit., p. 6.54 PRONER, Caroline. Op. cit., p. 136, 148-149.

    http://200.246.216.4/getec/bde/19/artigo7.htmhttp://www.noronhadadvogados.com.br/pal50dpt.htmhttp://www.mre.gov.br/sei/lampgaze.htm

  • 28

    o princpio da excepcionalidade, por meio do qual os Membros podem incluir as excees em suas listas nacionais, inclusive de acesso ao mercado e o tratamento nacional (artigos XIX- XXI e Anexo I)55.

    George lvares Maciel entende que o GATS " uma faca de dois gumes (...), pois ao mesmo tempo que oferece aos pases menos desenvolvidos uma melhor oportunidade de expanso e de defesa das invases indevidas, oferece o mesmo aos pases ricos e poderosos, que dispem de mais recursos financeiros e tcnicos para expandir-se e defender-se". O Acordo, se implementado da forma que desejam os pases desenvolvidos, dever acentuar ainda mais a diferena entre estes e os pases em desenvolvimento, semelhante ao GATT, "que simplesmente preocupa menos porque j um fantasma bem conhecido1'56.

    Quais podem ser, ento, as eventuais implicaes das normas do GATS sobre uma eventual advocacia comum no Mercosul?

    Talvez uma resposta exata no seja possvel realidade concreta sob anlise, nas circunstncias atuais. Em primeiro lugar, porque o Mercosul, que ainda se encontra entre uma zona de livre comrcio inacabada e uma unio aduaneira em fase de implantao , no possui quaisquer regras definidoras do exerccio da advocacia em seu territrio comum, quer de atuao ou de estabelecimento do advogado nacional de um dos Estados em outro Estado Parte. O Mercosul tambm est recm elaborando regras objetivando harmonizar o direito interno dos Estados Partes sobre reconhecimento de diplomas58. Em segundo lugar, porque o GATS est em fase de implantao, havendo profundas divergncias quanto aplicao de seus princpios e normas entre os pases desenvolvidos e em desenvolvimento, conforme se pode constatar pelas manifestaes referidas no incio desta subseo.

    Ms alm da previso normativa do GATS, sobretudo suas regras j mencionadas nas subsees 1.1.1 a 1.1.3 deste Captulo, outros fatores tambm devem ser considerados. E que, numa viso um tanto realista, se nas sociedades nacionais o poder o resultado das

    55 MERCADANTE, Araminta de Azevedo. Op. cit., p. 117; MACIEL, George lvares. Op. cit, p. 6.56 MACIEL, George lvares. Op. cit, p. 5-6.57 ALMEIDA, Elizabeth Accioly Pinto de. Mercosul & Unio Europia: estrutura jurdico-instituciona/. Curitiba: Juru, 1996, p. 18; JAEGER JUNIOR, Augusto. Mercosul e a livre circulao de pessoas. So Paulo: LTr, 2000, p. 130; SILVEIRA, Paulo Antnio Caliendo Vellozo da. Defesa da concorrncia no Mercosul: acordos entre empresas, abuso de posio dominante e contrataes. So Paulo: LTr, 1998, p. 36.58 Neste sentido so as Decises do Conselho Mercado Comum do Mercosul: a 13/97, de 15 de dezembro de 1997, n. 9/98, de 23 de julho de 1998; e n. 12/98, de 23 de julho de 1998. Disponveis em: , ,, respectivamente. Acesso em: 28 out. 2000.

    http://www.mercosur.org.uy/portugues/snor/normativa/decisiones/DEC1397.htmhttp://www.mercosur.org.iQi/portugues/snor/normativa/decisiones/1998/9-98.htmhttp://www.mercosur.org.uy/portugues/snor/normativa/decisiones/1998/12-98.htm

  • 29

    relaes de foras das classes ou grupos sociais, nas relaes internacionais as decises e regras jurdicas so produzidas e observadas, na maioria das vezes, em conformao com as relaes de foras que cada Membro ou grupo possui ou dispe59. Neste contexto, se at o momento os pases desenvolvidos impuseram aos pases em desenvolvimento os temas de sua preferncia na pauta das negociaes comerciais multilaterais, definindo-os a partir de seus objetivos, a situao pode ser substancialmente alterada. A expresso de fora no contexto das relaes comerciais multilaterais pode ser amplamente modificada pela ao mais articulada dos pases em desenvolvimento e sobretudo pelo ingresso da China na OMC, conseqentemente no GATS, o que foi confirmado na Reunio Ministerial da Organizao, realizada no Catar, em novembro de 200160. Este aspecto "certamente modificar a composio de foras e o processo negociador naquele foro"61, no qual se insere o comrcio de servios.

    Especificamente em relao perspectiva de uma advocacia comum no Mercosul, h regras estabelecidas pelo GATS reconhecendo prioridade s iniciativas dos pases em desenvolvimento, inclusive priorizando iniciativas de integrao econmica, aspecto j analisado nesta subseo62.

    H, tambm, o precedente da Unio Europia63. Nesta, a advocacia comunitria64 desenvolvida h vrios anos, com base nos artigos 43-55, do Tratado de Roma, conforme disciplinamento estabelecido pelas Diretivas n. 77/249/CEE, 98/48/CEE e 98/5/CE, sem maiores restries materializadas pelo GATT, anteriormente, ou pelo GATS, na atualidade65.

    59 MAQUIAVEL, Nicolau. O Prncipe. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000, passim.60 SCHUBERT, Flvio. China na OMC deve beneficiar Brasil. Jornal Zero Hora, Porto Alegre, 12 nov. 2001, ano 38, n. 13.232. Zero Hora Economia, p. 14.61 BARRAL, Welber Oliveira (Qrg.). O Brasil e a OMC: Os interesses brasileiros e as futuras negociaes multilaterais. Florianpolis: Diploma Legal, 2000, p. 36.62 Sobre a matria ver artigo V, do GATS; MERCADANTE, Araminta de Azevedo. Op. cit., p. 117; MACIEL, George lvares. Op. cit, p. 6.63 A Unio Europia, embora no integra o objeto da pesquisa desenvolvida, mencionada em vrios captulos e sees, por ser uma experincia consolidada e, por isso, um referencial de estudo.64 As expresses advocacia comunitria tem, neste caso, o sentido de advocacia baseada no direito comunitrio.65 UNIO EUROPIA. Tratado constitutivo da Comunidade Europia, assinado em Roma, em 25 de maro de 1957, verso consolidada. Disponvel em: .Acesso em: 3 dez. 2001; Directiva 77/249/CEE, de 22 de maro de 1977. Disponvel em: . Acesso em: 7 dez. 2001; Directiva 89/48/CEE, de 21 de dezembro de 1988. Disponvel em:

  • 30

    E seria um paradoxo inaceitvel para os pases em desenvolvimento e opinio pblica internacional, o GATS permitir o desenvolvimento normal da advocacia comunitria na Unio Europia e dificult-la ou impedi-la no Mercosul. A medida reforaria a idia de que nos ltimos cinco anos que se seguiram a OMC e ao GATS, "a prosperidade mundial ficou mais do que nunca circunscrita aos pases desenvolvidos, particularmente aos Estados Unidos da Amrica (EUA) e Unio Europia (UE)66

    Por isso, o embaixador Luiz Felipe Palmeira Lampreia acentua que "podemos verificar que em todas as lideranas do Cone Sul o desapontamento com o impasse em Seattle dever ser traduzido positivamente em nimo renovado para a integrao regional", e que "a consolidao do Mercosul seja nossa resposta ao recrudescimento do protecionismo nos

    (\ 7pases desenvolvidos" .A partir desses aspectos, inclusive das regras de interpretao dos tratados

    estabelecidas pela Conveno de Viena sobre direitos dos tratados, pode-se concluir que o GATS deve ser analisado de forma a estabelecer efetiva participao crescente dos pases em desenvolvimento no comrcio mundial (artigo IV). Neste contexto que se vislumbra possvel a advocacia comum no Mercosul, porquanto o GATS no possui obstculos ao seu desenvolvimento; pelo contrrio, possui clusulas de estmulo a projetos de integrao regional. O que pode ser objeto de questionamento a clusula de nao mais favorecida, para qualquer estrangeiro pretender se habilitar num dos Estados Partes do Mercosul. Mas isso exigir reciprocidade do Estado de origem do pretendente, o que praticamente inexiste no mbito da advocacia.

    1.2 A ADVOCACIA NO MERCOSUL

    1.2.1 Tratados e acordos antecedentes ao Mercosul

    O Tratado de Assuno, firmado em 26 de maro de 1991 por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, com o objetivo de integrar esses pases e criar entre eles um mercado

    66 GOYOS JR. Durval de Noronha. A rodada do milnio da OMC e a posio do Brasil. Disponvel em: . Acesso em: 29 nov. 2000.67 LAMPREIA, Luiz Felipe Palmeira. Op. cit, p. 2.

    http://www.%20noronhaadvogados.%20com.br/pal50dpt.htm

  • 31

    comum, possui vrios antecedentes. As tentativas anteriores, contudo, no foram concretamente exitosas.

    A idia de integrao da Amrica Latina antiga. J em 1826, Simn Bolvar props no "Congresso do Panam" uma harmonizao jurdica latino-americana, visando a integrao regional. Mais tarde, em 1875, o Peru convocou um grupo de juristas latino-americanos para uniformizar os acordos internacionais, iniciativa que resultou no "Congresso de Lima", realizado em 1877/78, no qual foi firmado o "Tratado de Direito Internacional Privado de Lima", contendo sessenta artigos. Depois seguiram-se vrios outros tratados sobre a uniformizao jurdica de pontos especficos na Amrica Latina68.

    Igualmente antiga a idia de um mercado comum latino-americano. Ela foi esboada h mais de 150 anos, quando o argentino Juan Bautista Alberdi ressaltou que "o equilbrio regional deveria ter como fonte no o equilbrio militar, mas sim o decorrente do nivelamento de nossas potencialidades comerciais69

    No sculo XX, o desejo de unidade entre os pases da Amrica Latina pode ser sintetizado pela manifestao realizada em 1940, pelo Presidente da Argentina, Juan Domingos Pern, que, acentuando a unidade latino-americana como indispensvel, concluiu

    70que "o sculo XXI nos encontrar unidos ou dominados" .Concretamente, no entanto, somente aps a Segunda Guerra Mundial que

    comearam a ser elaborados projetos de integrao regional objetivando a cooperao econmica, formalizados atravs da Associao Latino-Americana de Livre Comrcio (ALALC), mais tarde transformada em Associao Latino-Americana de Integrao (ALADI). Mas ambos os projetos encontraram dificuldades de concretizao, por abrangerem um nmero elevado de pases e sobretudo por no haver complementariedade econmica entre eles. Em razo disso que surgiu a proposta de envolvimento de apenas alguns Estados, na expectativa de tornar vivel a instituio de um mercado comum. Foi ento que Brasil e Argentina retomaram a tentativa de integrao. O primeiro documento assinado neste sentido foi a Declarao de Iguau, em 30 de novembro de 1985, marcando o incio da integrao, que se previa apenas bilateral, seguida da Ata para a Integrao Brasileiro-Argentina, firmada em Buenos Aires, em 29 de julho de 1986. Em 1988, tambm em Buenos Aires, foi assinado

    68 PABST, Haroldo. Mercosul: Direito da Integrao. Rio de Janeiro: Forense, 1998, p. 44-45.69 Idem, p. 7.70 FERRARI, Regina Maria Macedo Neiy (Org.). O Mercosul e as ordens jurdicas de seus estados-membros. Curitiba: Juru, 1999, p. 272.

  • 32

    o Tratado de Integrao, Cooperao e Desenvolvimento entre os dois pases, seguido da Ata de Buenos Aires, em 6 de julho de 1990, que criou o Grupo Mercado Comum (GMC)71.

    Com a iniciativa concretizada por Argentina e Brasil, surgiram interesses de outros pases em participar da integrao, transformando-a de bilateral em regional. Conseqentemente, foi assinado o Tratado de Assuno, em 26 de maro de 1991, com o objetivo de criar o Mercado Comum do Sul (Mercosul), integrado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, e que em breve poder ter a participao de outros pases, sobretudo a Bolvia e o Chile. Estes o integram na condio de Estados observadores nas questes de mtuo interesse, desde 199672. Atualmente, a Bolvia e o Chile participam na condio de Estados Associados, tendo firmado uma srie de documentos com o Mercosul, sendo

    73candidatos condio de Estados Partes .

    1.2.2 Princpios do Tratado de Assuno

    O Tratado de Assuno, firmado em 26 de maro de 1991, por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, tem como propsito a constituio de um mercado comum74, estabelecendo a "livre circulao de bens, servios e fatores produtivos entre os pases"75. E para caracterizar o procedimento escolhido e atingir os objetivos propostos integrao, foram estabelecidos determinados princpios, com realce para os de gradualidade,

    71 ALMEIDA, Elizabeth Accioly Pinto de. Mercosul e Unio Europia: estrutura jurdico-institucional. Curitiba: Juru, 19%, p. 63-68; FARIA, Jos Angelo Estrella. O MERCOSUL: Princpios, Finalidade e Alcance do Tratado de Assuno. Braslia, Ministrio das Relaes Exteriores, 1993, p. 3 e 4.12 Deciso do Conselho Mercado Comum do Mercosul a 14/96, de 17 de dezembro de 1996; Acordo de Complementao Econmica Mercosul-Chile, de 25 de junho de 1996; Acordo de Complementao Econmica Mercosul-Bolvia, de 17 de dezembro de 1996.73 Acordo de Complementao Econmica Mercosul-Bolvia, de 17 de dezembro de 1996. Disponvel em: . Acesso em: 25 jul. 2001; Acordo de Complementao Econmica Mercosul-Chile, de 25 de junho de 1996. Disponvel em: . Acesso em: 25 jul. 2001; Comunicado Conjunto dos Presidentes dos Estados Partes do Mercosul, Bolvia e Chile, de 15 de dezembro de 1997.

    Disponvel em: . Acesso em: 25 jul. 2001; Deciso do Conselho Mercado Comum a 5/99, de 14 de junho de 1999, que dispe sobre Acordo de Admisso de Ttulos e Graus Universitrios para o Exerccio de Atividades Acadmicas nos Estados Partes do Mercosul, na Repblica da Bolvia e na Repblica do Chile. Disponvel em: . Acesso em: 13 ago. 2001.74 O prprio Tratado expressa a sua provisoriedade, ao se caracterizar como um tratado-marco para a constituio de um mercado comum e no como tratado constitutivo do Mercosul. Tanto que seu artigo Io menciona que o Mercado Comum do Sul "dever estar estabelecido a 31 de dezembro de 1994" e seu artigo 3o menciona como "perodo de transio" o que compreende "desde a entrada em vigor do presente Tratado at 31 de dezembro de 1994".75 Artigo Io do Tratado de Assuno.

    http://www.mercosul.com/pr/info/acuerdo_mercosur_boIivia.jsphttp://www.mercosul.com/pr/info/acuerdo_mercosur_chile.jsphttp://www.%20mercosur.org.%20uy/pagina_nueva2%20,htmhttp://www.mercosul.gov.br/normativas/default.asp?key=113

  • 33

    flexibilidade, equilbrio e reciprocidade, aos quais foram posteriormente acrescidos outros,* 76como o de respeito aos princpios democrticos na administrao dos Estados Paites .

    Compreender os possveis efeitos destes princpios no processo de integrao, tarefa preliminar ao tema. Para tanto, toma-se necessrio precisar o sentido de cada uma destas expresses, tanto no aspecto terminolgico-vocabular, como na forma contextualizada em que so empregadas no Tratado de Assuno.

    Gradualidade significa a derivao de gradual, que corresponde ao "que se faz por graus", ao "que tem graduao; gradativa."77.

    Em relao ao Mercosul, este princpio indica que a integrao deve se desenvolver "em marcha gradativa, isto , em constante progresso de etapas sucessivas e cronologicamente ordenadas .

    A adoo deste princpio justificada em razo das dificuldades de ordem econmica e jurdica que normalmente se apresentam aos Estados Partes no momento da criao de uma comunidade. Nestas instncias, so necessrias modificaes no ordenamento jurdico e na estrutura produtiva de cada Estado Parte, para se adequarem nova situao, que devem ser implementadas em determinado tempo e de forma escalonada, "pois no se obtm

    7Qa integrao dos Estados de um dia para outro .O vocbulo flexibilidade exprime facilidade de ser manejado, maleabilidade, aptido

    para variadas coisas ou aplicaes; designa eventos, atos ou atitudes livres de rigidez, Afacilmente manejveis e dotados de certa versatilidade .

    Para o Mercosul, a flexibilidade representa uma diretiva conduo do processo de integrao e expressa a postulao de uma nova poltica exterior pelos Estados latino- americanos e outros pases em desenvolvimento. Ela assegura uma grande margem de manobra para os governos, evitando o estabelecimento de nmero elevado de compromissos simultneos. Ao mesmo tempo, com a flexibilidade, os pases em desenvolvimento expressam rejeio a certos princpios da ordem internacional clssica. uma postura que representa a

    76 Neste sentido o Comunicado Conjunto dos Presidentes dos Estados Partes do Mercosul, emitido em 19 de junho de 1997, em Assuno, e o Comunicado Conjunto dos Presidentes dos Estados Partes do Mercosul, Bolvia e Chile, formulado em 15 de dezembro de 1997, em Montevidu. Ambos disponveis em: . Acesso em: 25jul. 2001.17 FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Novo dicionrio da lngua portuguesa, rev. e ampl. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1986. p. 861.78 FARIA, Jos ngelo Estrella. Op. cit, p. 2.79 RUSSO CANTERO, Carlos Marcial. El Mercosur ante la necesidad de Organismos Supranacionales. Asuncin: Intercontinental, 1999. p. 240: "pues no se logra la integradn de los estados de un dia para el otro".80 FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Op. cit, p. 787; FARIA, Jos ngelo Estrella. Op. cit, p. 2 e 5.

    http://www.mercosur.org.uy/pagina_nueva_2.htm

  • 34

    tentativa de instituir uma poltica externa independente em relao s grandes potncias, buscando direitos soberanos no reconhecidos pelo direito internacional tradicional81.

    Equilbrio uma expresso que corresponde ao estado de um sistema; igualdade, absoluta ou aproximada, entre foras opostas; harmonia, equilbrio entre os elementos de um todo82.

    Em relao ao Mercosul, o equilbrio representa uma linha mestra na conduo do processo de integrao regional. O objetivo dos Estados Partes a consecuo do equilbrio progressivo, quantitativo e qualitativo, desenvolvendo intercmbio por setores e por segmentos, por meio da expanso do comrcio. E, ao permitir a adoo de clusulas de salvaguarda, o Tratado de Assuno incluiu medidas assecuratrias do equilbrio, embora Jos ngelo Estrella Faria acentue que dificilmente o documento pode servir como elemento seguro de interpretao, eis que ele no possui disposies materiais objetivas neste sentido. Conforme ele, o mesmo acontece com a Ata para Integrao Brasileiro-Argentina de 1986, dotada apenas de conceitos genricos sobre o equilbrio .

    J a reciprocidade exprime troca ou permuta entre pessoas ou grupos; confiana e concesses recprocas; "diz-se daquilo em que h correspondncia de parte a parte, ou quando aquilo que se d est em relao ao que se recebe"84.

    No Tratado de Assuno, a reciprocidade no se refere s metas e objetivos do Mercosul, mas s relaes bsicas entre os Estados Partes,85 estabelecendo "correspondencia mutua entre un Estado y otro" e traduzindo concretamente "la filosofia misma de la integracin,|86

    Em relao aos princpios, importante no perder de vista as regras de interpretao dos tratados previstas na Conveno de Viena sobre Direito dos Tratados, de 1969, matria analisada na subseo 1.1.4. Isto porque a reciprocidade est inserta entre os objetivos do Tratado de Assuno, em sua parte dispositiva, enquanto a gradualidade, a flexibilidade e o equilbrio constam apenas em seu prembulo, tendo aquela prevalncia sobre estes, que no

    81 FARIA, Jos ngelo Estrella. Op. cit., p. 6-7.82 FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Op. cit, p. 675.83 FARIA, Jos ngelo Estrella. Op. cit, p. 12-14.84 FERREIRA, Aurlio Buarque de Holanda. Op. cit, p. 1462; NEVES, Ido Batista. Vocabulrio Prtico de Tecnologia Jurca e Brocardos Latinos. Rio de Janeiro: APM Editora, 1987. No paginado.85 FARIA, Jos ngelo Estrella Op. cit, p. 15.86 RUSSO CANTERO, Carlos Marcial. Op. cit, p. 240.

  • 35

    tm eficcia plena. Sem esquecer que, como fonte do direito internacional, os princpios so antecedidos pelo costume internacional .

    1.2.3 A liberdade de prestao de servios e de estabelecimento

    A anlise sobre a advocacia comum no Mercosul deve ser desenvolvida dentro docontexto jurdico estabelecido para o comrcio internacional de servios. A medida se faznecessria porque a advocacia se insere no Direito Internacional como uma forma decomrcio de servios, que, em mbito multilateral, disciplinado pelo GATS. Este Acordo,por sua vez, desde sua elaborao est jurdica e estruturalmente vinculado ao organismo de

    ssmaior expresso do comrcio mundial, que a QMC .Duas razes substanciais determinam que a advocacia no Mercosul deve se orientar a

    partir das normas do GATS. A primeira, porque os Estados qe o integram participam tambm desse Acordo e, nesta condio, ficam sujeitos incidncia de seus efeitos jurdicos. A segunda, em conseqncia de o Mercosul ter estabelecido expressamente que a liberao, expanso e diversificao progressiva do comrcio de servios nos territrios de seus Estados Partes devem ser promovidas de acordo com os compromissos assumidos no GATS89.

    Seguindo basicamente as regras do Direito Internacional, o Mercosul definiu que o comrcio de servios, no qual se inclui a advocacia, pode ser desenvolvido nas quatro formas disciplinadas pelo GATS. Elas correspondem prestao de servio: a) do territrio de uma das partes signatrias para o territrio de outra parte; b) no territrio de uma parte signatria a um consumidor de servios de outra parte signatria; c) por um provedor de servios de uma parte signatria mediante presena comercial no territrio de outra parte signatria; d) por um provedor de servios de uma parte signatria mediante a presena de pessoas fsicas no territrio da oulra parte signatria90.

    87 FERRARI, Regina Maria Macedo Nery. O Mercosul e as ordens jurdicas de seus estados-membros. Curitiba: Juru, 1999. p. 71.88 PRONER, Caroline. Op. cit., p. 137.89 Artigo 34, do Acordo de Complementao Econmica Mercosul-Chile, firmado em 25 de junho de 1996. Disponvel em: . Acesso em: 25 jul. 2001; artigos 6o e 7o, do Acordo de Complementao Econmica Mercosul-Bolvia. Disponvel em: . Acesso em: 25 jul. 2001.90 Artigo 35, do Acordo de Complementao Econmica Mercosul-Chile, firmado em de junho de 1996. Disponvel em: . Acesso: 25 juL 2001. Semelhante a esse Acordo, porm sem a definio sobre o comrcio de servios transfronteira, o Acordo de Complementao Econmica Mercosul-Bolvia. Disponvel em: . Acesso em: 25 jul. 2001. Sobre a matria, ver tambm a Parte I, do GATS.

    http://www.mercosul.com/pr/info/acuerdo_mercosur_chile.jsphttp://www.mercosul.com/pr/info/acuerdo_mercosur_bolivia.jsphttp://www.mercosuI.com/pr/inl7acuerdo_mercosur_chile.jsphttp://www.mercosul.com/pr/inf/acuerdo_mercosur_chile.jsp

  • 36

    Portanto, a advocacia tratada pelo Mercosul da maneira como o faz o GATS, isto , como uma das espcies de comrcio de servios91.

    De qualquer forma, o desenvolvimento da advocacia em um mercado comum pressupe a liberdade de circulao de pessoas, na qual esto inseridas a liberdade de prestao de servios e de estabelecimento92. Estes aspectos so relevantes ao estudo do tema objeto do presente trabalho, motivo pelo qual toma-se necessrio analis-los, mesmo que superficialmente.

    A liberdade de circulao de pessoas intrnseca qualquer pretenso de desenvolvimento de um mercado comum. No seria possvel imaginar uma integrao regional na qual houvesse apenas liberdade de circulao de mercadorias sem a liberdade de circulao de pessoas. Seria a negao da prpria integrao econmica, j que a liberdade de circulao de mercadorias e capitais no teria sentido se desacompanhada dos fatores de produo93.

    J a liberdade de circulao de trabalhadores, que uma espcie da liberdade de circulao de pessoas, consiste na eliminao de todas as discriminaes quanto ao emprego e s condies de trabalho entre os trabalhadores dos Estados Partes, em razo de sua, nacionalidade. Evidente que a expresso trabalhador aqui entendida no seu sentido restrito, isto , "implica a atividade de um indivduo, regida por um vnculo trabalhista que mantm com seu empregador, ao qual subordinado, contrastando, pois, com a 'independncia' peculiar prestao de servios"94.

    A livre prestao de servios o exerccio temporrio e ocasional de uma atividade no assalariada, desenvolvida a partir de um estabelecimento sediado num e concretizada em outro Estado Parte de um mercado comum. Nessa situao, aquele denominado Estado de origem e este Estado de acolhimento95.

    91 Evidente que o comrcio de servio concebido como o exerccio de uma atividade de cunho material, que pode ser concretizada em duas reas distintas: a) correspondente ao servio fsico e vinculado ao esforo fsico ou capacidade para operar equipamentos ou aparelhos; b) intelectual, dependente da inteligncia ou formao acadmica do prestador. O comrcio de servios sob anlise se enquadra no item b.92 ALVES, Jorge de Jesus Ferreira. Os advogados na Comunidade Europia: livre circulao dos trabalhadores, direito de estabelecimento e livre prestao de servios. [Coimbra]: Coimbra Editora, 1989, p. 22.93 Idem, p. 17-19.94 VIEIRA, Dbora Cristina. O exerccio da advocacia no Mercosul frente livre circulao de servios e trabalhadores. In: RODRIGUES, Horcio Wanderlei (Org.). Soluo de controvrsias no Mercosul. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997. p. 117-118.95 ALVES, Jorge de Jesus Ferreira. Op. cit., p. 18-23.

  • 37

    A prestao de servios de advocacia pode ser desenvolvida de vrias formas, a exemplo do que acontece com a prestao de servios em geral. A mais usual, exige que o advogado se desloque em direo ao destinatrio do servio. No entanto, com menor incidncia, h servios que no exigem deslocamento do advogado e nem do consumidor, e outros que implicam no deslocamento do consumidor ao Estado membro do advogado96.

    A liberdade de estabelecimento corresponde ao direito que as pessoas fsicas ou jurdicas de um Estado membro tm de exercer uma atividade independente em outro Estado membro, implantando nele sua instalao material97. No corresponde apenas funo empresarial de fornecimento de bens aos consumidores, mas igualmente de servios98.

    Conforme parmetros fixados pela Unio Europia, que a experincia de maior relevncia em termos de mercado comum e de direito comum, o estabelecimento em geral pode ser concretizado a ttulo principal ou secundrio. O primeiro "existe sempre que criada, adquirida ou transferida uma empresa industrial, agrcola, comercial ou de prestao de servios ou, o centro principal do exerccio, constituio ou gesto de uma empresa desse gnero num Estado membro distinto do Estado membro de origem". Enquanto isso, o estabelecimento a ttulo secundrio caracterizado quando o nacional de um Estado membro, possuindo e mantendo o seu estabelecimento principal em um dos Estados membros, constitui, em qualquer outro, agncias, sucursais ou filiais99.

    A liberdade de estabelecimento, especificamente em relao advocacia, supe "que um advogado nacional de um determinado Estado membro, possuidor dos ttulos, diplomas e certificados necessrios para, nesse Estado, exercer a advocacia, pretende estabelecer-se noutro Estado membro; ou seja, a deseja fixar a sua residncia profissional"100.

    Na Unio Europia, que sempre um paradigma anlise do tema, h trs tipos de estabelecimento do advogado: a) os denominados escritrios "morcegos", nos quais os advogados comunitrios nele estabelecidos no esto inscritos na respectiva ordem profissional, cuja atividade limita-se consultoria101; b) escritrios devidamente aparelhados, cujos advogados comunitrios esto inscritos na organizao profissional do Estado de

    96 ALVES, Jorge de Jesus Ferreira. Op. cit., p. 26-27.97 Idem, p. 22 e 23.98 CARVALHO, Isabel Maria Felgueiras T. Op. cit, p. 147.99 Idem, p. 152.100 Idem, p. 187.101 Essa situao s constatada na Alemanha, onde a consultoria no monoplio dos advogados inscritos nas organizaes profissionais competentes (In: CARVALHO, Isabel Maria Felgueiras T. Op. cit., p. 187).

  • 38

    acolhimento e simultaneamente possuem conhecimento lingstico desse Estado; c) escritrios denominados "advogados-correspondentes", nos quais os advogados comunitrios "apenas do conhecimento, recomendaes ou pem disposio escritrios e servios administrativos a outros advogados de diferentes Estados membros", situao na qual pressupe a existncia de cooperao ou consrcio de advogados estabelecidos em Estados distintos102.

    Quanto liberdade de prestao de servios, um questionamento freqente em relao sua abrangncia. Essa liberdade beneficia apenas os nacionais de um Estado Parte estabelecidos num pas comunitrio, ou pode ser concedida a nacionais de outros Estados ou mesmo a pessoas nacionais de um Estado membro da comunidade que residem em pas extracomunitrio?

    Jorge de Jesus Ferreira Alves entende que "a liberdade de prestao de servios, em princpio, s concedida aos nacionais dum Estado membro estabelecido num pas da Comunidade." Ele exclui como destinatrios desse direito, os estrangeiros ou no-nacionais de Estado membro, os refugiados e os aptridas, bem como os nacionais de um Estado membro estabelecidos num Estado extracomunitrio. Resulta disso que, dentro de um Estado comunitrio, pode-se ter trs classes de estrangeiros: a) cidados comunitrios nacionais de outro Estado membro; b) cidados de terceiros Estados; c) refugiados e aptridas103.

    Porm, considerando-se as regras de interpretao dos tratados previstas na Conveno de Viena sobre os Direitos dos Tratados, de 1969104, a questo deve ser analisada consoante o estatudo no GATS, sobretudo na clusula da nao mais favorecida e no direito ao desenvolvimento da integrao regional. Se a interpretao fosse realizada exclusivamente com base na primeira, certamente as pessoas de terceiros pases poderiam se beneficiar da liberdade de prestao de servios, para o desenvolvimento de sua profisso. No entanto, o prprio GATS estabelece prioridade integrao econmica, possibilitando a realizao de acordo que liberalize o comrcio de servios entre determinados pases, sobretudo se envolve s pases em desenvolvimento105.

    Estes aspectos permitem concluir que a liberdade de prestao de servios abrange somente as pessoas nacionais de um dos Estados comunitrios e que no residam em pases extracomunitrios.

    102 CARVALHO, Isabel Maria Felgueiras T. Op. cit, p. 187.103 ALVES, Jorge de Jesus Ferreira Op. cit., p. 27.104 Sobre a matria, ver item 1.1.4 deste trabalho.105 Artigos n e V, do GATS.

  • 39

    Contudo, mesmo que fosse concedida a liberdade de prestao de servios a cidados de terceiros pases, em observncia clusula da nao mais favorecida, certamente eles teriam dificuldade para atender aos critrios de habilitao exigidos por um mercado cmum, quer fossem eles regionalmente unificados ou estabelecidos individualmente pelos Estados Partes; sobretudo em razo da lngua e do conhecimento jurdico necessrio habilitao do advogado, aspectos que sero examinados no Captulo 2.

    1.2.4 As regras do Mercosul sobre a advocacia

    No Mercosul, tanto o Tratado de Assuno como os protocolos, acordos, decises, resolues e outras normativas no estabelecem nenhuma regra especfica sobre o exerccio da advocacia. Naquele, h apenas referncias genricas sobre "a livre circulao de bens, servios e fatores produtivos entre os pases"106, na qual se enquadra a advocacia, caracterizada como livre circulao de servios e fatores produtivos107. E nas demais normativas do Mercosul resta evidente que o meio escolhido para o processo de integrao, inclusive na rea de servios, permanece o preconizado no Tratado de Assuno, que o da harmonizao das legislaes dos Estados Partes108.

    No aspecto que interessa advocacia, a harmonizao est iniciando pela rea educacional. J houve o reconhecimento dos cursos equivalentes ao primeiro e segundo graus, com validade ampla, o mesmo no acontecendo em rela aos ttulos universitrios, cujo reconhecimento restrito validade acadmica, no produzindo efeitos para o exerccio de profisses109.

    No sentido de harmonizar o direito interno de cada Estado Parte na rea educacional, foi firmado, em 5 de agosto de 1994, o "Protocolo sobre Integrao Educativa e Reconhecimento de Certificados, Ttulos e Estudos de Nvel Primrio e Mdio no

    106 Artigo Io do Tratado de Assuno.107 VIEIRA, Dbora Cristina. Op. cit, p. 116.108 Artigo Io, parte final, do Tratado de Assuno.109 Sobre a matria, ver o Protocolo sobre Integrao Educativa e Reconhecimento de Certificados, Ttulos e Estudos de Nvel Primrio e Mdio no Tcnico. Disponvel em: . Acesso em: 5 ago. 2001; o Protocolo de Integrao Educacional para Prosseguimento de Estudos de Graduao nas Universidades dos Pases Membros do Mercosul. Disponvel em: . Acesso em: 17 ago. 2001; e o Protocolo de Integrao Educacional para a Formao de Recursos Humanos no Nvel de Ps-Graduao nos pases membros do Mercosul. Disponvel em: . Acesso em: 5 ago. 2001.

    http://www.camara.gov.br/mercosul/Protocolos/RECONHECIMENTO_CERriMCADOS.htmhttp://www.camara.gov.br/mercosul/Protocolos/PROSSEGUIMENTO_POS_GRADUACAO.htmhttp://www.camara.gov.br/mercosul/ProtocoIos/POS_GRADUACAO.htm

  • 40

    Tcnico110. O documento prev o compromisso de os Estados Partes reconhecerem osestudos e validarem os certificados expedidos pelas instituies oficialmente reconhecidas porum deles, nesses dois nveis, nas mesmas condies estabelecidas pelo pas de origem para osalunos ou ex-alunos das referidas instituies. H igualmente a projeo de, atravs deReunio de Ministros de Educao, serem elaboradas normas visando a incorporao doscontedos curriculares mnimos de Histria e Geografia de cada um dos Estados Partes111.

    Buscando a almejada harmonizao na rea educacional, em 28 de julho de 1995 oMercosul aprovou o Protocolo de Integrao Educacional, Revalidao de Diplomas,Certificados, Ttulos e de Reconhecimento de Estudos de Nvel Mdio Tcnico. Nessedocumento e seus quatro Anexos prevista inclusive a possibilidade de reconhecimento deestudos realizados de forma incompleta e a transferncia de alunos entre os Estados Partes112.

    Em relao a cursos superiores e de ps-graduao, os Estados Partes do Mercosulfirmaram dois protocolos, em 16 de dezembro de 1996, em Fortaleza. Um deles objetiva oreconhecimento de ttulos de graduao e ps-graduao, expedidos pelas instituies deensino superior reconhecidas por Estado Parte, estabelecendo a condio de que o curso degraduao tenha durao mnima de quatro anos ou mil e setecentas horas cursadas. Contudo,esse reconhecimento tem validade "unicamente para fins acadmicos", sendo que, "tais

    11diplomas, de per se, no habilitam ao exerccio da profisso"O outro Protocolo refere-se "a integrao educacional para a formao de recursos

    humanos no nvel de ps-graduao entre os pases membros do Mercosul". Seus objetivos

    110 O nvel mdio no tcnico desenvolvido no Paraguai e Uruguai e equivale ao nvel mdio brasileiro, ou seja, ao segundo grau. A diferena constatada no Anexo I desse Protocolo, que no primeiro e segundo graus o Brasil tem apenas onze anos de escolaridade, enquanto os demais pases do Mercosul, em seus nveis equivalentes, possuem doze anos.111 Protocolo sobre Integrao Educativa e Reconhecimento de Certificados, Ttulos e Estudos de Nvel Primrio e Mdio no Tcnico. Disponvel em: . Acesso em: 5 ago. 2001.112 Protocolo de Integrao Educacional, Revalidao de Diplomas, Certificados, Ttulos e de Reconhecimento de Estudos de Nvel Mdio Tcnico. Disponvel em: . Acesso em: 5 ago. 2001

    113 Artigos Io a 4o, do Protocolo de Integrao Educacional para Prosseguimento de Estudos de Graduao nas Universidades dos Pases Membros do Mercosul. Disponvel em: . Acesso em: 17 ago. 2001.

    http://www.camara.gov.br/mercosul/Protocolos/RECONHECIMENTO_CERriMCADOS.htmhttp://www.camara.gov.br/mercosul/Protocolos/REVALIDACAOhttp://www.camara.gov.br/mercosul/Protocolos/PROSSEGUIMENTQ_POS_GRADUACAO.htm

  • 41

    so a formao e o aperfeioamento de docentes universitrios e pesquisadores, buscando consolidar e ampliar os programas de ps-graduao na regio114.

    Esse Protocolo estabelece que em cada Estado Parte h um rgo responsvel pela superviso e execuo das aes desenvolvidas na rea de ps-graduao. Na Argentina, a tarefa cabe Secretaria de Polticas Universitrias do Ministrio da Cultura e Educao; no Brasil, Fundao Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (CAPES) do Ministrio da Educao e do Desporto; no Paraguai, Universidade Nacional de Assuno e ao Ministrio da Educao e Cultura; no Uruguai, Universidade da Repblica e Diretoria de Educao do Ministrio da Educao e Cultura115.

    De contedo semelhante aos dois protocolos firmados em 16 de dezembro de 1996, embora mais abrangente, so os Acordos assinados em Assuno, no dia 14 de junho de 1999. Um deles prev a admisso de ttulos e graus universitrios para o exerccio de atividades acadmicas nos Estados Partes do Mercosul, desde que reconhecidos e credenciados nos Estados Partes, "segundo procedimentos e critrios a serem estabelecidos para a implementao deste Acordo116. O outro Acordo de contedo semelhante, mas abrange os Estados Partes do Mercosul, mais a Bolvia e o Chile117.

    Porm, a exemplo dos demais acordos sobre ttulos de nvel educacional formalizados no Mercosul, nesses h condies para que eles tenham validade. Os ttulos de graduao devem ser obtidos em cursos com durao mnima de quatro anos e duas mil e setecentas horas cursadas, enquanto os de ps-graduao so assim considerados os obtidos em cursos de especializao com carga horria presencial no inferior a trezentas e sessenta horas e os graus acadmicos de mestrado e doutorado. Tanto os ttulos de graduao quanto

    114 Prembulo e artigo Io, do Protocolo de Integrao Educacional para a Formao de Recursos Humanos no Nvel de Ps-Graduao nos pases membros