16
Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

Os desafios contemporâneos da escola pública · Além das constatações explicitadas pelo autor, o cenário educativo ainda apresenta quadro deficitário no que se refere às questões

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Os desafios contemporâneos da escola pública · Além das constatações explicitadas pelo autor, o cenário educativo ainda apresenta quadro deficitário no que se refere às questões

Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Page 2: Os desafios contemporâneos da escola pública · Além das constatações explicitadas pelo autor, o cenário educativo ainda apresenta quadro deficitário no que se refere às questões

OS DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS DA ESCOLA PÚBLICA

Rosane Batista Garda1 André Paulo Castanha2

Resumo O presente artigo é o resultado das atividades desenvolvidas no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) ofertado pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Compreender o contexto diário da rotina de trabalho dos educadores frente a uma nova dinâmica social, fez com que desenvolvêssemos este objeto de estudo voltado às relações interpessoais no cotidiano escolar, e os males que, frequentemente tem acometido os profissionais da educação. O cenário atual expressa conflitos de responsabilidades, entre sociedade, família escola e sistema educacional. Estes conflitos paralelos à função explícita da escola acabam desgastando as relações interpessoais e as redes sociais da comunidade escolar. Este texto caracteriza o resultado de um estudo sobre as diversas formas de ver, pensar e sentir a educação em meio à contemporaneidade histórica. Para isso, foi desenvolvido um trabalho com toda a comunidade escolar baseada em três eixos fundamentais do cotidiano escolar, são eles: Mal-estar docente, Políticas Públicas e o papel da família na educação dos filhos. Os resultados encontram-se elencados ao longo deste documento.

Palavra-Chave: Políticas Públicas Educacionais, Mal-Estar Docente, Participação das Famílias na Educação dos Filhos.

Introdução

Professores doentes, pais ausentes, Politicas Públicas ineficientes.

Estas são questões cada dia mais presente no cotidiano escolar, que por sua

vez tem desencadeado uma crise em cadeia, seja nas relações interpessoais

dentro da comunidade escolar, seja no resultado da aprendizagem dos alunos

e até mesmo no sucesso das ações da estrutura escolar.

Ao identificarmos tal problema desenvolvemos uma pesquisa a partir de

entrevista com membros da comunidade escolar sobre questões básicas como:

Você conhece a estrutura do ensino publico onde atua?

Conhece o PPP deste estabelecimento?

Tem bom relacionamento com os alunos e suas famílias?

1 Professora da rede estadual de do Paraná. Gestora do Colégio Estadual Santo Antão - Ensino

Fundamental e Médio – Bela Vista da Caroba. Professora participante do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE/PR E-mail [email protected] 2 Professor do Colegiado de Pedagogia e do Programa de Mestrado em Educação da

UNIOESTE – Campus de Francisco Beltrão. Doutor em Educação e orientador no programa PDE. E-mail: [email protected]

Page 3: Os desafios contemporâneos da escola pública · Além das constatações explicitadas pelo autor, o cenário educativo ainda apresenta quadro deficitário no que se refere às questões

E capaz de identificar as ações das Políticas Públicas, no resultado de

seu trabalho?

Sente-se satisfeito em sua profissão?

E reconhecido pelas famílias de seus educandos?

O ambiente de trabalho oferece toda a estrutura necessária a suas

praticas?

Sente se envolvido no coletivo de seus colegas?

Busca hábitos saudáveis para descontração em tempo livre?

Afasta-se com frequência de suas atividades por motivos de saúde?

Após a aplicação deste questionário, traçamos uma linha de trabalho

buscando compreender as causas desses males, e, sobretudo, analisar as

formas de ver, pensar e sentir a educação em meio à contemporaneidade

histórica. Conforme prevê o artigo 2º da LDB:

A educação abrange os processos formativos que desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organização da sociedade civil e nas manifestações culturais (BRASIL. Lei 9394 de 1996).

Fica claro pelo disposto acima que a educação é ao mesmo tempo

direito e dever de todos, todavia a amplitude desse direito e dever, muitas

vezes, deixa um vácuo de responsabilidades, e assim, ofusca o objetivo

científico da educação que deve ser exercido dentro da escola.

Mediante o estudo da problemática apresentada ao colegiado da escola

durante as discussões referentes às nossas contribuições como agentes do

conhecimento cientifico, debatemos várias questões que dizem respeito aos

resultados de nosso trabalho. Questionamo-nos se a educação tem sido

realmente emancipatória? Para todos? De qualidade? Estamos preparados

para as adversidades rotineiras? Trabalhamos em condições dignas? Devemos

aceitar falta constante de professores vitimados por atestados, estrutura

inadequada, ausência de comprometimento familiar e social entre outros

vivenciados pelas instituições de ensino público no país?

Para debater/compreender estas questões realizamos atividades na

forma de grupo de estudos procurando respostas para nosso objeto de estudo.

A etapa teve 32 horas de duração sendo certificada pela Unioeste. Os

Page 4: Os desafios contemporâneos da escola pública · Além das constatações explicitadas pelo autor, o cenário educativo ainda apresenta quadro deficitário no que se refere às questões

encontros oportunizaram a compreensão da problemática apresentada e

propiciaram apontamentos para melhorarmos nossa prática docente, nossos

relacionamentos interpessoais, a crítica em relação aos poderes públicos,

conforme será apresentado na sequência.

A resposta a estes questionamentos foram surpreendentes. De forma

coletiva os membros da comunidade escolar perceberam o quanto estavam

alienados a um ciclo vicioso, e que durante essa alienação, se fecharam aos

avanços, e as problemáticas educacionais. Ao retomarmos nossa trajetória

histórica, foi possível visualizarmos nossas conquistas, nossos avanços, nosso

crescimento na disseminação das políticas educacionais e no ensino científico.

Todavia, percebemos que ao tempo que elevamos nosso papel em oportunizar

o conhecimento, descuidamos de questões estruturais de suma importância a

aplicabilidade e efetivação dos direitos e dos deveres implícitos nas políticas

educacionais, nas relações interpessoais e com as famílias de nossos

educandos.

Ao levantarmos questões que acometiam a estrutura do Colégio

Estadual Santo Antão, percebemos que o nível de conhecimento dos docentes

e demais membros era altíssimo. Todos os docentes pós-graduados, até com

mestrado, servidores com cursos de graduação e mesmo assim apresentavam

insatisfação e incompreensão a cerca de questões básicas, como

relacionamento entre pares e famílias dos alunos. Doenças psicossomáticas,

descontentamento em relação aos instrumentos públicos de financiamento e

suporte, enfim muitas dúvidas e questionamentos no dia a dia de sua profissão.

Percebeu-se um mal-estar geral traduzido por inúmeros atestados margeando

a casa de 18 % dos servidores ativos. Tais fatos implicam em uma série de

prejuízos acadêmicos e estruturais ao estabelecimento, bem como o

adoecimento coletivo da equipe docente.

Isto posto, desenvolvemos uma reflexão em três eixos fundamentais do

cotidiano escolar, tais como: Mal-estar docente, Políticas Públicas e o papel da

família na educação dos filhos para estabelecermos alguns denominadores

comuns e buscarmos soluções coletivas para os problemas.

Mal-Estar Docente: Desafios Atuais da Profissão

Page 5: Os desafios contemporâneos da escola pública · Além das constatações explicitadas pelo autor, o cenário educativo ainda apresenta quadro deficitário no que se refere às questões

A abordagem deste tema obriga-nos a refletir sobre a condição humana,

física e emocional do professor, em uma época histórica onde a tendência

imediata é a culpabilização do professor pelo fracasso social, moral e

econômico da sociedade. Neste contexto, assistimos a uma crise real do

individuo, do ser humano, que foi preparado para ensinar, orientar despertar

outros seres ao conhecimento, a pesquisa e a formação de novas concepções.

Essa crise, tem acometido uma grande parcela de profissionais da

educação, sejam docentes, agentes educacionais e outros, pois tais

personagens sentem, de forma direta, as adversidades que comprometem o

processo de aprendizagem, superação e emancipação do indivíduo.

Este cenário educacional é passível de compreensão pelos efeitos

contemporâneos da sociedade conforme cita Hagemeyer:

Ao refletir sobre a função do professor na atualidade, deparamo-nos com a dificuldade de combinar os muitos fatores que dizem respeito a formação humana. O contexto atual, em que os problemas político-econômicos estão aliados a vertiginosa evolução cientifica e tecnológica, reflete-se em mudanças nas formas de ser e viver dos homens em todos os níveis, desconcertando a quem tem a profissão

de ensinar/formar crianças e adolescentes (2004, p. 68).

Além das constatações explicitadas pelo autor, o cenário educativo

ainda apresenta quadro deficitário no que se refere às questões relacionadas à

saúde dos professores, funcionários e às condições de trabalho, as quais são

submetidos.

Os dados obtidos, embora não permitam respostas conclusivas,

encaminham para a necessidade de uma reflexão coletiva sobre o que pode

ser feito hoje, na escola que temos, com os recursos físicos, econômicos,

humanos e, por que não dizer legais, que dispomos para prevenir e/ou

minimizar o adoecimento do professor.

Esse estudo é definido por vários estudiosos e pesquisadores, como

Mal-Estar Docente, este por sua vez analisa as constantes causas que afastam

tantos profissionais de suas atividades trabalhistas, com uma frequência e

intensidade jamais observada antes. Hoje tantos discutem a educação, a

metodologia utilizada, fala se sobre os sujeitos da educação e da necessidade

da construção de um projeto-político-pedagógico da escola. Porém, pouco ou

quase nada se fala do “trabalhador” que viabiliza o sucesso ou o fracasso de

todas as políticas e metodologias propostas, desde a organização dos espaços

Page 6: Os desafios contemporâneos da escola pública · Além das constatações explicitadas pelo autor, o cenário educativo ainda apresenta quadro deficitário no que se refere às questões

escolares a qualidade educacional. Em estudo relacionado com o mal-estar,

Esteve analisa, que

(...) essa expressão tem sido usada para designar os efeitos permanentes de caráter negativo que afetam a personalidade do professor, como resultado das condições psicológicas e sociais em que se exerce a docência. É, portanto o termo que tem nomeado o complexo processo no qual professores expressam suas marcas subjetivas e corporais produzidas no processo de trabalho, suportado a custa de desgaste e sofrimento. Tem modalidades como a inibição e o denominado “recurso de rotina” que são consideradas formas de cortar a implicação pessoal com a docência e eliminar as tensões provenientes dela. (1999, p. 39).

A autora observou que estudos realizados sobre o trabalho docente em

diversos países têm apontado para fatores como a intensificação do trabalho,

com o aumento de responsabilidades e exigências, que estão coincidindo com

um processo histórico de rápidas transformações do contexto social e

econômico. Tais transformações têm provocado modificações no papel desses

profissionais, implicando em fonte importante de mal-estar para muitos deles,

uma vez que não têm sabido ou, simplesmente, não têm aceitado acomodar-se

às novas demandas do sistema educacional.

A cada dia torna-se maior a exigência sobre o profissional que atua na

área da Educação. Com as mudanças ocorridas na sociedade, como a

democratização do ensino, os avanços tecnológicos, as mudanças na estrutura

familiar e com a saída da mulher para o mercado de trabalho, muitas das

funções educativas acabaram sendo transferidas para a escola, acarretando

maior responsabilidade para os professores. Essa nova forma de perceber a

sociedade contemporânea, parece natural e moderna, todavia, numa

concepção histórica, não tivemos esse sucesso no campo educacional quanto

ao desempenho escolar, qualidade educacional, relações interpessoais e por

fim, empenho do sistema nas ações políticas e educacionais.

Dentro de uma concepção histórica, o Mal-Estar docente, é descrito

como uma consequência da escola “moderna”, onde o estado mínimo transfere

à comunidade escolar a responsabilidade pelos fracassos e sucessos que a

educação possa apresentar no contexto social.

Essa transferência de papéis ou omissão de responsabilidades é sentida

diretamente pelos executores da ação social educadora; professores e

funcionários. Dentre elas destacamos:

Page 7: Os desafios contemporâneos da escola pública · Além das constatações explicitadas pelo autor, o cenário educativo ainda apresenta quadro deficitário no que se refere às questões

Constante necessidade avaliativa do sistema, uma forma de pressionar

o profissional e responsabilizá-lo pelo insucesso do sistema educacional;

O estado controlador, que limita e distorce a identidade pedagógica do

estabelecimento;

A inovação tecnológica;

A inversão social da prática docente, onde o professor deixou de ser a

estratégia de ensino e passou ser a expectativa de aprendizagem.

A insuficiência das Políticas Públicas;

A demanda de informação disponibilizada através da era digital.

Mediante estes indicativos, e pela a falta de acompanhamento humano

nas ações profissionais dos servidores da educação, tem contribuído para

aumentar as situações de adoecimento desses profissionais. As causas são

fisiológicas, psicológicas e físicas, todas com os mesmos efeitos, a exaustão

produtiva desses servidores ao ponto de afastá-los de suas atividades

rotineiras.

Em nosso estudo junto do colegiado do Colégio Santo Antão,

conseguimos identificar as causas que levam a inúmeros atestados, doenças

psicossomáticas e a insatisfação pessoal vivenciada entre os servidores da

educação. Assim sendo, traçamos metas para erradicas as causas

apresentadas, como: trabalho em equipe, formação continuada nas áreas

tecnológicas, estudo sobre as politicas públicas e maior interação com os

familiares de nossos alunos, para que, no coletivo, possamos dividir

responsabilidades e somarmos esforços em torno do sucesso pedagógico dos

alunos.

Políticas Públicas e Educação

A Educação é de responsabilidade da família e do estado conforme

determina a Constituição Federal de 1988 e a LDB de 1996. Todavia, a

efetivação das ações educacionais de atendimento e interesse público e social

é de responsabilidade do estado, da união e dos municípios. Esse conjunto de

meios que instituem, legalizam, financia e mantém a educação em todas as

hierarquias são chamadas de Políticas Públicas Educacionais.

Política pública é uma expressão que visa definir uma situação

específica da política. Conforme Shiroma, Morais e Evangelista (2011), a

Page 8: Os desafios contemporâneos da escola pública · Além das constatações explicitadas pelo autor, o cenário educativo ainda apresenta quadro deficitário no que se refere às questões

melhor forma de compreendermos essa definição é partirmos do que cada

palavra, separadamente, significa. Política é uma palavra de origem grega,

politikó, que exprime a condição de participação da pessoa que é livre nas

decisões sobre os rumos da cidade, a polis. Já a palavra pública é de origem

latina, publica, e significa povo, do povo.

A discussão e implementação das politicas educacionais visam atender

as especificidades do sistema, emancipar social e culturalmente a população, e

prover a responsabilidade constitucional com o social e coletivo. Assim

constantemente as ações governamentais as quais denominamos Políticas

Públicas, precisam ser redimensionadas de acordo com a necessidade social,

política, econômica e cultural da população. Também são estas ações que

traduzem a ascensão social da população aos olhos dos órgãos de controle

internacionais como BANCO MUNDIAL, UNESCO, etc., assim sendo além da

atenção interna com o social, o governo deve manter o sistema para se manter

na hierarquia econômica mundial.

Numa dimensão histórica, entende-se por Políticas Públicas

Educacionais aquelas que regulam e orientam os sistemas de ensino,

instituindo a educação escolar de acordo com sua lei. A educação se

desenvolveu acompanhando o desenvolvimento do próprio capitalismo, e

chegou na era da globalização resguardando um caráter mais reprodutivo, haja

vista a redução de recursos investidos nesse sistema que, tendencialmente

acontece nos países que implantam os ajustes neoliberais, ou seja, que estão

a serviço do capital.

Percebe se através dos índices apresentados pelos órgãos internos

reguladores como IDEB, Prova Brasil, Saep, Saeb entre outros que ainda

demanda implementar mais Políticas Educacionais de investimento, e

estruturação do sistema educacional. Estas, por sua vez, se bem aplicadas,

possibilitariam formação continuada aos profissionais, remuneração digna,

estruturas físicas adequadas, locomoção aos alunos, profissionalização, além

de uma ampla reforma curricular que permita a integralidade do aluno à

sociedade.

Essa insuficiência de recursos afeta a educação em todos os níveis,

desde as creches ao ensino superior, e interfere de maneira direta no

crescimento social da população.

Page 9: Os desafios contemporâneos da escola pública · Além das constatações explicitadas pelo autor, o cenário educativo ainda apresenta quadro deficitário no que se refere às questões

Após a compreensão acerca desta problemática como objeto de estudo,

constatamos, pela maioria das respostas obtidas via questionários que a

insatisfação profissional, falta de estrutura física e de pessoal e a insuficiência

de recursos financeiros, comprometem as ações rotineiras dos servidores

educacionais. Os espaços inapropriados, insuficientes, falta de incentivo à

pesquisa, formação continuada e salários não dignos são os indicadores que

levam ao adoecimento fisiológico dos servidores e, por consequência os

afastam de suas atividades.

Cientes de que não podemos de forma rápida e imediata resolver

questões de tamanha complexidade, buscamos alternativas junto a APMF e

Conselho Escolar para resolver questões pontuais que melhoram a estrutura

física e, por consequência os ambientes como: ar condicionado nas salas,

aquisição de livros para pesquisa e material de laboratório, através de recursos

estaduais e federais, onde os próprios professores, em conjunto com alunos

escolhem os materiais que melhoram sua prática. São necessárias ações que

promovam o envolvimento amplo com a comunidade, para juntos, propormos

ações de enfrentamento aos problemas que demandam iniciativas financeiras,

como melhoria física do ambiente escolar.

Elencadas as prioridades, reunimos os segmentos da comunidade e

definimos o prazo de seis meses ou dezembro de 2014, como referência para a

primeira etapa de prioridades a serem efetivadas. Destacamos que 80% delas

já se concretizaram.

A IMPORTANCIA DA FAMILIA NA EDUCAÇÃO DOS FILHOS

É imprescindível que as crianças, para se tornarem cidadãos instruídos,

precisam de uma boa formação escolar. Isso é possível quando se encontram

com professores empenhados em transmitir o que sabem, para desenvolver no

aluno o desejo de saber, a curiosidade e a investigação.

Para sacramentar este interesse nos adolescentes e jovens é necessário

uma caminhada cultural por parte da família nas ações educativas promovidas

pela escola. É preciso que os pais sintam-se familiarizados como o cotidiano

escolar, não apenas quando chamados por adversidades, como

comportamento, notas, indisciplina, enfim para resolver problemas.

Page 10: Os desafios contemporâneos da escola pública · Além das constatações explicitadas pelo autor, o cenário educativo ainda apresenta quadro deficitário no que se refere às questões

Como destaca Estevão (2003), a participação dos pais nas escolas não

deve ser encarada como sendo debilidade, último recurso quando as coisas

não andam bem (mau comportamento ou notas baixas), ou necessária apenas

nos eventos festivos promovidos pelas escolas. A interação deve ser encarada

como sendo uma possibilidade de enriquecimento mútuo e de ampliação do

espaço democrático na escola.

Assim sendo a escola deve se por como parceira das famílias e não

agindo como um órgão fiscalizador.

Segundo a psicanálise, a escola representa um lugar de emancipação

da criança a respeito de seu grupo familiar, onde a criança vai poder estar e

falar com outros, além de seus pais.

Sendo um campo onde ela estabelece outros laços que lhe possibilitam

receber recursos que poderá utilizar no futuro: com outros semelhantes, na

escolha de profissão, etc. Dito isso, fica claro que a escola propicia a

socialização da criança, mas, é a família e sua função um dos maiores

responsáveis pela educação e desenvolvimento dos filhos. Até para que a

Educação pedagógica possa ser efetivada, para que ela tenha eficácia,

depende da estrutura familiar do aluno. Quando a família valoriza os estudos e

a aprendizagem, estimula no filho o mesmo. O interesse dos pais no que seus

filhos produzem, aprendem, faz com que eles (filhos) sintam-se valorizados em

relação ao que fizeram.

Mediante o exposto, e de posse dos questionários que embasaram a

pesquisa, discutimos com o grupo, se esses valores de família estão realmente

presente na vida escolar de nossos alunos? Se as dificuldades pontuadas

como Mal-Estar Docente, entre outras estão agravadas pela omissão da família

na educação dos filhos.

É fato que os valores morais, sociais e culturais passaram por

significativas modificações, bem como hábitos e costumes. A

contemporaneidade através de seus novos costumes levaram as mulheres ao

mercado de trabalho, e estas inserções sacudiram paradigmas sociais,

historicamente instituídos, como a educação dos filhos como de

responsabilidade da mãe.

Como as mães passaram a assumir responsabilidades que antes eram

atribuídas aos pais, estes tiveram que dividir a responsabilidade de educar e

Page 11: Os desafios contemporâneos da escola pública · Além das constatações explicitadas pelo autor, o cenário educativo ainda apresenta quadro deficitário no que se refere às questões

acompanhar os filhos. No entanto, essa responsabilidade passou a ser

meramente formal, pois na prática, observa-se uma lacuna na formação das

crianças, visto que nem mãe, nem pai, estão cumprindo sua parcela de

acompanhamento na vida escolar das crianças e adolescentes. Além disso, a

situação se agrava com a oferta deliberada de tecnologia, de informação, de

curiosidades que tornam tudo atrativo, menos o ato de estudar.

Vivemos hoje num “Fordismo Virtual”, onde crianças e adolescentes se

tornam massificados pelo consumismo tecnológico, e a propagação do ócio

alienatório. É evidente que a atração pelo estudo fica comprometida, uma vez

que o ato de ensinar obedece alguns critérios, que aos olhos das crianças e

adolescentes é obsoleto. A partir dai surge um estágio de desinteresse, apatia,

por tudo que se relacione a educação, como a escola, a aprendizagem, o

professor. Essa intolerância é manifestada pelos alunos, muitas vezes de forma

agressiva, contribuindo com a violência na escola, ou pelo afastamento desse

aluno dos bancos escolares, o que chamamos evasão escolar.

Qualquer uma das causas apontadas anteriormente contribui para a

precarização educacional no campo social, como a omissão das famílias no

processo educativo dos filhos. Assim sendo, mediante o exposto analisamos

com o grupo a real situação de nosso estabelecimento, identificando causas

relevantes que resultam da omissão de algumas famílias na educação de seus

filhos, bem como estabelecemos estratégias de ação, que implícitas no PPP e

regimento escolar, possibilitem uma mudança nos métodos utilizados nas

práticas docentes e nas relações interpessoais. Dentre elas elencamos:

eventos de participação coletiva de pais, mães e adolescentes; maior atenção

a esta faixa etária compreendida entre os 11 e 16 anos, que se encontram no

vácuo da atenção em vários setores como saúde, comércio, formação etc.

Necessidade de preparação por parte da escola para compreender o jovem

contemporâneo, incentivo a leitura, escrita, oralidade inclusive das famílias dos

alunos, para que possam compreender o funcionamento da escola, parceria

com as redes de apoio, como: saúde, assistência social, comércio e poderes

públicos para a inserção de jovem em programas de qualificação.

As ações apontadas passarão a compor o plano de ação da escola e

estão previstas para serem realizadas em 2 anos.

Page 12: Os desafios contemporâneos da escola pública · Além das constatações explicitadas pelo autor, o cenário educativo ainda apresenta quadro deficitário no que se refere às questões

Análise da Intervenção na Escola

Ao retornarmos à escola depois de identificar seus pontos frágeis

percebemos novas formas de ver nosso trabalho docente, o comportamento

discente, a participação das famílias e por fim compreender a estrutura do

sistema educacional brasileiro vivenciado pela escola pública nesse momento

histórico, onde os valores, hábitos e até mesmo a estrutura familiar da

população passa por uma brusca transformação.

O processo de intervenção foi orientado a partir dos cinco passos da

Pedagogia Histórico-Crítica, conforme orientações de Gasparin (2011), prática

social inicial, problematização, instrumentalização, catarse, prática social final.

Essa metodologia possibilitou um envolvimento coletivo de todos os segmentos

da comunidade escolar, bem como apontamentos de pontos comuns sobre

ângulos distintos. Nesta perspectiva tivemos o primeiro apontamento de uma

crise, pois buscávamos consenso onde deveríamos respeitar a diversidade de

opiniões, ideias, sugestões. Chegar ao denominador comum foi à primeira

tarefa e permitiu reescrevermos um novo ponto de partida para unirmos

esforços e buscarmos o bem estar da comunidade escolar considerando que a

realidade escolar parte da diferença.

Nos primeiros encontros percebemos que todos, sem distinção,

buscavam culpados, esperávamos soluções prontas. Perceber este perfil foi

difícil, pois somos culturalmente resistentes à autoavaliação. Todavia, de forma

progressiva fomos redimensionando nossos ranços, nossos paradigmas

ultrapassados, e, por fim a aceitação da mudança. Neste momento da

intervenção foi possível identificarmos de forma clara a fragilidade de nossas

ações, a importância do diálogo, do conhecimento da estrutura da escola,

como PPP, Regimento Escolar, Proposta Curricular, a constituição e o Estatuto

da Criança e Adolescente, das Politicas Públicas Educacionais, da realidade da

comunidade escolar e de seus alunos. Enfim sentimos que, embora

diariamente no chão da escola, somos indiferentes a sua constituição em todos

os segmentos: humanos, estruturais, financeiros, legais etc., e essa falta de

informação, dificulta nossa compreensão de questões básicas de gestão do

sistema educacional, escolar, pedagógico e humano de nossa comunidade

escolar.

Page 13: Os desafios contemporâneos da escola pública · Além das constatações explicitadas pelo autor, o cenário educativo ainda apresenta quadro deficitário no que se refere às questões

Este THOUR holístico permitiu elencar uma série de ações pontuais. Em

um dos encontros definimos e na sequência realizamos ações de extensão

como:

Acompanhar o roteiro do transporte escolar (esta ação destina-se ao

conhecimento das dificuldades dos alunos em chegar à escola, conhecer suas

condições econômicas, distâncias de suas casas até a escola, o tempo gasto

para o deslocamento, o que dificultava a visita dos pais à escola).

Vivenciamos a experiência de nos colocar na situação de alunos; ficando

o tempo do aluno em sala com atividades maçantes para testarmos nosso nível

de apropriação.

Propusemo-nos a mudar hábitos rotineiros, como alimentação, atividade

física;

Realizamos uma dinâmica de autoavaliação, onde a professora PDE,

visitou as famílias sem o conhecimento dos membros do grupo de estudos, e

as mesmas indicavam um objeto, um pertence ao até mesmo um fato peculiar

a cada um. Na sequência a professora PDE, iniciou a dinâmica com um dos

objetos a fim de que os demais identificassem qualidades ou referencias que

traduziam o perfil do colega. A dinâmica foi fantástica, pois nos ajudou a

perceber que éramos muito alheios aos nossos colegas, não identificávamos

suas fragilidades, suas necessidades, suas virtudes e, por consequência que a

insensibilidade da ignorância afetava a relação diária.

Também oportunizamos que os familiares dos alunos pudessem situar-

se na vida de seus filhos, (alunos do estabelecimento), quanto a sua

importância no caminho educacional percorrido pelos mesmos, no campo

afetivo e perante a sociedade, a dinâmica foi realizada por testes psicotécnicos

assistidos e orientados por uma psicóloga que faz parte da rede de proteção da

escola. O resultado foi fantástico. Os pais revelaram um sentimento alheio ao

nosso trabalho, revelaram sentir-se obsoletos na vida dos filhos, ultrapassados,

caretas e desvalorizados. Após tal constatação realizamos um trabalho em

parceria com a equipe pedagógica da escola durante as reuniões de pais onde

enfatizamos a importância dos mesmos na educação e sucesso acadêmico de

seus filhos. Enfatizamos que o trabalho da escola só será promissor com a

Page 14: Os desafios contemporâneos da escola pública · Além das constatações explicitadas pelo autor, o cenário educativo ainda apresenta quadro deficitário no que se refere às questões

ajuda dos pais e que somos uma grande equipe, pais, escola, professores e

alunos.

Por fim conseguimos amenizar parte das angústias que alteravam o

resultado final de nossas ações.

Estudar nossa própria realidade foi um fato novo oportunizado através

do Programa de Desenvolvimento Educacional PDE. A participação no

Programa possibilitou uma análise criteriosa de nossa prática gestora frente ao

Colégio Estadual Santo Antão. Assim ao identificarmos no coletivo nossas

fragilidades, nossas angústias, insatisfações, nossas possibilidades, nossa

força perante a comunidade escolar qualificamos nossa ação educativa. No

inicio a sensação de fracasso era eminente, pois trabalhávamos apenas com

os pontos negativos, todavia, ao questionarmos o que realmente era negativo,

se havíamos feito algo para melhorarmos como pessoa e profissionalmente,

qual o nível de conhecimento da estrutura de ensino público e da escola,

abriram um vasto horizonte de estudos.

Percebemos que também figurávamos como agentes do fracasso. Que

também não buscávamos a compreensão de nossa angústia, que a ignorância

em torno das políticas educacionais e até mesmo do PPP da escola,

favoreciam a fadiga, enfim, percebemos no coletivo, que éramos o instrumento

de mudança, que precisávamos agir em equipe, pois só assim poderíamos

superar, ou amenizar as questões que estavam provocando o adoecimento da

equipe.

Ao oportunizar o estudo sobre as políticas educacionais, sobre os males

que desenvolvemos e, por fim, que também contribuímos pela omissão das

famílias no processo educacional dos filhos, foi possível amenizar a

insatisfação, visualizar oportunidades de mudança nas formas de ver, pensar e

agir frente ao processo educacional.

Sentimos a APMF, mais presente, a participação do Grêmio estudantil

constante e parceira, e os pais valorizados e nós educadores, com a certeza de

figurarmos no caminho certo.

Considerações Finais

A instrumentalização da realidade como objeto de estudo, foi possível

pela proposta de formação continuada dento dos moldes do Programa de

Page 15: Os desafios contemporâneos da escola pública · Além das constatações explicitadas pelo autor, o cenário educativo ainda apresenta quadro deficitário no que se refere às questões

Desenvolvimento Especializado-PDE. A oportunidade de ver a escola do ponto

de vista diagnóstico possibilitou a instrumentalização da pesquisa, levando a

escola novamente a universidade através das problemáticas apresentadas,

Assim os agentes educacionais e comunidade escolar tiveram a oportunidade

de assumir a função de agentes de sua própria pesquisa, identificando

pontuando e apontando as possíveis soluções. Tal prática sacudiu a zona de

comodidade e conformismo vivenciada pela instituição de ensino, bem como a

abolição dos jargões que o governo e culpado de tudo, e que somos vítimas do

sistema.

Atuar como protagonistas desta mudança importa em resinificar nosso

papel de agentes transformadores da sociedade e formadores de opiniões, fato

que se ofuscou pela transformação da sociedade, todavia pertinente ao ato de

ensinar.

Atualmente vivemos uma ampla autonomia de ações no espaço escolar.

A gestão democrática deu bandeira a uma nova forma de construção e

fortalecimento das ações educacionais no chão da escola. Cabe a nós

educadores, militar em torno de nossos ideais, desenvolvermos a criticidade de

nossa prática e, por fim, permitir o envolvimento de todos no processo

educacional.

A análise das políticas educacionais leva-nos ao entendimento e a

compreensão do sistema educacional. Para tanto, precisamos promover

encontros de estudos, de leitura de textos e documentos oficiais para termos

condições de fazermos uma análise crítica da realidade. O autodiagnóstico das

causas de doença possibilitou a identificação dos males dentro do meio

docente, e assim desenvolver estratégias de prevenção, como diálogo, hábitos

diversificados e saudáveis, autocontrole etc. e, por fim a aceitação de que os

alunos são fruto do meio em que vivem e cabe a nós mediar sua emancipação

social, cultural e humana. Mas, para isso precisamos envolver as famílias e, ao

mesmo tempo, aceitar seu nível de limitação nesse processo.

REFERENCIAS

BRASIL. Constituição Federal – 1988. Brasília: Câmara dos Deputados, 1994.

Page 16: Os desafios contemporâneos da escola pública · Além das constatações explicitadas pelo autor, o cenário educativo ainda apresenta quadro deficitário no que se refere às questões

BRASIL. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, Lei 8069 de 13 de julho de 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm Acesso em 25/10/2014.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/96). Brasília: MEC, 1997. Disponível em: http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/anotada/2703999/art-13-da-lei-de-diretrizes-e-bases-lei-9394-96 acesso em 10 de junho de 2013.

BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 1997.

ESTEVÃO, C. Escola e Participação: o lugar dos pais e a escola como lugar do cuidado. Ensaio, vol. 11, nº 41, 2003.

ESTEVE, J. M., O Mal-Estar Docente: a sala de aula e a saúde dos professores. Bauru-SP: Edusc, 1999.

GASPARIN, João Luiz, Uma Didática Para a Pedagogia Histórico Critica. 5 ed. rev. Campinas-SP: Autores Associados, 2011.

HAGEMEYER, R. C. Dilemas e desafios da função docente na sociedade atual: os sentidos da mudança. Curitiba: Editora UFPR, 2004. Disponível em <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/educar/article/viewFile/2209/1852> Acesso em 22 de maio de 2013.

PARANÁ. Colégio Estadual Santo Antão Regimento Interno. Bela Vista da Caroba, 2008.

PARANÁ. Colégio Estadual Santo Antão. Projeto Político Pedagógico. Bela Vista da Caroba, 2011.

SHIROMA, Eneida Oto, MORAIS, Maria Célia Marcondes; EVANGELISTA Olinda. Política Educacional. 4. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2011.