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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 2016. 6. 10. · Leitura e adaptação das fábulas de La Fontaine a Lobato Ineide Ruiz Galdona1 Deise da Silva Guttierres2 Resumo

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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Leitura e adaptação das fábulas de La Fontaine a Lobato

Ineide Ruiz Galdona

1

Deise da Silva Guttierres

2

Resumo Este artigo é resultado de um trabalho desenvolvido acerca do gênero textual fábulas, com o objetivo principal de compreender e interpretar fábulas através da leitura, percebendo as diferentes possibilidades de comunicação e situações sociais relacionadas ao conteúdo, verificando o objetivo e a intencionalidade de quem o produz. As ações propostas para esse trabalho estimularam e desenvolveram o potencial dos alunos para uma leitura agradável, cheia de sentidos e capaz de aproximar animais ou seres inanimados (em apólogos) ao universo humano. Assim, a leitura conquistou um espaço relevante e consistente no dia a dia de nossos educandos. Através da apreciação das fábulas, os alunos se interessaram mais pela leitura. Também contribuíram para levar o aluno a se expressar de forma clara e coerente, refletindo no sucesso da produção de texto. Concomitante ao desenvolvimento do projeto, também ocorreu a realização do GTR (grupo de estudos em rede- SEED-PR) em que o foco de estudo foi a implementação desse projeto. Assim, as contribuições do grupo foram de extrema relevância para o fortalecimento da implementação, o que também socializou suporte para a prática pedagógica de outros profissionais interessados na temática.

Palavras chave: Fábulas; Leitura; Adaptação.

1-INTRODUÇÃO

O presente artigo faz parte do Programa de Desenvolvimento Estadual-

PDE, da Secretaria Estadual de Educação do Estado do Paraná, ano 2014. O

programa de estudo é ofertado aos professores da rede pública do Estado do

Paraná, com duração de dois anos. O PDE é uma política pública de Estado

regulamentado pela Lei Complementar nº130, de 14 de julho de 2010 que

estabelece o diálogo entre os professores do ensino superior e os da educação

básica, através de atividades teórico-práticas orientadas, tendo como resultado

a produção de conhecimento e mudanças qualitativas na prática escolar da

escola pública paranaense. O objetivo do PDE é proporcionar aos professores

da rede pública estadual subsídios teórico-metodológicos para o

desenvolvimento de ações educacionais sistematizadas, e que resultem em

redimensionamento de sua prática.

O artigo em questão constitui-se na última etapa do programa,

evidenciando as discussões e resultados do estudo, bem como as

1 Ineide Ruiz Galdona, profª no Colégio Estadual Tancredo de Almeida Neves, Foz do Iguaçu.

2 Deise da Silva Guttierres

2, mestre em Línguística e Língua Portuguesa, UNIOESTE, Foz do

Iguaçu,PR.

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contribuições dadas a proposta pelo grupo de estudos-GTR do mesmo

programa, durante a implementação. -

a da Rede Estadual de Ensino em turma do sétimo ano do Ensino

Fundamental no Colégio Estadual Tancredo de Almeida Neves em Foz do

Iguaçu.

As ações de implementação do projeto foram pensadas a partir da

problemática existente, algo que nos chamava a atenção para refletir prática e

propor uma intervenção. Assim, as aulas de leitura em sala de aula, sempre

geram conflitos, pois os alunos sentem-se pressionados a desenvolver estas

leituras. Embora estejamos no Séc.XXI, momento em que os saberes virtuais

ganharam muito espaços, e a tecnologia levam nossos estudantes a

conhecimentos diversificados, mesmo assim, devemos incentivá-los à leitura

efetiva e de maneira crítica, para que sintam a necessidade dos saberes

múltiplos.

Refletindo sobre a questão dos conflitos gerados a partir das propostas

de leitura, pensamos em um projeto que envolvesse os educandos de maneira

que, ler não representasse uma avaliação ou uma obrigação. Para tanto,

usamos estratégias que levaram o educando a ler sem perceber alguma

obrigatoriedade, uma vez que o gênero fábula é de muita aceitação, sendo

possível a compreensão pelo caráter simples e por envolver animais no

enredo. Isso torna o discurso suave e agradável, mesmo abordando temas

mais complexos e rudes. Escolhemos as fábulas de Esopo, La Fontaine e

Monteiro Lobato para realizar as ações, compondo uma Unidade Didática.

A partir da implementação das ações previstas no projeto, percebemos

um diferencial em nossa metodologia de trabalho, pois, abordar a leitura sem

motivo de mensurar algo, foi muito mais gratificante. Intencionou-se

desenvolver diferentes possibilidades de comunicação através da leitura de

fábulas, abrindo novos entendimentos e reconhecimento de atitudes como a

solidariedade, a justiça social, contra a ganância, o autoritarismo, o espírito de

vingança e a vaidade.

Dessa forma, refletindo nas atitudes de nossos educandos, conseguindo

reconhecer a importância de ler por prazer, realizando as devidas

interpretações. Esse aspecto também obteve a contribuição das discussões do

GTR, no qual os colegas professores sugeriam, discutiam e apresentavam

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outras possibilidades a partir de nossa proposta, servindo também de subsídios

para a prática pedagógica de outros profissionais.

2- A LEITURA E O GÊNERO FÁBULAS

O incentivo à leitura tem sido motivo de grande preocupação entre os

educadores, pois sabemos que bons leitores são também bons escritores.

Gostar ou não de ler e por que isso acontece? O professor esforça-se em

estimular os alunos para que sintam prazer ao ler? As aulas de leitura são

motivadoras e dinâmicas? As aulas de leitura se dão como Silva coloca:

A leitura deve ser vista como uma das conquistas da espécie humana em seu processo evolutivo de hominização. [...] toda sociedade, nas suas diferentes etapas evolutivas, produz uma memória cultural e a leitura vem a ser um dos instrumentos para conhecimento e transformação dessa memória, isto é, das ideias, instrumentos e técnicas produzidos e conservados pelo homem. SILVA (1983, p. 22)

A apropriação da leitura se dá através da relação racional entre o

indivíduo e o mundo que o cerca e com isso haverá o domínio e a qualificação

do mesmo. Ao realizarmos uma leitura é importante saber o lugar e o tempo

em que o texto foi escrito para uma melhor compreensão do mesmo.

De acordo com Alliende e Condemarín, (2005, p.116) a leitura é uma

grande fonte de enriquecimento do vocabulário. A pessoa que lê habitualmente

sempre está aprendendo palavras novas por meio de indícios proporcionados

pelo contexto, por explicações e definições contidas nos textos escritos.

Marcuschi (2002,p.35) considera o trabalho com gêneros textuais “

oportunidade de se lidar com a linguagem em seus mais diversos usos

ê ”. O autor entende que, nada do que fizermos

linguisticamente está fora de ser feito em algum gênero, estudá-los em sala de

aula é a oportunidade de se lidar com a língua nos seus mais diversos usos do

cotidiano, promovendo o incentivo no processo de aprendizagem, na

competência de leitura de forma a despertar a criticidade do aluno.

Sendo assim, dá-se grande importância a Leitura, devido a realidade

contemporânea ser manipulada pelos meios de comunicação, pois para a

sociedade vale como verdade apenas o que está na mídia. Em consequência

disso, num olhar mais cuidadoso deve ser lançado sobre a leitura,

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proporcionando aos educandos condições de leitura capaz de torna-los críticos

diante de tantas inovações.

Para Bakhtin (1992) as atividades humanas estão relacionadas com a

utilização da língua, contudo, ele afirma que não existe uma unidade na sua

utilização, mas que com a utilização em forma de enunciados (orais e escritos)

concretos e únicos a comunicação na esfera humana se torna possível. Cada

enunciado é uma composição, onde o conteúdo, o estilo e a construção se

fundem especificando a comunicação.

Kleiman (1999) reitera que é necessário integrar a leitura nos projetos de

modo significativo e demonstra que:

Numa sociedade complexa, a tecnologia da escrita permeia todas as instituições e relações sociais e determina até modos de falar sobre os assuntos e sobre os textos moldados ao longo dos tempos pela influência da palavra escrita. Uma palestra, um debate político, uma entrevista na televisão são gêneros orais de instituições profundamente afetadas pelo impacto social do sistema escrito (KLEIMAN, 1999, p. 57).

Com isso, as DCEs3 consideram que a formação do sujeito leitor é um

ato dialógico, interlocutivo, onde o leitor apresenta um papel ativo no processo

da leitura e, enquanto coprodutor, procuras pistas formais, formula e reformula

hipóteses, aceita ou rejeita conclusões e usa estratégias com base em seu

conhecimento linguístico e na sua vivência social (DCE/PARANÁ, 2008).

Observando as considerações e orientações das DCEs, é de bom senso

que os educadores pensem em como proporcionar a Leitura aos educandos de

maneira que façam uso da mesma na construção de sua história, como sujeito-

autor, refletindo com criticidade sobre sua própria existência e do mundo que o

cerca.

De acordo com os conceitos bakhtinianos, há diversas perspectivas de

estudo da língua por existirem diferentes vozes sociais que manifestam

opiniões diferenciadas e a palavra se manifesta como produto da relação viva

entre as diferentes forças sociais.

Ao problematizar e definir os gêneros do discurso, Bakhtin (1992)

declara:

A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual da atividade humana é inesgotável, e cada esfera

3 DCEs: Diretrizes Curriculares Educação Básica do Paraná, disciplina de Arte. SEED-

Secretaria Estadual do Paraná-2008

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dessa atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa. [...] A língua penetra na vida através dos enunciados concretos que a realizam e é também através dos enunciados concretos que a vida penetra na língua (BAKHTIN, 1992, p. 281-282).

Conforme o excerto acima, muito bem exposto por Bakhtin, a língua

penetra na vida dos leitores através dos enunciados concretos e, as fábulas

podem ser a primeira experiência de leitura de alguns educandos. Da mesma

forma também é preciso dentro desses gêneros explorarem a linguagem

selecionada e outros aspectos que podem auxiliar na compreensão do

contexto.

Sobre a compreensão do uso da Língua, Rojo (2005) atesta que:

As marcas linguísticas devem ser abordadas no trabalho com os gêneros, para que o aluno compreenda os usos da língua e os sentidos estabelecidos pela escolha de um ou de outro elemento linguístico. Estas marcas linguísticas apresentam traços de posição enunciativa do locutor e da forma composicional do gênero ROJO 2005, p.196).

Neste contexto, cabe ao professor de língua portuguesa propiciar a

leitura e a discussão de textos de diferentes esferas sociais, incluindo suas

interações com textos escritos, falados e expressos em outras linguagens

(DCEs, 2008). A leitura de diferentes gêneros de textos garante o envolvimento

dos sujeitos nas práticas discursivas, contribuindo para que sejam alteradas

suas condições e seus aspectos social, psíquico, cultural, político, cognitivo,

linguístico e econômico. Alguns gêneros são adaptados e transformados de

acordo com as necessidades humanas e sua cultura.

Assim, percebe-se a grande importância que a leitura tem na formação

do educando e, posteriormente na sua formação como cidadão, sujeito de sua

história. Por isso, o gênero fábula vem fortalecer as práticas de ensino e

incentivo à Leitura, por apresentar-se como uma historinha ingênua e

aparentemente sem grau de seriedade. O Gênero fábula já existe desde

nossos primórdios, o que nos garante grande segurança, pois pode ter sido o

início de grandes narrativas.

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A fábula4 é um gênero narrativo que surgiu no Oriente, mas foi

particularmente desenvolvido por um escravo chamado Esopo, que viveu no

Século 6º a.C., na Grécia Antiga.A fábula faz parte da tradição de literatura oral

e, apesar de ter surgido há quase dois mil anos, continua um gênero

desenvolvido atualmente, na literatura escrita. Muitos escritores recriaram

velhas fábulas dando-lhes novos finais ou novos significados.

As fábulas demonstram aparência pueril, mas servem como um envelope para

transmitir verdades importantes, conforme escreveu La Fontaine. As fábulas

são utilizadas, ao longo dos anos, como uma forma muito especial de passar

ensinamentos. Com este recurso podemos ensinar as crianças da melhor

maneira que existe: despertando a curiosidade e o interesse. Com isso, pode-

se mudar a realidade quanto à formação de leitores, baseados nos problemas

do menor lugar que a leitura tem no cotidiano dos brasileiros.

Na Literatura, fábula é uma composição literária em que os personagens

são geralmente animais, forças da natureza ou objetos, que apresentam

características humanas, tais como a fala, os costumes, etc. Estas histórias são

geralmente feitas para crianças e terminam com um ensinamento de caráter

instrutivo.

Ao lermos um texto, colocamos em ação todo o nosso sistema de

valores, crenças e atitudes que refletem o grupo social em que se deu nossa

sociabilização primária, isto é, o grupo social em que fomos criados.

Segundo Zilberman, (1985,p.17) a escola tem a oportunidade em

transformar o indivíduo habilitado à leitura em um leitor, ou não, o que pode

reverter no seu contrário. Isso nos leva a crer que se a criança foi alfabetizada

de maneira insatisfatória, pode afastar-se de qualquer leitura, mas, sobretudo

dos livros, devido experiências didáticas que deseja esquecer.

A apropriação da leitura se dá através da relação racional entre o

indivíduo e o mundo que o cerca e com isso haverá o domínio e a qualificação

do mesmo. Ao realizarmos uma leitura é importante saber o lugar e o tempo

em que o texto foi escrito para uma melhor compreensão do mesmo.

4 Fábula: de acordo com o Dicionário Aurélio Júnior, p.409, FÁBULA: s.f. 1. Narração

alegórica cujas personagens são, geralmente animais, e que encerra lição moral: Uma das fábulas mais conhecidas do escritor é ‘O b ’. 2. F ou fato que só existe na imaginação, irreal; lenda, ficção: Tudo o que lhe contaram é fábula; não aconteceu.

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Para que o educando entendesse melhor o gênero, abordou-se a

interpretação e a compreensão da moral da história existentes nas fábulas, o

que nos traz muitos ensinamentos, o subentendido, a mensagem subliminar, o

que depende de um bom trabalho de interpretação. O que se pode constatar

nas afirmações de Alliendi e Condemarín (2005):

A compreensão ou habilidade para entender a linguagem escrita constitui a principal meta da leitura. Isso implica num processo de pensamento multidimensional que ocorre nos limites da interação entre o leitor e o texto e o contexto. Para que isso possa acontecer, os leitores devem estabelecer relações entre os seus conhecimentos prévios e a nova informação que o texto lhe dá, fazer inferências, estabelecer comparações e formular perguntas relacionadas com o

seu conteúdo. (ALLIENDI e CONDEMARÍN .2005, p.111)

A fábula teve a sua origem no Oriente, onde existe uma vasta tradição,

passando depois para a Grécia, onde foi cultivada por Hesíodo, Arquiloco e

sobretudo Esopo. Neste período o gênero ainda pertencia à tradição oral.

Foram os romanos, entre os quais sobressai Fedro, que inseriram a fábula na

literatura escrita.

Cada animal simboliza algum aspecto ou qualidade do homem como,

por exemplo, o leão representa a força; a raposa, a astúcia; a formiga, o

trabalho, é uma narrativa com fundo didático. Quando os personagens são

seres inanimados ou objetos, a fábula recebe o nome de apólogo.

Algumas das fábulas mais conhecidas são: a cigarra e a formiga, a

raposa e as uvas, a lebre e a tartaruga e o leão e o ratinho. Os mais famosos

escritores de fábulas são Esopo, Fedro e La Fontaine. Este último criou uma

obra- “F b ” idida em 12 livros, onde o autor usa

linguagem ágil e expressiva para analisar com mestria a alma e a natureza do

ser humano. Escritas em verso livre e publicadas entre 1668 e 1694, as

Fábulas contêm uma crítica lúcida e satírica à sociedade do final do século

XVII, mas podem ser aplicadas nos dias de hoje. No Brasil o mais conhecido

f b é M L b f b “ j ” “

b ” “ ” . As fábulas são normalmente

transmitidas por pais, professores, até políticos e homens públicos, e estão em

livros, peças de teatro, filmes, e em várias outras formas de comunicação.

3- DESCRIÇÃO DA PROPOSTA

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As ações pedagógicas propostas no projeto em questão foram

desenvolvidas durante o primeiro semestre de 2014, no Colégio Estadual

Tancredo de Almeida Neves – Foz do Iguaçu com os alunos do 7º ano. As

fábulas escolhidas para o trabalho foram as Fábulas de Esopo e La Fontaine.

As temáticas propostas abordaram o orgulho, a arrogância, a altivez, o caráter,

os costumes, a existência do mal em certos seres, o confronto do Bem e do

Mal, entre outros.

Apresentação da proposta de implementação: Para iniciarmos as

ações, apresentamos a proposta aos alunos através de slides, para despertar o

interesse pela leitura de fábulas, levando-os a desenvolver habilidades de

leitura, compreensão e interpretação da moral da história, percebendo a cultura

dos povos do Oriente no século 6º A.C, onde a leitura em voz alta teve muita

importância na transmissão de ensinamentos para uma convivência humana

com solidariedade e justiça social. Nessa abordagem trabalhamos com a

fábula, versão original de Esopo, “A cigarra e as formigas” N ê

abrimos vários questionamentos acerca do conhecimento prévio que os alunos

tinham sobre o gênero fábula e os elementos da narrativa, também sobre os

ensinamentos - chamados de moral da história e que vêm no final do texto e

reproduzem geralmente um provérbio. Alguns provérbios são bem conhecidos

e falados pelo povo.

Em seguida, apresentamos a biografia do famoso Monteiro Lobato e as

versões da fábula A cigarra e as formigas escritas por Lobato: A Cigarra Boa e

A Cigarra Má. Nas histórias escritas por ele, há elementos colocados de

maneira proposital para atrair atenção e aguçar os sentidos mais inimagináveis

de seus espectadores ficcionais e leitores. Após a leitura silenciosa, fizemos

oralmente comparações das duas fábulas.

Debate com os alunos: Esse foi um ponto muito importante na

implementação, os educandos tiveram um momento para se expressar, de

maneira livre, sobre o contexto das duas fábulas. Também foi possível

demonstrar a valorização dos artistas, mostrando que eles são importantes

para a humanidade. Assim, colocamos de forma agradável para o aluno

entender que o trabalho deve sempre vir antes do lazer e dividir melhor o seu

tempo, cumprir com alegria seus afazeres para ter a recompensa merecida.

Pesquisa laboratório de informática: Após essa etapa, passamos a

trabalhar então, com os recursos midiáticos disponíveis na escola. Os

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educando tiveram acesso ao laboratório de informática. Durante algumas

aulas, pesquisamos sobre a vida e obra dos principais autores dos clássicos

das fábulas. O acesso aos sites foi de extrema relevância, pois em alguns as

fábulas apresentavam as figuras, textos explicativos, e outras possibilidades do

educando interagir com o assunto e com colegas. A pesquisa na web

proporcionou novos olhares sobre os textos (fábulas) que antes eram vistos e

lidos sobre o papel. Com o auxilio dos colegas, todos foram se inteirando do

ambiente virtual, com intuito de compreender o objetivo da aula e entender o

assunto.

Dramatização de fábulas: Retomando a leitura das fábulas em versos

de La Fontaine, propusemos a dramatização da fábula “O b ”.

Para essa atividade, os educandos escolheram seus papéis, representando o

lobo, o cordeiro e o narrador “ ”

providenciaram outros elementos necessários para as artes cênicas.

Trabalhamos elementos de expressão como gestos e falas que devem ser bem

expressivos, com ritmo e entonação adequados. Eles produziram o cenário

com papelão e pano. Também teve fundo musical. O momento foi propício para

esclarecer as dificuldades de vocabulário e acompanhar os ensaios dos

grupos. Após algumas aulas de ensaios com os participantes, apresentamos a

peça teatral em sala de aula para os demais colegas. A plateia acompanhava

vidrada na atuação dos colegas atores, vivenciando o contexto da fábula.

Sequência lógica de fábulas: Distribuímos um envelope com uma

fábula em tiras para cada grupo de cinco alunos. Em seguida, colocamos em

ordem a fábula. Depois dessa organização, cada grupo escreveu a fábula em

folha separada. Assim, cada grupo teve a oportunidade de organizar a

sequência lógica de seu texto, mesmo sem conhecê-lo anteriormente, fazendo

a escrita do texto já organizado e lendo em voz alta para toda a classe. Logo

após, iniciamos os comentários acerca da moral da história presente nas

diversas fábulas apresentadas. As fábulas utilizadas foram: A assembleia dos

ratos, A raposa e as uvas, O leão e o camundongo, A raposa e o galo, O burro

e a pele de leão, A lebre e a tartaruga, A galinha dos ovos de ouro, O rato do

campo e o rato da cidade. Essa atividade desenvolveu a compreensão e a

escrita, valorizando a criatividade dos mesmos em apresentar imageticamente

os textos.

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Comparando versões de uma mesma fábula: Trabalhamos a fábula

“O e o rato” em três versões, contadas por autores diferentes – Esopo, na

Grécia antiga, cerca do século IV A.C, La Fontaine, no século XVII, e Monteiro

Lobato, no início do século XX. O tema a ser abordado é a esperteza da

raposa, que tenta convencer o galo sobre o acontecimento da paz entre os

. f b “A raposa e o galo” de La

Fontaine e “O galo que logrou a raposa de Monteiro Lobato”, para que os

discentes percebessem que a esperteza nem sempre surte resultados

esperados. Após a leitura em bom tom da fábula, executada pelo professor, o

aluno produziu um novo desfecho, incluindo novos personagens, modificando o

final. Tivemos finais surpreendentes, diferente de tudo que já vimos, alguns

bem ousados, outros mais cautelosos colocando animais de seu convívio, entre

outros. Os textos produzidos foram expostos nos murais da sala, sendo

possível cada educando ler a produção do colega e fazer observações, o que

foi muito proveitoso.

Momento cinema: Assistimos V “Fábulas – lições para a vida”,

uma maneira divertida de memorização das fábulas, algumas já conhecidas

dos alunos como “A formiga e a cigarra”; “A lebre e a tartaruga”; “Os músicos

de Bremen”; “O galo e a raposa”; “O pastor brincalhão”; “O lobo disfarçado”; “O

leão e o camundongo e A lebre e a raposa”.

Embora os educados já conhecessem o gênero fábula, o vídeo

representou um elemento de compreensão a mais, as imagens sempre

representam melhor as ações que a escrita e também atraem a atenção dos

educandos.

Para contribuir com a implementação os educandos também assistiram

ao filme “Vida de Inseto” b s que se aproximam do

gênero fábula, como a temática, os personagens, o enredo, bem a organização

das formigas, suas ações e habilidades. Após a apreciação do vídeo e uma

breve análise, observamos juntos que numa comunidade regrada, há sempre o

“ ” b h , os quais obedecem às ordens.

Após assistirmos o filme, todos, nos colocamos em círculo para discussão dos

melhores momentos questionando sobre o que mais chamou a atenção, os

personagens mais interessantes, e outros aspectos peculiares.

Clipes musicais e fábulas: Aliando diversão e aprendizado, exibimos

clipes musicais aos educandos “Galinha roxa e quadrada” “ turma da

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Laurinha”. Ob fantoches e ou personagens nos clipes,

é possível perceber um mundo de fantasia, beleza e simplicidade.

Ilustração e produção de texto: Nessa atividade, proporcionou-se

divertimento e prazer ao revelar os talentos através dos desenhos e da pintura,

fazendo a escolha de uma das fábulas lidas para ilustrar. Essa atividade

envolveu de maneira significativa os educandos que demonstraram grande

interesse. Depois de pronta as ilustrações, montamos um painel intitulado “

fábulas que eu li” x o trabalho a toda a comunidade escolar.

Produção de texto: Após todos os encaminhamentos e exploração do

gênero fábula, propomos que produzissem fábulas. Para tanto, retomamos os

elementos que caracterizam a estrutura das fábulas, personagens, os conflitos

e desfecho, entre outros peculiares. Para a construção da narrativa, sugerimos

que poderia ser em forma de prosa ou verso, sendo os personagens os

animais com características humanas, e sempre contendo “ h ”.

Esse se revelou num momento oportuno para observarmos se

realmente os educandos haviam compreendido a proposta, pois, escrever nem

sempre é tarefa fácil para alguns. Mas percebemos uma evolução significativa

com relação à escrita, bem como com a interação do grupo. O trabalho passou

por vários momentos de refacção dos textos, possibilitando aos alunos

observarem melhor seus textos, fazendo assim alguns ajustes. Em seguida,

revisamos todo o material produzido juntamente com os participantes para

então começarmos a montagem de um livro com as produções. Para isso, os

alunos elaboraram a capa com ilustrações e detalhes de acordo com a

criatividade dos mesmos. Também produziram convites para a comunidade

escolar, pais e outros interessados em prestigiar a exposição de todos os

trabalhos produzidos acerca das fábulas.

4-RESULTADOS DA PROPOSTA

Compreender e interpretar fábulas através da leitura, percebendo as

diferentes possibilidades de comunicação e situações sociais relacionadas ao

conteúdo, verificando o objetivo e a intencionalidade de quem o produz

constituiu-se em um grande momento em nossa prática pedagógica.

A resignação ao ato de ler foi perdendo forças ao ser impactada com a

leitura pueril das fábulas, o educando demonstrou alegria e satisfação ao

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apreciar tal atividade, estavam lendo e interpretando mensagens implícitas,

sem perceberem a grandeza da atividade. Por esse motivo já valeu muito o

b h “ ”

de meiguice. O desenrolar das atividades foram fortalecendo um de nossos

objetivos, despertar o prazer da Leitura, sem imposição quanto à mensuração

de notas ou outros motivos burocráticos, cumprindo protocolos que

transformam a Leitura em obrigatoriedade.

Um clima agradável e de extrema satisfação se instalou em nossas

aulas, pois as fábulas retomaram lembranças dos textos infantis que muitos já

tinham ouvido falar, trouxe à tona recordações das brincadeiras que os

mesmos desenvolviam nessa época de tamanha inocência. Esse aspecto nos

auxiliou no desenvolvimento das ações, pois a partir daí, se tornou mais

compreensível para eles lidar com um texto que não expressa grau de

dificuldade na compreensão do contexto. As produções foram o termômetro,

nos revelaram se realmente aconteceu mudança, ou se foi significativo para os

participantes e em que avançamos.

Assim, observando as produções e o envolvimento dos educandos nas

atividades propostas, pudemos observar os avanços em relação a diversos

aspectos da aprendizagem, por exemplo, expressaram-se oralmente com mais

desenvoltura, empregando uma boa articulação das palavras, usando gestos,

os tons de voz e entonação adequados ao contexto; identificaram uma

informação implícita nos textos; reconheceram os objetivos básicos da leitura

(moral da história); realizaram inferências e antecipações em relação ao

conteúdo do texto; produziram fábulas após terem se aprofundado nas

características do gênero, bem como, demonstraram interesse nas atividades

de dramatização e construção de um livro de fábulas.

Os resultados de projetos de Leitura sempre nos encantam e envolvem

muito, sendo possível perceber os reflexos de imediato e também ao longo do

tempo. O prazer despertado no momento da Leitura ficará para toda a vida

é “ ”

universos da linguagem. E, poder observar e sentir essa emoção nos jovens

leitores foi extremamente gratificante, pois somos comprometidos com essa

luta, a de provocarmos nosso aluno para ler, de possibilitar momentos para

esse despertar e gostar. O livro produzido registrou um momento histórico na

vida dos educandos através de suas produções, porém o contato com a leitura

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por prazer servirá em outras áreas do conhecimento e permanecerá com o

aluno.

5-CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo da proposta foi proporcionar aos educandos momentos de

leitura prazerosa. A efetivação dessas leituras se deu a partir da determinação

da ideia principal, ideias secundárias, captação de detalhes, sequências e

relações de causa-efeito, onde analisamos atitudes, sentimentos e emoções

dentro dos textos (fábulas).

A implementação da proposta nos trouxe muitas possibilidades de refletir

nossa prática, além de aplicarmos as ações previstas ainda tivemos a

oportunidade de socializar nossa proposta com um grupo de professores da

área de linguagem em um ambiente virtual, o GTR. Com isso, conseguimos

expor nossas intenções de trabalho acerca do gênero fábula, compartilhando

das ações desenvolvidas concomitantes as discussões. Obtivemos muitas

contribuições dos colegas educadores com sugestões, comentários pertinentes

ao tema, bem como, nossa proposta serviu de subsídios para aperfeiçoar a

prática de outros profissionais. Ainda, alguns professores trocaram

experiências pedagógicas desenvolvidas sobre a mesma temática. Essa foi

uma oportunidade única em nossa carreira, podendo discutir o projeto, a

Unidade Didática e as ações de implementação da proposta com outros

profissionais, o que nos enriqueceu com as possibilidades de reflexão e

aprimoramento das atividades.

Dessa forma, com as ações que implementamos evidenciamos que a

proposta convergiu habilidades e motivações diferenciadas, aproximando os

alunos em torno de uma atividade coletiva, em que envolveu a esfera narrativa,

a produção do enredo, de desenhos, pinturas, dramatização e construção de

um livro de fábulas.

O diferencial é que para os alunos as aulas não foram mais as mesmas,

o interesse sobrepujava a indiferença e apropriar-se de um novo conhecimento

fez muito sentido. Para o professor PDE, depois de cada etapa realizada, ficou

a certeza de ter feito um projeto rico em experiências, preocupando-se em não

conduzir os alunos às atividades maçantes e repetitivas que viessem

desmotivar ou desacreditá-los no resultado final de cada etapa. O sentimento

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que ficou foi de realização, um aprendizado de fato, complementando nossa

prática. Vivenciar o PDE foi uma das melhores experiências profissionais, pois

possibilitou pensar e ver a sala de aula de fora, por outro ângulo, repensando a

prática e buscando novas metodologias, contribuindo assim para que de fato

aconteça a aprendizagem.

REFERÊNCIAS

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desenvolvimento – Porto Alegre: Artmed, 2005.

BAKHTIN, Mikhail M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. BELLI, Roberto. Fábulas de La Fontaine. Todo livro Ltda.

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KOCH, Ingedore Villaça. Ler e compreender: os sentidos do texto / Ingedore

Villaça Koch e Vanda Maria Elias. – 3. ed., 7ª reimpressão. – São Paulo:

Contexto, 2012

KLEIMAN, Angela B.; MORAES, Silvia E. Leitura e interdisciplinaridade: tecendo redes nos projetos da escola. Campinas: Mercado de Letras, 1999. LOBATO, Monteiro, 1882 – 1948. Fábulas/ Monteiro Lobato; [ilustrações de capa e miolo Manoel Victor Filho]. – São Paulo. Brasiliense, 2004. – (Sítio do Picapau Amarelo).

LA FONTAINE, J. de. 1992. Fábulas de La Fontaine. Belo Horizonte, Itatiaia.

M R US HI L. . “Gê x : f f ” I DIONÍSIO, Â. et al. Gêneros textuais e ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.p. 19 - 38 PARANÁ. Diretrizes Curriculares Estaduais para a Educação Básica: Língua Portuguesa. Curitiba: SEED, 2008.

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