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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
ORGANIZAÇÃO DE CANTEIROS PARA HORTA ESCOLAR A PARTIR DE FORMAS GEOMÉTRICAS
Professora PDE: Cleuza Terezinha Dobler1
Orientadora: Susimeire Vivien Rosotti de Andrade2
Resumo: O presente artigo refere-se ao trabalho que foi desenvolvido no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) do Governo do Estado do Paraná. Tendo como objetivo analisar as contribuições dos conceitos de geometria no processo de ensino e aprendizagem dos alunos do 7º ano, de acordo com os princípios do ensino exploratório, no qual o professor possibilita situações em que haja a exploração por parte do aluno, o que não implica que necessariamente a aprendizagem decorre apenas dela, mas sim de todo o trabalho que tem como foco a participação efetiva do aluno. Assim, com a prática na horta escolar e o cultivo de hortaliças pode ser um valioso instrumento educativo, pois trata do contato com a terra, do preparo dos canteiros e da descoberta de inúmeras formas de vida que ali existem e convivem. Os conteúdos de perímetro, área e ângulos serão aplicados com maior significado colaborando para a visualização da geometria, muito além do simples entendimento por relações abstratas entre fórmulas e grandezas. Dessa forma, demonstra-se uma percepção concreta quanto à aplicação do tema “geometria" para sua formação, associando o conhecimento escolar com seu dia a dia. Além de ter o propósito de incentivar os estudantes que fazem parte de pequenas propriedades rurais a produzir alimentos para subsistência, favorecendo a sua permanência no campo e também suprir a necessidade da merenda escolar. Palavras-Chave: Geometria; Horta Escolar; Escola do Campo; Ensino Exploratório.
1. INTRODUÇÃO
Existem inúmeras maneiras de fazer e saber, segundo D’Ambrosio (2005, p.
22), “falamos de um saber/fazer matemático que busque as explicações e as
maneiras de lidar com o ambiente”, seja ele próximo ou longínquo. Assim esse
saber/fazer, será contextualizado e responderá aos fatores sociais e naturais.
D’Ambrosio (2005) ressalta ainda que:
O cotidiano está impregnado dos saberes e fazeres próprios da cultura. A todo instante, os indivíduos estão comparando, classificando, quantificando, medindo, explicando, generalizando, inferindo e, de algum modo, avaliando, usando os instrumentos materiais e intelectuais que são próprios à sua cultura (D’AMBROSIO, 2005, p. 22).
Por essa colocação do autor podemos perceber a importância de valorizar os
saberes de cada cultura e, assim, os saberes de cada aluno, suas vivencias, suas
experiências e seu cotidiano.
1Professora de Matemática na Escola Estadual do Campo de Novo Sobradinho, concluinte de
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE. Email: 2Orientadora PDE da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste – Campus de Foz do
Iguaçu
Nessa perspectiva, a reflexão sobre o ambiente que nos cerca e o repensar
de responsabilidades e atitudes de cada um de nós gera processos educativos ricos
e significativos para cada um dos estudantes envolvidos possibilitando aproximar o
ensino exploratório no contexto escolar. O cultivo de hortas escolares pode ser um
valioso instrumento educativo. Pois, o contato com a terra, o preparo dos canteiros
torna possível a descoberta de inúmeras formas de vida que ali existem e convivem.
A observação das sementes que brotam como mágica, a prática diária do cuidado
com regar, transplantar, tirar matinhos, pode transformar pequenos espaços da
escola em grandes oportunidades de aprendizado para todas as idades.
Essa reflexão favoreceu a elaboração do projeto que tem como objetivo
contribuir para o processo de ensino e aprendizagem da matemática dos alunos do
7º ano com a proposta da construção de uma horta.
A escolha do tema surgiu também, indo ao encontro às necessidades
percebidas dentro da Escola Estadual do Campo de Novo Sobradinho. Uma vez que
essa é uma escola de campo3 seus estudantes residem, em grande parte, na zona
rural, mas muitos não cultivam hortas em suas casas. Assim, além de fomentar o
aprendizado dos conteúdos de geometria na matemática, o aluno ainda poderá
construir em sua casa, junto com seus familiares uma horta com a finalidade de
obter benefícios voltados a uma vida saudável. Nessa perspectiva, durante o
desenvolvimento da construção de uma horta na escola possibilitou que os
conteúdos de sistemas de medidas e de geometria plana fossem desenvolvidos com
maior significado, colaborando para a visualização da geometria, muito além do
simples entendimento por relações abstratas entre fórmulas e grandezas. Dessa
forma, contribuir para uma preparação consistente, trazendo uma percepção
concreta quanto à aplicação do tema “geometria” para sua formação. Portanto, este
artigo tem como objetivo apresentar os resultados da execução do projeto.
2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS
No projeto, relacionam-se o ensino da matemática com a produção de
alimentos na horta escolar. Vale destacar o tema sustentabilidade, assunto muito
3As escola de campo foi determinado pelo Decreto Nº 7.352, DE 4 DE NOVEMBRO DE 2010 que denomina uma
escola de campo “aquela situada em área rural, conforme definida pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, ou aquela situada em área urbana, desde que atenda predominantemente a populações do campo”.
importante nos últimos anos, visto a necessidade de gerar mecanismos que visem à
preservação do meio em que vivemos e a nossa sobrevivência.
Ao longo dos anos percebemos a necessidade de mudar o estilo poluidor e
consumista, tentando rever a nossa relação com o planeta. (GADOTTI, 2009).
A educação carrega de intencionalidade nossos atos. Precisamos ter
consciência das implicações das nossas escolhas. O processo educacional
pode contribuir para humanizar o nosso modo de vida. Temos que fazer
escolhas. Elas definirão o futuro que teremos (GADOTTI, 2009, p.62).
A educação4 nos ajuda a compreender que a preservação do meio ambiente
depende da consciência ecológica. Sem essa educação sustentável, “a Terra
continuará apenas sendo considerada como espaço de nosso sustento e de nosso
domínio técnico-tecnológico, um ser para ser dominado” (Gadotti, 2009, p. 63).
Para aprendermos a amar e respeitar a Terra precisamos de ajuda, e são
nossas experiências que gerarão este aprendizado. Portanto, é fundamental uma
estratégia educativa que una a teoria e a prática para consolidar a consciência
sustentável.
Assim, é possível refletir sobre a valorização dos conhecimentos de culturas,
com a consciência ecológica, sustentável na construção e organização da horta, a
possibilidade de unir a teoria e a prática. Ou seja, o conhecimento científico com o
cotidiano dos alunos de forma mais fácil e atrativa.
D’Ambrósio (2005), argumenta ainda que a cultura, que faz parte da nossa
vida cotidiana, carrega consigo as várias práticas educativas, assim como a história
que é o registro das mesmas. Dessa forma, ao falarmos de educação estamos
consequentemente recorrendo à cultura e seus registros.
Para este autor um dos maiores erros na prática educativa, principalmente no
ensino da matemática, é desvinculá-la das outras atividades humanas. Nas palavras
de D’Ambrósio (2005):
Todo indivíduo vivo desenvolve conhecimento e tem um comportamento
que reflete esse conhecimento, que por sua vez vai se modificando em
função dos resultados do comportamento. Para cada individuo, seu
comportamento e seu conhecimento estão em permanente transformação, e
se relacionam numa relação que poderíamos dizer de verdadeira simbiose,
em total interdependência (D’AMBROSIO, 2005, p. 18).
4 Compreendemos que a educação embasada em Brandão (2006) que afirma que esta ocorre em
diferentes Ambientes e a instituição escolar é um deste ambiente social.
O autor ainda sublinha que historicamente as populações vão desenvolvendo
ferramentas e técnicas para a melhoria na produção agrícola. A cada nova
necessidade, é preciso desenvolver e realizar planejamentos de plantio, colheita e
armazenamento.
Segundo D’Ambrósio: (2005) a coisa mais importante do nosso
relacionamento com o meio ambiente é a capacidade de obter alimentos e proteção
quanto a intempéries. A partir do conhecimento podemos desenvolver e dominar
técnicas que aumentem as capacidades citadas.
Ainda nesse sentido e de acordo com Freire (1999, p.33) o professor em sua
prática educativa deverá trabalhar com mais respeito e valorização dos saberes
trazidos para o ambiente escolar pelos educandos e ainda dar a possibilidade de
questionar os motivos e razões dos conteúdos aprendidos,
Por isso mesmo pensar certo coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os das classes populares, chegam a ela saberes socialmente construídos na pratica comunitária – mas, também, como há mais de trinta anos venho sugerindo, discutir, discutir com os alunos a razão de ser desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos. Por que não aproveitar a experiência que tem os alunos de viver em áreas da cidade discutidas pelo poder publico para discutir, por exemplo, a poluição dos riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem- estar das populações, os lixões e os riscos que oferecem as saúdes das gentes (FREIRE, 1996. p: 30).
Essa contribuição de Freire (1996) vai ao encontro com as colocações de
D’Ambrosio (2005), ao passo que ele também chama a atenção para a valorização
dos conhecimentos dos educandos, e assim demonstrar a importância da ligação
entre teoria e prática.
A partir das ideias desses autores podemos rever o nosso papel de professor,
mostrando aos alunos uma visão crítica apoiada na realidade, dando a eles
ferramentas para modificarem positivamente seu cotidiano. No dia a dia educacional,
nós professores, deparamo-nos com uma infinidade de desafios, mas também com
uma gama enorme de métodos capazes de ajudar a resolvê-los.
A solução de problemas está sempre relacionada aos conhecimentos
adquiridos pelos alunos, ou seja, pode ser utilizada em todos os níveis de ensino,
mas sempre levando em consideração aquilo que eles já sabem. Dessa maneira,
percebemos a necessidade de relacionar teoria e prática, bem como o conhecimento
do aluno com o conteúdo a ser apresentado.
Assim, ações desenvolvidas nas aulas de matemática, em uma Escola de
Campo, tem potencialidade de um trabalho em que se discutam temas como
sustentabilidade, diferentes culturas e técnicas que permitam realizar plantios com
sucesso. Na matemática, os pais de alunos muitos vezes desconhecem os
conteúdos de geometria, mas mesmo assim desenvolverão outras formas de cultivo.
Portanto, os avanços tecnológicos podem favorecer a melhoraria de sua
produtividade.
O ensino exploratório é uma possibilidade que favorece o professor a levantar
questões visto que, o
Ensino exploratório da Matemática não advoga que os alunos descobrem sozinhos as ideias matemáticas que devem aprender, nem tão pouco que inventam conceitos e procedimentos ou lhes adivinham os nomes. Muito menos advoga que isso aconteça enquanto o professor espera tranquilamente sentado pelos rasgos iluminados e criativos dos seus alunos (CANAVARRO, 2011, p. 11).
Sendo assim o ensino exploratório necessita que em sua ação pedagógica o
professor oportunize situações que envolvam os alunos no processo de ensino e
aprendizagem. Dessa forma, é imprescindível que o professor faça um planejamento
com diferentes tipos de atividades para contribuir com o envolvimento dos alunos
nesse processo.
Ponte (2005) acrescenta:
[...] não é tanto a partir das atividades práticas que os alunos aprendem, mas a partir da reflexão que realizam sobre o que fizeram durante essas atividades práticas. A aprendizagem decorre assim, sobretudo, não de ouvir diretamente o professor ou de fazer esta ou aquela atividade prática, mas sim da reflexão realizada pelo aluno a propósito da atividade que realizou (PONTE, 2005, p.15).
A citação do autor indica a importância do aluno como protagonista no
processo de aprendizagem a partir da reflexão sobre as atividades realizadas por
ele. Portanto, o professor deve sempre promover e valorizar momentos de reflexão
sobre as atividades desenvolvidas pelos alunos para que os mesmos tirem suas
conclusões e a partir daí construam seus conhecimentos.
Ponte (2005) ainda enfatiza que na ação pedagógica o professor deve utilizar
de diferentes atividades, segundo ele:
Os exercícios servem para o aluno pôr em prática os conhecimentos já anteriormente adquiridos. Servem essencialmente um propósito de consolidação de conhecimentos. No entanto, para a maioria dos alunos, fazer exercícios em série não é uma atividade muito interessante. Reduzir o ensino da Matemática à resolução de exercícios comporta grandes riscos de empobrecimento nos desafios propostos e de desmotivação dos alunos. (PONTE, 2005, p. 4-5)
Esse autor também enfatiza que o uso dos problemas no ensino da
Matemática reduzido somente à resolução de exercícios pode empobrecer a
aprendizagem da maioria dos alunos, inclusive desmotivá-los. Embora que a
resolução de problemas em Matemática constitui um traço fundamental das
orientações curriculares de todos os níveis de ensino, do 1º ciclo do ensino básico
ao ensino superior.
O autor também destaca a utilização de ações investigativas para a
construção do ensino da Matemática de forma clara e objetiva, em suas palavras:
Os argumentos principais utilizados para justificar a importância das investigações são análogos aos usados para justificar a importância dos problemas, acrescentando-se ainda que as investigações, mais do que os problemas, promovem o envolvimento dos alunos, pois requerem a sua participação ativa desde a primeira fase do processo – a formulação das questões a resolver. (PONTE, 2005, p. 7)
Assim sendo, serão apresentados a seguir os resultados de atividades
desenvolvidas no ano de 2014 que poderão contribuir para um ensino exploratório
nas aulas de matemática em uma escola de campo.
3. ATIVIDADES REALIZADAS
As atividades planejadas na Unidade didática no ano de 2013 referentes ao
projeto desenvolvido no PDE iniciaram sua implementação com a apresentação do
mesmo na Semana Pedagógica no inicio do ano letivo de 2014, sendo que seu
desenvolvimento ocorreu na Escola Estadual do Campo de Novo Sobradinho. Nesta
apresentação foi possível perceber a aceitação de alguns professores e o apoio de
muitos para a efetivação das atividades propostas no projeto da Horta.
A referida escola possui quatro turmas, com um total de setenta alunos e
dezesseis professores. Cumpre lembrar que esta é uma escola do campo como já
foi destacado anteriormente, os alunos são atendidos no período de contra turno no
qual, são desenvolvidos diferentes projetos. A principal característica do projeto é
estar mais próxima do homem do campo, desta forma, é necessário dar garantias de
permanência aos filhos dos agricultores no ambiente rural, não reproduzindo a ideia
antiga de que lá era somente bom para viver, mas que qualidade de vida implica
principalmente em produção de qualidade.
A luta pela permanência do homem do campo perpassa pela educação
escolar que pode viabilizar uma nova proposta, de que a produção agrícola não
ocorre na cidade, mas no espaço rural, que além de ser produtivo é um lugar de
viver muito bem, com saúde e liberdade. Os filhos podem continuar no campo e
buscar na cidade a formação científica e retornar ao seu espaço para tirar da terra o
seu sustento.
Posteriormente, com o início das aulas, apresentei o projeto aos trinta e três
alunos do 7º ano para que eles conhecessem as atividades que iriam realizar, os
objetivos propostos pelo projeto, os conteúdos matemáticos presentes no mesmo,
as ações propostas e o tempo que estava previsto para realização do trabalho. Os
alunos demonstraram grande empolgação para com o projeto, principalmente pelo
fato de poderem colocar em prática as atividades da sala de aula.
A terceira ação do projeto foi a realização de uma palestra com o Engenheiro
Agrônomo, Adalberto Telesca Barbosa, do Instituto EMATER – Pr. Nesta ação além
da participação dos alunos, houve participação dos pais. Desta forma, aproveitamos
para apresentar o projeto aos pais. Vale dizer que o palestrante destacou a
importância da horta doméstica e informações sobre o uso correto de agrotóxicos, a
fim de não prejudicar a natureza e a saúde dos seres humanos.
O palestrante, mostrou aos alunos e a seus pais, a importância e os
benefícios de uma horta em sua propriedade, o modo correto de construir uma horta,
levando em conta o local, o clima e, principalmente, a otimização do uso da terra
que é tão importante e as consequências de uma alimentação inadequada. Durante
sua explanação deu várias informações de como preparar o solo entre elas: época
adequada de plantio de hortaliças, adubação orgânica, que para eles será viável,
pois todos a produzem em sua propriedade. Com relação ao controle de pragas
orientou que sempre que possível usar técnicas caseiras ao invés de produtos
químicos. Ao cultivar hortaliças em sua propriedade eles estão consumindo algo que
foi produzido por eles, sabendo assim o que estão consumindo como pode ser
observado na Figura 1.
Figura 1 e Figura 2: Palestra com Engenheiro Agrônomo
Fonte: Arquivo Pessoal.
Após a palestra os pais receberam um questionário investigativo que em suas
respostas evidenciou o apoio ao projeto como pode ser observado:
Gostaria que meu filho, depois de concluir os estudos, permanecesse no campo, pois é possível ter qualidade de vida, além de ser mais rentável financeiramente do que certas atividades na cidade e também porque alguém tem que continuar afinal a população precisa de alimentos. É uma atividade importante e é lamentável que muitos jovens abandonem a atividade rural. A professora foi muito feliz em escolher este projeto, pois os alunos adoram ter aulas diferentes, aprender a geometria construindo canteiros vai ser muito bom, ocorre uma visualização dos conteúdos.(Pai A., grifo do autor).” “Em minha opinião, a vida no campo é melhor, tem suas dificuldades mas por outro lado tem suas vantagens, não precisamos comprar frutas e verduras, produzimos os alimentos sem agrotóxicos. A matemática é usada em tudo e praticando aprende mais. (Pai B. grifo do autor).” “Precisamos ter filhos comprometidos com o desenvolvimento do nosso país. Aqui terão a chance de colocar em prática a teoria que aprendem na escola. Cuidados com a terra e natureza. A importância da rotação da cultura, evitar desperdício, aproveitar ao máximo tudo o que produzimos e a natureza nos oferece sem degradar o meio ambiente. (Pai C.)”
As respostas evidenciam que os pais também gostaram da maneira como
seria trabalhada a matemática, relacionando o conteúdo com a construção de
canteiros e outro destaque em suas respostas, é o desejo que os filhos permaneçam
no campo.
A ação posterior foi trabalhada em sala de aula com noções relativas a
unidades de comprimento, perímetro, área e ângulos. Esses conceitos seriam
fundamentais para a construção dos canteiros da horta com formas geométricas.
Assim foi realizada uma discussão do sistema universal de medidas utilizando
a história da matemática como um instrumento para os alunos entenderem que a
matemática é uma construção histórica.
Dando continuidade foi proposta uma atividade com diferentes situações do
cotidiano, que despertassem a curiosidade dos estudantes para uma participação
efetivas deles nas aulas. Os métodos e materiais adequados são essenciais na
superação dos obstáculos existentes e funcionam como motivação para os alunos,
por isso há a necessidade da utilização de meios diferenciados e muita dedicação.
Como por exemplo, a construção do transferidor pelo próprio aluno criou uma
expectativa diferente em relação ao conteúdo.
Para consolidar os conteúdos foram propostas atividades que denominamos
exercícios. Como afirma Ponte (2005) o professor em sua ação pedagógica deve
propor diferentes atividades para contribuir no processo de ensino aprendizagem
dos alunos. E, através da correção e discussão dos exercícios alunos refletiram
acerca dos conteúdos trabalhados.
Após o trabalho em sala, os alunos foram ao local em que seria construída a
horta escolar. Utilizando uma trena mediram a largura (h) e o comprimento (b) do
espaço onde seriam construídos os canteiros. Com espaço definido aproxima
atividade foi a divisão da classe em grupos, os quais ficaram responsáveis pela
medição e construção dos canteiros. Foram formados cinco grupos e foi designada
uma forma geométrica que deveria ser construída no canteiro como pode ser
observado na figura 3 e 4 .
Figura 3 e 4: Registro dos alunos do 7º medindo os canteiros
Fonte: Arquivo Pessoal.
Ao realizar esta atividade os alunos foram questionados sobre o espaço que
estava sendo utilizado para cada canteiro, experiências e expectativas em relação à
aprendizagem de perímetro e área. O professor levou os alunos a refletirem,
organizando os pensamentos e ações, para aprenderem com maior qualidade o que
já fazem no seu dia a dia. Ao construir os canteiros em formas geométricas, o
professor explicou que o perímetro é a soma das medidas dos lados das figuras
representadas na horta. Todos estavam muito empenhados na construção dos
canteiros, percebendo assim a relação direta entre a teoria, presente nos livros e a
prática, presente no cotidiano dos mesmos.
Esta etapa foi finalizada com os grupos apresentando seus canteiros com a
respectiva forma geométrica e as medidas utilizadas para sua construção como
identificado na Figura 5.
Figura 5: Registro dos alunos do 7º ano referente às formas geométricas dos canteiros de todos os grupos.
Fonte: Arquivo Pessoal
Como pode ser observado na figura 5, os alunos anotaram o que puderam.
Visualizaram e transpuseram para o papel quadriculado desenhos dos canteiros em
figuras geométricas planas: quadrado, retângulo, triângulo equilátero, triângulo
isósceles, triângulo escaleno e um triângulo retângulo, todos com suas respectivas
medidas.
A delimitação dos canteiros foi a atividade seguinte, onde foram determinadas
as distâncias que deveriam ser deixadas entre uma planta e a outra, feita com
plantas ornamentais. Dessa maneira as formas geométricas presentes nos canteiros
(figuras 6 e 7) ficaram evidentes podendo assim ser observadas com facilidade tanto
pelos alunos que realizaram o projeto, como por outros alunos e professores, além
dos visitantes.
Figura 6 e 7: Delimitação dos canteiros utilizando o Plantio de flores no perímetro dos canteiros.
Fonte: Arquivo Pessoal
Em sala de aula foi realizado o cálculo da distância aceitável para o plantio
das hortaliças de acordo com as orientações do Engenheiro Agrônomo. Diante
disso, foi evidenciado novamente aos alunos que muitos conceitos da matemática
estão presentes no cotidiano, em tarefas simples, mas importantes, como o caso do
plantio das verduras na horta. A figura 8 identifica a horta pronta construída pelos
alunos.
Figura 8. A horta com os Canteiros prontos, com as mudas de flores e alface plantadas.
Fonte: Arquivo Pessoal
A próxima ação foi a construção de transferidores com dobraduras na qual, foi
possível trabalharmos os conceitos de ângulo e suas medidas. A construção do
instrumento pelos próprios alunos criou uma expectativa diferente em relação ao
conteúdo estudado. Eles ficaram curiosos e desenvolveram a atividade de forma
efetiva e prazerosa, assim foram construindo os conceitos a serem trabalhados.
Figura 9. Transferidores construídos de papel pelos alunos do 7º ano.
Fonte: Arquivo Pessoal
Após a atividade desenvolvida, os alunos analisaram alguns triângulos e
mediram seus ângulos internos com o transferidor construído por eles. No final foi
observada a interação e a mobilização dos alunos que dominam o uso adequado do
transferidor para monitorar e ajudar aqueles que não atingiram a etapa de
aprendizagem.
Depois foi o momento mais esperado pela turma. Voltamos para a horta
(figura 10.) e cada grupo mediu os ângulos do canteiro que foi construído por eles
como pode ser observado na figura.
Figura 10. Alunos medindo os ângulos dos canteiros com os transferidores que construíram
Fonte: Arquivo pessoal
Vale ressaltar que alguns alunos compreenderam rapidamente, mas outros
tiveram dificuldades, havendo então a necessidade de retomar as explicações e
dessa forma, todos saíram da horta compreendendo o que é um ângulo, como
medir, e o mais importante, perceberam que nos canteiros quadrados e retangulares
a soma dos ângulos internos dá 360º e nos triângulos, a soma dos três ângulos dá
180º. Os alunos em grupo puderam medir os ângulos dos canteiros já construídos,
registrando e relacionando cada ângulo com as formas geométricas que os mesmos
delimitaram na construção.
A aula posterior foi destinada a ressaltar aos alunos a importância de
consumir alimentos saudáveis: como verduras, legumes e frutas, trocando os
alimentos industrializados que são consumidos constantemente por eles por
alimentos que são essenciais para uma vida saudável.
Na palestra com a Nutricionista Sofia, ela propôs uma reflexão sobre a
alimentação saudável e qualidade de vida. O valor nutritivo dos alimentos
produzidos, e os quais o são mais consumidos pelos alunos. Ela preparou uma
cesta com frutas e verduras, e outra cesta com bolachas recheadas, chocolate,
balas, e refrigerante. Foi comparando a quantidade de açúcar e óleo que contém
cada alimento, como pode ser observado na figura11 e 12.
Figura 11: Cesta com produtos saudáveis Figura 12: Cesta com produtos industrializados
. Fonte: Arquivo Pessoal
Os alunos ficaram surpresos ao perceber quanto açúcar e óleo são
consumidos sem saber. Esse momento contribuiu para uma reflexão da importância
de se consumir alimentos saudáveis como frutas e verduras, para manter o corpo
saudável.
Os alunos também realizaram, em equipes, o jogo da “Trilha Geométrica” 5
como uma maneira de consolidar os conteúdos trabalhados.
Dando continuidade na implementação da unidade didática foi proposto um
questionário a fim de perceber a apreensão dos conteúdos, referentes à geometria,
que foram trabalhados unindo a teoria a prática. As respostas identificaram que os
alunos conseguiram relacionar melhor os conteúdos de matemática com a realidade.
Também houve uma reflexão de como os produtos industrializados são maléficos a
saúde. Dessa forma, compreenderam a importância do consumo de alimentos
saudáveis.
Ao finalizar o projeto, observou-se que todos os alunos participantes se
dispuseram a realizar as tarefas com empenho, curiosidade, companheirismo,
mesmo quando sentiram dificuldades. O principal desafio do professore foi buscar o
interesse dos alunos. Pôde-se observar que isso ocorreu durante a realização das
atividades propostas, pois os conteúdos foram abordados e relacionados com
situações que fazem parte da realidade dos alunos.
4. CONSIDERAÇÃOS FINAIS
Durante a implementação da unidade didática desenvolvida no PDE,
percebeu-se que o mesmo mostrou uma consonância com o proposto pelo Decreto
do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Brasil (2010) onde se lê no artigo VIII
“produção de recursos didáticos, pedagógicos, tecnológicos, culturais e literários que
atendam ás especificidades formativas das populações do campo.”
Ou seja, a partir deste decreto percebe-se a importância de relacionar a
realidade dos estudantes da escola do campo com os conteúdos e conhecimentos
repassados e reconstruídos na escola. Acredita-se que a Escola do Campo, em sua
formulação com conteúdos específicos e diretamente voltados para a realidade dos
educandos moradores das áreas rurais é imprescindível para que esses adquiram o
conhecimento ligado ao que é necessário para a sua formação cidadã envolvida e
comprometida com o seu meio de subsistência.
A construção da horta trouxe essa possibilidade, no qual os alunos
compreenderam que sua prática diária é uma forma de contribuir para a construção
5 PROMAT projeto oficina de matemática, p.168, esses jogos são baseados em uma das atividades presentes no
livro Didático PROMAT, p.168
de um conhecimento científico. Além disso, foi possível que os alunos
compreendessem o seu meio social, suas experiências e suas vivências como
formas de construção do conhecimento que precisam ser valorizadas,
principalmente por eles mesmos enquanto moradores da zona rural.
A partir das entrevistas com os pais, também foi possível perceber que esses
têm o desejo de que seus filhos permaneçam no campo, trabalhando em suas
propriedades, que se especializem, busquem o conhecimento, mas que utilizem-no
em melhoria de sua vida enquanto moradores da área rural.
Alguns pais construíram hortas em casa. Uns pela cobrança que os filhos
fizeram depois de compreender a importância da alimentação saudável e ainda por
terem se identificado com o cultivo, o zelo e organização do espaço. Portanto, nesse
sentido, percebe-se que os alunos de alguma maneira internalizaram o
conhecimento e isso é muito significativo.
Sobre a alimentação dos alunos, percebeu-se que alguns mudaram seus
hábitos depois da palestra. Começaram a observar e a comentar sobre a
importância de alguns alimentos como: frutas, verduras e legumes. Também
passaram a preocupar-se mais com a quantidade de açúcar e gorduras presentes
nos alimentos industrializados.
A horta continua sendo cultivada. As hortaliças produzidas na mesma são
utilizadas no preparo da merenda dos próprios alunos e,esses continuam se
preocupando com o cuidado dos canteiros e das plantas.
A execução do projeto de PDE foi satisfatória, pois através da união entre
teoria e prática foi possível perceber como os alunos foram receptivos as atividades,
pois ao passo que podem executar “com as próprias mãos” as tarefas compreendem
muito mais facilmente a importância e a presença da matemática no seu cotidiano.
A Etnomatemática e a preservação da natureza, defendida pelos autores que
fundamentaram o projeto, como Gadotti e D’Ambrosio, foram a base para as
atividades realizadas. Os saberes trazidos pelos alunos foram considerados a todo
momento, dando ao professor a possibilidade de conhecer seus educandos e aos
alunos a possibilidade de se perceberem enquanto autores do processo de
aprendizagem, ao passo que suas experiências foram valorizadas e repassadas aos
demais colegas.
Esses princípios possibilitaram a realização das atividades de construção dos
canteiros da horta com formas geométricas, mas não se limitou ao ensino da
matemática pura e simples. Esse aprendizado estendeu-se para as áreas da
sustentabilidade através da palestra sobre os agrotóxicos, da inserção de alimentos
com a produção de verduras orgânicas, englobando até questões culturais ao passo
que trabalhando a alimentação saudável, relacionamos o consumo consciente às
práticas cotidianas.
5. REFERENCIAS BRASIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO - MEC; MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO – MDA. 2010. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/decreto/d7352.htm> Acessado em: 23/05/2013. D’AMBRÓSIO, U. Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. DCE. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná: Matemática. Secretaria de Estado de Educação: Curitiba, 2008. DCE. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná: Educação do Campo. Secretaria de Estado de Educação: Curitiba, 2010. FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários a prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1999. GADOTTI, M. Fórum Mundial de Educação: proposições para outro mundo possível. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 2009. GRASSESCHI, M. C. C. PROMAT; Projeto Oficina de Matemática. São Paulo: FTD, 2002. TOMAZ, V. S.; DAVID. M. M. M. S. Interdisciplinaridade e aprendizagem da Matemática em sala de aula. Belo Horizonte: Autêntica, 2008.