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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA ......por se desiludir com eles e por abandoná-los. A gestão da escola pública é uma evidência do que relata Nogueira (2004). Essa

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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O PLANO DE TRABALHO DOCENTE NO CONTEXTO DA GESTÃO

DEMOCRÁTICA

Claudio Gomes de Oliveira1

Natalina Francisca Mezzari Lopes2

RESUMO: O presente artigo é resultado de uma pesquisa apresentada ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) 2013/2014 promovido pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná, cujo tema apresentado foi “Plano de Trabalho Docente no Contexto da Gestão Democrática”. Teve como objetivo estudar e coletar subsídios para fazer uma análise da importância da articulação entre o Plano de Trabalho Docente, o Projeto Político Pedagógico da Escola e a Prática Docente. Como metodologia para este estudo foi utilizada pesquisa bibliográfica embasada em vários autores que discorrem sobre o assunto. Foi produzido um material pedagógico no Colégio Estadual Polivalente de Goioerê – Ensino Fundamental, Médio e Profissional, como resultado dos cursos desenvolvidos. No colégio desenvolveu-se o projeto de intervenção pedagógica, neste participaram funcionários, pedagogos, professores e gestores. Por meio da internet realizou-se o Grupo de Trabalho em Rede (GTR) efetivado com profissionais da rede. Neste artigo é discutida a importância do Plano de Trabalho Docente, a participação de toda comunidade escolar na construção democrática do Projeto Político Pedagógico da Escola, bem como a Prática Docente e Processo de Ensino e Aprendizagem voltada à formação e qualificação dos alunos.

Palavras-chave: Gestão Democrática. Projeto Político Pedagógico. Plano de Trabalho Docente. Prática Docente.

1 INTRODUÇÃO

Este artigo volta-se para o Plano de Trabalho Docente (PTD), no contexto da

gestão democrática, que tem no Projeto Político Pedagógico (PPP) o vínculo que dá

sustentação ao processo de ensino e aprendizagem. A temática constitui-se eixo

fundamental da organização do trabalho escolar o qual tem como princípio

constitucional garantir o direito ao acesso e à permanência na escola de toda

criança em idade escolar e a quem dela não teve acesso em idade adequada.

1 Professor da Rede Pública de Educação do Estado do Paraná, lotado no Colégio Estadual Polivalente de Goioerê– Ensino Fundamental,

Médio e Profissional. Graduado em Matemática pela Associação Prudentina de Educação e Cultura A.P.E.C. Presidente Prudente SP e em Pedagogia pela UNOESTE – Universidade do Oeste Paulista Presidente Prudente SP. Pós Graduado em Matemática pela UEM (Universidade Estadual de Maringá). E em Planejamento Educacional pela Universidade Salgado de Oliveira - UNIVERSO RJ.

2 Orientadora Profa. Natalina Francisca Mezzari Lopes, Departamento de Fundamentos de Educação da Universidade Estadual de Maringá –

PR.

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Com a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (BRASIL,

1988) e com a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 9394/96

(BRASIL, 1996), a Educação brasileira tomou novos rumos, dentre eles foi a

Construção do Projeto Político Pedagógico pelas escolas. A LDB determina que os

estabelecimentos de ensino e os docentes deverão elaborar e executar sua proposta

pedagógica e participar da elaboração do projeto pedagógico, promovendo a

participação da comunidade escolar e local em conselhos, criando processos de

integração da sociedade com a escola (BRASIL, 1996). Diante das dificuldades em

envolver o coletivo escolar na construção de um PPP verdadeiramente democrático,

resulta em um PTD fragmentado e desvinculado dos objetivos da escola. Razão

essa que originou a necessidade desse estudo, visto que pouco se tem refletido

sobre estes documentos, tanto na construção como na implementação dos mesmos.

Percebe-se, que eles têm sido elaborados apenas como cumprimento da lei, com

pouca ênfase na prática

Com base nessa premissa, o presente artigo é resultado de uma pesquisa

bibliográfica que relata os pontos fundamentais que envolvem a construção do PPP

e o PTD, assim como, de uma pesquisa de campo por meio da análise dos

resultados alcançados durante as discussões na escola e no grupo de trabalho em

rede no primeiro semestre de 2014. Vale ressaltar que este estudo foi realizado no

Colégio Estadual Polivalente de Goioerê, no qual fizeram parte professores,

funcionários, pedagogos e gestores.

Dessa forma, analisou-se como deveria ser construído o PPP, bem como o

PTD, de modo a contribuir para que a gestão democrática se efetive e ofereça aos

professores elementos que possam subsidiá-los em sua prática docente, utilizando-

os de maneira crítica e reflexiva na construção de uma educação democrática e

significativa aos estudantes.

2 GESTÃO DEMOCRÁTICA

Tendo como entendimento de que o gestor é o articulador do trabalho

pedagógico realizado no interior da escola, torna-se necessário compreender como

se organiza esse trabalho numa gestão democrática e participativa. O primeiro

pressuposto da gestão democrática é a existência do Conselho Escolar, este tem

papel fundamental, na análise e deliberação para a implementação de documentos

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norteadores da instituição (Projeto Político Pedagógico, Regimento Escolar,

Proposta Curricular, Proposta Pedagógica, Planos de Trabalho, entre outros), que

são os suportes ao trabalho do gestor.

A partir deste pressuposto, entende-se que a gestão escolar, respaldada pelo

Conselho Escolar, tem como função principal democratizar o ensino, de modo que

todos tenham a escola como espaço de efetivo aprendizado. Para isso, a escola

necessita construir sua autonomia, juntamente com a comunidade em que está

inserida, buscando soluções adequadas às necessidades do seu cotidiano. Libâneo

(2004, p. 102) destaca que

[...] a participação é o principal meio de assegurar a gestão democrática na escola, possibilitando o envolvimento de profissionais e usuários no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar. Além disso, proporciona um melhor conhecimento dos objetivos e metas, da estrutura organizacional e de sua dinâmica, das relações da escola com a comunidade, e favorece uma aproximação maior entre professores, alunos e pais.

.

Diante do que determinam a Constituição da República Federativa do Brasil

de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 9394/96, a gestão

democrática só se efetiva quando o gestor, por meio de um processo democrático,

possibilita a participação da comunidade escolar (pedagogos, professores,

funcionários, pais, alunos e sociedade organizada) na tomada de decisões e na

construção de documentos que norteiam a prática pedagógica da escola. Nesse

sentido,

[...] a gestão democrática traz como fundamento o efetivo envolvimento e participação de todos na tomada de decisão do processo administrativo e do planejamento pedagógico escolar. Logo, considera-se de fundamental importância o Projeto Político Pedagógico como instrumento de articulação entre os meios e os fins, fazendo o ordenamento de todas as atividades pedagógico-curriculares e a organização da escola tendo em vista os objetivos educacionais (CASTRO, 2007, p.135).

Para que a gestão democrática aconteça, se fazem necessárias mudanças de

atitudes, posturas inovadoras, do gestor e equipe, uma vez que são eles os

articuladores e os facilitadores dos momentos de discussão para que as mudanças

se efetivem. Mudar, muitas vezes, significa transformação, alteração de uma

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situação, passagem de um estado para outro, com o firme propósito de buscar

resultados significativos. Eis, então, a prática da gestão democrática: resultados

significativos.

Assim, pedagogos e equipe de direção serão protagonistas de um constante

diálogo com os diferentes segmentos da sociedade, oferecendo condições de

participação e valorizando a contribuição para que a comunidade se sinta parte

importante nesse processo de construção coletiva, no desenvolvimento das ações e

no planejamento do trabalho escolar. Ao propor o planejamento numa perspectiva

democrática, Franco (2010, p. 56) salienta que é importante valorizar.

[...] a participação de todos os segmentos da comunidade escolar, pois a percepção de todos da realidade da escola contribui para projetar a escola sonhada por todos. Para isto, o planejamento democratizado propicia à escola poderes para pensar seus próprios dilemas, numa relação horizontal entre os diversos atores do contexto escolar, e para efetivar, por meio de um planejamento sistematizado, o projeto político-pedagógico da escola. Desta maneira, é pela vivência cotidiana e pelo trabalho coletivo que se buscam alternativas práticas que viabilizem e valorizem a especificidade da escola, pois é por meio de reuniões de planejamento, entre outras ações, que a escola dá vida ao seu projeto numa perspectiva democrática, com objetivos bem definidos, [...].

Sendo assim, o Projeto Político Pedagógico é uma forma de planejamento

coletivo, que deve retratar a realidade institucional e concreta da escola, por isso

não deve ser uma ação isolada do gestor, sendo necessário que todos os

segmentos da comunidade escolar participem de sua construção.

Um fator importante do planejamento é que o gestor e os profissionais de

educação deverão tornar evidentes em seus planos de ação, a importância do físico

e do financeiro na atuação conjunta com o pedagógico.

Quando adequamos um ambiente, tornando-o limpo, arejado, bem iluminado,

adquirindo mobiliários, material pedagógico, para oferecer melhores condições de

trabalho aos profissionais e aos alunos, os resultados são mais significativos. Outros

fatores importantes nesse sentido é a estrutura física como ambiente de acolhimento

da comunidade escolar, bem como um acolhimento diferenciado aos alunos que

bem acomodados apresentam diferencial qualitativo e quantitativo quanto aos

resultados.

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A escola sendo um ambiente organizado apresenta-se favorável à produção

do conhecimento e ao debate político-pedagógico e educativo. Os encontros

constantes de todos os segmentos em reuniões escolares, colegiados, eventos,

confraternização ou outro meio, possibilita a realização de avaliação contínua e dos

resultados tornando-se um fator integrado em todo o processo educativo.

Importante destacar que são nesses encontros, acima citados, que o gestor,

equipe de direção e comunidade escolar repensam a forma de gestão praticada.

Para não incorrerem no erro de centralizarem as atitudes e essas reuniões

tornarem-se somente espaços para aprovar decisões já tomadas por algum grupo,

vale lembrar que as ações e avaliações deverão estar sempre direcionadas pela

defesa do direito de acesso à aprendizagem de qualidade.

Quando da promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil

em 1988 foi substituído o termo administração por gestão (BRASIL, 1988), porém

quanto a ser democrática não se tem definição clara. Observou-se por meio das

discussões no Grupo que participou do projeto de intervenção pedagógica na escola

e no Grupo de Trabalho em Rede (GTR) que há certa insatisfação em relação às

questões relacionadas à questão democrática. Uma das abordagens diz respeito à

insatisfação dos serviços públicos ofertados, especialmente na educação. Segundo

Nogueira (2004, p. 121-122),

[...] nas últimas décadas, cresceu muito a insatisfação social com a gestão pública. Boa parte desta insatisfação deriva da má qualidade efetiva de alguns serviços públicos. Há desarranjo e baixo rendimento em diversas áreas, graças a fatores organizacionais, que têm a ver com decisões políticas, com financiamento escasso, dizem respeito ao padrão prevalecente de forma administrativa e de política de recursos humanos. Outra parte da insatisfação vem da campanha contra o estado, que incentiva as pessoas a acharem que tudo aquilo que é público tem menor qualidade quando comparado com o que é ofertado por uma empresa particular. Como o clima geral é de valorização dos mecanismos da concorrência e da livre-iniciativa, como vivemos sob hegemonia de uma cultura mercantil, as pessoas passam a perder confiança nos bens e serviços ofertados, acabando por se desiludir com eles e por abandoná-los.

A gestão da escola pública é uma evidência do que relata Nogueira (2004).

Essa insatisfação aponta para a falta de autonomia da escola quando se refere a

recursos físicos, financeiros, pedagógicos e humanos.

Quanto aos recursos físicos, nos remetemos às escolas que não possuem

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condições adequadas de conforto e acolhimento à comunidade escolar. Faltam

ambientes como refeitórios, quadras cobertas, bibliotecas e salas de aulas

adequadas entre outros, indispensáveis à oferta e prestação de serviços de

qualidade, assim como melhores condições de trabalho. Há também, em tais

escolas, dificuldades para manutenção da estrutura física e dos equipamentos

pedagógicos. Os recursos repassados pela mantenedora são condicionados ao

número de alunos e vêm pré-determinados em quais ocasiões deverão ser

aplicados. Nesse formato, nem sempre atende às reais necessidades escolares. A

falta de recursos para a manutenção da estrutura física e dos equipamentos

pedagógicos gera grandes prejuízos financeiros (com os descartes de materiais) e

na aprendizagem dos alunos com a falta de condições para o ensino.

Muitas vezes falta ainda, ao gestor escolar, autonomia pedagógica. A escola

pública sofre as consequências de uma política de Governo e não de Estado, uma

vez que muitos documentos que norteiam as práticas pedagógicas, como por

exemplo, o Plano de Trabalho Docente, são elaborados sem a participação da

escola. Além disso, há constantes exigências de realização de atividades que não

atendem aos anseios e objetivos propostos pela comunidade escolar.

No que se refere aos recursos humanos, essa autonomia restrita contribui

muito para emperrar o processo de ensino e aprendizagem, pois não é possível

suprir as demandas em tempo hábil, tampouco evitar a alta rotatividade de

professores e funcionários, uma vez que o critério de fixação desses profissionais

são decorrentes de vagas orçamentárias e não reais.

A falta de autonomia estende-se também às instâncias colegiadas, uma vez

que falta tempo, condições e fundamentalmente a formação para o trabalho em

colegiado uma vez que suas ações estão delimitadas ao que determina a legislação.

Mesmo com autonomia limitada, os profissionais da escola não podem fugir à

sua responsabilidade. Para encaminhar relações democráticas e participativas é

necessário que o gestor e sua equipe instaurem um processo dinâmico de

envolvimento, de sensibilidade, de entusiasmo e de comprometimento à causa da

Educação. Isso implica em estudar e compreender a função social e política da

escola para coletivamente delimitar as finalidades da ação educativa que nortearão

a implementação de propostas delineadas tanto pela comunidade escolar como as

oriundas do sistema. Os limites, especialmente os decorrentes da falta de

autonomia, serão desafios que deverão ser enfrentados coletivamente.

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Nesses termos, para uma gestão constituir-se democrática é indispensável

partir da elaboração de um plano de ação integrado, envolvendo família, escola,

instâncias colegiadas e órgãos públicos. Neste plano serão discutidas as

potencialidades e dificuldades da escola no que diz respeito aos resultados

educacionais, avaliando toda prática docente, a participação dos pais, as questões

de inclusão, a gestão de pessoas, os serviços de apoio dos agentes e também no

que diz respeito aos recursos físicos e financeiros, criando ações para superar as

fragilidades do processo educativo e melhorar as potencialidades.

3 PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

3.1 Concepções e vivências

Toda comunidade escolar (gestores, professores, funcionários, pais, alunos e

segmentos da sociedade), de forma conjunta, deve elaborar o Projeto Político

Pedagógico. O foco está em compreender a realidade cotidiana para propor

mudanças. É partindo desse pressuposto que a LDB 9394/96, no Art. 12, estabelece

que:

Os Estabelecimentos de Ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I. Elaborar e executar a proposta pedagógica; II. Administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III. Assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; IV. Velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; V. Promover meios para recuperação de alunos de menor rendimento; VI. Articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola; VII. Informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o rendimento dos alunos bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica (BRASIL, 1996, art. 12).

A escola tem o compromisso legal de elaborar seu Projeto Político

Pedagógico, por ser um documento em que se registra a realidade da escola e a

proposição de mudanças, norteando a proposta pedagógica do estabelecimento,

bem como a elaboração dos planos de ação de todos os profissionais da instituição

de ensino.

Ao elaborar o PPP, a escola precisa estar atenta às contínuas mudanças nas

relações do trabalho social gerando novos saberes e nova organização cultural. Isso

requer do professor, do gestor, do pedagogo e de todos os segmentos escolares

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como condutores e responsáveis pelo processo educacional e a formação

continuada. Assim, enfatiza Veiga (1996, p. 20),

a) Proceder ao levantamento de necessidades de formação continuada de seus profissionais; b) elaborar seu programa de formação, contando com a participação e apoio dos órgãos centrais, no sentido de fortalecer seu papel na concepção, na execução e na avaliação do referido programa.

A autora reforça que essa formação não deve estar vinculada somente aos

conteúdos curriculares, mas também à compreensão de todo o contexto escolar e

suas relações com a sociedade (econômica, política e cultural), especialmente

quanto às relações democráticas no contexto escolar.

É partindo deste pressuposto que o gestor, equipe pedagógica, instâncias

colegiadas, professores e funcionários encontrarão caminhos alternativos para suprir

as eventuais carências do Estado, ganhar autonomia e ampliar as relações dentro e

fora da escola pela construção coletiva do PPP. Durante a qual, são levantadas as

potencialidades, fragilidades e anseios da escola, assim como, são estabelecidos

meios para melhorar as condições de trabalho e da aprendizagem, visando uma

educação democrática que implica a garantia de qualidade.

Ao refletir a realidade da escola, por meio da elaboração do PPP, os

profissionais da Educação adquirem uma nova postura frente ao processo educativo

e nas relações com a comunidade. Mesmo com pouco investimento por parte do

Estado, no que diz respeito à concretização de políticas que garantam a valorização

dos profissionais da Educação, melhores condições de trabalho, valorização salarial,

formação adequada a todos os profissionais para atender às novas demandas da

escola, principalmente, quanto à inclusão e à diversidade, aumenta o

comprometimento com a Educação centrada na formação humana e na mediação

do saber historicamente elaborado.

Atualmente, constatam-se avanços consideráveis no que se refere à

valorização dos profissionais da Educação, a este avanço, atribui-se a luta dos

educadores e gestores no processo de coordenação e elaboração de propostas que

visam melhoria na qualidade da Educação dos alunos da escola pública, bem como

na formação de seus profissionais. Há uma luta constante no que se refere ao

trabalho do gestor, no sentido de administrar com sua equipe a política de

adequação e distribuição dos recursos humanos, pedagógicos e financeiros para

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que a escola cumpra com sua função de educar democraticamente. Assim, destaca

Veiga (1998, p. 108) que,

[...] ao iniciar um processo de reflexão sobre a escola e a necessidade de seu redimensionamento, os educadores precisam estar motivados e preparados para construir a nova proposta. A valorização profissional, partindo de um plano de carreira com critérios justos de ascensão funcional, garantirá a permanência de bons profissionais nas escolas, evitando a rotatividade, o absenteísmo, a alienação. Articulada a esse aspecto, outra condição que vimos repetindo insistentemente, pelos resultados positivos apresentados pela pesquisa, diz respeito à formação em serviço realizada na escola, com base na reflexão sobre as práticas pedagógicas, com tempos coletivos de estudos desenvolvidos permanentemente, de forma contínua e sistemática.

A autora chama a atenção para a importância do envolvimento dos

profissionais da Educação na organização do trabalho escolar. A maneira de

envolvê-los é na construção coletiva do Projeto Político Pedagógico. A escola deve

ser o espaço democrático onde ocorra a concepção, realização e avaliação de seu

projeto educativo, uma vez que é no seu interior que ocorre a organização do

trabalho pedagógico. Nesse sentido, o Projeto Político Pedagógico vai além de um

simples grupo de planos de ensino ou de outras atividades diversas, não é algo que

se elabora para ser arquivado, mas o PPP da escola precisa ser construído para ser

vivenciado em todos os momentos, por todos os envolvidos no processo educativo

da escola. Assim,

[...] o projeto político-pedagógico, ao se construir em processo democrático de decisões, preocupa-se em instaurar uma forma de organização do trabalho pedagógico que supere os conflitos, buscando eliminar as relações competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a rotina do mando impessoal e racionalizado da burocracia que permeia as relações no interior da escola, diminuindo os efeitos fragmentários da divisão do trabalho que reforça as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão (VEIGA, 1996, p. 13-14).

Desta forma, de acordo com a Secretaria de Estado da Educação (SEED), o

PPP constitui-se em um instrumento de organização do trabalho pedagógico, e este

deve mobilizar os sujeitos na organização, formulação, implantação, re-elaboração

da concepção e das ações para o enfrentamento da realidade e das necessidades

educativas dos sujeitos escolares.

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Veiga (1996, p. 14) afirma que “[...] a principal possibilidade de construção do

projeto político-pedagógico passa pela relativa autonomia da escola, de sua

capacidade de delinear sua própria identidade”. Isto significa resgatar a escola como

espaço público, lugar de debate, do diálogo, fundado na reflexão coletiva.

O Projeto Político Pedagógico é um documento que está sempre em

construção, pois, mudanças acontecem, e estas se refletem na organização da

escola.

3.2 Construção do Projeto Político Pedagógico

A Construção do PPP parte dos princípios anteriormente discutidos e

aprofunda sua construção em sete elementos básicos, que são: "[...] as finalidades

da escola, a estrutura organizacional, o currículo, o tempo escolar, o processo de

decisão, as relações de trabalho e a avaliação" (VEIGA, 1996, p. 22).

Quanto à estrutura organizacional, esta poderá ser dividida em dois tipos:

Administrativo e Pedagógico. Quanto à estrutura administrativa, compreende o

prédio como um todo e todos os recursos materiais disponíveis, sendo que, sua

manutenção requer recursos financeiros que são de responsabilidade dos órgãos

mantenedores, no caso das escolas públicas, compete aos Estados, Distrito Federal

e Municípios. Sua gerência e aplicação ficam ao encargo do gestor do

estabelecimento juntamente com os conselhos instituídos.

A estrutura pedagógica refere-se às questões do processo de ensino e

aprendizagem que se efetiva na escola. Este é o ponto principal que deve permear

as discussões relativas ao PPP, visto que a autonomia da instituição escolar está em

definir, com a comunidade escolar, as ações pedagógicas que devem fundamentar a

prática do ensino na instituição.

Quanto ao currículo, esse representa um "[...] importante elemento

constitutivo da organização escolar. Currículo implica, necessariamente, a interação

entre os sujeitos que têm o mesmo objetivo e a opção por um referencial teórico que

o sustente” (VEIGA, 1996, p. 26).

O tempo escolar refere-se aos momentos da organização do trabalho

pedagógico, registrado em calendário escolar, que garante os dias letivos

constantes na LDB 9.394/96.

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Ao definir o tempo, a equipe tem que planejar de forma a atender momentos

de discussão e avaliação do PPP, compreender os alunos e a forma como

aprendem, para que os professores revisem seu PTD. Conforme Veiga (1996, p.

30), "[...] é preciso tempo para os estudantes se organizarem e criarem seus

espaços para além da sala de aula".

O processo decisório que deverá estar pautado em análises, discussões e

decisões do coletivo da escola, o que requer um novo olhar sobre as relações de

poder que compreendem o universo escolar, portanto, há necessidade do

compromisso em romper com posturas autoritárias ainda presentes em nossas

escolas públicas. Assim, as decisões, quando tomadas no coletivo têm maior

respaldo de toda a comunidade escolar, cujo objetivo, seja o de maior

comprometimento de todos pela melhoria da qualidade do ensino.

Quanto às discussões no aspecto relações humanas no trabalho, estas

devem estar pautadas na solidariedade, no compromisso ético com o grupo, nas

trocas de experiências entre os pares, participação e comprometimento coletivo e

superação de eventuais conflitos. De acordo com Franco (2010, p. 35), "[...] só se

consegue um grupo coeso quando os conflitos são explicitados e intermediados,

mas para que isso ocorra é necessário que as divergências sejam discutidas numa

postura de respeito mútuo".

Neste sentido, a avaliação é um processo de suma importância no contexto

escolar para conhecer a realidade, os avanços e as dificuldades no ensino, e desse

modo, retomar as ações na prática educativa atendendo às necessidades

educativas. Veiga (1996, p 32) afirma que "[...] o processo de avaliação envolve três

momentos: a descrição e a problematização da realidade escolar, a compreensão

crítica da realidade descrita e problematizada e a proposição de alternativas de

ação, momento da criação coletiva".

4 PLANO DE TRABALHO DOCENTE

4.1 A importância do planejamento docente

Da mesma forma que o PPP é regido pela legislação, o mesmo acontece com

o PTD e Proposta Pedagógica Curricular (PPC). A LDB 9.394/96 no Art. 12

determina que “Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as

do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: [...] IV - velar pelo cumprimento

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do plano de trabalho docente” (BRASIL, 1996, art. 12). É partindo desse pressuposto

legal, que o PTD torna-se um documento de suma importância no cotidiano de cada

professor, porque respalda e dá sentido às práticas pedagógicas por ele

desenvolvidas.

Porém, não é esta a realidade que constatamos. A preocupação dos gestores

e dos pedagogos é de que o PTD, que deveria ser para o professor o documento

orientador de sua prática pedagógica, tem se apresentado para alguns como mero

documento a ser entregue para a equipe pedagógica.

É imprescindível o uso do planejamento na prática reflexiva para transformar

a realidade. Nem sempre essa prática ocorre no interior das escolas, por muitas

vezes é comum ouvir de alguns professores que o planejamento não se faz

necessário, pois a experiência adquirida ao longo dos anos lhes dá competência

para desenvolver conteúdos com a mesma qualidade como se as aulas tivessem

sido planejadas. Tornando-se um documento obsoleto sem significado na prática

docente. Sobre planos Vasconcellos (1995, p. 11) afirma que os mesmos,

[...] são entregues e engavetados; A prática do professor em sala de aula, de um modo geral, não leva em conta o que foi colocado no plano; Planos são copiados dos livros didáticos; Planos são copiados do colega (da mesma escola ou de outras); Planos são copiados de um ano para o outro; Coordenadores/orientadores/supervisores ficam cobrando exaustivamente para que professores entreguem seus planos; Escolas com textos belíssimos na sua filosofia, na agenda escolar, no regimento, e práticas bastante contraditórias; Escolas fazem seus projetos e estes ficam esquecidos; Escola faz projeto político-pedagógico; muda a direção (ou o governo); projeto é arquivado, etc.

Segundo o autor, o planejamento nem sempre é utilizado como ferramenta

que dá norte ao conteúdo a ser trabalhado, usa-se apenas, como documento formal

para ser arquivado, sendo o seu planejamento o livro didático ou apostilas

elaboradas há anos, sem levar em consideração o contexto atual, não existindo,

dessa forma, uma intencionalidade ao planejar e muito menos na efetivação do que

se planejou.

Diante dessa realidade, o PTD torna-se um documento sem nenhum

significado, pois não expressa a verdade no tocante ao planejado e ao realizado. O

mais preocupante é que esse documento não contempla as ações do PPP, por

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conseguinte, a prática docente não contempla o PTD, não havendo, desta forma,

uma intencionalidade no ato de ensinar.

O planejamento pedagógico em nível escolar visa também à eficácia.

Significa realizar um conjunto orgânico de ações, proposto para aproximar uma

realidade a um ideal, aproximar a escola da comunidade e vice-versa. Temos em

mente que a função do planejamento é tornar evidente e precisa a ação, organizar e

sintonizar o que fazemos. Sintonizar ideias, realidade e recursos para tornar mais

eficiente nossa ação. Para Vasconcellos (1995, p. 49),

[...] o planejamento, mais especificamente, pedagógico diz respeito ao trabalho em sala de aula, baseado no relacionamento interpessoal, na organização da coletividade e na construção do conhecimento. Particularmente, o trabalho de construção do conhecimento é um dos aspectos mais enfatizados nos processos de planejamento, mas há necessidade de considerá-lo na totalidade da escola, ou seja, nas suas relações no próprio nível pedagógico (relacionamento interpessoal e organização da coletividade), nas suas relações com o nível administrativo e com o nível comunitário da instituição, bem como de levar em conta ainda a própria relação da escola com a comunidade.

É na escola que ocorre a compreensão e socialização de conhecimento

científico, portanto se fazem necessárias a elaboração e execução do planejamento

no qual estão explícitas a intencionalidade e as ações que serão desenvolvidas no

cotidiano escolar.

Frente aos desencontros entre planejamento, teoria e prática, não se

concebe, nos dias atuais, que tal atitude se evidencie. É na perspectiva de uma

mudança de comportamento, atitude e de conscientização que se propõe este

trabalho. Pretende-se uma relação coerente entre a teoria e a prática de modo que o

trabalho em sala de aula seja direcionado por um planejamento participativo, cujo

principal objetivo é o processo de ensino e aprendizagem.

Sendo o PTD o documento que norteia o trabalho do professor em sala de

aula, nele se pensa o que fazer, como fazer, quando fazer, com o que fazer e para

quem fazer. Cabe então, ao professor com acompanhamento dos pedagogos,

realizar a articulação entre teoria e prática, entre ensinar e aprender, e também,

entre ensinar e avaliar para que estas intenções se concretizem, utilizando-se de

metodologias que facilitem a aprendizagem.

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Para uma prática pedagógica eficiente no interior da escola, devemos passar

por algumas etapas. Uma delas é a gestão democrática, que tem como princípio a

participação da comunidade escolar na elaboração e implementação do PPP e

demais projetos e/ou programas da escola. Nesse sentido, o gestor e equipe são os

principais articuladores dos encontros realizados, são os facilitadores das

discussões que levam a estabelecer ações, com metas e objetivos que deverão ser

alcançados.

Outra etapa é a construção do PPP, que é a organização do trabalho

pedagógico da escola. Nessa perspectiva, a construção do projeto pedagógico

passa a ser um instrumento de luta, uma forma de contrapor uma fragmentação do

trabalho pedagógico. Para isso, os educadores têm que ter em evidência a

intencionalidade e as finalidades da escola.

Por fim, vem o PTD, documento elaborado e articulado ao PPP, que

estabelece os caminhos a serem seguidos pelo professor em sua prática docente e

pelo aluno na relação dinâmica com o conhecimento. É o PTD que vai dar uma

diretriz para a prática docente, é um instrumento político e pedagógico que permite a

dimensão transformadora do conteúdo, permitindo uma avaliação do processo de

ensino e aprendizagem, pressupõe a reflexão sistemática da prática educativa

direcionando o trabalho do professor.

Esta prática se faz necessária para que PDT se consolide e não fique apenas

como algo burocrático, que não seja um documento de gaveta, mas um objeto de

trabalho que aponta caminhos na direção do ensino que realmente se busca, com

significado consistente, comprometido com a aprendizagem.

4.2 Articulação entre Projeto Político Pedagógico e o Plano de Trabalho Docente

É importante que todo professor tenha evidente de que sua tarefa principal é

educar efetivando o direito do aluno de aprender. Isso envolve um compromisso

ético pautado nas relações humanas, na diversidade, na inclusão, na formação

científica, ética e moral dos sujeitos para viverem em sociedade. Para tanto, é

necessário um estudo contínuo, pois não há mais espaço para o profissional da

educação descompromissado com a formação humana.

Toda mudança requer compromisso, atitude e ação que devem ser

fundamentados em teorias que auxiliem o professor a romper as barreiras que

dificultam o acesso ao conhecimento. Essas mudanças só se efetivam quando se

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planeja, com objetivos evidentes e um dos espaços é a descrição e proposição no

PTD.

Ao construir o PTD, o professor deverá ter consciência do que se quer

alcançar, identificar o ponto de partida, os obstáculos que enfrentará ao percorrer o

caminho para atingir seus objetivos, além de discutir o que fazer para diminuir essa

distância entre o ponto de partida e o ponto de chegada.

Não se pode falar em planejamentos, sem levar em consideração os pontos

essenciais sugeridos por Gandin (2002, p. 19-20),

a) Planejar é transformar a realidade numa direção escolhida. b) Planejar é organizar a própria ação (de grupo sobre tudo). c) Planejar é implantar “um processo de intervenção na realidade” (ELAP). d) Planejar é agir racionalmente. e) Planejar é dar clareza e precisão à própria ação (de grupo sobretudo). f) Planejar é explicar os fundamentos da ação do grupo. g) Planejar é pôr em ação um conjunto de técnicas para racionalizar a ação. h) Planejar é realizar um conjunto orgânico de ações, proposto para aproximar uma realidade de um ideal. i) Planejar é realizar o que é importante (essencial) e, além disso, sobreviver... se isso for essencial (importante).

O autor destaca ainda que são três as perguntas básicas a serem feitas e

continuamente retomadas, de forma dialética, em um processo de planejamento: O

que queremos alcançar? A que distância estamos daquilo que queremos alcançar?

O que faremos concretamente, num prazo determinado, para diminuir essa

distância? (GANDIN, 2002, p. 21).

Conforme as perguntas feitas por Gandin (2002), o planejamento de aula é de

fundamental importância para que se atinja êxito no processo de ensino e

aprendizagem. A sua ausência pode ter como consequência, aulas monótonas e

desorganizadas, desencadeando o desinteresse dos alunos pelo conteúdo e

tornando as aulas desestimulantes. Para que o planejamento ao ser implementado

em sala de aula possa gerar mudanças, o professor é o principal agente e

responsável do ensino,

[...] primeiro, por estar em contato direto com os alunos, no lócus privilegiado onde se manifestam os problemas. Segundo, por ser o profissional da educação. Terceiro, por ser, potencialmente, um dos mais interessados em resolver estes problemas (VASCONCELLOS, 1995, p. 31).

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Diante da importância do planejamento na prática docente, constata-se a

necessidade de ter um PTD articulado com o PPP e PPC da escola, pois é nele que

constam os sonhos e anseios da comunidade escolar, amplamente discutido e

construído conforme as concepções de aluno, de sociedade, de Educação, de

escola e de mundo.

Nesse contexto, o PPP será capaz de recuperar ou construir a identidade da

escola e dos sujeitos que compõem esse espaço. Da mesma forma que a PPC e o

PTD deverão manter uma intencionalidade e a lógica da proposta que fora

construída pelo coletivo escolar. Desta maneira, vale lembrar as palavras de Veiga

(1996, p.133) quando afirma que

[...] a reflexão sobre o planejamento participativo deverá percorrer os pressupostos da proposta referenciada; a construção teórico-metodológica do objeto do planejamento; fazer considerações sobre os sujeitos que o projeto integra e descrever alguns instrumentos técnicos que ajudarão a viabilizar o plano, no caso, o projeto político-pedagógico da escola. O eixo da reflexão estará em torno da capacidade de o planejamento participativo e seu produto – o projeto político-pedagógico da escola – possibilitarem a vivência da prática reflexiva, democrática e democratizante e, com isso, atuarem no sentido da construção de identidades, da escola e dos sujeitos que ela congrega.

Quando planejamos, temos que ter em mente sua finalidade, ou seja, para

que ensinar? No planejamento, elencamos as ações que pretendemos desenvolver,

com objetivos evidentes, com metodologias diferenciadas, com um único fim: o

processo de aprendizagem do aluno. Neste sentido, recorremos ao PPP, um

documento construído coletivamente que contempla as diversas concepções, respeita

a realidade de sua comunidade e de sua instituição, valoriza a participação e

implementa as ações que visam o processo de ensino e aprendizagem. O PTD dá

sentido à prática docente, pois retrata as aspirações da comunidade escolar,

concretizadas em sala de aula.

5 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Os profissionais que participaram do curso de formação pedagógica na

escola e do grupo de trabalho em rede (GTR) consideram que é necessário

avançarmos para a questão da autonomia da escola, na maioria das vezes o

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sistema não permite tais avanços, principalmente do ponto de vista de que o sistema

educacional é subordinado às políticas de governo e/ou da mantenedora e não de

Estado e que essas políticas são implementadas de forma que dificulta aos gestores

praticarem a gestão democrática no sentido amplo de seu conceito.

Dentro dos grupos, a maioria acredita que a escola pública precisa passar

por mudanças para constituir-se democrática, como por exemplo, romper com o

processo pedagógico que está posto. A construção de uma prática política e

pedagógica democrática precisará ser discutida a partir da base, na qual as

instituições escolares têm abertura para debaterem as legislações educacionais no

processo de sua constituição para poder sugerir ao sistema ações que contribuam e

favoreçam ao ensino de qualidade. Acreditam que, desse modo, a implementação

das políticas e projetos realizar-se-ão numa dinâmica de fato democrática.

Os participantes lembram, ainda, que os problemas educacionais que estão

postos não são apenas do sistema ou do governo, constata-se também que a

participação dos educadores nas discussões das propostas da escola ainda deixa

muito a desejar, e quando acontece é de forma superficial. Desse modo, evidencia-

se que a escola está sendo “pensada” por uma minoria.

A falta de envolvimento e compromisso da comunidade escolar em relação

aos projetos da escola é destacada pelos participantes especialmente quando da

construção do PPP que deve ser resultado de reuniões, conversas, análises

realizadas entre professores, pedagogos, alunos, instâncias colegiadas e

comunidade. O Projeto representa o perfil e a finalidade a que se destina a escola,

por isso, necessita ser delineado em conjunto para de fato representar a realidade

da comunidade onde a escola está inserida.

Por fim, o grupo entende que os profissionais que trabalham na escola antes

de elaborar o seu Plano de Trabalho necessitam estar inteirados do Projeto Político

Pedagógico da instituição, tendo eles participado ou não da construção. O ponto de

partida é ter evidentes os objetivos e fins da Educação para construir um caminho

que contemple a sondagem da realidade (problemas e potencialidades); a retomada

de valores e hábitos essenciais (no caso do docente de conteúdos essenciais); o

reconhecimento da realidade social dos alunos e da comunidade que irá atender e

as formas necessárias para a avaliação constante dos avanços e das dificuldades.

Desse modo, acredita-se que a prática de cada um na escola, mas especialmente

dos docentes, refletirá as propostas da instituição de ensino. O Plano de Trabalho

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Docente, por sua vez, articulará, ainda, o PPP e a Proposta Pedagógica Curricular,

possibilitando uma prática pedagógica e metodológica que favorecerá

aprendizagens com sentido e significados aos estudantes. Desse modo, entende-se

contribuir para uma escola mais atrativa e mais educativa.

REFERÊNCIAS

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