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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
A MATEMÁTICA FINANCEIRA E OS IMPOSTOS NO BRASIL
Milda Catarina Steinhorst1
Franklin Angelo Krukoski2
Resumo
O presente artigo relata alternativas de ensino aprendizagem com atividades teóricas e práticas de forma interdisciplinar e contextualizada, buscando qualificar a prática pedagógica e ampliar o conhecimento adquirido dos alunos. Para isso, utilizou-se o conteúdo estruturante Tratamento de Informações, que engloba a matemática financeira e a contempla em assuntos do cotidiano, instrumentaliza e subsidia os diversos saberes da atividade humana estruturando formas de pensamento, tomadas de decisões e alavancando o raciocínio lógico. A partir disso, objetivou-se destacar a importância da aplicação da matemática financeira como suporte metodológico e que, se dominada pelos alunos pode facilitar a tomada de decisões quanto à análise de investimentos e financiamentos. Ainda de acordo com esse propósito buscou-se expor aos alunos a incidência dos impostos, da alta carga tributária brasileira indexada nos bens e serviços, destacando as devidas taxas e alíquotas exercidas, para que os mesmos possam gerenciar o seu próprio dinheiro, fruto do seu trabalho, contribuindo para a autonomia, criando reflexões do cotidiano que envolvam transações comerciais e financeiras. Sendo assim, todos os conteúdos propostos foram abordados de diferentes maneiras didáticas como: palestras, vídeos, laboratório de informática, internet, cartazes, resolução de problemas que representassem situações reais, entre outros. Em virtude dos aspectos mencionados, a proposta metodológica foi avaliada pelo Grupo de Trabalho em Rede-GTR e pelos alunos como positiva e necessária, à qual deveria fazer parte do currículo escolar como disciplina. Destacou-se o aumento do interesse e a motivação dos alunos, que nesse trabalho reconheceram a escola como uma oportunidade para sua formação e transformação social.
Palavras-chave: Matemática Financeira. Impostos. Resolução de Problemas.
Introdução
O ensino de matemática tornou-se um grande desafio com as recentes
mudanças das atividades cotidianas dos alunos, onde a facilidade da comunicação,
através das redes sociais e outros recursos tecnológicos, são encaradas como um
grande problema para o ensino em geral, entre eles o ensino de disciplinas como a
matemática.
1 Professora da rede pública de Educação Básica, especialista em Ensino de Matemática -
UNICENTRO e especialista em Educação de Jovens e Adultos – FAMPER, graduada em Ciências com habilitação em Matemática - UNIOESTE. E-mail: [email protected] 2 Professor orientador do PDE/2014, Mestre em Métodos Numéricos em Engenharia – UFPR, Licenciado em Matemática – UTFPR, professor Assistente da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE. E-mail: [email protected]
O processo de ensino aprendizagem torna-se mais prazeroso quando se
relaciona os conteúdos às atividades desenvolvidas no dia a dia e isso é possibilitado
quando se trabalha com a matemática financeira e impostos (D’AMBROSIO, 2001).
O presente artigo apresenta a utilização de resolução de problemas como
recurso metodológico para o ensino de matemática financeira nos anos finais do
ensino Médio. É nessa época que o aluno começa a interagir com o mercado de
trabalho e terá as primeiras oportunidades de estágios e empregos remunerados, e
desta forma sentirá necessidade de conhecer o valor do dinheiro no tempo, sendo
esse o fundamento principal do estudo da matemática financeira (ASSAF NETO,
2008).
Paralelamente ao estudo da matemática financeira, com o objetivo de formar
cidadãos conscientes de suas responsabilidades e direitos cíveis, são abordados
tópicos relacionados aos impostos no Brasil, o que possibilita um embasamento
consistente e mais real da situação que vivem os trabalhadores brasileiros e da carga
tributária existente no país.
Desta forma, a problemática norteadora do presente trabalho, baseia-se nas
seguintes indagações: Como despertar a curiosidade do aluno para uma disciplina
que se faz tão presente para o dia a dia, como a matemática financeira, e como
motiva-los à ascensão pessoal e profissional? Quão profundamente os impostos estão
inseridos em nosso meio como trabalhadores assalariados? Quais são nossos direitos
e deveres para com o país em relação aos impostos?
Para responder a essa problemática, desenvolveu-se, junto aos alunos dos
anos finais do ensino médio, uma abordagem aos principais tópicos da matemática
financeira utilizando a resolução de problemas como metodologia. Buscou-se
contextualizar a matemática financeira e os impostos aos problemas do cotidiano dos
alunos, com vistas aos seguintes objetivos: conscientizar nossos alunos quanto ao
papel de cidadão crítico e reflexivo; refletir sobre a arrecadação de impostos no Brasil
e a aplicação do dinheiro público; entender a matemática financeira reconhecendo
sua aplicação nos mais diversos ramos da atividade humana; possibilitar aos alunos
interpretar as melhores condições de financiamentos e aplicações no mercado
financeiro; usar cálculos matemáticos para determinar juros, taxas, e tempo de
aplicação monetária;
Para alcançar esses objetivos, inicialmente realizou-se uma pesquisa
bibliográfica em que se fez uso do aporte teórico de autores como Duarte (1987),
Corragio (1996), Nascimento (2004), Ramos (2004), Fazenda (2002), Assaf Neto
(2008), entre outros. Utilizou-se, como instrumento de pesquisa foi a resolução de
problemas contextualizados aos alunos que frequentam os anos finais do Ensino
Médio, verificando como a matemática financeira pode, além de motivar o aluno à
conclusão dessa etapa de sua formação acadêmica, prepará-lo para um mercado de
trabalho cada vez mais competitivo, tornando-os críticos e reflexivos quanto à
utilização de seu próprio capital.
A matemática financeira e os impostos
Desde os primórdios da civilização até a sociedade contemporânea a
matemática está presente nos mais curiosos fatos, e isso nos leva a deduzir que não
há ramo dessa ciência, por mais abstrata que seja, que não tenha empregabilidade
em algum fenômeno do mundo real.
Nesse cenário, a matemática se destaca por determinar resultados de
fundamental importância para o desenvolvimento cognitivo individual e coletivo no
campo econômico, social, tecnológico, militar, industrial, político entre outros.
... o ensino de Matemática, assim como todo ensino, contribui (ou não) para
as transformações sociais não apenas através da socialização (em si mesma)
do conteúdo matemático, mas também através de uma dimensão política que
é intrínseca a essa socialização. Trata-se da dimensão política contida na
própria relação entre o conteúdo matemático e a forma de sua transmissão –
assimilação (DUARTE, 1987, p.78).
Dessa forma, pensar sobre o conhecimento matemático é desenvolver
estratégias e métodos específicos para uma educação autônoma direcionada a
objetos de estudo com transcendência ao conhecimento. Para isso, é de suma
importância apresentar os conteúdos com abordagens e metodologias diversificadas
(PARANÁ, 2008).
Não é de hoje que o mundo capitalista, no que tange especialmente a
empresas, seja ela prestadora de serviços, comercial ou financeira, requer sempre
pessoas mais habilitadas, que defendem a priori seu capital, não admitindo erros, e
têm por meta principal o lucro. Sendo assim, verifica-se a importância da matemática
financeira, à qual se torna imprescindível e indispensável para tomadas de decisões
de cunho comercial e financeiro.
Nesse sentido, a escola, a educação e todo o processo de ensino, também se
assemelham a uma empresa. Segundo José Luis Corragio (1996), a escola é vista
como insumos e a eficiência e as taxas de retorno, como critérios fundamentais de
decisão. A análise econômica tornou-se a principal metodologia para a definição de
políticas educativas. Prova disso é a rigidez do currículo construído historicamente,
onde a maioria dos conteúdos é mantida por tradição, de forma fragmentada, que para
a maioria dos alunos é visto sem importância, não oferecendo espaço para que sejam
explorados outros conteúdos que tenham maior significado para os educandos.
A matemática financeira é vista de maneira superficial por constar nos livros
didáticos de maneira breve e acabada com pouca contextualização, pela maioria dos
educadores não terem visto em sua graduação ou até ainda por não disporem de
horas-aula para trabalhar, ou ainda por não ser contemplada nos vestibulares, como
bem se refere Nascimento (2004, p. 123), que afirma o seguinte:
...constatamos um descompasso entre a opinião dos professores de
matemática, que consideram a matemática financeira como um tema
importante para a formação dos alunos e o fato de que não a selecionam
como um conteúdo a ser trabalhado, com razoável destaque, nas turmas do
ensino médio.
Uma hipótese para compreender essa decisão dos professores pode estar
localizada nos programas e provas dos vestibulares, que não priorizam esse
tema, mas que, infelizmente acaba orientando o que se ensina nessa etapa
dos vestibulares.
Outro fator que concorre para a não abordagem dos tópicos da matemática
financeira de forma mais coerente com algumas tendências da educação
matemática - sejam as ideias veiculadas por teorias como as da
etnomatemática, da modelagem, dos projetos de trabalho dentre outros - é a
pouca atenção dada ao tema pelos livros didáticos.
Há ainda a questão referente à formação dos professores de matemática que,
de modo geral, não tem em sua formação inicial, nos cursos de licenciatura,
estudos sobre o tema nem sobre suas possíveis abordagem.
Diante de tal circunstância essa pesquisa vem contribuir para amenizar essa
problemática, formando pessoas com alto potencial e rendimento diante do sistema
capitalista no qual estamos inseridos.
Para formar um aluno crítico e reflexivo é necessário que ele compreenda e
dê significado aos conhecimentos historicamente acumulados pela humanidade
(PARANÁ, 2008).
Nesse contexto, a matemática financeira contribui de forma significativa para
a formação dos alunos com tais características. Conteúdos abordados pela
matemática financeira, tais como: juros simples, juros compostos, porcentagens,
sistemas de amortização entre outros, juntamente com a aprendizagem no manuseio
de ferramentas tecnológicas contribuirão para uma atuação mais ampla deste aluno
no mercado de trabalho.
As inovações apresentadas pela comunidade são um reflexo da transferência
e da aplicação do saber de forma contextualizada. A fim de atingir este objetivo, é
imprescindível a interdisciplinaridade, ou seja, o conhecimento das diferentes ciências
entrelaçadas e voltadas para a criação do novo.
De acordo com Ramos (2004, p. 01),
... sob algumas abordagens, a contextualização, na pedagogia, é
compreendida como a inserção do conhecimento disciplinar em uma
realidade plena de vivências, buscando o enraizamento do conhecimento
explícito na dimensão do conhecimento tácito, sendo que esse enraizamento
acontece pela interação e o aproveitamento incorporando situações
vivenciadas com a realidade do seu dia a dia.
Segundo Fazenda (2002), a interdisciplinaridade parte do pressuposto de que
nenhuma forma de conhecimento é completa em si mesma, pois necessita do
complemento de outros saberes para se concretizar. Por exemplo, o conhecimento do
senso comum é válido a partir das interações do cotidiano com o conhecimento
científico, valorizando o conhecimento previamente adquirido pelos alunos.
Face ao exposto e consciente da dimensão, busca-se o ensino da matemática
financeira e suas relações com as ciências sociais e políticas de uma forma consciente
e necessária, que a falta de conhecimento financeiro acarreta nos seres humanos,
mas principalmente nos alunos do ensino médio que estão em uma fase de
desenvolvimento participativo da sociedade na qual estão inseridos.
Conforme Vasconcellos (1993), conhecer a realidade dos educandos implica
em fazer um mapeamento, um levantamento das representações do conhecimento
dos alunos sobre o tema de estudo. A mobilização é o momento de solicitar a
visão/concepção que os alunos têm a respeito do objeto.
Contudo a metodologia acontece de forma interdisciplinar observando a
linguagem escrita, falada e simbólica, entre outras. Também se valoriza a
contextualização de cada conceito apresentado no que se refere a cálculos
matemáticos e sua empregabilidade diante a quantidade de impostos regidos pelo
país. Por sua vez, é tarefa do professor orientar e usar de sua criatividade para que
os conceitos e fórmulas apresentadas sejam facilmente absorvidos pelos alunos e que
haja um elo de reconhecimento entre a necessidade matemática para apuração de
cálculos nos impostos e os tributos.
Devido à imersão em um mundo capitalista e globalizado, a sociedade
encontra-se voltada ao consumismo, marcadas por inúmeras prestações e altas taxas
de juros. Desta forma, todo o conhecimento matemático e a base educacional
contribuirão para o aluno empregar melhor os recursos financeiros provenientes de
seu próprio trabalho. Para isto, é urgente a educação financeira das futuras gerações.
As Diretrizes Curriculares da Educação Básica Matemática (2008), confirma a
importância do aluno do Ensino Médio compreender a matemática financeira aplicada
aos diversos ramos da atividade humana e sua influência nas decisões de ordem
pessoal e social.
Assim, é visto que a escola representa um papel importantíssimo na inserção
e permanência desses jovens adolescentes, proporcionando condições para que os
mesmos construam sua cidadania e possa ter acesso à qualificação profissional.
O ensino deve respeitar os diferentes níveis de conhecimento que o aluno traz
consigo a escola. Freire e Campos (1991), chamam esses conhecimentos como
produto de uma identidade cultural do aluno, ligada ao conceito sociológico de classe.
Essa “leitura do mundo” inicial que o aluno traz consigo, ou melhor, em si, deve ser
considerada pelos educadores. Ele apropriou-se no contexto do seu lar, de seu bairro,
de sua cidade, marcando-a fortemente com sua origem social.
Por outro lado, também é necessário que o trabalhador social se preocupe
com algo já enfatizado: que a estrutura social é obra dos homens e que, se assim for,
a sua transformação será também obra dos homens. Isso significa que sua tarefa é
de serem sujeitos e não objetos de transformação. Tarefa que lhes exige, durante sua
ação sobre a realidade, um aprofundamento da sua tomada de consciência da
realidade, objeto de atas contraditórias daqueles que pretendem mantê-la como está
e dos que pretendem transformá-la (FREIRE, 1979).
A busca pelo desenvolvimento individual, pela superação pessoal, pelo desejo
de autorrealização e pelo preparo para responder às exigências da vida e do mundo
em transformações, faz o homem ser impulsionado à necessidade de educar-se
(FREIRE, 2007). Nessa perspectiva, a educação torna-se imprescindível para a
continuidade da vida.
A aprendizagem é um fenômeno do dia-a-dia que ocorre desde o início da
vida. É um processo fundamental, pois todo indivíduo aprende e, por meio deste
aprendizado, desenvolve comportamentos que possibilitam viver. Todas as atividades
e realizações humanas exibem os resultados da aprendizagem (PORTO, 2009).
Uma das possibilidades de fazer matemática é através da resolução de
problemas com suas diversas abordagens. Às vezes são desafiadores, de lógica,
convencionais ou não convencionais, porém o discente tem oportunidade de
demonstrar conhecimentos matemáticos em novas situações de aprendizagem em
questões propostas (DANTE, 2003).
No entanto as maneiras de aprender estão interligadas às maneiras de
ensinar e tem como referência o ensino aprendizagem do objeto de estudo. Saber
como se ensina. Para o autor, “o ensino mais compatível com o mundo da ciência, da
tecnologia, dos meios de comunicação, e ao mesmo tempo comprometido com as
mediações culturais, é aquele que promove o desenvolvimento mental, por meio dos
conteúdos e do desenvolvimento” (LIBÂNEO, 2008, p. 74).
Para Schoenfeld (1997), a resolução de problemas consiste em um
conhecimento passível de ser apreendido pelos sujeitos no processo ensino e
aprendizagem. O professor poderá usar a resolução de problemas como fins
metodológicos de forma prática, tornando as aulas mais atrativas evitando modelos
clássicos tradicionais.
Implementação do Projeto
O percurso metodológico adotado na implementação pedagógica relata a
experiência do tema proposto e segue a linha de estudo: “Tendências Metodológicas
em Educação Matemática”, a qual destaca a Matemática Financeira como o ramo de
estudos que permite aos economistas analisar as formas mais adequadas de alcançar
seus objetivos no campo econômico e no campo pessoal. O mesmo foi aplicado aos
alunos do Ensino Médio dos 3º anos noturno do Colégio Estadual Tancredo Neves,
de Francisco Beltrão, com uma duração de 32 horas aula.
A primeira atividade desenvolvida foi apresentação e a socialização da
Produção Didático-Pedagógica, onde o sistema capitalista foi sistematicamente
apresentado aos alunos, a fim de fazê-los refletir sobre a aplicabilidade da Matemática
Financeira no cotidiano e refletir sobre as altas taxas de juros praticadas no mercado.
Foi exposto o conteúdo estruturante, os conteúdos básicos e os objetivos propostos.
A fim de estabelecer a essência do projeto de forma contextualizada, realizou-
se uma explanação e socialização sobre os impostos cobrados no Brasil, através de
uma palestra relacionada ao assunto, ministrada pelo Sr. Wilson Lopes, Contabilista.
Após a palestra e apresentação de vídeos sobre impostos, verificou-se que
os educandos gradativamente se encorajaram a participar das discussões, e
passaram a indagar a respeito de seus direitos e deveres e o levantamento dessas
dúvidas possibilitou a conscientização dos alunos ao papel de cidadão.
Foi realizada, na sala de informática, uma pesquisa sobre a quantidade de
impostos cobrados nos principais produtos do cotidiano. Em seguida foram
confeccionados cartazes com detalhamentos desses impostos, e os mesmos
expostos na escola para que todos os alunos e comunidade escolar tivessem
oportunidade de observar e refletir.
No decorrer das atividades e de acordo com pesquisa realizada, foi verificou-
se que a maioria dos educandos desconhece o sistema tributário brasileiro e, aqueles
que já obtiveram essa informação, não sabem ao certo o quanto pagam e quais são
as alíquotas aplicadas. Um fato interessante é que muitos alunos, por serem
trabalhadores remunerados com salários de até dois salários mínimos, tinham a
certeza de que eles não eram contribuintes, isto é, não pagavam impostos.
Também houve uma conscientização, quanto à solicitação da nota fiscal em
suas compras, a participação de cada um em exigir transparência na aplicação desse
montante, verificando as alíquotas utilizadas em cada setor e se beneficia ou não a
coletividade. O vídeo que mais chamou a atenção foi o “Impostômetro”3, pela
quantidade de impostos arrecadados. Destaca-se que os alunos relataram que não
faziam ideia do montante arrecadado pela carga tributária do Brasil.
3 Disponível em <http://www.impostometro.com.br/curiosidades>
De acordo com pesquisa realizada colheram-se alguns depoimentos:
O sistema da cobrança de impostos é injusto, temos taxas mais altas do mundo, pois só aumenta nunca diminui, fiquei conhecendo alguns impostos novos. O projeto foi muito bom, poderei utilizar no meu dia a dia, inclusive para financiamentos, tenho certeza que não serei enrolado. (Aluno A); O sistema é totalmente injusto, pois nós a classe pobre, trabalhadora, somos os que pagamos mais impostos, enquanto os ricos estão com os valores lá em baixo, eu não tinha conhecimento que funcionava assim. O projeto foi só ponto positivo, que a gente usa na vida toda, algo necessário, não tinha conhecimento do assunto, nunca tinha parado para pensar. (Aluna B); O sistema é injusto, porque os juros são extremamente altos, e onde os grandes podem tirar eles tiram sem medo e receio. Em questão da carga tributária eu sabia da sua existência, porém não do seu alto teor no bolso do consumidor. Que o projeto, só pontos positivos, serviu para alertar e abrir nossos olhos para o que realmente ocorre com nosso dinheiro, que em questão de investimentos toda atenção é pouca, pouco retorno. De pontos negativos faltou tempo para aprofundar no conteúdo, mas que entendeu. Eram vários exercícios que me ajudaram a decorar as fórmulas. Sinto-me apta para aplicá-las. (Aluno C);
Na segunda parte do projeto buscou-se destacar os conceitos da matemática
financeira como uma ferramenta indispensável para análise de investimentos e
financiamentos, de operações financeiras a curto e longo prazo. Buscou-se também
estudar e aplicar seus conceitos na variação do dinheiro no tempo.
Foram apresentadas as principais fórmulas relativas aos juros e descontos
simples, e a partir de vários exemplos do dia a dia, como a compra de uma calça, de
um caderno, de um sapato, os alunos foram se apropriando dos conceitos básicos
que envolvem compras à vista ou a prazo.
Um dos obstáculos verificados foi a dificuldade dos alunos quanto a
interpretação das situações problema apresentadas. Houve desconforto na definição
da fórmula correta a ser utilizada, pois alguns alunos não conseguiam identificar todas
as informações do problema. Também verificou-se grande desvantagem no
desenvolvimento das atividades no que se refere a transformação e conversão das
taxas em dias, meses e anos, principalmente nos problemas envolvendo juros
compostos, onde uma fórmula sempre deve ser aplicada para a conversão. Foram
necessários inúmeros exemplos para que esta problemática fosse compreendida.
Quanto aos juros compostos, a aplicação se deu de maneira lenta e
trabalhosa devido à ausência da calculadora científica para todos os alunos, pois até
o momento a maioria dos alunos desconhecem tal ferramenta e a mesma e a escola
não tem meios para disponibilizar. Dessa forma todos os cálculos e operações foram
realizados com calculadoras simples, o que dificulta os cálculos de montante e
exponencial em longo prazo. Outra grande dificuldade foi verificada na resolução de
situações em que se calcula o tempo de uma operação, pois são necessárias várias
propriedades dos logaritmos.
Finalmente, a sequência das atividades deu-se com a apresentação dos
sistemas de amortizações mais frequentes no mercado: Sistema de Amortização
Francês (SAF), também conhecido como tabela Price, que tem como característica
principal, as prestações fixas e o Sistema de Amortização Constante (SAC), que
apresenta amortizações fixas no saldo devedor e prestações decrescentes. Num
primeiro momento os alunos assistiram a vídeos caracterizando os sistemas SAF e
SAC, por serem os mais utilizados em financiamentos de automóveis e imóveis,
respectivamente.
Foram apresentadas várias situações problema, tais como financiamentos de
automóveis, motocicletas e imóveis e após os cálculos percebeu-se a motivação dos
alunos em continuar analisando suas operações financeiras. Os mesmos trouxeram
sugestões e compras feitas por eles para verificarem quanto estariam pagando de
juros em cada situação. O assunto que mais chamou a atenção foi a aquisição de
alguns celulares, vendidos a prazo em 12 vezes, em 24 vezes e até 36 vezes.
Várias situações problema partiram das condições de venda das mercadorias
a prazo (nº de prestações, valores, taxas, juros) para estabelecer relações entre
conceitos e métodos de cálculo, com apoio dos livros didáticos e pesquisas na
internet. A ideia foi aliar situações do dia-a-dia com métodos de cálculo em
matemática financeira para determinar o valor das taxas, através de fórmulas e/ou
tabelas. O trabalho aconteceu em grupo, visando a socialização dos problemas, com
a orientação e acompanhamento do professor.
Em relação ao trabalho realizado no Grupo de Trabalho em Rede (GTR),
pretendeu-se elucidar a relação do projeto às necessidades da escola e esclarecer a
contribuição dessa relação para a superação pedagógica dos desafios apresentados
a prática pedagógica, com a seguinte indagação: Obter conhecimento sobre a
quantidade de impostos no Brasil, taxas percentuais, arrecadação e aplicação do
dinheiro público, torna o nosso fazer pedagógico mais crítico para a formação dos
educandos?
O cursista A escreve sobre o conhecimento que muda as atitudes, da seguinte
forma:
Os brasileiros sabem reclamar bastante sobre a carga de impostos cobrados, mas não têm argumentos e nem conhecimento para questionar, justificar e muito menos sugerir mudanças. Então podemos começar em sala de aula, fazendo uma reflexão sobre questões mais simples do dia a dia, sobre o que gastam como gastam e principalmente quanto gastam. Analisar percentualmente quanto compromete seu salário ou de sua família. Mostrar que mesmo não tendo uma renda alta, podemos fazer um planejamento que possibilita atingir objetivos e metas. Pesquisas mostram que o endividamento das famílias brasileiras está em 70% de sua renda e isso se deve também a altíssima carga tributária que temos. Com isso os alunos devem perceber a necessidade de estudar e aplicar a matemática financeira em sua vida pessoal e profissional. Acredito que todas as informações sobre taxa, arrecadação e aplicação do dinheiro público faça com que a aula torne bem participativa e interessante para os nossos alunos.
Esse e outros depoimentos tornaram clara a aceitação do projeto, tendo em
vista aplicabilidade e sua facilidade na execução com relação aos problemas do
cotidiano.
Considerações Finais
A matemática financeira é um tema que permite, através da resolução de
problemas, ser apresentado de forma contextualizada e pode ser utilizado para
motivar o aluno, pois é possível estabelecer uma relação entre uma situação prática
vivenciada com a teoria, e assim pode-se superar a falta de comprometimento e
interesse pela matéria.
Além disso, elucidou-se para os alunos que a escola prepara para a vida,
independentemente da profissão que eles optem e que a mesma oportuniza uma
formação cidadã possibilitando uma transformação social promissora, sendo
necessário que os envolvidos demonstrem interesse e deem atenção aos professores
para que estes se sintam motivados.
Não se pode deixar de mencionar a ótima aceitação do Projeto de Pesquisa
quando apresentado para direção, equipe pedagógica, APM, grêmio estudantil
juntamente com a participação efetiva dos alunos. Foram resolvidos todos os
problemas da Unidade Didática, num ambiente agradável de aprendizagem.
O projeto de estudo aconteceu de forma interdisciplinar e contextualizada,
visto que em todas as operações financeiras cotidianas existe um percentual de
impostos praticados pela máquina pública, e que cabe a todos fiscalizar a aplicação
desses recursos.
Levando-se em consideração esse aspecto, procurou-se analisar criticamente
e percebeu-se certa frustração dos educandos quanto aos impostos indexados nos
bens e serviços, pois, observou-se que apesar da cobrança, nem sempre constata-se
a aplicação do dinheiro público nos setores que realmente necessitam.
Espera-se com esse trabalho, formar pessoas mais conscientes e menos
endividadas num futuro próximo, verificando e apurando alternativas de consumo,
ressaltando o poder de compra e de escolha. Destaca-se que a maioria dos
educandos desconhece o sistema tributário brasileiro e, aqueles que já obtiveram
essa informação, desconhecem quanto pagam e quais são as alíquotas aplicadas.
Quanto ao Grupo de Trabalho em Rede, foi discutida com os colegas
professores uma proposta de inserção efetiva da Matemática Financeira como
disciplina na grade curricular, houveram inúmeras sugestões de professores quanto
ao trabalho desenvolvido, com o intuito de transformar pequenas ou grandes
situações conflitantes familiares em atitudes corretas, levando dignidade e
conhecimento aos menos favorecidos com a continuidade do projeto.
A dificuldade ocorrida durante a aplicação desse trabalho foi à ausência da
calculadora científica, que tornou o trabalho mais lento e trabalhoso, principalmente
na resolução dos juros compostos e problemas de amortização.
Como sugestão para trabalhos futuros, tendo em vista a dificuldade
anteriormente mencionada, pode-se utilizar o laboratório de informática e realizar os
cálculos através de planilhas eletrônicas como o Microsoft Excel, ou o BrOffice Calc
(Open Source). Isso possibilitaria aos alunos a aplicação dos conceitos matemáticos
e os capacitaria ao mercado de trabalho, tendo em vista as exigências recentes
voltadas cada vez mais à tecnologia.
Referências
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