Upload
others
View
0
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
A REPERCUSSÃO DO REGIME INSTAURADO PELO GOLPE DE 1º DE ABRIL
DE 1964 NO MUNICÍPIO DE MARINGÁ – PARANÁ.
Eidivaldo Pereira Amarães1 Reginaldo Benedito Dias2
RESUMO O presente artigo é um requisito parcial para a conclusão do Projeto de Desenvolvimento Educacional – PDE – 2013. Contém uma análise dos resultados obtidos por meio de formação de professores sobre o ensino do conteúdo sobre a ditadura militar e sua repercussão no Paraná. A relevância desse trabalho está no fato de que o conteúdo do golpe civil-militar é trabalhado nas escolas Estaduais, onde o Paraná quase não aparece na historiografia dos livros didáticos utilizados em nosso Estado. Percebemos, também, que existe uma carência de produção e pesquisa sobre a história Regional e Local dentro deste contexto, pois são raras as pesquisas existentes nesse campo que acabam chegando até os professores de História que estão atuando em sala de aula, fora da academia. Fizemos um recorte no tempo e no espaço para delimitarmos nosso objeto de pesquisa, ou seja: análise da repercussão do Regime Instaurado pelo golpe de 1°de abril de 1964 no município de Maringá-Pr. Para isso houve leitura e análise do material didático-pedagógico, leitura e análise de textos midiáticos, exibição e debate sobre documentários exibidos sobre o período político estudado e, por fim, a elaboração de um plano de aula, em equipe, sobre a conjuntura social e política do golpe de 1º de abril de 1964.
PALAVAS-CHAVE: Golpe; Ditadura Militar; Maringá
INTRODUÇÃO
O presente artigo faz parte das atividades para o atendimento ao Programa
de Desenvolvimento Educacional- PDE-2013, a ser desenvolvido no ambiente
escolar. O projeto surgiu diante da possibilidade de se construir uma proposta de
intervenção pedagógica para ser desenvolvido na escola, de acordo com os
problemas detectados no Estabelecimento de Ensino.
Após observarmos vários problemas existentes no Ensino de História, no
Colégio Estadual Unidade Pólo de Maringá, o que mais chamou nossa atenção foi o
ensino da História do Paraná, em que a historiografia mais recente sobre
acontecimentos importantes a nível nacional passa quase que despercebida, como
1 Professor de história PDE-2013. Especialista em Didática e Metodologia do Ensino.
Vinculado ao Colégio Estadual Unidade Pólo EFM e Profissional de Maringá. 2 Professor Orientador, Dr. Reginaldo Benedito Dias, docente adjunto do Departamento de
História da Universidade Estadual de Maringá-(UEM).
se o Paraná não tivesse uma participação neste contexto historiográfico. Em
consequência disso, é dada uma ênfase maior para o conteúdo que diz respeito à
origem do Estado do Paraná.
Todos os conteúdos possuem seu valor histórico, não há uma valorização de
um em detrimento de outro. Porém, percebemos que existe uma carência de
produção e pesquisa sobre a História Regional e Local, que por diversos motivos,
são raras as pesquisas existentes nesse campo que acabam chegando até os
professores de História que estão atuando em sala de aula nas escolas estaduais,
fora da academia.
Sendo assim, torna-se compreensível as dificuldades que os professores de
História encontram para trabalhar com conteúdos de acontecimentos mais recentes
da nossa História, vinculando estes conteúdos com a História do Paraná. Para
compreendermos a História da sociedade precisamos definirmos o termo História
Social e sobre isso é interessante percebermos o que o Historiador inglês Eric
Hobsbawn (1998) nos diz em seu livro sobre História:
O termo História Social sempre foi difícil de definir, e até recentemente não havia nenhuma premência em defini-lo, já que não se haviam formado os interesses institucionais e profissionais que normalmente insistem em demarcações precisas. Falando em termos gerais, até o assunto entrar agora em voga (ou pelo menos seu nome) era anteriormente mencionado em três acepções por vezes superpostas. Primeiro, referia-se à História das classes pobres ou inferiores, e mais especificamente à História de seus movimentos (“movimentos sociais“). O termo poderia até ser mais especializado referindo-se, essencialmente, à História do trabalho e das ideias e organizações socialistas. Por razões óbvias esse vínculo entre História social e a História do protesto social ou movimento socialistas permaneceu forte. (1998, p.83).
Isso nos motivou a desenvolver esse projeto, pois o mesmo poderá contribuir
oferecendo mais subsídio para que os professores tenham um olhar voltado também
para a História Regional e Local, tirando deste contexto um pouco do foco de Minas
Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Assim, a implementação do projeto foi desenvolvida no Colégio Estadual
Unidade Pólo-Ensino Fundamental, Médio e Profissional. O público alvo foram os
professores de História do município de Maringá, sendo que os mesmos fizeram
uma inscrição para participarem do desenvolvimento do projeto. A opção em
desenvolvermos o projeto no Colégio Estadual Unidade Pólo, deve-se a dois fatores:
primeiro, porque o professor PDE está lotado nesse Estabelecimento de Ensino. O
segundo, porque o Colégio oferece uma infraestrutura adequada, como salão nobre
amplo e equipamentos multimídia, oferecendo todo o suporte necessário para o
desenvolvimento do projeto.
Optamos por trabalhar com a repercussão do Regime instaurado pelo golpe
de 1°de abril de 1964 no município de Maringá-PR, esta pesquisa torna-se
relevante, na medida em que estaremos fornecendo subsídios para que os
professores de História possam inseri-los em suas aulas de História do Paraná,
valorizando a História Local e Regional, oportunizando a seus alunos descobrirem
peculiaridades e a inserção do município de Maringá em acontecimentos Históricos
de nível nacional, levando-os a refletirem que todos somos sujeitos da História,
independente do local e da classe social em que estamos inseridos.
Fizemos um recorte no tempo e no espaço para delimitarmos nosso objeto de
pesquisa, ou seja: análise da repercussão do Regime instaurado pelo golpe de 1° de
abril de 1964 no município de Maringá- PR. Para compreendermos melhor esta
análise dividiremos em três conjunturas, sendo que a primeira compreenderá o
período imediato após 1964; a segunda após o ano de 1968 e a terceira após o ano
de 1974. Esse recorte permite-nos contextualizar nosso projeto dentro de um tempo
determinado e um espaço específico.
A viabilidade de implementação do nosso projeto consistiu em que o mesmo
foi realizado sob a orientação de um professor Doutor do Departamento de História
da Universidade Estadual de Maringá (UEM), sendo que o programa PDE nos
proporciona um tempo adequado para o estudo e elaboração do mesmo, bem como
nos oferece trinta e duas horas para aplicarmos o projeto junto a instituição de
ensino, acompanhada do público alvo que em nosso caso são os professores de
História lotados no município de Maringá-PR.
Nosso projeto apresenta sua originalidade no momento que o mesmo é um
dos poucos, ou talvez, o único Projeto de Intervenção Pedagógica junto aos
professores de História com este recorte temporal e espacial em nosso Estado.
Ressaltamos que a temática a ser pesquisada se articula com os conteúdos
estruturantes (Relações de Trabalho, Relações de Poder, Relações de Cultura) e
também está inserida nos conteúdos específicos da grade curricular. Isso nos
permite estabelecer relações temporais de mudanças e permanências, semelhanças
e diferenças, além das rupturas que aconteceram na História do Brasil. O nosso
objeto de estudo esta voltado à analise da repercussão do Regime instaurado pelo
golpe de 1°de abril de 1964 no município de Maringá-PR, tendo em vista que a
sociedade brasileira logo após o golpe de 1° de abril de 1964 sofre uma mudança
abrupta com relação aos direitos democráticos que os poucos vão sendo suprimidos
e o País passa a ser governado por um Regime autoritário, em suma, uma Ditadura
Militar. Nosso projeto é factível dentro do tempo previsto pelo programa PDE
(Programa de Desenvolvimento Educacional).
Segundo o historiador Leandro Brunelo (2009):
Vigente entre os anos de 1964 e 1985, o regime militar estabeleceu no Brasil um ciclo político marcado pelo autoritarismo e pela depreciação brusca dos direitos constitucionais, tendo como esteio uma repressão política enérgica. O perfil do governo militar era caracterizado por um carácter opressor que esvaziou o Poder Legislativo, limitou o poder de ação do Judiciário e conduziu arbitrariamente o Poder Executivo. (2009,p.31)
Nosso projeto tem como objeto analisar a repercussão do Regime instaurado
após o golpe de 1°abril de1964 no município de Maringá, tendo como foco três
conjunturas deste contexto, que estão colocadas nas seguintes ordens:
a) - Período imediato após o ano de 1964, em que houve uma repressão ao
sindicalismo que estava em processo de ascensão e também a cassação de
mandatos de alguns políticos. No dia 2 de abril de 1964, ocorreu a deposição do
então Presidente da República João Goulart, desta forma o presidente da Câmara
dos deputados, Ranieri Mazzílli, passa a ocupar provisoriamente o cargo de
Presidente da República, mas na realidade, o controle da situação política do país já
se encontrava nas mãos dos líderes militares.
De acordo com Brunelo (2009,p.36), “em 9 de abril de 1964, os ministros
militares imbuídos do poder absoluto decretam o Ato Institucional n°1(AI-1)”. Com
este Ato Institucional o Poder Executivo, fica acima dos poderes Legislativo e
Judiciário, adquirindo poderes de mudar a Constituição por maioria simples, instituir
estado de sítio, caçar mandatos parlamentares e suspender direitos políticos.
Esse contexto é explanado no livro Perfil dos atingidos, que faz parte do
projeto “Brasil Nunca Mais”, publicado pela Editora Vozes, em 1988, pela Mitra
arquidiocesana de São Paulo. Um dos coordenadores deste projeto era o Cardeal
Dom Paulo Evaristo Arns, na página n°251, consta o relato de um processo de IPM
(Inquérito Policial Militar), agora transformado pelo projeto Brasil Nunca Mais em
BNM 69, o seguinte:
São acusados 5 cidadãos de Maringá, entre os quais o vereador Bonifácio Martins, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, José Lopes dos Santos e o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, José Rodrigues dos Santos, que também ocupava o posto de 1° secretário da CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura). As acusações formuladas contra os réus envolvem atividades sindicais, realização de greves, recepção de Francisco Julião para o conferências na cidade, discursos na Câmara Municipal, ligações (não explicitadas) com o Partido Comunista (1988, p.251).
b) - Após o ano de 1968, houve uma repressão aos movimentos sociais
organizados, estudantil e operário. “Os relatórios do DOPS-PR assinalam que a
Ação Popular (AP) tinha no Paraná militantes de base no movimento estudantil
desde 1963” (DIAS, 2003, p.125), porém somente em 1967 reconhecem sua
organização efetiva, quando foi constituído o Comando Regional 2 (CR-2) que tinha
como área de abrangência Paraná e Santa Catarina.
A Ação Popular no Paraná em 1968 já buscava uma articulação entre o
movimento estudantil e o movimento operário na Região de Curitiba. Segundo Dias,
(2003, p.135) “mas foi em Maringá que a Ação Popular estabeleceu sua intervenção
mais incisiva junto ao movimento operário, liderando uma greve de impacto na
conjuntura região e de repercussão estadual”.
Segundo Dias:
Também foi região polarizada por Maringá que se verificaram as ações mais concretas de tentativas de articulação com os movimentos dos trabalhadores do campo, tema caro para uma organização Hegemonizada pelas concepções maoístas (2003, p.135).
Logo após ser constituído o Comando Regional (CR-2), Maringá foi escolhida
para ser a sede de um núcleo da Ação Popular. De acordo com Dias (2003,
p.147), “foi nessa região que, em outubro de 1968, a Ação Popular paranaense
conseguiu dirigir um dos principais movimentos grevistas da conjuntura estadual”.
c)- Após o ano de 1974, houve uma repressão contra o PCB e entre avanços e
recuos, que marcaram a distensão política, a repressão se processava, embora
dissimulada e pontual.
No Paraná essa situação ficou mais evidente com a execução da Operação
Marumbi :
Iniciadas em 12 de setembro de 1975, durando aproximadamente um mês, as ações da polícia política tinham o propósito de prender pessoas acusadas de rearticularem o PCB no Paraná. Segundo Samuel Alves Corrêa, general da 5ª Região Militar com sede em Curitiba, os episódios relacionados à Operação Marumbi serviram para desarticular completamente o dispositivo subversivo-comunista no Paraná. (ARRUDA, 1983b,p.13 apud PRIORI,ANGELO...[et al.], 2012,p.218).
A Operação Marumbi teve alcance Estadual e repercussões diretas em pelo
menos 12 cidades: Curitiba, Paranaguá, Ponta Grossa, Guarapuava, Londrina,
Mandaguari, Maringá, Arapongas, Apucarana, Rolândia, Cianorte e Paranavaí.
Nosso País em 1° de abril de 1964 foi assolado por um golpe civil-militar e a
sociedade brasileira passa a vivenciar um período de incertezas, onde seus direitos
constitucionais democráticos vão sendo gradativamente suprimidos e acabam por
desembocar numa ditadura militar, onde impera o autoritarismo e a tortura física e
psicológica. Assim, a população passa a conviver com “pseudos” conceitos de
liberdades individuais que na prática inexistiram.
Nosso projeto foi/é pensado e elaborado dentro deste contexto onde existe
esta ruptura abrupta, fruto do Regime instaurado pelo golpe ocorrido em 1°de
abril de 1964 e trás consigo uma proposta de pesquisa da sociedade Local, onde
pretende-se analisar as mudanças ocorridas no cotidiano das pessoas, e a reação
de setores organizados, frente a esta nova realidade no Município de Maringá no
Estado do Paraná. Para a realização da nossa pesquisa usamos o método
desenvolvido por meio de fontes documentais, orais, bibliográficas e utilizamos a
metodologia narrativa.
2- Maringá, período imediato após 1964.
A região de Maringá, desde a década de 1950, apresentava-se como um
terreno fértil para as lutas no campo. Na primeira metade dos anos 50 havia em
Maringá somente três organizações de trabalhadores: o Sindicato dos Bancários, o
dos Comerciários e o dos Motoristas Autônomos.
No livro, Sob o Signo da Revolução Brasileira: A experiência da Ação Popular
no Paraná, do Historiador Reginaldo Benedito Dias, publicado em Maringá pela
editora Eduem, 2003, temos a seguinte explicação:
Na década de 1950, o PCB iniciara um processo de organização dos trabalhadores do campo em toda a região norte do Estado, para a qual chegou a deslocar um dos seus principais dirigentes, Gregório Bezerra (1980) nessa região, de colonização recente, toda a organização de trabalhadores, seja do campo ou da cidade, era ainda incipiente. Face a isso, os primeiros núcleos da nascente organização foram as Uniões Gerais dos Trabalhadores (UGTs). (DIAS, 2003, p.154,155)
Dentro deste contexto, havia chegado em Maringá o senhor José Rodrigues
dos Santos, um dos ícones das lutas dos trabalhadores rurais do Paraná, com a
incumbência de fundar o sindicato dos trabalhadores rurais em Maringá. Porém
antes da formação do sindicato era preciso contribuir com a consolidação da União
Geral dos Trabalhadores de Maringá (UGTM), que estava começando a funcionar no
início de 1957.
A UGTM congregou todas as categorias de trabalhadores da região, tratava-
se de uma organização proto-sindical, que contribuiu segundo Dias (2003),
“progressivamente para a formação de diversas categorias em toda a região e para
a constituição de um grupo de dirigentes sindicais do PCB”. No livro As Memórias
do Sindicalista José Rodrigues dos Santos: as lutas dos trabalhadores rurais do
Paraná, de Celene Tonella [ et al] (1999), encontramos a seguinte explicação: “A
congregação dos trabalhadores permitia também unificar e formar politicamente
militantes, que passavam a reconhecer a condição de explorados e a informar-se
dos seus direitos e da necessidade de se organizaram para defendê-los”.
O primeiro sindicato formado a partir da UGTM foi o dos trabalhadores rurais
de Maringá, o primeiro a ter essa denominação, que posteriormente se tornaria
padrão, em todo o Estado do Paraná. O segundo foi o da construção civil, em
seguida vieram os sindicatos dos ensacadores, o sindicato dos arrumadores, o
sindicato dos motoristas e o sindicato dos marceneiros. Ao mesmo tempo em que
foram surgindo os sindicatos, a UGTM foi perdendo forças e foi desativada em 1959.
O sindicato rural de Maringá no início era muito instável e não tinha verba
para se manter. As mensalidades dos associados praticamente eram utilizadas para
pagar o aluguel, e a situação começou a melhorar quando utilizando-se da
criatividade de seus diretores iniciaram-se várias promoções como rifas, churrascos,
arroz carreteiro, cujo lucro era revertido integralmente para o sindicato.
O sindicato rural de Maringá foi constituído de forma legal e tinha como
amparo a orientação do decreto lei n° 7.038 da CLT (Constituição das Leis
Trabalhistas), de 1944. Dentre os colaboradores do sindicato destacavam-se o
advogado Jorge Haddad e os médicos militantes, Dr. Dirceu Galli, e o Dr. Salim
Haddad, que atendiam aos associados sem cobrar honorários.
Além de participar ativamente do processo de formação do sindicato dos
trabalhadores rurais de Maringá, o senhor José Rodrigues dos Santos, militante
sindical ativo ligado ao PCB, participou como protagonista da fundação de 86
sindicatos em toda a região e da Federação dos Trabalhadores na lavoura do
Estado do Paraná, entidade da qual se tornou secretário geral.
Sobre esses acontecimentos, Dias (2003) afirma que:
...até 1964 foram formados 86 sindicatos no setor rural. As entidades veicularam reivindicações trabalhistas por vias legais e, em casos determinados lideraram greves por motivos diversos: pelo não cumprimento dos contratos e de direitos trabalhistas, pelo fim do vale armazém etc. (DIAS, 2003 p.155 apud Silva, 1993).
Outro acontecimento marcante foi o “II Congresso dos Lavradores e
Trabalhadores Rurais do Paraná” que aconteceu em Maringá, em 1961. Sobre esse
fato, Dias (2003) explica que:
...diante da influência que o PCB exercia, a Igreja Católica empreendeu esforços para interferir no processo de organização dos trabalhadores do campo. Nessa disputa de hegemonia, os representantes do clero acusavam a facilidade que os comunistas tinham durante o governo Goulart, para obter o reconhecimento legal dos sindicatos. Enquanto os comunistas lideraram a fundação da Federação dos Trabalhadores Rurais do Paraná, a Igreja caminhou para a fundação da Frente Agrária Paranaense (FAP). (DIAS, 2003 p. 156 apud Silva, 1993).
Maringá acabou sendo um dos principais núcleos de formação da FAP, sob a
liderança do bispo local, Dom Jaime Luiz Coelho. No ano de 1961 houve um
acirrado conflito campal, quando os participantes do segundo congresso dos
Lavradores e Trabalhadores Rurais no Paraná entraram em confronto com membros
da FAP que realizavam uma missa com o pretexto de fazer o lançamento oficial da
FAP.
Ainda segundo Dias:
...estimulada pelo clero, houve uma passeata contra a realização do Congresso, que contava com participação de toda a liderança local e expoentes nacionais das lutas no campo, como Francisco Julião. Paradoxalmente, as forças policiais tiveram que proteger o congresso liderado pelos comunistas, que contava com o respaldo oficial e com a presença de um representante do presidente da República. [...] Outras evidências são indicadoras da influência que o PCB passava a exercer na região. Emergiram líderes de perfil estadual e federal. Um caso era o de José Lopes dos Santos que se tornou presidente da Federação dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil. Outro era José Rodrigues dos Santos que, tendo sido primeiro presidente da UGT e fundador do FTR e da Federação dos Trabalhadores Rurais do Paraná, tornou 1°secretário da Contag.(DIAS, 2003,p.156).
No ano de 1956 o PCB conseguiu eleger um militante a câmara de
vereadores de Maringá, era Bonifácio Martins que havia se instalado na região a
pouco tempo, somente conseguiu se eleger por conta da inserção de seu partido
junto aos trabalhadores do campo.
Em 1960 Bonifácio Martins conseguiu a reeleição para um novo mandato.
Segundo Dias, (2003) “se havia como avaliara a ação popular uma tradição de lutas
e organização dos trabalhadores do campo, influenciada principalmente pelo PCB,
cumpri fazer algumas ponderações”.
Sobre a organização do movimento sindical, Dias esclarece que:
O movimento sindical colocado na área de influência do PCB não resistiu, a exemplo de outras localidades, ao advento do golpe militar e à “decapitação” de sua liderança. Os sindicalistas José Lopes dos Santos e José Rodrigues dos Santos tiveram de se “exilar” em outras regiões, a fim de não caírem nos tentáculos da repressão. Semelhante destino teve o vereador Bonifácio Martins. Os três foram indiciados no IPM Inquérito Policial Militar da zona norte do Paraná, aberto em 18 de maio de 1964.(DIAS, 2003,p.157).
De acordo com o livro Perfil dos Atingidos, que faz parte do projeto Brasil
Nunca Mais da Arquidiocese de São Paulo, Editora Vozes 1988 p.251:
As acusações formuladas contra os réus envolvem atividades sindicais, realização de greves, recepção de Francisco Julião para conferência na cidade de Maringá, discurso na câmara municipal, ligações (não-explicitadas) com partido comunista etc. O julgamento ocorreu em 16 de julho de 1970: o vereador foi condenado a 2 anos e os sindicalistas a 3 anos de prisão. ( IPM consta do BNM 69)
3- A presença em Maringá da Ação Popular e rearticulação dos trabalhadores.
Com a modernização da economia e das relações de trabalho na segunda
metade da década de 1960, a Ação Popular, mesmo que não sendo esse seu
objetivo principal, começa a marcar presença na zona urbana de Maringá, atuando
na formação e articulação dos trabalhadores. Segundo Dias (2003), “dos setores em
que a economia regional vinha ganhando maior dinamismo: no setor secundário,
indústria de transformação de alimentos; setor terciário, bancos”.
O golpe Militar de 1964 desarticulou de forma abrupta e radical os núcleos de
resistência em quase todo território nacional, somente no final de 1965 e início de
1966 começaram a aparecer sinais de esforços no sentido de arregimentar forças de
esquerda em Maringá. Foram aos poucos surgindo grupos que em sua maioria eram
militantes do movimento estudantil, secundarista e universitária que se identificavam
com as posições da nova esquerda.
Assim segundo Dias esclarece que:
Um núcleo constituinte dessa militância denominava-se genericamente como a “organização, assumia um perfil revolucionário e apontava para a necessidade da insurreição e da luta armada”, informou Laércio Souto Maior, um dos fundadores e expoentes. Como “fachada legal”, a “organização” fundou um Centro Cultural sediado nas instalações da biblioteca do município. Pretendia-se formar quadros para atuar nos movimentos populares e estudantis. (DIAS, 2003, p.158).
Essa organização não manifestava a intenção inicial de se articular
Nacionalmente. Tratava-se de um grupo com inquietações ecléticas e não se
detinham a estudar somente as vertentes Marxistas, mas estavam abertos para
discussões que levavam ao um maior esclarecimento das posições anarquistas.
Tinham um entendimento de que a articulação não poderia ser forçada ou
presa a uma determinada vertente, mas tudo deveria ocorrer naturalmente, de
acordo com as demandas do processo de luta. Por isso, Dias explica que:
Outro embrião de militância de esquerda formou-se entre os estudantes do Colégio Gastão Vidigal, um dos maiores da cidade. Coordenado por uma freira, a irmã Jane, esse grupo inspirava-se nas concepções do Padre Lebret, uma das próprias influências teóricas da gênese da AP. Não se tratava de uma organização política, mas de um trabalho que, visando à promoção humana, debatia a origem das desigualdades sociais e da miséria e temas afins. Merece registro um levantamento sociológico junto aos moradores da Vila Mandacaru, uma das mais pobres da cidade.(DIAS, 2003, p.159).
Assim, buscou-se estabelecer contatos com pessoas que tinham militância
política e sindical, o que não era tarefa fácil, pois na época o grau de desarticulação
dos sindicatos era grande, não somente na região de Maringá, mas em todo Paraná.
Dentro deste objetivo mantiveram um contato importante com José Lopes dos
Santos, que mesmo indiciado no IPM, voltou a Maringá, na tentativa de retomar as
lutas dos trabalhadores.
Com toda sua experiência na política sindical, sua trajetória de luta e sua
relação histórica com o PCB num primeiro momento poderia se pensar que José
Lopes dos Santos seria o protagonista da greve de outubro e toda articulação da
mesma estaria sob influência do PCB. Porém a verdade é que a linha política
adotada foi toda elaborada pela Ação Popular (AP).
Segundo Dias:
Para o inicio das atividades da AP, contribuiu a condição profissional de advogado trabalhista de Edésio Passos, cuja atuação, conforme suas palavras, dividia-se em três níveis. O primeiro, definido como principal, era o campo aberto da atuação profissional e sindical. O segundo, de dimensões organizativas, era a constituição de sindicatos e entidades estudantis. O terceiro, mais difícil porque clandestino, era a organização da AP, tarefa para a qual buscava arregimentar operários, camponeses e estudantes. (DIAS, 2003, p.160)
Dentro de um contexto em que o movimento sindical estava sob constante
vigilância e apesar das amarras existentes, segundo a avaliação de Edésio Passos,
havia um terreno fértil propício, pois as condições de trabalho eram muito precárias
e a legislação não era respeitada por muitas empresas. É dentro deste ambiente que
se criava condições favoráveis para que os trabalhadores se aproximassem dos
sindicatos e cobrassem posições mais consequentes de seus dirigentes.
Inicialmente procurou-se realizar a atuação nas entidades mais consistentes
onde havia a possibilidade de ter uma base de sustentação mais direta: motoristas,
bancários, trabalhadores da construção civil. No decorrer dos acontecimentos surgiu
a necessidade de estabelecer contatos e uma aproximação maior com os
trabalhadores da indústria de transformação de alimentos, que viriam a constituir-se
a base da greve de outubro de 1968.
Tomando como parâmetro o calendário de mobilização nacional, os primeiros
sinais de articulação do movimento sindical local, já eram visíveis em 1º de maio de
1968. No dia do trabalhador houve uma manifestação liderada por José Lopes dos
Santos e Edésio Passos, em que foram veiculadas palavras de ordem de
contestação às políticas da ditadura militar e dentre as reinvindicações estavam o
fim da lei do Arrocho Salarial, liberdade sindical, liberdade de negociação dentre
outras.
Na avaliação dos organizadores essa atividade foi um sucesso, pois contou
com a participação de diversas entidades sindicais e a presença de
aproximadamente 1.000 pessoas. Não havia a imposição de ninguém da
organização para direcionar os discursos, porém espontaneamente o tom dos
discursos foram assumindo um radicalismo muito além do previsto.
Edésio Passos destacou que um representante dos sindicatos elaborou um
discurso cujo teor ninguém ainda conhecia e ao discursar mostrou-se ser um
discurso extremamente radical e agressivo e até mesmo os organizadores se
mostraram surpresos, porque não queriam, embora fosse uma manifestação de
liberdade, chegasse a aquele ponto.
A rearticulação conseguiu atingir diversas categorias profissionais, um dos
pilares da rearticulação desde o início era exigir que o governo fiscalizasse o
cumprimento da legislação trabalhista e, e ao mesmo tempo criticava-se a política de
arrocho salarial e o controle sobre a atuação dos sindicatos.
Em 21 de abril de 1968, o sindicato dos metalúrgicos aprovara em
assembleia, várias reivindicações que vieram a público nas atividades de 1º de maio.
Já em 27 de maio, o Sindicato dos Trabalhadores na Construção Civil, enviou um
documento endereçado ao Presidente da Câmara de Vereadores de Maringá,
denunciando o vereador Carlos Borges, proprietário de uma empresa do setor da
construção civil.
No documento endereçado ao Presidente do legislativo municipal, constava
que o Vereador Carlos Borges, não estava cumprindo suas obrigações junto aos
seus empregados com relação aos direitos trabalhistas dos mesmos (férias,
domingos e feriados, depósito de contribuição do INPS etc.), a situação do vereador-
empresário se agravara mais pois diante do protesto dos operários, suspendeu os
salários.
Dois fatos relevantes marcaram a conjuntura logo após as manifestações do
dia do trabalhador, são frutos desse momento da organização dos trabalhadores. O
primeiro foi a fundação no dia 5 de maio de 1968, da Associação dos Trabalhadores
na Indústria Alimentícia, o segundo foi a realização em Maringá, da 1º Convenção
Estadual dos Bancários, que ocorreu entre os dias 13 e 15 de junho de 1968,
liderada por Jair Ferreira, Presidente do Sindicato dos Bancários de Maringá.
A relação da organização da AP com essas duas categorias deu-se em níveis
diferenciados. O setor bancário estava seguindo um cronograma Estadual de
debates para posteriormente elaborarem as propostas da data base e Edésio
Passos estreitou suas relações com a direção da entidade, colaborando
politicamente e prestando assessoria jurídica do sindicato. Já na organização dos
Trabalhadores da Indústria de Alimentação, a intervenção foi mais direta, a AP não
participava organicamente da direção da recém-criada associação presidida por
José Lopes dos Santos, porém Edésio Passos, desde seu início, vinha prestando
todo o assessoramento jurídico, participando inclusive da elaboração da pauta de
reivindicações e do cronograma de lutas. Por isso, segundo Dias:
O processo de organização e mobilização teve início em reuniões feitas nas casas dos operários da Companhia Norpa Industrial. Nessas reuniões, foram colhidos os pontos mais sensíveis das reivindicações e formado o núcleo que viria a constituir a associação. Os temas mais recorrentes levantados referiam-se às condições de trabalho e ao não cumprimento de legislação trabalhista. [...] Em agosto, elaborou-se uma pauta de reivindicações que, sistematizada e aprovada em assembleia, foi encaminhada, com o prazo de três dias para obter resposta, à direção da empresa e publicada em jornal da cidade.[...] A empresa foi acusada de não pagar o abono de emergência de 10% e pagar salários desiguais para as mesmas funções. Os adicionais de insalubridade e periculosidade mereceram destaque, pois o não pagamento desse direito era interpretado como subtração de salário. Havia também, uma reivindicação salarial explícita: reajuste de 35%. (DIAS,2003,p.163).
A empresa Companhia Norpa Industrial (uma das maiores produtoras de óleo
vegetal do Paraná ), situada em Maringá, resolveu não atender às reivindicações
sob a alegação de que tinha parecer jurídico que negava o direito aos adicionais.
Além disso, a empresa foi além promovendo mudanças de turno e horários,
transferindo empregados de setor.
Diante deste quadro que foi apresentado pela empresa, a Associação dos
Trabalhadores analisou esses fatos como sendo uma demonstração clara de que a
empresa havia fechado todas as possibilidades para uma negociação e começou a
ameaçar a deflagração de uma greve. A Associação dos Trabalhadores, segundo
Dias (2003), “acionou, os mecanismos legais disponíveis. Procurou-se, por exemplo,
processar a Companhia Norpa Industrial na Delegacia Regional do Trabalho”.
A greve começou então a ser preparada para o mês de outubro, porém,
segundo Dias (2003), “o conteúdo e a forma foram alterados, a paralisação dos
trabalhadores das indústrias da alimentação começou a ser preparada para fazer
parte de um processo mais amplo. Tendo a AP decidido deflagrar uma greve geral“,
a data da greve era o dia 1º de outubro, aniversário da revolução chinesa, a partir
desta data decidiu-se que todas as mobilizações possíveis deveriam acontecer
dentro de um mesmo cronograma (1º de outubro). Dias ainda esclarece que:
Em 5 de outubro, um dos principais jornais da cidade editou um tabloide especial sobre a mobilização, com a seguinte manchete: ”Maringá pode parar”. A reportagem fazia o mapa dos setores em que a paralisação se efetivara e descartava sua possível irradiação. Também são noticiadas manifestações de solidariedade de algumas entidades sindicais à greve, justamente aquelas que estavam na órbita da mobilização. [...] As demais paralisações anunciadas não vingaram, mas pode-se dizer, com base nos vários registros destacados, que a cidade viveu esses primeiros dias de outubro de 1968 sob o signo da greve geral. Até porque a eventual irradiação, espera pelos órgãos repressivos, tinha como alvo os serviços de transportes coletivos que, assim como o setor bancário, tem repercussão na vida de toda a população. (DIAS, 2003 p.175;176).
4 - As perseguições políticas em Maringá: A Operação Marumbi, 1974 e 1975.
Destaca-se particularmente este período que compreende os anos de 1964 a
aproximadamente 1979, em que ficaram marcados pela perseguição incansável
pelos militares aos membros do PCB. Segundo Heller (1988), “entre esses anos,
mais exatamente em 1975, foi organizada e desfechada no Paraná uma operação
policial-militar conhecida como Operação Marumbi”. Nessa operação foram presas
mais de 100 pessoas, sendo que desse montante 65 foram indiciadas.
O inquérito policial militar (IPM) n°745, que indiciou militantes do PCB,
acusados de rearticularem o Partido no Estado. Iniciada em 12 de setembro de
1975, durando aproximadamente um mês, as ações da polícia política tinham o
propósito de prender pessoas acusadas de rearticularem o PCB no Paraná.
Segundo Samuel Alves Corrêia, general da quinta Região Militar com sede em
Curitiba, os episódios relacionados à Operação Marumbi serviram para desarticular
“completamente o dispositivo subversivo-comunista no Paraná”.
A Operação Marumbi teve alcance estadual e abrangeu pelos menos 12
cidades, dentre as quais Maringá. O documento liberado pela quinta região Militar
preocupa-se em afirmar também que a ação desenvolvida “não se tratava de
perseguição de caráter pessoal” ou “político-partidária”, mas sim “de benefício
exclusivo para a coletividade” (Apud, ARRUDA, 1983 b,p.13).
5 - As prisões em Maringá
Dentre os presos na Operação Marumbi pelo menos 5 deles residiram em
Maringá são eles: Ildeu Manso Vieira, codinome “Mineiro”, Gregório Parandiuc,
Laércio Figueiredo Souto Maior, Antônio Elias Cecilio, Leonor Urias de Melo e
Souza, Salim Haddad.
IIdeu Manso Vieira, era responsável pela seção de Agitação e Propaganda do
Comitê Estadual do Partido Comunista. Participou das reuniões de janeiro e de maio
de 1975. Trabalhou ativamente para reorganizar o Partido Comunista no Paraná.
A prisão de Ildeu em 75 foi consequência da operação Marumbi sob a
acusação de tentar reorganizar o PCB no Paraná. Em uma entrevista Ildeu declarou:
Isso é uma grande piada porque o partido sempre esteve organizado no Estado, militando na clandestinidade, numa época em que apenas dois partidos eram tolerados pelo regime: Arena e MDB. Objetivo da repressão era comprometer o partido da oposição, que estava crescendo muito no país. Para isso quiseram comprometer o MDB com os comunistas e incompatibilizá-lo com a opinião pública. Nós servimos de bode expiatório e fomos envolvidos nessa trama. Fomos transformados em reféns políticos do regime militar. (HELLER, 1988, p.546).
Gregório Parandiuc, fazia parte do PCB desde 1937, em uma entrevista
declarou:
cheguei em Maringá em 1947 e logo fez contato com Manuel Jacynto . E começamos a organizar células do partido em Paiçandu, Estrada Fartura, Estrada Bandeirante e outras .Na época quase não existiam cidades no norte do Paraná e nós formamos uma associação de camponeses, pedindo o apoio do ministro Café Filho da Agricultura: estradas para comercialização dos cereais, melhores preços para a lavoura. A partir de 1955 começamos a organizar sindicatos de trabalhadores rurais. (HELLER, 1988, p.540).
Após o golpe de 1964 Parandiuc, foi preso em Maringá, ficou um tempo
encarcerado e ganhou novamente as ruas. Em 1975, após o desencadeamento da
Operação Marumbi, Gregório Praranduic estava em casa, assistindo televisão
quando foi preso.
Outro que residia em Maringá era Laércio Figueiredo Souto Maior, sempre
teve destacada atuação política em Maringá, aproximando-se das organizações de
esquerda após o golpe de 64. Não era militante em nenhuma organização
clandestina, porém tinha contatos com elementos do PCB e de outros grupos de
esquerda, que moravam ou passavam por Maringá. Além disso, era como se ele
fosse o presidente do Centro Cultural, e mantinha uma coluna sindical no jornal de
Maringá. Dirigente do MDB onde exercia o cargo de secretário do diretório local,
sempre apoiou os movimentos sociais da cidade e da região, como forma de
resistência ao regime militar. Suas atividades políticas despertaram o interesse da
repressão e logo após o AI-5, de 13 de dezembro de 1968, Laércio foi intimado a
prestar esclarecimentos no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Foi
identificado, fichado, e permaneceu detido durante cinco horas na delegacia de
Maringá, juntamente com o padre Orivaldo Robles.
Antônio Elias Cecilio, em 1964 era ligado a um grupo de Maringá que se
reunia regularmente para discutir os acontecimentos nacionais, embora sem
nenhuma ligação com organizações de esquerda, mantinha contatos através do
sindicatos rurais e de comerciários. Esse grupo era composto por membros que não
aceitavam a ditadura, porém depois do golpe, as pessoas que eram ligadas a
sindicatos e movimentos populares foram perseguidas. No dia 12 de outubro de
1975 quando Antônio Elias estava em sua loja de insumos agrícolas foi preso e
conduzido para o quartel de Apucarana.
Leonor Urias de Melo e Souza: Cedeu a sua casa na cidade de Maringá para
reuniões do PCB, recebia e distribuía o jornal Voz Operária.
Salim Haddad, era outro preso pela Operação Marumbi que residia em
Maringá, em 1964 quando aconteceu o golpe civil-militar que iria se transformar
numa ditadura civil-militar, era ligado ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de
Maringá, tentava conscientizar os trabalhadores de seus direitos. Com a decretação
de sua prisão preventiva logo após o golpe, Salim Haddad esteve foragido por mais
de um ano, passando de um Estado para outro, tentando escapar da repressão.
Todos os presos pela Operação Marumbi de Maringá foram julgados e
absolvidos, o julgamento ocorreu em outubro de 1977.
6 - METODOLOGIA
A partir do problema identificado, foi organizada uma forma de abordagem da
temática com os professores de História do Colégio Estadual Unidade Pólo – Ensino
Fundamental Médio e Profissional da cidade de Maringá - Paraná. Onde ocorreu a
Intervenção Pedagógica a qual foi dividida nas seguintes etapas:
Inicialmente foi feito a apresentação do Projeto à Direção, Equipe
Pedagógica, Professores e Funcionários, durante a Formação Continuada do início
do ano letivo no mês de fevereiro de 2013. A proposta foi bem aceita pela Direção e
Equipe Pedagógica da Escola, prestando o apoio necessário para o
desenvolvimento deste trabalho cujo público alvo eram os professores de História do
Colégio bem como de outros Estabelecimentos de Ensino do NRE de Maringá.
Num segundo momento, foi organizado o Grupo de Estudos com os
professores e foi apresentado um documentário, Depoimento de Laércio Souto
Maior, publicado em 19/10/2013. Com base no vídeo os professores deveriam
apresentar um texto contemplando as três conjunturas que seriam objeto de estudo
do projeto.
Ao trabalhar com o GTR foi utilizada uma dinâmica diferenciada em
decorrência da natureza do curso à distância, que possibilitou um aprofundamento
nas discussões de cunho teórico, fundamentadas no projeto de intervenção
pedagógica, e os debates que iam acontecendo durante a implementação do projeto
no Colégio.
Muitos comentários do GTR relatam sobre a grande relevância da produção e
implementação pedagógica, principalmente por coincidir com o ano em que marca
os 50 anos do fatídico Golpe Civil Militar do Brasil.
Segundo o cursista do GTR, professor Wagner dos Santos Soares comenta:
Acredito ser de grande relevância a produção Didático Pedagógica do professor Eidivaldo, por ter o mérito de proporcionar a reflexão e o debate sobre um período tão trágico e ao mesmo tempo ainda desconhecido de muitos brasileiros. Ao trazer a tona a discussão sobre a ditadura militar e suas consequências para o nosso país, em especial para o município de Maringá, permitirá aos nossos alunos relacionar o tema, muitas vezes aparentemente distante, a uma realidade muito próxima...(Comentário do professor cursista Wagner dos Santos Soares 14/04/2014).
7 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente artigo não pretende de forma alguma encerrar as discussões
sobre essa temática, mas é um grande passo para que outros historiadores se
apropriem da pesquisa ora realizada que num primeiro momento contribuiu de forma
relevante para o enriquecimento do ensino da História do Paraná dando ênfase na
região do município de Maringá no contexto da Instauração do Golpe de 1º de Abril
de 1964, trabalhado em três conjunturas distintas: Período imediato após 1964; após
o ano de 1968 e após o ano de 1974. Esse recorte permitiu contextualizar nosso
projeto dentro de um tempo determinado em espaço específico.
Pode se considerar, como aspecto positivo, que o objetivo principal deste
trabalho foi alcançado, pois houve a produção de subsídios pedagógicos para
oportunizar que os professores de história possam incluí-los dentro do conteúdo da
História do Paraná integrando a História local, regional com a História do Brasil.
Outro aspecto positivo foi que o conteúdo do projeto contempla o conteúdo científico
sugerido pelas DCEs.
Esse Artigo pode motivar outros historiadores a continuar a pesquisa
aprofundando ou dando ênfase em uma das três conjunturas apresentadas neste
artigo.
Como o resultado da implementação do projeto foi positivo, é relevante
expressar o agradecimento ao programa de governo PDE, que em regime
colaborativo com as IES possibilitou a elaboração, o desenvolvimento e a aplicação
do projeto sobre a repercussão do Regime instaurado pelo Golpe de 1º de abril de
1964, no município de Maringá.
8 – REFERÊNCIAS
ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO. Brasil: nunca mais. Petrópolis: Vozes, 1985.
BRUNELO, Leandro. Repressão politica durante o regime militar Paraná: o caso da Operação Marumbi na terra das araucárias. Maringá: Eduem, 2009. CODATO, Adriano e KIELLER, Marcio (Organizadores). Velhos Vermelhos, História e memória dos dirigentes comunistas no Paraná. Curitiba Ed.UFPR,2008. Depoimento de Laércio Souto Maior, publicado em 19/10/2013, em www.dhpaz.org – Depoimentos Para a História – “A resistência à Ditadura Militar no Paraná”. Disponível em:<http://yutu.b/qRLe9NGPsvM>
DIAS, Reginaldo Benedito. Sob o signo da revolução brasileira: a experiência da Ação Popular no Paraná. Maringá: Eduem, 2003. DIAS, Reginaldo Benedito e GONÇALVES, José Henrique Rollo. (Organizadores). Maringá e o Norte do Paraná: estudos de história regional. Maringá: Eduem, 1999. DREIFUSS, R.A. 1964: A conquista do Estado. Petrópolis: Vozes,1981. HELLER, Milton Ivan. Resistência democrática: a repressão no Paraná. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra: Curitiba: Secretaria de Cultura do Estado do Paraná, 1988. HOBSBAWM, Eric J. Sobre história; / tradução Cid Knipel Moreira. São Paulo: Ed. Companhia das Letras, 1998. MORI, Nerli Nonato Ribeiro. Metodologia da pesquisa. Maringá: Eduem, 2011. PRIORI, Angelo...[et al.] História do Paraná: séculos XlX. Maringá: Eduem, 2012.
SAVIANI, Demerval. O legado educacional do regime militar. Cad. Cedes, Campinas, vol. 28, n. 76, p. 291-312, set./dez. 2008. Disponível em <http://.cedes.unicamp.br> TONELLA, Celene. Et al. As memórias do sindicalista José Rodrigues dos Santos: as lutas dos trabalhadores rurais do Paraná. Maringá: Eduem, 1999.