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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · 1 Professora de Língua Espanhola e Pedagoga da Rede Estadual de Ensino do Paraná. Turma PDE 2013. Email: ... Este artigo se propõe

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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1 Professora de Língua Espanhola e Pedagoga da Rede Estadual de Ensino do Paraná. Turma PDE 2013. Email: [email protected] 2 Orientadora Prof. Doutora em Letras pela Universidade Estadual Paulista (UNESP/Assis), Mestre em Linguística Aplicada (UNICAMP/Campinas), graduada em Letras Português/Inglês (UEM/Maringá) e docente do curso de Letras Modernas da Universidade Estadual de Maringá. Email: [email protected]

O GÊNERO TEXTUAL MÚSICA NAS AULAS DE LÍNGUA

ESPANHOLA

Regina Favorin Martins (SEED – PR – PDE)1

Sandra Maria Coelho de Souza Moser (UEM)2

RESUMO

Este artigo se propõe a descrever a implementação de um trabalho com o gênero textual música em língua espanhola realizado no PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional, e que foi desenvolvido na turma do Aprimoramento do período noturno do curso de Língua Espanhola do Celem (Centro de Línguas Estrangeiras Modernas) no Colégio Estadual Cruzeiro do Oeste - EFM na cidade de Cruzeiro do Oeste, Núcleo Regional de Educação de Umuarama, estado do Paraná. O gênero textual música é presença constante na vida de nossos adolescentes e jovens, e muitas vezes, influencia de maneira intensa seus comportamentos e atitudes, e por ser um gênero de fácil aceitação pelos jovens, acreditamos que o ensino da língua espanhola pudesse ser mais significativo e motivante. Nosso objetivo foi oportunizar aos alunos condições para o desenvolvimento das práticas de leitura, oralidade e escrita no ensino da Língua Espanhola utilizando o gênero textual música através de atividades de análise, interpretação e contextualização do momento histórico, social e artístico em que as músicas, interpretadas por cantores brasileiros e hispânicos, foram produzidas. O ensino da Língua Espanhola pode ser dinamizado por meio do gênero textual música contemplando as práticas de leitura, oralidade e escrita, abordando também o trabalho com vocabulários e expressões, pronúncia, prática auditiva, além de discussões sobre os aspectos cultural / interdiscurso, social e artístico que envolvem o contexto de produção das mesmas.

Palavras-chave: Língua Espanhola. Gêneros Discursivos. Música.

1. INTRODUÇÃO

A língua espanhola vem, pouco a pouco, ganhando espaço em nossas

escolas e nas relações de trabalho e comunicação entre os povos.

Esta língua tem, normalmente, uma boa identificação com os estudantes

brasileiros pois, apesar de suas especificidades, a sonoridade e alguns aspectos

que constituem a língua espanhola se assemelham à língua portuguesa.

No entanto, o estudo da língua estrangeira deve aproximar-se de textos que

circulam socialmente e que devem ser trabalhados de forma significativa.

O processo ensino aprendizagem da língua estrangeira nas escolas de ensino

regular é constantemente fonte de estudos que buscam elucidar qual a melhor

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maneira de dinamizar este processo e ao mesmo tempo torná-lo mais significativo e

relevante para o aluno. Outro fator que é muito comum é a priorização de uma

prática em detrimento de outra, ou seja, normalmente o professor trabalha mais com

a escrita e leitura e não dá muito enfoque para a oralidade.

Visando suprir estas lacunas, as Diretrizes Curriculares Estaduais para a

Educação Básica do Estado do Paraná na disciplina de Língua Estrangeira Moderna

busca uma ruptura com o ensino tradicional da língua estrangeira e estabelece como

conteúdo estruturante o discurso como prática social pois “Todo discurso está

vinculado à história e ao mundo social. Dessa forma, os sujeitos estão expostos e

atuam no mundo por meio do discurso e são afetados por ele.” (DCE, 2008, p. 55)

Dessa forma é imprescindível que o sujeito interaja de forma concreta e

consciente com o discurso e isto somente é possível no ensino de língua estrangeira

através dos gêneros textuais, que se materializam constantemente no nosso

cotidiano e nas relações que se estabelecem entre os falantes.

Sendo assim, este trabalho se propôs sistematizar a implementação de

estratégias que possibilitassem o desenvolvimento das práticas de leitura, oralidade

e escrita de forma significativa e dinâmica nas aulas de língua espanhola através do

gênero textual música, o que pela experiência docente que temos no Curso de

Língua Espanhola no Celem – Centro de Línguas Estrangeira Modernas acreditamos

que este trabalho contribuiu para o enriquecimento do processo educativo da língua

estrangeira nas escolas públicas do Paraná.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O Ensino de Língua Estrangeira no CELEM – Centro de Línguas

Estrangeiras Modernas no Estado do Paraná

O Celem – Centro de Línguas Estrangeiras Modernas teve início no ano de

1986 através da Resolução nº 3.546/86, de 15 de agosto de 1986, que tinha como

objetivo regulamentar a criação do Celem na Rede Pública de Ensino do Estado do

Paraná.

A implantação do Celem nos Núcleos de Educação do Paraná foram

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ocorrendo gradualmente com a oferta de outros idiomas diferentes daqueles

constantes na Matriz Curricular de acordo com a disponibilidade de professores

habilitados.

Em 1986, ano da implantação do Celem havia a disponibilidade de

professores nas seguintes Línguas Estrangeiras Modernas: Alemão, Espanhol,

Francês, Inglês e Italiano, e de acordo com a Resolução 3.546/1986 o objetivo era:

ensino instrumental da língua (aprendizado e aprofundamento), para o aperfeiçoamento cultural e profissional dos estudantes, desenvolvendo neles especialmente as habilidades de leitura e interpretação de textos, oportunizando-se, aos alunos de melhor rendimento, o desenvolvimento da escrita e da fala. (Resolução nº 3.546/1986 de 15 de agosto de 1986).

O Celem ao longo dos 28 anos de existência ampliou muito a oferta inicial,

possibilitando que milhares de alunos em todo o estado do Paraná pudessem ter

acesso ao conhecimento da língua estrangeira. Com o passar do tempo o Celem

passou por várias reestruturações, sendo que seu funcionamento atualmente é

regulamentado pela Resolução 3904/2008 e pela Instrução Normativa nº 019/2008,

sendo ofertado em 32 núcleos regionais de educação do estado do Paraná, em 473

estabelecimentos de ensino, dos quais 441 ofertam a Língua Espanhola.

Em 2005 foi promulgada no Brasil a Lei nº 11.161/29005 que dispõe sobre a

oferta obrigatória da língua espanhola nos currículos plenos do ensino médio e de

caráter facultativo no ensino fundamental, e em seu artigo 1º estabelece: “que o

ensino do espanhol seja ofertado de forma obrigatória pela escola, e optativa para o

aluno”, sendo assim, o Paraná através do Celem oferta o ensino da língua

espanhola, desde antes da criação da lei.

2.2 A Música como Gênero Textual no Ensino de Língua Estrangeira

O trabalho com o ensino aprendizagem de língua estrangeira nas escolas

vem sendo constantemente debatido e questionado, objetivando torná-lo mais

significativo, envolvente e pleno de sentido para o aluno.

Sendo assim, inúmeros estudiosos dedicam-se constantemente em pesquisar

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e viabilizar novas formas de trabalho com a língua estrangeira.

Uma abordagem que vem difundindo-se e prevalecendo é o ensino de língua

estrangeira através dos gêneros textuais. Marcuschi (2008) nos explicita que a

comunicação verbal somente é efetivada através dos gêneros textuais,

considerando-se a produção, as esferas de circulação e os processos de

compreensão dos mesmos.

O referido autor também nos esclarece que os gêneros textuais têm uma

representatividade muito maior que as tipologias textuais (que são representadas

pela narração, descrição, argumentação, entre outros). Os gêneros textuais são

presença constante em nosso cotidiano, na inserção de nossa esfera comunicativa

no meio social em que vivemos. Através dos gêneros textuais orais e escritos nos

integramos e nos socializamos no contexto social no qual estamos inseridos.

O trabalho crítico com gêneros textuais contribui para a democratização da

cidadania e para a construção do conhecimento, e a linguagem se estabelece como

mediadora dos discursos e da comunicação entre as pessoas.

Segundo Meurer e Motta-Roth (2002)

Em função dessa potencialidade de mediar nossa ação sobre o mundo (declarando e negociando), de levar outros a agir (persuadindo), de construir mundos possíveis (representando e avaliando), aumenta a necessidade e a relevância de novas práticas educacionais relativa ao uso de diferentes gêneros textuais e aos

requisitos de um letramento adequado ao contexto atual. (MEURER, MOTTA-ROTH, 2002, p. 10)

O ensino formal tem a responsabilidade de ampliar e desenvolver a

conscientização dos alunos no que se refere à linguagem comunicativa utilizada no

âmbito social através do discurso, que também se materializa nos gêneros textuais.

De acordo com Meurer e Motta-Roth (2002) há três fatores essenciais que

definem o contexto e fazem a mediação da linguagem que são: sobre o que se fala,

quem fala e como fala. A compreensão destes aspectos contribuem para que o

processo comunicativo se estabeleça de maneira consciente e efetiva entre os

falantes.

As DCEs – Diretrizes Currriculares Estaduais da Educação Básica do Estado

do Paraná (2008) também abordam o processo comunicativo como compreensão

fundamental para o ensino de línguas.

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No ensino de Língua Estrangeira, a língua, objeto de estudo dessa disciplina, contempla as relações com a cultura, o sujeito e a identidade. Torna-se fundamental que os professores compreendam o que se pretende com o ensino da Língua Estrangeira na Educação Básica, ou seja: ensinar e aprender línguas é também ensinar e aprender percepções de mundo e maneira de atribuir sentidos, é formar subjetividades, é permitir que se reconheça no uso da língua os diferentes propósitos comunicativos, independentemente do grau de proficiência atingido. (DCE, 2008, p. 55)

Sendo assim, o professor tem inúmeras possibilidades de trabalhar a Língua

Estrangeira Moderna com uma variedade muito grande de gêneros textuais.

No entanto, neste projeto de intervenção pedagógica focalizaremos o trabalho

da língua espanhola através do gênero textual música.

2.3 A Música como Gênero Textual no Ensino de Língua Estrangeira

O gênero escolhido para nossa unidade didática foi o gênero textual música

porque acreditamos que a musicalidade é intrínseca ao ser humano, nosso próprio

corpo tem vários sons e ritmos que fazem com que o mesmo mantenha-se vivo e em

constante movimento, como as batidas do nosso coração, nossa respiração, o

trabalho rítmico de nossos órgãos que fazem com que nosso corpo seja repleto de

vida e pulsações.

Segundo o compositor e linguista Luiz Tatit, apud Costa,

[…] uma canção é uma fala camuflada em maior ou menor grau. Essa camuflagem consiste na transformação dos contornos entonacionais da fala pela estabilização do movimento frequencial de sua entoação dentro do percurso harmônico, pela regulação da pulsação e pela periodização dos seus acentos rítmicos. (COSTA, 2010, p. 119)

Uma característica bem marcante da música como gênero textual é que a

mesma consiste na fusão de dois elementos distintos: a linguagem verbal e a

linguagem musical. Além disto, a música também apresenta uma temática que pode

variar de acordo com o momento histórico vivenciado e seu contexto de produção.

Quando o aluno é capaz de reconhecer o gênero textual e apropriar-se do

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conhecimento que é transmitido, ele se torna capaz de aprimorar o seu processo de

conhecimento e socialização.

Nelson Barros da Costa (2010) em “As Letras e a Letra: o Gênero Canção na

Mídia Literária” nos esclarece um pouco sobre as especificidades do gênero.

[…] a canção é um gênero híbrido, de caráter intersemiótico, pois é resultado da conjugação de dois tipos de linguagens, a verbal e a musical (ritmo e melodia). Defendemos que tais dimensões têm de ser pensadas juntas, sob a pena de confundir a canção com outro gênero, […]. Assim, a canção exige uma tripla competência: a verbal, a musical e a lítero-musical, sendo esta última a capacidade de articular as duas linguagens. (COSTA, in DIONÍSIO, 2010, p. 118)

Como foi afirmado anteriormente, a música encerra em si aspectos híbridos

entre a linguagem verbal e musical. A música instrumental tem seu percurso e é

apreciada por muitos, no entanto, a partir do momento que é conferido à

musicalidade um discurso linguístico (oral ou escrito) é possível analisar intenções e

interpretações mais complexas da linguagem verbal.

A música como elemento educativo do trabalho com gêneros textuais nos

permite muitas possibilidades de atividades que oportunizam ao aluno um contato

dinâmico e prazeroso com a Língua Estrangeira, facilitando o trabalho com

vocabulário, prática auditiva e oral, pronúncia, enfim, de uma compreensão mais

abrangente e de uma análise crítica do contexto de produção e das informações

intrínsecas que a mesma apresenta, bem como dos aspectos de análise linguística e

elementos gramaticais que contribuem para que o texto musical seja repleto de

sentido e significado.

A música possibilita que o aluno se reconheça e seja sujeito de sua própria

aprendizagem pois estabelece relações com o conhecido, ou seja, com melodias

que ele já teve contato anteriormente para um direcionamento de atividades que

podem ser realizadas e que muito contribuirão para que o aluno amplie seus

conhecimentos em relação aos conteúdos e aos conceitos que devem ser

elaborados para que o ensino e aprendizagem da língua estrangeira se efetive

realmente.

2.5 Algumas Sugestões de Como Trabalhar a Música como Gênero Textual

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Como já foi citado anteriormente, o ensino da língua estrangeira passou por

várias concepções até chegar aos dias atuais. Para o momento histórico atual

vivenciado em nossa sociedade é necessário que o trabalho pedagógico com a

língua estrangeira seja contextualizado e significativo, sendo assim, o gênero textual

vem de encontro com esta demanda, por estar constantemente presente na vida de

todas as pessoas, sendo elemento indispensável no processo comunicativo, tanto

oral como escrito, presente em diversas situações.

Marcuschi (2005, p.19) nos descreve os gêneros textuais como “entidades

sócio-discursivas e formas de ação social incontornáveis de qualquer situação

comunicativa.”

Sendo assim, o trabalho pedagógico com gênero textual deve estar pautado

na análise e na compreensão de alguns fatores como: análise do contexto histórico

de produção, esferas sociais de circulação (cotidiana, científica, escolar, publicitária,

política, etc.), situação de produção (papel do emissor e do receptor, valor social,

etc.), elementos de análise linguística (tempos verbais, coesão nominal e verbal,

pronomes, etc.). Estes fatores possibilitam que o trabalho com gênero textual seja

compreendido de forma crítica e contextualizada, uma vez que os gêneros são

dinâmicos, podendo sofrer alterações com o tempo, inclusive contemplando o

surgimento de novos gêneros e desaparecimento de outros.

É necessário que cada gênero seja trabalhado de forma direcionada,

considerando as especificidades de cada um, lembrando que os recursos

gramaticais, analisados em sua forma e função, devem contribuir para a

compreensão do interlocutor, e que os elementos gramaticais estão a serviço do

texto, sendo trabalhados de forma contextualizada, em seu contexto de uso para que

contribua para a melhor compreensão do texto.

As formas de gênero, nas quais moldamos o nosso discurso, diferem substancialmente, é claro, das formas da língua no sentido da sua estabilidade e da sua coerção (normatividade) para o falante. Em linhas gerais, elas são bem flexíveis, plásticas e livres que as formas da língua. Também neste sentido a diversidade dos gêneros do discurso é muito grande. Toda uma série de gêneros sumamente difundidos no cotidiano é de tal forma padronizada que a vontade discursiva individual do falante só se manifesta na escolha de um determinado gênero e ainda por cima na sua entonação expressiva.” (Bakhtin, 2003, p. 283)

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Segundo Marcuschi (2008) “não há comunicação que não seja feita através

de algum gênero.” Sendo assim, é indiscutível a importância dos gêneros textuais

em todo processo comunicativo, desde um simples recado ou e-mail, das conversas

informais nas redes sociais, até as teses de doutorado ou sentenças judiciais.

O uso do gênero textual música ou canção, como recurso pedagógico de

ensino aprendizagem da língua, deve representar a importância da produção lítero-

musical na construção da identidade e da compreensão da cultura do país em

questão, no nosso caso especificamente, os países de fala hispânica.

[…] ao usar a canção, o professor deve reconhecer sua integridade enquanto gênero autônomo. Isso implica levar em conta a dimensão melódica da mesma e todos os riscos que isso acarreta, um dos quais é a transformação da aula em um espaço de lazer, mais do que um espaço de aprendizado. Esse reconhecimento deve também se harmonizar com uma consciência clara dos objetivos do trabalho com a canção em sala de aula. A nosso ver, este deve ser o de proporcionar ao aluno uma educação dos sentidos e da percepção crítica, que proporcione, ao lado do prazer sensorial e estético, um exercício de leitura multissemiótica, voltada não apenas para a interação pluridimensional que relaciona todos os elementos que uma canção pressupõe (autor – cantor – personagens – melodia – ouvinte genérico – ouvinte individual etc.). Esteja bem claro, por fim, que o que se deseja não é formar cancionistas, mas ouvintes críticos de canções, capazes de perceber os efeitos de sentido do texto, da melodia e da conjunção verbo-melódica; conhecedores do cancioneiro e dos cancionistas de seu país, seus posicionamentos, estilos e discursos; tal como pretende o estudo da literatura. (COSTA, in DIONÍSIO, 2010, p.130-131)

Sendo assim, podemos concluir que o gênero textual música é amplo, rico de

nuances e da mesma forma muito fascinante pois encerra em si as histórias, lutas e

anseios de um povo e de uma nação, portanto para trabalhar com este gênero o

professor necessita ter sensibilidade e visão crítica do contexto musical para que

seus alunos possam, além do sentido musical compreender também o aspecto

poético que se encerra juntamente com a melodia.

3. Intervenção – Aplicação da Proposta em Sala de Aula

A implementação do projeto através da aplicação da proposta em sala de aula

com a utilização da produção didático-pedagógica “El Género Textual Música en las

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Clases de Lengua Española” apresentou muitos resultados positivos, entre eles, a

aceitação e a aprovação dos alunos em relação aos conteúdos trabalhados e à

metodologia adotada.

Nas atividades de prática auditiva foi realizada a audição de todas as

músicas, bem como foram exibidos os clips das mesmas. Nos aspectos que

envolvem a prática oral os alunos tiveram a oportunidade de expor suas ideias,

comentar aspectos relevantes das músicas, analisar os contextos de produção, as

especificidades em relação à pronúncia das palavras com o esclarecimento das

dúvidas, bem como estudar o significados dos vocabulários apresentados, através

de uma interação harmoniosa, baseada em um clima de respeito e amizade.

Na prática escrita foram trabalhadas atividades de compreensão textual e

análise linguística através de questões que possibilitaram abordar aspectos críticos

das temáticas apresentadas nas músicas.

Após todo o desenvolvimento das atividades, os alunos realizaram produções

textuais individuais e coletivas, que posteriormente foram socializadas com todo o

grupo, nas quais foi possível analisar a capacidade argumentativa, a organização

das ideias, vocabulário, coesão e coerência dos textos produzidos.

4. ENCAMINHAMENTOS METODOLÓGICOS

A implementação do projeto de intervenção pedagógica, ocorreu no primeiro

semestre do ano de 2014, e teve início com a apresentação do mesmo à direção, à

equipe pedagógica e aos professores da escola.

Em seguida foi realizada a apresentação do tema e dos objetivos do projeto

aos alunos. As atividades foram desenvolvidas com o gênero textual música. As

músicas e as atividades trabalhadas com os alunos do Aprimoramento do Curso de

Língua Espanhola do Celem foram organizadas na Produção Didático-Pedagógica

“El Género Textual Música en las Clases de Lengua Española.”

É importante ressaltar que as atividades enfocam a análise crítica, a

compreensão do contexto de produção, vocabulário, expressões, análise linguística

e as práticas da leitura, oralidade e escrita com as músicas em espanhol. Também

forma apresentados clips das músicas trabalhadas.

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A implementação foi muito relevante e apresentou resultados positivos.

Abaixo podemos conferir as opiniões de alguns alunos que participaram da

implementação da produção didático-pedagógica.

“Na minha opinião o material didático-pedagógico trabalhado pela professora

Regina foi excelente, de fácil interpretação, trazendo conteúdos do nosso cotidiano,

fazendo com que nós alunos refletíssemos sobre o meio ambiente, sobre a vida e

sobre o mundo. As músicas estudadas foram muito lindas, com mensagens muito

importantes, onde a turma interagia muito ao interpretá-las”. (Aluno 1)

“Os conteúdos estudados neste ano com nossa turma do aprimoramento

facilitou e ajudou muito a nossa aprendizagem. O material, além de diferente,

inovador e prático influenciou e facilitou a compreensão de nós alunos. As atividades

trabalharam muito nossa prática oral, escrita e auditiva, e nos ajudou a progredir na

nossa fala em língua espanhola, conversar com os colegas e com a professora

sobre os assuntos trabalhados e expressar nossas opiniões”. (Aluno 2)

O projeto de intervenção pedagógica e a produção didático-pedagógica foram

trabalhados com os professores de língua estrangeira da rede estadual de educação

através GTR – Grupo de Trabalho em Rede, que é um curso na modalidade EaD, no

qual os participantes tiveram oportunidades de esclarecer dúvidas, trocar ideias,

discutir e refletir sobre sua prática docente, visando um aperfeiçoamento da mesma.

Abaixo podemos conferir as opiniões de alguns professores que participaram

do curso do GTR “El Género Textual Música en las Clases de Lengua Española”

“Estou muito feliz em participar no GTR com este tema "O Gênero Textual

Música Nas Aulas de Língua Espanhola". Como professora do CELEM, sei a

dificuldade que é montar turmas e mantê-las estudando. Confesso que um dos meus

segredos é a utilização de música em sala. Sempre pesquisei cantores e canções

mais tocadas para motivar meus alunos usando a TV Pen Drive como principal

recurso didático. Com o gênero música trabalho a prática auditiva, pronúncia,

vocabulário, intertextualidade e também análise linguística. Porém, lendo seu projeto

me chamou atenção para a análise crítica, compreensão do contexto de produção,

expressões e também as práticas de leitura, pois eu ouço a música com os alunos

mas não leio a letra depois, só cantamos. Atualmente estava desmotivada pois

parece que as fontes estão se esgotando e os alunos estão muito críticos e parece

nada agradá-los. Esse projeto da professora me motivou e me reamimou a

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continuar, mesmo porque a música está dentro de um gênero apreciado por todas as

idades, já que o CELEM recebe todos os tipos de público, e como cita a professora:

‘A música como elemento educativo do trabalho com gênero textuais nos permite

muitas possibilidades de atividades que oportunizam ao aluno um contato dinâmico

e prazeroso com a Língua Estrangeira’..." (Professor 1)

“Julgo por demais pertinente a escolha do gênero textual música pois parte

exatamente daquilo que nosso alunado já conhece e vivencia em seu cotidiano, pois

por mais que ainda não tenha entrado em contato com a referida língua para

estudos mais aprofundados de conhecimento desta, certamente já esteve em algum

momento desfrutando de uma bela canção, perfeita sonoridade mesclada a poesia

que adentra aos ouvidos, sendo este perfeitamente estimulado, contemplando

assim, uma de nossas maiores dificuldades em sala, o aprimoramento da

competência auditiva, tendo em vista que não estamos em um país, onde esta

língua seja objeto natural de estímulo diário. Sendo assim, encontramos aqui um

saboroso caminho para melhorar nossa prática em sala de aula. Realmente acredito

que o gênero textual escolhido é o que se enquadra perfeitamente em sua

totalidade, para a abordagem das três práticas norteadoras do ensino de LEM:

leitura, oralidade e escrita”. (Professor 2)

“A grande questão é e sempre será a de como se concretizar em toda a sua

plenitude o aprendizado escrito e oral no ensino de línguas vinculando o cotidiano do

educando. Em minha opinião, o trabalho com a música, como se faz claro no

Projeto, é um caminho que se torna satisfatório, pois possibilita o uso do mundo do

estudante, dinamiza a aula e, principalmente, possibilita o aprendizado da gramática

usual, oralidade e conhecimento de uma nova cultura. No entanto, isso se fará

realidade com o cuidado do professor em traçar os passos necessários, pois ao

contrário, o trabalho com o gênero música, pode se tornar banal. Ao estabelecer

relação com o mundo do aluno, a sintonia necessária para o aprendizado fica bem

mais tangível”. (Professor 3)

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo oportunizar aos alunos condições

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para o desenvolvimento das práticas de leitura, oralidade e escrita no ensino da

Língua Espanhola utilizando o gênero textual música através de atividades de

análise, interpretação e contextualização do momento histórico, social e artístico em

que as músicas, interpretadas por cantores brasileiros e hispânicos, foram

produzidas.

O elemento conclusivo que esta pesquisa proporcionou é que é possível

realizar um trabalho muito significativo, relevante e que pode apresentar excelentes

resultados com o trabalho realizado com o gênero textual música, bem como

trabalhar as práticas de leitura, oralidade e escrita de maneira crítica, propiciando um

interesse maior e uma consequente melhor aprendizagem da língua espanhola pelos

alunos que fazem o curso de espanhol no Celem.

REFERÊNCIAS

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. Tradução: Paulo Bezerra. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

BORDINI, Marcella, CARLOS, Valeska Gracioso. Ensino de Língua Estrangeira por meio de Gêneros Textuais: Qual é a Percepção dos Professores em Formação? Disponível em: <http://anais.jiedimagem.com.br/pdf/2348.pdf> Acesso: 02 de mai 2013.

COSTA, Nelson Barros da. As Letras e a Letra: o Gênero Canção na Mídia Literária. In DIONÍSIO, Angela Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (orgs). Gêneros Textuais e Ensino. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.

DIAS, Laice Raquel. Gêneros Textuais para a Produção de Textos Escritos no Livro Didático. Disponível em: <http://www.ileel.ufu.br/anaisdosielp/pt/arquivos/sielp2012/408.pdf> Acesso: 14 de mai de 2013.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção Textual, Análise de Gêneros e Compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.

___________. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (Org.). Gêneros textuais e ensino. 4. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005.

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MEURER, José Luiz; MOTTA-ROTH, Desirée (orgs). Gêneros Textuais e Práticas Discursivas: Subsídios para o ensino da linguagem. Bauru, SP: EDUCS, 2002.

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