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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · A implementação aconteceu na Escola do Projeto PDE 2013/2014 foi aplicada ... Os grandes centros importadores de escravos foram

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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A PARTICIPAÇÃO DOS ESCRAVOS NAS ATIVIDADES

ECONÔMICAS NO RIO DE JANEIRO, NA SEGUNDA METADE DO

SÉCULO XIX.

Claudiane Ianse 1

Jó Klanovicz 2

RESUMO

O presente artigo relata uma experiência realizada sobre o tema: A escravidão urbana no Rio deJaneiro, na segunda metade do século XIX. Teve como objetivo trabalhar a escravidão urbanaocorrida na segunda metade do século XIX. Foram abordadas as diversas atividades econômicas queeram exercidas pelos escravos na cidade. Essas informações muitas vezes ficam ocultas nas aulasde História, não contemplando o devido valor a essa temática. O desconhecimento da participaçãodos escravos na economia da cidade é que motivou essa experiência, pois assim os alunos tiveramoportunidade de conhecer a escravidão que existiu nas cidades e, as atividades desenvolvidas poresses escravos, contribuindo para o desenvolvimento econômico da cidade. O trabalho teve iniciocom a abordagem do tráfico de escravos africanos, em seguida a travessia desses escravos da Áfricapara o Brasil e por fim a escravidão urbana no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX.

Palavras-chave: África. Escravos. Rio de Janeiro. Tráfico.

INTRODUÇÃO

A experiência registrada nesse artigo apresenta aos alunos a escravidão

africana urbana, pois essas informações muitas vezes não estão presentes nas

temáticas desenvolvidas na sala de aula. Os alunos têm maior conhecimento da

escravidão africana no meio rural, enquanto que a escravidão urbana é pouco

conhecida. Por desconhecimento ou pouco conhecimento sobre a trajetória dos

povos africanos em nosso país e a sua participação no desenvolvimento da nação, é

que, por vezes ocorre a falta de valorização dessa parcela da população brasileira.

Os alunos tiveram oportunidade de conhecer a escravidão urbana,

reconhecer que também houve escravos nas cidades e não somente no campo

destacando as diferentes atividades executadas pelos escravos no Rio de Janeiro.

1Claudiane Ianse, Autora do Artigo, Docente de História no Colégio Estadual José de Anchieta EFMNP, Pós - Graduada em Educação Especial e Psicopedagogia. [email protected]

2 Jó Klanovicz, Docente e orientador de Mestrado no Programa de Pós - graduação em História na Universidade Estadual do Centro Oeste, UNICENTRO. Doutor em História Ambiental com Pós - doutorado em História Ambiental e Etnopedologia, bacharel e licenciado em História. [email protected]

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A implementação aconteceu na Escola do Projeto PDE 2013/2014 foi aplicada

no 1º semestre de 2014, nas aulas de História, com os alunos da turma do 7º ano

"B", do Ensino Fundamental do Colégio Estadual José de Anchieta-EFMNP, no

município de Santa Maria do Oeste, estado do Paraná. A turma era composta por 32

alunos com faixa etária entre 12 à 14 anos, a qual desenvolveu durante esse

processo as atividades propostas pela Produção Didático Pedagógica e atividades

que surgiram durante a abordagem do tema.

As ações tiveram como público-alvo adolescentes, houve o interesse por

parte dos alunos em relacionar o tema com os diferentes tipos de escravidão que

ocorre hoje, no século XXI. Diante disso, buscou-se debater e questionar com os

alunos situações atuais de escravidão. As reflexões feitas apoiam-se nas

observações das atividades desenvolvidas no decorrer do projeto PDE 2013, bem

como, nas discussões desenvolvidas durante a realização das atividades do Grupo

de Trabalho em Rede (GTR). Após o término das ações, realizou-se uma exposição

com os materiais confeccionados pelos alunos e explanação das atividades à equipe

pedagógica e direção, com o objetivo de apresentar o trabalho desenvolvido no

decorrer do primeiro semestre com a turma.

O tráfico de escravos africanos

No Brasil o tráfico de escravos existe desde o período colonial. No início foi

utilizada a mão de obra indígena, mas essa não supriu as necessidades dos colonos

e também pelo fato de que os índios não aceitavam muito bem a condição de

escravo. Então deu-se início o tráfico de africanos, homens e mulheres eram

retirados de sua terra natal, a África. Eram trazidos para o Brasil para trabalhar em

condições desumanas, sendo privados de sua liberdade e até mesmo de sua própria

cultura. De acordo com Albuquerque e Fraga Filho (2006):

Os números não são precisos, mas estima-se que, entre o século XVI e

meados do século XIX, mais de 11 milhões de homens, mulheres e crianças

africanos foram transportados para as Américas. Esse número não inclui os

que não conseguiram sobreviver ao processo violento de captura na África e

aos rigores da grande travessia atlântica. A maioria dos cativos, cerca de 4

milhões, desembarcou em portos do Brasil. Por isso nenhuma outra região

americana esteve tão ligada ao continente africano por meio do tráfico como

o Brasil. (ALBUQUERQUE e FRAGA FILHO, 2006, p. 39).

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Para receber a demanda de cativos, o Brasil contou com dois grandes centros

importadores de escravos, assim relata Fausto (1996):

Os grandes centros importadores de escravos foram Salvador e depois oRio de Janeiro cada qual com sua organização própria e fortementeconcorrentes.Os traficantes baianos utilizaram-se de uma valiosa moeda detroca no litoral africano, o fumo produzido no Recôncavo.Estiveram sempremais ligados à Costa da Mina, à Guiné e ao Golfo de Benin, neste últimocaso após meados de 1770, quando o tráfico da Mina declinou.O Rio deJaneiro recebeu sobretudo escravos de Angola, superando a Bahia com adescoberta das minas de ouro, o avanço da economia açucareira e ogrande crescimento urbano da capital, a partir do início do século XIX.(FAUSTO,1996,p.29-30)

Os africanos foram trazidos para o Brasil para suprir a mão de obra que havia

aqui, estiveram presentes inclusive no Sul do país.De acordo com Cardoso (1977,

pag. 60), os escravos além da lavoura de trigo, do serviço doméstico e ofícios

urbanos também trabalharam na estância do charque no Rio Grande do Sul.

Assim, não se pode negar que os africanos contribuíram para o crescimento

econômico da nossa nação, muitas cidades utilizaram a mão de obra escrava, nas

propriedades e nas residências.

A travessia dos escravos para o Brasil

Os escravos africanos eram capturados na África e mesmo antes de

embarcarem já passavam por dificuldades, e alguns perdiam a vida antes de

iniciarem a travessia, morte causada por maus-tratos e doenças.

De acordo com Albuquerque e Fraga Filho (2006):

O escravo apressado no interior africano era obrigado a percorrer longasdistâncias até alcançar os portos de embarque no litoral. Muitos nãoresistiam à longa caminhada, às doenças e aos maus-tratos. Nos portoseram alojados em grandes barracões ou cercados. Ali permaneciam muitosdias e até meses à espera que as cargas humanas dos navios fossemcompletadas e os cativos partissem para um mundo completamentedesconhecido. Nesse período de espera, era grande o número de mortes,pois os cativos eram alojados em construções muitas vezes precárias,insalubres, mal ventiladas e pequenas.Em alguns períodos, cerca de 40 porcento dos negros escravizados em Angola pereciam ainda em solo africano.(Albuquerque e Fraga Filho, 2006, p. 46).

A travessia dos negros pelo oceano Atlântico era feita nos navios negreiros ou

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“tumbeiros” como alguns autores preferem, devido ao grande número de mortes que

acontecia no decorrer da viagem. Os cativos eram colocados nos porões dos navios

permanecendo ali por dias, era o tempo que durava a viagem para chegar ao Brasil.

Nos porões amontoados eles passavam seus dias enfrentando tribulações

durante o trajeto. As condições das embarcações eram precárias, pois para garantir

os lucros só zarpavam da África com o número máximo de passageiros. Não havia

alimentação adequada e nem mesmo água suficiente, causando assim algumas

enfermidades. Aqueles que morriam durante o percurso seu corpo era lançado ao

mar.

Ao chegarem nos portos brasileiros eram submetidos a uma espécie de

quarentena para se recuperarem da viagem porque muitos chegavam debilitados. O

escravo que não tivesse uma boa aparência não valia um bom preço.

Assim relata Albuquerque e Fraga Filho (2006):

No Rio de Janeiro, a área portuária conhecida como Valongo concentravadezenas de sobrados que funcionavam como depósitos onde eram alojadosos africanos recém-chegados. Ali havia armazéns que alojavam trezentos aquatrocentos cativos. Devido aos rigores da travessia os africanoschegavam quase invariavelmente magros e debilitados, com feridas na pele,brotoejas e sarna. (Albuquerque e Fraga Filho, 2006, p. 53).

Quando os africanos estavam prontos para a venda os negociantes

anunciavam nos jornais e, assim as mercadorias humanas eram expostas para

serem comercializadas. Muitas vezes fazendeiros compravam lote inteiro de

escravos para trabalhar em suas propriedades, homens para a lavoura e mulheres

que também podiam servir a família na casa grande.

A escravidão urbana no Rio de Janeiro – segunda metade do século XIX

No século XIX, o Brasil se encontra com grandes centros urbanos, e os

escravos urbanos é que executam as diversas atividades na cidade. Escravos nas

cidades existiam desde o período da colonização, mas foi com o crescimento das

cidades que essa população aumentou.

Neste Projeto PDE 2013, foram ressaltadas informações sobre a escravidão

urbana no Rio de Janeiro, na segunda metade do século XIX. Nesse período o

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trabalho manual era tido como indigno pelas pessoas da sociedade, Soares, (2007)

trás o depoimento do viajante holandês Josef van Halle, que relata o que ouve nas

suas viagens:

“Quantas vezes não tenho eu ouvido nas minhas viagens, moços ricos e

mesmo pobres, exprimem – se a respeito do trabalho dizendo: o trabalho é

feito para os burros, os escravos, e as pessoas grosseiras da sociedade

vindas de Portugal, Alores e outros lugares da Europa para servir nos e para

o que são pagas.” (Soares, 2007, p 81).

Os escravos tiveram um papel fundamental no dia a dia das cidades

desenvolvendo diversas atividades econômicas, e no Rio de Janeiro também foi

assim. Albuquerque e Fraga Filho (2006) menciona que:

Além de carregadores, havia os pedreiros, pintores, carpinteiros,estivadores, marinheiros, canoeiros, cocheiros, carroceiros, sapateiros,barbeiros, alfaiates, ferreiros, costureiras, bordadeiras, parteiras,enfermeiras e uma infinidade de outros profissionais especializados, sem osquais a cidade não funcionariam. (Albuquerque e Fraga Filho, 2006, p 83).

Os escravos apareciam nos centros urbanos desenvolvendo diversas

atividades e em diferentes lugares como aponta Karasch (2000):

Muitos escravos urbanos, inclusive no Rio de Janeiro, trabalhavam noambiente dos lares, mas isso não significa que a escravidão urbana seresumia ao ambiente doméstico. No Rio de Janeiro os escravos faziamtantas coisas que os estrangeiros quando chegavam a capital seassustavam, pois tinham a sensação de estarem na África e seimpressionavam com as inúmeras atividades que os negros exerciam.(Karasch 2000, p. 281).

Havia também, além das atividades já citadas acima, os “escravos de ganho”,

esses formavam uma parcela considerável de cativos, os quais desenvolviam

diferentes atividades no meio urbano. Com o dinheiro que acumulavam fazendo

esses trabalhos havia até a possibilidade de comprarem sua carta de alforria um dia,

tornando-o livre.

Sobre a variedade dos trabalhos executado pelos “escravos de ganho”

Albuquerque e Fraga Filho (2006), cita que:

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Os escravos de ganho faziam alguns serviços nas casas dos senhores eiam para as ruas em busca de trabalho. Alugavam seu tempo a um e aoutro, e ao final do dia ou da semana deviam entregar uma determinadasoma ao seu senhor ou senhora. O que passava disso os escravosembolsavam. O senhor podia também alugar o serviço do seu escravo aterceiros por um período de tempo – eram os negros de aluguel. Osescravos de ganho e aluguel que exerciam seus serviços na rua, muitasvezes moravam fora da casa do senhor. Geralmente habitavam os sótãosou os subsolos dos sobrados, chamados lojas. Eram espécie de senzalasurbanas. Muitos residiam em grandes sobrados localizados nos centros dascidades, espaços abandonados pelas elites. Sublocando pequenoscubículos, dividindo – os com parceiros de trabalho, com libertos ou comsuas mulheres. (Albuquerque e Fraga Filho, 2006, p 84).

Ainda sobre a diversidade do trabalho desenvolvido pelos escravos no

cenário do Rio de Janeiro Soares (2007, p. 92) relata que: “Tanto na primeira como

na segunda metade do século XIX os escravos foram empregados pelos seus

senhores nas mais diferentes atividades, desenvolvendo praticamente todos os tipos

de trabalho manual e mecânico”.

O trabalho doméstico era expressivo na cidade, esse era feito na maioria

pelas mulheres como afirma Soares (2007):

Os escravos domésticos, com predominância das mulheres formavam omaior contingente da população cativa do Rio de Janeiro e, nas famíliasmais abastadas, o seu número era tão excessivo que eles chegavam aobstruir o espaço das residências. (Soares, 2007, p 107)

Os escravos que habitavam e trabalhavam nas cidades tinham uma rotina

diferente em relação aos que trabalhavam no campo, e podiam ter mais chance de

algum dia conseguir comprar sua alforria, coisa que para os escravos do campo era

raro isso acontecer.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola foi desenvolvido entre os

meses de fevereiro e junho de 2014, trabalhando o tema da escravidão urbana, em

uma turma do 7º ano do Colégio Estadual José de Anchieta-EFMNP. O tema foi

escolhido previamente em 2013, uma vez que foi elaborado o Projeto de Intervenção

na Escola e o Material Didático, seguindo os critérios estabelecidos pelo curso de

formação PDE.

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Num primeiro momento, conforme estabelecido no projeto, foram

apresentados o Projeto de Intervenção na Escola e o Material Didático Pedagógico,

elaborados em 2013, á Direção, Equipe Pedagógica e demais colegas professores.

Em seguida apresentados aos alunos do 7º ano B. Durante a explanação foram

abordadas questões sobre o tema a ser estudado.

As atividades iniciaram-se tratando do conceito da palavra “escravidão”. Os

alunos anotaram um conceito sobre escravidão, sem nenhum estudo prévio, com

finalidade de descobrir o conhecimento dos mesmos sobre esse tema. Em seguida

foi feito leitura e reflexão sobre as informações anotadas pelos alunos sobre o

conceito “escravidão”, onde percebeu-se que todos compreendem o que significa

escravidão.

Depois do esclarecimento sobre o conceito de escravidão, iniciou-se o

aprendizado sobre o tráfico dos escravos africanos para o Brasil. Os alunos tiveram

oportunidade de fazer o estudo sobre o comércio de escravos que ocorreu no século

XIX, desde o modo em que os africanos eram capturados na África até o tratamento

que recebiam aqui no Brasil após a sua chegada. Esse ensino aconteceu através de

estudo de texto relacionado ao tema, mapa com as linhas de tráfico de escravos da

África para o Brasil, o qual foi utilizado para completar questões e atividades no

caderno.

Figura 1- Atividade com o mapa

Foto: Claudiane Ianse

O mapa trazia além das rotas do tráfico, a informação dos principais grupos

africanos que foram trazidos para o Brasil.

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Ao final dessa primeira etapa de estudo realizou-se a dinâmica “Jogo dos

Acertos”. A turma foi dividida em equipes, onde cada uma recebeu a cópia do texto

já estudado anteriormente: “Os portos de trato negreiro”, fizeram a leitura antes de

iniciar a disputa. Cada equipe recebeu duas placas, uma com a palavra “verdadeiro”

e outra com a palavra “falso”. Quando questionados eles levantavam uma das

placas. As questões foram sorteadas pela própria equipe na sua vez de jogar. A

pontuação de cada equipe foi registrada em uma tabela feita no quadro de giz. Ao

final a equipe que conseguiu a maior pontuação venceu a disputa. Todas as equipes

tiveram uma boa participação nessa atividade, e o conteúdo estudado teve melhor

fixação pelos alunos.

Neste momento a proposta do Projeto de Intervenção Pedagógica era

estudar a travessia dos africanos da África para o Brasil, todas as dificuldades

enfrentadas por estes no decorrer da viagem feita no porão do navio. Foi projetada a

imagem “Negros no Porão”, do autor do Johann Moritz Rugendas com finalidade de

observar e descrever essa imagem. Depois disso, os alunos receberam a imagem

impressa para completar questões e atividades propostas. Realizaram também a

produção de um texto com base na imagem observada. Foi ofertado um roteiro para

a produção desse texto, mas cada aluno teve a opção de escolher ou não o roteiro

para a produção. Ao final dessa atividade alguns apresentaram para a turma o que

haviam produzido.

As próximas atividades desenvolvidas foram baseadas em trechos do poema

“Navio Negreiro”, do poeta Castro Alves. Os alunos assistiram ao vídeo do poema,

depois houve socialização das conclusões de cada um sobre o que foi assistido.

Algumas questões foram levantadas e discutidas com a turma. Os alunos

receberam trechos impressos do poema para dar continuidade às atividades. Depois

da leitura, realizou -se o vocabulário das palavras desconhecidas, utilizando para

isso dicionários e pesquisa no laboratório de informática.

A proposta seguinte era reproduzir os trechos do poema “Navio Negreiro” em

forma de desenho. A turma foi dividida em duplas, onde cada dupla recebeu uma

estrofe do poema o qual fizeram a ilustração. Essa atividade ocorreu de maneira

mais lenta, pois as duplas fizeram a produção da melhor forma e capricho que

conseguiram. Ao final das produções, a turma montou um livro com os trechos do

poema ilustrado por eles. A atividade foi bem elaborada pois as duplas se

empenharam e o trabalho final tornou-se muito interessante.

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Figura 2: Produção dos alunos Figura 3: Livro produzido com trechos do poem

Foto: Claudiane Ianse Foto: Claudiane Ianse

Continuando os estudos realizou-se a leitura do texto: “A travessia no

Atlântico”, baseado nas informações do texto foram desenvolvidas atividades no

caderno dos alunos. Depois foi proposto a confecção de bonecas Abayomi3. Essa

atividade aconteceu em contraturno. Antes da produção das bonecas foi feita leitura

de alguns slides com informações sobre a história da boneca. Logo após assistiram

vídeos ensinando confeccioná-la. Depois iniciou-se a produção das bonecas. Os

alunos receberam os materiais necessários para a confecção das Abayomi: malha

preta, retalhos de tecidos coloridos e tesouras.

O material foi previamente preparado pela professora. A atividade foi um

sucesso, todos gostaram muito de produzir as bonecas, inclusive os meninos que no

início imaginei que poderiam não se interessar pela atividade. Alguns produziram

uma, duas, outros chegaram a produzir três bonecas no decorrer da produção.

3 A palavra abayomi tem origem incerta. provavelmente é uma palavra de origem iorubá,significando aquele que traz felicidade ou alegria. Boneca de pano, de formas e tamanhosvariados, sempre negra, de confecção muito simples, que não utiliza cola nem costura e osretalhos são apenas amarrados.Nas viagens para o Brasil nos navios negreiros, em direção àescravidão, as mulheres rasgavam a barra da saia e faziam as bonequinhas Abayomi para ascrianças brincarem.

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Figura 4: Bonecas Abaiomy Figura 5: Bonecas Abaiomy

Foto: Claudiane Ianse Foto: Claudiane Ianse

A atividade que estava prevista na Produção Didático Pedagógica de

reproduzir o navio negreiro através de desenho ou maquete, foi substituída pela

produção das bonecas Abayomi, não foi possível produzir a maquete do navio

devido ao prazo para finalização da implementação do projeto, pois ainda havia uma

parte que deveria ser trabalhada.

Na próxima etapa os alunos fizeram uma pesquisa no laboratório de

informática sobre a situação do Rio de Janeiro no século XIX. As informações

colhidas foram depois socializadas na sala de aula. Feito isso, assistiram um vídeo o

qual mostrava fotos do Rio de Janeiro do século XIX. Foi realizada leitura de texto

sobre os vários tipos de escravidão e baseado nas informações das pesquisas, do

estudo do texto, das fotos, completaram atividades no caderno. Houve também a

produção de um quadro comparativo da rotina de trabalho dos escravos no campo e

na cidade, com finalidade de observar as diferenças existentes entre escravos do

campo e escravos da cidade.

Para finalizar essa etapa de estudo foi realizada a dinâmica “Transmissão”,

onde quatro componentes voluntários retiraram-se da sala, e o grupo que ficou teve

a tarefa de observar com muita atenção a imagem que foi projetada. Todos

observaram atentamente a imagem em detalhes, pois um era escolhido para narrar

a ilustração vista com o maior número de detalhes possível para um dos

componentes que estava fora da sala. O jogador que retornou depois de ouvir a

narração da imagem feita pelo seu colega chamou então mais um dos ausentes e

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passou as informações que ouviu diante do grupo, e assim sucessivamente ate o

último jogador. Concluídas as transmissões, com inevitáveis mudanças em detalhes

e até na estrutura da figura, o grupo se reuniu para debater as diferenças que

ocorreram e as causas dessa dificuldade de transmissão. Foram utilizadas nessa

dinâmica imagens da escravidão dos autores: Rugendas e Debret.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o trabalho em torno da escravidão urbana percebeu-se o interesse e

curiosidade dos alunos sobre o tema. O professor precisa ser criativo e propiciar um

diálogo do tema com a realidade atual, pois assim os alunos percebem que fatos

ocorridos a tempos atrás na história se repetem nos dias atuais, não só com a

população negra, mas nos diversos setores da sociedade. Essa metodologia,

mostrou-se eficiente no que diz respeito a associação de conteúdos com a vivência,

tornando a aprendizagem significativa.

Durante a implementação do projeto, tive a oportunidade de observar e

avaliar práticas pedagógicas que fazia em sala de aula. Foram desenvolvidas

atividades durante um semestre sobre o tema proposto, com uma turma de Ensino

Fundamental, assim sendo houve no decorrer das aulas alguns contratempos, como

inquietação, indisciplina por parte de alguns, faltas dos alunos. Apesar disso foi

possível despertar nos alunos o gosto pelo estudo proposto e o compartilhamento de

conhecimentos.

A forma de trabalho que se desenvolveu nessa implementação foi bem aceita

pelos alunos, pois dava para perceber nos questionamentos, curiosidades e

envolvimento demonstrado por eles no decorrer das aulas. Acredita-se que o

objetivo foi alcançado, sem dúvida houve progresso e as expectativas superadas.

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REFERÊNCIAS

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CARDOSO, Fernando Henrique.Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional:O Negro na Sociedade Escravocrata do Rio de Janeiro. 2ª Edição Rio de Janeiro:Editora Paz e Terra, 1997.

KARASCH, Mary C.. A Vida dos Escravos no Rio de Janeiro (1808 – 1850). SãoPaulo: Editora Companhia das Letras, 2000.

MATTOSO, Kátia M. de Queirós. Ser Escravo no Brasil. 1ª Edição São Paulo:Editora Brasiliense, 1982.

PARANÁ. Secretaria do Estado de Educação – Departamento de EducaçãoFundamental. Diretrizes Curriculares da Educação Básica – História – Curitiba:SEED/ PR, 2008

SOARES, Luiz Carlos. O "Povo de Cam "na capital do Brasil: A Escravidãourbana no Rio de Janeiro século do XIX. Rio de Janeiro: Editora 7 Letras, 2007.