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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Como instrumentos para a coleta de dados usamos um questionário, aplicado no início do projeto, e que verificou o conhecimento

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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PLANTAS MEDICINAIS, A EXPERIÊNCIA POPULAR E O

CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Ninfa Maria Delmônaco1

Marcelo Maia Cirino2

Resumo: Atualmente tem-se observado um distanciamento entre a realidade do aluno e o ensino da Química Orgânica em sala de aula e um dos fatores que tem contribuído para isto é a valorização do detalhamento conceitual deixando muitas vezes de lado a contextualidade. Porém, contextualizar os conteúdos não é somente promover uma ligação artificial entre o cotidiano do aluno e o conhecimento formal, mas sugerir situações problemáticas reais e buscar a abordagem necessária para compreende-las e resolve-las. Diante disto, com o objetivo de estimular o processo de elaboração de significados para alguns dos conceitos de Química Orgânica, com alunos do 3º ano do Ensino Médio, utilizamos o tema “Plantas Medicinais” e suas propostas interdisciplinares e contextualizadas. Para alcançar este objetivo foi desenvolvida uma pesquisa de campo. Como instrumentos para a coleta de dados usamos um questionário, aplicado no início do projeto, e que verificou o conhecimento prévio sobre o conteúdo a ser abordado e um outro questionamento no final, para investigar se ocorreu “aprendizagem significativa”. Entre a aplicação destes dois questionários foi desenvolvida uma Unidade Didática, composta de atividades diversificadas, cujos objetivos pretenderam motivar e estimular os estudantes ao longo de todo o processo de ensino/aprendizagem, promovendo a ampliação dos seus horizontes conceituais.

Palavras-chave: Plantas Medicinais. Aprendizagem Significativa, Sociedade. Ambiente.

1. Introdução

A Química é considerada pelos alunos como uma disciplina de conteúdos

complexos e, dentre os tópicos com maior dificuldade, podemos destacar os da

Química Orgânica, devido principalmente às suas características especiais, à sua

nomenclatura, à representação estrutural espacial e às propriedades químicas e físicas

dos compostos orgânicos.

Isto acontece porque, na maioria das vezes, esta disciplina tem como

característica a valorização do ensino baseado na memorização de fórmulas, leis e

conceitos.

1 Professora PDE da Rede Pública Estadual do Paraná do Município de Maringá-PR. E-mail:

[email protected] 2 Professor adjunto do Departamento de Química da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e

Orientador do Programa PDE.

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Assim, ensiná-la para os alunos do 3º ano do Ensino Médio, de forma que se

relacione com o cotidiano e sem afastá-la da teoria, é um desafio.

Com o objetivo de tratar a Química como uma ciência que apresenta ativa

participação no âmbito social, econômico e tecnológico, contribuindo assim para o

desenvolvimento da sociedade moderna, pesquisas educacionais têm buscado

recursos para a promoção de uma aprendizagem mais significativa. Um fato de

extrema relevância para alunos do ensino regular é a imprescindível adoção, pelos

docentes, de metodologias que contemplem o dia-a-dia dos estudantes.

Observa-se que, atualmente, existe um abismo entre a realidade do aluno e o

ensino da Química em sala de aula, com o foco didático no detalhamento conceitual,

deixando muitas vezes de lado a preocupação com a contextualidade desses

conhecimentos.

No entanto, contextualizar a Química não é somente promover uma ligação

artificial entre o cotidiano do aluno e o conteúdo, mas propor “[...] situações

problemáticas reais e buscar o conhecimento necessário para entendê-las e

procurar solucioná-las” (BRASIL, 2002, p. 93).

Pois como afirma Chassot (1990, p. 30), para que o ensino da Química possa

formar cidadãos conscientes e críticos é preciso que a mesma seja “[...] um

facilitador da leitura de mundo. Ensina-se Química, então, para permitir que o

cidadão possa interagir melhor com o mundo”.

No entanto, apesar das colocações acima, muitas dos temas que se

autodenominam contextualizados, restringem os contextos sociais à mera

transmissão e informação, pois não promovem o diálogo do aluno com o

conhecimento, no sentido de procurar articular os problemas e desafios

tecnológicos, sociais, éticos e ambientais.

Neste contexto buscamos modificar alguns julgamentos pré-concebidos que os

alunos possuem sobre a disciplina de Química, neste caso sobre a Química Orgânica,

demonstrando através de atividades investigativas e contextualizadas como os

conhecimentos científicos (por exemplo: quais componentes químicos estão

presentes nas plantas que atuam nos poderes curativos, quais as partes mais

adequadas da planta em que esses componentes são encontrados, bem como o

grau de toxidade num uso inadequado da quantidade da mesma) têm utilidade e

podem ser vivenciados na prática social através da utilização de plantas medicinais.

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Para tal finalidade, foram desenvolvidas as seguintes atividades:

I) aplicação de questionário para levantamento do conhecimento sobre

as plantas medicinais;

II) pesquisa sobre as plantas medicinais citadas no questionário de

levantamento;

III) introdução e discussão dos conceitos sobre os conteúdos específicos

da Química Orgânica e funções orgânicas;

IV) leitura de diversos textos ligados aos conteúdos trabalhados;

V) pesquisa sobre os princípios ativos das plantas e suas fórmulas

estruturais;

VI) propostas de aulas práticas: preparo e experimentação de chás,

extração de óleo essencial; construção de mapas conceituais usando

dados de todas as atividades;

VII) palestra com professor de biologia sobre Fitoterápicos;

VIII) visita ao horto de Plantas Medicinais.

2. A Aprendizagem Significativa de Ausubel

O objetivo maior da educação é o de auxiliar as pessoas na elaboração dos

conhecimentos e significados através de um processo sistemático e interativo e

desta forma incorporando-as à estrutura cognitiva do homem e ao patrimônio cultural

coletivo. No entanto, apesar da educação ter uma grande repercussão na vida do

homem ela também participa no crescimento da sociedade, pois como coloca

Jaeger (1995):

Antes de tudo, a educação não é uma propriedade individual, mas pertence por essência a comunidade. O caráter da comunidade imprime-se em cada um dos seus membros e é o homem, [...], fonte de toda a ação e de todo comportamento. Em nenhuma parte o influxo da comunidade nos seus membros tem maior força que no esforço constante de educar, em conformidade com o seu próprio sentir, cada nova geração. A estrutura de toda a sociedade assenta nas leis e nas normas escritas e não escritas que a unem e unem os seus membros. Toda educação é assim o resultado da consciência viva de uma norma que rege a comunidade humana [...] (JAEGER, 1995, p. 04)

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E esta articulação entre o coletivo e o sujeito vem influenciar profundamente

um dos aspectos mais significativos da educação o modo a se compreender o

processo ensino-aprendizagem, escrevem Gomes et al. (2010). Ainda segundo

estes autores a maneira pelos quais estes processos se unem têm sido desde a

antiguidade, objeto de debates,

[...] evidenciando-se correntes de inspiração tanto racionalista quanto empirista, na dependência do elemento considerado prioritário: a razão/entendimento – como no caso da reminiscência platônica [...] – ou a experiência/sensibilidade – como formulado pela ideia de mente como lousa vazia, em John Locke [...] (GOMES et al., 2010, p. 24).

Ideias estas que foram muito bem aproveitadas por Kant quando na

elaboração da sua teoria do conhecimento, considerada segundo Gomes et al.

(2010) a precursora do construtivismo. E é nesse horizonte conceitual que aparece a

teoria cognitivista de Ausubel, a aprendizagem significativa. Nela Ausubel demonstra

sua preocupação com o processo de compreensão, transformação, armazenamento

e uso da informação envolvida na cognição.

Para Ausubel, segundo Moreira e Masini (1982), a aprendizagem significativa

é,

[...] um processo pelo qual uma nova informação se relaciona com um aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo. Ou seja, neste processo a nova informação interage com uma estrutura de conhecimento específico, [...] conceitos subsunçores, [...] existentes na estrutura cognitiva do indivíduo. A aprendizagem significativa ocorre quando a nova informação ancora-se em conceitos relevantes preexistentes na estrutura cognitiva de quem aprende (MOREIRA; MASINI, 1982, p. 07). (grifo do autor)

Isto quer dizer que aprendizagem significativa acontece através da interação

de novas informações com as já existentes estruturas cognitivas específicas e

individuais do aluno (subsunçor), facilitando assim a aprendizagem subsequente.

Moreira e Masini (1982) relatam que Ausubel enxerga o armazenamento de

informações no cérebro humano como sendo altamente organizado, formando uma

hierarquia conceitual na quais elementos mais específicos de conhecimento são ligados

(e assimilados) a conceitos mais gerais emais inclusivos.

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Diante do exposto acima, verifica-se que para Ausubel as estruturas

cognitivas nada mais são do que estruturas hierárquicas de conceitos que o aluno já

conhece ou já teve alguma experiência.

Porém, nem sempre este conhecimento prévio está presente na estrutura

cognitiva do aluno, para suprir esta ausência Ausubel propôs a utilização dos

chamados organizadores prévios que irão deliberadamente, manipular as estruturas

cognitivas com o objetivo de facilitar a aprendizagem significativa.

Desta forma, os organizadores prévios servem de “[...] âncora para nova

aprendizagem [...]” (MOREIRA; MASINI, 1982, p. 11), facilitando assim a

aprendizagem subsequente, através do desenvolvimento de conceitos subsunçores.

Sobre isto escrevem Moreira e Masini (1982),

Organizadores prévios são materiais introdutórios apresentados antes do próprio material a ser aprendido. Contrariamente a sumários, que são ordinariamente apresentados ao mesmo nível de abstração, generalidade e inclusividade, simplesmente destacando certos aspectos do assunto, os organizadores são apresentados num nível mais alto (MOREIRA; MASINI, 1982, p. 10-11).

Assim, os organizadores prévios funcionam como “pontes cognitivas” que irá

preencher a lacuna existente entre o que o aluno sabe e o que ele precisa saber.

No entanto para que a aprendizagem significativa aconteça é preciso que

existam duas condições de acordo com Ausubel: que o material instrucional a cerca

do conteúdo (figuras, gravuras, aula de laboratório etc.) a ser trabalhado seja

potencialmente significativo, isto é, este material deve ter ligação com a estrutura de

conhecimento do aluno de maneira substantiva e não arbitrária, e, que exista uma

pré-disposição do aluno em aprender, isto é, o aluno precisa manifestar uma

disposição para relacionar, de maneira não-arbitrária e substantiva, o novo conteúdo

à estrutura cognitiva. (MOREIRA; MASINI, 1982).

Trindade (2011) escreve que:

Relacionar de maneira não-arbitrária (não aleatoriamente) implica a capacidade de relacionar logicamente o novo conhecimento aos subsuçores. [...] Por outro lado, uma relação substantiva, [...], significa um mesmo conceito ou proposição poder ser expresso por meio de uma linguagem sinônima, que vai remeter exatamente ao mesmo significado (TRINDADE, 2011, p. 8-9).

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De acordo com Gomes et al. (2010), existem alguns aspectos que são

essenciais para facilitar a construção desse conhecimento, merecendo destaque a

[...] (1) a diferenciação progressiva – na qual os conceitos que interagem com os novos conhecimentos e servem de base para atribuição de novos significados vão se modificando em função dessa interação – e (2) a reconciliação integrativa – que consiste na construção ou criação de relações entre ideias, conceitos e proposições já estabelecidas na estrutura cognitiva (GOMES et al., 2010, p. 27).

Segundo a concepção de Ausubel, escreve Trindade (2011), existem três

modalidades de aprendizagem significativa: a subordinada ou de subsunção, que se

baseia na relação de conceitos novos com conceitos que já existem na estrutura

cognitiva do aluno, através de uma interação entre os dois; a superordenada é

quando uma nova informação é tão ampla que ao invés dela ser assimilada por um

subsunçor, ela é que os assimila (MOREIRA; MASINI, 1982) e, a combinatória, esta

modalidade acontece quando a nova informação não é suficientemente ampla para

assimilar subsunçores, e nem, é ampla demais para ser assimiladas por eles.

Passando a se associar com outros associáveis quaisquer, no entanto ainda

mantendo uma determinada independência.

Diante do exposto observamos que a teoria de Ausubel tem um grande

potencial de aplicabilidade em sala de aula, devido às suas características, de criar a

possibilidade de contextualizar os conhecimentos, propiciando um aprendizado

capaz de tornar o indivíduo ator de sua própria formação.

3. As plantas medicinais como instrumento de Educação Ambiental

Os aglomerados urbanos têm imposto ao homem atual um ritmo de vida que

dificulta cada vez mais o contato direto com a natureza.

Sobre isto Rachwal (2002) escreve que,

A cada dia, crianças em idades cada vez mais tenras se desvinculam da natureza em função da urbanização acelerada devido às transformações na forma de produção e dos mecanismos de atração das grandes cidades e metrópoles. As ferramentas e estratégias de educação ambiental passam a ter extrema importância para o resgate deste vínculo (RACHWAL, 2002).

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Diante deste contexto, as plantas medicinais podem ser estrategicamente

utilizadas como um elo integrador dos temas ambientais. Apesar de ter como

pressuposto central a aprendizagem da química orgânica, o estudo das plantas

medicinais dentro de uma visão sistêmica possibilita uma interligação entre os

aspectos naturais, tornando amplo o raio de ação para os mais diferentes temas

necessários para que se concretize esta conscientização.

O desenvolvimento do tema plantas medicinais abre um amplo leque para a

realização de trabalho não só com a química orgânica, mas também com a biologia

e educação ambiental, facilitando o estudo pelas perspectivas culturais, econômicas

e sociais que levaram e ainda levam muita gente a utilizar as plantas medicinais ao

invés da alopatia.

Como já visto anteriormente o Brasil é considerado o país com a maior

diversidade vegetal do mundo, no entanto, esta diversidade está em perigo da perda

de espécies potencialmente medicinas e das pessoas que possuem o conhecimento

de como utilizar as mesmas. Apresentando um adendo, Marcatto (2003) revela que

nos países em desenvolvimento como o Brasil essa situação é muito perigosa, pois,

[...] não só as plantas medicinais estão correndo riscos, como também os conhecimentos relativos a elas. A marginalização crescente de comunidades tradicionais (agricultura familiar, tribos indígenas, etc), o abandono de antigas práticas, ritos e costumes, provocam a redução da importância relativa das plantas medicinais para estas comunidades e interrompem o processo secular de experimentação e transferência de conhecimentos para as gerações seguintes (MARCATTO, 2003, p. s/n).

Ainda segundo este autor, esta situação poderá levar ao desaparecimento de

conhecimentos acumulados durante séculos, como: “[...] formas de extração,

preparo e conservação dos preparados, como reproduzir e cultivar as plantas

envolvidas, como e quando utilizar, que partes das plantas utilizarem, eficácia e

eficiência dos medicamentos, etc.” (MARCATTO, 2003).

Informações como estas, são importantes e se forem perdidas

impossibilitarão o uso de inúmeros medicamentos.

Desta forma, a conservação da biodiversidade é uma das mais urgentes

tarefas colocadas para as atuais e as futuras gerações.

Então, estudar as plantas medicinais é não só importante, como também

necessário, pois as mesmas são parte importante deste universo de espécies

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vegetais (em vias de desaparecer), que necessitam ser preservadas. No entanto,

para que se possa preservar este conhecimento é necessário estudá-las, e só se

pode conhecê-las através do uso.

Vale lembrar que esta conservação não se refere somente a sua coleta e

catalogação, ela precisa ir mais além. São necessários trabalhos que tenham como

objetivo preservar os conhecimentos relativos às suas diferenças e suas possibilidades

de uso.

Como já visto anteriormente, por possuírem um forte componente cultural, ao

se preservar o conhecimento sobre plantas, estaremos preservando um patrimônio

cultural das populações que as vem utilizam durante décadas.

4. Resultados

Para identificar as concepções prévias dos alunos e um melhor

desenvolvimento do conteúdo proposto ‘Plantas medicinais, a experiência popular e

o conhecimento cientifico’ e sua relação com a Química desenvolvida em sala de

aula foi aplicado um questionário inicial (Apêndice A).

Duas questões presentes neste questionário foram importantes para que o

planejamento das estratégias de ensino oportunizasse uma aprendizagem

significativa: quais as plantas medicinais mais conhecidas pelos alunos e se existia

alguma relação entre as plantas medicinais e a Química Orgânica.

A questão sobre quais plantas medicinais os alunos mais conheciam,

possibilitou promoção e a integração entre as experiências e vivências dos alunos

bem como tornar o conteúdo flexível para contemplar os interesses de todos pelo

conteúdo a ser trabalhado em química orgânica e sua interação com a realidade, a

qual eles estão inseridos.

Segundo Moreira e Mansini (1982) ao considerarmos o contexto que o aluno

pertence, estamos promovendo uma aprendizagem significativa, pois ao despertar

interesse se aumenta o envolvimento, uma vez que este conhece o assunto e

aproveita seus conhecimentos prévios para responder as questões relacionadas,

sentindo-se motivado a buscar mais respostas.

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Quanto à questão sobre a relação entre a Química estudada e a temática,

83,33% (25 alunos) responderam que observam alguma relação, no entanto, tiveram

dificuldade em identificar esta relação, como podemos observar nas seguintes

respostas:

I) Sim, porque as plantas ajudam em pesquisas sobre doenças e a Química

também.

II) Sim, porque tudo no mundo é Química, tudo é formado por elementos

químicos, inclusive as plantas e suas reações.

Com este levantamento, pretenderam-se identificar as dificuldades que os

alunos trazem, visando assim uma aprendizagem significativa e ativa. Com o

proposito de suprir estas dificuldades e contextualizar o conhecimento químico,

através da vivência dos alunos, dos fatos do dia-a-dia e das tradições culturais

(BRASIL, 2006), buscamos abordar este tema utilizando diversas atividades: leitura

e discussão de textos, experimentação e resolução de exercícios, que conduzissem

os alunos rumo à elaboração de hipóteses, à construção e à reconstrução de ideias.

As atividades propostas na Unidade Didática foram desenvolvidas através de

constante diálogo com os alunos, no sentido de auxiliá-los na construção e

reconstrução de conhecimentos (Apêndice B - Exemplo de atividade).

Após o desenvolvimento das atividades propostas na Unidade Didática3

relacionadas às ‘Plantas Medicinais’ foi aplicado um Questionário Final (Apêndice

C), com o objetivo de verificar se a metodologia utilizada contribuiu para uma

aprendizagem significativa do conteúdo proposto.

Para corroborar e verificar mudanças nas afirmativas dos alunos, que no

questionário inicial afirmaram, em sua maioria (83,33%), que faziam relação entre a

química e as plantas medicinais, foi feita a mesma pergunta.

Em análise a esta resposta observa-se que todos os alunos (100%)

visualizaram alguma relação, conforme pode ser observado nas respostas abaixo:

Sim, nos óleos essenciais das plantas podemos encontrar o CHONPS etc., que são os elementos fundamentais da Química Orgânica e ainda, podemos perceber onde podemos utilizá-los no nosso cotidiano.

3 Esta Unidade Didática pode ser encontrada no site do dia-a-dia educação da Secretaria de

Educação do Estado do Paraná.

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I) Sim, pois estudamos suas fórmulas moleculares e estruturais, e isso se relacionam à química.

II) Sim, porque na Química a gente consegue aprender sobre as funções orgânicas e biológicas das plantas.

Quando questionados se a utilização do tema ‘Plantas Medicinais’ contribuiu

para a compreensão dos conteúdos de química orgânica, 100% dos alunos

responderam afirmativamente, sendo tais afirmações podendo ser constatadas nas

seguintes respostas:

I) Sim, pois com essa utilização do tema ‘Plantas Medicinais’ aprendi utilizar e manusear adequadamente as plantas medicinais. Tive um bom conhecimento sobre seus benefícios/malefícios e resultados, sua importância para nós, entre outras ações. Também aprendi que os CHONPS, as cadeias abertas, fechadas, assim como as funções químicas orgânicas também fazem parte das plantas medicinais e do meu cotidiano.

II) Sim, eu consegui aprender como funciona a utilização dessas plantas e como

são extraídos os seus principais componentes. E com as aulas práticas foi mais fácil de compreender a química orgânica e a utilização dos óleos essenciais na produção de substâncias que estão à venda no comércio.

III) Sim, porque nós conhecemos mais sobre a história e a importância das plantas

medicinais para o homem e o meio ambiente.

IV) Sim, deu pra entender melhor o conteúdo da química orgânica e também da biologia e relaciona-las no estudo das plantas.

Diante destas respostas, podemos afirmar que a aprendizagem dos conceitos

de química orgânica propostos para esta turma foi significativa, pois os alunos

conseguiram relacionar, de maneira não literal e não arbitrária este conteúdo com o

seu conhecimento prévio, conseguindo desta maneira, expressar seu conhecimento

através de uma linguagem própria.

E ao expressar seu conhecimento desta maneira, pode-se observar que ao se

trabalhar a interação entre o novo conhecimento neste caso os conteúdos propostos

da química orgânica através do já existente (Plantas Medicinais) estimulou-se a

construção de uma rede de conhecimento construída através da associação destas

novas informações, a conhecimentos já aprendidos e vivenciados, isto é, esta nova

informação foi incluída em um cabedal de conhecimentos prévios do estudante,

criando-se um novo e/ou mais abrangente conceito.

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Tornado-se claro que a utilização das experiências trazidas pelo estudante é

fundamental para que a ancoragem dos novos conteúdos se dê de forma duradoura

e efetiva, consistindo, assim, em aprendizagem significativa.

5. Conclusão

A aplicação do projeto ‘Plantas Medicinais’, a experiência popular e o

conhecimento científico’ para os alunos do 3º ano do Ensino Médio nos permitiu

concluir que:

- Os alunos possuem conhecimentos prévios a respeito das plantas

medicinais, sendo que estes conhecimentos estão relacionados aos seus

hábitos, costumes, utilização e tratamento de saúde transmitido

culturalmente;

- Os alunos, por meio das atividades desenvolvidas, conseguiram relacionar o

conhecimento científico com suas concepções espontâneas, favorecendo

desta forma a reorganização das concepções existentes e acréscimo de

novas concepções, as quais se deram através da participação efetiva dos

mesmos, pesquisas e discussões relacionadas à temática trabalhada;

- Observou-se por parte dos alunos um sentimento de motivação e interesse

no decorrer do processo de ensino e de aprendizagem, o que permitiu o

enriquecimento das aulas;

- A metodologia utilizada possibilitou aos alunos, de modo geral, analisar e

utilizar o conhecimento cotidiano para compreensão dos conteúdos da química

orgânica e da biologia trabalhados em sala de aula.

Estes resultados nos levam a acreditar que é necessário haver uma

diversificação da prática pedagógica por parte dos professores com o intuito de

permitir um processo de aprendizagem mais significativa aos alunos e garantir uma

participação de forma ativa e frequente dos mesmos.

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6. Referências

BRASIL. Ministério da Educação. Secretária da Educação Básica. Orientações curriculares para o Ensino Médio. Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. v. 02. Brasília: MEC, 2006.

BRASIL. Química. In: PCNs Ensino Médio. Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias. Brasília: MEC, p. 87-110, 2002.

CHASSOT, A. I. A educação no ensino da química. Ijuí: Universidade Regional do

Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, 1990.

GOMES, A. P.; RÔÇAS, G.; DIAS-COELHO, U. C.; CARVALHO, P. O.; GONÇALVES, C. A. N.; SIQUEIRA-BATISTA, R. Ensino de ciências: dialogando com David Ausubel. Revista Ciências & idéias, n. 01, v. 01, p. 23-31, 2010.

JAEGER, W. Paidéa: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

MARCATTO, C. Utilização de plantas medicinais em educação ambiental. 2003. Disponível em: <http://www.redeambiente.org.br>. Acesso em: 13 jun. 2013.

MOREIRA, M. A.; MASINI, E. F. S. Aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São Paulo: Moraes, 1982.

TRINDADE, J. O. Ensino e aprendizagem significativa do conceito de ligação química por meio de mapas conceituais. 2011, 183f. Dissertação (Mestrado em

Química) - Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2011.

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APENDICE A

QUESTIONÁRIO DIAGNÓSTICO

COLÉGIO ESTADUAL THEOBALDO MIRANDA DOS SANTOS

DISCIPLINA: Química

ALUNO (A): ____________________________________ Data: ___/___/_____

PROFESSORA:_________________________________________

7. Quais das plantas medicinais abaixo você conhece:

( ) Boldo ( ) Alecrim ( ) Babosa ( ) Hortelã ( )Cravo ( )Alho

( ) Canela ( ) Quebra pedra ( ) Espinheira Santa ( ) Eucalipto ( ) Carqueja

( ) Cebola ( ) Camomila ( ) Capim Cidreira ( ) Erva-doce ( ) Funcho

( ) Pata de vaca ( ) Valeriana ( ) Erva de Santa Maria ( ) Gengibre ( ) Maracujá

( ) Melissa ( ) Ginkgo biloba ( ) Chapéu de couro ( ) Urtiga ( ) Manjerona

( ) Cana do brejo ( ) Romã ( ) Salgueiro ( ) Hibisco ( ) Sabugueiro ( ) Guaco

( ) Urucum ( ) Cânfora ( ) Boldo ( ) Babosa ( ) Calêndula ( ) Erva cidreira

( ) Capuchinha ( ) Anis Estrelado (...) Citronela.

2. Na sua casa você ou sua família fazem uso de plantas medicinais?

( ) sim ( ) não

3. Se sim, em qual forma? ( ) In natura ( ) Beneficiada

4. Quais são as plantas medicinais que você usa na sua casa? Por que?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

5. Você vê alguma relação entre a química que você estuda e as plantas

medicinais?

( ) sim ( ) não

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Se sua resposta for sim, escreva o por que.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

6. Cite algumas receitas preventivas ou curativas em que foram utilizadas Plantas

Medicinais que deram resultados positivos.

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

7. Que vantagens se têm na utilização das plantas medicinais?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

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APENDICE B

FICHA DE CARACTERÍSTICAS QUÍMICA E BIOLÓGICA DAS PLANTAS MEDICINAIS

Colégio:___________________________________________________________ Disciplina: _________________________________________________________ Nome aluno (a)______________________________________________________ Data:______/______/_________________ NOME CIENTÍFICO da PLANTA

NOME POPULAR

PARTE UTILIZADA

INDICAÇÃO TERAPÊUTICA

COMPOSIÇÃO QUÍMICA

PRINCIPAL CONSTITUINTE

FÓRMULA MOLECULAR E ESTRUTURAL GRUPOS FUNCIONAIS PRESENTES

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APÊNDICE C

QUESTIONÁRIO FINAL

COLÉGIO ESTADUAL THEOBALDO MIRANDA DOS SANTOS

DISCIPLINA: Química

ALUNO (A): _____________________________SÉRIE:________

Data: ___/___/_____

PROFESSORA: _______________________________________

1. Quais das plantas medicinais abaixo você conhece:

( ) Boldo ( ) Alecrim ( ) Babosa ( ) Hortelã ( )Cravo ( )Alho

( ) Canela ( ) Quebra pedra ( ) Espinheira Santa ( ) Eucalipto ( ) Carqueja

( ) Cebola ( ) Camomila ( ) Capim Cidreira ( ) Erva-doce ( ) Funcho

( ) Pata de vaca ( ) Valeriana ( ) Erva de Santa Maria ( ) Gengibre ( ) Maracujá

( ) Melissa ( ) Ginkgo biloba ( ) Chapéu de couro ( ) Urtiga ( ) Manjerona

( ) Cana do brejo ( ) Romã ( ) Salgueiro ( ) Hibisco ( ) Sabugueiro ( ) Guaco

( ) Urucum ( ) Cânfora ( ) Babosa ( ) Calêndula ( ) Erva cidreira

( ) Capuchinha ( ) Anis Estrelado ( ) Citronela.

2. Na sua casa você ou sua família fazem uso de plantas medicinais?

( ) sim ( ) não

3. Se sim, em qual forma? ( ) In natura ( ) Beneficiada

4. Quais são as plantas medicinais que você usa na sua casa? Por quê?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

5. Você vê alguma relação entre a química que você estuda e as plantas

medicinais?

( ) sim ( ) não

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Se sua resposta for sim, escreva a justificativa.

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6. Cite algumas receitas preventivas ou curativas em que foram utilizadas Plantas

Medicinais que deram resultados positivos.

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7. Que vantagens se têm na utilização das plantas medicinais?

8. Em sua opinião a utilização do tema ‘Plantas Medicinais’ contribuiu para a sua

compreensão dos conteúdos de Química Orgânica?

( ) sim ( ) não

Se sua resposta for sim, escreva a justificativa:

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