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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
A LITERATURA MODERNISTA BRASILEIRA DA 1ª FASE, EM DIÁLOGO COM A PINTURA DO FINAL DO SÉCULO XIX E INÍCIO DO
SÉCULO XX.
Autora: Luciane Cristina Gawlak1
Orientador: Rogério Caetano de Almeida2
RESUMO O projeto "A literatura modernista brasileira da 1ª fase, em diálogo com a pintura do final do século XIX e início do século XX" tem como objetivo o estudo dos estilos, temas e motivos aplicáveis à literatura modernista brasileira. O destaque dado é ao diálogo que se estabelece com as pinturas impressionistas e vanguardistas e ao contexto histórico. O método utilizado para desenvolver o projeto é o recepcional. Ele é algo recente nas escolas brasileiras e se apoia em cinco etapas: determinação do horizonte de expectativas, atendimento do horizonte de expectativas, ruptura do horizonte de expectativas, questionamento do horizonte de expectativas e ampliação do horizonte de expectativas. Todas as etapas serão pormenorizadas ao longo do texto. Nas oficinas de literatura, pintura e diálogo entre as disciplinas, destacaram-se a leitura, análise e interpretação de textos, observando-se as manifestações culturais, sociais, ideológicas e políticas da época, a reflexão sobre uma época diferente da atual, relacionando-a com o momento presente; e a produção de pinturas vanguardistas e de poemas de estilo modernista. Palavras-chave: Modernismo; Diálogo; Pinturas Vanguardistas e Impressionistas; Método recepcional.
1 Pós-graduada em Literatura Brasileira e Construção Textual, Colégio Estadual Fazenda Velha
2 Professor Doutor em Literatura Rogério Almeida, Associado do DACEX-UTFPR
1. INTRODUÇÃO
O artigo “A literatura modernista brasileira da 1ª fase em diálogo com a pintura
do final do século XIX e início do século XX” apresenta um estudo sobre os
obstáculos enfrentados no Colégio Estadual Fazenda Velha. Observou-se a falta de
leitura de textos literários e dificuldade de interpretação dos alunos do terceiro ano.
A infraestrutura do prédio da escola, o fechamento da sala de informática, os alunos
não terem acesso à internet, tudo isso colaborou significativa para que as
dificuldades de interpretação se acentuassem.
Para vencer essa dificuldade foi utilizado o Método Recepcional, no intuito de
fazer com que os discentes passassem a estabelecer diálogos entre as pinturas e os
poemas. Esse Método se apoia em cinco etapas: determinação do horizonte de
expectativas, atendimento, ruptura, questionamento e ampliação.
Na primeira etapa a docente procurou conhecer quais são os conhecimentos
prévios, ou seja, quais são as vivências pessoais, as ideologias, a cultura, estéticas,
conhecimentos históricos dos discentes, entre outros; sobre o assunto proposto.
Na segunda parte a docente atendeu as necessidades dos discentes,
iniciando com os poemas de que esses mais gostavam, para depois trazer novos,
mas semelhantes, para que colocassem em prática seus conhecimentos.
O próximo passo foi a ruptura dos horizontes, com a introdução de poemas
diferentes e que exigiam dos discentes maior reflexão e análise, mas sem causar
bloqueios.
A penúltima etapa foi o questionamento do horizonte de expectativas, nela os
estudantes com o professor analisam o grau de dificuldade encontrada e o de
satisfação, em relação a cada uma das atividades realizadas.
A última etapa foi a ampliação do horizonte de expectativas, momento em que
os discentes tomaram consciência das alterações e das aquisições motivadas pela
experiência poética e artística.
Os poemas utilizados no projeto foram dos livros “Lira dos Cinquent'anos” de
Manuel Bandeira, “Pauliceia Desvairada” de Mário de Andrade e “Poesia Pau Brasil”
de Oswald Andrade. São obras que refletem as concepções da época e a realização
dos princípios estéticos do modernismo; e para se estabelecer o diálogo com as
Artes, foram escolhidas pinturas de Cândido Portinari, Edvard Munch, Henri Matisse,
Pablo Picasso, Marc Chagall, Marcel Duchamp, Tarsila do Amaral e Salvador Dali,
entre outros.
O objetivo era tornar os discentes mais críticos quanto ao estudo dos estilos,
temas, características e motivos aplicáveis à literatura modernista, dando destaque
ao diálogo com as Artes e História, propiciando conhecimentos sobre as concepções
dos poetas modernistas; a identificação de manifestações culturais, sociais e
políticas, relacionando a sua realidade;
Outro objetivo era capacitar os estudantes para uma reflexão mais profunda
sobre uma época diferente da atual, levando-os a identificá-la; permitindo que os
mesmos percebessem como as ideologias se renovam ou se perpetuam, elaborando
questionamento sobre os discursos ali presentes e encontrando respostas.
Os pontos que se seguem foram estudados pelos discentes: as
características e ideologias modernistas brasileiras resultantes do contexto histórico;
o porquê de ser produzida dessa forma, como foi o processo de repercussão entre
os escritores, entre a população em geral e no meio jornalístico.
2. UM PASSEIO PELO PROJETO “A LITERATURA MODERNISTA
BRASILEIRA EM DIÁLOGO COM A PINTURA DO FINAL DO SÉCULO XIX E
INÍCIO DO SÉCULO XX”
2.1 Os Primeiros Passos do Projeto
O projeto do PDE “A literatura modernista brasileira da 1ª fase, em diálogo
com a pintura do final do século XIX e início do século XX” foi aplicado no Colégio
Estadual Fazenda Velha, nas turmas do Terceiro Ano A e B. O Método Recepcional
foi o adotado. Ele é algo recente nas escolas brasileiras e se apoia em cinco etapas:
determinação do horizonte de expectativas, atendimento, ruptura, questionamento e
ampliação.
Para iniciar o projeto foi necessário convencer os professores da disciplina de
Língua Portuguesa, Artes e História a participarem deste projeto do PDE, passar a
trabalhar de modo interdisciplinar e utilizar o Método Recepcional em suas aulas.
O conteúdo de Literatura escolhido foi o Modernismo, pois esse foi mais que
uma escola literária, foi toda uma época da vida brasileira em que intelectuais de
diversas áreas propuseram uma ruptura artística, literária e cultural. “Representou
também uma crítica global às estruturas mentais das velhas gerações e um esforço
de penetrar fundo na realidade brasileira” (BOSI, 1976, p. 393)
Já a condição para que a leitura dos poemas modernistas se efetive é que
exista uma metodologia adequada à situação e que leve em conta os interesses dos
leitores, os conhecimentos que já possuíam, suas vivências e o ambiente ao seu
redor, determinando assim o horizonte de expectativas.
Os leitores ao iniciarem a leitura de um texto já possuem conhecimentos de
mundo que devem ser ativados, diante das lacunas de um texto ou das provocações
inerentes à obra, reconhecendo o que lhe é familiar e as referências desconhecidas.
Na primeira etapa do projeto já foi aplicado o método recepcional, momento
esse em que foi possível determinar os horizontes de expectativa dos discentes,
através de indagações orais, aplicação de questionários e análise de poemas,
pinturas e contexto histórico conhecido dos mesmos.
Nessa etapa constatou-se que a maioria dos alunos apresentavam
dificuldades quanto aos aspectos formais: metrificação, estrofação, reconhecimento
de rimas e observação do processo rítmico dos versos.
Quando foi indagado aos alunos sobre poetas modernistas, 38% dos
estudantes disseram conhecer totalmente ou parcialmente os poemas de Oswald de
Andrade, 40% os de Mário de Andrade e 55% os de Manuel Bandeira.
No que tange as características aplicadas ao Parnasianismo, os discentes
não apresentavam os conhecimentos mínimos. Um pouco mais da metade das
características eram reconhecidas pelos alunos. Quanto ao Simbolismo, os
estudantes mostraram conhecer 63% do conteúdo.
Na abordagem feita sobre o Impressionismo e as Vanguardas Europeias, o
conhecimento apresentado pelos estudantes foi acima da média.
No estudo inicial da Pintura Impressionista, 23% dos discentes não
reconheceram o estilo, 63% parcialmente e apenas 15% identificaram-na com
precisão. A média de acerto de quem respondeu o questionamento foi de 66%.
Quanto ao Cubismo, 12% dos estudantes disseram conhecê-lo, 66%
parcialmente e 22% não conheciam este tipo de pintura. Aqueles que responderam
o questionário tiveram um aproveitamento de 58% do conteúdo analisado.
A Pintura Dadaísta era desconhecida de 65% dos alunos, 31% disseram
conhecê-lo parcialmente e apenas 4% o conheciam. Os estudantes, que
responderam o questionário, tiveram um aproveitamento de 60%.
Ao responderem a pergunta: “O que conheciam da Pintura Futurista?”, 55%
disseram desconhecê-la, 39% parcialmente e apenas 6% a reconheciam. A média
de acerto foi de 64% das características apresentadas.
O estilo expressionista presente em uma pintura foi reconhecido por 15% dos
estudantes, parcialmente por 57%, e 28% não reconheceram o estilo. Os mesmos
identificaram 63% das características expressionistas.
No tocante a Pintura Surrealista, 20% dos discentes reconheceram o estilo,
49% parcialmente e 31% desconheciam-no totalmente. Aqueles que responderam o
questionário obtiveram 72% de acerto, no que se refere às características do estilo.
O estilo de pintura mais desconhecido dos estudantes era o Fauvismo: 80%
dos estudantes nunca tinham o estudado; 14% o reconheceram parcialmente e
apenas 6% o identificaram. Dos 20% que responderam reconhecê-lo, a média de
acerto foi de 68% no que se refere ao reconhecimento do mesmo.
Quanto à disciplina de História, a maioria dos discentes conseguiam
identificar contextos de fatos históricos relevantes do Brasil, mas não pensavam em
relacioná-los com a disciplina de Artes e Língua Portuguesa.
O próximo passo foi o atendimento do horizonte de expectativas.
Havia algumas lacunas que precisavam ser preenchidas, conforme análise
dos dados acima.
2.2 Oficina de Poesia Modernista
Na Oficina de Poesia os alunos aprenderam os aspectos formais e revisaram
características de poemas parnasianos e simbolistas. Interpretaram o poema
“Profissão de Fé” de Olavo Bilac e “Antífona” de Cruz e Souza.
O segundo passo foi apresentar poemas de Mário de Andrade, Oswald de
Andrade e Manuel Bandeira, fazendo leitura, análise e interpretação. Ainda nesse
momento foram apresentadas as características da poesia modernista e uma breve
fundamentação teórica do assunto.
Como tarefa de casa os alunos pesquisaram na internet um pouco mais sobre
os três poetas e leram poemas, analisando-os.
Em seguida os discentes se reuniram em oito grupos de aproximadamente
cinco integrantes cada um, passando a interpretar seis poemas de cada autor,
analisando os aspectos estruturais, estéticos, ideológicos e o contexto histórico dos
mesmos.
De Mário de Andrade foram analisados os poemas: “Ode ao Burguês”,
“Paisagem 1”, “Paisagem 2”, “Paisagem 3”, “Paisagem 4” e Inspiração; de Oswald
de Andrade: “Hípica”, “prosperidade”, “Pronominais”, “Canto de regresso à pátria”, “O
capoeira” e “Vícios de fala”, quanto a Manuel Bandeira, os poemas: “Maçã”, “Trem
de ferro”, “Os sapos”, “Pneumotórax”, “Poética” e “Vou-me embora pra pasárgada”.
Para encerrar as atividades dos grupos, escolheram um integrante para
apresentar, a todos os participantes da oficina, as considerações realizadas sobre os
poemas modernistas. Este momento teve a intermediação da professora e a
interação de todos os grupos.
Depois disso os estudantes responderam questões objetivas e subjetivas,
com grau de dificuldade baixa, média e alta; primeiro em dupla e depois
individualmente.
Os resultados obtidos com as avaliações foram analisados no final do projeto
e compilados para se verificar o grau de aprendizados dos discentes.
2.3 Oficina de Pintura Impressionista e de Vanguardas Modernas.
Na Oficina de Artes os alunos aprenderam sobre a pintura do final do século
XIX e início do século XX. Através de slides os alunos visualizaram, com a
orientação da professora, 97 pinturas e estudaram o estilo dessas pinturas.
Foi explicado aos estudantes o assunto representado nas pinturas; as linhas
que organizam o quadro, qual a sua função e espessura; os eixos que norteiam a
pintura; se há perspectiva; quais as cores; se elas são frias ou quentes; o brilho e os
contrastes; a luz, o seu efeito e proveniência; a técnica utilizada e o material.
Em seguida foram explicadas as características de cada um dos estilos de
pinturas, com a visualização e análise de aproximadamente doze slides de cada um
deles, dos seguintes pintores:
a) Impressionismo: Monet e Renoir;
b) Pontilhismo: Paul Signac;
c) Expressionismo: Kandinski, Edvar Munch, Cândido Portinari, Chagall e
Anita Malfatti;
d) Fauvismo: Henri Matisse;
e) Cubismo: Pablo Picasso, Marc Chagall;
f) Dadaísmo: Tristan Tzara, Marcel Duchamp;
g) Surrealismo: Salvador Dali, Tarsila do Amaral e Max Ernst; e
h) Futurismo:Giacomo Balla.
A professora orientou aos alunos para que esses elaborassem uma
pesquisa na internet sobre os estilos e pintores mencionados acima e visualizassem
mais pinturas.
Nas pinturas também foram analisados os contextos históricos e a temática,
presentes na obra. Na pintura “Guernica – O retrato de uma guerra” de Pablo
Picasso, os alunos tentaram definir as imagens presentes e depois o contexto
histórico. Somente após os alunos encerrarem suas inferências, a professora relatou
qual era o fato histórico, o tamanho da pintura, o pintor, o estilo e o que era cada
uma das imagens que se somam, formando o todo da obra prima.
Depois de estudarem a parte teórica, os discentes passaram a ter um olhar
alfabetizado para a pintura e a vê-la de um modo diferente. Aplicaram esse
conhecimento adquirido na análise das pinturas, de forma individual e em dupla,
responderam perguntas objetivas e subjetivas de todos os estilos estudados.
Após as avaliações objetivas e subjetivas das análises e interpretações das
pinturas, os resultados foram compilados e transformados em percentual de
aprendizagem.
2.4 Oficina de Produção Poética
Nesta oficina os alunos passaram a produzir poemas modernistas em dupla,
primeiramente a partir da sugestão da docente e depois com temáticas escolhidas
pelos mesmos, colocando em prática todo o conteúdo adquirido na “Oficina de
Poesia Modernista”.
No segundo momento os alunos, individualmente, escolheram o tema, as
características a serem seguidas e passaram a produzi-lo. Quando esses
encerraram a sua criação, leram-na para a turma e entregaram para ser avaliados
pela docente.
Na Oficina de Produção Textual os alunos puderam optar por utilizar as
diversas características modernistas aprendidas, criando poemas significativos para
si mesmos e para todo o grupo a que pertenciam.
Um dos alunos, baseado na biografia de Manuel Bandeira e sua poética,
resolveu colocar em verso a sua história de vida, contando que foi diagnosticado que
ele tinha câncer e com poucas chances de cura, fez tratamento, ficou meses no
hospital. O tratamento sortiu efeito e ele foi curado.
Já outra aluna colocou em seu poema a sua angústia diante das limitações
provocadas por uma limitação motora, mas que a sua persistência a leva a lutar e
viver a sua vida. Essa produção só foi possível, pois o aspecto intelectual da
discente foi totalmente preservado.
Para os discentes a oficina foi extremamente importante, pois perceberam
que com técnica e persistência é possível se criar poemas, bastava colocar no papel
todo o conhecimento adquirido.
Um grupo formado por professores, pedagogas e alunos leram os poemas
das duas turmas e escolheram oito deles para serem lidos na “Exposição de
Pinturas Modernistas do Terceiro Ano”, que ocorreu em junho.
2.5 Oficina de Criação de Pintura Impressionista e de Vanguardas
Modernas.
A oficina foi iniciada com a professora repassando os slides da “Oficina de
Pintura Impressionista e de Vanguardas Modernas”. Além das pinturas que foram
revistas, os alunos pesquisaram na internet outras pinturas, instalações e imagens.
Nessa oficina os alunos montaram equipes de cinco integrantes e passaram
a criar as pinturas propostas: Impressionismo, Pontilhismo, Expressionismo,
Fauvismo, Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo e Futurismo.
A produção de pinturas foi realizada em grupos, pois alguns discentes
disseram ter dificuldades em realizá-la sozinhos, dizendo não serem pintores nem
desenhistas.
Cada equipe definiu quais seriam as cinco pinturas a serem realizadas.
No grupo, o estilo e as atividades eram divididos e cada um deveria realizá-
la individualmente, mas com o apoio dos colegas de grupo. As atividades dos
grupos, feitas individualmente, foram avaliadas em grupos. Assim todos eram
responsáveis, pois a nota não era individual.
Depois de dois dias cada um trouxe um esboço da ideia do que pintaria e as
equipes analisaram se esse estava correto. Em seguida iniciaram a pintura, mas não
conseguiram concluí-la, devido ao encerramento do tempo.
Na aula seguinte os alunos trouxeram as pinturas prontas e as equipes
analisaram cada uma delas, junto com a professora. As pinturas que cumpriam as
características do estilo foram entregues e as incorretas foram refeitas e entregues
na aula seguinte.
Para ter um aspecto de moldura, essas pinturas foram coladas em papel
cartão maior, com bordas de 3 cm de cada lado, na cor preta.
O mesmo trabalho foi realizado por outra professora de português do
colégio, pois seus alunos também queriam participar da exposição, entretanto as
pinturas foram realizadas individualmente e algumas delas, foram tentativas de
reprodução de obras famosas.
Um grupo formado por docentes, pedagogas e discentes analisaram as
pinturas dos diversos estilos e chegaram à conclusão de que as criações estavam
corretas e que todos se dedicaram muito; portando, deveriam ter suas obras
expostas na “Exposição de Pinturas Modernistas do Terceiro Ano”.
Após esse momento as pinturas foram agrupadas em Impressionismo,
Pontilhismo, Expressionismo, Fauvismo, Cubismo, Dadaísmo, Surrealismo e
Futurismo e preparadas para o dia da exposição.
2.6 Oficina de “Diálogos da Pintura com a Poesia e a História”
A última oficina exigiu muitos esforços dos estudantes. Através de slides e
com o auxílio da professora, eles iniciaram os primeiros diálogos de poemas com
pinturas, cujas temáticas ou contextos históricos eram semelhantes. Isso gerou um
desconforto inicial, pois os estudantes sentiam que havia lacunas e que
necessitavam preenchê-las, o que foi conseguido com as atividades coletivas.
Um exemplo do que foi realizado nessa oficina foi interpretar o poema
“prosperidade” de Oswald de Andrade e estabelecer diálogo com a pintura “Café” de
Cândido Portinari. Foi analisado pelos alunos num primeiro momento o que havia de
comum e diferente entre os dois; a temática e o contexto histórico dos dois. Em
seguida todos compartilharam os suas respostas, verificando o que não tinham
observado antes e confrontando opiniões sobre os diálogos.
Antes de iniciar as produções a professora fez o diálogo entre o poema
“Inspiração” com as pinturas “Carnaval em Madureira” de Tarsila do Amaral e
Arlequim, colombina e Pierrot de Frank Xavier Leyendecker; e o poema
“Pronominais” de Oswald de Andrade e a pintura “Abaporu” de Tarsila do Amaral.
Neste diálogo foi verificado as datas de produções, autores e pintores, estilo da
pintura e do poema, temáticas, as características comuns aos dois, as diferenças, o
contexto histórico, entre outros elementos estruturais próprios do poema ou pintura
que estabelecem diálogo.
Depois de vencido esse obstáculo, em duplas e depois individualmente, os
estudantes realizaram exercícios objetivos e subjetivos de diálogo entre a pintura, o
poema e o contexto histórico, sendo que a professora foi aumentando
gradativamente a complexidade dos mesmos.
A oficina foi finalizada com três produções dissertativas, em que dialogavam:
a) O poema “O Capoeira” de Oswald de Andrade com a pintura
“Negroesfighting. Brazils (Negrros combatendo. Brasil)” de Augustus Easle.
b) O poema “Maçã” de Manuel Bandeira com as pinturas “natureza-morta
com maçãs e laranjas” de Cézanne e “Les Demoiselles d’Avignom” do pintor Pablo
Picasso.
c) “Paisagem nº1” de Mário de Andrade com a pintura “São Paulo” de Tarsila
do Amaral.
2.7 Evento de Declamação de Poesia e Exposição de Pinturas
Modernistas do Terceiro Ano
No dia do evento, alguns alunos montaram a exposição com a orientação da
professora. As 110 pinturas foram agrupadas de modo diversificado, em espaços
intitulados Futurismo, Dadaísmo, Surrealismo, Impressionismo, Expressionismo,
Fauvismo e Cubismo. A exposição foi aberta a toda a comunidade escolar e pode
ser apreciada por sete dias. Nesse momento todos puderam apreciar as obras de
arte produzidas pelos alunos do Terceiro Ano e ampliar os seus conhecimentos
sobre as tendências do final do século XIX e início do século XX – ver fotos no
anexo.
Na abertura do evento a professora explicou aos convidados o que era o
projeto e como ele foi colocado em prática na escola. Em seguida, oito discentes,
que representavam as duas turmas participantes do projeto, fizeram a declamação
de seus poemas, produzidos durante a Oficina de Produção de Poema.
2.8 As oficinas e o Método Recepcional
Primeiramente foram apresentados poemas e pinturas com leituras
semelhantes para que os alunos não se desestimulem e o horizonte permaneça
imóvel. É necessário inicialmente algo que lhes seja familiar, para depois avançar
para textos que altere o limite do horizonte de expectativas – atendimento e ruptura
do horizonte de expectativas.
Nas atividades das oficinas, a professora provocou situações que levaram os
alunos a questionar os seus horizontes de expectativas, propondo novas leituras,
levando-os a mudanças, pois muitas vezes o texto e o leitor apresentam horizontes
históricos diferentes ou defasados e que precisam fundir-se, cabendo à professora
mediar esse processo. Esta distância estética pode ser eliminada quando se inicia
uma modificação de expectativas do leitor, contribuindo para o alargamento dos
horizontes de expectativas. (BORDINI, 1993, p. 86 e 87) – ruptura do horizonte de
expectativas.
Para que uma interpretação se efetive num todo, deve ser observado o seu
caráter diacrônico – análise do texto associado a sua época, o seu caráter sincrônico
– a partir de uma visão do presente, e o diálogo entre a literatura e a vida prática do
leitor. Somente assim se atinge o potencial de sentido da obra. Quanto ao aspecto
diacrônico deve-se considerar que uma obra de grande valor pode não ter sido
reconhecida como tal, na época, e o sincrônico se refere ao momento em que ocorre
a leitura da obra pelo leitor e como ela é recebida pelo mesmo, e o último caráter,
dos efeitos diversos dessa obra na vida de quem a leu. (JAUSS, 1994, pág. 39).
Tal etapa do processo se fecha com o questionamento dos alunos
(individualmente e em grupo) sobre o grau de dificuldade e nível de reflexão das
obras, observando as alterações e essa nova visão de mundo que passaram a ter,
vivenciando-a. (BORDINI, 1993, p. 89 e 90) – questionamento do horizonte de
expectativas.
Após a finalização do projeto do PDE, foi realizada uma avaliação com os
estudantes, professora, direção e equipe pedagógica sobre o quanto ele foi
significativo para cada um dos segmentos do colégio.
Para se ampliar o horizonte de expectativas, os alunos tinham que se sentir
diferentes, ver o mundo de um modo diferente, perceber que sua capacidade de
análise e interpretação se ampliou. A partir dessa conscientização dos alunos, esses
definirão novos textos que atendam as suas novas expectativas.
O objetivo maior das cinco oficinas era trazer novos conhecimentos. Se o
desconhecido altera o ponto de vista de mundo do leitor, houve uma ampliação dos
horizontes de expectativas. Cabe ao autor do texto deixar lacunas a serem
preenchidas de forma criativa pelos leitores, que deve se dispor a isso, mas o
professor deve ter um cuidado na escolha dos textos, pois se o aluno não conseguir
preencher esses espaços ou o novo texto for muito diferente dos anteriores, o
mesmo poderá se sentir incompetente e rejeitar essa experiência de leitura.
(BORDINI, 1993, p. 88 e 89)
3. CONTRIBUIÇÕES DOS PROFESSORES DO ESTADO DO PARANÁ NO
GRUPO DE TRABALHO EM REDE – GTR
O diálogo proposto entre as disciplinas de Arte, História e Literatura permite
uma leitura diferenciada, que mexe com a imaginação, despertando e estimulando a
sensibilidade dos alunos, levando-os a se expressar de um modo diferenciado. Esse
processo interdisciplinar otimiza o processo de ensino-aprendizagem e as
atividades lúdicas passam a serem usadas como um mecanismo de potencialização
da aprendizagem.
É possível analisar nos poema e pinturas aspectos históricos, do cotidiano,
da época em que foram escritas e pintadas, proporcionando assim um processo
interdisciplinar efetivo, pois a imagem é algo mais concreto para os estudantes e
permite um olhar particularizado da mesma. Segundo a maioria dos professores
cursistas do GTR, o trabalho interdisciplinar exige muita disciplina dos professores e
infraestrutura da escola, porque este trabalho dará noção do conteúdo num todo.
Para a maioria dos professores cursistas, a tecnologia digital que poderia ser
um facilitador desse processo, passou a ser mal utilizada, pois muitos alunos
querem encontrar tudo pronto nos sites de pesquisa, sem precisar ter que ler, o que
dificulta o processo da aprendizagem, pois para muitos alunos, a internet é mais um
local de descontração e não um local de aprendizagem em que se pode adquirir
conhecimentos elaborados. Para esses cursistas são poucos os estudantes que a
utilizam para a aquisição de conhecimento.
Quanto ao projeto, vê-se que as Vanguardas Europeias rompem com o
estilo vigente da época e que influenciam os artistas de um modo em geral. Para
isso, é necessário comentar sobre o processo histórico; as mudanças na pintura e
escultura; e a mudança de poemas com estilos mais formais, passando para os
menos formais, livres da métrica e com uma linguagem mais coloquial, próximo do
falar popular. O sentimento de brasilidade e de valorização da cultura nacional se fez
presente em todas as artes. Neste caso os alunos podem identificar as mudanças
que ocorreram na época e relacioná-las com o seu mundo, compreendendo que
conhecimento está sempre em construção e que nada no mundo é imutável.
Educar o olhar para a leitura de textos verbais e não verbais (pintura) exige
muito do docente, uma vez que muitos alunos acreditam que poemas sem aspectos
formais da poesia sejam inferiores, ou que a pintura de vanguarda não é obra-prima,
pois muitas vezes retrata o belo feio. O trabalho do professor nesse caso é
fundamental, crítico e esclarecedor.
A alfabetização envolve mais que a leitura de palavras ou de imagens. É
necessário analisar como os alunos interpretam as diversas artes que estão ao seu
redor e o contexto o qual estão inseridos; simplificando, a leitura estética é essencial
à educação e cultura de um povo. É por meio das leituras que os alunos
compreendem o mundo e as diversas culturas, adquirem novos conhecimentos,
ultrapassando fronteiras, levando a compreensão e interpretação de sua realidade.
Quando fazemos uma análise deste tipo, podemos dizer que levamos em conta o elemento social, não exteriormente, como referência que permite identificar, (...), a expressão de uma certa época ou de uma sociedade determinada; nem como enquadramento, que permite situá-lo historicamente;mas coo fator da própria construção artística, estudado no nível explicativo e não ilustrativo. (CANDIDO, 2006, pág. 16 e 17)
Para a maioria dos cursistas a falta de pré-requisitos dos alunos é um
entrave ao aprendizado. Sem eles, o professor vai ter que se esforçar mais,
trabalhar mais lentamente o conteúdo e em conjunto com seus alunos.
Já a interdisciplinaridade deveria ser uma realidade nas escolas brasileiras,
mas a maioria dos cursistas afirmaram que há professores que resistem e não
aceitam trabalhar dessa forma.
Segundo os cursistas as tecnologias a disposição, embora não sejam tão
modernas o quanto desejariam, ajudam e permitem criar aulas mais elaboradas e
que diminuam as dificuldades enfrentadas em sala de aula, pois segundo estes
aulas dinâmicas, animadas e diferenciadas trarão resultados mais produtivos. Mas, a
maioria afirma que é necessário mais investimentos do Governo do Estado em
tecnologias digitais, com o aumento da velocidade da internet, e na infraestrutura
das escolas, com espaços adequados e prontos para receber os equipamentos.
No que se refere ao Método Recepcional, este foi considerado pelos
cursistas muito interessante, pois o (a) professor (a) inicia a partir do que os alunos
conhecem, incentiva eles a preencherem lacunas que possam ter, passa novos
conhecimentos, interage com ele, amplia esses conhecimento e determina novos
conhecimentos a serem atingidos.
Quanto aos exemplos de aulas e de trabalhos dados pelos cursistas, estes
foram significativos e a maioria dos professores concordaram que os discentes são
mais visuais e que fazem a leitura de tudo - pessoas, sentimentos, dos textos, cenas
e situações - que estão ao seu redor. Cabe a eles fazer com que o discente tenha
consciência dessa leitura e fazer desse processo o mais prazeroso possível, enfim,
ter objetivos bem definidos para que aprendizagem ocorra de forma efetiva.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao se analisar todo o projeto de inserção: “A poesia modernista brasileira da
1ª fase, em diálogo com a pintura do final do século XIX e início do século XX.” É
possível afirmar que houve uma aprendizagem acima do esperado em todos os
quesitos analisados.
Todos os itens analisados abaixo foram obtidos ao longo do projeto, através
de atividades realizadas na oficina, em avaliações, produções de poemas e de
pintura e através de um questionário aplicado no encerramento do projeto. Somente
após o fechamento do projeto é que as informações obtidas foram transformadas em
porcentagem.
4.1 Análise dos resultados obtidos
No aspecto formal da poesia, houve um aumentou de 40% para 98%, na
identificação de poemas com versos livres e rimas brancas, chegando perto da
excelência.
No final do projeto 100% dos discentes disseram conhecer diversos poemas
de Oswald de Andrade, 96% os de Mário de Andrade e 95% os de Manuel Bandeira
e seriam capazes de interpretá-los sem dificuldades.
O reconhecimento das características parnasianas evoluiu 32%, chegando a
84% o percentual de aprendizado dos estudantes participantes do projeto.
Quanto ao Simbolismo, os estudantes apresentaram um ótimo resultado:
86% deles reconheciam as características dessa escola.
O resultado mais significativo refere-se ao Modernismo. Os discentes
apropriaram-se de 87% das características da escola. Reconheciam nos poema o
combate à literatura discursiva e pomposa, rompendo com o estilo anterior; a
incorporação de temáticas do cotidiano, do prosaico; o uso de versos livres e diretos,
com rimas brancas; a aproximação do poema com a prosa, misturando os gêneros;
a crítica a fatos históricos; e o uso de uma linguagem autenticamente brasileira, mais
simples e sintética, próxima do falar da população.
Quanto à disciplina de Artes, os resultados obtidos mostraram que houve
uma significativa melhora na aprendizagem.
Os estudantes reconheciam 89% das características da Pintura Cubista: a
fragmentação do objeto, a imagem mostrada de ângulos, volumes e planos
diferentes, tudo ao mesmo tempo, simultaneamente.
A compreensão do estilo da Pintura Futurista: a exaltação da vida moderna,
da tecnologia, do espírito nacionalista do dinamismo e velocidade, da coragem, da
revolta e da guerra; chegou a 97%, perto do nível máximo de excelência.
Uma das dificuldades encontradas pelos alunos durante o projeto foi na
Pintura Expressionista. Embora 94% dos alunos dissessem reconhecer o estilo,
somente 66% acertaram efetivamente as características do estilo: a expressão
verdadeira da vida interior, os seus sentimentos, mostrando a sociedade de forma
deformada, com exasperação da cor.
O aprofundamento do que era ilógico, irracional; retratando o inconsciente, o
sonho, os estados alucinatórios, a loucura e o maravilhoso da Pintura Surrealista foi
identificado por 98% dos discentes, com 89% de apropriação efetiva do estilo.
A compreensão dos discentes em relação às características do Dadaísmo foi
de 60%, abaixo do esperado, mais ainda na média.
Em relação à Pintura Impressionista, 80% das características foram
reconhecidas pelos estudantes: a pintura deixou de ser figurativa e representativa do
mundo, os pintores deixaram de utilizar a linha, desde que fosse usada a luz e a cor
de modo correto.
Quanto à disciplina de História, 70% dos estudantes disseram conhecer
fatos históricos do Brasil do início do século XX, mas apresentavam um pouco de
dificuldades em relacioná-los com as pinturas e os poemas. Quando liam poemas ou
viam pinturas de vanguarda, conseguiam identificar alguns contextos históricos mais
aparentes, mas não todos.
No questionário final, 98% dos alunos disseram que este projeto do PDE fez
diferença para o seu aprendizado; 98% que ele foi significativo, quanto às
necessidades da escola; 91% falaram conseguir fazer, através das atividades,
diálogo entre as disciplinas de Artes, Português e História.
Para 76% deles, os exercícios propostos os fizeram refletir sobre as
manifestações culturais, sociais, políticas, relacionando-as a sua realidade; 85%
responderam que passaram a refletir melhor sobre o início do século XX, época
muito diferente da atual, relacionando-a com o momento presente.
Finalizando, 93% dos estudantes passaram a identificar discursos, ideologias
dos poetas modernistas e pintores vanguardistas, em pinturas, em textos e obras de
diversas manifestações culturais do Brasil, passando a elaborar novos saberes.
Quanto ao trabalho interdisciplinar, quase tudo ocorreu conforme o esperado,
e pode-se dizer que o resultado foi ótimo, mesmo com a substituição de um
professor no meio do projeto de inserção.
O resultado esperado no início do projeto foi superado – a média determinada
no início do ano para os dois terceiros anos era de 6,4. Os discentes obtiveram a
média de 7,4 no primeiro trimestre, ou seja, 1,0 acima do esperado. Nas avaliações
em que as questões foram elaboradas seguindo o padrão de vestibulares e Enem,
dos 73 alunos que participaram do projeto, 51 alunos apresentaram aproveitamento
superior a 60%; e desse total, 25 tiveram aproveitamento de 79%.
Dos 73 alunos que participaram do projeto apenas 9 alunos não obtiveram
resultados acima da média, uma vez que esses deixaram de realizar avaliações,
produções textuais, tarefas e deixaram de participar das atividades nas oficinas, o
que ocasionou a diminuição da média da turma.
Logo, o projeto atingiu o objetivo esperado, que era melhorar a capacidade de
interpretação e análise dos alunos do Terceiro Ano.
REFERÊNCIAS
BORDINI, Maria da Glória; AGUIAR, Vera de Teixeira de. Literatura - a formação do leitor: alternativas metodológicas. 2 ed. Porto Alegre: Mercado Abeto, 1993.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1976.
BROWN, Norman Oliver. Vida contra a Morte. Petrópolis: Vozes, 1972.
CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2006.
CAVALCANTI, Carlos. Como entender a pintura moderna. 3ª ed. Rio de Janeiro: Editora Rio, 1975.
JAUSS, H. R.A história da literatura como provocação à teoria literária. São Paulo: Ática, 1994
MARTINS, Wilson. A literatura brasileira: O modernismo. 2 ed. São Paulo: Editora Cultrix, 1967.
SCHWARZ, Roberto. Ao vencedor as batatas. 4.ª Ed. São Paulo: Duas Cidades,
1992.
ANEXO
ANEXO – Fotos da Exposição de Pinturas Modernistas do Terceiro Ano
Fonte: Luciane Cristina Gawlak
Fonte: Luciane Cristina Gawlak