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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
RELEITURA DOS CONTOS DE FADAS:
CHAPEUZINHO VERMELHO E SUAS VERSÕES
Autor: Deuzimeri da Luz Fagundes1
Orientador: Prof. Dr. Ubirajara Inácio de Araújo2
Resumo
O Projeto de Intervenção Pedagógica foi destinado ao desenvolvimento de atividades diversificadas na área de Língua Portuguesa para alunos do 6° ano do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Princesa Isabel – Ensino Fundamental e Médio, em Cerro Azul, tendo como temática a leitura do tradicional conto Chapeuzinho vermelho e de suas versões, abordando a importância de se fomentar aulas interativas e problematizadoras, a fim de que os educandos possam tornar-se atores críticos e capazes de enfrentar os desafios do processo de ensino-aprendizagem a partir de discussões sobre assuntos que perpassam o seu cotidiano, como o racismo, a violência, a não aceitação do diferente, entre outros. A estratégia de sensibilizar o alunado pela articulação entre temas recorrentes no cotidiano e pela leitura de contos de fadas é uma forma de dar nova significância ao aprendizado da língua portuguesa, pois há necessidade de se despertar no aluno o prazer pela leitura. Deve-se motivar os alunos a ler cada vez mais. Conforme as Orientações Curriculares para o Ensino Fundamental, as habilidades de leitura nas aulas de língua portuguesa podem ser desenvolvidas de diversas maneiras, entre elas na seleção de textos de diferentes esferas sociais e gêneros, o que se pode garantir com a releitura de contos clássicos da literatura universal.
Palavras-chave: Leitura; oralidade; contos de fadas; intertextualidade.
1 Professora da Rede Estadual do Ensino no Colégio Estadual Princesa Isabel, em Cerro Azul-PR.
2 Mestre e Doutor em Semiótica e Linguística Geral pela Universidade de São Paulo (USP). Professor de Metodologia e Prática de Docência de Língua Portuguesa do Setor de Educação da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
1 INTRODUÇÃO
A estratégia de sensibilizar o alunado pela articulação entre temas
recorrentes no cotidiano escolar e a releitura dos contos de fadas é uma forma
de dar nova significância ao processo de ensino aprendizado da língua
portuguesa e de dar vazão a questionamentos antes secundarizados para
contemplar, por exemplo, o ensino de literatura infanto-juvenil. Foi nessa
perspectiva que se desenvolveu o projeto de leitura e produção de textos tendo
como estratégias o uso dos contos de fadas e suas releituras.
Percebemos que os alunos, quando chegam ao 6.º ano do Ensino
Fundamental, por motivos diversos, não têm interesse pela leitura. Nesse
sentido, cabe à escola tomar um posicionamento para resgatá-los quanto ao
gosto pela leitura. O trabalho com os contos de fadas emerge, nesse contexto,
como uma estratégia produtiva, pois eles sempre estiveram presentes no
imaginário de todos nós, desde os tempos mais remotos, na nossa infância, e
nos seguem até na nossa vida adulta, pois ainda hoje gostamos de ouvi-los. E
como eles são para nossas crianças hoje? Como elas aceitam os contos que
lhes são apresentados? É por meio do conto de fadas que a criança se
identifica com as personagens, uma vez que, por meio delas, é possível tentar
entender o modo em que vivemos, e assuntos tratados nos contos fazem parte
da fantasia, do imaginário.
O gênero discursivo “Conto de Fadas” tem como característica a sua
brevidade. Apresenta uma só trama, com poucos personagens; há um herói
que deve salvar a heroína de terríveis perigos. A origem do conto está na
transmissão oral dos fatos, no ato de contar histórias, que antecede a escrita e
nos remete a tempos longínquos. Contos de fadas têm gênero narrativo e
enredo de compreensão relativamente fácil. Há, também, características
próprias como as expressões: “Era uma vez” “Num reino encantado...” “Num
lugar muito distante...”. Essa forma narrativa estrutura um início, um meio e um
fim e faz com que a criança perceba a existência de um tempo, um tempo que
não é o seu, trata-se de um tempo imaginário.
Segundo, Bettelheim (2004, p.13), “deve-se estimular a imaginação da
criança, ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas aspirações.
Reconhecer plenamente suas dificuldades e, ao mesmo tempo, sugerir
soluções para os problemas que a perturbam”.
Entendemos que é necessário trabalhar com os alunos as diferentes
versões sobre um mesmo fato ou conto, explicando que histórias, com o passar
do tempo, acabam sofrendo modificações, criando-se assim novas versões
para uma mesma narrativa. E nessas histórias há situações que sempre se
repetem. Há obstáculos a serem vencidos como: rivalidades, perseguições,
dilemas diante de opções a serem feitas entre prazer e dever. Os contos de
fadas podem levar a criança a novas descobertas.
Sendo assim, o objetivo geral deste projeto partiu da importância da
leitura para a formação dos alunos, desenvolvendo novas possibilidades de
formar cidadãos críticos e argumentativos. Além disso, é importante fortalecer
no educando o prazer pela leitura, possibilitando o seu crescimento intelectual
por meio do gênero literário contos de fadas, cujo foco foi a contribuição para a
formação de leitores ativos, capazes de ler e de produzir textos coerentes,
coesos e adequados ao gênero estudado.
O projeto foi desenvolvido no Colégio Estadual Princesa Isabel – Ensino
Fundamental e Médio, em Cerro Azul-PR, com alunos do 6º ano do Ensino
Fundamental.
2 CARACTERÍSTICAS DOS CONTOS DE FADAS
Segundo Geraldi (2011), “A leitura de um texto curto (noticiário, crônica,
conto, etc.) não exerce uma função aleatória na sala de aula. Com os textos
curtos, o professor poderá exercer sua função de ruptura no processo de
compreensão da realidade”. Assim as temáticas de tais textos, obedecendo
aos interesses dos alunos, devem servir também ao professor que, por meio
deles, pode romper com a forma pela qual os alunos interpretam a realidade.
Nesse sentido, a temática de uma história contada por uma criança, num sexto
ano, pode determinar a inclusão de um texto curto na semana seguinte, dessa
forma garantirá o processo de releitura.
Segundo Vera M.T. Silva (2008), identificar o que há de mais
característico num conto de fadas são as fórmulas de abertura “era uma vez”,
“num reino distante”, e de fechamento “eles viveram felizes para sempre”.
Esse gênero textual, além de fundamentar-se na estrutura narrativa, que
é do conhecimento das crianças desde a mais tenra idade, povoando-lhes o
imaginário, é também bastante difundido em diversas mídias.
Logo, este Projeto de Intervenção Pedagógica destinou-se ao
desenvolvimento de atividades diversificadas na área de língua portuguesa,
sobre a temática: releitura dos contos de fadas: Chapeuzinho Vermelho e suas
versões e tal temática ressalta a importância de se fomentar aulas interativas e
problematizadoras, a fim de que os educandos possam se tornar atores críticos
e capazes de enfrentar os desafios do processo de ensino-aprendizagem a
partir de discussões sobre o assunto que perpassam o seu cotidiano.
3 A ESCOLHA DO TEMA
A escolha do tema do projeto de Intervenção Pedagógica deu-se pela
observação da necessidade de se fomentar aulas que oportunizassem aos
alunos novas possibilidades na sua formação cidadã tornando-os críticos e
argumentativos.
Sabemos que o professor é o principal incentivador do hábito de leitura,
utilizando diversas estratégias para estimular o aluno. É indispensável que a
escola busque resgatar o valor da leitura, formando leitores produtivos.
Certamente com isso contribuirá para o surgimento de cidadãos capazes de
atuarem no meio em que vivem, com clareza de pensamento e discernimento
crítico da realidade que os cerca.
Considerando que o gosto pela leitura se constrói por meio de um longo
processo e que é fundamental para o desenvolvimento de potencialidades, há
a necessidade de se propor atividades diversas e diferenciadas. A escola,
nessa perspectiva, é o espaço privilegiado para oportunizar à criança a leitura
de forma lúdica, que lhe abre a possibilidade de construção de novas
significâncias. Assim sendo, os contos de fadas vêm ao encontro de prováveis
soluções que perfazem o cotidiano escolar como o bullying e a violência em
geral.
4 O PORQUÊ DA RELEITURA DOS CONTOS DE FADAS
De acordo com a DCE (2008, p.56), “compreende-se a leitura como um
ato dialógico interlocutivo, que envolve demandas sociais, históricas, políticas,
econômicas, pedagógicas e ideológicas de determinado momento”. Ao ler, o
indivíduo ativa os seus conhecimentos prévios, busca as suas experiências, a
sua formação familiar, religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que os
constituem.
Assim sendo, é papel da escola promover a educação para a mudança e
a transformação social e o fará fundamentando-se nos princípios da dignidade
humana, igualdade de direitos, reconhecimento e valorização das diferenças e
das diversidades, entre outros.
Todavia, é papel da escola articular todos esses princípios em seus
planejamentos pedagógicos, uma vez que, mesmo não sendo o único meio de
educar o indivíduo, a leitura literária e a sua releitura têm foco sócio-
educacional, pois é por meio da prática de leitura que os educandos podem
aprendem a lidar com novas situações, saber modificar e ampliar
conhecimentos, ter estratégias para resolver problemas, conviver em grupo e
saber se relacionar dentro e fora do ambiente escolar, pois nossa sociedade
está globalizada, logo, há um “mix” de culturas, contexto em que a literatura e
as práticas de releitura podem contribuir para formação cidadã.
Ressalto que, sem a leitura literária a possibilidade de acesso a
determinados bens culturais produzidos em nossa sociedade se torna
deficitária, o que desconsidera que a imaginação e a fantasia ajudam a formar
personalidades e, como tal, não podem faltar na educação. A importância do
Conto de Fadas na construção do indivíduo crítico socialmente falando é de
suma importância, pois esse gênero textual abre a porta para o mundo dos
sonhos, da imaginação, do lúdico e da fantasia.
5 IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO DE INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA
O Projeto de Intervenção pedagógica foi destinado ao desenvolvimento
de atividades diversificadas na área de língua portuguesa, sob o título releitura
dos contos de fadas: Chapeuzinho Vermelho e suas versões. Tal projeto foi
pautado na necessidade de se desenvolver no aluno o prazer pela leitura,
possibilitando o seu desenvolvimento de leitor competente, por meio do gênero
literário contos de fadas e assim contribuindo para a formação de leitores
ativos, capazes de produzir textos coerentes, coesos e adequados ao gênero
estudado. Os sujeitos envolvidos foram professores de língua portuguesa,
educandos do 6º ano, equipe pedagógica do Colégio Estadual Princesa Isabel
– Ensino Fundamental e Médio, sito à Rua Romário Martins, 120, no Município
de Cerro Azul – PR. O projeto de Intervenção pedagógica foi aplicado no
primeiro semestre de 2015, entre os meses de fevereiro e julho, nas
dependências do colégio. Suas atividades foram desenvolvidas em 64
aulas/hora, de 50 minutos cada aula. As atividades desenvolvidas tinham
como objetivo geral desenvolver no aluno o prazer pela leitura possibilitando o
seu desenvolvimento de leitor competente, por meio do gênero literário contos
de fadas e assim contribuindo para a formação de leitores ativos, capazes de
produzir textos coerentes, coesos e adequados ao gênero estudado. Foram
desenvolvidas diversas atividades pedagógicas tais como: dramatizações,
produções textuais, filmes sobre o tema, atividades lúdicas, confecção de
cartazes, dinâmicas, leitura e releituras do conto de fadas Chapeuzinho
Vermelho.
Ao longo da aplicação do Projeto de Intervenção Pedagógica, também
foram promovidas explanações sobre os problemas sociais que a literatura
engloba, assim como estratégias de como lidar ou sanar tais problemáticas.
A avaliação se deu na forma participativa dos educandos, nas atividades
realizadas, nos questionamentos levantados sobre cada leitura e releitura,
assim como nos debates sobre os temas abordados na releitura do conto de
fadas.
Num primeiro momento, o projeto foi aceito pelos alunos do 6º ano de
forma surpreendente e curiosa, pois eles gostam de novidades. Logo surgiram
dúvidas e questionamentos, mas na sequência, após explanação sobre a
questão vocabular, assim como a questão de releitura de um texto, as
atividades foram proveitosas. A escolha do tema foi oportuna para pautar
algumas questões sociais que estavam ocorrendo, em nossa sociedade na
época, tais como a diversidade cultural, o medo e a violência.
Os educandos, logo que compreenderam no que consistia a releitura do
conto de fadas participaram das atividades de forma mais dinâmica,
mencionando exemplos de suas vivências pessoais ou familiares.
Os focos gramaticais abordados nas atividades foram, basicamente, de
vocabulário, escrita e reescrita de produções textuais.
6 DEBATES, SÍNTESES E REFLEXÕES
Depois que os educandos entenderam o conceito de conto de fadas e a
proposta do Projeto de Intervenção Pedagógica, demos início aos trabalhos
com a atividade sobre a origem desses contos. Eles demonstraram não
conhecê-la, porém comentaram seu conhecimento sobre o conto Chapeuzinho
Vermelho, mas não demonstraram conhecer o seu contexto social. Ao
assistirem e lerem sobre a origem do conto de fadas, os alunos questionaram
sobre a sua veracidade e debatemos questões de semelhança entre a literatura
e a realidade.
Na primeira atividade, apresentou-se aos alunos o conto Chapeuzinho
Vermelho, na versão de Charles Perrault. Fez-se uma discussão inicial para se
verificarem os conhecimentos prévios sobre o conto, bem como para garantir a
retomada das características gerais dos contos de fadas. Em seguida, foi feita
a interpretação do texto, explorando os sentidos explícitos e os sentidos
implícitos, bem como os alunos foram questionados em relação à mensagem
que cada um absorveu da história. Na sequência, foi apresentada a versão dos
Irmãos Grimm, propondo-se uma leitura intertextual. Além de se questionar se
os educandos conheciam as versões, direcionou-se a análise em uma
correlação desses contos com a realidade cotidiana, assim como a questão da
releitura. Foi também abordada a questão dos laços familiares, o respeito e
amor que devemos ter pelos mais velhos de nossa família e os diferentes
modismos relacionados ao chapéu de Chapeuzinho Vermelho. Alguns
educandos se interessaram em pesquisar sobre a vida de dos Irmãos Grimm,
de Charles Perrault e de outros escritores de contos de fadas. Analisamos as
diferenças comportamentais e visuais, ou seja, de vestimentas e suas cores
entre as personagens, além de abordamos o ECA (Estatuto da Criança e do
Adolescente) no tocante à educação. Debatemos o que o ECA define como
direitos humanos referentes à educação de crianças e adolescentes. Os
educandos pesquisaram entre seus familiares como eram as vestimentas no
tempo em que eles iniciaram a estudar e também como era a postura de
professores e alunos na época.
A segunda atividade previa apresentação de versões animadas da
história de Chapeuzinho Vermelho, obtidas na internet. O objetivo era que os
alunos analisassem o estabelecimento de sentido em diferentes sistemas
semióticos, observando as diferenças e semelhanças entre a leitura do texto
escrito e a audição do texto oral. É importante ressaltar que as especificidades
da escrita e da oralidade viram objeto de discussão em função das versões
apresentadas. Com o propósito da preservação ambiental, logo o não uso de
papel, iniciamos a atividade sobre Chapeuzinho Vermelho em histórias
animadas na internet. Os educandos assistiram a diversos vídeos que contam
a história de Chapeuzinho Vermelho e suas versões. Alguns alunos relataram
terem outrora assistido alguns vídeos sobre o conto Chapeuzinho Vermelho,
porém não haviam feito uma análise crítica do texto. A participação dos
educandos nessa atividade foi total.
O objetivo de trabalhar o conto de fadas em versões animadas foi
comparar o texto escrito como o visual, além de levar o educando a refletir
sobre a necessidade da preocupação ambiental que devemos colocar em
prática em nosso dia a dia. Em suma, os objetivos da atividade foram atingidos,
ou seja, o de contribuir para com a humanidade na questão ambiental e o de
analisar as diferentes releituras de um texto literário.
A literatura de cordel também esteve presente nas atividades de
releitura. O que despertou interesse nos educandos em pesquisar sobre essa
literatura foi a forma como é feita. Eles descobriram que, no século passado, o
papel era muito caro, logo surgiu a necessidade de criar estratégias para a
produção literária. Os educandos também se interessaram em saber como a
literatura e a realidade se correlacionam no sentido de profissão, como os
cantores (declamadores) de cordel.
O trabalho com intertextualidade reforçou-se com versões do conto
Chapeuzinho Vermelho, cuja intenção era criar o efeito de humor. Após a
análise e compreensão dos textos, os alunos foram convidados a produzirem
paródias. Para essa atividade, os recursos tecnológicos, mais uma vez, foram
de grande importância para a obtenção de textos em diferentes formatos. Na
atividade, a história de Chapeuzinho Vermelho foi abordada em comparação a
uma paródia do conto com a atualidade, com a modernidade que a indústria da
moda dita em nossa sociedade, principalmente para as mulheres.
Com o propósito de explorar novos sentidos a partir da leitura
intertextual, foram trabalhadas as versões tradicionais de Chapeuzinho
Vermelho e a versão Chapeuzinho Amarelo, de Chico Buarque. Discutiu-se a
noção de medo e as formas para o seu enfrentamento. Além de se trabalharem
as versões das histórias, foi importante o trabalho com as ferramentas
tecnológicas como forma de se buscarem os textos e analisar os sentidos que
assumem em função do meio em que circulam. Na leitura comparativa, foram
apontadas as diferenças e semelhanças em relação aos dois textos. Em
seguida, assistimos ao vídeo e fizemos uma análise crítica. O debate sobre os
medos de cada um mostrou que, independentemente da idade, eles surgem
nas mais variadas situações e que precisamos viver enfrentando-os,
principalmente, o medo do desconhecido. Debatemos sobre alguns riscos
inevitáveis que enfrentamos diariamente.
Na produção textual, produzindo novas histórias em novos gêneros, os
educandos puderam colocar em prática sua imaginação e criar e recriar, tendo
como texto base o conto Chapeuzinho Vermelho. Eles escreveram paródias,
contos e ilustraram o conto Chapeuzinho Vermelho.
Com essas atividades, os educandos compreenderem as diferentes
versões do Conto de fadas Chapeuzinho Vermelho bem como vários sentidos
nelas inscritos. Assim, iniciamos o debate como umas das orientações a
questões da violência, presente em uns, ausente em outros.
Na análise do conto de fadas Chapeuzinho de raiva, foi questionado se
os educandos o conheciam, qual a correlação que poderíamos fazer entre esse
conto e a nossa realidade, que opiniões teciam sobre o dilema da raiva e da
vingança.
No conto Fita Verde no Cabelo, diferente do conto original onde
Chapeuzinho é obediente, debatemos a questão da livre escolha e suas
possíveis consequências. No conto Chapeuzinho Vermelho, há várias
aberturas para se debater o cotidiano do educando, por essa razão, os
acontecimentos do cotidiano foram inseridos na discussão, como forma de
ampliar a produção de sentido e de apresentar vários pontos de vista em
relação a uma mesma questão.
O objetivo de trabalhar o conto de fadas Chapeuzinho Vermelho foi o de
fomentar questionamentos e levar o educando a refletir que devemos adquirir
conhecimentos para podermos nos auto-cuidar e depois, podermos ajudar os
que nos rodeiam. Dessa forma, as atividades propostas procuraram contribuir
para a formação sócio-educacional dos educandos, e também elencar a
importância que temos sobre a responsabilidade social que nos permeia.
Alguns educandos se interessaram em pesquisar sobre os autores das
versões do conto de fadas Chapeuzinho Vermelho e isso despertou interesse
nos demais em escrever novas versões do mesmo conto de fadas. Foi
questionada também a relação social da literatura com a atualidade, a qual
aborda temas debatidos em século passados. Outra questão levantada foi se
religião e a literatura têm correlação, no tocante ao livre arbítrio. Tais
questionamentos se deram quando trabalhamos o conto Fita Verde no Cabelo,
que aborda a questão do diferente. Os alunos foram levados a refletir sobre
todas as diferenças possíveis entre os seres humanos, inclusive o religioso.
Concluímos que todos somos diferentes em algo e que tais diferenças é que
nos enriquecem como seres humanos em constante evolução.
Nas atividades lúdicas, os educandos dedicaram-se muito. Fizeram
cartazes, que foram colocados em exposição.
Debatemos a questão da mentira, dos direitos das crianças, da violência
que as crianças podem sofrer no dia a dia. Essa discussão surgiu quando
debatemos as atitudes comportamentais de Chapeuzinho Vermelho. As
crianças se posicionaram a favor da necessidade de sempre dizermos a
verdade, por mais difícil que seja. Houve relatos de violências oriundas da
“mentira”.
Observamos que os educandos se sentiram sujeitos do processo, pois
durante o desenvolvimento do projeto, as dificuldades vividas na
implementação, como a não aceitação de críticas ou do fato do ser humano
não admitir suas próprias “faltas”, foram vencidas.
7 MUDANÇAS DE CONCEITOS
A estratégia de sensibilizar o educando pela articulação entre temas
recorrentes à vida cotidiana e conto de fadas foi uma forma de dar nova
significância ao aprendizado da língua portuguesa e dar vazão a questões
antes secundarizadas para privilegiar, por exemplo, o ensino da gramática.
Desse modo, avaliando as experiências prévias em sala de aula e as
discussões com os educandos, o objetivo pedagógico de se discutir valores
sociais e literários por meio da releitura do conto de fadas Chapeuzinho
Vermelho foi atingido.
Sabemos que o conto de fadas lido ou escutado é automaticamente
internalizado pelo leitor e, dessa forma, cumpre a sua função na construção da
capacidade crítica.
Desse modo, o projeto de implementação atingiu o objetivo de
sensibilizar o alunado com a articulação de temas recorrentes no cotidiano
escolar, pois permitiu mudanças de conceitos e comportamentos, uma vez que
os alunos assumiram nova postura em relação ao trato para com seus
professores, colegas de turma e equipe pedagógica.
8 REFLEXIVIDADE CRÍTICA
Iniciamos as atividades do GTR (Grupo de Trabalho em Rede) com a
temática “Compreender e debater de forma permanente com os estudantes o
conhecimento sobre as demais versões do conto de fadas Chapeuzinho
Vermelho“.
A proposta era de desenvolver no aluno o prazer pela leitura,
possibilitando o seu desenvolvimento de leitor competente, priorizando o uso
da literatura infanto-juvenil com o auxílio do conto de fadas e o que o educando
traz consigo em termos de conhecimento prévio para realizar o “processo como
prática sociocultural e sócioeducativa”, ou seja, a educação como prática social
que se desenvolve nas relações estabelecidas entre os grupos, seja na escola
ou em outras esferas da vida social. As discussões foram conduzidas no
sentido de se refletir sobre as releituras do conto Chapeuzinho Vermelho,
buscando conscientizar os professores em relação às diversas possibilidades
ofertadas por essa estratégia pedagógica.
O desafio era demonstrar que a releitura do conto de fadas não é
apenas um mero passatempo, mas sim objeto de grande valia na
aprendizagem dos alunos, pois aborda temas que englobam o cotidiano social
e escolar de cada um de nós. Assim o trabalho com conto de fadas alia a
fruição literária, que relativiza o ambiente formatado de aula à aprendizagem
significativa da língua portuguesa.
Os contos de fadas apresentam temáticas universais. Portanto, a
abordagem de suas releituras possibilita uma participação mais ativa dos
alunos e uma oportunidade de não somente trabalhar língua portuguesa, mas
principalmente avançar para além do senso comum.
No GTR (Grupo de Trabalho em Rede), os professores-alunos
reafirmaram a necessidade da leitura e releitura do conto de fadas como fator
relevante no processo de ensino aprendizagem, pois se trata de estratégia que
permite o fazer crítico, além de incentivar e despertar no educando o gosto pela
leitura, provocando melhoras comportamentais e sociais.
Para esses professores, a riqueza maior de um texto reside na sua
capacidade de evocar múltiplos sentidos entre os leitores. Além disso, mesmo
que um texto estabeleça limites aos processos de interpretação, quando ele
inicia a sua circulação em sociedade, não existe forma de prever que sentido(s)
ele terá. A leitura é muito importante para que nossos alunos se tornem
capazes de analisar e opinar diferentes tipos de textos e refletir sobre os
assuntos implícitos inseridos em vários tipos textuais.
Alguns professores posicionaram-se em relação ao desinteresse de
alguns educando argumentando: "As causas do desinteresse são muitas,
porém não podemos nos ater a elas, pois devemos procurar alternativas para
que nossos alunos tenham gosto pela leitura”. Muitas vezes, a causa do
desinteresse tem está na família, que não cultiva o interesse nas escrituras, ou
nos próprios mestres, que pedem para os seus alunos lerem, mas não leem
nada, a não ser a sua pobre didática, muitas vezes, ultrapassada e
desatualizada como há, infelizmente, em alguns espaços escolares.
Os professores afirmaram ainda ter lido o Projeto de Intervenção
Pedagógica, assim como o material didático. Apresentaram sugestões de
atividades. Fizeram observações críticas sobre a realidade escolar como, por
exemplo, terem conhecimento das dificuldades que o professor enfrenta no
ambiente de trabalho, como a falta de estrutura física, falta de material didático,
número excessivo de alunos na sala de aula, falta de envolvimento dos pais e
responsáveis dos alunos. Enfim, uma infinidade de situações que fazem o dia-
a-dia escolar uma tarefa árdua, porém ainda cabe à escola tomar um
posicionamento para resgatar os alunos quanto ao gosto pela leitura.
9 A EDUCAÇÃO, NOVAS METODOLOGIAS E A SUA RELEVÂNCIA NA
VISÃO DOS PROFESSORES ALUNOS
Acreditamos que a implementação do projeto permitiu repensar o uso de
novas metodologias pedagógicas, fundamentando a releitura de conto de fadas
como conceito de aprendizagem de cidadania e de direitos, assim como
desenvolver estratégias que propiciem aos discentes uma reflexão pautada na
literatura infanto-juvenil, como instrumento de cidadania. Além de geradora de
discussões para a formação de cidadãos mais críticos e seletivos é, sem
dúvida, de suma importância no processo de ensino aprendizagem, pois
enfatiza a necessidade de se trabalhar todas as habilidades da língua
portuguesa como a leitura, a releitura, a escrita, a reescrita, a interpretação,
entre outras.
Segundo relato dos professores do GTR 2014, o esclarecimento sobre a
releitura do conto de fadas foi de suma importância, pois a escola é um polo
gerador de futuros cidadãos críticos. De acordo com eles o projeto Conto de
fadas Chapeuzinho Vermelho e suas versões contempla a exploração de temas
muito interessantes.
A importância do conto de fadas no contexto escolar da escola
pública pode ser analisada no processo de ensino aprendizagem, de qualquer
disciplina tendo o professor no papel de mediador em sala de aula, procurando,
dessa forma, não tratar somente dos procedimentos, mas de outros elementos
diretamente a ele vinculados e necessários para a compreensão do tema. O
conto de fadas é importante material de leitura, comunicação e expressão
existente em nossa vida e por isso deve fazer parte do contexto educacional.
Trabalhar no cotidiano escolar o conto de fadas significa ampliar a variedade de
linguagens e permitir a descoberta de novos caminhos de aprendizagem. A
prática da leitura no ambiente escolar auxilia no processo de ensino
aprendizagem estimulando e despertando a área afetiva, linguística e cognitiva
da criança. Os benefícios que a literatura proporciona nessa fase, seja pela
expressão de emoções, fantasia, sociabilidades, seja pelo raciocínio crítico,
comunicação, são de grande valor para a vida (MOURÃO, SILVA, 2005, p. 65).
Em suma, trabalhar no cotidiano escolar a releitura de conto de fadas significa
ampliar a variedade de linguagens e permitir a descoberta de novos caminhos
de aprendizagem.
Todas as atividades sugeridas têm relevância com a realidade da escola
pública. Alguns professores mencionaram que “a produção de outro gênero, a
partir do conto de fadas, como está proposto na última atividade de sua
Unidade Didática, leva o aluno a repensar em suas produções textuais que um
texto pode transformar-se em vários outros gêneros textuais, como por
exemplo, a notícia”. Uma professora afirmou que “A partir da leitura da
Produção didático-pedagógica, abriu-se um leque de possibilidades para tornar
mais atrativos os momentos de leitura e produção sob a luz dos contos de
fadas. Os contos de fadas são textos que, por seu conteúdo mágico, fascinam
crianças e adultos ao longo dos tempos. Em geral são histórias de autoria
desconhecida, que fazem parte da cultura oral de um povo e que se
perpetuaram”. Outro professor afirmou que ”Trabalhar com os contos de fadas
é um meio muito rico para desenvolver outros conteúdos, não só relacionados
ao desenvolvimento do aluno-leitor, mas também de outras disciplinas”.
Segundo alguns relatos, o Caderno Pedagógico proporciona temas e
atividades interessantes para se trabalhar, pois oferece bons debates sobre os
temas abordados no conto de fadas. O Caderno Pedagógico sugere debates
diversos, atividades lúdicas e reflexivas todas voltadas para o desenvolvimento
prazeroso do processo de ensino aprendizagem.
Na avaliação do GTR 2014, o uso de leitura em sala de aula, nas aulas
de literatura, enfatizou a importância de se trabalhar questões sociais no
contexto escolar e que a sua prática, no âmbito escolar, auxilia no processo de
ensino e aprendizagem.
10 SUGESTÕES DE ATIVIDADES PROFESSORES-ALUNOS
As possibilidades de trabalhar com a literatura infanto-juvenil e temática
social são inúmeras e, durante o GTR, surgiram as seguintes propostas a partir
do debate do Projeto de Intervenção Pedagógica:
CONTO DE FADAS NOVAS SUGESTÕES DE USO
A reescrita do conto
Chapeuzinho Vermelho
1. Fazer diagnóstico inicial pedindo que os
alunos reescrevam o conto Chapeuzinho
Vermelho individualmente. O objetivo é
observar como produzem textos.
2. Confeccionar desenhos que ilustrem as
partes do conto.
3. Distribuir conto impresso (o boneco)
Chapeuzinho Vermelho a todos da escola
para que leiam.
4. Passar os vídeos Chapeuzinho Amarelo e
Fita Verde no cabelo.(Para que tenham mais
informações sobre outros autores)
5. Pedir para que contem as versões que
conheceram.
6. Ao final de cada leitura, rever e comparar
as características das histórias e dos
personagens. Incentivar os alunos a
fazerem suas colocações, deixar que
explorem os livros e apreciem as
ilustrações. E aproveitar oportunidades de
trabalhar aspectos relacionados ao
vocabulário. É possível sugerir, por
exemplo, a confecção de um cartaz com as
palavras e expressões recém-descobertas -
ele pode ser bastante útil, mais adiante, na
etapa de produção de textos.
7. Produto final
Livro produzido coletivamente, a partir de
uma versão de Chapeuzinho Vermelho. Se
houver condições materiais para a cópia de
exemplares, é possível organizar uma tarde
de lançamento e autógrafos na escola.
Diálogo entre textos: paródias
da história de Chapeuzinho
Vermelho
1. Fazer uma paródia do conto Chapeuzinho
Vermelho, criando o efeito de humor.
Chapeuzinho Vermelho de
Raiva – Mario Prata
1. Recuperar as histórias da primeira
infância.
2. Debater as diferenças da versão atual do
conto Chapeuzinho Vermelho e a versão
Chapeuzinho Vermelho de Raiva.
3. Instruir os alunos sobre os malefícios das
comidas Fast Foods.
4. Explorar a linguagem e a escrita.
5. Produzir textos narrativos e descritivos.
6. Informar os benefícios e malefícios da
industrialização.
7. AVALIAÇÃO:
Os alunos serão avaliados no desempenho
das habilidades e competências utilizadas
nas atividades orais e escritas.
11 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A compreensão da importância de se ensinar língua portuguesa
abordando temas como direitos, violência, diversidades, por meio da literatura
infanto-juvenil é de suma importância, pois proporciona o surgimento de
debates sobre problemas atuais em nosso cotidiano.
Compreendemos que o ensino de língua portuguesa, quando realizado
de forma crítica, socializa o educando e torna o aprendizado da língua mais
atrativo.
Trabalhar literatura infanto-juvenil, com a releitura do conto de fadas
Chapeuzinho Vermelho, foi uma experiência válida, uma vez que os educandos
apreciaram as aulas, não houve indisciplinas e foram levantadas várias
questões que contribuíram para o desenvolvimento educacional do aluno.
O ensino aprendizagem, no tocante à literatura infanto-juvenil,
despertou, propiciou e desenvolveu nos educandos capacidades de linguagem
e reflexão do seu lugar em um mundo repleto de injustiças e contradições, as
quais podem ser amenizadas à medida que somos conscientizados a
exercermos nossos direitos de cidadão e, principalmente, de respeitarmos o
modo de ser e os direitos dos outros.
A importância da literatura infanto-juvenil nas séries iniciais do Ensino
Fundamental II deve ser compreendida como o aprimoramento intelectual,
quando ensinado de forma lúdica, reflexiva e significativa, pois, com base na
necessidade pedagógica de se ensinar de forma atrativa, a correlação da
literatura e a aprendizagem nos revela que pedagogicamente o ensino
aprendizagem por meio do conto de fadas não é algo inovador, porém o conto
de fadas, a linguagem e o debate são ingredientes fundamentais para
formarmos sujeitos críticos sócio e politicamente falando, pois compreendemos
que o ensino de língua portuguesa, quando realizado de forma crítica, socializa
o educando e torna o aprendizado da língua mais atrativo.
Nesse processo de pesquisa constam como fontes imprescindíveis as
Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental que fundamentam a
educação em Língua Portuguesa como sendo fruto da universalização da
dignidade humana, além de norteadores do ensino língua portuguesa no Brasil.
Por fim, ensinar Língua Portuguesa através do conto de fadas é algo que
leva o educando a refletir sobre seus direitos, deveres sociais e políticos na
sociedade em que está inserido, além de promover o ensino aprendizado da
língua portuguesa de forma atrativa e critica.
REFERÊNCIAS
BETTLHEIM, Bruno. A Psicanálise Dos Contos De Fadas. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 2004.
GERALDI, João Wanderley. O texto na sala de aula. 5 ed. São Paulo: Editora
Ática,1990.
MOURÃO, Marisa Pinheiro e SILVA, Lázara Cristina, A prática musical na
Educação Infantil enquanto meio de aprendizado e expressão: algumas
reflexões. Ensino em Re-Vista, 13(1): 57-66, jul.04/jul.05.
PARANÁ. Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Língua
Portuguesa. Curitiba, Secretaria da Educação do Paraná – Departamento de
Educação Básica, 2008.
http://www.pucrs.br/edipucrs/CILLIJ/praticas/um_guia_para_professores_de_
literatura_infantil_OK.pdf. Acesso em 29/11/2015.