29
Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Page 2: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NA FORMAÇÃO DO GRÊMIO ESTUDANTIL COMO MEDIADOR DO PROCESSO DEMOCRÁTICO E REVENDO A HISTÓRIA

DO MOVIMENTO ESTUDANTIL BRASILEIRO

Autor: Taíza Lira Ferrari1 Orientador: Alexandre Felipe Fiuza2

Resumo:

Este artigo tem como objetivo apresentar uma reflexão sobre os resultados do

trabalho realizado durante o Projeto de Intervenção e de Implementação Pedagógica

do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE/PR), turma 2013/2014, tendo

como tema: “A Atuação do Pedagogo na Formação do Grêmio Estudantil como

mediador do processo democrático” e “Revendo a história do Movimento Estudantil

Brasileiro”. Propõe-se neste artigo reconhecer a importância da permanência e da

efetiva atuação do Grêmio Estudantil na escola pública, compreendendo-o como

uma das Instâncias Colegiadas. Para tal, são apresentados recortes históricos sobre

o Movimento Estudantil (ME) para entender a atuação dos estudantes na história do

País, a legislação que estabeleceu a criação e organização dos Grêmios Livres, bem

como uma reflexão acerca do trabalho do pedagogo como articulador desse

processo na Gestão Democrática. O trabalho foi realizado com alunos dos 9ºs anos

do Ensino Fundamental das séries finais e com alunos do Ensino Médio do Colégio

Estadual Monteiro Lobato – EFM do Município de Céu Azul, Estado do PR.

Palavras-chave: Estudantes, Movimento, Grêmio, Agente de Transformação,

Democracia.

1 Especialização na área da Educação, Pedagoga do Colégio Estadual Monteiro Lobato – EFM e-mail: [email protected] 2 Pós-Doutor em História Contemporânea pela Universidade Autônoma de Madri – Espanha e docente do Curso de Pedagogia e do Mestrado em Educação da Unioeste/ Campus de Cascavel.

Page 3: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

1. INTRODUÇÃO

O tema proposto neste artigo é o resultado dos estudos que foram propostos

no Projeto de Intervenção e de Implementação Pedagógica. Decorre da observância

das dificuldades dos alunos na organização e continuidade das ações do Grêmio

Estudantil no Colégio, tais como: conhecer a origem e a trajetória histórica do ME (e

sua importância enquanto representação oficial do corpo discente), entender e

conhecer a legislação dos Grêmios Livres que dá sustentação para a formação e

atuação dos mesmos na escola, interpretar o estatuto e o que este define sobre as

responsabilidades da Diretoria acerca dos direitos e deveres dos alunos enquanto

integrantes do Grêmio Estudantil (GE). A temática apresenta também, a

responsabilidade do pedagogo como mediador das ações educativas para

instrumentalizar os sujeitos para o exercício da cidadania, resgatando o

envolvimento dos alunos para fortalecer sua participação nas demais Instâncias

Colegiadas.

O artigo propôs-se inicialmente a fazer uma reflexão teórico-metodológica que

foi discutida e realizada em oito encontros, com metodologia diversificada como

apresentação de textos, slides, vídeos, músicas, documentários e seminários que, “é

uma técnica de aprendizagem que inclui pesquisa, discussão e debate” (LAKATOS,

2003), acerca do ME e a sistematização das atividades desenvolvidas. Como aporte

metodológico, o Projeto se valeu, além de textos, fotografias e vídeos, também de

canções, uma vez que se encontra no repertório da música popular brasileira,

inúmeras canções que estimulam o pensamento, a crítica e a reflexão histórica,

como afirma Fiuza:

A música tem sido objeto de estudos das mais diferentes disciplinas das ciências humanas. Tem sido objeto de atenção por sua importância na história da cultura brasileira. É possível por intermédio das canções, discutir a estética, a representação, ideologia e a historicidade presentes nestes textos musicais. (2002, p.40).

Quando se trata de resgate histórico precisamos compreender que as

transformações ocorrem a partir da participação dos sujeitos. Nesse sentido, a

contextualização da trajetória dos estudantes no passado serviu de fundamentação

para despertar a consciência histórica, ou seja, abrir um espaço para construir uma

política de participação democrática para além dos muros escolares, entendendo

que o GE se justifica pela sua representatividade e pelo respaldo legal, podendo

atuar significativamente na transformação do meio.

2. A ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NA FORMAÇÃO DO GRÊMIO ESTUDANTIL

COMO MEDIADOR DO PRECESSO DEMOCRÁTICO

Ao definir as atribuições do pedagogo como mediador do processo

democrático, vemos que suas ações estão preconizadas na legislação, onde se

estabelece suas atribuições e se explicita que é de responsabilidade do mesmo a

implementação da Gestão Democrática na Escola Pública, por isso o estudo acerca

Page 4: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

do ME torna-se relevante. A ação do pedagogo é imprescindível no apoio ao

trabalho dos professores e no aprimoramento das ações desenvolvidas na escola e

em sala de aula. Assim, como assevera Carlos Libâneo,

[...] é o profissional que atua em várias instâncias da prática educativa, direta ou indiretamente ligadas à organização e aos processos de transmissão e assimilação ativa dos saberes e modos de ação, tendo em vista, objetivos de formação humana difundidos em sua contextualização histórica. (2001, p.44.).

O Grêmio Estudantil, como Instância Colegiada, tem por princípio a

democratização, sendo sua representatividade de fundamental importância para o

fortalecimento das relações entre os demais segmentos da escola. O resgate do

movimento estudantil contribui para a atuação do pedagogo, em seu papel de

mediador e articulador do processo democrático e na formação de cidadãos críticos

e participativos, valorizando os alunos e reconhecendo que estes são sujeitos

capazes de promover a transformação no meio em que vivem.

Para a atuação do Grêmio Estudantil na escola são fundamentais ações

mediadoras do pedagogo como profissional da educação, pois, este detém o

conhecimento desse processo implementando metodologias, promovendo debates,

atividades culturais e estudos que possibilitem ao aluno sua inserção na escola e na

sociedade, como sujeito ativo de mudanças, efetivando sua intervenção qualitativa.

Neste processo, há que se ter como parâmetro a dialogicidade como forma de

superação dos entraves existentes na escola, entendendo que esse é um espaço

privilegiado de aprendizagem dos conhecimentos cientificamente elaborados e

acumulados pela humanidade. Para fazer frente e dirimir os empecilhos

encontrados para a organização e atuação do GE se evidencia a atuação do

pedagogo, destacando-se seu compromisso em redimensionar e orientar as ações

que levarão ao acesso e participação de todos nessa instância.

3. A ORGANIZAÇÃO DOS ESTUDANTES E SUA TRAJETÓRIA POLÍTICA

A trajetória histórica do ME brasileiro iniciou com estudantes que retornavam

da Europa, filhos das classes abastadas do período colonial, enviados por seus

tutores e pais com o objetivo de terem acesso às letras e à educação europeia.

Durante o período acadêmico receberam influências dos modelos socioeconômicos

do velho continente, o que gerou em alguns destes, indignação e revolta no retorno

ao Brasil ao se depararem com outra realidade social.

Para Poerner (1979), a primeira manifestação estudantil da história brasileira

ocorreu no ano de 1710, quando os franceses invadiram o Rio de Janeiro e foram

encurralados pelos estudantes de conventos e colégios religiosos. Em 1786, José

Joaquim Maia fundou no exterior um clube secreto em prol da independência do

Brasil, tendo como um de seus membros Domingos Vidal de Barbosa que chegou a

participar de Inconfidência Mineira.

Page 5: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

Deve-se ainda aos estudantes a criação da Faculdade de Direito do Largo de

São Francisco, criada em 1827, sendo a primeira faculdade brasileira que integrou

as campanhas pela Abolição da Escravatura e pela Proclamação da República.

Destacando o relato histórico Poerner complementa:

Ademais, ainda que nem sempre seja registrada no plano físico, é notória a participação estudantil no plano ideológico dos movimentos revolucionários brasileiros anteriores à independência. Os estudantes é que trouxeram da Europa as ideias revolucionárias de Voltaire, Rousseau e Montesquieu, e a eles coube - segui-las, através de suas sociedades e clubes secretos. Foram eles que serviram de veículo quase exclusivo para a introdução no Brasil, daqueles ideais, até que se concretizasse, em 1827, o sonho inconfidente da fundação de uma Universidade no País. (1979, p.60).

Com a criação das primeiras faculdades brasileiras os estudantes engajaram-

se na campanha pela Abolição da Escravatura, na Revolução Farroupilha no Rio

Grande do Sul e na Sabinada na Bahia (POERNER, 1979).

Os jovens, empolgados com a campanha abolicionista, criaram associações

em prol da libertação dos escravos, e assim a Lei Áurea foi antecipada em quatro

anos, sendo o Ceará a primeira Província a libertar os negros. Nesse período,

Castro Alves produziu os poemas Navio Negreiro e Vozes d’África. É oportuno

destacar que, com:

[...] a Campanha Abolicionista se produziu talvez a primeira greve de

natureza política que a nossa História registra e quiçá a única greve

política justa: a greve dos jangadeiros do Porto de Fortaleza [...]

pretenderam os senhores de escravos salvar prejuízos [...]

exportando os seus escravos para vendê-los no Sul, especialmente

em São Paulo, onde alcançavam altos preços [...] a recusa dos

jangadeiros em transportar os pobres pretos [...] não puderam efetuar

as pretendidas exportações [...] fica eles homens livres na bendita

Terra da Luz! (POERNER, 1979, p. 12).

Considerando a grande influência dos estudantes na política brasileira, após a

Proclamação da República houve um declínio na participação da juventude militar,

gerada pelo desconhecimento da situação econômica do Brasil, dos empréstimos

feitos no exterior, surgindo o subdesenvolvimento constatado após muitas décadas.

Segundo Poerner (1979), a eleição do primeiro presidente civil, Prudente de Morais,

em 1895, também contribuiu para essa queda, quando os jovens militares perderam

o apoio presidencial. Em 1897, os estudantes de Direito da Bahia elaboraram um

documento dirigido à nação sobre os traumas da rebelião de Canudos na Bahia.

Nesse período, com apoio significativo dos estudantes, o candidato à Presidência,

Rui Barbosa, apoiado por São Paulo e Bahia, percorreu o país em busca de votos,

com a Campanha Civilista tendo apoio dos estudantes. Porém, o vencedor foi seu

opositor, o militar Marechal Hermes da Fonseca apoiado por Minas Gerais e Rio

Grande do Sul. Foi graças à Campanha Civilista que o movimento estudantil, apesar

de desorganizado, retomou o cenário de manifestações. Em 22 de novembro, uma

Page 6: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

semana após a posse de Hermes da Fonseca, a Revolta da Chibata no Rio de

Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes

da Fonseca pusera o Exército em cena nesse período histórico.

O poeta Olavo Bilac, que fora responsável pelo fortalecimento do Exército

Brasileiro e pela implantação do serviço militar obrigatório, fundou em 1917 a Liga

Nacionalista, onde muitos estudantes fizeram parte em virtude da eminência da l

Grande Guerra, que despertou nos jovens brasileiros um exacerbado espírito de

nacionalismo e civismo e o receio da vitória alemã. A Liga Nacionalista

desempenhou também papel importante no campo da educação criando cursos

noturnos de alfabetização para jovens proletários. Durante o governo Washington

Luís “[...] foi o silêncio total da juventude [...] talvez por isso, na campanha da

sucessão presidencial os estudantes penderam para o lado do oposicionista Getúlio

Vargas”. (POERNER, 1979, p.106).

4. UNE-UNIÃO NACIONAL DOS ESTUDANTES: UMA TRAJETÓRIA DA

PARTICIPAÇÃO POLÍTICA ESTUDANTIL

A organização do ME brasileiro se evidencia a partir da criação da UNE em

1937. Antes, os estudantes participaram ativamente na história política do país,

inclusive no movimento pela Independência do Brasil. Cabe ressaltar que o

movimento não foi específico do Brasil, mas atingiu todo o continente latino-

americano:

Suas raízes mais tenras podem ser identificadas na Carta de Córdoba (Argentina) de 21 de junho de 1918, impelindo a reforma universitária e a formação de federações nacionais de estudantes ou uniões entre 1920 e 1930 em quase toda a América Latina – Chile, Paraguai, Uruguai, Bolívia, Venezuela, México, estendendo-se mais tarde a Cuba. (PORTANEIRO, 1978 apud FÁVERO, 1995, p. 11).

Para descrever a fundação e a instalação da UNE e para desvelar esse

período histórico, buscamos na obra de Poerner (1979), que recompõe a história do

ME desde o Brasil Colônia, e na obra de Fávero (1995), que registra fatos históricos

referentes à participação dos estudantes nas questões políticas, educacionais,

econômicas e sociais do País. A UNE representa o marco da participação do ME

brasileiro ao longo da nossa história, pois: “[...] as organizações universitárias

anteriores, [...] eram transitórias, visavam apenas problemas específicos, com curta

duração, por isso não havia prosseguimento, [...] nasciam e morriam. Outro fator era

a [...] regionalidade, favorecida pelos isolamentos entre os Estados.” (POERNER,

1979, p. 127-128).

A organização dos estudantes se resumia ao interior das faculdades ou nos

espaços daquelas que dispunham de sede, como os centros acadêmicos, grêmios

estudantis ou associações de caráter literário ou artístico, o que se traduzia em

ações ocasionais e dispersas. Dentre todas as tentativas de organização do ME, em

1910 destaca-se a realização em São Paulo do l Congresso Nacional dos

Page 7: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

Estudantes, mas este não trouxe resultados ao movimento, a não ser grandes

debates filosóficos. Impressionados com a organização do movimento estudantil

argentino, os acadêmicos da Faculdade Nacional de Direito, reuniram esforços em

fazê-lo aqui também, através da realização do l Congresso da Juventude Operária

Estudantil, movimento iniciado pelos estudantes de Direito do Rio de Janeiro, no

segundo semestre de 1934, com a ideia de receber adesão de alunos de outras

faculdades e apoio de organizações operárias. Cabe ressaltar o importante papel da

Juventude Comunista na organização do Congresso, pois formaram uma frente

única antifascista, sendo esse grupo vencedor das eleições de 1932, para o diretório

da Faculdade que contava com mais de mil alunos que demonstravam desinteresse

pela política, assim mesmo obtiveram 70 votos, sendo sua bandeira política, a luta

antifascista, pois era um período de ascensão do nazismo.

Do l Congresso da Juventude surgiu a Aliança Nacional Libertadora,

evidenciando-se a necessidade de criar um instrumento que agregasse os

estudantes para contribuir na modificação da realidade nacional. Sobre a

organização do l Conselho Nacional de estudantes nos dias 11,12 e 13 de agosto de

1937, Fávero descreve:

A instalação do I Conselho realiza-se na Casa do Estudante do Brasil, dirigida pela presidente vitalícia e fundadora daquela casa, Ana Amélia Queiroz Carneiro de Mendonça, contando com representantes de São Paulo, Ceará, Bahia, Paraná, Rio de Janeiro, Pernambuco e Minas Gerais. Nessa reunião, logo de saída, é aprovada uma proposta de representante do Diretório Central dos Estudantes de Minas, proibindo expressamente a discussão de temas políticos no Conselho. No dia seguinte, dos assuntos levantados no plenário, o principal é a aprovação dos estatutos do novo órgão estudantil. (1994, p.17).

Precedendo a UNE, temos a Frente Democrática da Mocidade, que foi extinta

no Estado Novo. O reconhecimento oficial e formal da UNE se deu no ll Congresso

Nacional dos Estudantes, em 1938, com um caráter militante e discutindo o cenário

da educação brasileira:

Ao encerrar o II Congresso Nacional além de a Diretoria eleita assumir a entidade, foi deliberado também o Plano de Reforma Educacional, que apresentava, na ocasião, cinco blocos de sugestões: 1º.) solução para o problema educacional; 2º.) solução para o problema econômico do estudante; 3º.) reforma dos objetivos gerais do sistema educacional brasileiro, no sentido da unidade e da continuidade; 4º.) reforma universitária; 5º.) organização extra escolares. (FÁVERO, 1994, p. 9).

A luta da UNE se deu em prol da Educação e pela liberdade de pensamento,

contrariando o controle do Estado. Preconizava a autonomia e o poder na

Universidade, sendo pauta das principais discussões acadêmicas a eleição de

reitores e diretores pelos professores e alunos. O movimento extrapolou o campo

Page 8: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

da educação, pois atuou no campo das reivindicações trabalhistas contra forças

nazifascistas, havendo confrontos com a polícia onde morreu o estudante Demócrito

de Souza Filho. A partir desse fato a posição da UNE em relação ao Estado Novo foi

de enfrentamento e discórdia. O ME a partir da década de 1950, foi marcado por

forte repressão policial contra o movimento dos estudantes, que tiveram ampla

participação na campanha “O Petróleo é Nosso”. Logo,

A União Nacional dos Estudantes (UNE), engajada na campanha “o petróleo é nosso”, em 1947, já atuava no cenário político como defensora do nacionalismo. Nos anos 50, essa premissa fora reforçada na entidade e incentivada pela ideologia forjada no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). Na década de 60, a UNE retomaria as discussões em torno da luta anti-imperialista, embora entre as teorias que informassem os debates travados no interior da entidade tomassem impulso as de cunho marxista-leninista (PELEGRINI, 1997, p. 29).

O ME brasileiro pautou-se nesse período por uma teoria e prática baseada no

nacionalismo e no desenvolvimento, muitas vezes se valendo de movimentos

revolucionários e encampando lutas pelas reformas sociais. Afinal:

[...] a campanha do petróleo arregimentou todas as camadas urbanas, do operariado à burguesia, e foi, talvez, o único movimento do qual participou intensamente e de forma ampla e espontânea o povo brasileiro. E Getúlio Vargas era na época, o próprio símbolo do nacionalismo. Em 1953, dois anos depois de sua posse, a Petrobrás tornou-se lei e o Estado passou desde então, a ter o monopólio da pesquisa e exploração do petróleo brasileira. (ROMANELLI, 1991, p. 52).

No XII Congresso da UNE houve uma divisão do movimento, tendo como

candidatos militantes de direita, representando a organização fascista, e de

esquerda, os socialistas. Neste período, os estudantes estiveram presentes na luta

pela reforma universitária e social. A repressão do governo ao ME na ditadura do

Estado Novo (1937-45), não desarticulou as manifestações contrárias às regras

impostas pelo governo.

Contudo, a repressão não se restringiu ao Estado Novo, afinal, a história do

Brasil foi marcada por uma segunda ditadura, quando do movimento golpista de

1964, que destituiu João Goulart do poder, sendo substituído pelos militares. Este

período significou um período de repressão ao ME que se opôs ao governo instituído,

tão severo e ameaçador e legitimado pelo Ato Institucional nº 5:

A existência de atos tidos pelos militares como subversivos e oriundos dos mais distintos setores políticos e culturais, bem como a existência de guerra revolucionária foram utilizados pelos militares como pretexto para o aumento da repressão política. Por exemplo, por intermédio do AI-5 estabeleceu-se que o presidente da República poderia decretar por Ato Complementar, o recesso do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas e das Câmaras dos Vereadores, em estado de sítio ou fora dele, só voltando os mesmos

Page 9: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

a funcionarem quando convocados pelo próprio presidente da República; o presidente da República poderia, ainda, decretar a intervenção nos estados e municípios, sem as limitações previstas na Constituição; poderia suspender também sem as limitações previstas na Constituição, os direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo prazo de 10 anos e cassar mandatos eletivos federais, estaduais e municipais. Os cidadãos que tivessem os direitos políticos suspensos, simultaneamente teriam: cassação de privilégio de foro por prerrogativa de função; suspensão do direito de votar e de ser votado nas eleições sindicais; proibição de atividade ou manifestação sobre assunto de natureza política e aplicação, quando necessário, das seguintes medidas de segurança: liberdade vigiada, proibição de frequentar determinados lugares e domicílio determinado. Ficaram suspensas as garantias constitucionais ou legais de: vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidade, bem como a de exercício em funções por prazo certo. Não mais existiria a garantia de habeas corpus, nos casos de crimes políticos contra a segurança nacional, a ordem econômica, social e a economia popular. Todos os atos praticados de acordo com o Ato Institucional nº 5 ficavam excluídos de qualquer apreciação judicial. (SANFELICE, 1986, p. 152).

No governo de Castelo Branco foram criados instrumentos legais para

controlar o ME, quando em 09 de novembro de 1964 o Congresso Nacional aprovou

a Lei nº 4.464, que “dispões sobre os órgãos de Representação dos Estudantes e dá

outras providências”. Publicada no Diário Oficial de 11/11/1964, conhecida como Lei

Suplicy e de autoria do Ministro da Educação Flávio Suplicy de Lacerda, censurando

e reprimindo as ideias dos estudantes deixando-os encurralados e vulneráveis:

A Lei Suplicy de Lacerda visou especialmente, a extinção do Movimento Estudantil brasileiro. Para acabar com a participação política dos estudantes, a Lei procurou destruir a autonomia e a representatividade do movimento, deformando as entidades estudantis em todos os escalões, ao transformá-las em meros apêndices do Ministério da Educação, dele dependentes em verbas e orientação. (POERNER, 1979, p. 231).

A Lei Suplicy pelo seu artigo 22 extinguiu legalmente a UNE, revogando o

Decreto-lei nº 4.105 de 11 de fevereiro de 1942, que reconhecia a UNE como

entidade representativa dos discentes dos estabelecimentos de ensino superior de

todo o País. A repressão aos estudantes foi arbitrária, autoritária e sangrenta que

resultou no assassinato do seu último presidente Honestino Guimarães, em 1973,

cujo corpo jamais foi encontrado. Durante nove anos a UNE foi considerada

subversiva e atuava na clandestinidade, mas apesar disso colaborou na realização

do XXVII Congresso Nacional de Estudantes, sendo o primeiro após o golpe militar,

tendo como tema o boicote à Lei Suplicy de Lacerda.

Em 1966, houve um grande protesto contra o acordo firmado pelo MEC

(Ministério da Educação e Cultura) e USAID (United States Agency For International

Devolopment) que visava a implantação da reforma universitária, seguindo os

relatórios de Anteprojetos de concentração da política norte-americana na América

Latina na reorganização universitária e sua integração econômica feitos pelo norte-

americano Professor Rudolph Atcon, em 1958. Esse relatório visava desenvolver

Page 10: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

uma filosofia educacional para o continente latino-americano, onde a eliminação da

interferência estudantil na administração tanto colegiada quanto gremial, era

considerada essencial e obrigatória. Importante lembrar que o acordo MEC-USAID

havia sido feito em sigilo, em detrimento do próprio Conselho Federal de Educação,

que ao tomar conhecimento do documento concordou com os termos

desnacionalizando dessa forma a educação brasileira, assim:

Uma das intenções implícitas no acordo MEC-USAID, era facilitar a invasão dos Estados Unidos no Brasil e garantir dessa forma sua dominação cultural, haja vista o sigilo e descrição com que foram feitas as negociações desse acordo e também dos 20 acordos, 15 abrangiam a esfera didático educacional, o que promovia mudanças na administração das universidades ferindo sua autonomia. Coube aos americanos definir aos brasileiros “tipos de currículos, métodos didáticos, programas de pesquisa e serviços de orientação e informação de estudantes, que permitam o máximo de eficiência da obtenção das categorias desejadas de elementos de formação universitária”. (POERNER, 1979, p. 246).

Muitos estudantes empreenderam forças na luta contra a repressão, porém

foram considerados pelo governo ditatorial como subversivos sendo cassados,

mortos ou exilados em outros países.

5. UBES: UNIÃO BRASILEIRA DOS ESTUDANTES SECUNDARISTAS

Os estudantes secundaristas também atuaram nas campanhas em favor das

lutas sociais e pela educação de qualidade. O I Congresso dos Estudantes

Secundaristas Brasileiros foi realizado em 1948, na Casa do Estudante, um espaço

cedido pela UNE. Sua organização data dos anos 1930, mas como não tinham

entidade própria seus encontros eram realizados com os universitários e a troca de

experiências foi a base da organização desta entidade. Nesse congresso, instituíram

a fundação da UBES, quando aprovaram o estatuto e elegeram a primeira diretoria,

inspirados pela UNE, a denominaram UNES (União Nacional dos Estudantes).

Como resultado desse congresso foi estabelecido no estatuto oito finalidades:

1) manter a unidade estudantil em torno de problemas; 2) desenvolver relações amistosas entre as unidades estudantis membros de sua organização. 3) cooperar com atividades representativas dos estudantes universitários e também de todas as organizações juvenis nacionais ou internacionais.4) dispensar [...] assistência cultural, médica, jurídica, econômica e desportiva aos estudantes de todo o Brasil. 5) trabalhar pela solução dos problemas educacionais, econômicos, sociais culturais e humanitários de estudante e do povo em geral. 6) bater-se, especialmente, em favor da elevação do nível do ensino secundário. 7) pugnar pela democracia e pelas liberdades fundamentais sem distinção de raça, sexo, posição social, credo político e religioso. 8) promover e estimular as relações entre as organizações de jovens e

Page 11: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

particularmente os estudantes de todo o mundo. (CINTRA, MARQUES, 2009, p .43).

Os secundaristas eram liderados por grêmios livres, além das uniões

municipais e estaduais e com a criação da UBES unificaram suas bandeiras de luta

fortalecendo-se como entidade. A mobilização mais exitosa foi a volta de Getúlio

Vargas em 1951, com ideias nacionalistas. Neste momento, o movimento

posicionou-se em defesa da campanha “O Petróleo é Nosso” pois uma:“[...] empresa

como a Petrobrás não seria jamais obra do governo entreguista de Eurico Gaspar

Dutra (1946-1951), de incomum subserviência aos Estados Unidos”.(CINTRA,

MARQUES, 2009, p. 49).

No 2º Congresso dos Estudantes Secundaristas, em 1949, com objetivo de

eleger a nova diretoria optaram pela mudança de nome da entidade, de UNES para

UBES, pois usavam o mesmo endereço o que causava alguns transtornos.

No 3º Congresso Nacional Secundarista em julho de 1950, ano histórico pela

realização da Copa do Mundo no Brasil, eleições presidenciais e a inauguração da

TV Tupi, Lúcio de Abreu foi lançado candidato à presidência da UBES. Para evitar

divisões na entidade causando divergências sobre a candidatura de Sodré foi

lançada chapa única sendo eleito presidente Lúcio de Abreu, marcando a

independência secundarista.

Fortes lideranças políticas valorizavam a UBES, porém os estudantes

progressistas lideravam e tinham maior projeção. No período de 1950 e 1956

existiam forças reacionárias tanto na UNE como na UBES, que, articuladas,

tencionavam afastar os comunistas da estrutura do movimento. Haviam outras

estruturas organizadas no movimento, porém a UJC (União da Juventude Comunista)

garantia a preponderância deste grupo na esfera nacional.

A divisão da UBES ocorreu após o 4º Congresso, em 25 de junho de 1951,

onde setores da direita liderados por Paulo Barbalho entraram em confronto com os

integrantes da UJC (União da Juventude Comunista). Paulo Barbalho e seus

seguidores abandonaram o Congresso e a eleição foi feita com chapa única,

elegendo Tibério César Gadelho. Os estudantes que abandonaram o Congresso,

ligados à UDN (União Democrática Nacional) forjaram a documentação registrando

em cartório Paulo Barbalho como presidente, representando setores da direita. O

golpe foi constatado quando a chapa vencedora chegou ao cartório para fazer o

registro, mas já constava o registro da chapa golpista. A partir desse momento o

movimento secundarista foi dividido e os estudantes secundaristas passaram a ter

duas entidades, sendo uma liderada por tendência de esquerda e o PCB (Partido

Comunista do Brasil) com o presidente legítimo Tibério César Gadelha e os golpistas

que travavam uma batalha judicial exigindo que cada entidade estadual

posicionasse em qual diretoria iria apoiar. A resposta foi rápida, em 19 de julho de

1951, legitimou-se a diretoria de Tibério César Gadelho.

O retorno de Getúlio Vargas à Presidência da República (1951), mudando a

história do Brasil, contribuiu para as reformas educacionais e políticas em curso:

Page 12: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

A mudança marcante ocorreu em julho de 1953 o ministro da Educação, Ernesto Simões Filho, foi substituído pelo deputado Antônio Balbino- ambos do Partido Democrático (PSD) que compunha a base aliada do governo. Poucos dias depois o Ministério da Educação e Saúde foi desmembrado em duas pastas dando origem ao Ministério da Educação e Cultura (MEC) e ao Ministério da Saúde. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 60).

O 6º congresso Nacional ocorreu em 1953 ocasionando mudanças no

estatuto da UNES para ampliar a participação dos estudantes. Foi eleito o

presidente Dynaes como representante de entidades municipais e como vice,

Gianfrancesco Guarnieri, posterior destaque na dramaturgia brasileira. Nesse

período, o governo Vargas estava politicamente enfraquecido, e as relações com os

estudantes se dava através do Ministro da Educação, Antonio Balbino de Carvalho,

que recebia os estudantes para discutir as reformas educacionais, quando o ensino

era assim constituído:

o ginasial que preparava para o colegial e o colegial que preparava para a universidade, pura e simplesmente. Uma das nossas batalhas foi o reconhecimento da Escola Normal, que formava professoras primárias, como curso secundário que não era reconhecido como tal. As escolas técnicas também não eram reconhecidas como tal. Então queríamos uma reforma de ensino, que abrangesse o conjunto e não ficasse só no ginásio, clássico e científico. (CINTRA, MARQUES, 2009, p.66 - 67).

A luta dos estudantes em prol do ensino de qualidade teve adesão de outros

segmentos sociais, o que os aproximou do movimento universitário, pois os alunos

ao chegarem na universidade percebiam que os estudos do colegial e científico não

tinham relação com a universidade.

No 7º Congresso em Salvador, um mês antes de suicídio de Getúlio Vargas,

Dynaes foi eleito para presidir a UNES, e no Rio de Janeiro foi eleito pelos golpistas

o gaúcho Carlos Salzano Vieira Cunha como presidente da UBES onde se

visualizou claramente disputa entre UNES e UBES.

Em 1956, no 8º Congresso Nacional dos Estudantes Secundaristas, foi

aclamado o nome de Helga Hoffman para presidir a UNES, sendo a primeira mulher

a dirigir a entidade, sobre o qual ela afirma: “A minha eleição foi uma coisa

organizada de alguma forma, e eu não sei exatamente os detalhes, pelo Partido

Comunista. Eu tinha 17 anos”. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 71).

A unificação das entidades UBES e UNES deu-se com a breve gestão de

Helga e com a saída de Carlos Salzano da presidência da UBES, substituído por

José Luís Clerote. Nesse período, houve reunificação entre os estudantes, que

divididos perdiam forças. Sobre a decisão de unificar as entidades:

Em 24 de julho de 1956, o 9º Congresso Nacional dos Estudantes Secundaristas - também chamado Congresso da Unificação, acabou com a divisão do movimento [...] presença de delegações de entidades de todo o país [...] ocorreu no Instituto Parobé, em Porto Alegre (RS) [...] concordaram que o nome UBES prevaleceria [...]

Page 13: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

José Luis Clerot para presidir [...] o primeiro mandato pós-unificação. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 77).

Envolvidos com movimentos sociais, os estudantes saíram às ruas e a

adesão foi adensada por trabalhadores, intelectuais e escritores, o que marca um

período de intensa representatividade. Entretanto, o movimento estudantil e os

sindicatos fortalecidos não impediram os ataques direitistas e em 1964 os

estudantes foram reprimidos pelo golpe militar.

A história dos estudantes foi marcada por muitas vitórias e derrotas, mas

nada foi pior que o Golpe de 1964, pois as entidades estudantis estavam desde o

princípio na “lista de morte” do regime militar (1964-1985). Com a destituição do

governo reformista de João Goulart e o golpe de 1º de abril de 1964:

Os militares intensificaram a perseguição às forças progressistas e democráticas. Conforme assinala Artur José Poerner, em O Poder Jovem: os estudantes “passaram, automaticamente, à condição de elementos de alta periculosidade para a segurança nacional, aos olhares ‘eternamente vigilantes’ das novas autoridades”. Ser estudante equivalia a ser ‘subversivo’. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 102).

As perseguições foram recorrentes e o enfrentamento marcou os estudantes

de forma brutal. O trauma causado pela Lei Suplicy de Lacerda, em l964, ano em que acabou a UNE, UBES, AMES, deixou profundas marcas na vida dos estudantes. Fragilizados pelas atrocidades dos militares, os estudantes foram um dos grupos sociais que mais sofreram com a ditadura, seus líderes foram perseguidos, presos, tiveram suas sedes invadidas e depredadas, além do envolvimento das entidades em inquéritos policiais militares, desarticulando dessa forma o ME:

Um instrumento legal de repressão ao movimento estudantil. Aos estudantes secundaristas, o ministro Suplicy de Lacerda direcionou especialmente um parágrafo da lei: “Nos estabelecimentos de ensino de grau médio, somente poderão constituir-se grêmios com finalidades cívicas, sociais e desportivas, cuja atividade restringiria aos limites dos estabelecidos no regimento escolar devendo sempre ser assistido por um professor”. O governo Castelo Branco criou ainda os “ginásios para o trabalho” e limitava as manifestações culturais. “Há completa falta de bibliotecas, de publicações, exposições, de materiais esportivos. Não há estímulo à organização das bandas musicais, corais, teatros, programas culturais no rádio e TV, seminários e um verdadeiro mundo de outras coisas”, denunciava o Informe Secundarista. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 106-107).

O grande marco dos conflitos entre o ME e a ditadura militar foi a morte do

estudante secundarista Edson Luis de Lima Souto, no Rio de Janeiro em 1968,

sendo assassinado em frente ao Restaurante Central dos Estudantes, conhecido

como Calabouço, durante uma manifestação.

Em 1979, é promulgada a Lei da Anistia que possibilitou que os militares envolvidos em casos de tortura, assassinatos e desaparecimentos forçados não

Page 14: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

fossem julgados pelos seus atos. Por outro lado, permitiu que oposição ao regime pudesse voltar ao País sem risco de prisão. Isso permitiu a reorganização do ME e a realização de seus congressos. Com isso, tinha continuidade um processo de abertura política, de cunho conservador, que afastou os militares do poder a partir de 1985, quando da eleição indireta de Tancredo Neves.

Em 1988, um ano de grandes conquistas, apoiados pela UBES os jovens

comemoram a aprovação da Constituição Federal, conhecida como “Constituição

Cidadã” que expressa os direitos de participação dos cidadãos. A UBES promove

antes das eleições presidenciais de 1989 um debate entre os candidatos. A

preferência que a maioria da sociedade e as entidades estudantis tinham, eram

pelos candidatos: “[...] o metalúrgico do PT, Luiz Inácio Lula da Silva; [...] Leonel

Brizola (PDT); Mário Covas (PSDB); [...] o peemedebista Ulysses Guimarães. [...] as

elites [...] abraçou ostensivamente o governador de Alagoas [...] do recém-fundado

PRN, Fernando Collor de Mello”. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 246).

A disputa eleitoral no segundo turno entre Collor e Lula foi realizada em

dezembro, Collor que prometera governar para os “descamisados” e “pés descalços”

foi eleito com 35 milhões de votos, sendo “o mais jovem brasileiro assumir a

Presidência da República”, em 15 de março de 1990.

Os estudantes voltam às ruas para uma das maiores manifestações, sendo

esta compartilhada com toda a sociedade brasileira:

[...] por patrões, profissionais liberais e trabalhadores, estudantes,

professores e “tubarões” do ensino, jornalistas, editores e barões da

mídia, artistas, produtores e empresários culturais, partidos de

esquerda, de centro e até de direita. Instituições tradicionais como a

OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e a ABI (Associação

Brasileira de Imprensa) - com histórico de resistência à ditadura

(1964-1985)-engajavam-se agora na campanha do “Fora Collor”.

(CINTRA, MARQUES, 2009, p. 256).

Organizados como nos anos 1960, os estudantes se sobressaíram, pintaram

o rosto com as cores da Bandeira Nacional e ficaram conhecidos como os “caras-

pintadas”, liderados pela UNE e UBES e demais entidades. Assim,

[...] foram os primeiros a sacar que os níveis de corrupção, enquadrilhamento e banditismo no alto escalão governamental haviam gerado um daqueles momentos decisivos da nação, em que não há justificativas para a apatia ou omissão de qualquer brasileiro. (POERNER, 2004, p. 299).

O processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Mello se

iniciou em 1992, com os indícios de uma gestão fracassada, com pouco mais de

dois anos de governo, de seu prestígio e a popularidade para a incapacidade. Um

governo eleito democraticamente, que prometia governar para os “descamisados” e

“pés descalços” e assumiu a Presidência aos 40 anos de idade, sendo o mais jovem

político brasileiro.

Page 15: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

“Os materiais e depoimentos, as graves denúncias colhias pela CPI”,

incriminam ainda mais o presidente Collor, e o impeachment se torna realidade: o

Paraná foi o primeiro: a primeira manifestação de envergadura pelo impeachment

aconteceu em 07 de agosto, em Curitiba, com o apoio do governador Roberto

Requião e a presença do recém-eleito presidente da UNE, Lindbergh Farias, dos

presidentes da OAB, Marcelo Lavenère, e da CUT Jair Meneguelli, bem como os

políticos Franco Montoro, Luís Inácio Lula da Silva e João Amazonas. O ato

coincidiu com a invasão estudantil da Reitoria da Universidade Católica do Paraná,

em protesto contra aumentos abusivos das mensalidades.

[...] o reitor ordenou [...] os funcionários abandonassem o prédio, a ocupação se prolongou durante um mês e meio [...] os estudantes não só administraram a reitoria como utilizaram a gráfica universitária para imprimir material de propaganda do impedimento. (POERNER, 2004, p. 299.300).

As manifestações ecoavam de norte a sul do Brasil, revoltados com os

escândalos, os jovens liderados pela UNE e a UBES foram às ruas juntamente com

“milhares e milhares de pessoas ‘trajados de preto’ pintaram o rosto de preto, em

luto contra Collor”. Coincidentemente a música Alegria, alegria de Caetano Veloso

era a trilha sonora da minissérie Anos Rebeldes que se referia ao movimento

estudantil de 1968, na ocasião estava sendo “exibida pela TV Globo”, passando a

fazer parte das passeatas.

Com as boas graças da população em geral indignados com os escândalos que espocavam quase todos os dias, a campanha dos “cara-pintadas” - aplaudida até pelo arqui-inimigo e Erasmo Dias [...] PDS em São Paulo – foi crescendo que tingiu o Brasil de verde e amarelo, e às vezes, de preto enlutado. Levou centenas de milhares de pessoas às maiores passeatas dos anos 90 - mais de 300 mil em São Paulo, em 25 de agosto, só acabou com a derrubada do presidente e a posse do seu sucessor, Itamar Franco, em outubro de 1992. (POERNER, 2004, p. 300).

A UNE recuperou o prestígio e, com Lindbergh Farias (PCdoB)

representante na Câmara dos Deputados, tendo como sucessor Fernando Gusmão

sendo “vereador no Rio” retoma a terreno da UNE roubado dos estudantes pela

ditadura, situado na Praia do Flamengo, 132, fato histórico comemorado em 17 de

maio de 1994 quando Itamar Franco assina o protocolo de devolução do terreno aos

estudantes.

Após a derrubada de Collor e a ascensão de Itamar Franco à Presidência, a

UBES ficou mais unida e os estudantes secundaristas amadurecidos para continuar

lutando pelos seus ideais.

6. MOVIMENTO ESTUDANTIL PARANAENSE

A organização e atuação do ME paranaense não difere dos demais

estudantes brasileiros, pois também buscavam mudanças sociais, políticas e

Page 16: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

educacionais. Sua representatividade conta com duas entidades, sendo a UPE -

União Paranaense dos Estudantes e a UEE - União Estadual dos Estudantes do

Paraná, (apontada como a mais antiga entidade estadual do País) fundada em 16 de

setembro de 1939, com a finalidade de ampliar e organizar a participação dos

estudantes nos debates sobre as questões educacionais.

A ditadura militar marcou os estudantes paranaenses com o Ato

Institucional nº 1 de 1964, que restringiu os movimentos sociais e estudantis,

inclusive o movimento paranaense. Todo movimento estudantil paranaense foi

extinto pela criação do Ato Institucional nº 4 de 01 de abril de 1969. Como relata

Madson Oliveira, jornalista e ex-presidente da UPE 2001-2003/2003-2004, “em 14

de junho de 1968 o Ministério Público Federal, moveu uma ação de dissolução e

liquidação da sociedade da UPE com a justificativa [...] que a entidade havia

contraído dívidas com fornecedores [...] que o patrimônio após liquidar as

pendências seria repassado a UFPR”. (OLIVEIRA, 2013, História da UPE – ANEXO

01).

Nos anos 80 várias entidades foram reconstruídas, como a UNE, e para a

UPE não foi diferente, pois, após a ditadura elegeu em seu congresso o primeiro

presidente, Vicente Palhares. Atualmente a UPE continua defendendo os direitos

dos estudantes e dos cidadãos paranaenses. A entidade que representa os

estudantes secundaristas do Paraná, fundada em 17 de junho de 1945, denominada

UPES-União Paranaense dos Estudantes Secundaristas, como descreve Silvana

Schmitt, a partir de documentação arquivada pela polícia política paranaense:

Art.1º- A União Paranaense dos Estudantes Secundários – UPES [...] é uma entidade estudantil, de cunho assistencial, que visa a melhoria das condições de vida, a elevação de nível intelectual e o aumento das condições de estudos, do corpo discente dos Estabelecimentos de Ensino Secundário e do grau médio do Estado do Paraná, através de congregação dos Grêmios Estudantis e Uniões Municipais Secundaristas desta Unidade de Federação. (Pasta da UPES nº. 2331, topografia 265 apud 2011, p. 110).

Na atuação da UPES, segundo Schmitt (2011), “não há uma organização

adequada nas pastas da DOPS para a realização de pesquisa”, dificultando a

observância quanto ao andamento dos fatos e a forma como se organizavam os

estudantes secundaristas. Durante a ditadura militar a DOPS era um órgão de

repressão para controlar e observar as pessoas que supostamente ofereciam perigo

e que atuavam contra o Estado ou contra a Segurança Nacional. Os objetivos das

instituições policiais eram de controlar as pessoas e as instituições que por suas

ações podiam ser consideradas “comunistas” e ou “subversivas”, como descreve a

autora supracitada:

A organização e atuação das delegacias de ordem política e social

cumpre um roteiro: a) investigação: ocorria por meio de coleta de

dados e vigilância preventiva daquele considerado suspeito e os

dados coletados poderiam ou não fazer parte de um prontuário de

Page 17: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

instituição ou indivíduo investigado; os documentos coletados eram:

radiogramas, fotografias, recortes de jornais, entre outros; b) censura:

caracteriza-se no procedimento adotado após a investigação ou

paralela a ela, quando averiguada a existência de alguma atividade

que representasse subversão, era então feito controle político-

cultural ou de qualquer forma de expressão que significasse ameaça

à ordem estabelecida; c) repressão: digamos que esta seria a última

instância da polícia política e que ocorria, após constatado que havia

atividade subversiva, sendo que as ações poderiam ser a princípio

através de perseguição política até a ações de castigos físicos,

caracterizados como tortura. (RONCAGLIO, 1998 apud SCHMITT,

2011, p.89).

Apesar do fim da ditadura civil-militar em 1985, o controle sobre as pessoas e

as instituições não se extinguiram como forma de garantir a “segurança nacional”:

[...] embora os registros das ações dos DOPS estejam associados aos períodos de ditadura na República brasileira, esse Departamento, assim como outras instituições de informação política do Estado, nunca foi extinto. Sempre existiram, quer o governo fosse mais ou menos democrático ou mais ou menos ditatorial. A preocupação com a informação sempre foi uma “questão de segurança nacional”. O que demarca as diferenças são, entre outros aspectos, as formas de obter os dados, as informações sobre as condutas individuais; as nuanças de se respeitar os direitos civis. (KUSHNIR, 2002, p.561 apud SCHMITT, 2011, p. 89).

Fiuza relata que nesse período as atividades de vigilância realizadas pela

DOPS podiam acontecer “[...] ainda hoje por um dos setores das polícias estaduais,

a chamada Polícia Reservada (P2)”. (2006, p. 24 apud Schmitt, p.90).

Porém, o período de atuação dos órgãos de repressão foi intenso:

Como é sabido, houve variações na intensidade da repressão

durante a Ditadura Militar: em certos momentos, como na fase

imediatamente posterior ao golpe ou na conjuntura que se iniciou em

1968, a repressão foi muito intensa; em outras fases, como no

período seguinte às primeiras punições (junho de 1964 a outubro de

1965) e durante a “distensão” e “abertura” políticas promovidas nos

governos Geisel e Figueiredo, o número de punições decresceu.

(FICO, 2001, p.18 apud SCHMITT, 2011, p. 90).

Sete anos após a extinção das DOPS que deu-se por volta de 1984, os

arquivos e documentos da polícia política do Brasil foram abertos às pesquisas onde:

Durante o ano de 1991, se efetivaram as devoluções aos órgãos de

arquivo, dos acervos das polícias políticas dos Estados de

Pernambuco, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo. E em cada

um desses Estados havia uma situação peculiar quanto à tipologia

documental, às datas-limite e, também, quanto ao processo de

recolhimento, propriamente executado. A devolução se fez graças à

Page 18: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

luta pelos direitos humanos consagrada, no texto constitucional em

vigor, no princípio do habeas-data, expressão latina, que significa

“tenhas a tua informação”. (DOCUMENTO DOPS RJ, 1996, p.19

apud SCHMITT, 2011, p. 90).

Para o acesso aos arquivos da DOPS há uma legislação e normatização, pois

implica no acesso ao passado das pessoas que foram vítimas, bem como a história

do país durante o período da ditadura militar. No Paraná, a legalidade foi instituída

pelo Decreto Estadual nº 577, de junho de 1991 “[...] que extinguiu a Subdivisão de

Segurança e Informação da Polícia Civil – SSI - anteriormente denominada

Delegacia de Ordem Política e Social-DOPS e transferiu o seu acervo documental

ao Departamento Estadual de Arquivos Públicos – DEAP”. (RONCAGLIO, 1998,

p.41 apud SCHMITT, 2011, p.91).

Quanto ao acervo da DOPS no Estado do Paraná este é:

Resultado de atividades de investigação, vigilância e controle feitas

pela Chefatura da Polícia no começo do século, pelo Comissariado

de Investigação e Segurança Pública na década de 1920, pelas

Delegacias de Vigilância de Investigação e Delegacia de Vigilância e

Capturas, na década de 1930, até transformar-se em Delegacia de

Ordem Política e Social, criada pela Lei nº177, de 05 de março de

1937, com atuação até a década de 1990. (RONCAGLIO, 1998 apud

SCHMITT, 2011, p. 91).

O acesso aos documentos nos acervos da DOPS é normatizado pelo Decreto

nº 4348 de 29 de junho de 2001, onde o pesquisador assina um Termo de

Responsabilidade que lhe dá direito a utilização dos dados de pesquisa junto ao

Arquivo Público do Paraná, com algumas particularidades:

Vale ressaltar que a documentação dos arquivos dos DOPS somente foi liberada no início da década de 1990 e é possível que ela tenha sido dilapidada por setores dos governos estaduais e federais, bem como pelas polícias estaduais e pela polícia federal. Outro dado é que, apesar dos êxitos, os DOPS entre 1982 e 1983, os serviços de informação continuaram operando em sua tarefa de investigação política até o final da década de 1980, em particular, junto ao acompanhamento de sindicatos, partidos políticos, movimentos sociais e estudantis, comunidades eclesiais de base, grupos de luta pela terra, entre outros. (FIUZA, 2006, p. 24 apud SCHMITT, 2011, p. 92).

Sobre eventos e a organização dos estudantes paranaenses muitos

documentos foram encontrados em pastas/dossiês da UPES, como descreve

Schmitt:

[...] materiais diversos [...] ofícios, fotos, relatórios dos eventos, recortes de reportagens, [...] tinha como objetivo demonstrar atos de subversão ou [...] justificar que os estudantes organizavam-se dentro da legalidade. Há documentos produzidos pela polícia política [...] pelos estudantes, os quais solicitavam permissão para realizar seus

Page 19: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

eventos, atestados de boa conduta, tanto da UPES, [...] membros da diretoria [...] informações sobre os eventos [...] convites para que as autoridades da polícia política participassem. (2011, p. 92).

A polícia política e os estudantes universitários paranaenses não tinham uma

relação amistosa, ocasionando que a UPES foi invadida e extinta, tendo seus bens

confiscados.

7. GRÊMIO ESTUDANTIL – ESPAÇO DE CONQUISTAS E PARTICIPAÇÃO

DEMOCRÁTICA

Desde o seu surgimento até os dias de hoje o ME desdobrou-se em vários

seguimentos como a UNE, a UBES e o Grêmio Estudantil, porém, na atualidade, é

pouco atuante e muitas vezes desprezado pelos estabelecimentos de ensino e a

sociedade. Isso pode ser explicado pelos efeitos da ditadura militar e a um complexo

quadro social posterior, que, por exemplo, se traduz num indivíduo cada vez mais

individualista, portanto, menos afeito às lutas e interesses coletivos.

Os grêmios estudantis apresentavam um caráter político-social tendo grande

representatividade na sociedade, pois dele faziam parte jovens estudantes de cursos

universitários e secundaristas. Contudo, foi duramente reprimido pelo regime militar,

afinal, de acordo com Rodrigues:

Os grêmios estudantis existiram ou coexistiram com o período ditatorial militar no Brasil. No ano de 1968 foram extintos pelo Decreto-lei – AI-5 – Ato Institucional nº5, publicado em maio do ano supracitado. A substituição se deu por meio da criação dos Centros Cívicos. [...] as propostas do grêmio estudantil e dos centros cívicos existem importantes diferenças nas bases de suas formulações. Os grêmios [...] resultado da luta dos estudantes por maior liberdade, da consciência política [...] adquirida a partir da vivência [...] as contradições presentes no regime militar. Centros cívicos [...] ideia de culto à Pátria [...] valorização de símbolos e signos ‘patrioticamente’[...] para figurar na memória do estudante. (2012, p. 124).

Os estudantes sempre defenderam a bandeira da democracia onde sua luta

era constante, mesmo com dificuldades faziam suas reuniões e encontros nacionais

para se organizar e não mediam esforços. Com essas práticas os estudantes

revelam que a juventude não queria submeter-se a decisões arbitrárias, mesmo que

sua origem não tivesse este componente político:

Em 1902, surge o primeiro grêmio estudantil em São Paulo, que vai se fortalecendo. Mas eram grêmios sem caráter político, somente “recreativos, culturais, de lazer, de cultura”, conforme declaração de Apolinário Rebelo, presidente da UBES. Essa forma de organização perdurou por muitos anos, sendo atestada também por José Gomes Talarico, “o maior movimento estudantil antes foi através do esporte, inclusive o futebol, atletismo, natação”. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 23).

Page 20: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

Os estudantes secundaristas em 1985, durante o Congresso da UBES,

elegem a segunda mulher como presidente, Selma Suely Baçal de Oliveira, tendo a

UNE, em outubro de 1982, eleita a primeira mulher presidente Clara Araújo, sendo

um marco significativo na história do movimento estudantil e permitindo vislumbrar a

integração da mulher no processo democrático.

A grande conquista na gestão de Selma (UBES) foi a criação da Lei dos

Grêmios Livres, em 04 de novembro de 1985, pelo então Presidente José Sarney:

[...] a Lei Nº 7.398-1985, ou Lei do Grêmio Livre, proposta na Câmara pelo deputado federal e ex-presidente da UNE, Aldo Arantes. A medida sepulta para sempre os antigos centros cívicos e permite “a organização de grêmios estudantis como entidades autônomas representativas dos interesses dos estudantes secundaristas, com finalidades educacionais, culturais, cívicas, desportivas e sociais”. (CINTRA, MARQUES, 2009, p. 229).

Outras legislações contribuíram para a legalidade dos Grêmios Estudantis,

como o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, como o disposto no capítulo lV,

artigo 53, inciso lV da lei nº. 8.069/90, que garante a representação dos estudantes.

No Estado do Paraná, a Lei nº 11.057 de 17 de janeiro de 1995, assegura nos

Estabelecimentos do Ensino de 1º e 2º graus, públicos e privados, a livre

organização dos Grêmios Estudantis, e o Artigo 3º - Aos estabelecimentos

paranaenses de ensino caberão assegurar espaço para a divulgação das atividades

do Grêmio Estudantil em local de grande circulação de alunos, bem como para

reunião de seus membros.

A LDB 9394/96 de 20/12/96 – reza que a Direção deve dar condições aos

alunos na organização do Grêmio Estudantil, e a participação nos Conselhos de

Classe e Conselho Escolar.

A Secretaria de Estado da Educação, por sua vez, reconhece a importância

na formação do Grêmio Estudantil e incentiva os gestores para dar suporte na

organização, valorizando a inserção dos jovens na ocupação dos espaços de

formação para a vida social, política e cultural, como meio para superar os desafios.

“A organização estudantil é a instância onde se cultiva [...] o interesse do aluno, para

além a sala de aula. A consciência dos direitos individuais vem acoplada à ideia de

que estes se conquistam numa participação social solidária.” (VEIGA, 2007, p. 120).

O Grêmio Estudantil é mais que uma entidade, pela representatividade dos

alunos passa a ser uma entidade autônoma, lembrando que autonomia não é

independência, e que estas não podem ser confundidas, que suas ações favorecem

as relações na escola entre a direção, equipe técnica e os demais seguimentos

escolares. Assim, a escola se fortalece com suas ações. O grêmio estudantil não é

um órgão contra ou a favor da direção escolar e sim um instrumento de

representação do corpo discente numa sociedade democrática. Logo,

Para que aconteça uma verdadeira ação educativa na escola, essa deve, necessariamente, garantir a autonomia dos alunos que interagem no processo educativo. Para tanto, deve adotar mecanismos que levem em conta a importância da participação dos

Page 21: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

alunos e demais integrantes da organização do trabalho pedagógico. (VEIGA, 2007, p. 123).

O Grêmio Estudantil, por fazer parte das Instâncias Colegiadas, tendo como

princípio a Gestão Democrática, tem como uma das finalidades apoiar as atividades

da escola no que reza seu estatuto, embora não tenha fins lucrativos devem estar

integrados às ações que beneficiem à concretização dos projetos nela existentes.

Essa representatividade e atuação devem ser assim definidas, de acordo com

Cabral (2002), que assim classifica o Grêmio Estudantil:

Será que autoritária, não permitindo de forma concreta a participação dos colegas? Paternalista, que centraliza todas as ações e atividades em torno de uma pequena diretoria, subestimando a capacidade dos demais colegas em contribuir com as entidades? Liberal, que permite a participação de todos, mas ao mesmo tempo não dispõe de um programa mínimo administrativo que permita identificar uma linha de atuação? Grêmio festivo, que proporciona lazer, mas distancia das necessidades básicas do aluno e de sua formação política ou grêmio democrática, que busque a conscientização, participação e organização de todos os estudantes na construção de uma nova educação e de uma sociedade mais justa e igualitária. (CABRAL, 2002 apud MARTINS, 2013, s/p).

Se o envolvimento do Grêmio Estudantil nas ações da escola viabiliza sua

participação, a integração social fará fortalecer essas ações num espaço de

interdependência cultural. As atividades desenvolvidas pelo grêmio estudantil fará

ainda uma aproximação com a comunidade, dessa forma o aspecto social estará

privilegiado:

Se se pretende com a educação escolar, concorrer para a emancipação do indivíduo como cidadão partícipe de uma sociedade democrática e, ao mesmo tempo, dar-lhe meios, não apenas para sobreviver, mas para viver bem e melhor no usufruto de bens culturais que hoje são privilégios de poucos, então a gestão escolar deve fazer-se de modo a estar em plena coerência com esses objetivos. (PARO, 2012, p. 96).

8. RESULTADO DE EXPERIÊNCIA DO PROJETO DE INTERVENÇÃO

PEDAGÓGICA

Durante os dois anos de trabalho no PDE, com as aulas das disciplinas

específicas e gerais, orientada pelo Professor Alexandre Felipe Fiuza, mediante

discussões com professores da rede através do GTR, pesquisa bibliográfica e o

envolvimento com os alunos do colégio, constatou-se que os mesmos contribuíram

significativamente para o desenvolvimento do Projeto de Intervenção Pedagógica. O

pedagogo, enquanto mediador e articulador do processo democrático atua para o

fortalecimento das ações estabelecidas no Projeto Político Pedagógico, onde estão

expressos os fundamentos políticos, pedagógicos e filosóficos da instituição.

Page 22: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

O trabalho foi desenvolvido a partir das possibilidades e potencialidades

ofertadas no momento, seguindo o princípio de ações em forma de encontros,

inicialmente com o corpo docente e posteriormente com o corpo discente do Colégio

Estadual Monteiro Lobato-EFM de Céu Azul-Pr, perfazendo um total de oito ações

que foram realizadas de forma satisfatória. A primeira ação foi a apresentação do

Projeto de Intervenção Pedagógica “A Atuação do Pedagogo na Formação do

Grêmio Estudantil como Mediador do Processo Democrático e da Produção

Didático-Pedagógica - Revendo a História do Movimento Estudantil Brasileiro”

durante a semana pedagógica para a direção da escola, equipe pedagógica,

professores, agentes educacionais I e II, Grêmio Estudantil, onde destacou-se os

objetivos da proposta, cronograma de ações e pessoas envolvidas. O grupo

manifestou surpresa ao constatar a grandiosidade do Projeto que versa sobre a

história do ME desde o Brasil Colônia até a atualidade, numa interface com a UNE,

UBES, GE e ME paranaense. Concluiu-se que devemos incentivar os alunos na

organização e participação do GE.

A segunda ação foi o debate sobre o tema “organização dos estudantes e sua

trajetória política” com grupos de alunos do Ensino Fundamental – séries finais e

alunos do Ensino médio. Concluiu-se que há curiosidade sobre o tema e que não há

conhecimento a respeito da trajetória política do Brasil, e que os fatos históricos são

descaracterizados quanto ao seu caráter político. A terceira ação se deu mediante

um estudo sobre a “UNE – União Nacional dos Estudantes: uma trajetória de

participação política”, com vídeo sobre ME, com a música “Pra não dizer que não

falei das flores”, de Geraldo Vandré e a canção “Pesadelo”, de Maurício Tapajós e

Paulo César Pinheiro. Concluiu-se que há necessidade de implantar os estudos

sobre o ME brasileiro no currículo escolar. Importante destacar o questionamento de

um estudante de 16 anos “porque a gente não estuda isso na história”? Os fatos

apresentados eram de total novidade para os alunos que desconheciam totalmente

a existência da UNE, tampouco conheciam a luta dos mesmos pelo acesso e

permanência na escola.

A quarta ação ocorreu com o mesmo grupo de alunos que estudou e discutiu

sobre a UBES e seu envolvimento social na campanha “o petróleo é nosso”, a

eleição da primeira mulher presidente da entidade Helga Hoffmann, a morte do

estudante secundarista Edson Luís de Lima Souto e o impeachment do presidente

Collor. Assistiram vídeo sobre o movimento “caras-pintadas” e o documentário sobre

o movimento estudantil secundarista. A participação dos alunos foi satisfatória e

percebeu-se que mesmo os alunos integrantes do GE do colégio não tinham

conhecimento a respeito da representatividade dos estudantes secundaristas a nível

nacional.

A quinta ação foi o estudo do movimento estudantil paranaense integrado à

história política brasileira, com a música de Gonzaguinha “Acredito é na rapaziada”,

como forma de destacar e valorizar a juventude. Incluiu-se ainda nesta etapa a

apresentação do movimento estudantil paranaense com destaque para as cópias

scaneadas dos documentos da DOPS. Merece destaque a perplexidade dos

estudantes ao manusearem tal documento histórico e também ao ouvir a palavra

Page 23: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

DOPS, outrora quase que proibida no convívio com seus pais. Enxergaram-se como

frutos de um período ditatorial e frases citadas por seus avós como “no tempo da

ditadura era assim...” passou a ter sentido para eles.

A sexta ação efetivou-se com o preenchimento de um questionário pelos

alunos com questões abertas e específicas sobre o Grêmio Estudantil. Após análise,

traçou-se um plano de estudos, pois havia total desconhecimento da legislação

pertinente. Houve estudo sobre a criação dos Grêmios Livres, o regime militar, os

Atos Institucionais, com destaque para o AI-5, a LDB 9394/96, as Leis 11057 de

17/01/1985 do Estado do Paraná, a ECA - Lei 8069/90. Concluiu-se com os

estudantes que, em virtude dos grêmios estudantis iniciais terem um caráter político,

esse movimento foi inteiramente dilapidado pelo regime militar e substituído por

centros cívicos que valorizavam os símbolos nacionais que davam ideia de culto a

Pátria. Que a criação dos Grêmios Livres foi legalizada após a eleição do primeiro

presidente civil após a ditadura, no caso José Sarney, que substituiu Tancredo

Neves, sancionando a Lei 7398/85 em 04/11/1985, a chamada Lei dos Grêmios

Livres. A ênfase principal desses estudos foi a compreensão de que o Grêmio

Estudantil representa o corpo discente, fazendo parte das Instâncias Colegiadas e

favorecendo a criação do espaço democrático.

A sétima ação ocorreu com a palestra da historiadora e pesquisadora Silvana

Lazzarotto Schmitt aos alunos que participaram dos estudos sobre o ME. A

pesquisadora discorreu sobre a organização dos estudantes do Oeste do Paraná e

que nas entrevistas realizadas com os militantes da época não se tem relatos de

torturas, mortes ou desaparecimento de estudantes. Destacou que os meios de

comunicação hoje são acessíveis, que sua pesquisa fora feita nos arquivos da

DOPS de Curitiba, que antigamente, para a realização de reuniões, congressos ou

reuniões de estudantes, havia um monitoramento da polícia política e que havia

muita dificuldade de alojamento, comunicação e alimentação. Em contrapartida a

participação era maior, diferente dos dias de hoje. Encerraram-se as atividades

incentivando os alunos a participarem do GE como forma de integração no processo

democrático.

A oitava ação foi reunião com os alunos representantes de turmas e

integrantes do grupo de estudos sobre o ME para elaborar ações para a próxima

eleição do GE e organizar uma comissão de criação do fórum permanente de

discussão no colégio sobre os temas contemporâneos, juntamente com a APMF e

Conselho Escolar. Esta comissão dará continuidade aos estudos no segundo

semestre para concretizar as ações sob acompanhamento e orientação da equipe

pedagógica.

9. GTR - GRUPO DE TRABALHO EM REDE COMO FERRAMENTA DE

CONHECIMENTO E DISCUSSÃO

O Grupo de Trabalho em Rede, como uma das etapas do PDE, foi realizado

com relevante participação dos professores da rede estadual de ensino, com

Page 24: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

propósito de dialogar com os pares e para a troca de experiências acerca da

atuação do pedagogo e do Grêmio Estudantil. É perceptível a multiplicidade de

opiniões relatadas nesse espaço democrático, conforme destacam:

Por Gilnei Marcel Hey Kiel:

“[...] entendemos historicamente que a juventude foi silenciada por mecanismos de

repressão política e ideológica, que há uma filosofia hedonista que move este

segmento social e que não há um histórico de participação e empreendedorismo

social que os mova [...] para tanto é necessário uma continuidade de propósitos [...]

que se preocupar de que mesmo os alunos menores, do ensino fundamental,

tenham acesso ao grêmio”.

Por Francisca Andrade da Silva Manfio:

“[...] golpe militar de 1964 impediu que a juventude se organizasse livremente,

impediu os Grêmios Estudantis, mas a juventude não aceitou passivamente [...] os

Grêmios se tornaram espaços democráticos de resistência”.

Por Eliza Maria Frainer Bragagnolo:

“[...] a criação da UNE que representa o marco da participação do movimento

estudantil brasileiro ao longo da nossa história [...] UNE como uma instituição de

movimento democrático”.

Por Sineide Aparecida Vilas Boas Sanches:

“[...] com toda esta luta, os grupos estudantis vêm ganhando espaço nas escolas

públicas, sendo cada vez mais fortalecidos. [...] a juventude necessita deste espaço

para atuar como cidadão lutador por seus direitos e consequentemente

conhecedores e cumpridores de seus deveres”.

Por Antonio Carlos Silva Moura:

“[...] desconhecer a história é permanecer criança. [...] fazer história requer luta,

sacrifício, abnegação e muita força de vontade [...] percebo que nos falta referenciais

[...] O conhecimento da história nos motiva [...] estender aos meninos e meninas a

oportunidade de conhecer nossas bases históricas e, aos poucos, devolver-lhes a

dignidade e a consciência política por meio de sua participação efetiva nas decisões

que se toma na escola [...] assim eles se compreenderão sujeitos na luta pela

democracia [...] é necessário que cada sujeito atuante na escola incentive a criação

do Grêmio Estudantil”.

Por Tatiane Zanin:

“[...] o maior desafio que percebo está em desenvolver a autonomia, “lembrando que

autonomia não é independência”, [...] fazê-los perceber o quão grande e valiosa é

sua participação. [...] a grande maioria das escolas enfatizam e ressaltam os

Page 25: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

deveres em detrimento dos direitos [...] a falta de conhecimento deixa nossos alunos

desmobilizados, sem argumentos”.

Por Marcos Willian da Silva:

“[...] ratificar a importância da conscientização da comunidade escolar e,

principalmente, das direções escolares [...] agem por tradição não refletida e acabam

por adotar uma postura centralizadora e autoritária. Desta forma, suas ações são

frutos da própria falta de formação para a democracia [...] precisamos incentivar toda

e qualquer forma de democracia na escola. Sendo nós sabedores do que queremos,

no caso, democracia, precisamos definir qual o tipo de democracia queremos. A

democracia da maioria? A representativa? a direta? indireta? mista? A democracia

liberal/ capitalista? A democracia socialista, a democracia republicana? [...] Veja,

estamos a falar de democracia em sua forma genérica. Porém, não existe um

consenso universal do que seja Democracia. Quais são, portanto, as características

democráticas que primamos para aquilo que dizemos ser democracia?”

Por Ediane Gomes de Lima:

“[...] ligação íntima do movimento estudantil, com os rumos do País, de como são

símbolos de resistência [...] se temos liberdade hoje de expressarmos nossos

pensamentos, os mais diversos ideologicamente, devemos agradecer em parte aos

movimentos sociais e principalmente ao movimento estudantil brasileiro”.

Por Eva Campos da Silva:

“[...] sendo a escola o espaço aglutinador da juventude, é ela em si o espaço central

e privilegiado para a formação de lideranças e promoção de cultura cívica. Emerge

daí a importância do processo de formação e consolidação dos grêmios estudantis”.

Por Maria Jacira Costa Taborda:

“[...] o pedagogo tem suma importância na implantação do Grêmio Estudantil, uma

vez que, media, articula, organiza, integra e coordena as ações de todos os

segmentos de todas as Instâncias Colegiadas. O Pedagogo deve propiciar e garantir

o desenvolvimento da representatividade dos alunos e de sua participação nos

diversos espaços escolares e contribuindo para que a gestão realmente seja

democrática”.

Por Gisleide Germano Geremias de Lima:

“[...] tenho muito receio que em algumas instituições que se gabam por existir um

Grêmio atuante, mas que talvez sua atuação é apenas em benefício do fazer

pedagógico, daquilo que a escola espera deles, não que isso não seja importante,

pois, conhecer o plano de ação da escola e trabalhar junto com o estabelecimento

para colocar este plano em execução também é de interesse dos alunos”.

Page 26: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar o Projeto de Intervenção Pedagógica observa-se que pela

importância da temática referente ao Movimento Estudantil Brasileiro, com enfoque

no Grêmio Estudantil, faz-se necessário estudo permanente como parte de uma

prática pedagógica nos Estabelecimentos de Ensino do Estado do Paraná. Uma das

dificuldades encontradas no período de estudos e pesquisas foi que, ao abordar os

temas sobre os movimentos sociais os historiadores/pesquisadores limitam-se

apenas a citar o movimento estudantil, ocasionando dessa forma uma lacuna e

limitação de conhecimento. Considerando a perversidade da ditadura militar que

praticamente devastou o movimento estudantil e que muitos de seus integrantes

foram mortos ou exilados, os que resistiram continuaram atuando na clandestinidade

e ainda hoje sofremos as consequências desse período sombrio da história

brasileira.

Constata-se que as novas gerações, após a abertura política, pouco sabiam

sobre a organização dos movimentos, tanto que o Estado outrora repressor passou

a incentivador e através da Legislação assegurou a organização dos Grêmios

Livres. Porém, encontramos na escola, pessoas com discursos sobre

democratização da escola pública, mas nada além destes, tendo em vista que a

atuação do grêmio no espaço escolar ainda é tímida. Alguns educadores se veem

ameaçados em sua autoridade com a presença e a participação dos discentes nas

discussões inerentes a escola.

Sabemos que as transformações no espaço escolar se efetivam nas relações

entre os sujeitos e para que isso aconteça devemos ir além das atividades

esportivas e culturais. Toda essa reorganização implicará na valorização da

representatividade do GE, junto às demais Instâncias Colegiadas. Habitualmente

fala-se que a escola é um espaço democrático, que contribui para a transformação

social, e continuamos com a prática dominante, como se o processo democrático só

acontecesse no espaço escolar, não levando em conta a participação da

comunidade, ou esperamos que a sociedade se transforme para transformar a

escola:

Se queremos uma escola transformadora, temos que transformar a escola que temos aí. E a transformação desta escola passa necessariamente por sua apropriação por parte das camadas trabalhadoras. É nesse sentido que precisam ser transformados o sistema de autoridade e a distribuição do próprio trabalho no interior da escola. (PARO, 2005, p.10).

É perceptível a multiplicidade de interesses no espaço escolar, contando

também os condicionantes ideológicos, isso não quer dizer que não devemos levar

em conta, mas que o objetivo principal é o trabalho da coletividade em busca de

uma educação de qualidade.

Page 27: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

Nesse contexto, o pedagogo tem papel fundamental na construção do Grêmio

Estudantil. Não há como desenvolver um grêmio agindo solitariamente e na escola

há ainda muita resistência, pois, como afirmamos, muitos entendem a participação

democrática como uma ameaça à autoridade instituída. Com tal atitude, estes

indivíduos enfraquecem o poder reivindicatório destes instrumentos democráticos,

alijando os segmentos que poderiam sustentar toda uma ação articulada em favor

da instituição de ensino.

Entendemos que, historicamente, a juventude foi silenciada por mecanismos

de repressão politica e ideológica, mas, que se possibilitados e orientados, há um

caminho aberto para a reconstrução de uma identidade política. O Grêmio, para ser

legítimo, deve ser livre, para ser sólido, deve ser de todos; para ser eficiente, deve

ser contínuo e formativo, e para ser verdadeiro deve estar fundamentado nos ideais

democráticos.

Por fim, reitera-se a urgência de uma ação emancipatória reestruturando o

Plano de Trabalho Docente dos estabelecimentos de ensino, em particular, no que

concerne à disciplina de História, incluindo os conteúdos acerca da história do

Movimento Estudantil para os alunos do Ensino Fundamental e Médio. Assim,

parafraseando Paulo Freire, conhecendo história o homem faz e refaz-se sujeito.

REFERÊNCIAS

ARAUJO, Maria Paula Nascimento. Memórias Estudantis, 1937-2007: da

fundação da UNE aos nossos dias. Rio de Janeiro: Relume Dumará: Fundação

Roberto Marinho, 2007.

CABRAL, Wilson Colares. Qual Grêmio desejamos? Disponível em:

<http:/www.mundojovem.com.br/subsídios-grêmio estudantil-14.php>. Acesso em:

26/09/2013.

CINTRA, André; MARQUES, Raísa. UBES - uma rebeldia consequente: A história

do movimento estudantil secundarista do Brasil. Projeto Memória do Movimento

Estudantil, 2009.

CUNHA, Luis Antonio; GOES, Moacir de. O golpe na educação. Rio de Janeiro:

Jorge Zahar Ed., 2002.

D’ARAUJO, Maria Celina. A era Vargas. São Paulo: Editora Moderna, 2000.

DEMO, Pedro. Participação é conquista. São Paulo: Cortez, 2009.

FÁVERO, Maria de Lourdes de A. UNE em tempos de autoritarismo. Rio de

Janeiro: Editora UFRJ, 1994.

FICO, Carlos. Como eles agiam. Rio de Janeiro: Record, 2001.

FIUZA, Alexandre Felipe. Entre um samba e um fato: a censura e a repressão aos

músicos no Brasil e em Portugal nas décadas de 1960 e 1970. Tese de Doutorado.

Assis – São Paulo: 2006.

Page 28: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

______ Alexandre Felipe. Música Popular Brasileira: Memória Histórica e Indústria

Cultural. Revista Varia Scientia, v.2, n.2, ago. 2002, pp.39-47.

FREIRE, Paulo. A educação no Século XXl. In: Caderno Pedagógico. Publicação

Comemorativa aos 50 anos da APP Sindicato, 1997.

HELLER, Milton Ivan. Resistência democrática: a repressão no Paraná. Rio de

Janeiro: Paz e Terra: Curitiba: Secretaria de Cultura do Estado do Paraná, 1988.

LAKATOS, E. M. e MARCONI, M.A. Fundamentos da Metodologia Científica. 5ª

ed. São Paulo: Atlas, 2003.

MARTINS, Sandra Mara. O pedagogo e a organização do Grêmio Estudantil

atuante política e pedagogicamente. Disponível em:

<www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/8512.pdf>. Acesso em:

26/09/2013.

OLIVEIRA, Madson. -Texto- História da UPE. Disponível em:

<www.grupos.com.br/group/economiauem2008/Messages.html?action=download&y

ear=13&month=5&id=1368795633703039&attach=>. Acesso em: 10/10/2013.

PAULA, Jéssica Reis de. Movimento Estudantil: sua história e suas perspectivas.

Monografia-Escola Politécnica de Saúde João Venâncio – Rio de Janeiro. 2007.

PAIVA, Gabriel de Abreu Gonçalves de. A UNE e os partidos políticos no

Governo Lula (2003-2010). Cascavel, PR: UNIOESTE-2011.

PARANÁ, secretaria de Estado da Educação. Subsídios para elaboração do

estatuto do grêmio estudantil - Curitiba: SEED – PR., 2009. 32p.

PARO, Vitor Henrique. Escritos sobre educação. São Paulo: Xamã, 2001. 144p.

______Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática, 2000.

PELEGRINI, Sandra de Cássia Araújo. A UNE nos anos 60: utopias e práticas

políticas no Brasil. Londrina, PR: Editora da UEL, 1997.

POERNER, Artur José. O poder jovem: história da participação política dos

estudantes brasileiros. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira S/A,1979.

ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil. Rio de Janeiro:

Editora Vozes Ltda, 1991.

ROMANOLI, Luiz H.; GONÇALVES, Tânia. A volta da UNE – de Ibiúna a Salvador.

São Paulo: Alfa-Ômega, 1979.

RONCAGLIO, Cynthia et ali. Os arquivos do DOPS do Paraná. Quadrilátero –

Revista do Arquivo Público do Distrito Federal. Brasília, v. 1, nº. 1, p. 41-52, mar./ago.

1998.

SANFELICE, José Luis. Movimento estudantil – a UNE na resistência ao golpe de

64. São Paulo: Cortez, 1986.

Page 29: OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Janeiro, foi o prenúncio de que os próximos anos não seriam pacíficos, pois Hermes da Fonseca pusera o Exército em cena nesse

SCHMIDTT, Silvana Lazzarotto. Encontros e desencontros do Movimento

Estudantil Secundarista Paranaense. Dissertação de Mestrado – Universidade

Estadual do Oeste do Paraná-Campus Cascavel: 2011.

VEIGA, Ilma Passos Alencastro. et al. Escola: Espaço do projeto político

pedagógico. 12ª ed. São Paulo: Papirus, 2007. 192 p.

LEGISLAÇÃO

Constituição Federal de 1988.

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente Lei nº8.069, de 13/07/1990.

LDB-Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96.

Lei Federal nº 7.398, de 04/11/1985.

Lei Estadual nº 10.054, de 16/07/1992.

Lei Estadual nº 11.057, de 17/01/1995.

Medida Provisória nº 2.208, de 17/08/2001.