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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Nesse sentido, este trabalho procurou mostrar como podemos utilizar o celular como uma ferramenta pedagógica eficiente e que traga

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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O USO DO CELULAR NA SALA DE AULA: uma reflexão e alternativa em prol doensino de geografia na contemporaneidade

Autor: Gerson Dauhs1

Orientadora: Drª. Ângela Massumi Katuta2

Resumo:

Este artigo apresenta o trabalho sobre o uso do celular nas aulas de geografia a partir daproposta de implementação da Unidade Didática, junto aos educandos do 1º ano do Ensino Médio doColégio Estadual Sertãozinho, Também abordamos o trabalho realizado com os professores da redeestadual de ensino do Paraná, no Grupo de Trabalho em Rede - GTR 2014, como parte dasatividades do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE, turma 2013. Em uma sociedadecada vez mais tecnológica, é fundamental que as escolas incorporem as Tecnologias da informação ecomunicação (TICs) no processo de ensino e aprendizagem. O objetivo deste trabalho foi propor autilização das diferentes TICs no ensino da geografia, tais como: GPS, celular, computador, câmerafotográfica, gravador digital e outros para criar e organizar materiais didáticos. Uma das dificuldadesenfrentadas foi a falta de estrutura das escolas para desenvolver um projeto como este, e também aresistência de alguns setores da educação que concebem o celular como um aparelho que apenasdistrai o educando e atrapalha a aula. A partir dos recursos citados tivemos como objetivo no ensinoda geografia trabalhar com a ocupação e arranjos espaciais no lugar de moradia dos educandos,através de fotos de celular e a elaboração de um quiz (jogo de perguntas), onde a pesquisa foi feitacom o uso da internet, tomando-se o cuidado de utilizar apenas os recursos disponíveis na turma.

Palavras-chave: Novas tecnologias da informação e comunicação; uso de

celulares; sala de aula; ensino de geografia.

Introdução

Este artigo apresenta os resultados obtidos no trabalho desenvolvido ao

longo da formação no programa PDE 2013, no qual fizemos módulos de formação

continuada, trabalhos de campo, elaboração de material didático, formação

continuada por meio do GTR (Grupo de trabalho em rede) bem como a

implementação do referido material nas turmas escolhidas. Trabalhamos com o tema

"O USO DO CELULAR NA SALA DE AULA: UMA REFLEXÃO E ALTERNATIVA EM

1 Professor PDE- turma 2013, Especialista em psicopedagogia – Educação e Clínica pelo Centro Técnico-Educacional Superior do Oeste Paranaense, Especialista em Educação Ambiental pela FACEL, Graduado emLicenciatura em Geografia e em Licenciatura em História pela Unioeste, atua como professor de história egeografia no Colégio Estadual Sertãozinho de Matinhos - PR.

2 Doutora em Geografia pela USP - São Paulo, Mestre em Geografia pela UNESP de Presidente Prudente,Licenciatura e bacharelado em Geografia pela UNESP, atua como professora na UFPR – Setor Litoral emMatinhos - PR.

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PROL DO ENSINO DE GEOGRAFIA NA CONTEMPORANEIDADE, por meio dele

procuramos fazer reflexões sobre o uso das tecnologias como ferramentas auxiliares

nas aulas de geografia.

O processo iniciou em 2013, com os cursos preparatórios ministrados para

termos subsídios para a elaboração do material didático que foi utilizado na

implementação do projeto. Os cursos foram: fundamentos da educação, metodologia

de pesquisa, formação tecnológica, alguns encontros de área, seminário integrador

e seminário temático.

Nestes cursos, foram abordados os cuidados que devemos ter em relação

ao uso de citações, imagens retiradas da web ou de autoria própria, tomando os

devidos cuidados para não ferir os direitos autorais. Também fomos orientados sobre

a utilização de obras de domínio publico e as vantagens em utilizar este material.

Esta etapa foi muito produtiva, auxiliando na elaboração do projeto que

norteou as atividades a serem aplicadas, pois o projeto “[...] é uma sequência de

etapas estabelecidas pelo pesquisador, que direciona a metodologia aplicada no

desenvolvimento da pesquisa.” (FACHIN, 2006, p. 101). A primeira etapa foi a

escolha do tema do projeto, que partiu da problemática que enfrentamos atualmente

em sala de aula com as novas gerações que já nasceram em um mundo digital.

Estas novas gerações demonstram desinteresse por aulas tradicionais

baseadas em quadro negro e giz, e, a maior dificuldade em mudar esta situação é o

medo que sentimos em tentar algo novo, “[...] para nós, professores, essa mudança

de atitude não é fácil. Estamos acostumados e sentimo-nos seguros com o nosso

papel de comunicar e transmitir algo que conhecemos muito bem.” (MASSETO,

2000, p. 142).

Deve também ser levado em consideração o fato de que somente o acesso

a essa grande quantidade de informações que a nova geração possui não resolve o

problema. O professor deve servir de mediador neste processo, fazendo com que as

informações sejam interpretadas e apropriadas criticamente pelos educandos.

Dessa maneira, o grande desafio foi justamente utilizar uma ferramenta que

é conhecida como agente de distração em sala de aula, em algo útil e que possa

fazer a diferença nos processos de aprendizagem e mostrar que as Tecnologias de

Informação e Comunicação (TIC’s) podem tornar a aula mais atrativa porque auxilia

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no dialogo dos educandos com os arranjos espaciais com os quais entra em contato

no cotidiano.

Esta nova geração multitarefa que está sempre conectada, com algum som

ligado, recebendo informações simultaneamente de diversas fontes, em um ritmo

que deixaria uma pessoa de gerações posteriores extremamente estressada. Por

isso, nossos educandos não se contentam mais com o ritmo monótono das aulas de

quadro e giz ainda ao estilo do século XIX.

Partindo desta problemática, elaboramos o projeto que procurou desenvolver

um trabalho que possa ser aplicado com os educandos e que traga uma nova

perspectiva no ensino de geografia utilizando o recurso tecnológico mais disponível

em sala de aula: o celular.

O celular atualmente tem a vantagem de agregar vários recursos

tecnológicos em um único aparelho: câmera fotográfica, filmadora, gravador de voz,

acesso à internet, além de possibilitar a troca de informação entre os aparelhos via

bluetooth.

É claro que foi necessário elaborar uma nova forma de abordar a geografia

usando esta nova tecnologia pois o celular e o computador “São frequentemente

ferramentas de trabalho até indispensáveis e se tornam, cada vez mais, portadores

de uma nova maneira de pensar, pesquisar e educar”. (CARVALHO e BARBIERI,

1997, p. 19).

O trabalho foi iniciado com um levantamento para saber a disponibilidade do

celular entre os educandos das turmas a serem trabalhadas. Antes de começar o

trabalho, foi feita a conscientização sobre o seu uso educativo, de modo que não

atrapalhasse o andamento das aulas e também sobre o seu uso em outras

disciplinas. Foi levada em consideração a limitação da estrutura da rede do colégio,

um dos fatores que limitou o trabalho.

Também tivemos a preocupação de verificar se já existia um trabalho

semelhante realizado e quais seriam os resultados, pois “[...] a pesquisa desenvolve-

se ao longo de um processo que envolve inúmeras fases, desde a adequada

formulação do problema até a satisfatória apresentação dos resultados.” (GIL, 2002,

p. 17).

O trabalho foi colocado em prática justamente no momento em que estava

sendo aprovada em 24 de junho de 2014 a Lei 18.118/PR que proíbe o uso de

equipamentos eletrônicos para fins não pedagógicos em sala de aula, o que

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dificultou um pouco sua aplicação mas, no final, os resultados ainda puderam ser

considerados positivos, tanto pelo com os educandos como pela aceitação dos

professores e o apoio dado por eles no Grupo de Trabalho em Rede.

As TIC´s nos processos educativos e no ensino da Geografia

A educação hoje está passando por um momento de adaptação às novas

tecnologias. Por meio do uso das mesmas houve uma maior facilidade no

levantamento de dados, acesso à informação, produção de comunicação

instantânea e facilitada. Isso traz inúmeros benefícios, mas também traz à tona a

problemática de que passamos a disputar a atenção com celulares, tablets que, sem

dúvida, são muito mais atrativos aos educandos do que ficar copiando texto no

quadro de giz.

O celular como é um aparelho multitarefa que possibilita inúmeras atividades

ao mesmo tempo, de acordo com SEABRA (2013, p. 2):

[...] o celular é ainda um calendário de compromissos, permitindo configuraravisos para os eventos marcados (reuniões, provas, aniversários) comantecedência de minutos, horas ou dias. Bloco de anotações, planilhaseletrônicas, processador de textos, bancos de dados, mapas de sua cidadeou de qualquer recanto do país ou do planeta, com localização por satélite(GPS) [...] Navegação e pesquisa na web, tradução de idiomas, acesso aredes sociais, leitura e postagem em blogs, comunicação instantânea portexto, voz ou vídeo, além, é claro, de jogos de todos os tipos [...].

Como conseguiremos disputar a atenção de um aparelho que permite, além

de dar telefonemas, também tirar fotos, fazer vídeos, mandar mensagens, reproduzir

horas de música, executar inúmeros jogos e o principal: acessar todas as redes

sociais? Por conta do amplo espectro de uso dos celulares, entendemos que a

proibição deste aparelho vai na contra mão de uma educação mais moderna,

dialógica e atrativa para os educandos.

É claro que sempre existirá o argumento de que o celular irá facilitar a cola e

será apenas um instrumento para distrair o educando mas, de acordo com SEABRA

(2013) se houverem propostas e estratégias voltadas à sua utilização, o professor

não terá problemas em manter a atenção cognitiva em aula.

Nesse sentido, este trabalho procurou mostrar como podemos utilizar o

celular como uma ferramenta pedagógica eficiente e que traga benefícios para o

processo de ensino. Ainda mais em se tratando da geografia que tem a

responsabilidade de criar uma visão crítica no educando para que compreenda

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conceitos e a lógica da organização do espaço geográfico, para neles poder intervir,

assumindo conscientemente a responsabilidade deste processo.

Moraes (2005) explica que a Geografia contemporânea tem privilegiado o

conhecimento sobre o espaço em diferentes escalas de análise. A Geografia como

disciplina escolar prepara o educando para a leitura e compreensão do espaço

geográfico, entendido como construção histórico-social fruto das relações

estabelecidas entre a sociedade e a natureza. Mas é preciso lembrar que, durante

muito tempo, o ensino da disciplina foi marcado por uma abordagem descritiva. É

sobretudo, a partir dos anos de 1980 no Brasil que ele passou por um processo

questionamento e de renovação.

Neste processo de renovação os conteúdos sofrem uma revisão, mas a

mudança mais importante está nas formas de ensinar e aprender. Contudo, com a

transformação do meio técnico, científico e informacional há um processo que ainda

está em curso, qual seja, aquele relativo ao uso das múltiplas linguagens, das TIC’s

– Tecnologias da Informação e Comunicação no ensino de Geografia. Tais

elementos já são utilizados como diferenciais nas escolas cujos educadores estão

reinventando práticas e encaminhamentos educacionais que auxiliem a construir a

autonomia intelectual dos educandos.

A partir de nossos estudos e atuações pudemos verificar que a maior

dificuldade em utilizar as TIC’s é que a realidade de muitas escolas públicas, é muito

precária no que diz respeito à infraestrutura, somando-se com outras problemáticas

relacionadas ao contexto escolar como: insuficiente formação do corpo docente,

difíceis condições de trabalho, estrutura e qualidade dos cursos de formação inicial,

entre outras. Diante desse quadro, soma-se os resultados críticos das práticas de

ensino e aprendizagem voltadas à subalternização do educando, que se desdobram

em pouco interesse por aprendizagem. Tais elementos agravam ainda mais o

perverso percurso das desigualdades de oportunidades sociais, econômicas e

educacionais.

A inserção das tecnologias na educação não é algo recente, mas se tornou

mais intenso a partir da década de 1990, tendo que passar por um longo processo

para fazerem parte do cotidiano das escolas públicas, FARIA (2004, p. 4) aborda

essa mudança:

[…] experiências educativas com o uso da informática nas escolas euniversidades brasileiras surgiram na década de setenta, reforçadas nosanos oitenta e mais enfatizadas na década de noventa, com o surgimento

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das novas tecnologias e do apelo da mídia eletrônica. O início do novomilênio trouxe ainda maior ênfase para a utilização das tecnologias naeducação, com uma abrangência maior, surgindo a educação a distância,não só com o uso do computador mas também de outros recursos, como ateleconferência e videoconferência.

Até a década de 90 no Brasil a utilização das TIC´s se limitava ao uso de TV,

filmes, retroprojetor, foi somente a partir deste momento que o computador começou

timidamente a utilizar um espaço maior nas escolas com os projetos de educação

continuada.

Infelizmente este processo não aconteceu de forma homogênea, tendo

como foco as práticas de ensino: Kenski (2003, p. 70) aponta que na maioria das

escolas brasileiras, as tecnologias digitais de comunicação e de informação "[...] são

impostas, como estratégia comercial e política, sem a adequada reestruturação

administrativa, sem reflexão e sem a devida preparação do quadro de profissionais

que ali atuam."

Esse despreparo de condições materiais e de recursos humanos acabou

gerando uma desmotivação em muitos professores, outros acabaram criando um

medo de não dominar as técnicas e passar momentos constrangedores na frente

dos educandos, que estão acostumados com estas novas tecnologias pois já

nasceram em um mundo digital. Para que isto não aconteça FARIA (2004, p. 7)

recomenda “[...] realizar a formação continuada na própria instituição escolar

mediante reflexão compartilhada com toda a equipe, na forma de grupos de estudo."

Esta preparação é fundamental para que o professor saiba organizar suas

práticas de ensino e consiga se adequar a essa interação (professor-educando-

máquina-tecnologia-conteúdo) construindo práticas pedagógicas voltadas a uma

educação emancipadora. Neste processo os educandos devem ser estimulados a

interagir com o conhecimento e auto organizar-se, como explica Assmann (1998, p.

21) pois são geradas “[...] experiências de aprendizagem, criatividade para construir

conhecimentos e habilidades para saber acessar fontes de informação sobre os

mais variados assuntos."

Neste novo paradigma educativo, a tecnologia tem sido a “peça chave”, sem

o risco do professor ser substituído pela mesma, que é um medo recorrente entre

aqueles da linha mais tradicional. Práticas pedagógicas voltadas à autonomia

sempre necessitam de educadores que saibam fazer o adequado manejo de sala de

aula.

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O professor deve organizar o ambiente de aprendizagem, escolhendo os

recursos e aplicativos adequados para cada momento e conteúdo e, o mais

importante: organizar seu repertório de intervenções pedagógicas necessárias para

a construção de situações de aprendizagem voltadas à emancipação.

Para que o processo transcorra sem maiores dificuldades, o professor deve

utilizar os recursos que considerar necessários, conforme a faixa etária de seus

educandos, como também outras questões importantes: nível de escolaridade,

econômico, social e o conteúdo programado, pois as exigências para esse

profissional estão numa atuação como mediador, incentivador e orientador no

processo de aprendizagem.

GTR - Grupo de Trabalho em Rede

No GTR houve quatro fóruns que tinham por objetivo socializar o projeto de

intervenção pedagógica, a produção didático-pedagógica, a aplicabilidade das ações

de Implementação do Projeto de Intervenção na Escola e os encaminhamentos

metodológicos deste último na perspectiva do professor participante.

O projeto de Intervenção pedagógica propõe o uso do celular em sala de aula,

baseando-se em Seabra (2003) que defende que este tem muito mais funções além

de possibilitar fazer telefonemas, mandar ou receber mensagens de texto/ torpedos.

As diversas funções que o celular apresenta para se trabalhar em sala de aula são

abordados no fórum 1, no qual os participantes são levados a refletir e interagir entre

si, acrescentando sugestões que julguem importantes.

Para o professor participante J. V.:

"Em alguns países existe uma proibição ao uso do celular pois é uma preocupação

real, os alunos tem acesso instantâneo irrestrito à internet na escola. Como a escola

pode evitar que estes alunos tenham acesso a estes conteúdos impróprios, como

evitar o cyberbullying e como o professor vai manter a atenção deles em sala de

aula quando ele compete com mensagens e jogos? Na minha opinião são muito

mais pontos positivos no uso do celular em sala de aula, como o acesso do aluno a

uma gama de recursos: vídeos, apresentações, gravações pesquisas, fotos, jogos

para motivar a aprendizagem, redes sociais, a interação entre eles, entre outros.

Mas para que toda esta tecnologia móvel seja bem aproveitada é necessário que os

alunos sejam orientados por um professor bem qualificado."

As opiniões no fórum 1 quanto à implementação do projeto foi bastante

diversificada, os professores levantaram pontos positivos e negativos quanto ao uso

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do celular em sala de aula. Os mesmos concordam que estão competindo com o

celular, entretanto, compreendem também que proibir seria como regredir no tempo,

ir contra as transformações das tecnologias. Dessa forma, a professora S. A. B.

declara:

"Achei muito interessante esse assunto, mesmo porque o uso do celular em sala de

aula chega muitas vezes ser conflituosa a partir do momento em que o aluno utiliza

de maneira inadequada, mas, proibir não é uma forma sensata de sanar problemas,

muito pelo contrário, no meu ponto de vista é uma forma de regressão, mesmo

porque a tecnologia existe para facilitar a nossa vida e porque não utilizá-la como

instrumento de aprendizagem. O ano passado fiz um trabalho bem legal, no 1º ano

do ensino médio, onde os alunos puderam fazer uso do celular para registrar

problemas dos mais diversos no seu espaço geográfico (no bairro), enfim, após essa

pesquisa de campo fizeram apresentação para os demais. Bom, puderam

presenciar e registrar em forma de fotos problemas que nem eles sabiam que

existiam. Cabe a nós professores sabermos como aproveitar a utilização da

tecnologia para que nossas aulas fiquem mais interessantes."

Após as reflexões quanto ao projeto de Implementação, os professores

sociabilizaram no fórum 2 o uso da produção didático-pedagógica, a facilidade de

compreensão e aprendizagem, discutindo as atividades que se destacam dentro

deste processo.

Segundo o professor G. K.:

"[...] também usaria estas práticas em sala. Acho que dessa maneira os alunos se

sentiriam mais motivados e interessados, pois vivenciariam na prática, a utilização

dos recursos tão importantes para a geografia como: o GPS e as Imagens de

Satélite, além é claro, de inserir nas aulas, o contexto vivenciado pelos alunos do

litoral [....]".

A produção didático-pedagógica teve grande aceitação pelos professores

participantes, entretanto, alguns afirmam que para utilizá-las deveriam fazer ajustes

de acordo com a realidade de sua comunidade. Segundo o professor F. N. P.:

"[...] após a leitura da produção didática percebi que das duas atividades propostas,

eu utilizaria ambas, embora, a segunda como se trata de uma cidade litorânea teria

que adaptá-la para a minha região, pois moro numa cidade do interior. Vejo também

que as atividades se relacionam com a localização e conhecimentos sobre a

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natureza onde está se perdendo o princípio da observação dos fenômenos naturais

e hoje se utilizando de instrumentos para compreendê-los. Quanto ao publico que se

destina a aplicação do projeto creio que já possuem boa fundamentação no assunto

e não encontraram dificuldades em executar as tarefas, porém sempre devemos

tomar cuidado para motivá-los para que possam concluir todas as etapas e

aproveitando o máximo dessa experiência didática."

A aplicabilidade das ações de implementação do projeto de Intervenção na

escola foram socializadas no fórum 3.

Foi explanado que a aplicação do projeto iniciou-se com a contextualização

do uso do GPS e funcionamento do mapeamento, através da ferramenta Google

Earth, projetados pelo datashow.

Os encaminhamentos metodológicos sucederam com a organização dos

grupos de educandos para fazer um mosaico através da identificação das regiões

mapeadas.

Uma outra equipe formada por outros educandos, ficaram responsáveis em

realizar entrevistas com os pescadores que até o momento do fórum 3 não havia

tido retorno devido ao pequeno número de encontros realizados com os estudantes.

O quiz geográfico (jogo com perguntas e respostas) teve bastante aceitação,

os educandos tinham o objetivo de procurar as respostas no celular a partir de

questões levantadas.

Devido a grande aceitabilidade do projeto, levantou-se a possibilidade de

estendê-lo para os próximos anos.

No ambiente virtual do GTR houve grande participação dos integrantes do

grupo que sociabilizaram os encaminhamentos do projeto na sala de aula.

Segundo J. V.:

"[...] alguns professores não se sentem seguros para aplicar a tecnologia na sala de

aula. A maior dificuldade é a deficiência na formação profissional, alguns

professores sabem usar um software simples como o Power Point, mas devem

pensar seriamente em se aprimorar pois os alunos estão conectados a todo

instante."

Desta forma, percebe-se que os projetos são aceitos pelos professores,

entretanto, é necessário o aprimoramento destes, pois os educandos estão na Era

digital e conectados todo o tempo.

Para a professora C. F. C.:

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"[...] a utilização do celular em sala de aula é interessante, o que motiva nossos

alunos a trabalharem mais, procurarem resultados e transformarem suas

informações em conhecimento [...]."

De modo geral a aceitação do projeto pelos professores foi muito boa,

alguns chegaram a pedir que os resultados finais e a continuidade do projeto fossem

encaminhados para os mesmos após o final do GTR.

APLICAÇÃO DO MATERIAL DIDÁTICO

Apesar das dificuldades em se aplicar um projeto que aborde um tema tão

polêmico, acredito que o resultado geral tenha sido satisfatório, tivemos algumas

dificuldades ocasionadas por problemas técnicos, mas no final do processo os

resultados se mostraram positivos.

A primeira atividade foi sobre a tecnologia do GPS, explicamos como esta

tecnologia que surgiu como uma estratégia militar hoje contribui para o nosso

deslocamento no dia a dia, pois a maioria dos celulares já está disponível com esta

tecnologia. Com o auxílio de um data show, foi projetada a imagem do Google Earth

com o entorno do colégio, onde os educandos localizaram as áreas conhecidas e

até suas moradias. A Figura 1 a seguir apresenta a imagem trabalhada.

Partindo destas informações foram selecionadas as áreas que seriam

utilizadas para criar o mosaico. Os educandos tiraram fotos dos locais selecionados

com o celular e trouxeram os arquivos das fotos para a aula, que foram impressas e

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adicionadas ao mapa (Figura 2), mostrando os principais locais onde existem

problemas como ruas sem calçamento, alagamentos ou falta de iluminação.

A segunda atividade foi sobre a questão climática com os tipos de tempos e

clima. Como o colégio está situado em uma cidade litorânea, a atividade pesqueira é

muito intensa, e muitos educandos são filhos de pescadores e já ajudam os pais

nesta atividade.

Utilizando o recurso de filmagem e gravação de voz foi feita uma entrevista

com perguntas pré estabelecidas com pescadores que tivessem conhecimento

sobre a questão climática. Uma das entrevistas está relatada a seguir:

Entrevista com pescador residente em Matinhos/PR

01- Quais são os elementos que são levados em conta, antes de sair para o

mar, para saber se o tempo vai ser bom para pescaria?

R: Se o mar estiver calmo, pouco vento, a água estiver clara e o céu estiver

aberto é um sinal de que vai dar uma pescaria boa.

02- Utilizam apenas métodos tradicionais ou também as informações

meteorológicas da internet?

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R: Tradicional, é um conhecimento que se adquiriu ao longo do tempo da

pescaria, e por informações de pessoas mais velhas que tem mais tempo na pesca.

Um meio de informação também são os jornais da televisão para poder

saber a previsão do tempo.

03- Qual a influência das fases da lua para a pescaria?

R: A única lua que tem influência na pescaria é a lua nova, que meche muito

com as marés, deixa as marés mais agitadas que o normal.

04- O tipo de nuvem pode indicar como vai ficar o tempo durante o dia?

R: Sim, se as nuvens estiverem baixas e negras indica que vai chover e a

maré vai encher, se o céu estiver azul com poucas nuvens brancas, o tempo está

perfeito para pescar, e se estiver com muitas nuvens em cima do mar não está muito

bom, pois é perigoso se perder na neblina, causada por muitas nuvens.

05- A direção dos ventos também é usada como indicativo do tempo?

R: Sim, o vento sul pode trazer chuva, o leste pode deixar o mar agitado, e o

“vento de terra” como é conhecido o vento que vem do norte, mantém o mar calmo.

06- Quais os meses mais propícios para a prática da pesca?

R: Os meses de frio, é propício para a pesca de peixes grandes e é mais

tranquilo, pois o pescador não sofre tanto com o sol e com o tumulto de pessoas na

beira da praia, no caso para descer e subir na sua canoa, porém, meses de verão

são melhores para as vendas.

07- Quais indicativos são considerados para saber se o inverno será

rigoroso?

R: Os mais velhos acreditam que quanto mais quente o verão for, mais frio

será o inverno.

08- Quais são os sinais de que o verão vai ser chuvoso ou muito quente?

R: Como foi respondido na questão anterior, se o inverno for muito frio o

verão será muito quente.

09- Existem mitos ou rituais que envolvem as condições climáticas para

pescaria?

R: Os mais antigos dizem que quebrar um ovo deixando a gema no bico da

canoa traz mais peixes na rede.

10- A diminuição de algumas espécies pode ser causada pelas mudanças

climáticas?

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R: Sim, por exemplo, a sardinha é um peixe de inverno, no verão ela não

procria.

Partindo das informações sobre o conhecimento do clima dos pescadores foi

feita uma comparação com o conhecimento obtido através dos sites especializados,

e a conclusão que os educandos chegaram é que estes últimos podem ser

importantes para auxiliar na previsão de alguma massa de ar que possa estar

chegando ao local, mas as particularidades do clima local somente serão

compreendidas com o conhecimento e a experiência dos pescadores.

Dando continuidade ao trabalho foi feito um quiz geográfico com questões

que foram levantadas no trabalho. Para respondê-las cada grupo poderia fazer a

consulta no celular. Justamente na semana do trabalho o roteador do colégio estava

com problemas, e somente a internet 3G pôde ser utilizada, o que limitou um pouco

o trabalho. A Figura 3, a seguir, mostra os estudantes trabalhando no processo.

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Considerações finais

A caminhada do PDE teve início com os cursos preparatórios, elaboração do

material didático, tutoria do GTR e a implementação junto aos educandos, foi um

processo de dois anos que foram muito produtivos, a possibilidade de ficar um ano

afastado da sala e discutir possibilidades de ensino inovadoras com os professores

da rede estadual foi muito válido.

No GTR percebemos que a nossa angústia em relação à forma de fazer

aulas mais produtivas não é nossa apenas. A maior parte dos professores busca

estratégias de sair das formas tradicionais das aulas simplesmente expositivas.

Neste sentido, a escolha do celular como tema do projeto despertou muito interesse

nos professores participantes e nos educandos.

Quanto a utilização do celular em sala de aula, verificamos que seu uso não

fica restrito apenas a projetos bem elaborados com grande duração, é possível

utilizar o aparelho para tirar alguma dúvida que apareça durante a aula, incitando o

educando neste momento a buscar a informação.

Estes pequenos momentos funcionam muito bem, pois não precisam de toda

a preparação e a estrutura que este trabalho exigiu, necessita apenas de um

estudante com celular que tenha acesso à internet, coisa que não é difícil de

encontrar em sala de aula. Espero que com a Lei 18.118, não se restrinjam as

possibilidades educacionais que este aparelho proporciona.

No final do processo, comparando as dificuldades enfrentadas e os

resultados alcançados, acredito que sempre é positiva a utilização das novas

tecnologias em sala de aula. Não foi fácil a utilização desta ferramenta no ambiente

escolar, o principal objetivo sempre foi a motivação dos educandos. Para Moran

(2008, p. 06) “[...] essa motivação aumenta, se o professor a faz em um clima de

confiança, de abertura, de cordialidade com os alunos [...]”. Foi gratificante perceber

no final do processo que os educandos estavam mais motivados e animados com as

possibilidades do trabalho e pedindo a continuidade do mesmo.

Referências:

ASSMANN, Hugo. Metáforas novas para reencantar a educação: epistemologia

didática. 2. Ed. Piracicaba: UNIMEO, 1998.

BEHRENS, Marilda Aparecida. Projetos de aprendizagem colaborativa num

paradigma emergente. In: MORAN, José Manuel; MASETTO, Marcos Tarciso.

Novas Tecnologias e Mediação Pedagógica. 6.ed. Campinas: Papirus, 2000.

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CARVALHO, Célia Pezzolo de; BARBIERI, M.R. Formação de Professor em

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