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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOPROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
NÚCLEO DE EDUCAÇÃO DE CASCAVEL
CARLA CORAÇA POSSA
REFLEXÕES ACERCA DO ORÇAMENTO DOMÉSTICODE FAMÍLIAS DE ESCOLA PÚBLICA
Artigo Final apresentado ao Programa deDesenvolvimento Educacional – PDE, naUniversidade Estadual do Oeste do Paraná -UNIOESTE - Campus de Cascavel.Orientadora: Prof.ª Dr.ª Raquel Lehrer
CASCAVEL – PARANÁ2014
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REFLEXÕES ACERCA DO ORÇAMENTO DOMÉSTICODE FAMÍLIAS DE ESCOLA PÚBLICA
Carla Coraça Possa1
Raquel Lehrer2
RESUMO:
A educação financeira, através da matemática, tem um caráter instrumental,devendo ser entendida pelos alunos como um conjunto de estratégias e técnicasque podem ser aplicadas em outras áreas do conhecimento, como nas atividadesprofissionais. O professor passa a ter um grande desafio, que é capacitar os alunosa adaptarem a matemática em diferentes contextos, tendo na educação financeirauma grande ferramenta que, se aplicada desde cedo, pode construir as bases deuma equilibrada relação com o dinheiro na vida adulta. O orçamento familiar é umrecurso que especifica receitas, gastos e possíveis investimentos de todos oscomponentes pertencentes ao meio familiar, sendo útil ao controle e à apuração dosresultados. Como qualquer outra unidade social, a família deve estruturar-se paraatingir os objetivos, sejam eles financeiros, sociais, econômicos ou emocionais.Diante deste contexto, este trabalho tem por objetivo refletir acerca do orçamentodoméstico de famílias de Escola Pública. A temática está diretamente ligada àrealidade do aluno, por isso pretendeu-se relacionar os conteúdos matemáticostrabalhados em sala de aula à sua vida cotidiana, propondo além de resoluções deproblemas matemáticos, a reflexão sobre o consumo consciente, planejamento dasfinanças e a redução do desperdício, pois desta forma o aluno terá maiores chancesde se tornar um indivíduo consciente no que tange às suas finanças, e aliada àeducação de qualidade formaremos melhores cidadãos.
PALAVRAS-CHAVE: Orçamento doméstico; Cotidiano; Educação financeira.
1 INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o ensino da matemática vem acarretando certo
desinteresse nos alunos em participar das aulas. Isso se dá muitas vezes porque a
prática docente não passa de relações de exercícios mecânicos, ciência cristalizada,
disciplina fechada, abstrata e desligada da realidade.
Na atual conjuntura, onde o capitalismo e o consumismo imperam, a grande
oferta de bens de consumo presentes no mercado e o despreparo das pessoas em
1 Aluna do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE2 Orientadora do Programa PDE- na Universidade Estadual do Oeste do Paraná
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lidar com esta questão podem levar a resultados desagradáveis, como
desentendimentos familiares, estresse e a falta de credibilidade no mercado
financeiro.
Diante desta circunstância, tais constatações nos levaram a considerar que a
matemática financeira deve ser estudada o mais cedo possível. Em consequência,
achamos relevante realizar um estudo para integrar a matemática ao mundo real,
através de resoluções de problemas matemáticos relacionados ao cotidiano dos
alunos de 7º ano, do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Costa e Silva,
Cascavel-PR. Em especial, trabalhamos os gastos com transporte escolar, lanche,
uniforme, créditos de celular, mesada e o custo de cada filho ao pai, com o propósito
de formar a consciência crítica destes estudantes, e tendo como objetivo principal
integrar a matemática ao mundo real, através de resoluções de problemas
matemáticos relacionados ao cotidiano do aluno, em especial a economia
doméstica.
Neste contexto, segundo as Diretrizes Curriculares de Matemática-DCM da
Secretaria da Educação do Paraná-SEED, por natureza, a matemática é aplicada:
Em diversos ramos da atividade humana, cuja aplicação influencia asdecisões de ordem pessoal e social, de modo que provoca mudanças deforma direta na vida das pessoas e da sociedade. Sua importância se refleteno cotidiano de quem lida com dívidas ou crediários, interpreta descontos,entende reajustes salariais, escolhe aplicações financeiras, entre outras(Paraná, 2006, p.40).
Esta afirmação nos remete ao entendimento de que quando trabalhamos com
Educação Financeira damos condições aos alunos para entenderem o mundo
globalizado, pois o aluno deve aprender a lidar com seus gastos, evitando os
impulsos, para que possa economizar e consequentemente aumentar o seu poder
de compra, tendo a ideia de que se for organizado financeiramente poderá planejar
o seu futuro e realizar aspirações que dependem de capital, fazendo boas escolhas.
Para D`Aquino:
Educação Financeira é a capacidade, possibilidade de ensinar a criançaaqueles quatro pontos que eu uso sempre como referência. Que ela sejacapaz de aprender a ganhar dinheiro, ou seja, que ela seja capaz deresolver problemas, ganhar dinheiro é resolver problemas. Em tese, quantomaior a capacidade de resolução de problemas de alguém, maior o dinheiroque ela pode ganhar. Ensinar a criança a ser capaz de poupar: Poupar é acapacidade de planejar no tempo a realização de um desejo, se há umbenefício nesse adiamento. Ensinar a gastar dinheiro: Gastar dinheiro éfazer escolhas. Então, a educação financeira precisa fazer bom uso do
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estímulo que as crianças se apercebam das escolhas dessa fase, dasconsequências dessa escolha (D`Aquino, 2003).
A escola deve atentar-se para a evolução do mundo e orientar o aluno para a
vida, oferecendo a ele condições para se inserir no meio social. Em função das
necessidades financeiras da família, com pais que passam o dia todo trabalhando, e
também considerando a idade precoce das crianças que chegam à escola, torna-se
mais importante o papel desta na formação do indivíduo, de modo a facilitar sua
inserção no meio social.
É possível executar um projeto como a Educação Financeira na escola, pois
além de trabalhar com a matemática, a Educação Financeira possibilita a
interdisciplinaridade na sala de aula, trabalhando a formação dos valores éticos no
aluno para que possa construir dia-a-dia a sua cidadania. Assim, a Educação
Financeira, passa a ser o “fio condutor” dos conteúdos tradicionais, partindo de
situações-problemas que proporcionem análises, discussões, conjecturas,
apropriação de conceitos e formulação de ideias.
A finalidade das práticas metodológicas no desenvolvimento da unidade
didática, produzida a partir do projeto PDE 2013, no Colégio Estadual Costa e Silva,
envolveram: questões financeiras do cotidiano, como a mesada recebida pelos pais,
a aquisição de vale transporte, valor da cesta básica, valor do salário mínimo, gastos
com créditos para celular, lanche, uniforme e custo de cada aluno ao pai. Estas
atividades se ligavam aos seus conhecimentos prévios, pois os alunos eram levados
a relatar eventos do seu cotidiano, o que, como ponte, firmava a compreensão do
conteúdo explorado, o que despertou mais interesse pelas aulas.
Com isso, a metodologia utilizada entre as operações matemáticas visou
práticas e teorias aplicadas em sala de aula, questões desafiadoras, referentes a
temática discutida, com atividades que despertaram nos alunos a reflexão sobre
como lidar com as questões financeiras que envolvem a sua família, no dia a dia,
colocando estes gastos em planilhas e gráficos. A orientação os direcionou para uma
utilização e conscientização do dinheiro, em suas compras, vendas, etc., tornando
assim a matemática mais concreta para o aluno.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
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A matemática evidencia-se na vida de todo o ser humano, utiliza-se
matemática inclusive nas tarefas mais simples do nosso dia-a-dia e por ser parte da
vida de todos é que se pode afirmar que “[...] a matemática é eficaz para qualquer
pessoa, fato que justificaria sua presença no currículo escolar de todo o cidadão [...]”
(Lopes, 2006, p. 5).
Para Miguel & Miorim (2004, p. 71) é finalidade da educação matemática
fazer o estudante construir, “por intermédio do conhecimento matemático, valores e
atitudes de natureza diversa, visando à formação integral do ser humano e
particularmente, do cidadão, isto é, do homem público.” Nesta linha de pensamento
defendemos a ideia de que a matemática é fundamental na formação de cidadãos
críticos, atuantes, reflexivos e livres.
Nesta perspectiva entendemos que a referida disciplina reflete
significativamente na construção da cidadania por permitir a abertura de espaço,
dentro da sala de aula ao questionamento, a reflexão, ao desenvolvimento da
autonomia, a criatividade, o pensamento crítico e o espírito solidário, quando
propomos uma reconstrução crítica e criativa do conhecimento acumulado pela
humanidade (Kessler, 2013).
Como preconizam as Diretrizes Curriculares do Paraná:
A aprendizagem da matemática incide em criar estratégias que possibilitemao aluno atribuir sentido e construir significado às ideias matemáticas demodo a tornar ser capaz de estabelecer relações, justificar, analisar, discutire criar. Desse modo, supera o ensino baseado apenas em desenvolverhabilidades, como calcular e resolver problemas ou fixar conceitos pelamemorização ou listas de exercícios. (Paraná, 2008, p. 45). Neste sentido defendemos um aprendizado em que o estudante desenvolvasua capacidade de “interpretar e criar significados, construir seus própriosinstrumentos para resolver problemas, estar preparado para perceber estesmesmos problemas, desenvolver o raciocínio lógico, a capacidade deconceber, projetar e transcender o imediatamente sensível” (Paraná, 1990,p. 66).
A economia familiar faz parte da vida de todos os cidadãos, em vista disso é
importante que haja um conhecimento sobre ela, quanto a isso D’Aquino diz que:
A educação financeira inclui dar as crianças condições de perceberem queelas são capazes de se doar em tempo e talento. Mas tudo isso tem que serabrigado sob a convicção de que todo ganho e todo uso do dinheiro deveser regido pela mais estrita ética. É essa convicção que abre portas paratodos os outros tratamentos do assunto, todo ganho do dinheiro deve serregido pela mais absoluta ética (D`Aquino, 2003).
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A educação financeira envolve muito mais que atingir a independência
financeira, habilidade de fazer escolhas adequadas às finanças e os preceitos
contábeis. Segundo D’Aquino (2008), seu objetivo é “construir bases para que na
vida adulta esta criança venha a lidar bem com o dinheiro”.
Com base nos apontamentos dados pelos autores nos textos acima,
constatou-se que são fundamentais e indispensáveis uma boa compreensão e
estudo da matemática. Desta forma propomos estudar Educação Financeira
relacionada aos conteúdos matemáticos porcentagem e juros, através de questões
que os levem a refletir sobre o orçamento pessoal e familiar, pois o tema é parte
indispensável na formação das pessoas, visto que uma situação financeira bem
administrada, além de fortalecer o orçamento familiar, auxilia para uma melhor
qualidade de vida.
Colaborando com isso D’ Aquino afirma que:
A educação financeira, na faze de desenvolvimento, pode contribuir parauma relação equilibrada com o dinheiro, proporcionando à criança maioreschances de se tornar um adulto consciente no que tange às suas finanças ealiada a educação de qualidade formaríamos melhores cidadãos (D’ Aquino,2008, p.18).
De acordo com o Instituto de Estudos Financeiros – IEF (2014), a prática de
anotações orçamentárias é discutida como fonte de informações que geram
qualidade na efetivação do controle financeiro, pois:
Um orçamento escrito indica a existência de maior interesse pela suautilização e fornece informações de melhor qualidade. Se o orçamento nãoestá escrito (apenas na memória da pessoa), fornecendo-lhe informaçõessem uma maior precisão, sua efetiva utilidade será bem menor (IEF, 2014).
Educação Financeira não deve ser confundida com o ensino de técnicas ou
macetes de bem reger o dinheiro. Também não deve funcionar como um manual de
regrinhas moralistas fáceis. O objetivo da Educação Financeira deve ser o de criar
uma mentalidade adequada e saudável em relação ao dinheiro. Educação
Financeira exige uma perspectiva de longo prazo, muito exercício e persistência. Em
linhas gerais, uma Educação Financeira apropriada deve abarcar 3 pontos: Como
ganhar dinheiro, como gastar e como poupar.
Educação financeira não pode ser privilégio de crianças ricas ou de classe
média. É justamente às camadas menos favorecidas da população que se deve dar
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prioridade neste aspecto. É sobretudo a essas pessoas de pouquíssimos recursos a
quem se deve dar a conhecer, com urgência, como ganhar, gastar e poupar dinheiro
(D’ Aquino, 2008).
Conforme Infomoney3 (2014), é importante atentar para o fato de que elaborar
um orçamento não é garantia de que o indivíduo terá uma vida financeira melhor,
pois não basta apenas conhecer onde é aplicado o dinheiro, é preciso refletir sobre a
forma que estão sendo feitas estas aplicações.
3 IMPLEMENTAÇÃO PEDAGÓGICA
A metodologia desenvolvida com a temática, “Porcentagem: Economia
Familiar”, foi inter-relacionada ao conteúdo porcentagem, juros, consumo e
orçamento.
A implementação ocorreu no 1º semestre de 2014 em duas turmas do 7º ano
com 30 alunos cada turma, no Colégio Estadual Costa e Silva, do município de
Cascavel, estado do Paraná.
O primeiro passo foi o reconhecimento da turma, onde abordamos o tema
porcentagem, economia familiar e a importância do mesmo para a compreensão dos
conteúdos da disciplina de Matemática. No passo seguinte, repassamos aos alunos
os conceitos básicos sobre os conteúdos matemáticos a serem trabalhados:
porcentagem, razão, regra de três e proporção. Na sequência procuramos identificar,
através de um questionário com questões de múltipla escolha, que tipo de
consumidores eram os alunos e a partir dos dados levantados no questionário foram
desenvolvidas as atividades no decorrer da intervenção, a qual foi dividida em três
unidades.
Na primeira unidade foi abordado o conteúdo porcentagem, a história da
porcentagem e atividades relacionadas com o cotidiano dos alunos. Na segunda
unidade foram abordados os juros, como surgiram e o que representam na vida
social das pessoas, propondo algumas atividades que levaram os alunos a refletir
sobre o impacto dos juros na nossa economia. E por fim, a terceira unidade trouxe a
discussão sobre a economia familiar, onde os alunos passaram a entender que o
consumo consciente representa o equilíbrio financeiro para as famílias.
3Site sobre orçamento doméstico. Disponível em:http://www.infomoney.com.br/.
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Na primeira aula, iniciamos com a temática: História das Porcentagens, e na
sequência dialogamos o quanto a palavra porcentagem está presente na nossa vida
diariamente, os alunos relataram: em propagandas da televisão, jornais, anúncios,
panfletos, no comércio em geral.
Para evidenciar a prática de porcentagem de modo concreto levamos um bolo
para a sala de aula, e sem realizar a sua divisão, começamos a mostrar para eles
primeiramente o bolo inteiro, metade do bolo, um quarto do bolo, e relacionar a
porcentagem dessas partes. Durante a explicação muitos alunos relatavam: “nossa,
como é fácil”.
Na sequência foi apresentada a imagem de gráficos com porcentagens,
resultado de pesquisas com porcentagens, etc. Em seguida começamos a trabalhar
as situações problemas da unidade didática e observando sempre que se tratavam
de problemas que poderiam ter acontecido com qualquer um deles (alunos). Durante
a resolução dos problemas apresentaram-se muitos relatos sobre o comportamento
financeiro das famílias dos alunos, como: “meu pai gosta só de comprar à vista, ele
diz ter um desconto maior; minha mãe só compra a prazo e perder de vista, diz que
paga sem sentir, não precisa dispor da quantia toda de uma vez”. Outro relatou,
“meus pais só compram alguma coisa depois de muita pesquisa de preço”. Outro
falou que “um dos motivos de muita briga lá em casa é por que a minha mãe gasta
muito e desnecessariamente, e esconde do meu pai”; outro disse “a salvação da
minha família é a minha avó, não gasta com nada, ai quando precisamos de dinheiro
procuramos ela, mais pagamos um pouco de juros”.
Na unidade II, trabalhamos a História dos Juros, alguns alunos argumentaram
que “é certo cobrar juros, pois quem tem o dinheiro pode emprestar agora quem não
tem e está precisando tem que pagar os juros, é como se fosse um castigo para
quem não controla os gastos”. Particularmente, achamos essa colocação muito
importante, e percebemos que classe entendeu bem o que os colegas queriam dizer.
A partir daí começamos a resolver os problemas da unidade didática, e a cada
situação problema resolvida, tinham os comentários vivenciados por eles ou por
alguém que eles conheciam, era muito gratificante, houve uma grande participação.
No decorrer das atividades argumentamos aos alunos que a participação deles
estava quase 100%, e que poderíamos melhorar muito ainda, e o interesse
aumentava cada vez mais.
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Na unidade III, começamos com o texto: Quem é o consumidor consciente? A
partir daí começamos a discussão sobre o orçamento familiar, as despesas, as
propagandas e anúncios que incentivam o consumo sem limites. Os alunos ao
resolver as situações problemas constantemente relatavam, situações vivenciadas
em casa sobre o assunto que estávamos estudando. Houveram muitas colocações
como: “a propaganda é a alma do negócio, compra à vista ou a prazo professora?” É
muito importante ter um orçamento doméstico em casa. Ao elaborar a atividade
orçamento doméstico, percebemos que todos tiveram compreensão sobre o que são
despesas fixas, despesas eventuais, e que por mais que haja um planejamento
financeiro na família, algumas vezes os gastos podem fugir do controle.
A ideia desta atividade foi de conscientizar os alunos para que eles possam
controlar melhor o fluxo de dinheiro na sua vida, que o dinheiro não foi feito somente
para gastar, que ele pode ser separado e usado para segurança em médio e longo
prazo, assim elas terão prosperidade financeira.
Procurou-se enfatizar que é necessário saber ganhar dinheiro, gastar e
acumular, para objetivos de segurança e conforto, por isso é necessário também
fazer o dinheiro trabalhar e gerar renda, voltando a completar a sua reserva, ter ou
não ter dinheiro é uma questão de como a pessoa administra o seu fluxo ao longo
da vida.
Neste contexto, a reflexão que os alunos devem ter é de que muito da
habilidade em lidar com finanças, tanto na infância quanto na vida adulta, está no
fato de sermos capazes em distinguir o "eu quero" do "eu preciso", pois gastar em
coisas que queremos muitas vezes é maravilhoso, divertido, no entanto parte de
nossas responsabilidades, como pais e educadores, é ensinar que, no dia a dia, as
necessidades devem vir em primeiro lugar.
Os conhecimentos matemáticos oriundos da prática levaram a uma facilidade
maior de entendimento por parte dos educandos na medida em que o objetivo da
metodologia é a que se transcreve em todas as etapas da tarefa a ser realizada.
Vejamos agora como foi realizado o Grupo de Trabalho em Rede – GTR, ao
qual com a tutoria, aperfeiçoa e compartilha experiências no PDE e teve a
participação de 15 professores, dos quais todos concluíram o curso.
Este oportunizou a socialização e discussões do trabalho desenvolvido,
tendo o professor pesquisador, como tutor do grupo. O GTR foi constituído por três
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temáticas: Na primeira foi apresentado o projeto de intervenção pedagógica, onde
ocorreu a trocas de ideias e o aporte teórico da produção do trabalho.
Muitos professores acharam de grande relevância o tema, isto demonstrou-se
com os relatos dos mesmos quando disseram que é muito importante os professores
de matemática desenvolverem um olhar especial para a realidade financeira dos
nossos alunos em suas respectivas famílias. Geralmente as desestruturas familiares
se originam na falta de conhecimento financeiro na administração das despesas do
dia a dia da família.
A discussão ocorreu em torno de como auxiliar na compreensão e
interpretação dos alunos, empregando um conteúdo inerente ao seu cotidiano,
porcentagem e juros dentro do Orçamento Doméstico. Na grande maioria das vezes
os alunos não conseguem associar os cálculos matemáticos a materialidade das
situações. Entretanto, por meio dos conhecimentos relacionados com o orçamento
domésticos, contextualizamos situações do dia-a-dia, e acreditamos que as mesmas
melhoram o desempenho e aumentam o seu interesse pela matemática.
A maioria dos professores acredita ser necessário problematizar esses
conceitos para que a aprendizagem torne-se mais significativa, pois com certeza, se
conseguirmos orientar nossos alunos em relação à organização financeira, tão
necessária para vida cotidiana de todos nós, será um grande passo. Devemos
mesmo aproveitar os momentos de discussão em sala de aula e informá-los sobre
como controlar gastos. Outro ponto levantando pelos professores foi o de que
devemos trabalhar sobre o consumismo exagerado, pois muitos alunos
“enlouquecem” seus pais querendo um tênis ou um celular caríssimo, que estão fora
da realidade dessas famílias.
A segunda temática trabalhada no GTR foi a unidade Didática, em que se
discutiu a História das Porcentagens, e na sequência conversamos sobre o quanto a
palavra porcentagem está presente na nossa vida diariamente.
Os professores participantes do GTR comentaram sobre a importância de unir
a prática ao conteúdo, para a sala de aula, dando como exemplo as relações do dia
a dia com a mídia através da tecnologia, os quais relataram que foram muito felizes
ao aplicar as atividades sugeridas por esta unidade Didática, pois perceberam que
os alunos aprenderam com mais facilidade e até questionaram em casa seus pais,
os quais os desafiaram a resolver outras questões.
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Na terceira etapa do GTR houve a discussão sobre a implementação do
projeto até então, o que trouxe a discussão sobre a economia familiar, para que os
alunos sejam sensibilizados e entendam que o consumo consciente representa o
equilíbrio financeiro para as famílias. Houve a troca de relatos de experiências sobre
como montar um gráfico para o controle do orçamento doméstico com as despesas
fixas e despesas eventuais.
Os relatos nos mostram que foi de grande valia a implementação desta
unidade, muitos dos professores relataram que gostaram das atividades
apresentadas nesta implementação e que irão adota-las em suas aulas, e também
a planilha de orçamentos apresentada, segundo eles a utilização destes métodos,
tornará as aulas mais práticas, mais ligadas ao dia a dia dos alunos, fazendo deste
conteúdo algo interessante e instigador, tirando os alunos da mesmice de exercícios
repetitivos e nada estimulantes, que muitas vezes encontramos nos livros didáticos.
Uma professora comentou que concorda com a ideia de trabalhar
porcentagem disse que a unidade estava muito clara e fácil de explicar, com vários
exercícios e os mesmos relacionados com o dia a dia dos alunos.
O GTR portanto fez com que percebecemos que é urgente que eduquemos
futuros cidadãos para que compreendam que a solução de seus próprios problemas,
ou dos problemas do país, não depende exclusivamente do governo. Acima de tudo,
a Educação Financeira deve ensinar que a responsabilidade social e a ética
precisam estar sempre presentes no ganho e uso do dinheiro.
4 CONCLUSÃO
A análise global do resultado possibilitou verificar, de um modo geral, que os
alunos não tinham consciência da importância e da necessidade de se fazer o
controle do orçamento familiar, e não o faziam principalmente pela falta hábito ou por
falta de conhecimento.
Apesar do interesse dos alunos em contextualizar o que se aprende em sala
de aula com as situações do dia-a-dia, ainda há deficiência por parte das famílias
por não possuírem o hábito de executar uma gestão familiar e por isso apresentam
dificuldades, como a não confrontação com suas rendas e gastos, e a ausência
cultural de poupar para um investimento futuro. No entanto, conforme relato dos
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alunos foi de grande valor para eles o aprendizado correlacionando com o cotidiano
que vivem.
É imprescindível observar que a educação financeira vem de casa, como
qualquer educação. A família é a primeira responsável por esses ensinamentos.
Cabe à escola apenas a função de fortalecer esse ensinamento.
Contatou-se que o ensino da Matemática através da educação financeira é
um elemento fundamental para a formação tanto intelectual como social do aluno,
fazendo deste um indivíduo dotado de conhecimento, detentor da capacidade de
evoluir culturalmente, se tornando um cidadão capaz e preparado para lidar com as
mudanças da sociedade, assim sendo, indispensável o desenvolvimento da
autonomia, da criticidade, da criatividade e da capacidade de argumentação.
Sendo assim, o orçamento é instrumento de análise de decisão, o que
permite analisar as projeções das receitas e despesas, além de realizar
comparações com outros períodos.
Um dos grandes desafios da educação não é educar somente para o
presente, mas educar para que os resultados possam prosperar a longo prazo. Na
atualidade, em que ocorrem transformações inesperadas e complexas, é necessário
um enorme esforço para educar os alunos não para este mercado de trabalho, tal
como conhecemos e fomos educados para ele, mas para um mercado que muitas
vezes não podemos imaginar como será. Portanto estimular modos inovadores de
raciocínio e desenvolver o espírito empreendedor, são ferramentas eficazes na
preparação de nossas crianças e jovens para o futuro.
Diante dos fatos apresentados, verifica-se que fazer um orçamento familiar,
exige disciplina, habilidades e conhecimentos, proporcionando um resultado positivo
na saúde financeira familiar. Esperamos que este estudo contribua para a família
dos alunos no que diz respeito aos conhecimentos de controle da renda e gastos na
esfera doméstica.
REFERÊNCIAS
D’AQUINO, C. de. A importância da educação financeira. Fev. 2003. Disponívelem: http://www.psicologia.org.br/internacional. Acesso em: setembro 2014.
_____________. Educação financeira. Como educar seus filhos. Rio de Janeiro:Elsevier, 2008.
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IEF - Instituto de Estudos Financeiros. Planejamento Financeiro Familiar.Disponível em: http://www.ief.com.br/bolso.htm Acesso em 05/10/2014. INFOMONEY. Dicas de como fazer o orçamento funcionar. http://web.infomoney.com.br/suasfinanças/orçamento/família/ Acesso em outubro de 2014.
KESSLER, M.C. Competências Básicas em Matemática. O exercício de umacidadania ativa. disponível em: www.unisinos.br . acesso em março de 2014.
LOPES, W. L. Filosofia da educação matemática reflexão e pesquisa sobre aimportância do ensino de matemática. Disponível em32http://www.unimesp.edu.br/arquivos/mat/tcc06/Artigo_Washington_Lauriano_Lopes.pdf. Acesso em setembro de 2014.
MIGUEL, A.; MIORIM, M. A. História na educação matemática: propostas edesafios. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares deMatemática para Educação Básica. Curitiba, 2006.
_________. Secretaria de Estado da Educação. Departamento de Ensino dePrimeiro Grau. Currículo Básico para a Escola Pública do Paraná. Curitiba:SEED/DEPG, 1990.