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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · PAISAGEM GEOGRÁFICA Rosane Ferrari Piovesan Professora da Rede Pública de Ensino do Paraná. Concluinte do Programa de Desenvolvimento

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

PAISAGEM GEOGRÁFICA

Artigo sobre a utilização do material didático Aplicado no CEEBJA Santa Clara – Ensino

Fundamental e Médio, no Município de Mandaguari

ROSANE FERRARI PIOVESAN

DEZEMBRO/2014.

Orientador: Prof. Dr. Elpídio Serra

Artigo sobre a aplicação do Material didático, de Geografia, sobre paisagem geográfica. Foi implementado no CEEBJA Santa Clara – Ensino Fundamental e Médio, do município de Mandaguari. Seu principal objetivo foi oportunizar aos alunos acesso a conhecimentos que os levassem a entender a configuração da paisagem de sua vivência, encaminhados a partir do cotidiano para o científico e capacitá-los para nela agirem, modificarem e/ou preservá-la para obterem uma boa qualidade de vida.

PAISAGEM GEOGRÁFICA

Rosane Ferrari Piovesan

Professora da Rede Pública de Ensino do Paraná. Concluinte do

Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE na Universidade Estadual de

Maringá – UEM, Maringá – PR, [email protected]

RESUMO

O presente artigo refere-se à produção e implementação de material didático que foi desenvolvido durante o Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná no ano de 2013. Para fundamentar as atividades foram utilizados autores como Milton Santos, Bertrand e Jean Tricart, Ele visou oportunizar acesso a conhecimentos, que levassem os alunos a entender a configuração da paisagem de sua vivência, encaminhados a partir do cotidiano para o científico de forma a capacitá-los para nela agirem, modificarem e/ou preservá-la e obter uma boa qualidade de vida, além de sugerir ações pedagógicas mais significativas na área de Educação Ambiental, como por exemplo: pesquisa de campo no município de Mandaguari, filme, música, pinturas, fotografias, mapas, textos, pesquisa bibliográfica.

Palavras-chaves: Paisagem, realidade local, espaço de vivência, cotidiano, ações pedagógicas.

ABSTRACT

The present article refers to the production and implementation of a teaching material which was developed during the Educational Development Programme of the State of Paraná in 2013. In order to support the activities, authors such as Milton Santos, Bertrand e Jean Tricart, among others were used as a basis of research. It aimed to enhance access to knowledge, which would lead students to understand the configuration of their experience, forwarded from the everyday basis to the scientific one, in order to enable them to act, modify and/or preserve it and obtain a good quality of life, in addition to suggest most significant and pedagogical actions in the area of environmental education, as for example: field research in Mandaguari, movie, music, paintings, photographs, maps, texts, and bibliographical research.

Keywords: landscape, local reality, living Space, everyday, pedagogical actions.

1. INTRODUÇÃO

A educação na modalidade de Jovens e Adultos é direcionada

principalmente a pessoas que não conseguiram completar seus estudos na idade

adequada e que também apresentam dificuldades de aprendizado. São na sua

maioria, trabalhadores no período diurno, que têm somente o período noturno para

estudar.

É comum ouvir alunos declararem que não gostam de determinadas

disciplinas. O que se constata na realidade é que não se trata de gostar ou não, mas

sim de entender seu conteúdo e sua aplicação, ou seja, eles não conseguem ligar os

conteúdos à sua vida e ao seu cotidiano, pois se observa que os mesmos não

sabem relacionar o estudo da paisagem ao seu espaço de vivência.

Desse modo nós, professores da EJA, devemos estar atentos na busca pela

qualificação para desenvolver ações pedagógicas que atendam as dificuldades dos

educandos, jovens e adultos e suas experiências socioculturais.

Neste artigo, apresentamos os resultados do projeto de implementação da

unidade didática intitulada: “A paisagem Geográfica na visão do aluno do CEEBJA

Santa Clara”. O trabalho foi desenvolvido no coletivo da modalidade do CEEBJA

Santa Clara – ensino fundamental e médio, no município de Mandaguari, estado do

Paraná.

Considerando a paisagem como ponto de partida para análise do espaço

geográfico esta proposta pedagógica foi estruturada de acordo com o processo de

elaboração de material didático-pedagógico em Geografia voltado ao Ensino

Fundamental e Médio e, objetiva destacar a importância do estudo da paisagem

geográfica na visão do aluno do CEEBJA Santa Clara.

A paisagem geográfica faz parte de uma realidade que contem elementos

com características diversificadas, tanto do ponto de vista físico, biológico como

cultural. A paisagem foi construída e/ou modificada com a interferência humana no

meio natural. Os diversos usos assim como os recursos empregados na sua

construção lhe deram configurações diferentes, além de provocar alterações

positivas e negativas no ambiente.

O estudo da paisagem é considerado um componente curricular importante

no entendimento desse processo e, portanto não deve estar à parte da vida e do

cotidiano da sociedade. A educação escolar tem um papel fundamental nessa

questão, pois por meio da conscientização se pode estabelecer conexão entre o

conhecimento científico adquirido e o historicamente construído.

Convém ressaltar que há várias abordagens e possibilidades para se

organizar tais atividades. Optamos por enfocar a paisagem do município de

Mandaguari, pois nos referimos à sua localização, características gerais e o espaço

dos sujeitos (alunos) atendidos, ou seja, o espaço de vivência, a paisagem que os

alunos observam em seu cotidiano.

Este trabalho apresenta a análise da implementação do material pedagógico

de Geografia, que trata sobre a paisagem geográfica. O material foi produzido com o

objetivo servir de orientação em aspectos não contemplados em grande parte dos

livros didáticos adotados no ensino básico.

Para o desenvolvimento das atividades da produção didática e atingir os

objetivos propostos utilizou-se enquanto metodologia, a análise do material

fotográfico do acervo do fotógrafo Carl Warner, o quadro de Tarsila do Amaral:

Paisagem de Touro, música como, por exemplo: “Paisagem de Janela”, de Flávio

Venturini, imagens e fotos. A interpretação e a análise dos resultados permitiram um

confronto entre o saber que o aluno possuía sobre os conceitos geográficos e com

um saber mais elaborado e contextualizado. Assim, os alunos conseguiram

identificar os elementos naturais e culturais nelas existentes e observar que estas

são modificadas de acordo com os interesses existentes na sociedade em cada

momento histórico. A apresentação de sua execução e os resultados de algumas

dessas ações serão relatadas no transcorrer deste artigo.

Durante sua execução observou-se que o encaminhamento dos conteúdos

relacionados a este e outros assuntos pode produzir melhores resultados quando

feitos de forma articulada entre os conhecimentos científicos formais e os

conhecimentos não formais, e que é importante a utilização de recursos e meios

disponíveis, como a informática, imagens, gráficos, tabelas e outros meios de

comunicação e transmissão do conhecimento.

Um dos papeis do ensino de Geografia é o de contribuir para uma visão

ampla do conhecimento possibilitando melhor compreensão do mundo físico e

construção da cidadania, colocando em pauta na sala de aula, conhecimentos

socialmente relevantes, que façam sentido e possam integrar à vida do aluno.

O uso de recursos diversos que abordem a realidade local, como por

exemplo, as constatações “in loco”, as pesquisas de campo, indicadores e textos,

permitem aos alunos entender e perceber de maneira mais adequada e

sistematizada os modos de produção do lugar em que vivem. Trata-se de construir o

conceito científico, no imaginário infantil, partindo da realidade em, alargando e

modificando este conhecimento auto construído por meio da que estão inseridos.

Devemos, no processo de ensino e aprendizagem, criar condições para que

os alunos realizem a leitura da realidade local tendo como referência o que ocorre

mundialmente, pois vivemos em uma sociedade globalizada.

Quando se tem uma visão das realidades locais e dos diferentes modos de

produção, tanto dos aspectos naturais como dos socioculturais é possível fazer uma

análise escalar que possibilite a compreensão da escala global. Essa análise em

múltiplas escalas, em conjunto com informações e conceitos garante aos alunos a

compreensão científica.

Vygotsky (1993) enfatiza que a ação de qualquer ser humano antecede a

linguagem, portanto, o aluno aprende por meio de suas experiências.

Acreditando nisso confeccionou-se um material didático pedagógico para, a

partir dos significados das realidades locais, os alunos poderem compreender os

fenômenos que acontecem em escala regional, nacional e mundial, e assim

produzirem conhecimentos imprescindíveis à sua atuação como cidadãos.

Neste artigo, será apresentada uma experiência didático-pedagógica, cuja

metodologia baseia-se no desenvolvimento dos conteúdos de Geografia a partir da

produção local. Esta proposta é baseada em estudo feito durante o

desenvolvimento das atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional do

Estado do Paraná do ano de 2013.

A seguir discutimos sobre o processo de aprendizagem em Geografia para,

em seguida apresentarmos um relato de como se deu a implementação do material

didático produzido.

2. REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO DE APRENDIZAGEM

Na prática escolar são inúmeras as realidades e experiências com os quais

nos deparamos. Entre elas cabe destacar algumas deficiências no aprendizado dos

alunos, onde estes apresentam certas dificuldades no que tange ao ensino da

Geografia, principalmente quando este exige reflexão sobre os acontecimentos

cotidianos e do mundo.

O ensino de Geografia, como as demais ciências que fazem parte do

currículo de ensino fundamental e médio, procura-se desenvolver no aluno a

capacidade de observar, analisar, interpretar e pensar criticamente a realidade tendo

em vista a sua transformação, por isso é necessário para a formação critica do

cidadão, uma vez que trata de um,

[...] ensino que busque incutir nos alunos uma postura crítica diante da realidade, comprometida com o homem e a sociedade; não com o homem abstrato, mas com o homem concreto, com a sociedade tal qual ela se apresenta, dividida em classes com conflitos e contradições. E contribua para a sua transformação. (OLIVEIRA 2003, p. 143).

Logo, através do ensino de Geografia, o educando poderá formar uma

consciência espacial, raciocínio geográfico, conhecer o espaço suas desigualdades

e contradições. Essa consciência espacial vai além do conhecer e localizar, ela inclui

analisar, sentir de modo a poder não apenas compreender as relações socioculturais

e o funcionamento da natureza às quais historicamente pertence, mas também

conhecer e saber utilizar uma forma singular de pensar sobre a realidade, ou seja, o

conhecimento geográfico.

Dada a importância e o significado do conhecimento geográfico nos dias

atuais, o estudo das paisagens locais é o objeto de estudo deste trabalho, cuja

finalidade é oportunizar ao educando um repensar sobre a importância do estudo da

paisagem em geografia na tentativa de vencer desafios ou simplesmente transpor

obstáculos e refletir sobre o insucesso e buscar um proceder mais criativo e mais

próximo do educando.

O professor de Geografia tem a missão de resgatar o cotidiano do educando,

estabelecer relação entre os conteúdos ensinados considerando que pelas

experiências vivenciadas em sala de aula, onde se observa que a dificuldade do

aluno é de estabelecer uma relação entre alguns conhecimentos não formais e

científicos, concluiu-se que se fazia necessário adotar um método de ensino que

estabelecesse essa relação.

O que se buscou foi um ensinamento que considerasse os interesses

individuais e que apresentasse significado nas ações. Para tanto foi adotada uma

organização de atividades de forma que as necessidades individuais e sociais dos

alunos seriam contempladas e os conteúdos trabalhados de forma clara, para que

eles pudessem descobrir a sua utilidade em suas vidas e nas das pessoas que

fazem parte de sua comunidade. Para que o ensino seja realmente eficaz, é preciso

que ele faça relação com a vida do aluno. Os conceitos não podem ser dados de

maneira separada.

Assim sendo, consideramos que o trabalho do professor deve ser o de fazer a

ligação do conhecimento teórico para o visível, ou seja, a relação do conhecimento

científico para a prática, e dar sentido a este.

Nesse sentido Duarte (2001) afirma:

O processo de apropriação do conhecimento surge, antes de tudo na relação entre o homem e a natureza, e ao mesmo tempo também ocorre o processo de objetivação, ou seja, o de colocar em prática aquilo que foi aprendido – tornar objetivo (ação) àquilo que era subjetivo (teoria) (DUARTE, 2001, p. 117).

Além disso, deve ser considerado que:

O objetivo a ser alcançado com a educação escolar não é o de formar um indivíduo que possua determinados conhecimentos, mas um indivíduo disposto a aprender aquilo que for útil à sua constante adaptação às mudanças do mercado globalizado (DUARTE, 2001, p. 116).

Nesta mesma linha de pensamento Paulo Freire (1988), ensina que a leitura

da realidade antecede os domínios dos códigos da leitura. É mais difícil de ser

realizada por serem criadas por diferentes civilizações, em tempos diversos. Mas

está presente nos conhecimentos das pessoas, e devem, portanto ser aproveitados.

Nesse sentido, ressalta Cavalcante (1998) que é importante considerar, no

ensino, os elementos presentes nas representações de professores e alunos. A

autora considera, portanto que, por meio desses elementos, pode se ampliar e

estender o conhecimento para além do dia-a-dia do educando.

3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Nos procedimentos metodológicos as atividades desenvolvidas com os

alunos foram executadas em etapas conforme descrição a seguir:

3.1. Primeira etapa

A primeira etapa teve como objetivo investigar a percepção dos alunos sobre

a Geografia.

Considerando os conteúdos ensinados em geografia e como alcançar a

compreensão dos alunos sobre eles deu-se inicio as atividades realizando um

levantamento para estabelecer sua percepção sobre a disciplina.

Os alunos foram mobilizados no sentido de responder a questões como: o

que a Geografia estuda? Quais conteúdos eles já estudaram e quais tinham

gostado? As respostas foram as mais diversas, por exemplo, com relação ao estudo

da Geografia, ficou clara a ideia de lugar, que é um “estudo sobre os mapas, saber

os continentes, que é a matéria que ensina sobre os países, para decorar nomes de

rios, que aprende sobre lugares, ela estuda a rosa dos ventos, se vai chover ou não,

tudo isso tem a ver com a Geografia”.

Na sequência, discutiram-se os conceitos básicos estudados em Geografia,

começando pelo espaço geográfico, paisagem e sua importância. Também foi

situado o espaço geográfico objeto do estudo, ou “campo de estudo – Mandaguari.”,

constante no material didático produzido onde foi feito um histórico do município de

Mandaguari contendo informações, que serviram de base para o desenvolvimento

da proposta de intervenção.

Como resultado dessa atividade se obteve diversos registros fotográficos, dos

quais se destaca, entre outros, os seguintes:

As fotos acima registram o município de Mandaguari no ano de 1951e as

primeiras casas, que foram construídas na atual Vila Vitória. O povoado foi

denominado inicialmente de Lovat e posteriormente de Mandaguari.

No aspecto social se obteve também o registro de uma procissão realizada no

município e a edificação da Igreja Matriz.

No setor de transporte os alunos puderam observar o registro da chegada do

trem e a estação ferroviária do município.

Fonte: Artigo Original: http://mandaguarigeral.blogspot.com/2011/09/fotos-historicas-de-mandaguari.html#ixzz34jldEbiL

Acesso: 15-06-2014. Horas: 16:20

Os alunos sentiram-se incentivados a participar quando constataram que a

aquisição do conhecimento por meio da prática torna o aprendizado mais cativante,

interessante e contribui para sua melhor assimilação.

3.2. Segunda etapa - Dinâmica físico-natural da paisagem

Tendo por objetivo investigar como o aluno observa e compreende o

significado de paisagem natural e humanizada e o estabelecimento de sua

importância, considerando que a paisagem está para a Geografia como a primeira e

mais rápida apreensão que se pode ter sobre um determinado espaço; que no

ensino da Geografia a leitura da paisagem requer uma alfabetização geográfica, que

seu estudo deve começar pela observação e identificação de seus elementos até

atingir seus processos mais complexos para construção de um pensar geográfico;

que se trata de um estudo onde os conteúdos ensinados não são meramente

teóricos, descritivos, que superem o ensino vazio e sim ligado à vida das pessoas a

partir da valorização dos espaços de vivência e das relações cotidianas das pessoas

é que essa atividade foi implementada.

Com a utilização de recursos como a TV, pen-drive e com a sua observação e

discussão se esperava que o aluno passasse a ter noção do conceito de paisagem

natural e paisagem cultural.

Como ponto de partida para estabelecimento da capacidade de observação

dos alunos no que diz respeito especificamente a dinâmica da paisagem – seus

conceitos e elementos – se realizou alguns questionamentos, como por exemplo: O

que é paisagem? Quais os elementos constituem as paisagens? Além disso,

solicitou-se que fizessem uma pintura representando uma paisagem natural e uma

paisagem humanizada. Durante a atividade os alunos foram orientados a se

utilizarem do giz de cera ou lápis de cores, pois alguns de início se mostraram em

dúvidas quanto as cores utilizadas para o desenvolvimento do trabalho.

A atividade foi executada com bastante interesse e atingiu o objetivo proposto.

Após concluir as atividades os alunos foram convidados a organizar um painel com

as imagens para serem exposto no pátio da escola para que todos possam

compartilhar do trabalho organizado. Alguns ficaram deslumbrados com a sua

paisagem pintada.

3.3. Terceira etapa - Geografia e Arte.

Nessa atividade o objetivo foi o de reconhecer a paisagem expressa em obras

de Arte, e/ou utilizar de recursos como quadros e pinturas para analisar a paisagem

e seus elementos.

A Geografia para se obter uma primeira análise do espaço geográfico utiliza-

se da paisagem. Porém, não é exclusividade da Geografia estudá-la; outras áreas

do conhecimento também o fazem podendo inclusive ajudar em sua melhor

compreensão.

Um exemplo disso ocorre na relação interdisciplinar com a disciplina de Arte.

As obras de arte como as pinturas podem retratar muito bem as paisagens naturais,

como florestas, montanhas, rios entre outros, ou construídas pelo homem, cidades,

pontes, monumentos, plantações, estrada assim como culturais.

Para o desenvolvimento da atividade de interpretação da paisagem geográfica,

iniciou-se com o quadro de Tarsila do Amaral denominada de “Paisagem com Touro“

cuja imagem retrata paisagem.

Durante a apresentação da obra foi um momento de grande descontração,

pois todos acharam o boi muito engraçado, estranho, com chifres grandes, corpo

deformado. Indagaram alguns: “Professora será que ele faz academia? Está

musculoso, engraçado mesmo”.

Em seguida foi entregue aos alunos folha de papel em branco para que cada

um representasse a obra observada da maneira como a viu e entendeu. Nesse

momento houve um alvoroço geral, pois muitos diziam: “professora eu não sei

pintar..... desenhar menos ainda” “ professora é aula de Geografia ou Arte”?

Por fim depois de passar a euforia, o trabalho foi realizado com empenho,

dedicação e motivação. Produziram trabalhos interessantes, alguns chegaram a

afirmar: “ sou melhor artista que a própria Tarsila do Amaral”

Os resultados obtidos nessa atividade foram considerados positivos e

percebeu-se que ocorreu a aprendizagem.

3.4. Quarta etapa - conhecendo a paisagem por meio da fotografia

Nessa etapa buscou-se promover a articulação entre imagens (fotos) na

promoção do estudo da paisagem.

A fotografia proporciona usos variados. Permite observar as características do

momento histórico em que ela foi feita, pode fornecer pistas dos costumes de uma

época e as mudanças na paisagem, que poderão ser observadas a partir de

comparações com imagens de períodos diferentes. É um importante instrumento de

ensino-aprendizagem, pois auxilia indicando maneiras pelas quais se pode olhar a

paisagem e permite ao aluno conhecer o mundo além da sala de aula.

Durante esta atividade foi solicitado aos alunos que trouxessem fotos do seu

local de moradia, que retratassem o antes e depois, ou seja, uma foto de um local na

situação atual e outra retratando a situação em anos anteriores. De posse desses

registros foi possível estabelecer as transformações ocorridas na paisagem e as

possíveis causas que promoveram as mudanças.

Foi uma atividade que requereu um trabalho de pesquisa junto a documentos

históricos do município e ou pioneiros, pois muitos alunos, sendo moradores atuais

no município, tiveram dificuldades para obtenção das fotos antigas.

Após a análise comparativa das fotos no município foi apresentado um

acervo de produções de Carl Warner, fotógrafo britânico que retrata paisagens

utilizando-se de produtos comestíveis, como pode ser observado no site disponível

em:

www.bbc.co.uk/.../2011/.../111218_galeria_paisagens_comida_jf_cc.sht.,veja.abril.c

om.br/blog/.../paisagens-sensacionais-feitas-com-comida.

Com base nessas imagens realizou-se sua análise e discussão a partir dos

seguintes questionamentos: Como o conteúdo paisagem geográfica está presente

nestas fotos?; Como analisar aspectos geográficos numa paisagem feita de

comida?; Quais são os elementos naturais que podem ser identificados na

paisagem?; Qual a relação entre a foto e a agricultura?; Como podemos identificar a

paisagem feita de comida com aspectos físicos, econômicos e sociais estudados na

Geografia?

Com esses encaminhamentos buscou-se identificar o conhecimento dos

educandos e auxiliá-los na compreensão, que a princípio é muito comum, a

definição de paisagem terrestre como sendo a constituição de todos os elementos

naturais e sociais, combinados entre si.

3.5. Quinta etapa - A música no Ensino da Geografia.

Outra ferramenta considerada importante recurso didático-pedagógica nas

aulas de Geografia é a música. Nessa atividade ela foi utilizada para identificar

alguns elementos das paisagens e estabelecer mudanças e permanências ao longo

de sua história. Nela, assim como também nas imagens, podem ser observados os

elementos não visíveis, ou seja, aqueles identificados pela percepção.

Para essa atividade foram utilizadas composições musicais, caso de

“Paisagem de Janela”, de Flávio Venturini, interpretada por Milton Nascimento, com

o objetivo de entender, por meio dela, como alguns elementos podem ser obtidos a

partir da observação da paisagem em uma janela.

A música foi apresentada com a exibição de clipe obtido no Youtube. Após a

apresentação fizeram um momento de reflexão e análise. Em seguida foram

convidados a reler a letra da música e fazerem um exercício de aplicação, que

consistiu em olhar pela janela da sala de aula, ou de sua casa e descrever os

elementos, destacando a paisagem observada, identificar como ela está organizada,

levantando hipóteses sobre as causas e consequências das transformações

constatadas e finalmente a que conclusão se pode chegar.

A música é uma linguagem que está presente no cotidiano das pessoas. Por

isso pode e deve ser inserida no processo educativo em qualquer área do

conhecimento. É um bom recurso incentivador e ótimo elemento educativo no

processo ensino-aprendizagem.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escola e em especial o ensino de Geografia têm um papel imprescindível

para aproximar os alunos aos conteúdos escolares, despertar para esse olhar crítico

sobre a paisagem é buscar a compreensão do mundo e das sociedades que com ele

se interagem.

No presente trabalho, se observou que alguns alunos conheciam conteúdos e

conceitos referentes ao tema “paisagem”, embora frequentemente equivocados ou

distorcidos. Suas concepções estavam baseadas no senso comum, ou seja, tinham

um conhecimento prévio desvinculado do conhecimento geográfico. Alguns fatos

chamaram a atenção, como as formas dos os alunos perceberem a paisagem, na

grande maioria das vezes relacionando-a com a natureza; onde o ser humano não é

destacado: “ Paisagem pra mim é algo bonito, que deus criou, desenho belo com

rios, há árvores, pássaros e flores.”, ”Paisagem é uma pintura num quadro muito

bonita”.

Com essas considerações se constata que é fundamental na organização e

seleção dos conteúdos serem consideradas as diferentes realidades vivenciadas,

conhecidas e concebidas pelos alunos e que representem significado para eles.

Sendo assim, a seleção dos conteúdos de ensino e também a metodologia

devem considerar que o perfil traçado dos alunos da modalidade de ensino EJA, é

formado por jovens e adultos com idades, vivências profissionais, condições

socioeconômicas, histórico de vida e visão de mundo muito peculiar, com vivência

ampla e com vida cotidiana repleta de informações ricas e preciosas, que devem ser

aproveitadas no ensino da Geografia.

Após o desenvolvimento das atividades que duraram cerca de quatro meses

letivos, observando os textos e desenhos produzidos pelos alunos, constata-se a

apropriação de conceitos espaciais na leitura da paisagem. A implementação da

atividade deu motivação às aulas, levando os alunos a refletir e pensar criticamente,

permitindo assim a construção do conhecimento. Os alunos foram receptivos e

ativos durante a prática pedagógica, concluindo-se que estes desenvolveram

satisfatoriamente conceitos essenciais à geografia.

Todo o trabalho foi executado com a ajuda das equipes administrativa e

pedagógica da escola, que não mediram esforços para que tudo fosse realizado com

êxito.

5. REFERÊNCIAS

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veja.abril.com.br/blog/.../paisagens-sensacionais-feitas-com-comida. Acesso em 12- 10-2013 às 16:05 h.

WARNER, Carl.http://www.carlwarner.com/ galeria_paisagens_comida.