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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
AS CONTRIBUIÇÕES DE VAN HIELE NA ELABORAÇÃO DE UMA SEQUENCIA
DE ATIVIDADES PARA O ENSINO DOS QUADRILÁTEROS
Rosalire Terezinha da Silva.
Prof da Rede Estadual de Ensino
Marcia Maioli
Prof do Departamento de Matemática da UEM
Resumo
O presente artigo faz uma abordagem sobre o ensino dos quadriláteros
utilizando as orientações descritas por van Hiele para o ensino da geometria. A
teoria de van Hiele descreve cinco níveis de compreensão que informam as
características do processo do desenvolvimento do pensamento geométrico. Nesse
aspecto propõe-se uma sequência de atividades envolvendo quadriláteros, de
maneira que se respeite o nível do pensamento geométrico em que o aluno se
encontra. Para a compreensão dos níveis do pensamento geométrico, utilizaremos
algumas propriedades que caracterizam o modelo. Pois além de muito significativas,
podem orientar o professor na tomada de decisões quanto ao ensino. Como
resultado alcançado com a realização desse trabalho, pode se dizer que houve
mudanças tanto no comportamento didático pedagógico do professor, quanto no
envolvimento dos alunos. Observou-se que em relação à compreensão dos
conteúdos trabalhados os alunos demonstraram-se mais autônomos e produtores
do próprio conhecimento.
Palavras- chave: Ensino da geometria; Quadriláteros; Teoria de van Hiele
INTRODUÇÂO
Constatamos que nossos alunos apresentam dificuldades na compreensão
dos conceitos geométricos. Talvez tais dificuldades sejam decorrentes da forma em
que a maioria de nós professores trabalhamos os conteúdos de geometria, tendo
como apoio apenas os livros didáticos. Temos observado que desta forma não
conseguimos o nível de aprendizagem esperado dos nossos alunos. Podemos
comprovar essa deficiência na nossa prática pedagógica quando nos deparamos
com os resultados das nossas avaliações diárias. Outro ponto bastante visível são
os poucos acertos conseguidos pelos alunos em questões envolvendo geometria, na
Prova Brasil, Enem e outras avaliações que acontecem no âmbito da própria escola.
Alguns fatores acabam contribuindo para uma defasagem no ensino da
geometria, por exemplo: o despreparo metodológico do professor, e o tempo
insuficiente para trabalhar os conteúdos de geometria na sua totalidade, pois
geralmente são deixados para ser trabalhados no final do ano letivo.
Ao considerar as dificuldades acima mencionadas, proponho desenvolver
meu projeto de intervenção pedagógica, utilizando uma proposta de ensino que
venha auxiliar minha prática no ensino da geometria.
Com a intenção de melhorar a prática pedagógica ao ensinar geometria,
pretendo trabalhar com uma sequência de atividades envolvendo quadriláteros
amparada na Teoria de van Hiele. Tal teoria apresenta como idéia básica, que a
aprendizagem da geometria acontece passando por níveis graduais de pensamento.
Nesse modelo van Hiele afirma que o aluno só pode alcançar o nível de pensamento
seguinte passando pelo anterior. Cada nível tem sua linguagem própria, e esses
níveis nada tem a ver com a idade ou maturidade do aluno. O modelo mostra que é
possível levar o aluno a representar novos conceitos com melhor entendimento da
geometria se considerarmos seus níveis de compreensão.
Além de fornecer uma compreensão daquilo que há de específico em cada nível de pensamento geométrico, os van Hiele identificaram algumas generalidades que caracterizam o modelo. Essas
propriedades são particularmente significativas para os educadores, pois podem orientar a tomada de decisões quanto ao ensino (MONTGOMERY,1994, p.4).
É preciso refletir sobre nossa prática pedagógica, conhecer como nosso aluno
aprende, e entender que podemos facilitar a aprendizagem do nosso aluno,
dificultar ou até mesmo impedir que ele aprenda.
É possível que a forma como, organizamos as atividades possa contribuir
para desinteresse dos alunos, tornando a aula maçante e pouco atrativa.
Nessa perspectiva indaga-se, como ensinar geometria de forma
interessante, para que o aluno tenha um bom desempenho na construção dos
conceitos geométricos, mais precisamente, neste trabalho, nos conceitos e
propriedades relativos aos quadriláteros.
Com a proposta de minimizar as dificuldades citadas busca-se com esse
trabalho adquirir conhecimentos que possam orientar a seleção e organização de
atividades para conteúdos de geometria. A proposta neste trabalho é selecionar
atividades que respeitem os níveis de desenvolvimento do pensamento geométrico
dos alunos. A teoria de van Hiele nos embasará na identificação desses níveis.
Escolhi os quadriláteros por se tratar de um conteúdo abordado nas
séries com as quais trabalho.
Segundo pesquisadores que se baseiam na teoria de van Hiele, na
formação de conceitos geométricos existe um avanço entre os níveis de
desenvolvimento do pensamento geométrico. Porém isso só é possível se
proporcionarmos ao nosso aluno uma sequência de atividades que obedeçam a
hierarquia desses níveis.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA/REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Os Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática (PCN), criticam a
prática tradicional do ensino da matemática que consiste na apresentação oral dos
conteúdos pelo professor, partindo de definições, exemplos e demonstrações de
propriedade seguidos de listas de exercícios para fixação, como se o aluno
adquirisse conhecimento pela reprodução. A reprodução correta pelo aluno seria
um sinal que houve aprendizagem.
Essa prática de ensino tem se mostrado ineficaz, pois a reprodução correta pode ser apenas uma simples indicação de que o aluno aprendeu a reproduzir alguns procedimentos mecânicos, mas não apreendeu o conteúdo e não sabe utilizá-lo em outros contextos (PCN, 2007, p.30).
Ainda de acordo com os PCN, a medida que se restabelece o papel do aluno
diante do saber, o papel do professor que ensina matemática também deve ser
redimensionado. Para uma nova proposta de trabalho deve-se considerar o aluno
como agente da aprendizagem. O papel do professor toma dimensões como
organizador e consultor no processo da aprendizagem. O que se pretende nesse
trabalho é aprimorar nosso papel de organizador nesse processo.
Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Matemática do
Paraná (2008), a aprendizagem da matemática consiste em criar estratégias que
possibilitam ao aluno atribuir sentido e construir significado às ideias de modo a
tornar-se capaz de estabelecer relações, justificar, analisar, discutir e criar.Desse
modo, supera o ensino baseado apenas em desenvolver habilidades, como calcular
e resolver problemas ou fixar conceitos pela memorização ou lista de exercícios.
Podemos observar as mais diferentes formas geométricas a nossa volta.
Algumas dessas formas estão presentes na natureza e outras são resultados da
ação do homem. É comum encontrarmos relações e conceitos geométricos
incorporados à nossa linguagem, idéias e valores estéticos, e na organização que
damos aos objetos (FONSECA, et. al, 2002).
O ensino da geometria permite o entendimento e a visualização do espaço, a
exploração das formas e a capacidade de representá-las através do desenho e
construção dos sólidos além de desenvolver habilidades importantes em outras
áreas do conhecimento. Ainda oferece oportunidades para que o aluno possa
investigar, descrever e compreender as propriedades e conceitos geométricos.
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais:
O pensamento geométrico desenvolve-se inicialmente pela visualização: as crianças conhecem os espaços como algo que
existe ao redor delas. As figuras geométricas são reconhecidas por suas formas, por sua aparência física, em sua totalidade, e não por suas partes ou propriedades (BRASIL,1997, p.127).
Para Dobarro (2010), o ensino dos conceitos geométricos tem por objetivo
interferir na formação de capacidades intelectuais, na estruturação do pensamento e
no desenvolvimento do raciocínio dedutivo do estudante.
O indivíduo que domina o conhecimento geométrico é capaz de estabelecer relações e conhecer maneiras de como os conceitos e relações são utilizadas, ou seja, os procedimentos aprendidos, entre eles as destrezas em geometria, como desenhar, planificar, usar nomes corretos, visualizar transformações em figuras, generalizar os conceitos para outros tópicos da Matemática e para situações do dia-a-dia (VIANNA, apud DOBARRO; BRITO, 2010, p.35).
Dobarro (2010), concordando com Viana, afirma que nas tarefas de
geometria, os alunos se diferenciam quanto ao conhecimento que possuem, seja
relativo aos conceitos ou procedimentos. Nesse aspecto o modelo de van Hiele
contribui para que essas diferenças sejam compreendidas.
A teoria de van Hiele para o pensamento em geometria foi criado por Pierre
van Hiele e sua esposa Dina van Hiele-Geoldof, tendo por base as dificuldades
apresentadas por seus alunos holandeses. Ele estudou a maturidade de
pensamento de estudantes em geometria tendo sugerido que esses alunos
progrediam através de uma sequência hierárquica dos níveis de compreensão
enquanto aprendiam geometria (CROWLEY,1994).
Van Hiele, em 1995, descreveu cinco níveis, com maior ênfase no que ele
descreveu como nível visual ou básico. Percebeu que as ações, no patamar do
pensamento visual, são muito importantes para o desenvolvimento do pensamento
geométrico. A experiência também é fator fundamental para o desenvolvimento de
um nível de pensamento, para outro mais elevado (CROWLEY,1994).
Segundo Nasser (2010), o progresso entre, e nos níveis, não ocorre num
período curto de tempo. É necessário o amadurecimento nas estratégias, objetos de
estudo e linguagem próprias de cada um dos níveis. O avanço de um nível para o
seguinte se dá através da vivência de atividades adequadas e cuidadosamente
ordenadas pelo professor. Portanto, a elevação de nível depende muito mais de uma
aprendizagem adequada do que a idade ou maturação, destacando o papel do
professor. Cabe ao professor selecionar atividades que o aluno deve vivenciar para
que avance para o nível seguinte.
O modelo de van Hiele é um guia para a aprendizagem, e um instrumento
para a avaliação das habilidades dos alunos em geometria. Os cinco níveis de
compreensão informam quais são as características do processo de pensamento
dos alunos em geometria ( ALVES, 2010).
Segundo van Hiele cada nível é caracterizado por relações entre os objetos de estudo e linguagem próprias. Consequentemente, não pode haver compreensão quando o curso é dado num nível mais elevado do que o atingido pelo aluno. E sugere cinco níveis hierárquicos, no sentido de que o aluno só atinge determinado nível de raciocínio após passar por todos os níveis inferiores (NASSER,1998, p.4).
O quadro a seguir relaciona os níveis de van Hiele e suas características:
Quadro 1: níveis de van Hiele.
Nível de van Hiele Características Exemplo
Básico: Reconhecimento ou visualização
Identificação, comparação e nomenclatura de figuras geométricas, com base em sua aparência
Classificação de quadriláteros (Recorte) em grupos de quadrados, retângulos, paralelogramos, losangos e trapézios.
Nível 1: Análise
Análise das figuras em termos de seus componentes, reconhecimento de suas propriedades e uso dessas propriedades para resolver problemas.
Descrição de um quadrado através de suas propriedades: 4 lados, 4 ângulos retos, lados iguais, lados opostos paralelos.
Nível 2: Síntese ou dedução informal
Percepção da necessidade de uma definição precisa, e de que uma propriedade pode decorrer de outra; argumentação lógica informal e ordenação de classes de figuras geométricas.
Descrição do quadrado pelas propriedades mínimas: 4 lados iguais e 4 ângulos retos. O retângulo é um paralelogramo, pois também possuis os lados opostos paralelos.
Nível 3: Dedução formal
Domínio do processo dedutivo e de demonstrações; reconhecimento de condições necessárias e suficientes.
Demonstração de propriedades dos triângulos e quadriláteros usando a congruência de triângulos
Nível 4: Rigor
Estabelecimento de teoremas em diversos sistemas comparação do mesmo.
Estabelecimento e demonstração de teoremas em uma geometria finita.
(Fonte: Nasser, 1998, p.5)
Os van Hiele assinalam que, numa sala de aula, cada aluno pensa em
diferentes níveis e, além disso, apresentam modos de pensar diferente dos
professores (ALVES,2010).
O modelo criado por van Hiele, orienta o professor como melhorar o ensino da
geometria, contribuindo para que o aluno tenha um bom aproveitamento na
aprendizagem dos conteúdos de geometria. Proporciona ao professor condição
identificar formas de raciocínio do aluno, verificando em que nível ele se encontra,
se o professor identificar que o aluno se encontra em um nível inferior aos demais da
turma, ele tem subsídios para levar o aluno a avançar seu nível de compreensão
(SILVA; CANDIDO, 2007).
Crowley (1994) descreve que o progresso ao longo dos níveis, acontece
muito mais pela orientação dada pelo professor, que pela maturidade ou idade do
aluno. Para tratar estas questões os van Hiele propuseram cinco fases de
aprendizagem: interrogação, orientação dirigida, explicação, orientação livre, e
integração.
Alves (2010) resume as características dessas fases no quadro a seguir.
Quadro 2: fases de Aprendizagem do modelo de van Hiele.
FASES DE APRENDIZAGEM CARACTERÍSTICAS
Questionamento ou Informação
(fase 1)
- Professor e aluno dialogam sobre o material de estudo;
- Apresentação de vocabulário do nível a ser atingido;
- O professor deve perceber quais os conhecimentos
anteriores do aluno sobre o assunto a ter estudado.
Orientação Direta (fase 2) - Os alunos exploram o assunto de estudo através do
material selecionado pelo professor;
- As atividades deverão proporcionar respostas específicas e
objetivas.
Explicitação (fase 3) - O papel do professor é o de observador;
- Os alunos trocam experiências, os pontos de vista
diferentes contribuirão para cada um analisar suas ideias.
Orientação Livre (fase 4) - Tarefas constituídas de varias etapas, possibilitando
diversas respostas, a fim de que o aluno ganhe experiência
e autonomia.
Integração (fase 5) - O professor auxilia no processo de síntese, fornecendo
experiências e observações globais, sem apresentar novas
ou discordantes idéias.
(Fonte: Alves, 2010, p.71)
Com base na teoria de van Hiele, se o ensino de geometria for desenvolvido
de acordo com as fases de aprendizagem, haverá um favorecimento para aquisição
de um nível de pensamento no conteúdo trabalhado.
Esse artigo tem por objetivo utilizar o modelo de van Hiele como uma prática
inovadora, para o ensino da geometria. Como essa intenção, desenvolvemos uma
sequência de atividades, respeitando os níveis do pensamento geométrico como
descreve o modelo de van Hiele.
Escolhemos o estudo dos quadriláteros por ser um conteúdo apropriado ao 7º
ano do ensino fundamental. Além disso, esse conteúdo nos dá condições de
abordarmos outros conhecimentos básicos para o ensino da geometria.
O modelo de van Hiele afirma que só é possível o avanço de um nível do
pensamento geométrico passando pelo anterior.
Para tanto o modelo sugere algumas propriedades de suma importância, que
embasa e orienta o professor.
Nessa perspectiva o professor apresenta o material de estudo, dialoga com
os alunos e investiga os conhecimentos já adquiridos por eles. E por meio do
material proposto, os alunos exploram o assunto. Neste momento o papel do
professor é apenas de orientador, questiona e observa.
É importante que os alunos criem hipóteses troquem idéias e experiências
entre si. O questionamento do professor leva o aluno a pensar e repensar suas
conclusões. O que se espera é que o aluno aos poucos vá amadurecendo suas
idéias e construindo seu próprio conhecimento.
ATIVIDADES:
Elaboramos e apresentamos aos alunos uma seqüência com as atividades
apresentadas a seguir.
Atividade 1 Vamos estudar sobre "os quadriláteros". Nesse momento o professor questionará a turma com o objetivo de verificar, quais conhecimentos os alunos possuem sobre quadriláteros.
a) Sobre o que vocês acham que vamos falar?
b) O que significa a palavra quadrilátero?
c) Olhem ao redor e identifique objetos na forma de quadriláteros.
d) Formar grupos de três alunos entregar para cada grupo um envelope
contendo uma série de recortes poligonais e pedir que eles identifiquem os quadriláteros.
Obs: Após a separação das figuras, questionar cada equipe observando quais os
critérios que cada equipe usou para identificar as respostas, porém, só observar as respostas sem interferir. Nosso objetivo é levar o aluno a construir aos poucos seus próprios conhecimentos. Considerações sobre a atividade: Observou-se nessa atividade que a maioria dos
alunos não associava quadriláteros como figura de quatro lados. Porém
consideravam quadrilátero como quadrado observando apenas sua forma física.
Quando solicitado que identificassem ao seu redor, objetos na forma de
quadriláteros citaram como exemplo: janelas, quadro, TV, carteira, mesa. Ainda
afirmavam que esses objetos tinham forma quadrada. Somente após o uso do
dicionário, passaram a definir quadrilátero como figura de quatro lados. Ao realizar a
atividade d, a maior parte dos alunos adotou como critério para separar os recortes
poligonais o número de lados das figuras. Algumas equipes não consideram o
quadrilátero qualquer, usando o termo “não é quadrado”.
Atividade 2 Levar para a sala, vários sólidos geométricos com faces de várias formas. Pedir que os alunos discutam entre si e respondam as seguintes questões:
a) Você conhece alguns destes sólidos? Que nome eles tem? b) De quantas “partes” ele é formado?
c) Quais destas “partes” poderiam ser chamadas de faces?
d) Desenhe em seu caderno as faces que você identificou no sólido. Você sabe
o nome destas figuras?
e) Existe alguma semelhança entre estas figuras? Quais?
f) Existem diferenças? Quais?
Sugestões: O professor pode levar planificações para montar os sólidos, ou
construir com os alunos.
Considerações sobre a atividade: Nessa atividade, grande parte dos alunos não
diferenciava figuras planas das espaciais. Apenas alguns alunos conseguiram
identificar o retângulo, o quadrado e o triângulo como face de alguns sólidos
apresentados. Os únicos sólidos reconhecidos por parte dos alunos foi o cubo e a
pirâmide. Foram entregues para os alunos várias caixas de múltiplas formas, para
que fossem abertas e observadas suas planificações, depois de muito diálogo e
questionamentos, foi entregue, em folhas sulfite, planificações de sólidos para que
fossem montados. Depois da manipulação dos sólidos, discussões entre os alunos e
questionamentos pelo professor, os alunos conseguiram responder as questões sem
grandes dificuldades.
Na realização das primeiras atividades ocorreu um fato interessante os
alunos queriam que a professora desse as respostas, e as escrevesse no quadro,
alguns alunos ficaram inconformados com o encaminhamento da aula. A professora
explicou que, para que houvesse aprendizagem era necessário que pensassem,
discutissem com os colegas as questões e chegassem a algumas conclusões
próprias. Que o importante não era simplesmente dar respostas, mas pensar e
argumentar sobre elas.
Atividade 3
Dividir a turma em equipe e pedir que os alunos, com o uso do geoplano forme várias figuras de quatro lados, e as desenhe em seu caderno (caso saibam, colocar o nome das figuras formadas). Considerações sobre a atividade: Essa atividade foi muito atrativa. Os alunos
entenderam como uma brincadeira e disputavam entre as equipes quem formava mais figuras de quatro lados, procuravam, no livro didático, descobrir o nome da figura (o livro didático era a única fonte de pesquisa disponível no momento), sem perguntar para o professor. Aqui um dos nossos objetivos, que era tornar os alunos mais independentes, começa a se caracterizar.
Atividade 4 Utilizando o software GeoGebra desenhar figuras planas com 4 lados e nominar as conhecidas. Considerações sobre a atividade: Nesta atividade podemos movimentar
livremente os lados das figuras e observar as transformações ocorridas. Interessante que, nessa atividade, se confirmou a observação feita nas atividades anteriores. Os alunos se mostraram mais independentes, mesmo não conhecendo as ferramentas do software GeoGebra, se envolveram com mais interesse, segurança e autonomia por terem domínio desse meio tecnológico. Uma surpresa: com poucas explicações já estavam dominando a ferramenta.
Atividade 5 (Inspirada em Nasser, 1998)
Objetivo: Observar semelhanças e diferenças entre os pares de figuras.
Dividir a turma em duplas, pedir que pintem os pares de figuras semelhantes, recorte
as figuras e cole em seus cadernos os pares de figuras geométricas um em baixo do
outro.
11
6
7
10
10
11
12
12
1 1
2 2
3 3
4 4
5 5
6
7
8
9 9
8
Obs: a folha de registro a seguir, deverá ser preenchida pelos alunos que registrarão
elementos comuns e algumas diferenças entre as figuras de cada par, o professor
analisa os registros dos alunos, faz um resumo das diferenças e semelhanças
mencionadas. Discute com a turma as informações sobre as características comuns
e diferenças entre cada par de figuras, e pede que os alunos faça o registro no
caderno ao lado da colagem.
Folha de Registro
Nomes:______________________________________________Turma:________
Pares De Figuras Elementos Em Comum Diferenças
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
(Nasser; Sant'Ana,1998, p.11)
Considerações sobre a atividade: Nessa atividade observou-se que os alunos
tinham poucos argumentos para comparar as figuras, como semelhança.
Prenderam-se muito ao número de lados e de ângulos, e, em relação às diferenças,
ao formato e ao tamanho. Depois da análise da atividade o professor promoveu uma
nova discussão para se obter outras semelhanças e diferenças ex: medidas dos
lados medidas dos ângulos, figuras planas e espaciais, nome das figuras.
Atividade 6 (Compilada de Nasser, 1998, p.15)
Objetivo: Observar se o aluno deverá é capaz de classificar os quadriláteros.
Entregar a folha com os 24 quadriláteros como mostra as figuras a seguir,
pedir que os alunos recortem as figuras e separe os quadriláteros em grupos e pinte
cada grupo de uma cor. Espera-se que os alunos separem em grupos de quadrados,
retângulos, paralelogramos, losangos e outros. Caso não aconteça, o professor
deverá orientá-los.
O professor após verificar que todos conseguiram separar os grupos de
figuras geométricas da forma desejada, pedir que colem o conjunto de figuras no
caderno deixando espaço para posteriormente o registro das propriedades. Os
alunos que souberem poderão dar nome aos grupos de quadriláteros.
a
u
f
Considerações sobre a atividade: A dificuldade maior nessa atividade foi separar
entre as figuras o grupo do losango e trapézio. O que já era previsto pelo modelo de
van Hiele para esse nível de aprendizagem.
h
m
c
d e
j k
b
i
l
n
g
o
q s
v
t
p
r
Nessa fase, os alunos analisam as figuras em termos de seus componentes,
reconhecem suas propriedades e fazem uso delas para resolver situações
problemas.
As atividades nesta fase, devem proporcionar aos alunos oportunidade para: medir,
colorir, dobrar, recortar, modelar, e ladrilhar a fim de identificar propriedades de
figuras e outras relações geométricas.
Atividade 7
Juntar os alunos dois a dois e, para cada dupla, entregar um envelope ou saquinho
contendo os recortes (em E.V.A.), dos 24 quadriláteros como mostra a atividade
anterior, pedir que os alunos separem os grupos de quadriláteros. Após a separação
levar os alunos a responder as seguintes questões:
a) O que essas figuras todas têm em comum?
b) Quais os critérios você usou para separar os grupos?
c) Você sabe dizer quando é que dois lados de uma figura são paralelos?
d) Você poderia identificar aqui na sala objetos que apresentam segmentos
paralelos?
e) Dentre as figuras recebidas, identifique aquelas que têm dois lados paralelos.
f) O que você fez pra descobrir que o lado dessas figuras são paralelos?
g) Quais são as figuras que não possuem lados paralelos?
h) Quais das figuras apresentam apenas um par de lados paralelos?
Obs 1: O uso da linguagem de forma que o aluno compreenda é muito importante
ex: "um par de lados paralelos", deve ser bem esclarecido para o aluno.
i) Quais das figuras têm dois pares de lados paralelos?
j) Dentre as figuras que têm dois pares de lados paralelos, quais destas figuras tem
lados com a mesma medida?
l) Quais dessas figuras apresentam dois pares de lados paralelos, e quais são as
figuras que tem todos os ângulos iguais?
Obs2: Nesse momento o professor relembra com os alunos o que são ângulos.
Podem-se desenvolver as seguintes atividades:
m) No seu caderno, usando a régua, desenhe duas retas que se cruzam e pinte
cada ângulo que se formou com o "cruzamento" das retas, um de cada cor.
n) Quantos ângulos elas formam?
o) Eles são iguais?
p) Usando palitos de sorvete e percevejo ou canudinhos represente duas retas que
se cruzam formando ângulos iguais. Explicar que cada um desses ângulos recebe o
nome de ângulo reto.
Atividade 8
Objetivo: Levar o aluno a perceber em uma figura plana que o número de lados é
igual ao número de ângulos.
Considere as seguintes figuras planas e responda:
a) Quantos lados ela tem?
b) Quantos ângulos ela tem?
Atividade 9
Retomar os recortes da atividade 7.
a) Observando as figuras que tem dois pares de lados paralelos, quais são as
figuras que apresentam todos os lados com a mesma medida e todos os ângulos
retos?
b) Qual é o nome dessas figuras?
c) Você se lembra como são chamadas as figuras planas que tem 4 lados?
d) Você sabe como se chama os quadriláteros que tem todos os ângulos retos?
Obs: Se o aluno mostrar apenas o retângulo, chamar a atenção para o quadrado
que também possui os ângulos retos.
4 1
2
3
5
e) Como são chamados os quadriláteros que tem todos os lados com a mesma
medida?
f) Como são chamados os quadriláteros que tem dois pares de lados paralelos?
g) Como são chamados os quadriláteros que tem lados paralelos?
Atividade 10 (Inspirada em Crowley, 1994)
Entregar para os alunos uma malha como mostra a figura a seguir (a malha
entregue para o aluno não deve ser colorida), pedir que os alunos pintem com a
mesma cor os ângulos de mesma medida.
Considerações sobre as atividades 7, 8, 9 e 10: Depois de retomarmos os
estudos sobre ângulos e paralelas, percebe-se uma maior compreensão dos
componentes e propriedades dos quadriláteros. A partir da atividade 10 observou se
uma grande mudança no comportamento dos alunos em relação a pesquisa e
levantamento de questões entre si, as discussões entre eles se tornaram mais
comum. A linguagem e os termos utilizados se tornou totalmente diferente da
linguagem utilizada no inicio das atividades Ficou evidente nesse momento que os
alunos se encontravam no mesmo nível de aprendizagem. Todos participavam e
contribuíam com sua opinião, algo que não havia acontecido durante as aulas até
então. Os alunos que apresentavam maior grau de dificuldade acompanhavam as
atividades de forma surpreendente. A turma parecia caminhar junta, muitas
respostas coerentes e interessantes, alguns alunos superaram nossas expectativas.
Atividades 11 (Inspirada em Nasser, 1998)
Fazer um cartaz grande como mostra o desenho. Pedir para os alunos colarem no
cartaz as figuras correspondente a cada espaço.
Confeccionar tiras escritas com o nome dos quadriláteros, ex:
Pedir que os alunos coloquem essas tiras com o nome dos quadriláteros
sobre cada informação do cartaz.
Considerações sobre a atividade: Esta atividade mostrou com clareza o avanço
dos níveis proposto por van Hiele. Pela descrição dos níveis a maioria dos alunos
apresentou características do nível 2 (síntese ou dedução ionformal) no que se
refere à inclusão de classes dos quadriláteros. Mas ainda não foi possível concluir
se eles perceberam as propriedades mínimas para definir cada quadrilátero.
Observou-se que os alunos conseguiram descrever alguns quadriláteros através
das suas propriedades e fazer a inclusão nos conjuntos. Exemplo: descrição do
quadrado através de várias de suas propriedades (sem, no entanto, perceber que
uma pode decorrer da outra): 4 lados iguais, quatro ângulos retos, que é também um
retângulo. O retângulo possui dois pares de lados paralelos e 4 ângulos retos, que o
retângulo também é um paralelogramo. Que o trapézio possui um par de lados
paralelos e o losango dois pares de lados paralelos e 4 lados de mesma medida.
quadrados quadrilátero paralelogramo
trapézio
retângulo losango
4 Lados
Lados paralelos
2 Lados paralelos
Lados" iguais" ângulos
i "iguais " lados e
ângulos iguais
CONCLUSÃO
O trabalho realizado com base no modelo de van Hiele, nos deu um embasamento
teórico que nos levou a uma significante mudança para nossa prática pedagógica.
Por exemplo: não responder de imediato os questionamentos dos alunos, e sim,
induzi-los eles a refletir tirando suas próprias conclusões. Outra mudança diz
respeito à preparação das atividades, problematizando mais cada situação ao invés
de seguir puramente o que é apresentado em livros didáticos. O modelo reforça a
idéia de que a forma, ou a proposta de ensino a que o professor se propõe contribui
para o processo e aprendizagem.
O desenvolvimento desse trabalho proporcionou o nivelamento da turma. Durante a
realização das atividades observou-se que os alunos caminhavam juntos, alunos
que antes demonstravam desinteresse e grandes dificuldades participavam
ativamente das atividades. A princípio, os alunos pediam as respostas e chegaram
ao ponto de dizer que a professora não queria ensinar. Porém, ao serem orientados
para que pensassem sobre as situações propostas e discutirem entre si para
relatarem suas conclusões, observou-se uma maior autonomia na realização das
atividades.
Uma observação importante para desenvolver o modelo de van Hiele, é que o
professor deve assumir o papel de orientador. Ter o cuidado para não responder ao
questionamento dos alunos na ânsia de ajudá-los. Por diversas vezes tive que me
conter para não dar as respostas. Pois o modelo se opõe as respostas prontas pelo
professor. Outra observação interessante é que a realização desse trabalho me
levou a refletir sobre o tipo de formação que estamos submetendo nosso aluno, se
de autonomia ou dependência. Assumir o papel de professor orientador levando o
aluno a ser o produtor do próprio conhecimento não é tarefa fácil. Porém ao
desenvolver uma sequência de atividade obedecendo as propriedades do modelo de
van Hiele, pude experimentar essa possibilidade, para o ensino da geometria.
Fica claro que a forma como apresentamos o conteúdo muitas vezes limita o nosso
aluno como mero espectador, e receptor dos conhecimentos que são repassados
durante as aulas. Para levar o aluno a construir seu próprio conhecimento, é
importante uma grande mudança na prática pedagógica do professor. É preciso
repensar o papel do educador como orientador do processo.
REFERÊNCIAS:
ALVES, George S.; PEDRO II, Colégio; SAMPAIO, Fábio F. O Modelo de
Desenvolvimento do Pensamento Geométrico de van Hiele e Possíveis
Contribuições da Geometria Dinâmica. Revista de Sistemas de Informação da
FSMA, n. 5, p. 69-76, 2010.
BRASIL, Ministério da Educação e da Secretaria de Educação Fundamental
Parâmetros Curriculares Nacionais (matemática). Brasília: MEC/SEF, 1998.
CROWLEY, Mary L. O modelo van Hiele de desenvolvimento do pensamento
geométrico. Aprendendo e ensinando geometria. São Paulo: Atual, 1994.
DOBARRO, Viviane R; BRITO, Márcia R. F. Um estudo sobre a habilidade
matemática na solução de problemas de geometria. Revista de Ensino de
Ciências e Matemática, v. 1, n. 1, p. 34-46, 2010.
MAIOLE, Marcia. Uma oficina para formação de professores com enfoque em
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