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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA
ERLICE MORAIS MEIRA ROSA
EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA CONTEMPORÂNEA:
DA LEGITIMIDADE RUMO A NECESSIDADE HISTÓRICA
PARA ALCANÇAR A EMANCIPAÇÃO HUMANA
Grandes Rios
2013
Grandes Rios 2013
EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA CONTEMPORÂNEA:
DA LEGITIMIDADE RUMO A NECESSIDADE HISTÓRICA
PARA ALCANÇAR A EMANCIPAÇÃO HUMANA
Produção Didática Pedagógica apresentado à Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED), Núcleo Regional de Ensino de
Ivaiporã, como requisito parcial ao Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE).
Orientador:Prof. Me. Fernando Pereira Cândido
ERLICE MORAIS MEIRA ROSA
SUMÁRIO
1 APRESENTAÇÃO ............................................................................................. 15
2 TEXTO 1: O QUE É O SER SOCIAL? .................................................................. 18
3 TEXTO 2- EDUCAÇÃO...................................................................................... 28
3.1 QUESTÃO PARA O FÓRUM............................................................................... 34
4 TEXTO 3: EDUCAÇÃO FÍSICA ........................................................................... 36
4.1 DISCUSSÃO NO FÓRUM ................................................................................... 41
5 TEXTO 4: HISTÓRIA......................................................................................... 42
6 TEXTO 5: CONHECENDO AS CONTRADIÇÕES DAS DIRETRIZES CURRICULARES DO
PARANÁ ..................................................................................................... 51
7 ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO ................................................... 58
REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 64
APÊNDICES 66
APÊNDICE 1 – DADOS DE IDENTIFICAÇÃO .......................................................................... 67
APÊNDICE 2 - CRONOGRAMA ............................................................................................ 84
APÊNDICE 3 – FICHA DE INSCRIÇÃO-CURSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA.......................... 86
APÊNDICE 4 - QUESTIONÁRIO DE SONDAGEM .................................................................... 87
APÊNDICE 5 - MODELO DE ATIVIDADE PARA REFLEXÃO DO VÍDEO MITO DA CAVERNA........ 88
APÊNDICE 6 - ENDEREÇO DO VÍDEO EDUCAÇÃO NA IDADE MÉDIA, ROTEIRO DE
REFLEXÃO .................................................................................................. 90
APÊNDICE 7 – IMAGENS DA GRÉCIA ANTIGA ...................................................................... 91
APÊNDICE 8 - DESCRIÇÃO DA DINÂMICA, ROTEIRO DE REFLEXÃO........................................ 93
APÊNDICE 9 - ROTEIRO DE REFLEXÃO CURRÍCULO ............................................................ 96
APÊNDICE 10 - ENDEREÇO DO VÍDEO O QUE É EDUCAÇÃO FÍSICA, E ROTEIRO DE
REFLEXÃO .................................................................................................. 98
APÊNDICE 11 - ROTEIRO DE REFLEXÃO DO TEXTO SER SOCIAL .......................................... 99
Apêndice 12 - A Educação Numa Encruzilhada...................................................100
14
PREVISÃO DAS AÇÕES DA IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO DE
INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA NA ESCOLA
TURMA PDE 2013
Título: Educação física na escola contemporânea: da legitimidade rumo a necessidade histórica para alcançar a emancipação humana
Autor: Erlice Morais Meira Rosa
Disciplina/Área: Educação Física
Escola de Implementação
do Projeto e sua localização:
Colégio Estadual Marechal Floriano Peixoto Ensino Fundamental e Médio.
Município da escola: Grandes Rios
Núcleo Regional de Educação: Ivaiporã
Resumo:
Este trabalho pretende refletir a necessidade histórica no contexto escolar, tendo em vista destacar as funções socialmente a ela atribuídas ao longo dos tempos e as consequentes limitações atuais da sua intervenção pedagógica. Partiremos da pesquisa e compreensão sobre o processo histórico de constituição do ser social e das questões histórico-concretas às classes sociais, identificando as possibilidades de ação que ela possui para contribuir com a emancipação humana. Sondaremos qual a sua imagem por entre os integrantes da comunidade escolar, na medida em que propomos ultrapassar os limites da sua legitimidade na escola. Por meio de estratégias capazes de subsidiar a formação acadêmica, social e política dos indivíduos responsáveis pela educação, pretende-se chegar ao entendimento das relações pedagógicas voltadas à formação humana gerenciada pelas classes hegemônicas. E deste modo, mediar à formação com consciência de classe para os trabalhadores que constituem o sujeito revolucionário, eixo essencial para efetivação da sua autonomia.
Palavras-chave: Educação Física escolar. Legitimidade. Necessidade histórica. Emancipação humana.
15
1 APRESENTAÇÃO
A produção deste caderno temático idealiza uma discussão a cerca
da disciplina de Educação Física na escola contemporânea, buscar sua legitimidade
ou compreender sua necessidade histórica?
Desde os primórdios da educação ela procurou satisfazer as necessidades de um modelo hegemônico, sua prática foi estabelecida a partir da busca de um modelo estipulado de homem, tendo em vista alcançar resultados previstos para cada segmento social. Essa inserção era considerada natural atendendo as expectativas pré determinadas de liderança, religiosa, utilitária (saúde de combate) entre outras tantas, tendo em vista o ordenamento social estabelecido previamente (OLIVEIRA, 1987, p. 63).
Considerar apenas sua fragilidade atual é negar a própria história do
homem, portanto de tudo por ele produzido, essa discussão merece buscar sua
compreensão na constituição do ser social e nas formas de humanização utilizadas
desde os primeiros registros de sociabilidade encontrados.
A partir destas considerações a ação do trabalho nos coloca a raiz do ser social, pois é produto das relações que o homem estabelece com a natureza e o que resulta na transformação da realidade natural em realidade social. Estas ações categorizam as funções sociais pela qualidade e pela quantidade de ênfase nas ações que podem privilegiar atividades cognitivas ou práticas atribuídas aos detentores de mais espiritualidade direcionadas as tarefas intelectuais e aos com menos espiritualidade direcionado as tarefas manuais o que nos permite concluir que a divisão do trabalho na sociedade nada tem de natural, mas, que esta é o produto das relações estabelecidas no processo de transformação da natureza (TONET, 2009, p.6).
Destacar que a protoforma do ser social é o trabalho, ou seja, a
mediação das relações que o homem estabeleceu com a natureza e com outros
homens na busca da manutenção das suas necessidades básicas, de alimentação,
vestuário e habitação, e que destas outras necessidades foram sendo elaboradas,
foram se estabelecendo gradativamente, pois o trabalho é fruto de intencionalidade
e portanto é resultado de teleologia, e é efetivado coletivamente o que indica sua
sociabilidade.
Muito além de destacar as tendências educacionais torna-se
essencial identificar a raiz das transformações sociais que são expressas no
contexto escolar, mas são produzidas fora dele atendendo interesses impostos pela
hegemonia da sociedade, produto dos modelos econômicos, políticos e religiosos e
16
em toda forma de poder estabelecido ao longo da história da humanidade.
Este processo histórico onde o capital, enquanto uma relação social, busca desvencilhar-se cada vez mais da dependência dos limites impostos pelo trabalhador, pela resistência que este lhes impõe, desenha-se como um processo onde se busca expropriar do trabalhador os meios concretos desta resistência- seu saber, sua qualificação, o domínio de técnicas, sua agilidade, etc. A separação entre o operário e seu instrumento vai determinando uma separação entre trabalhador e conhecimento, entre trabalhador e ciência (FRIGOTTO, 1993, p. 83).
Esta proposta pedagógica busca compreender a essência dos
problemas enfrentados pelas escolas contemporâneas, buscando a superação da
divisão do saber projetado à manutenção da sociedade de classes, desmascarando
a intencionalidade do currículo oculto e criando condições de conceber e distribuir
igualmente o conhecimento em uma perspectiva de totalidade, ou seja, a partir das
suas dimensões filosófica, cientifica e artística.
Tendo em vista instrumentalizar os agentes dessa história na
atualidade, para pensar não apenas acerca da historicidade vivida por essa
disciplina desde os primórdios da educação e das relações que ela obedeceu sem
contestação, mas criar condições de transpor os meios estabelecidos de alienação
que vinculam as ações pedagógicas à instrumentalização precária de mão de obra
barata passiva, ordenada para a manutenção do sistema capitalista.
Propor a emancipação humana é estabelecer condições de desvelar
a compreensão do mundo com a distribuição igualitária de formação capaz da
promoção da reflexão, contestação e organização coletiva na busca de satisfação da
necessidade de todos na sociedade.
E à medida que a sociedade se, transforma, modifica-se também a
forma da educação. Esta, portanto, “não é um produto natural, mas o resultado do
processo histórico em que os homens, a partir do seu trabalho, constroem a si
mesmos, a sociedade em que vivem e todas as suas contradições” (MELLO, 2009,
p. 15).
Compreendemos que todas as ações destinadas ao contexto escolar são previamente determinadas pelo modelo societário, não são naturalmente postas mas construídas socialmente, a transformação deverá vir da superação da contradição expressa por necessidades antagônicas das classes que a constituem, para construir um novo projeto histórico, não basta um desejo arbitrário mas é essencial resgatar possibilidades históricas contidas no socialmente existente (MELLO, 2009, p. 15).
17
Buscaremos essa compreensão, pois ao perceber que a
sociabilidade atual é construção humana e, portanto pode ser reconstruída, e o
primeiro passo em busca da revolução radical, para que sejam considerados
necessidades prioritárias as da classe que constitui a maioria dos seres humanos, a
trabalhadora, e não as necessidades postas ideologicamente em nossas mentes da
classe dominante. Libertar-se dessa forma social é conceber além de uma
sociedade igualitária uma escola livre e autônoma, que não atenda mais a lógica do
sistema capitalista, mas a um modelo social de trabalho associado.
18
2 TEXTO 1: O QUE É O SER SOCIAL?
Para compreender a necessidade de qualquer disciplina que
constitui a formação do homem em cada momento da história é necessário
entender, primeiro, o homem enquanto um ser social. Reconhecer a natureza do ser
social é o ponto de partida para a compreensão da estrutura atual de organização da
vida social. A humanidade, como um todo é constituída por um movimento que
sempre pressupõe a objetividade e a subjetividade e, além de um todo genérico, o
ser social só poderá ser conhecido pela mediação das categorias da singularidade,
da universalidade e da particularidade.
Partir da história da educação constatamos que conceitos isolados
sobre o homem e suas relações tem sido utilizados, tomando-os de forma separada.
Essa visão limitada consolidou equívocos que sustentam visões unilaterais, restritas
a um ou a outro aspecto da constituição do ser humano, conduzindo à naturalização
da divisão das funções humanas na sociedade.
Pode-se distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião ou pelo que se queira. Mas eles mesmos começam a sedistinguir dos animais tão logo começam a produzir seus meios de vida, passo que é condicionado por sua organização corporal. Ao produzir seus meios de vida, os homens produzem, indiretamente, sua própria vida material (MARX; ENGELS, 2007, apud MELLO, 2009, p. 48).
Os homens se diferenciam dos animais, primeiramente porque
trabalham. A partir do trabalho se apresentam a capacidade de pensar e refletir,
enfim suas ações, essa intencionalidade levou a construção da história da
humanidade a partir de relações projetadas distantes da satisfação do mero instinto
animal. A existência humana, por isso, compreende a satisfação das necessidades
essenciais a sua vida, mas também de outras necessidades advindas da satisfação
destas.
Conforme Marx e Engels (2007 apud MELLO, 2009) existem três
momentos constituintes da história que pressupõem a ação humana: a produção dos
meios para satisfazer as suas necessidades de comer, beber, morar e vestir, ou seja
de manutenção da própria vida; essa ação de satisfazê-la e a busca de instrumentos
utilizados para esse fim conduz a outras novas necessidades.
E a essa ação permanente, uma capacidade exclusiva dos homens,
os eleva a um novo patamar, Pois ao produzir meios de preservar a sua vida a partir
19
da natureza, interage com outros homens e com o meio ambiente, o que permite a
reformulçao de si e dos outros, ou seja, os conduz a criação de novos homens,
novas formas de ação e reação e às novas necessidades, assim dá origem ao
mundo social.
A capacidade humana permanente de evolução das suas atividades
pode ser observada além da razão, a partir da práxis social. As ideias são
estabelecidas partindo da prática social e não na ordem inversa, essas relações
permeiam a interdependência das categorias que constituem a objetividade e a
subjetividade do ser social, esse movimento que é a força motriz da evolução da
história, da religião, da filosofia e toda a forma de teoria (MARX; ENGELS, 2007,
apud MELLO, 2009, p. 53).
Considerando essas colocações observamos que a divisão das
funções executadas pelos homens no trabalho nada tem de natural, mas que são
produzidas historicamente pela ação humana. Compreender essas relações significa
resgatar a formação do ser social, qual sua essência, quais elementos serviram de
base a sua estruturação partindo das relações que os homens estabelecem entre si
e nas ações da transformação da natureza, é seguindo esse caminho que
poderemos investigar como se construiu o movimento que deu origem a Educação e
a Educação Física.
Observar a realidade social e a sua constituição requer identificar a
categoria fundante da sociabilidade. Quando identificamos o que objetiva a primeira
relação que o homem manteve com outros homens e com a natureza que foi
estipulada na busca de satisfação das suas necessidades biológicas (fome, frio
entre outras) e na manutenção da sua sobrevivência (fuga dos predadores,
preservação da sua espécie) descobrimos como fundante do ser social o “trabalho”.
Podemos então compreender que as relações humanas foram
postuladas pelos próprios homens podendo portanto serem redefinidas, o trabalho é
a mediação entre o homem e a natureza, e possui características próprias,por ser
uma atividade teleológica(que é intencional) e social( pois é compartilhada) ou seja
resulta na criação e produção dos bens naturais necessários a existência humana,
essa relação não é natural mas foi socialmente construída a partir das novas
necessidades oriundas do processo de humanização sofrido pelos homens portanto
não se apresenta de modo singular, individual mas como fruto das produções
coletivas e generalizadas solidificadas socialmente pelos homens.
20
De modo interligado ao trabalho, porém em outros momentos
surgem a linguagem, a socialidade, o conhecimento e a educação que se colocam
tendo em vista a sua implementação, ou seja, colaborar com a sua reelaboração
continua, cada uma com uma natureza e uma função própria na reprodução do ser
social, atendendo a três características permanentes: a uma relação de dependência
ontológica, de autonomia relativa e de determinação recíproca (TONET, 2009).
Considerar a realidade social a partir da sua totalidade, sem
desconsiderar as suas partes, sem perder de foco seu conjunto torna-se o grande
desafio a ser posto em prática nessa matriz de conhecimento, o materialismo
histórico dialético.
Portanto, é necessário conhecer seu funcionamento articulado com
seu eixo fundante, o “trabalho”, observar cada objeto – a Educação Física escolar no
nosso caso - na sua interdependência desde a sua gênese à sua função social,
buscar meios capazes de permitir ir além da sua aparência histórica socialmente
reconhecida, sob uma ótica pré determinada que atua na reprodução do ser social
atual, que atende e mantém impregnadas as necessidades do sistema capitalista e
não da história humana.
Desse modo objeto e objetividade e sujeito e subjetividade são tomadas como resultado real da atividade humana que implica conhecimento e ação. Fica claro, assim que a relação gnosiológica entre sujeito e objeto é apenas um momento de uma relação mais ampla, que é a criação da realidade social como totalidade (TONET, 2005 apud MELLO, 2009, p. 49).
A relação aqui pretendida expressa a necessidade da busca de o
sujeito conhecer o objeto de estudo em sua totalidade e vice versa, pressupor que
está relação de conhecimento também pode elencar informações que mascarem a
realidade, bem sendo que essa relação é recíproca e subjetividade e a objetividade
estão interligadas e uma não existe sem a outra, variam de posições de acordo com
o momento da realidade social em que estão expressas, que além de ser uma
relação gnosiológica é uma relação ontológica.
O objeto um conjunto social, nesse caso a Educação Física se
constituiu dentro de uma realidade social reificada, pode se transformar em sujeito
caso alcance consciência do processo dialético de desenvolvimento, e perceba a
supressão estabelecida, quando se direcionar no sentido de transformação dessa
realidade poderá tornar-se o sujeito do processo histórico e vencer as barreiras
21
reificadas pelo sistema capitalista.
Devemos partir da essência dessas ações, tendo em vista destacar
a sua reelaboração constante, desvelando as reais influencias que determinam as
ações educativas e da Educação Física e para quais fins elas foram utilizadas,
perceber que atuaram como instrumento de ordenamento e de alienação
necessários a manutenção do sistema capitalista, que se perpetuando e se
moldando s de acordo com fins políticos, religiosos e econômicos e se projetaram
socialmente.
Não sendo produto exclusivo da Educação mas sim da essência
humana que se consolida a partir das relações sociais, ou seja que são produzidas
no dia a dia das relações humanas, e portanto são determinadas historicamente, e
como produto deste processo histórico foram instituídas as edificações das relações
da Educação e por conseguinte da Educação Física, não de modo natural mas como
possibilidade de reificação do sistema capitalista.
O trabalho é, produzido nessa lógica da ação humana, que é única,
pois resulta de teleologia, ou seja, requer uma intencionalidade, diferentemente das
relações causais naturalmente estabelecidas. Ambas se originam em meio as
relações de trabalho, produto de uma articulação entre o conhecer e o agir. O
distanciamento entre a subjetividade e a objetividade pode resultar na perda do
equilíbrio entre ambas, de modo que no mundo Greco-medieval o conhecimento
estava centrado na perspectiva da objetividade enquanto no mundo moderno se
prioriza a subjetividade - considerada mola propulsora das ações humanas - na
produção do conhecimento (MELLO, 2009, p. 49).
Essa interação entre subjetividade e objetividade é realizada pela
atividade prática, essa articulação origina não mais o homem natural mas o ser
social oriundo da práxis humana, produto da mais alta elaboração da complexidade
das relações do homem com outros homens e com a natureza.
Conforme Tonet (2009, p. 5):
[...] o trabalho é um intercâmbio entre o homem e a natureza através do qual são produzidos os bens materiais necessários à existência humana. E que este intercâmbio, uma necessidade eterna da humanidade, é uma síntese entre subjetividade e objetividade, vale dizer , entre consciência e realidade objetiva natural. Segundo Marx, projetando antecipadamente na consciência o fim a ser atingido e agindo de modo intencional sobre a natureza, o homem produz uma nova realidade, radicalmente diferente daquela natural. Trata-se da realidade social (TONET, 2009, p. 5).
22
A teleologia, capacidade humana de projetar ações intencionalmente
e modificar a realidade, e causalidade, principio de auto movimento que repousa
sobre si mesmo, ações naturais que não apresentam intencionalidade, são
constituintes do ato do trabalho.
A causalidade após subjetivada é objetivada através da teleologia,
se consolida em uma causalidade posta não mais natural, mas agora advinda de um
por teleológico. Esta causalidade é completamente autônoma do ser portador da
teleologia que a produziu, tornando-se uma causalidade nova, posta, e assim
sucessivamente criando novas formas não existentes no mundo natural, presentes
apenas no mundo social.
Segundo Lessa (2012, p. 61):
Enquanto a causalidade é um principio de automovimento que repousa sobre si mesmo, mantendo este seu caráter mesmo quando uma série causal tem seu ponto de apoio num ato de consciência, a teleologia é ¨por sua natureza uma categoria posta: todo processo teleológico implica uma finalidade e, portanto, uma consciência que põe um fim ¨. Contudo o fato da teleologia ser necessariamente posta pela consciência não a reduz a mera e simples pulsão da subjetividade. Sem subjetividade não há teleologia- mas a consciência, assim como a teleologia, apenas existe no interior do ser social e, portanto, em relação com a sua materialidade. O ato de pôr desencadeia um processo real, pertencente ao ser- precisamente-assim do mundo dos homens: funda uma nova objetividade (LESSA, 2012, p. 61).
A subjetividade não determina a teleologia, mas uma não existe sem
a outra, seu movimento é continuo e prevê a construção da cadeia das relações
humanas mesmo que estes seres não percebam sua influência determinante tendo
em vista que o sujeito que realizou o pôr teológico não possui mais identidade com
ele. Essa é a identidade da identidade e da não identidade, o indivíduo para tanto
utiliza a sua consciência, sendo que essa consciência só se encontra no ser social.
A essa relação podemos distinguir “o que Lukács denominou o pôr
teleológico primário, quando se realiza o trabalho, a ligação do homem com a
natureza, e o pôr teleológico secundário, resultado da práxis que diz respeito a
relação do homens com outros homens” (MELLO, 2009, p. 57). Essas considerações
permitem compreender a permanente reconstrução da objetividade que pode dar
origem a uma nova objetividade na forma de instrumentos de trabalho ou de novas
ideais para sua execução que em nada tem a ver como quem as fundou.
Essa relação pode se perpetuar e permanecer atendendo a valores
propostos por determinados processos de individuação, que alcançando sua
23
generalização, foram ao longo das gerações transmitidos, previamente estipulados.
Por vezes essa subjetividade, por mais que busque possibilidades
de materializa-la, acaba por utilizar as alternativas previamente idealizadas e já
postas, absorvendo-as como naturais porém foram teleologicamente postas. De
acordo com Lessa (2012, p. 110) “todo o agir humano exibe um ineliminável caráter
de alternativa e toda escolha é historicamente determinada”.
A teleologia está vinculada ao desenvolvimento da sociedade por
conseguinte com a evolução do ser social, ou seja na sua práxis social a
subjetividade objetivada através da determinação da sua consciência pela busca dos
meios para sua elevação, serão norteados pelo fim projetado, essas possiblidades
aparecem atreladas a ordenamentos propostos por outras gerações.
A história nada mais é do que o suceder-se de gerações distintas, em que cada uma explora os materiais, os capitais e as forças de produção a ela transmitidas pelas gerações anteriores; portanto, por um lado ela continua a atividade anterior sob condições totalmente alteradas, e, por outro, modifica com uma atividade completamente diferente as condições antigas (MARX; ENGELS, 2007 apud MELLO, 2009, p. 59).
Consideramos então que muitos equívocos podem ocorrer pois a
finalidade proposta por uma geração pode não ser adequada à geração posterior ou
semelhante as finalidades da geração anterior. Torna-se necessário identificar quais
os nexos ontológicos que operam e percebem as potencialidades das forças
produtivas, que determinam as necessidades e as possibilidades das escolhas
caracterizando o dever- ser.
Estas escolhas podem variar considerando os processos passados
de individuação, considerando que o ser social é produto da síntese de atos
singulares de indivíduos em tendências ou forças genéricas, o que poderá as
distinguir umas das outras e da totalidade social seriam suas decisões relevantes
com relação a qualidade, a direção e as alternativas empregadas ao longo de sua
vida, o que o caracteriza a sua substancia não apenas radical mas histórica, sendo
que sua análise não deve partir do imediato nem do que se observa mas sim de
seus fundamentos ontológicos, ou seja a ação dos indivíduos se apresenta da
síntese de elementos genéricos e particulares abaixo descritos(LUKÁCS, 1986 apud
LESSA, 2012, p. 131).
Os elementos genéricos são dados: 1) pela demanda específica
sempre socialmente determinada, que está na raiz de todo ato; 2) pela ação de
24
retorno do produto criado ao seu criador; 3) e finalmente, pelos avanços
sociogenéricos incorporados às consciências individuais pelo fluxo espontâneo da
práxis social.
Os elementos particulares por sua vez se originam: 1) na
singularidade de cada situação; 2) na singularidade de cada individualidade; 3) e por
fim na singularidade da resposta que corresponde a alternativa escolhida (LUKÁCS,
1986 apud LESSA, 2012, p. 131).
Essa divisão existe na abstração de modo teórico, mas aparecem
entrelaçadas no cotidiano. Presumimos a partir dessas considerações, que cada ato
executado expressa uma síntese de múltiplas faces, essa contraditoriedade faz parte
da essência do ser social e pressupõe a totalidade do indivíduo em sua
singularidade como também na sua generalidade. A distinção de uma e outra se
torna quase imperceptível, mas ambas constituem as particularidades de cada ato
humano coadjuvantes da história.
Relações que permeiam a contradição encontrada no interior da
práxis social que elevam o nível das relações a partir dessas tensões entre
individualidade e gênero humano, particularidades e generalidades, que conduzem
os indivíduos a incorporarem necessidades genéricas as suas constituindo sistemas
de ordenamentos que resultam na reprodução social.
Lessa (2012, p. 132) aponta:
As consequências práticas para a individuação são imediatamente visíveis: a opção pelos valores genéricos pode elevar a substancialidade de cada individualidade à generalidade humana – ou, pelo contrário, a opção pelos valores meramente particulares pode rebaixar o conteúdo de sua existência à mesquinhez do universo do bourgeois que se contrapõe/sobrepõe à humanidade.
Conforme o autor explica, no momento em que a burguesia
consegue se estabelecer como classe dominante, o desenvolvimento das forças
produtivas e das relações sociais permitiram que esta classe apresentasse os seus
interesses particulares como os interesses universais da humanidade.
Essas ações constituem as alienações, produto das determinações
objetivas do mundo dos homens e atuam na conformação do por teleológico e não
no seu desvelamento, por acreditar na naturalidade dos mesmos não na busca da
compreensão das relações primárias e secundárias do por teleológico. Com isso
queremos dizer que a capacidade do homem – sempre entendido como ser social –
25
de projetar antecipadamente as suas ações, que caracteriza o processo
especificamente humano de produzir, é obstruída pela perda do controle sobre a sua
atividade (o trabalho). Dito de outra forma, o desenvolvimento histórico da
humanidade é impedido pelas relações estabelecidas entre os homens que se
desenvolvem a partir da propriedade privada dos meios de produção, da exploração
do trabalho pelo capital. A essa forma alienada de produzir a vida corresponde um
conjunto de ideias que servem ao mesmo tempo, para esconder e reproduzir esta
realidade. Assim, os valores relacionados à reprodução do capital, ao homem
isolado, individualista e proprietário; a desigualdade, a exploração e a violência são
entendidos como naturais e eternos, inviabilizando a compreensão da dimensão
histórica, do caráter de transitoriedade deste tipo de relação. Essa atribuição de
valor nasce como quesito que caracteriza a relevância social de cada ato
teleologicamente posto e da consciência que os homens possuem da sua própria
história.
A ruptura com esse sistema só pode ocorrer de modo prático para
além das posições teóricas como nos coloca Lessa (2012):
É a superação da forma alienada de como a particularidade emergiu na consciência dos homens em escala social durante o período de ascensão da burguesia ao poder. É a superação da individualidade que se compreende – e, portanto, se comporta – como contraposta e superior ao gênero, que valoriza sua esfera específica de interesses e vontades como superior às necessidades postas pelo gênero em seu desenvolvimento, da individualidade estreita e mesquinha que caracteriza o bourgeois. Após tudo que afirmamos até aqui, é uma obviedade dizer que tal superação só pode ser prática, que sua mera postulação teórica requer uma objetivação – a revolução – para se atualizar enquanto prévia-ideação (LESSA, 2012, p. 151).
Ultrapassar a inculcação ideológica sugere a tomada de ações que
permeiem a reflexão continua dos objetivos propostos pela subjetivação de cada
rumo socialmente posto. Ultrapassar a naturalização de atos sociais
compreendendo-os enquanto momentos históricos que devemos conhecer;
desvendar os nexos que solidificaram a possibilidade de alternativas postas a
humanidade, delineando as características singulares e as remetendo aos interesses
e necessidades reais da classe trabalhadora.
Esse entendimento poderá conduzir a busca de interferências que
venham a transcender a existência humana para além das justificativas naturalmente
postas, buscando a emancipação humana. Esse processo necessita imprimir novos
26
rumos à realidade social, redimensionando a estruturação do ser social de modo a
permitir superar as estruturas teleologicamente postas através da sua protoforma, ou
seja, pelas relações já estipuladas pelo trabalho. Apreender que os objetivos da
humanidade são outros na atualidade e que, por ser a partir das relações de
trabalho que toda a forma societária se constitui e se expressa, no processo de
construção do ser social as contradições que impedem a emancipação humana são
históricas e podem ser superadas.
Podemos concluir que o ser social é o produto da ação humana e da
constante elevação do seu pensamento a partir das relações que estabelece com
outros homens e com a natureza. Neste sentido, as necessidades, seus objetos e
ações para satisfazê-las, criadas pelos homens mostram que novas necessidades
sempre são criadas, e que os instrumentos já adquiridos mudam de forma e uso,
evoluem. Assim, questionamos: A Educação Física, como uma criação deste ser
para satisfazer a determinadas necessidades, ficaria imóvel, se alteração de sua
forma e dinâmica? As diferentes áreas do conhecimento existente no currículo
escolar, com diferentes pedagogias, podem atender sempre às mesmas
necessidades, ou estariam continuamente em mudança?
Na esteira de Marx e Engels é preciso reafirma a necessidade de estabelecer a conexão entre as idéias e a realidade e, partir não de pressupostos arbitrários, mas de “indivíduos reais, sua ação e suas condições materiais de vida, tanto aquelas por eles encontradas como as produzidas por sua própria ação (MARX; ENGELS apud MELLO, 2009, p. 51).
Compreendendo a prática social poderemos compreender o
processo de desenvolvimento do ser humano, seus nexos e sua lei histórica a
educação física poderá se por não isoladamente, mas como parte dessa totalidade
onde um conjunto de problemas e contradições produzidas socialmente e que
atendem a lógica do mercado, distinguindo seus problemas como indivíduos reais,
capazes de ações de acordo com suas condições materiais, como produto do
gênero humano, da sociedade e pode atuar como um mecanismo de luta na busca
da transformação radical da sociedade capitalista (MELLO, 2009, p. 52).
Essa discussão pretende tematizar as possibilidades de
compreensão do processo de humanização e da prática vivenciada na Educação
Física e pretende ampliar a visão política dos profissionais tendo em vista ações
reais em momentos diversificados da realidade para superação do modelo capitalista
27
que tem tido a regência do universo escolar através da generalização das suas
próprias necessidades em detrimento das da classe trabalhadora.
28
3 TEXTO 2- EDUCAÇÃO
O momento atual que a educação passa reflete, uma sociedade que
espera muito alem de uma formação acadêmica escolar, evidencia que as
expectativas em relação a educação formal apontam para a resolução dos diversos
problemas que a sociedade como um todo vem enfrentado, tais como a busca da
harmonia no ambiente familiar, da inserção profissional entre outras relações
antagônicas do momento histórico como se o fracasso vivido no mundo econômico,
político e cultural tivessem sido produzidos no espaço escolar e a desigualdade dos
cidadãos também se originassem nesse ambiente, mas enfim como compreender o
que é realmente é educação? Qual seu papel diante da sociedade?
Para Saviane (1991, p. 14):
A natureza humana não é dada ao homem mas é por ele produzida sobre a base da natureza bio-física. Consequentemente, o trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada individuo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens.
Seu papel seria de instrumentalizar os indivíduos tendo como base
sua inserção social, e a escola para tanto o espaço da sua institucionalização, como
redentora do modelo social e única reposta a todos os problemas sociais. Mas na
atualidade ela vem se anulando cada vez mais desses objetivos e tem cedido seu
espaço de formação acadêmica a um vazio que conduz o professor a absorção de
diversos papeis sociais (pai, mãe psicólogo, médico assistente social entre outros) o
distanciando cada vez mais de seu verdadeiro papel, de responsável por ações
formais sistematizadas que permitam a transmissão dos conhecimentos
historicamente elaborados na busca e na aplicação de meios e estratégias que
venham a garantir o acesso e a apropriação dos conhecimentos construídos
coletivamente pela humanidade. O compromisso da educação tem assumido novas
faces e para desmistificar seu papel torna-se essencial compreender sua evolução e
destacar a quais intenções o modelo educativo tem atendido, para tanto devemos
desvelar a sua formação não apenas histórica mas sua constituição ontológica.
É preciso ir além da observação das teorias (críticas e não críticas)
em educação, pois para conhecer a essência do ato educativo é preciso conhecer a
raiz das relações humanas, que acontecem a partir do trabalho. Utilizando a teoria
29
do materialismo dialético buscaremos compreender a história da educação a partir
da perspectiva não singular, individual, mas sobre a ótica de classes distinguindo a
natureza que funda o trabalho, da natureza que funda a ação educativa, delineando
o ser social, e as estruturas que o constituem.
A educação tem sua origem na antiguidade grega, desde suas
origens acreditava-se que era a formação intelectual, das ideias que determinavam a
construção do homem ideal, detentor de atitudes ideais, sendo que para tanto o ato
educativo sempre foi destacado como responsável pelo modelo sócio econômico
vigente, conforme Saviani (2009, p. 5):
A educação ao longo da história vai se desenvolvendo a partir das concepções de homem e de sociedade que se concebiam, apresenta dois modos para compreendê-las considerando seus condicionantes objetivos em teorias não criticas, as que compreendiam a educação de forma autônoma e buscavam compreende-la a partir dela mesma, e as teorias crítico reprodutivistas pois se empenham em percebê-la conforme seus condicionantes objetivos e a estrutura socioeconômica onde a função da escola é a reprodução das estruturas sociais vigentes.
Porém para compreendermos sua evolução torna-se essencial
identificar como ocorrem as primeiras relações dos homens com outros homens,
tendo como principio que o ato educativo é exclusivo ao ser humano pois somente a
eles é crucial a aprendizagem tendo em vista a manutenção da sua existência, a sua
humanização.
A compreensão da natureza da educação passa pela compreensão da natureza humana [...] diferente dos outros animais, que se adaptam à realidade natural tendo a sua existência garantida naturalmente, o homem necessita produzir continuamente sua própria existência (SAVIANE, 1991, p. 85)
Da organização de estratégias e meios necessários a aprendizagem
de conhecimentos, comportamentos, habilidades, valores entre outros aspectos que
constituem a cultura essenciais a inserção do homem no mundo humano, os animais
atuam pelo seu instinto e adaptam-se a realidade natural mas os homens atuam
sobre a realidade natural transformando-a de acordo com as suas necessidades
essas formas e saberes são transmitidos de geração em geração e a essas
estratégias já desenvolvidas reunidas que denominamos educação.
Para além do sentido ontológico da educação, quer dizer, sua
função social positiva de reprodução do ser social, ela apresenta características
30
próprias em cada período histórico. Assim, é necessário entende-la em suas
contradições dadas pelas sociedades de classes.
Desde os primórdios da educação ela procurou satisfazer as necessidades de um modelo hegemônico, sua prática foi estabelecida a partir da busca de um modelo estipulado de homem, tendo em vista alcançar resultados previstos para cada segmento social. Essa inserção era considerada natural atendendo as expectativas pré determinadas de liderança, religiosa, utilitária (saúde de combate) entre outras tantas, tendo em vista o ordenamento social estabelecido previamente (OLIVEIRA, 1987, p. 63).
Para compreender os conceitos atuais do ato educativo na
Educação Física e na Educação, torna-se essencial observar as relações humanas
desde as suas origens. Diferentemente dos demais animais detectou-se ações do
homem com o homem e com a natureza dotadas de intencionalidades que
expressavam a busca de sua sobrevivência, na obtenção de alimentos e na fuga de
seus predadores, com atitudes muito além do simples instinto natural, pois o homem
através destas relações conseguiu transformar a natureza ao seu favor, a si mesmo
e aos demais de sua espécie (TONET, 2009).
Compreendemos a educação com um dos determinantes sociais
que postulam as formações em geral, atua colaborando para idealização de
indivíduos alienados e vinculados a um processo de naturalização das padrões
sociais vigentes e a divisão de classes é uma construção histórica do próprio homem
enquanto ser social. Quando observamos a formação do ser social e seus
delineamentos podemos constatar que a protoforma de todos os elementos sociais
ocorrem a partir das ações de transformações e interações que o homem
estabeleceu com a natureza e com outros homens, sendo que identificamos como
primeira ordem desse contato o trabalho pois de acordo com Tonet (2009, p. 5):
[...] o trabalho é um intercâmbio entre o homem e a natureza através do qual são produzidos os bens materiais necessários á existência humana. E que este intercâmbio, uma necessidade eterna da humanidade, é uma síntese entre subjetividade e objetividade, vale dizer , entre consciência e realidade objetiva natural. Segundo Marx, projetando antecipadamente na consciência o fim a ser atingido e agindo de modo intencional sobre a natureza, o homem produz uma nova realidade, radicalmente diferente daquela natural. Trata-se da realidade social.
Sendo assim a busca do entendimento ontológico do ser social é pré
requisito para avançarmos nesse debate. Considerando os diferentes momentos
constituintes do ser social não de modo isolado, pois perderiam a sua essência, mas
31
observando-as de modo inter-relacionado cada uma com sua natureza e função
própria que emergem seguem determinadas tendências, mas sempre atendendo a
movimentação de três eixos distintos nas suas interações, pois uma não existe sem
a outra, há uma relação de dependência ontológica, de autonomia relativa e de
determinação recíproca (TONET, 2009).
A partir destas considerações a ação do trabalho nos coloca a raiz do ser social pois é produto das relações que o homem estabelece com a natureza e o que resulta na transformação da realidade natural em realidade social. Estas ações categorizam as funções sociais pela qualidade e pela quantidade de ênfase nas ações que podem privilegiar atividades cognitivas ou práticas atribuídas aos detentores de mais espiritualidade direcionadas as tarefas intelectuais e aos com menos espiritualidade direcionado as tarefas manuais o que nos permite concluir que a divisão do trabalho na sociedade nada tem de natural, mas, que esta é o produto das relações estabelecidas no processo de transformação da natureza (TONET, 2009, p. 6).
Percebe-se a divisão do trabalho e, portanto, da proposta educativa
tendo em vista não a formação igualitária, mas já distinta, tendo em vista atender a
posições diferentes de inserção social, confirmando que esta atuação não foi posta
naturalmente, mas foi estipulada socialmente pelos homens corresponde a
interesses objetivamente postos de determinadas categorias ou grupos sociais.
A esta realidade social existem muitos momentos que fazem parte
de sua evolução e da sua distinção, ou seja, delineando-a tais como a socialidade (o
trabalho é sempre um ato social, de natureza social), a linguagem (em meio a toda
atividade social implica comunicação), educação (o homem aprende tudo o que faz,
o trabalho implica teleologia, intencionalidade prévia e pressupõe a existência de
alternativas), e conhecimento (processo de aquisição de habilidades,
comportamentos e valores enfim tudo que permita ao individuo tornar-se apto a viver
em sociedade) sendo que estes podem ainda variar conforme a complexidade das
estruturas da sociedade que exigem atividades além da produção de bens materiais
(CHASIN, 1988).
De acordo com Frigotto (1993) conforme a ótica burguesa de
conceber a realidade seria fácil resolver o problema das diferenças entre as classes
sociais pois:
Se todos os indivíduos são livres, se todos no mercado de trabalho de trocas podem vender e comprar o que querem, o problema da desigualdade é culpa do individuo. Ou seja, se existem aqueles que têm capital é porque
32
se esforçaram mais, trabalharam mais, sacrificaram o lazer e pouparam para investir (FRIGOTTO, 1993, p. 61).
Cada individuo, se quisesse, teria direito ao que produziu, a
sociedade seria estratificada a partir dos méritos específicos, para tanto a
escolaridade poderia ser considerada critério essencial de qualificação para o
sucesso, de modo natural, já que era igualmente ofertada a todos. Porém a natureza
do capital implica numa relação indissolúvel entre desigualdade real e igualdade
formal, conforme Tonet (2009, p. 12) “uma vez que a educação é subordinada aos
imperativos da reprodução do capital, e uma vez que ele é a matriz da desigualdade
social, seria totalmente absurdo esperar que ele pudesse proporcionar a todos uma
igualdade de acesso a ela.”
Porém, a relação de trabalho não possui nada de natural ela é
socialmente construída, e o modelo capitalista introduzido no mundo com o processo
de industrialização vem sendo mantido pela força hegemônica social, com um
modelo de educação proposto atuando a favor da sua solidificação, pois:
Este processo histórico onde o capital, enquanto uma relação social, busca desvencilhar-se cada vez mais da dependência dos limites impostos pelo trabalhador, pela resistência que este lhes impõe, desenha-se como um processo onde se busca expropriar do trabalhador os meios concretos desta resistência - seu saber, sua qualificação, o domínio de técnicas, sua agilidade, etc. A separação entre o operário e seu instrumento vai determinando uma separação entre trabalhador e conhecimento, entre trabalhador e ciência (FRIGOTTO, 1993, p. 83).
Nessa busca de limitar a formação da classe trabalhadora é a que a
escola técnica se mantém no rumo de buscar sua produtividade, na manutenção das
relações sociais de produção e se materializa na sua improdutividade. “Uma das
funções que a escola pode cumprir é o prolongamento da escolaridade
desqualificada, cujos “custos improdutivos”, além de entrarem no ciclo econômico,
servem de mecanismos de controle, de oferta e demanda de emprego” (FRIGOTTO,
1993, p. 157).
Conclui-se que a escola tem colaborado com o mascaramento da
real situação de desemprego, a educação especializada deve ficar restrita a
determinados ambientes, trabalho e centros de treinamento. Por outro lado
entendemos que o papel da escola deve ser a formação geral, a apropriação dos
conhecimentos historicamente produzidos pelo homem, instrumentalizando as
classes para que possam argumentar e interferir no processo, tornando-se um
33
espaço de lutas, sociais e políticas na defesa do saber das classes. “Sendo assim, a
educação, em seu sentido estrito, é o resultado das necessidades sociais surgidas
em determinada sociedade. Esta exige determinados comportamentos e habilidades
que precisam ser apreendidas” (MELLO, 2009, p. 99).
Considerando que o homem aprende a ser homem e portanto a
conviver em sociedade e seus saberes de modo elaborados reúnem um conjunto
que deve ser generalizado, considerado produto da história da humanidade ou seja
constituem a gênese da ciência da arte e de outros produtos da complexidade do
pensar e agir humano característicos do indivíduo social.
[...] o ser social é a síntese dos atos singulares dos indivíduos em tendências, forças etc. genéricas. Neste contexto, a substância concreta que distingue uma individualidade das demais, bem como da totalidade social, é dada pela qualidade, pela direção etc. da cadeia de decisões alternativas que adota ao longo da vida. É a qualidade das relações que estabelece com o mundo que caracteriza a substancialidade de cada indivíduo singular (LESSA, 2002 apud MELLO, 2009, p. 100, grifo do
autor).
E depois transpostos como patrimônio humano, ou seja, produto do
ser social, esse movimento se constrói a partir de causalidade e teleologia, portanto
específicos do homem, contendo sua gênese no trabalho, mas que não pode ser
confundida com ele pois reúne a infusão de todos os determinantes da realidade
social, para realizar o trabalho as ações são projetas como também seus resultados
e o ato educativo não aparece projetado, sua capacidade pode ser imprevisível, pois
encontra as condições de variabilidade produto das ações humanas que dele
participam podendo tomar rumos diferenciados jamais previamente estipulados em
sua totalidade devido as individualidades reunidas.
Dessa forma, o processo educativo faz parte da reprodução social, tanto no sentido da construção das individualidades quanto no sentido de constituição do gênero humano. Esse processo, em conformidade com Lukács, possui a sua essência em influenciar os homens para que estes estejam aptos a atuaram frente as novas alternativas que encontrarão durante suas vidas. Essa atuação, para que se reproduzam às relações sociais, devem ser aquelas esperadas, ou seja, é necessário que os homens “reajam no modo socialmente desejado”. Entretanto, argumenta o autor que “este propósito se realiza sempre – em parte – e isto contribui para manter a continuidade na transformação da reprodução do ser social; mas ele a longo prazo fracassa” (MELLO, 2009, p. 101).
Podemos concluir portanto que a mudança é possível, mas este é
um processo lento. Não se descarta a importância de compreender o que as
34
gerações passadas produziram, mas permitir o ir além, considerando e vencendo as
contradições postas que impulsionam o ato educativo, a ação humana para um
retrocesso continuo, mas tornando-as passiveis de objetivação para a emancipação
humana real, visando a adequação das ações tendo em vista sanar as novas
necessidades postas e a superação das mesmas transpondo a mera reprodução
social. Considerando de fato as individualidades e por conseguinte as oportunidades
destinadas a cada individuo, pois conforme Leontiev:
A unidade da espécie humana parece ser praticamente inexistente não em virtude das diferenças de cor da pele, da forma dos olhos ou de quaisquer outros traços exteriores, mas sim das enormes diferenças e condições do modo de vida, da riqueza da atividade material e mental, do nível de desenvolvimento das formas e aptidões intelectuais (LEONTIEV, 2004 apud MELLO, 2009, p. 102).
Essa diferença de oportunidades aparece como natural porem
verificando a origem ontológica das relações humanas constatamos que essas
diferenças estruturais são produto do capitalismo que leva à acumulação de uns e a
exploração de outros.
A essa possibilidade de superação torna-se essencial a aquisição de
outros saberes acumulados pela história da humanidade negados pelos processos
educacionais por serem considerados não essenciais a existência humana, pois não
compõem os saberes relacionados a manutenção do capital. São eles as artes, a
cultura corporal entre outros relegados a segundo plano no contexto escolar por não
serem instrumentos diretos da produção capitalista, mas estes são constituintes dos
movimentos teleológicos individuais, capazes de elucidar alternativas que poderão
subsidiar a transposição da mais alta complexidade do pensamento humano. Essas
projeções são fundamentais para a emancipação humana, tão sonhada, como
resultado da práxis social que pode ser alcançada, como produto de relações sociais
para a autonomia do ser social, reconhecendo suas particularidades e prevendo
igualdade das classes.
3.1 QUESTÃO PARA O FÓRUM
- Quais interesses a educação atendeu ao longo da sua história?
- Como a educação pode atuar na busca da emancipação do ser
humano?
36
4 TEXTO 3: EDUCAÇÃO FÍSICA
A Educação Física é uma prática pedagógica que no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, dança, ginástica, formas estas que configuram uma área de conhecimento que podemos chamar de cultura corporal (COLETIVO DE AUTORES, 1993 apud MELLO, 2009, p. 24).
Compreende-se por Educação Física a disciplina que estuda a
cultura corporal, proposta por meio da prática pedagógica de jogos, lutas, ginástica,
dança e esportes, oriunda dos modos de se relacionar dos homens com outros
homens e com a natureza ao longo dos tempos.
Quando resgatamos as relações estipuladas pelo homem,
constatamos que estas visavam sanar as suas necessidades básicas de
manutenção da vida, ou seja, a sua alimentação, seu vestuário, a fuga de seus
predadores, a habitação entre outras de primeira ordem à sua subsistência (TONET,
2009).
A evolução do movimento se dá paralelamente ao surgimento das
novas necessidades essenciais da condição humana, que ocorreram como meio de
viabilizar a caça, a pesca, a criação de habitações, enfim, da ação projetada diante
das barreiras naturais, as quais destacamos, são necessidades históricas e não
naturais.
Os objetivos atribuídos aos exercícios físicos variaram de acordo
com as relações estabelecidas e os modelos societários historicamente
identificados, determinados pelo trabalho, pela linguagem, sociabilidade, educação,
e conhecimento em cada tempo e espaço. Estes momentos interagiram
reciprocamente entre si e resultaram nas estruturas de cada modelo socioeconômico
ao longo dos tempos.
Desde os primórdios da educação ela procurou satisfazer as necessidades de um modelo hegemônico, sua prática foi estabelecida a partir da busca de um modelo estipulado de homem, tendo em vista alcançar resultados previstos para cada segmento social. Essa inserção era considerada natural atendendo as expectativas pré determinadas de liderança, religiosa, utilitária (de saúde, de combate) entre outras tantas, tendo em vista o ordenamento social estabelecido previamente (OLIVEIRA, 1987, p. 63).
Na antiguidade encontramos o primeiro modelo que enfatizava os
exercícios físicos com fins de preparação para a guerra, bem como da estética que
37
iria constituir um modelo de homem ideal. Acreditava-se neste período que o corpo
era o receptáculo da alma, entendendo a formação integral do ser humano onde a
educação fosse fundamentada na gramática, na ginástica e na música.
Deu-se uma transferência dos poderes do corpo para o espírito; De nada serve ao corpo estar substancialmente unido ao espírito ( e, assim, tornar-se vivo e indivisível), é este último que define a sua natureza humana. Doravante, o único defeito do corpo é poder levar a alma a enganar-se (GIL, 1994 apud BRACHT, 1999, p. 96).
Esta ênfase no espírito determinou alguns retrocessos à educação
física durante a Idade Média. Surgem as punições voltadas ao corpo, as diferenças
sociais entre os senhores feudais e os seus servos era atribuída a uma divisão
natural pré-determinada por Deus onde os prazeres humanos eram considerados
uma afronta ao dogma determinado pela Igreja católica.
Este período foi marcado pela exaltação da alma em detrimento do
corpo, que ficou reduzido a uma moradia passageira da verdadeira essência
humana, portanto relegado a segundo plano, ficando a educação física restrita às
práticas masculinas com vistas ao combate em nome da vontade de Deus.
Os camponeses foram arrancados de seu cotidiano rural,
transformados em guerreiros, e com o fim das cruzadas foram redirecionados aos
seus antigos postos nos feudos, porém, não adaptando-se mais a esta rotina que
determinava sua dominação irrestrita pelos senhores feudais. Simultaneamente
inicia-se um movimento de contestação destes valores. Esta era de dominação e
terror começa a ser refletida e discutida por alguns servos que, diante de tanta
injustiça e miséria acabavam por fugir dos seus feudos e a concentravam-se em
pequenas comunidades próximas dos castelos (SAVIANI, 2009).
Originaram-se desta forma os pequenos burgos que tinham como
seu maior capital a sua própria compreensão da construção de artefatos e
indumentárias, que constituíram os ofícios transmitidos de pai para filho, cujo
produto era utilizado como troca para obtenção de sua alimentação, vestuário e
habitação (SAVIANI, 2009).
Estes ideais de liberdade logo se espalharam e subsidiaram o maior
movimento até então previsto pelo povo na luta por direitos iguais, considerados
interesses da maioria, o que determinou a revolução e resultou na ascensão da
burguesia ao poder.
38
Foram instituídos os sistemas nacionais de ensino em meados do
século XIX, “inspirou-se no princípio de que a educação é direito de todos e dever do
estado ¨ buscando romper com o antigo regime, e transformar os antigos súditos em
cidadãos para tanto era essencial vencer a ignorância” (SAVIANI, 2009, p. 5).
Estes objetivos generalizados tornaram real o sonho da educação
pra todos entre outras estruturas sociais que até então eram voltadas ao poder
hegemônico Estes ideários solidificaram a necessidade de instituições educacionais,
sanitárias, habitacionais e nasce a instituição Escola.
A Educação Física, em seu início, além de valorizada por suas bases científicas e de ter suma importância enquanto higienizadora em um momento em que a sociedade era produtora de enfermidades, contribuía então para a formação do caráter, disciplinando a vontade, pois era necessário apaziguar os ânimos, formando o cidadão cada vez mais responsável por si e pela manutenção da ordem social. Isto contribuiu também com os movimentos de formação dos Estados Nacionais, capitaneados pela burguesia (MELLO, 2009, p. 123).
No espaço previsto para a aquisição de determinados valores e
conhecimentos necessários à manutenção desta nova ordem social surgem métodos
ginásticos determinados para a aquisição do vigor físico e adestramento. Inspirado
por esta tendência o Brasil institui a Educação Física como disciplina, que era
associada às atividades militares, portanto conduzida e orientada pelos próprios
oficiais do exército apenas para os alunos do gênero masculino.
A fragilização da saúde feminina conduziu a sua implantação
direcionada também as alunas atendendo a fins de profilaxia e preparação para a
maternidade. A educação física compreendia funções de atuações higiênicas tendo
em vista melhorar os níveis de saúde da população em geral (SAVIANI, 2009). Com
a implantação do Estado Novo (1937 a 1945) sua função utilitária foi também
empregada na orientação com o cuidado da raça brasileira, visava a eugenia, ou
seja, a purificação biológica dos homens, a ampliação do vigor físico, tendo em vista
a ampliação da produtividade(CASTELLANI FILHO,1988, p. 56). Estas visões foram
balizadas atendendo expectativas do poder hegemônico. Chega ao Brasil o método
de esportivização generalizada que propunha a ascensão por meio de resultados
esportivos do país buscando sua elevação em meio às potencias esportivas de
primeiro mundo (CASTELLANI FILHO,1988).
Em meio aos anos 80 inicia-se o debate que buscava superar a
39
limitada visão que deslocava seu foco da biologia, psicomotricidade e da aptidão
física da Educação Física. Iniciam inúmeras constatações de que sua função sempre
foi utilitária e atuou na manutenção das estruturas sociais impostas pelo sistema
capitalista (BRACHT, 1999, p. 6).
Começa a busca de uma concepção que contribuísse para a
transformação social colocando a escola como redentora de todos os problemas
sócio econômicos vividos pela maioria dos cidadãos brasileiros. Esta corrida
acelerou-se na criação e implementação de estratégias da educação e Educação
Física que resultassem num modelo bem sucedido de cidadão, como esses
problemas fossem apenas originários da falta de conhecimento, de preparação para
a inserção social ou ainda da culpa do próprio individuo que por sua insuficiência
estaria destinado ao fracasso(FRIGOTTO, 1993).
Esta visão utópica resultou em diversas práticas que conduziram a
um esvaziamento total dos conteúdos propostos pela escola e na absorção de
papeis atribuídos a ela que colaboraram para o seu distanciamento de seu principal
foco ou seja, da sistematização de conteúdos e apropriação de saberes produzidos
pela humanidade ao longo dos tempos (FRIGOTTO, 1993).
Acredita- se que a minimização da problemática educacional é
também dos setores econômicos, políticos e sociais de nosso país. A educação e a
Educação Física compreendem um dos campos supra-estruturais que constituem a
forma social vivida na atualidade, imposta pelo sistema capitalista. Acreditar na sua
ruptura é pensar não mais teoricamente, mas acreditar que o movimento da história
baseia-se em ações de homens com outros homens e com a natureza e que sua
emancipação humana vai além dos muros da escola, mas depende explicitamente
dos fatores que a determinam externamente.
O processo de individuação de cada ser humano deve ser
enriquecido por meio do saber sistematizado, mais do que comportamentos
individuais, precisamos alcançar condutas de classe tornando o enriquecimento
pedagógico não de indivíduos isoladamente, mas, da classe trabalhadora como um
todo e apenas através desta generalização dos processos educacionais é que
alcançaremos a tão sonhada emancipação de classe. Mas sempre e necessário
lembrar, esta emancipação não depende somente nem fundamentalmente da
educação, mas da universalização do trabalho livremente associado (MÉSZÁROS,
2005). Em outra direção, atendendo ao determinantes deste modelo societário, a
40
Educação Física tem se preocupado com a instrumentalização dos indivíduos,
considerados isoladamente e independentemente da forma social. Acreditamos, na
perspectiva da emancipação humana, que devemos contemplar ações coletivas que
conduzam à formação integral e possam instrumentalizar os indivíduos tratados
como sujeitos constituíntes de uma classe social fundamental, generalizando
expectativas, ampliando as possibilidades de ações, pensamentos e reações
capazes de promover a revolução deste modelo societário como um todo.
A Educação Física se encontra relegada a segundo plano no
contexto escolar por não possuir uma contribuição direta para a formação do
trabalhador atual, ela se transformou em uma ferramenta de apoio ao consumo das
mercadorias produzidas. Deste modo, sua função para o capital dentro da escola
pública não é mais tão importante, pois ela tornou-se um negócio privado muito mais
rentável, que atende as expectativas do mercado na atualidade fora da escola, tais
como as academias, escolinhas esportivas entre outras.
Na sociedade capitalista, as manifestações dessas atividades às quais chamamos de cultura corporal – pois são os sentidos e significados construídos pelo ser social historicamente – estão relacionadas com a lógica dessa sociedade, ou seja, tendencialmente todas as atividades se tornam mercadorias. Desde aquelas para manutenção da saúde, a arte, as esportivas e lúdicas, acrescentando aquelas que surgem para ajudar a compensar os problemas de saúde causados pela forma de organização do processo de trabalho (MELLO, 2009, p. 84).
Para resistir a esta tendência, é necessária a formação política de
cada professor de Educação Física, tendo em vista ampliar as possibilidades de
interação com os educandos em outra direção e com outra lógica, possibilitando a
apropriação e a crítica dos conhecimentos produzidos historicamente pela área,
desmistificando os valores a esta disciplina atribuídos e inculcados até a atualidade
por meio de práticas pré-determinadas que não se relacionam com o seu cotidiano.
Isto poderá permitir a ressignificação de cada elemento da cultura corporal,
destacando seu caráter de constituinte da realidade social que poderá ser um elo
necessário à emancipação real destes alunos e não a perspectiva imposta pelo
modelo hegemônico.
Que este ambiente que historicamente tem padronizado as reações
e as formas de pensamento possa conduzir os educandos a uma reflexão e a
transformação da estrutura social vigente, percebendo que a educação e a
41
Educação Física se originam nas formas econômicas e vem atuando na
consolidação do sistema capitalista; que são articuladas permanentemente pelo
trabalho, linguagem, socialidade e conhecimento; que como um destes
determinantes tem atuado não rumo a libertação, mas a favor do adestramento dos
homens.
Esse modelo de sociedade, essas formas de educação e da
Educação Física foram remodeladas a partir de interesses econômicos que não
foram naturalmente criados , essa forma societária foi socialmente construída , se
consideramos o trabalho a protoforma do ser social percebemos que essas e outras
formas que constituem a realidade social foram criadas e reelaboradas a partir das
relações do homem com outros homens e com a natureza portanto passiveis de
serem alteradas, transformadas pelos próprios homens, para tanto é fundamental
uma formação humana capaz de colaborar na busca da superação do atual modelo
de sociedade.
4.1 DISCUSSÃO NO FÓRUM
- Ao longo da sua trajetória a Educação Física tem atendido a
quais interesses no currículo escolar?
- Justifique a sua resposta e interaja com dois colegas no fórum;
42
5 TEXTO 4: HISTÓRIA
Para entendermos o tema deste curso, o processo que leva a área
da discussão da legalidade x legitimidade até a discussão da necessidade histórica
da Educação Física na Escola, teremos que passar pela discussão do que é e do
que compreendemos por História. É possível considerá-la uma crônica do cotidiano,
ou ainda, uma descrição de fatos e atos em ordem cronológica?
Tendo em vista ultrapassar esse limitado entendimento, pensada
enquanto ciência, propomos denominar de história “um conjunto mais exatamente
uma totalidade de objetivos, que desfrutam e apresentam uma efetividade própria,
ou seja um processo intelectual que reconstrói, que reproduz, portanto um processo
reflexivo daquele processo objetivo anterior” (PAULO NETO, 1998, p. 12).
Superando a nossa própria concepção da história, considerando que
ela é construída pelos homens, são os homens que fazem a história, essa produção
elucida intencionalidades e projeções pertinentes a cada época, e que portanto
apresentaram os sentidos que seus lideres, sujeitos, que triunfarem ao longo dela
lhe atribuíram, perceber e destacar a ação e a colaboração de seus atores é definir a
quais caminhos a humanidade trilhou e simultaneamente compreender o porque e
quem recebeu os benefícios de cada decisão e ação realizada, Nossa jornada visa
conhecer a trajetória percorrida pela Educação/Educação física e a quais interesses
elas veem atendendo. Iniciemos a nossa viagem que busca identificar seu
desenvolvimento pela sua origem na antiguidade.
Desde os primórdios da educação ela procurou satisfazer as necessidades de um modelo hegemônico, sua prática foi estabelecida a partir da busca de um modelo estipulado de homem, tendo em vista alcançar resultados previstos para cada segmento social. Essa inserção era considerada natural atendendo as expectativas pré determinadas de liderança, religiosa, utilitária (de saúde e de combate) entre outras tantas, tendo em vista o ordenamento social estabelecido previamente (OLIVEIRA, 1987, p. 63).
Platão parte de um contexto onde a educação era fundamentada na
ginástica e na música (MANACORDA, 1989). A Educação Física tal qual a
educação, servia de ferramenta para obtenção de instrumentalização necessária ao
cumprimento de cada tarefa ao longo dos tempos, como nos descreve Saviani
(1987) que:
43
A pedagogia da antiguidade grega era decorrente da filosofia da essência que propunha a educação a todos os homens livres e não apresentavam problemas políticos a educação formalizada era para todos mas, essa concepção essencialista recebe inovação na idade média pois não eram considerados humanos as mulheres e os escravos portanto não tinham direitos de participar da cidadania essa diferença era da essência humana sendo considerada divina, natural (SAVIANI, 1987, p. 35).
Na visão de formação integral do ser humano, prevista por Platão e
Aristóteles, a Educação Física, enquanto ginástica, tinha o mesmo grau de
importância das demais disciplinas. Porém, entre idas e vindas conceituais, a partir
da Idade Média se inicia a concepção que ainda hoje pesa sobre a educação física,
ou seja, sua colocação no segundo plano da formação a partir da visão dicotômica
que fortaleceu o protótipo que atribuía a educação física o paradigma exclusivo da
aptidão física. Nesse sentido se pressupõe um conjunto de saberes atrelados à
promoção do vigor físico , do respeito a hierarquia, da formação moral e higiênica,
ou seja, da análise pura da ênfase no aspecto motriz que variaram da preparação
para guerra, de propiciar o corpo belo e saudável ou de ampliação da produção de
bens e materiais.
Esta disciplina sofre com as funções sociais que lhe foram atribuídas
pelas forças que dominaram a sociedade ao longo dos tempos por vezes seu
interesse mantém suas considerações privilegiando o aprimoramento físico, outros
momentos sociais se voltaram para seu fim estético, ou ainda determinando seus
objetivos á fins profiláticos , ou ainda por seu caráter recreativo, outros pela sua
dimensão relacional porem sempre sobre a visão exclusivamente biológica.
Esta disciplina perde espaço na organização curricular na Escola.
Alguns mantém sua consideração tendo em vista o aprimoramento físico, estético,
seu uso como método profilático, por seu caráter recreativo, ou pela sua dimensão
relacional, porém sempre sobre a visão exclusivamente biológica.
Contudo, refletindo sobre a necessidade da Educação Física na
Educação, torna-se essencial observar as relações humanas desde as suas origens.
Diferentemente dos demais animais, o homem se relaciona com os outros homens e
com a natureza de uma forma muito específica. O homem age teleologicamente,
suas ações são dotadas de intencionalidade que expressam inicialmente a luta por
sua sobrevivência, na obtenção de alimentos e na fuga de seus predadores, com
atitudes muito além do simples instinto natural, pois o homem através destas
relações conseguiu transformar a natureza ao seu favor, a si mesmo e aos demais
44
de sua espécie (TONET, 2009). [lógica de fundo contradizendo a perspectiva
materialista. Há um indício de linguagem como criadora da realidade social.]
Explicar rapidamente o surgimento da linguagem, pode ser com
Mello (2009), Tonet (2009) ou Lessa (2012). Com a linguagem e outras categorias
surgida a partir do trabalho se dá a complexificação da sociedade que acumula cada
vez mais conhecimento. Com a divisão social do trabalho chegamos à criação de
especialistas e instituições responsáveis por preservar e socializar às novas
gerações as conquistas técnicas, filosóficas e científicas. Se antes a família se fazia
responsável por esta tarefa, agora passa a ser algo elaborado existindo a
necessidade da qualificação prévia com um aprendizado composto pelo estudo da
ginástica, da música e da gramática.
Neste sentido e de acordo com Oliveira (1987, p. 62):
A forma de educação organizada que marcou a Grécia antiga foi denominada Paidéia que significava criação de meninos no seu entendimento inicial e foi muito além deste significado considerado processo de educação em sua forma verdadeira natural genuinamente humana, o que não significava totalidade das manifestações e a forma de vida que caracterizava um povo, mas sim, um alto conceito de valor, um ideal consciente e é neste espaço que nasce a história da educação física.
Esta forma de educação preconizava um modelo ideal de formação
que na sua proposta reunia elementos considerados o essencial para a sabedoria do
homem, hábitos e costumes dos cidadãos o que se considerava fundamental como
formação, e claro que envolvia o rigor para o corpo (preparação para a guerra e a
busca da beleza) e a musica para a alma visando o equilíbrio e a harmonia sonhada,
pelo homem grego, surge o primeiro pensamento voltado para a educação integral.
Estes valores se encontram arraigados até os dias atuais no perfil
dos professores de Educação Física, priorizando a dimensão puramente motriz,
inicialmente pela ginástica e mais a frente priorizando o esporte em seu rol de
atividades previstas, destinadas historicamente a elite, incorporando fins médicos,
militares ou utilitários.
Observou-se três seguimentos sociais e em três categorias de
preparação: A classe industrial (artífices), o instintivo; Classe militar (guerreiros ou
guardiões) o combativo; Classe filosófica (magistrados), o racional; Onde cada
seguimento era canalizado para execução da sua obra social , este modelo
combinava Ethos (hábitos) que o fizessem ser digno e bom tanto como governado
45
quanto como governante, com o tempo além de formar o homem para sua inserção
social pré-determinada buscava formar o cidadão.
A diferença no tipo de educação que cada classe recebe é histórica,
pois a educação sistematizada era atribuída somente àqueles que exerceriam
atividades relacionadas aos governantes. Era ofertado o ensino técnico aos artífices
e s a formação moral que lhes condicionava a obedecer. A educação sistematizada
era ofertada para a classe dos guardiões e magistrados, dentre eles eram escolhidos
os melhores, que se justificava, por serem de grande espiritualidade. A estes sim era
ofertada a formação superior e lhes era atribuída a tarefa de governar.
A “educação do corpo” acompanhava todo o período de preparação
a partir dos três anos. Com sete anos a introdução a cultura intelectual, com
quatorze anos a educação musical, dezessete anos a educação militar e a partir de
vinte e um anos agora só para os mais capazes a matemática, a filosofia, o caráter
científico, e após a formação dialética, este processo durava cerca de cinquenta
anos ao todo como nos relata Oliveira (1987, p. 65).
A Educação Física na escola tradicional visava superar a qualquer
custo a ignorância difundindo a instrução e os conhecimentos já acumulados através
de comandos, objetivos severos, cabia ao aluno apenas a assimilação dos
conteúdos previamente determinados pelo professor, não alcançou seu ideal de
implantação que era transformar os súditos em cidadãos, com o tempo se iniciaram
as críticas e a reestruturação escolar que deu origem a escola nova, no final do
século XIX.
Sua função seria de equalizadora social ao contrário da escola
tradicional, considerava o eixo principal do educando a partir dele mesmo e das suas
características individuais, pressupõe a inclusão das considerações psicológicas e
afetivas e idealizava uma organização curricular considerando as experiências dos
educandos. Não substituiu a escola tradicional conviveram e convivem juntas na
prática escolar. Conforme Libâneo (1985), em contra partida tornou-se possível a
flexibilização dos conteúdos e diminuiu a responsabilidade dos professores, estas
escolas modelos centralizavam as ações de ensino nas expectativas individuais o
que poderia fortalecer o desenvolvimento cultural de alguns, mas também as
desigualdades sociais, esta deficiência na formação sistemática leva a reflexão e a
busca de um outro modelo educacional tendo em vista a superação da
marginalidade social atribuída exclusivamente a falta de conhecimentos
46
historicamente postulados.
“A busca de Mão de obra qualificada e a incidência sobre a busca de
resultados, por conseguinte, o aumento da produção se torna o norte de outro
modelo educativo” (CASTELLANI FILHO, 1988, p. 219), ao findar a primeira metade
do século XX, O tecnicismo que se apropriava aos moldes da indústria que idealiza a
superação individual e o destaque singular de alguns talentos que com sua
eficiência e liderança natos permitia a estes o sucesso e a outros nem tão
preparados o fracasso escolar e pessoal. O professor era considerado um técnico
que executaria os modelos pedagógicos pré-estabelecidos, com a função de
preparar de indivíduos para inserção no mercado de trabalho. A educação física
neste contexto assume o papel de descobrir, detectar talentos e atua com ênfase na
busca da performance, portanto vive o seu auge da esportivização, priorizava os
aptos e excluía os incapazes onde o centro do ato educativo era a organização
racional dos conteúdos e o planejamento, sendo alunos e professores coadjuvantes
no processo educacional. Obedeciam a organização sem contestação, sua
implantação ocorreu em torno de 1960, em meio a reorganização nacional político
econômica proposta pelos militares tendo em vista a racionalização do modelo
capitalista, marcadas com as leis 5.540/68 e 5.692/71, que reorganizavam o ensino
superior e o ensino de 1º e 2º graus, para manter a ordem nacional e satisfazer a
demanda do mercado profissional (LIBÂNEO, 1985, p. 32).
Inicia-se o conflito de tendências, alguns intelectuais da área
começam a questionar o papel da Educação Física, e a buscar não mais a sua
legalidade mas a sua legitimidade em meio ao currículo escolar. V Se inicia uma
busca para responder em qual área de conhecimento essa disciplina pode ser
embasada, alguns propõem vinculá-la exclusivamente a biologia, ou a área médica e
se coloca um debate sob outras perspectivas filosóficas além do positivismo, que
começava a desenvolver seu corpo de conhecimento em meio as ciências humanas
e ao estudos voltados às ciências sociais.
Vale a pena comentar que uma das propostas de renovação da área
se constituiu com a Psicomotricidade. Após as discussões ocorridas na área durante
a década de 1980, a criação de entidades científicas e o diálogo com os movimentos
sociais, novas proposta vieram a público.
Conforme as Diretrizes Curriculares para A Educação Básica
(PARANÁ, 2008, p. 44-45):
47
Considera-se como tendência crítica na educação física a crítico superadora baseado nos pressupostos da pedagogia histórico crítica desenvolvida por Demerval Saviani, cujo objeto da educação física é a cultura corporal, formada por conteúdos tais como: esporte, ginástica, jogos e brincadeiras, lutas e a dança. O conhecimento é sistematizado em ciclos e tratado de forma historicizada e espiralada, conforme o grau de complexidade; bem como a crítico emancipatória que parte de uma concepção de movimento denominada de dialógica. Movimento humano é entendido como uma das formas de comunicação com o mundo sobre uma visão crítica e independentemente do seguimento social a que se pertence.
Considera-se necessário observar que estas correntes criticas da
educação física partem de teorias do conhecimento diferentes, sendo a primeira a
partir do materialismo dialético (proposto por Karl Marx) representada pelos autores
Carmem Lúcia Soares, Celi Taffarel, Elizabeth Varjal, Lino Castellani Filho, Michele
Ortega Escobar e Valter Bracht, na década de 90. A segunda da fenomenologia
(Merleau Ponty) e da Teoria Crítica (autores da escola de Frankfurt) representada
pelo pesquisador Elenor Kunz na mesma década. Estas teorias expressam visões
de mundo, ou, interesses de classes divergentes e, se tomadas enquanto a mesma
coisa, expressariam o ecletismo científico-pedagógico e possivelmente a opção
política, conforme criticada por Mészáros (2005).
Torna-se essencial compreender em que tempo e espaço estaremos
atuando, mas antes de tudo com que ser estaremos trabalhando. Será que o
professor de todas as disciplinas, incluindo a Educação Física, reflete sobre a
necessidade do ensino/aprendizado do conteúdo específico da sua disciplina com o
processo de desenvolvimento do ser humano, sobre o que caracteriza este ser seu
histórico/social ou seu caráter natural? Marx e Engels (apud TONET, 2009) mostram
que o ponto de partida para este entendimento são os indivíduos reais, suas ações e
suas condições materiais de vida e afirmam também que ao examinar estes
indivíduos constata-se com facilidade que o ato mais fundamental que eles devem
realizar para poderem existir é a transformação da natureza, ou seja, o ato do
trabalho.
A partir destas considerações a ação do trabalho nos coloca a raiz do ser social, pois é produto das relações que o homem estabelece com a natureza e o que resulta na transformação da realidade natural em realidade social. Estas ações categorizam as funções sociais pela qualidade e pela quantidade de ênfase nas ações que podem privilegiar atividades cognitivas ou práticas atribuídas aos detentores de mais espiritualidade direcionadas as tarefas intelectuais e aos com menos espiritualidade direcionado as tarefas manuais o que nos permite concluir que a divisão do trabalho na sociedade nada tem de natural, mas, que esta é o produto das
48
relações estabelecidas no processo de transformação da natureza (TONET, 2009, p. 6).
A esta realidade social existem muitos momentos que fazem parte
de sua evolução e da sua distinção, ou seja, delineando-a tais como a socialidade (o
trabalho é sempre um ato social, de natureza social), a linguagem (toda atividade
social implica comunicação), educação (o homem aprende tudo o que faz, o trabalho
implica teleologia, intencionalidade prévia e pressupõe a existência de alternativas),
e conhecimento (processo de aquisição de habilidades, comportamentos e valores
enfim tudo que permita ao individuo tornar-se apto a viver) sendo que estes podem
ainda variar conforme a complexidade das estruturas da sociedade que exigem
atividades além da produção de bens materiais (CHASIN, 1988).
É preciso ir além da observação das teorias da educação, pois para
conhecer a essência do ato educativo é preciso conhecer a raiz das relações
humanas, que acontecem a partir do trabalho. Utilizando a teoria do materialismo
dialético buscaremos compreender a história da educação a partir da perspectiva
não singular, individual, mas sobre a ótica de classes distinguindo a natureza que
funda o trabalho, da natureza que funda a ação educativa, delineando o ser social e
as estruturas que o constituem.
De acordo com Frigotto (1993) conforme a ótica burguesa de
conceber a realidade seria fácil resolver o problema das diferenças entre as classes
sociais pois:
Se todos os indivíduos são livres, se todos no mercado de trabalho de trocas podem vender e comprar o que querem, o problema da desigualdade é culpa do individuo. Ou seja, se existem aqueles que têm capital é porque se esforçaram mais, trabalharam mais, sacrif icaram o lazer e pouparam para investir (FRIGOTTO, 1993, p. 61).
Cada indivíduo se quisesse teria direito ao que produziu, a
sociedade seria estratificada a partir dos méritos específicos, para tanto a
escolaridade poderia ser considerada critério essencial de qualificação para o
sucesso, de modo natural, já que era igualmente ofertada a todos. Porém a natureza
do capital implica numa relação indissolúvel entre desigualdade real e igualdade
formal, conforme Tonet (2009, p. 12) “uma vez que a educação é subordinada aos
imperativos da reprodução do capital, e uma vez que ele é a matriz da desigualdade
social, seria totalmente absurdo esperar que ele pudesse proporcionar a todos uma
49
igualdade de acesso a ela”.
Porém a relação de trabalho não possui nada de natural ela é
socialmente construída, e o modelo capitalista introduzido no mundo com o processo
de industrialização vem sendo mantido pela força hegemônica social, e o modelo de
educação proposto atua a favor da sua solidificação pois:
Este processo histórico onde o capital, enquanto uma relação social, busca desvencilhar-se cada vez mais da dependência dos limites impostos pelo trabalhador, pela resistência que este lhes impõe, desenha-se como um processo onde se busca expropiar do trabalhador os meios concretos desta resistência- seu saber, sua qualificação, o domínio de técnicas, sua agilidade, etc. A separação entre o operário e seu instrumento vai determinando uma separação entre trabalhador e conhecimento, entre trabalhador e ciência (FRIGOTTO, 1993, p. 83).
Nessa busca de limitar a formação da classe trabalhadora é que a
escola técnica se mantém no rumo de buscar sua produtividade, na manutenção das
relações sociais de produção e se materializa na sua improdutividade. “Uma das
funções que a escola pode cumprir é o prolongamento da escolaridade
desqualificada, cujos “custos improdutivos”, além de entrarem no ciclo econômico,
servem de mecanismos de controle, de oferta e demanda de emprego” (FRIGOTTO,
1993, p. 157).
Conclui-se que a escola tem colaborado com o mascaramento da
real situação de desemprego, a educação especializada deve ficar restrita a
determinados ambientes, trabalho e centros de treinamento. Por outro lado,
entendemos que o papel da escola deve ser a formação geral, a apropriação dos
conhecimentos historicamente produzidos pelo homem, instrumentalizando a classe
trabalhadora para que possa argumentar e interferir no processo, tornando-se um
espaço de lutas, sociais e políticas na defesa do saber socialmente produzido.
Paralelamente a educação, a Educação Física com o surgimento do
capitalismo tem seu foco na resolução dos problemas dessa nova sociedade,
empenhada na busca de novos hábitos e costumes para formação do homem ideal
que correspondesse aos novos meios de produção, bem como na manutenção
deste modelo econômico tal como descreve Mello (2009, p. 123):
A Educação Física, em seu início, além de valorizada por suas bases científicas e de ter suma importância enquanto higienizadora em um momento em que a sociedade era produtora de enfermidades, contribuía então para a formação do caráter,disciplinando a vontade, pois era necessário apaziguar os ânimos, formando o cidadão cada vez mais
50
responsável por si e pela manutenção da ordem social. Isto contribuiu também com os movimentos de formação dos Estados Nacionais, capitaneados pela burguesia.
Tornando-se historicamente necessária como saber sistematizado
na escola, os interesses objetivados pela educação eram também atribuídos a
Educação Física, sua prática evolui tal qual a perspectiva educativa prevista pelo
currículo escolar. Portanto não podemos desvincular sua prática da direção da
educação em geral, pois tem buscado atender as expectativas a ela atribuídas
nesse universo. Então a sua legalidade ou a sua legitimidade estão vinculadas a sua
necessidade histórica socialmente posta, que tem como ponto de partida a forma de
produzir a existência e sua correspondente visão política. Segundo nossa intenção
em alcançar a necessidade histórica da Educação Física, colaborando com a
emancipação humana, deveremos considerar, além da atividade prática dos
homens, a reunião de intelectuais que tenham a opção política e a capacidade
técnica voltada aos interesses dos trabalhadores, tendo em vista a educação voltada
à formação integral do ser humano, e não ao mercado.
É preciso buscar estratégias que permeiem uma escola que atenda
a sistematização, formalização do saber produzido coletivamente ao longo dos
tempos em conhecimentos científicos e técnicos a serem apropriados pela classe
trabalhadora enquanto sujeitos de classe.
51
6 TEXTO 5: CONHECENDO AS CONTRADIÇÕES DAS DIRETRIZES
CURRICULARES DO PARANÁ
As diretrizes curriculares do Estado do Paraná surgem na tentativa
de propor um encaminhamento metodológico sistematizado da educação no ensino
fundamental e médio, objetivando originar-se no chão da escola, produzido pelos
professores da rede estadual de ensino, apresentando, portanto um ideal
democrático (PARANÁ, 2008).
Essa discussão buscou refletir as diversas concepções teóricas de
conhecimento humano, e sua solidificação foi proposta tendo em vista a construção
coletiva deste documento, essas ações iniciam sua efetivação com a idealização do
currículo básico do Paraná na metade dos anos de 1980, e chegam as instituições
de ensino, nos anos 90, está proposta vinculava-se no materialismo histórico
dialético e vigorou no Estado até quase o fim desta década.
Estas diretrizes são frutos desta matriz curricular, sua reorganização
visou atender as novas perspectivas educacionais, e influenciou as demais ações
desenvolvidas pela SEED-PR. Sua produção teve início em 2003, avançou nos anos
seguinte por meio de encontros, simpósios e semanas de estudos pedagógicos por
disciplina e área de conhecimento. Em 2007, a equipe pedagógica da Secretaria
Estadual de Educação percorreu os 32 Núcleos Regionais de Educação, onde foram
propostos debates e grupos de estudo acerca da reflexão e revisão dos textos
relacionados aos fundamentos teórico-metodológicos das diretrizes nas mais
diversas disciplinas. As produções foram revisadas por teóricos e estudiosos de
referência em cada uma das disciplinas, passa a veicular então a versão preliminar
das diretrizes e a sua versão final em 2008, tendo em vista nortear a prática
pedagógica dos professores da rede estadual do Paraná.
A sua redação final apresenta-se distribuída em dois momentos, o
primeiro apresenta o seguinte formato de estudo (PARANÁ, 2008, p. 8):
[...] textos que compõem esse caderno apresentam-se montados do seguinte modo: O primeiro, sobre a Educação Básica, inicia-se com uma breve discussão sobre as formas históricas de organização curricular, seguida da concepção de currículo proposta nestas diretrizes para a rede pública estadual, justificada e fundamentada pelos conceitos de conhecimento, conteúdos escolares, interdisciplinaridade, contextualização e avaliação. O segundo texto refere-se à sua disciplina de formação/atuação. Inicia-se com um breve histórico sobre a constituição dessa disciplina como campo
52
do conhecimento e contextualiza os interesses políticos, econômicos e sociais que interferiram na seleção dos saberes e nas práticas de ensino trabalhados na escola básica. Em seguida, apresenta os fundamentos teórico-metodológicos e os conteúdos estruturantes que devem organizar o trabalho docente.
Buscou se opor as ações propostas pelo governo neoliberal
expressas pelos PCN-EM, visando manter a atuação no campo das teorias críticas
em educação, a opção por metodologias inovadoras de ensino aprendizagem,
considerando as dimensões do conhecimento científico, artístico e filosófico
igualitariamente, propondo um currículo em tese disciplinar.
Porém sua finalidade expressa era fortalecer a função da escola de
instrumentalizar os alunos para um “[...] futuro que vislumbre trabalho, cidadania e
uma vida digna” (PARANÁ, 2008, p. 07). Esse objetivo é semelhante ao proposto no
Relatório Delors, segundo o qual a função da escola é contribuir para o “[...]
exercício de uma cidadania adaptada às exigências do nosso tempo”
(DELORS,1998, p. 68 apud GILIOLI, 2013 ).
O que conduz a conformação, dos educandos diante das estruturas
sociais vigentes o que não caracteriza a teoria crítica proposta teoricamente, mas
como agente de manutenção do sistema capitalista, através da conformação social
concebendo as características individuais como determinantes do sucesso ou do
insucesso de cada um, alcançando o objetivo claro de adaptação as condições
sociais vigentes, bem sendo que deste modo pouco colabora para o
desenvolvimento dos indivíduos.
Destaca teoricamente os condicionantes históricos e culturais
presentes no currículo disciplinar e simultaneamente considera a perspectiva
interdisciplinar, o que sugere a insuficiência das disciplinas, mas também suas
especificidades próprias na busca da compreensão de um objeto qualquer.
A defesa dessa pluralidade metodológica corresponde à
necessidade de a escola “[...] atender igualmente aos sujeitos, seja qual for sua
condição social e econômica, seu pertencimento étnico e cultural e às possíveis
necessidades especiais para aprendizagem” (PARANÁ, 2008, p. 15).
O processo deve propor a contextualização dos conteúdos, integrar
o conhecimento disciplinar em uma realidade que evidencia a vivência plena do
educando. Essas considerações têm promovido equívocos no interior desta
proposta, pois permite o ecletismo pedagógico que evidencia contradições que
53
mantém o projeto pedagógico a serviço do sistema capitalista. Disfarçando o
currículo com novas roupagens, mantém oculto seus reais objetivos, evidenciados
nos planejamentos práticos, produtos da salada pedagógica que norteou sua origem
e que impossibilita a efetivação de uma práxis emancipadora. Torna-se essencial
definir de modo real qual homem, qual sujeito, que mundo convivemos e a qual a
proposta de formação pretendida. Em meio a este caos o processo de humanização
previsto no interior da escola tem sido determinado por forças externas a ela, a
mantendo ‘competente’ na sua ‘incompetência’, parafraseando Frigotto (1993).
“Uma das funções que a escola pode cumprir é o prolongamento da
escolaridade desqualificada, cujos “custos improdutivos”, além de entrarem no ciclo
econômico, servem de mecanismos de controle, de oferta e demanda de emprego”
(FRIGOTTO, 1993, p. 157).
Ficando evidente a divisão social em classes opostas, e ainda a
manutenção dessa contradição, com a distribuição do saber destinado a classe
trabalhadora e o saber destinado a classe hegemônica atuando como meio de
doutrinação social para que tudo continue como está, ou seja na ordem capitalista,
pressupondo que são realidades imutáveis, estáticas que independem da ação
humana. Essas verdades são mentirosas, pois o caráter histórico do homem, reflete
que o processo de humanização fora criado a partir das relações, dos homens com
os homens e com a natureza, ou seja pelo trabalho.
Na análise dessas interações percebeu-se que os homens desde as
suas origens diferentemente, dos demais animais, executou ações dotadas de
intencionalidades que expressavam a busca de sua sobrevivência, na obtenção de
alimentos e na fuga de seus predadores, com atitudes muito além do simples instinto
natural, pois o homem através destas relações conseguiu transformar a natureza ao
seu favor, a si mesmo e aos demais de sua espécie (TONET, 2009).
A evolução das ações humanas ocorreram na busca da satisfação
das suas necessidades primárias, e das secundarias que resultaram das anteriores
e se transformam permanentemente, pois são produzidas, ampliadas e projetadas a
partir das relações humanas.
A capacidade humana permanente de evolução das suas atividades podem ser observadas além da razão mas a partir da práxis social, as ideias são estabelecidas partindo da prática social e não na ordem inversa, essas relações permeiam a interdependência das categorias que constituem a objetividade e a subjetividade do ser social, esse movimento que é a força
54
motriz da evolução da história, da religião, da filosofia e toda a forma de teoria. (MARX; ENGELS, 2007 apud MELLO, 2009, p. 53).
Portanto, ao negar as condições criadas pela humanidade que
permitem a satisfação das necessidades humanas, condicionamos suas
possibilidades de opções e reduzimos as alternativas que viabilizam práticas
autônomas com vistas a movimentos emancipatórios que resultariam no verdadeiro
exercício da liberdade de todos os seres humanos e não apenas da classe
dominante.
Essa reflexão torna-se essencial no meio escolar tendo em vista não
apenas a formação acadêmica dos educadores, mas também a sua formação
política com consciência de classe, inviabilizada pelos processos educacionais a nós
ofertados e mascarados pelo ecletismo pedagógico, como já identificou Holanda
(1936 apud FRIGOTTO, 2008, p. 57) “entre os brasileiros que se presumem
intelectuais, a facilidade com que se alimentam, ao mesmo tempo de doutrinas dos
mais variados matizes e com que sustentam, simultaneamente as convicções mais
díspares”.
Essa alienação do processo escolar é histórica e considerada
natural e surge remodelada nas Diretrizes Curriculares Estaduais, pois quando
partimos de teorias de conhecimento diferentes poderemos apresentar diversos
focos de compreensão do homem, da sociedade e do mundo atual. Essas
contradições além de reduzir a uma visão superficial, fragmenta e separa os atos e
fatos que constituíram a evolução dos processos de humanização, não possibilita
uma visão ontológica dos fatos mas sim recortes históricos que isolados não
traduzem os determinantes postos da realidade social, que mascaram as
possibilidades do por teológico do devir humano.
Conforme Marx apud FRIGOTTO( 2008, p. 58):
[...] é na e pela práxis, que podemos, sem abandonar a radicalidade teórica e mesmo política, e sem concessões ao
ecletismo, dialogar criticamente com análises que se fundam em outras concepções da realidade.
Assim, se permite que todas as categorias e pressupostos do
conhecimento sejam amplamente explicitados e não ocultados, definidos
criticamente, tendo em vista superar os mecanismos de dominação e doutrinação de
condutas possíveis a cada respectiva classe, que nos permite incorporar interesses
55
e objetivos da minoria em ascensão como se fossem da maioria dominada.
Garantir o processo igualitário de acesso ao saber elaborado é
fundamento primeiro tendo em vista o resgate da proposta dos saberes de modo
disciplinar, considerando as dimensões do conhecimento - filosófica, cientifica e
artística - simultaneamente, de modo interligado tendo em vista a apreensão do
objeto de conhecimento enquanto um todo, dissecando as suas partes constitutivas,
considerando a sua totalidade e não a sua fragmentação, pois essa retaliação
poderá reduzir informações a meros compartimentos isolados sem qualquer ligação.
Tantas palavras que atribuem fetiche a conceitos que buscam um significado neles
mesmos, como transdisciplinaridade e interdisciplinaridade, não respondem
satisfatoriamente a esses problemas da realidade educacional que encontramos
(FRIGOTTO, 2008) e aos limites impostos por esta visão consciente ou
inconscientemente, são uma forma específica cultural, ideológica e científica de
conceber a realidade, de representá-la e de agir de modo concreto na história social.
A sua redação final apresenta o segundo momento com o seguinte
formato de estudo (PARANÁ, 2008, p. 8):
O segundo texto refere-se á sua disciplina de formação/atuação. Inicia-se com um breve histórico sobre a constituição dessa disciplina como campo do conhecimento e contextualiza os interesses políticos, econômicos e sociais que interferiram na seleção dos saberes e nas práticas de ensino trabalhados na escola básica. Em seguida, apresenta os fundamentos teórico-metodológicos e os conteúdos estruturantes que devem organizar o trabalho docente.
Onde observamos a história da Educação Física inicialmente
quando se tornou componente curricular, seu nascimento em meio à influência
determinante de instituições militares e médicas, como meio de promoção da
higienização e do amor a pátria. Em seguida a dominância dos objetivos políticos
que buscavam elevar nosso país a uma potência mundial através de resultados
esportivos, visando ser reconhecido igualmente aos países de primeiro mundo
efetivando em sua prática a esportivização.
Em oposição a este modelo surge a piscomotricidade movimento
que considerou a Educação Física instrumento capaz de colaborar para a
compreensão de outras disciplinas, tendo em vista romper com o paradigma da
aptidão física, ainda emergem outras correntes. A construtivista e a
desenvolvimentista, em meio há tantas contestações, porém nem uma que discutia
56
as estruturas sociais, discussão que somente veio a tona em meio as teorias criticas
que embasaram a redação expressa no currículo básico, em 1990.
A rigidez na escolha dos conteúdos, a insuficiente oferta de formação continuada para consolidar a proposta e, depois, as mudanças de políticas públicas em educação trazidas pelas novas gestões governamentais, a partir de meados dos anos de 1990, dificultaram a implementação dos fundamentos teóricos e políticos do Currículo Básico na prática pedagógica. Por isso, o ensino da Educação Física nas escolas se manteve, em muitos aspectos, em suas dimensões tradicionais, ou seja, com enfoque exclusivamente no desenvolvimento das aptidões físicas, de aspectos psicomotores e na prática esportiva (PARANÁ, 2008, 47).
Impedindo a aplicação do produto, evidenciando a dicotomia da
teoria-prática, corpo-mente, limitando a execução dessa proposta, restringindo a
mera repetição de movimentos retornando ao eixo principal dessa contestação.
Apresentam como meios de transpor a educação tradicional da
prática dessa disciplina a proposta de inclusão dos “Elementos articuladores dos
conteúdos estruturantes para a Educação Básica”, os quais teriam a função de “[...]
integrar e interligar as práticas corporais de forma mais reflexiva e contextualizada¨.
(PARANÁ, 2008, p. 53). São eles:
cultura corporal e corpo; cultura corporal e ludicidade; cultura corporal e saúde;
cultura corporal e mundo do trabalho; cultura corporal e desportivização; cultura corporal - técnica e tática;
cultura corporal e lazer; cultura corporal e diversidade; cultura corporal e mídia.
Compreende-se nesta proposta objetivos que deveriam buscar ir muito além,
da superação da dimensão motriz que enfatiza a execução de movimento, mas
conscientizar-se dele, ampliando a consciência do aluno não apenas pela repetição,
mas pela compreensão das múltiplas determinações da cultura corporal, percebendo
sua reelaboração contínua produzida pelas relações humanas que em nada são
naturais, mas sim socialmente construídas.
Porém, torna-se evidente que essas DCE´s tem atuado na conformação
social pois Conforme as Diretrizes Curriculares para A Educação Básica (2008, p.
44-45):
57
Considera-se como tendência crítica na Educação Física a crítico-superadora baseado nos pressupostos da pedagogia histórico crítica desenvolvida por Demerval Saviani, cujo objeto da educação física é a cultura corporal, formada por conteúdos tais como: esporte, ginástica, jogos e brincadeiras, lutas e a dança. O conhecimento é sistematizado em ciclos e tratado de forma historicizada e espiralada, conforme o grau de complexidade; bem como a crítico-emancipatória parte de uma concepção de movimento denominada de dialógica. Movimento humano é entendido como uma das formas de comunicação com o mundo sobre uma visão crítica e independentemente do seguimento social a que se pertence (DCEs, 2008).
Considerando que estas teorias criticas da Educação Física partem de
teorias do conhecimento diferentes, sendo a primeira a partir do materialismo
dialético (proposto por Karl Marx), representada pelos autores Carmem Lúcia
Soares, Celi Tafarel, Elizabeth Varval, Lino Castelani Filho, Michele Ortega Escobar
e Valter Bracht, na década de 90. A segunda, da fenomenologia ( Merleau Ponty ) e
da teoria crítica representada pelo pesquisador Elenor Kunz na mesma década.
Este documento nasce das criticas as políticas educacionais de 1990, que
consideraram o esvaziamento do conteúdos das disciplinas e se apresentam como
disciplinar, na tentativa de resgatar importância do conhecimento. Porém, apesar de
se diferenciar dos PCN’s pela discussão sobre a importância dos conteúdos
curriculares para a formação dos alunos, a proposta das DCE-EF quanto aos
encaminhamentos metodológicos, os elementos articuladores e à forma de
avaliação, aproxima-se do documento criticado e apresenta princípios de formação
semelhantes, ou seja, respondem às demandas educacionais resultantes do
reordenamento do sistema capitalista (GILIONI, 2013, p.144).
Portanto a organização do processo pedagógico deve considerar as
especificidades e conhecimentos que constituem a totalidade de um objeto
considerando a diversidade de eixos da sua constituição apreendidas e
sedimentadas encaminhando criativamente a solução de múltiplos problemas a partir
de múltiplas possibilidades na produção e na socialização dos saberes necessários
à práxis humana emancipatória.
58
7 ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO
Tendo em vista que a presente proposta de intervenção pedagógica
está voltado aos professores de Educação Física da Rede Estadual de Educação do
Estado do Paraná, na modalidade semi-presencial, o relato do encaminhamento
metodológico é descrito no quadro abaixo.
Quadro 1 - Registro Das Ações Previstas
Número Período Ação
1
Janeiro
(2 horas)
Apresentação do projeto de intervenção pedagógica com
a utilização de slides, contendo o resumo,
problematização, justificativa, objetivos, fundamentação
teórica, e estratégias de ação, a serem adotadas para
implementação desse caderno temático, tendo em vista
evidenciar à comunidade escolar, a direção, equipe
pedagógica, e professores, do Colégio Estadual
Marechal Floriano Peixoto Ensino fundamental e Médio,
a relevância dessa discussão; Objetivamos expor e
sensibilizar a organização escolar da necessidade
histórica disposta na presença da Educação física no
currículo escolar, considerando a sua relevância política
e acadêmica na busca da superação do modelo
hegemônico.(slides do projeto de intervenção, Apêndice
1)
2
Janeiro
(2 horas)
Apresentação do Cronograma de ações da
implementação da intervenção pedagógica para a
direção, equipe pedagógica e professores do Colégio
Estadual Marechal Floriano Peixoto Ensino Fundamental
e Médio, convite para participação desse curso de
formação continuada, que certificará todos os
participantes com a carga horária de 32 horas, pela
universidade Estadual de Londrina, os encontros serão
dispostos em presenciais e virtuais, distribuição e
preenchimento da ficha de inscrição e participação desse
curso de formação continuada(slides do cronograma de
ações, Apêndice 2, e ficha de inscrição Apêndice 3).
Fevereiro
(30 minutos)
Encontro Presencial:
1) Aplicação do questionário de sondagem, (modelo
a ser utilizado apêndice 4) tendo em vista detectar
as informações que cada participante possui a
cerca do tema, identificar a visão que eles
possuem sobre a importância da Educação Física
59
3
(30) minutos
(1horas)
(1 hora)
(1 hora)
no contexto escolar e ainda perceber as
características da pratica pedagógica utilizada
pelos profissionais desta disciplina.
2) Sensibilização a cerca do tema proposto,
observação e reflexão do vídeo ¨ O Mito da
Caverna ¨, atividade proposta conforme apêndice
5. O homem nasce humano ou animal? Pronto e
acabado ou é humanizado?
Reflexão a ser efetuada em pequenos grupos
utilizando a anotação das opiniões, e expondo
essas ideias ao grande grupo através da
oralidade, objetivamos deste modo viabilizar a
exposição em linhas gerais da formação dos
homens, identificar os processos de humanização
vivenciados.
3) Leitura dirigida, reflexão e discussão do texto ¨ Ser
Social ¨, texto 1, roteiro de análise apêndice 11,
que trata da explanação sobre a construção da
humanização do individuo,tendo em vista
disponibilizar informações sobre a formação
Ontológica do ser humano; Objetivando
Reconhecer as categorias que fundam o Ser
Social, os momentos que constituem a realidade
social, a relação entre causalidade e teleologia, o
que diferencia o ser social do natural.
4) Leitura de texto, reconhecer o trabalho como
categoria fundante do ser social, momento onde
se origina a realidade social que originou a
formação da sociedade de Classes, qual relação
existe entre o trabalho e os outros momentos
constituintes da realidade social?
5) Mesa redonda para discussão da temática;
Março
(1 hora)
Encontros virtuais
1) Neste encontro iremos observar
imagens(conforme apêndice 7) referentes ao
processo educativo registrados na antiguidade,
utilizaremos o fórum, onde será proposto como
tópico de discussão: O que podemos observar e
compreender a cerca do modo como foram
constituídos os modelos educacionais e a quem
eles eram ofertados neste período histórico? As
considerações, o debate, e a troca de ideias será
proposta entre os cursistas através da interação
60
4
(1 hora)
(1 hora)
(1 hora)
com dois colegas ou mais (fórum 1).
2) Assistiremos a um vídeo(acesse em
www.youtube.com/watch?v=JIbZ28jFqwg )
a cerca da educação na Idade Média,ROT pela
observação e reflexão das suas principais
características, utilizaremos como proposta o
diário, efetuaremos uma produção textual
destacando atos e fatos que solidificaram este
momento histórico na prática educativa, que
deverá ser postado no campo diário do ambiente
virtual(diário 1), (Apêndice 7).
3) Leitura dirigida do texto ¨ Educação ¨, texto 2, que
relata o processo de institucionalização escolar no
século IXX, tendo em vista compreender os traços
que delinearam a formação da escola, crie um
paralelo de como era desenvolvida a educação
neste período e como ela vem sendo desenvolvida
na atualidade, efetue o registro de suas ideias em
no máximo 10 linhas( no diário 2).
4) Através da análise da definição de ¨ currículo ¨
(Apêndice 9) a partir da consideração de alguns
autores, indicados, e da pesquisa nas DCE´S
refletir o que foi considerado importante para ser
ensinado nas escolas, nos períodos já discutidos,
bem como na atualidade, observando o porque
das escolhas em cada período histórico, buscando
elucidar a quem interessava essas determinações,
essa tarefa deverá ser realizada com a produção
textual de no máximo uma lauda e conter as
referencias teóricas utilizadas e postadas no
ambiente virtual(tarefa 1).
5
Abril
(1 hora)
Encontro Presencial
1) Observação de um vídeo( acesse em
www.youtube.com/watch?v=foVvpAvJ0LE) de
sensibilização, Mas o que é Educação Física?;
Dinâmica: cada integrante irá elaborar uma
definição da disciplina cada um fará anotação
deste parágrafo em uma folha sem nome, dobrará
e colará no quadro, após todos efetuarem a
colocação no quadro, cada um pegará um papel
aleatoriamente em um circulo cada um vai levar a
definição que continha no papel, dirá se concorda
ou não justificando suas escolhas, um colega será
61
(3 horas)
(1 hora)
(3 horas)
o redator geral e anotará todas as possibilidades
no quadro negro da sala, o que permitirá uma
discussão com o grande grupo, roteiro utilizado
ver Apêndice 10.
2) Definir O que é Educação Física? através da
leitura do texto ¨ Educação Física ¨( texto 4) em
pequenos grupos, analisar e refletir a criação
dessa disciplina e ainda como ela foi sendo
construída pelos homens ao longo da história da
Educação. Ao longo da sua trajetória a Educação
Física tem atendido a quais interesses no currículo
escolar?
3) Dinâmica: Nesta atividade prática( segue
descrição apêndice 8) terá sido solicitado que
cada cursista traga 3 bombons, alguns alunos
estarão de vendas nos olhos e de forma ditatorial
a professora distribuirá como quiser os bombons,
após oralmente o professor perguntará se estão
satisfeitos cada cursista só poderá responder sim
ou não, após os alunos que estavam com vendas
nos olhos poderão retirá-las e novamente o
professor irá perguntar se sentirão satisfeitos com
a divisão e os deixará justifica-las muitos alegarão
que a distribuição fora injusta pois alguns
ganharam quatro outros apenas um e deste modo
refletiremos que a venda nos olhos de alguns
permitiu que eles concordassem com a divisão
injusta e que a educação pode ser comparada a
está venda, educação é poder enxergar a
verdadeira face e interesses dos fatos.
4) Compreender a prática pedagógica(leitura texto 5)
e os objetivos a ela atribuídos na evolução do
processo educativo, leitura e comparação da
metodologia aplicada nas tendências educacionais
tendo em vista elucidar seus objetivos e reflexos
sociais, essa atividade será proposta de modo
coletivo a observação das características
metodológicas serão efetuadas por grupo de ação
cada grupo ficará responsável por observar a
prática pedagógica proposta em uma tendência
educacional, a sala será dividida em: grupo escola
tradicional, grupo escola nova, grupo escola
tecnicista e grupo escola histórico crítica, cada
grupo irá produzir um quadro síntese das
62
principais características da prática pedagógica e
escolher um líder que realize a exposição oral das
informações obtidas.
6
Maio
(1 hora)
(1 hora)
(1 hora)
(1 hora)
Encontros virtuais
1) Através da leitura do texto História da Educação
Física, leitura texto 3, Refletir Qual o objeto de
estudo da Educação Física? participar do fórum,
no ambiente virtual de aprendizagem, enumerando
os objetos de estudo identificados, justificando sua
resposta e interagindo com dois colegas no
mínimo(fórum 2),.
2) Observar e refletir o vídeo Qual o papel da
Educação Física na Escola da sociedade
capitalista? Realizar anotações no diário, no
ambiente virtual de aprendizagem, sobre suas
considerações(diário 3).
3) Tarefa, realizar uma pesquisa de campo, onde
cada participante deverá entrevistar 2 professores,
utilizando o questionário proposto no primeiro
encontro que estará disponível nesse espaço do
ambiente virtual de aprendizagem, essas
entrevistas deverão serem apresentadas no
próximo encontro presencial, pois temos vista
sondar a concepção de Educação Física que
professores que atuam na rede estadual possuem
da disciplina Educação Física.
4) Identificar nas DCE´S que concepção de homem,
de mundo, de escola e da disciplina de Educação
Física as DCE´S propõem, apontar as suas
considerações e levar para o próximo encontro
presencial.
7
(1 hora)
(1 hora)
(2 horas)
Encontro Presencial
1) Elencar e analisar as respostas encontradas na
pesquisa de Campo, para tanto a turma designará um
redator que reunirá as respostas obtidas para cada
questão proposta no questionário;
1)
2) Comparar as concepções detectadas na pesquisa
de campo
com as previstas nas DCE´S da Educação Física,
63
(2 horas)
(2 horas)
do estado do Paraná.
3) Leitura dirigida do texto ¨ conhecendo as
contradições das DCE´S da Educação Física¨,
texto 6,tendo em vista analisar e discutir as
diversas linhas de conhecimento expressas nas
diretrizes curriculares da disciplina de Educação
Física, do estado do Paraná.
4) Leitura dirigida do projeto (Apêndice 1) ¨ Educação
Física na Escola Contemporânea: da Legitimidade
Rumo a Necessidade Histórica para Alcançar a
Emancipação Humana ¨.
5) Elencar meios de exercer praticas pedagógicas
que colaborem para a libertação ideológica;
6) A partir das considerações, idealizar um plano de
ação docente que contemple a Educação Física e
seus conteúdos, com práticas pedagógicas
capazes de consolidar ações que conduzam a
emancipação humana.
7) Análice, reflexão e conclusão das atividades
desenvolvidas, mesa redonda;
Fonte: Da autora.
64
REFERÊNCIAS
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BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1998.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acessado em: 20 abr. 2013.
BUENO, Francisco da Silveira. Minidicionário da língua portuguesa. Ed. Ver. At. São Paulo: FTD; LISA, 1996.
CASTELLANI FILHO, Lino. Educação Física no Brasil: A história que não se conta. Campinas, SP: Papirus, 1988. Coleção Corpo & Motricidade.
CHASIN, José. Método Dialético. Mímeo, CHAUI, Marilena. Convite a filosofia. São Paulo: Editora Ática, 1999. p. 41
COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez, 1993. Coleção magistério 2ªgrau. Série formação do professor.
ESCOBAR, Micheli Ortega. Cultura Corporal na Escola: Tarefas da Educação Física. Motrivivência. Ano 07, número 08, dezembro de 1995.
FRIGOTTO, Gaudêncio: A produtividade da escola improdutiva: Um(re) exame das relações entre educação e estrutura econômico-social e capitalista-4.ed.-são
Paulo:Cortez, 1993. Lessa, Sérgio. Mundo dos Homens: trabalho e ser social- São Paulo, 2012.-
Instituto Luckács.- 3 edição- revista e corrigida.
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública, A pedagogia Crítico-social dos conteúdos. 27ª ed. São Paulo: Edições Loyola Jesuítas, 1985. Publicado anteriormente na Revista da ANDE, n° 6, 1982. Republicado aqui com
algumas alterações. LIBÂNEO, José Carlos. Tendências pedagógicas na prática escolar. In: ________ . Democratização da Escola Pública – a pedagogia crítico-social dos conteúdos. São Paulo: Loyola, 1992. cap 1. Disponível em:
<http://www.ebah.com.br/content/ABAAAehikAH/libaneo>. Acesso em 15abr2013. PARANÁ. Diretrizes Curriculares de Educação Física Para a Educação Básica,
Curitiba: MENVAVMEM, 2006. SAVIANI, Demerval. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara,
onze teses da educação política. 19.ª ed. Campinas, SP: Cortez / Autores Associados, 2009. Coleção Polêmicas do nosso tempo, 5.
65
OLIVEIRA, Vitor Marinho de. Consenso E Conflito Da Educação Física Brasileira.
Campinas, SP: Papirus, 1994. Coleção corpo & motricidade. OLIVEIRA, Vitor Marinho de (org.). Fundamentos Pedagógicos: Educação Física.
Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1987. TONET, Ivo. Marxismo e Educação. Maceió, 2009. Disponível em:
http://www.ivotonet.xpg.com.br/arquivos/MARXISMO_E_EDUCACAO.pdf. Acessado em: 20 abr. 2013.
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MELLO, Rosângela Aparecida. A necessidade histórica da Educação Física na escola: a
emancipação humana como finalidade.2009, tese de doutorado defendida na Universidade
Estadual de Maringá.
http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/impresso/imp_basico/e1_assuntos_a1.ht
ml , (20[??]), acessado em 27 de maio de 2013 as 13:00.
http://www.dicionarioinformal.com.br/pr%C3%A1tica/
Videos: O mito da caverna: Acesse em www.youtube.com/watch?v=Rft3s0bGi78
Educação na Idade Média, acesse em www.youtube.com/watch?v=JIbZ28jFqwg
Imagens:
67
Apêndice 1 – Dados de Identificação
1 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Professor PDE: Erlice Morais Meira Rosa
Área PDE: Educação Física
NRE: Ivaiporã
Escola de Implementação: Colégio Marechal Floriano Peixoto Ensino Fundamental e
Médio
Público objeto de intervenção: Direção, equipe pedagógica, professores, professores
de educação física, alunos e comunidade em geral.
2 TEMA DE ESTUDO DO PROFESSOR
A Educação Física na escola contemporânea: legitimidade ou emancipação
humana?
3 TÍTULO
Educação Física na escola contemporânea: legitimidade rumo a
necessidade histórica para alcançar a emancipação humana.
4 PALAVRAS-CHAVE
Educação Física escolar; legitimidade; necessidade histórica; emancipação
humana.
5 JUSTIFICATIVA DO TEMA DE ESTUDO
As relações do homem com a natureza e com outros homens se apresentam
a partir da linguagem, da sociabilidade e do trabalho, que muito além de gestos
motores se utiliza da complexidade de estabelecer as conexões intelectuais,
afetivas, motoras e sociais e se expressam por meio da sua integralidade, do
movimento humano. Analisar qualquer gesto motor com fim em si mesmo seria
68
apresentar uma visão simplista do universo humano (ESCOBAR, 1995, p. 93).
Considerando que o saber sistematizado desta integração é o objeto de
estudo da disciplina de educação física, logo percebemos a sua importância no
contexto escolar pressupondo que todo ato educativo é também um ato político pois:
Um projeto político-pedagógico representa uma intenção, ação deliberada, estratégia. É político porque expressa uma intervenção em determinada direção e é pedagógico porque realiza uma reflexão sobre a ação dos homens na realidade explicando suas determinações (COLETIVO DE AUTORES, 1993 apud MELLO, 2009, p. 25).
O ato político carrega uma intenção, de forma que poderemos considerar o
ambiente pedagógico, erroneamente, como um grande instrumento de idealização
do individuo, enquanto que a responsável por este delineamento é a sociedade,
dotada de autonomia e capaz da promoção dos conhecimentos historicamente
acumulados que julga necessários a manutenção da ordem social, utilizando as
manifestações corporais e a sua potencialidade formativa, negando que essas
podem produzir um espaço pedagógico repleto de significados/sentidos, a cultura
corporal.
Esta visão limitada se apresenta a partir da concepção dualista que
considerava o corpo e a mente enquanto partes distintas, torna-se necessário
romper com esta visão que considerou o corpo um receptáculo da alma para a
percepção da integralidade, incorporando o homem enquanto produto da totalidade
dos aspectos de desenvolvimento do ser, aspectos cognitivo, motor e social.
Como registra Vieira Pinto (1979 apud BRACHT, 1992, p. 35) O conteúdo de
todo o conceito, é a sua história. Por tanto torna-se necessário e urgente o resgate
histórico da Educação Física bem como da consideração de todos os elementos,
que a subsidiaram ao longo dos tempos, tais como: a interação humana; modelo
social e econômico vigente, mas sobretudo as concepções de mundo e de homem
que resultaram no acervo das praticas pedagógicas empregadas neste ambiente até
a atualidade e a quais interesses se procurou atender no decorrer desta trajetória.
Considerando esta compreensão dos atos e fatos históricos que marcaram
esta trajetória, percebe-se que a Educação Física incorporou sem contestação as
expectativas que lhe foram atribuídas, evidenciando muito mais as suas fragilidades
ao buscar firmar os interesses da hegemonia política de cada época, o que limitou a
sua práxis produto da mais alta elaboração do pensamento humano a um
69
empilhamento de movimentos repetidos e ordenados que produziu a transposição
muito mais da sua aparência física do que veiculou a expressão dos saberes ali
expressos essencialmente que perpassam a fisiologia, filosofia, sociologia,
pedagogia, psicologia entre tantos outros saberes considerados prioritários no
universo escolar, esta expressão fundamental tem sido considerada apenas sobre a
ótica da aptidão física que tem estabelecido a sua presença desde o século passado
no currículo escolar. Romper com este paradigma é promover muito além da
legalidade, já determinada, na busca de sua legitimidade.
A legalidade foi designada pelo governo brasileiro:
A Educação Física se consolidou no contexto escolar a partir da constituição de 1937, quando objetivava doutrinar, dominar e conter os ímpetos das classes populares; Também enaltecia o patriotismo, a hierarquia e a ordem. Além desses objetivos, a seguiu a risca os princípios higienistas para um corpo forte e saudável, com atividades para um corpo masculino robusto, delineado para defesa e manutenção da família e da pátria. Por sua vez, as atividades dirigidas a mulher deveriam desenvolver a harmonia de suas formas femininas e as exigências da maternidade futura (BRASIL, 2006 apud CASTELLANI FILHO, 1988, p. 58).
Porém, muito mais do que a sua determinação legislativa imposta, esta
disciplina busca a sua valorização e reconhecimento nos currículos escolares, por
meio de uma construção essencialmente democrática para conquistar a sua
legitimidade, ou, melhor dizendo, a identificação de seu sentido social nos universos
escolares.
A partir destas constatações percebemos que buscar a sua legitimidade,
depende de uma atribuição de valor que não será oferecida e nem recebida
individualmente, ações singulares nos conduzem a admitir a nossa própria
incompetência, inconsistência e incoerência e não discutir o verdadeiro eixo desta
temática que é as determinações que recebemos de modo coletivo enquanto
sujeitos de uma classe que a partir do modelo de capital é historicamente utilizada
como ferramenta de manutenção da ordem social e dos meios de produção.
Desmistificar este processo seria buscar recursos no exercício autônomo,
onde o profissional vai exercer a sua função social de promotor de atividades que
permitam a apropriação do saber elaborado utilizando para isso o seu compromisso
com o papel de agente capaz de propiciar a instrumentação necessária à
contestação do modelo sócio político ao qual estamos imersos no contexto
educacional vigente. Instrumentalização dos indivíduos na sua singularidade para
70
que tenham condições de expressar a sua prática desvinculada das determinações
sociais, mas, como práxis humana capaz de superar as estruturas condicionantes
pois os indivíduos constituem o sujeito histórico, e está é a classe , e não a
singularidade, essa relação singular individuo-singularidade , é a chave para a
compreender como está relacionado o individuo ao sujeito histórico, quer dizer no
sujeito temos a individualidade da classe , que está muito além da subjetividade dos
indivíduos não obstante depende da subjetividade destes para se constituir e atuar
como agentes capazes de superar as ações previstas para sua classe ou categoria
social, pois de acordo com a fala de Chasin(1988).
Este sujeito coletivo, dentro do qual atuam e realizam os seus objetivos os sujeitos individuais, esses sujeitos individuais o realizam na medida em que o fazem da perspectiva de certas classes. Aí então a objetividade é entendida como uma possibilidade de classe. É entendida como uma possibilidade de sujeito coletivo. E não como uma escolha do sujeito individual. Isso é um ponto decisivo. A objetividade não é o resultado da construção de um discurso rigoroso, mas a objetividade é o resultado de uma condição objetiva de possibilidade social que permite então a geração do discurso rigoroso. Dito de outro modo, a objetividade não é alcançada por um discurso de rigor, mas o discurso de rigor é constituído, possibilitado por uma possibilidade de classe (CHASIN, 1988, p. 4).
Adotando o referencial teórico-metodológico mais avançado que permite a
apropriação dos elementos da cultura corporal como ferramentas essenciais aos
educandos, tais quais o conjunto de saberes do português, da matemática, da
ciências, da geografia, das artes, da filosofia e sociologia de modo igualitário, a
Educação Física apresenta uma visão de homem que o compreende pelo conjunto
dos seu desenvolvimento e não sobre o prisma da visão dualista que tem se
perpetuado contraditoriamente nos bancos escolares.
Conforme Bracht (1992, p. 35) a verdadeira Educação Física,
[...] é aquela que acontece concretamente e não uma entidade metafísica que estaria hibernando em algum recanto a espera de sua descoberta. Se é isso que estamos perguntando (pela essência no sentido metafísico), estamos perguntando errado , pois a verdadeira Educação Física é aquela que nos construímos no nosso fazer diário. Entendo que, para apreender Educação Física enquanto fenômeno, é preciso, num primeiro momento, desvencilhar-se daquilo que desejamos que ela seja (BRACHT, 1992, p. 25).
Esta atribuição de significado determinará sua relevância não enquanto
compartimento de conhecimentos, mas, enquanto parte essencial dos
conhecimentos necessários á superação da ordem de classes por cada educando.
71
Esta escala de importância será naturalmente atribuída se reconhecida pela
sociedade em geral e pela escola como um todo, porém a importância que ela
possui está muito além do que pensamos, devemos considerar a função social que a
sociedade lhe tem atribuído na escola. Para tanto se torna essencial e urgente
buscar a compreensão da sua necessidade histórica no contexto escolar em cada
momento e em cada sociedade sobre tudo na atualidade a qual está inserida.
Revitalizar o universo desta prática pedagógica, automaticamente
influenciará o produto de ações a ser estabelecida pela nossa categoria professores
de Educação Física, esta influência determinará a ação singular de cada educador o
que transformará além da sua auto imagem, a sua prática pedagógica, permitindo
que ele assuma que existe uma distancia da Educação Física que fazemos da que
queremos, buscando além do seu reconhecimento pessoal, mas,o seu resgate
histórico, a relevância social destes conteúdos, buscando alcançar meios de
implantar ações que conduzam a uma educação totalitária capaz de subsidiar a tão
sonhada superação das hierarquias vigentes, e a emancipação humana.
Porém vencer esses paradigmas e ir além das bases teóricas torna-se
urgente, pois como coloca Mello (2009, p. 46) essas considerações de nada irão
colaborar para a legitimidade da Educação Física no contexto escolar:
Esforço talvez inútil, defendo a tese que se em última instância, não houver uma transformação radical na organização social (necessidade histórica hoje posta), a presença ou não da educação física na escola continuará a depender das necessidades e da lógica do mercado. Como legitimidade diz respeito a questões políticas e de Estado (MELLO, 2009, p. 46).
A partir do pensamento exposto, e tendo em mente que buscamos a melhor
formação para nossos alunos, lutar por legitimidade da Educação Física na escola é,
ao mesmo tempo, permanecer em uma concepção de formação para o mercado de
trabalho. Por outro lado, a discussão da necessidade histórica da Educação Física e
da Escola nos remete a um projeto político de sociedade e formação humana
emancipada. Por esse motivo se faz necessária esta intervenção pedagógica neste
processo de formação no PDE, para trazer à área os instrumentos que melhor nos
auxilie a compreender o contexto e problemas enfrentados na escola pública.
72
7 PROBLEMA / PROBLEMATIZAÇÃO
O momento atual que a educação passa reflete, uma sociedade que espera
muito alem de uma formação acadêmica escolar evidencia que as expectativas em
relação a educação formal apontam para a resolução dos diversos problemas que a
sociedade como um todo vem enfrentado, tais como a busca da harmonia no
ambiente familiar, da inserção profissional entre outras relações antagônicas do
momento histórico como se o fracasso vivido no mundo econômico, político e
cultural tivessem sido produzidos no espaço escolar e a desigualdade dos cidadãos
também se originassem nesse ambiente.
A escola como redentora do modelo social e única reposta a todos os
problemas sociais vem se anulando cada vez mais e tem cedido seu espaço de
formação acadêmica a um vazio que conduz o professor a absorção de diversos
papeis sociais (pai, mãe psicólogo, médico assistente social entre outros) o
distanciando cada vez mais de seu verdadeiro papel, de responsável por ações
formais sistematizadas que permitam a transmissão dos conhecimentos
historicamente elaborados na busca e na aplicação de meios e estratégias que
venham a garantir o acesso e a apropriação dos conhecimentos construídos
coletivamente pela humanidade.
Dentro deste contexto observamos um Professor de Educação física que
percebe a inconsistência de todo o sistema educacional, as fragilidades que tem
norteado esse caminho educativo, mas não tem tido ferramentas capazes para
argumentar e solidificar nem a eficiência da escola muito menos a importância da
sua disciplina no currículo escolar, esse confronto diário resulta em grandes
decepções e há uma busca permanente da sua identidade profissional desde os
anos 1980. Consideramos que esta área pode ser compreendida conforme descreve
o Coletivo de Autores (1993 apud MELLO, 2009, p. 72):
A Educação Física é uma prática pedagógica que no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais como: jogo, esporte, dança, ginástica, formas estas que configuram uma área de conhecimento que podemos chamar de cultura corporal.
Esse debate se trava cotidianamente no ambiente de trabalho e não
apresenta consistência causando confusão na ação pedagógica e na postura
profissional adotada. Esse caótico quadro mental chega a esse profissional em
73
diversos momentos do tempo escolar, sua face se monta em formas distintas a partir
da necessidade imposta pela organização escolar assume a função de organizador
de torneios, o animador de festa, o quebra galho (que cuida de todas as turmas ao
mesmo tempo quando um professor de outra disciplina falta) o bobo da corte (que
deixa feliz seu alunos apenas por levá-los a quadra onde viverão felizes seus 50
minutos de aula livre) mais volume no conselho de classe onde sua opiniões são
consideradas irrelevantes para o aprimoramento educacional dos alunos, esses
traços definem como a sociedade observa a ação do professor de Educação Física.
Diante de tantas controvérsias da escola e da sociedade o professor de
Educação Física tem sido cada vez mais oprimido e ridicularizado por ser o reflexo
de um modelo educativo que se apresenta disposto na quadra poliesportiva o
momento de aula sem paredes do universo escolar. Foco da direção, da equipe
pedagógica de seus colegas, de seus alunos, bem como da sociedade em geral que
como os demais componentes do modelo social vigente vem se mantendo em
posição acrítica onde ainda o melhor remédio é culpar pelos insucessos escolares o
nosso colega do lado. Não são indicados os agentes sociais que têm determinado a
ação pedagógica cada vez mais precarizada pela ação direta das necessidades
postas pelo modelo do capital que tem se mantido ao longo da história.
Observando esse quadro depreciativo o que fazer para romper com as
estruturas que vem delimitando a ação dos profissionais de Educação Física?
Buscando superar as respostas oferecidas a partir de comportamentos individuais
como se o problema estivesse restrito exclusivamente a formação acadêmica, ou ao
talento natural de cada um o caminho seria evidenciar a necessidade do resgate
histórico não apenas da nossa disciplina mas da educação como um todo? Como
permitir a reflexão que possibilite práticas pedagógicas voltadas a de superação do
modelo hegemônico de escola e sociedade? Tendo em vista superar a
desvalorização e a visão limitada sobre a importância da Educação Física escolar o
caminho necessário é a busca da sua legitimidade ou a compreensão da sua
necessidade histórica?
74
8 OBJETIVOS
8.1 Objetivo Geral
Conhecer e compreender os elementos que constituíram a formação
do ser humano e da sociedade que subsidiaram a construção da forma da educação
física tendo em vista promover esse entendimento no sentido de refletir sobre ações
pedagógicas que permitam a superação do modelo do capital impresso nas ações
escolares.
8.2 Objetivos Específicos
Investigar a formação histórica da disciplina Educação Física.
Identificar a visão que professores de outras disciplinas tem a cerca da
Educação Física na sua pratica pedagógica.
Confrontar essa visão com os preceitos teóricos, da Educação Física e
com os previstos nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica do
Estado do Paraná, Educação Física.
A partir da Prática pedagógica da Educação Física, buscar estratégias
de consolidar uma prática pedagógica que conduza a emancipação
humana a partir do contexto escolar.
9 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Procurarei observar a construção deste projeto de pesquisa a partir da ótica
da Educação Física no ambiente escolar, considerando suas dificuldades e seus
rótulos no universo educativo, a linha de pesquisa a ser adota compreende a
reflexão e a prática pedagógica a ser sistematizada pela Educação Física.
Desde os primórdios da educação ela procurou satisfazer as necessidades de um modelo hegemônico, sua prática foi estabelecida a partir da busca de um modelo estipulado de homem, tendo em vista alcançar resultados previstos para cada segmento social. Essa inserção era considerada natural atendendo as expectativas pré determinadas de liderança, religiosa, utilitária (saúde de combate) entre outras tantas, tendo em vista o ordenamento social estabelecido previamente (OLIVEIRA, 1987, p. 63).
75
Platão não se preocupava com o conhecimento pelo conhecimento, pois
para ele conhecer só adquire significado quando formulado para o agir, ou seja o
bem agir social, buscava desenvolver a virtude coletiva (cívica) sem abandonar a
individual (ULMANN, 1982 apud OLIVEIRA, 1987, p. 64).
Platão parte de um contexto onde a educação era fundamentada na
ginástica e na música (MANACORDA, 1989).
A Educação Física tal qual a educação, servia de ferramenta para obtenção
de instrumentalização necessária ao cumprimento de cada tarefa ao longo dos
tempos e espaço, como nos descreve Saviani (1987, p. 35) que:
A pedagogia da antiguidade grega era decorrente da filosofia da essência que propunha a educação a todos os homens livres e não apresentavam problemas políticos a educação formalizada era para todos mas, essa concepção essencialista recebe inovação na idade média pois não eram considerados humanos as mulheres e os escravos portanto não tinham direitos de participar da cidadania essa diferença era da essência humana sendo considerada divina, natural.
Na visão de formação integral do ser humano, prevista por Platão e
Aristóteles, a Educação Física, enquanto ginástica, tinha o mesmo grau de
importância das demais disciplinas. Porém, entre idas e vindas conceituais, a partir
da Idade Média se inicia a concepção que ainda hoje pesa sobre a educação física,
ou seja, sua colocação no segundo plano da formação, a partir da visão dicotômica
que fortaleceu o protótipo que atribuía a educação física o paradigma exclusivo da
aptidão física, ótica que pressupõe um conjunto de saberes atrelados a atividades
com tarefas exclusivas de promoção do rigor físico, do respeito a hierarquia, da
formação moral e higiênica, ou seja da analise pura da ênfase no aspecto motriz que
variaram da preparação para guerra, de propiciar o corpo belo e saudável ou de
ampliação da produção de bens e materiais.
Esta disciplina sofre com a descrença da sociedade, alguns mantém sua
consideração tendo em vista o aprimoramento físico, estético, como método
profilático, ou ainda por seu caráter recreativo, outros pela sua dimensão relacional
porem sempre sobre a visão exclusivamente biológica.
Para compreender os conceitos atuais do ato educativo na Educação Física
e na Educação, torna-se essencial observar as relações humanas desde as suas
origens diferentemente dos demais animais detectou-se ações do homem com o
homem e com a natureza dotadas de intencionalidades que expressavam a busca
76
de sua sobrevivência, na obtenção de alimentos e na fuga de seus predadores, com
atitudes muito além do simples instinto natural, pois o homem através destas
relações conseguiu transformar a natureza ao seu favor, a si mesmo e aos demais
de sua espécie (TONET, 2009).
Através da capacidade humana de observar e reproduzir os canais visuais e
auditivos, oportunizando a criação de um sistema de sinais sonoros para a
codificação e decodificação de informações, nasce a linguagem que é uma
faculdade cognitiva que permitiu aos seres humanos aprender e usar sistemas de
comunicação complexos, considerada determinante na evolução das estruturas
sociais por ele vividas, obteve êxito na transmissão das habilidades e conhecimentos
já adquiridos de geração em geração, criou signos e códigos através de ideogramas
nos mais diversos povos que subsidiaram o surgimento da escrita considerando a
necessidade do desenvolvimento da economia e da sociedade conforme
informações contidas no site (HISTÓRIA..., 2013).
Marca-se com este fato o surgimento de um responsável formal para a
sistematização e transmissão destas informações, se antes a família se fazia
responsável por esta tarefa, agora passa a ser algo elaborado existindo a
necessidade da qualificação prévia, este conjunto de ações compunham o estudo da
ginástica, da música e da gramática.
Neste sentido e de acordo com Oliveira (1987, p. 62):
A forma de educação organizada que marcou a Grécia antiga foi denominada Paidéia que significava criação de meninos no seu entendimento inicial e foi muito além deste significado considerado processo de educação em sua forma verdadeira natural genuinamente humana, o que não significava totalidade das manifestações e a forma de vida que caracterizava um povo, mas sim, um alto conceito de valor, um ideal consciente e é neste espaço que nasce a história da educação física.
Está forma de educação preconizava um modelo ideal de formação que na
sua proposta reunia elementos considerados, nesta época, o essencial a sabedoria
do homem, hábitos e costumes do povo em geral e ainda o que se considerava
fundamental como formação, e claro que envolvia o bem estar físico o rigor para o
corpo e a musica para a alma visando o equilíbrio e a harmonia sonhada, pelo
homem grego, surge o primeiro pensamento voltado para a educação integral.
Estes valores se encontram arraigados até os dias atuais no perfil do
profissional de Educação Física, priorizando a dimensão puramente motriz,
77
inicialmente pela ginástica e mais a frente priorizando o esporte em seu rol de
atividades previstas, destinadas historicamente a elite, incorporando fins médicos,
militares ou utilitários.
Se observou três seguimentos sociais e em três categorias de preparação: A
classe industrial (artífices), o instintivo; Classe militar (guerreiros ou guardiões) o
combativo; Classe filosófica (magistrados), o racional; Onde cada seguimento era
canalizado para execução da sua obra social , este modelo combinava Ethos
(hábitos) que o fizessem ser digno e bom tanto como governado quanto como
governante, com o tempo além de formar o homem para sua inserção social pré-
determinada buscava formar o cidadão.
A preparação precária é histórica, a primazia da prática pedagógica era
atribuída somente aqueles que exerciam os altos cargos de governantes, era
ofertado o ensino técnico aos artífices e as condições necessárias que lhes
permitissem obedecer as outras classes, a verdadeira educação era ofertada para a
classe dos guardiões e magistrados, dentre eles eram escolhidos os melhores, que
se justificava, por serem de grande espiritualidade a estes sim eram ofertada a
formação superior e lhes eram atribuído a tarefa de governar.
A “educação do corpo” percorria todo o período de preparação a partir dos
três anos, com sete anos a introdução a cultura intelectual, com quatorze anos a
educação musical, dezessete anos a educação militar e a partir de vinte e um anos
agora só para os mais capazes a matemática, a filosofia, o caráter científico, e após
a formação dialética, este processo durava cerca de cinquenta anos ao todo como
nos relata Oliveira (1987, p. 65).
Saviani (2009, p. 5) relata que:
A educação ao longo da história vai se desenvolvendo a partir das concepções de homem e de sociedade que se concebiam, apresenta dois modos para compreendê-las considerando seus condicionantes objetivos em teorias não criticas, as que compreendiam a educação de forma autônoma e buscavam compreende-la a partir dela mesma, e as teorias crítico reprodutivistas pois se empenham em percebê-la conforme seus condicionantes objetivos e a estrutura socioeconômica onde a função da escola é a reprodução das estruturas sociais vigentes.
A educação física na escola tradicional visava superar a qualquer custo a
ignorância difundindo a instrução e os conhecimentos já acumulados através de
comandos, objetivos severos, cabia ao aluno apenas a assimilação dos conteúdos
78
previamente determinados pelo professor, não alcançou seu ideal de implantação
que era transformar os súditos em cidadãos, com o tempo se iniciaram as críticas e
a reestruturação escolar de origem a escola nova, no final do século XIX.
Sua função seria de equalizadora social ao contrário da escola tradicional,
considerava o eixo principal do educando a partir dele mesmo e das suas
características individuais, pressupõe a inclusão das considerações psicológicas e
afetivas e idealizava uma organização curricular considerando as experiências dos
educandos, não substituiu a escola tradicional conviveram e convivem juntas na
pratica escolar. Conforme Libâneo (1985), em contra partida tornou-se possível a
flexibilização dos conteúdos e diminuiu a responsabilidade dos professores, estas
escolas modelos centralizavam as ações de ensino nas expectativas individuais o
que poderia fortalecer o desenvolvimento cultural de alguns, mas também as
desigualdades sociais, esta deficiência na formação sistemática leva a reflexão e a
busca de um outro modelo educacional tendo em vista a superação da
marginalidade social atribuída exclusivamente a falta de conhecimentos
historicamente postulados.
“A busca de mão de obra qualificada e incidência sobre a busca de
resultados e, por conseguinte, o aumento da produção se torna o norte de outro
modelo educativo” (CASTELLANI FILHO, 1988, p. 219), ao findar a primeira metade
do século XX. O tecnicismo que se apropriava aos moldes da indústria que idealiza a
superação individual e o destaque singular de alguns talentos que com sua
eficiência e liderança natos permitia a estes o sucesso e a outros nem tão
preparados o fracasso escolar e pessoal, professor era considerado um técnico, um
preparador, de indivíduos para inserção no mercado de trabalho. A educação física
neste contexto assume um papel de detectar talentos e atua com ênfase na busca
da performance e portanto vive o seu auge da esportivização, priorizava os aptos e
excluía os incapazes onde o centro do ato educativo era a organização racional dos
conteúdos e o planejamento, sendo alunos e professores coadjuvantes no processo
educacional, obedeciam a organização sem contestação, sua implantação ocorreu
em torno de 1960, em meio a reorganização nacional político econômica proposta
pelos militares tendo em vista a racionalização do modelo capitalista, marcadas com
as leis 5.540/68 e 5.692/71, que reorganizavam o ensino superior e o ensino de 1º e
2º graus, para manter a ordem nacional e satisfazer a demanda do mercado
profissional (LIBÂNEO, 1985, p. 32).
79
Conforme as diretrizes curriculares para a educação básica (PARANÁ, 2008,
p. 44-45):
Considera-se como tendência crítica na educação física a crítico superadora baseado nos pressupostos da pedagogia histórico crítica desenvolvida por Demerval Saviani, cujo objeto da educação física é a cultura corporal, formada por conteúdos tais como: esporte, ginástica, jogos e brincadeiras, lutas e a dança. O conhecimento é sistematizado em ciclos e tratado de forma historicizada e espiralada, conforme o grau de complexidade; bem como a crítico emancipatória parte de uma concepção de movimento denominada de dialógica. Movimento humano é entendido como uma das formas de comunicação com o mundo sobre uma visão crítica e independentemente do seguimento social a que se pertence.
Considerando que estas teóricas criticas da educação física partem de
teorias do conhecimento diferentes sendo a primeira a partir do materialismo
dialético (proposto por Karl Marx) representada pelos autores Carmem Lúcia Soares,
Celi Tafarel, Elizabeth Varval, Lino Castelani Filho, Michele Ortega Escobar e Valter
Bracht, na década de 90. A segunda da fenomenologia (Merleau Ponty) e da teoria
crítica representada pelo pesquisador Elenor Kunz na mesma década.
Torna-se essencial compreender em que tempo e espaço estaremos
atuando, mas antes de tudo com que ser estaremos trabalhando: histórico/social ou
natural? Marx e Engels(apud TONET, 2009) mostram que o ponto de partida para
este entendimento são os indivíduos reais, suas ações e suas condições materiais
de vida e afirmam também que ao examinar estes indivíduos constata-se com
facilidade que o ato mais fundamental que eles devem realizar para poderem existir
é a transformação da natureza, ou seja, o ato do trabalho.
A partir destas considerações a ação do trabalho nos coloca a raiz do ser social pois é produto das relações que o homem estabelece com a natureza e o que resulta na transformação da realidade natural em realidade social. Estas ações categorizam as funções sociais pela qualidade e pela quantidade de ênfase nas ações que podem privilegiar atividades cognitivas ou práticas atribuídas aos detentores de mais espiritualidade direcionadas as tarefas intelectuais e aos com menos espiritualidade direcionado as tarefas manuais o que nos permite concluir que a divisão do trabalho na sociedade nada tem de natural, mas, que esta é o produto das relações estabelecidas no processo de transformação da natureza (TONET, 2009, p. 6).
A esta realidade social existem muitos momentos que fazem parte de sua
evolução e da sua distinção, ou seja, delineando-a tais como a socialidade (o
trabalho é sempre um ato social, de natureza social), a linguagem (em meio a toda
atividade social implica comunicação), educação(o homem aprende tudo o que faz, o
80
trabalho implica teleologia, intencionalidade prévia e pressupõe a existência de
alternativas), e conhecimento (processo de aquisição de habilidades,
comportamentos e valores enfim tudo que permita ao individuo tornar-se apto a
viver) sendo que estes podem ainda variar conforme a complexidade das estruturas
da sociedade que exigem atividades além da produção de bens materiais (CHASIN,
1988).
É preciso ir além da observação das teorias em educação pois para
conhecer a essência do ato educativo é preciso conhecer a raiz das relações
humanas, que acontecem a partir do trabalho utilizando a teoria do materialismo
dialético buscaremos compreender a história da educação a partir da perspectiva
não singular, individual, mas sobre a ótica de classes distinguindo a natureza que
funda o trabalho, da natureza que funda a ação educativa, delineando o ser social ,
e as estruturas que o constituem.
De acordo com Frigotto (1993) conforme a ótica burguesa de conceber a
realidade seria fácil resolver o problema das diferenças entre as classes sociais,
pois:
Se todos os indivíduos são livres, se todos no mercado de trabalho de trocas podem vender e comprar o que querem, o problema da desigualdade é culpa do individuo. Ou seja, se existem aqueles que teêm capital é porque se esforçaram mais , trabalharam mais, sacrificaram o lazer e pouparam para investir (FRIGOTTO, 1993, p. 61).
Cada individuo se quisesse, teria direito ao que produziu, a sociedade seria
estratificada a partir dos méritos específicos, para tanto a escolaridade poderia ser
considerada critério essencial de qualificação para o sucesso, de modo natural, já
que era igualmente ofertada a todos. Porém a natureza do capital implica numa
relação indissolúvel entre desigualdade real e igualdade formal, conforme Tonet
(2009, p. 12) “uma vez que a educação é subordinada aos imperativos da
reprodução do capital, e uma vez que ele é a matriz da desigualdade social, seria
totalmente absurdo esperar que ele pudesse proporcionar a todos uma igualdade de
acesso a ela”.
Porém a relação de trabalho não possui nada de natural ela é socialmente
construída, e o modelo capitalista introduzido no mundo com o processo de
industrialização vem sendo mantido pela força hegemônica social, e o modelo de
educação proposto atua a favor da sua solidificação pois:
81
Este processo histórico onde o capital, enquanto uma relação social, busca desvencilhar-se cada vez mais da dependência dos limites impostos pelo trabalhador, pela resistência que este lhes impõe, desenha-se como um processo onde se busca expropiar do trabalhador os meios concretos desta resistência- seu saber, sua qualificação, o domínio de técnicas, sua agilidade, etc. A separação entre o operário e seu instrumento vai determinando uma separação entre trabalhador e conhecimento, entre trabalhador e ciência (FRIGOTTO, 1993, p. 83).
Nessa busca de limitar a formação da classe trabalhadora é a que a escola
técnica se mantém no rumo de buscar sua produtividade, na manutenção das
relações sociais de produção e se materializa na sua improdutividade.
Uma das funções que a escola pode cumprir é o prolongamento da escolaridade desqualificada, cujos “custos improdutivos”, além de entrarem no ciclo econômico, servem de mecanismos de controle, de oferta e demanda de emprego (FRIGOTTO, 1993, p. 157).
Conclui-se que a escola tem colaborado com o mascaramento da real
situação de desemprego, a educação especializada deve ficar restrita a
determinados ambientes, trabalho e centros de treinamento. Por outro lado
entendemos que o papel da escola deve ser a formação geral, a apropriação dos
conhecimentos historicamente produzidos pelo homem, instrumentalizando as
classes para que possam argumentar e interferir no processo, tornando-se um
espaço de lutas, sociais e políticas na defesa do saber das classes.
Paralelamente a educação, a Educação Física com o surgimento do
capitalismo tem seu foco vinculado na dissolução dos problemas dessa nova
sociedade consolidada, empenhada na busca de novos hábitos e costumes para
formação do homem ideal que correspondesse a os novos meios de produção, bem
como na manutenção deste modelo econômico tal como descreve Mello (2009,
p.123):
A Educação Física, em seu início, além de valorizada por suas bases científicas e de ter suma importância enquanto higienizadora em um momento em que a sociedade era produtora de enfermidades, contribuía então para a formação do caráter,disciplinando a vontade, pois era necessário apaziguar os ânimos, formando o cidadão cada vez mais responsável por si e pela manutenção da ordem social. Isto contribuiu também com os movimentos de formação dos Estados Nacionais, capitaneados pela burguesia.
Tornando-se historicamente necessária como saber sistematizado na
escola, os interesses objetivados pela educação eram também atribuídos a
82
Educação Física, sua prática evolui tal qual a perspectiva educativa prevista pelo
currículo escolar. Portanto não podemos desvincular sua prática da direção da
educação em geral, pois tem buscado atender as expectativas a ela atribuídas
nesse universo, então a sua legalidade ou a sua legitimidade estão vinculadas a sua
necessidade histórica socialmente posta, que tem como ponto de partida a forma de
produzir a existência e sua correspondente visão política. Segundo nossa intenção
em alcançar a necessidade histórica da Educação Física, colaborando com a
emancipação humana, deveremos considerar, além da atividade prática dos
homens, a reunião de intelectuais que tenham a opção política e a capacidade
técnica voltada aos interesses dos trabalhadores, tendo em vista a educação voltada
à formação integral do ser humano, e não ao mercado.
É preciso buscar estratégias que permeiem uma escola que atenda a
sistematização, formalização do saber produzido coletivamente ao longo dos tempos
em conhecimentos científicos e técnicos a serem apropriados pela classe
trabalhadora enquanto sujeitos de classe.
REFERÊNCIAS
BRACHT, Valter. Educação física e aprendizagem social. Porto Alegre: Magister, 1992.
CASTELLANI FILHO, Lino. Educação física no Brasil: a história que não se conta. Campinas: Papirus, 1988. (Coleção corpo & motricidade).
CHASIN, José. Método dialético. Maceió: Mímeo, 1988.
ESCOBAR, Micheli Ortega. Cultura corporal na escola: tarefas da educação física.
Motrivivência, Florianópolis, ano 7, n. 8, dez. 1995.
FRIGOTTO, Gaudêncio: A produtividade da escola improdutiva: um (re) exame
das relações entre educação e estrutura econômico-social e capitalista. 4. ed. São Paulo:Cortez, 1993.
HISTÓRIA da escrita. Disponível em: <http://webeduc.mec.gov.br/midiaseducacao/material/impresso/imp_basico/pdf_eproinfo/e1_assuntos_a1.pdf>. Acesso em: 5 maio 2013.
LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da escola pública, a pedagogia crítico-social dos conteúdos. 27. ed. São Paulo: Edições Loyola Jesuítas, 1985.
MANACORDA, Mario Alighiero. História da educação: da antiguidade aos nossos dias. São Paulo: Cortez, 1989.
83
MELLO, Rosângela Aparecida. A necessidade histórica da educação física na
escola: a emancipação humana como finalidade. 2009. 299 f. Tese (Doutorado em Educação) - Universidade Estadual de Maringá, Maringá, 2009.
OLIVEIRA, Vitor Marinho (Org.). Fundamentos pedagógicos: educação física. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1987.
PARANÁ. Diretrizes curriculares de educação física para a educação básica. Curitiba: MENVAVMEM, 2008.
SAVIANI, Demerval. Ensino público e algumas falas sobre universidade. São Paulo: Cortez, 1987.
______. Escola e democracia: teorias da educação, curvatura da vara, onze teses da educação política. 19. ed. Campinas: Autores Associados, 2009. (Coleção polêmicas do nosso tempo, 5).
TONET, Ivo. Marxismo e educação. Maceió, 2009. Disponível em: <http://www.ivotonet.xpg.com.br/arquivos/MARXISMO_E_EDUCACAO.pdf>.
Acessado em: 20 abr. 2013.
84
Apêndice 2 - Cronograma
Ações Janeiro Fevereiro Março Abril Maio
Apresentação do Projeto de intervenção
X
Apresentação do cronograma e inscrições
X
Encontro presencial, etapa 1: Atividade 1)Questionário de sondagem; Atividade 2)Sensibilização do
Tema(vídeo ¨O mito da caverna¨); Atividade 3)Leitura dirigida texto ¨ ser social ¨;
Atividade 4)Leitura dirigida texto ¨ Trabalho ¨; Mesa redonda.
X
Encontro virtual etapa 1: Atividade 1) Leitura de
imagens(educação na antiguidade), fórum 1; Atividade 2) Observação de vídeos()
educação na idade média), diário 1; Atividade 3) Análise e reflexão de texto ¨ Institucionalização da escola ¨, diário
2; Atividade 4) Análise e reflexão ¨ currículo ¨, tarefa 1.
X
Encontro presencial etapa 2: Atividade 1) Observação de um vídeo
¨O que é Educação Física¨; Atividade 2) Dinâmica o que é o que é? Atividade 3)Leitura dirigida texto ¨
Educação Física ¨; Atividade 4) Dinâmica Distribuição direito de ¨todos¨;
Atividade 5) Leitura Dirigida texto ¨Pratica pedagógica¨.
X
Encontro Virtual etapa 2: Atividade 1) Leitura dirigida texto ¨
História da Educação Física¨, (fórum 2); Atividade 2) Observação de vídeo ¨Educação Física na escola capitalista¨,
(diário 3) Atividade 3) Pesquisa de Campo, questionário para sondar a imagem da Educação Física, tarefa 2;
Atividade 4) Buscar visão de homem, de mundo, de escola, de Educação Física nas DCE´S .
X
85
Encontro presencial etapa 3: Atividade 1) Análise dos dados coletados;
Atividade 2) Reflexão das concepções expressas nos dados; Atividade 3) Comparar os dados
obtidos com as concepções previstas nas diretrizes; Atividade 4) Leitura dirigida texto ¨
Conhecendo as Contradições das DCE´S¨; Atividade 5) Leitura dirigida texto
¨Possibilidades Pedgógicas¨da Educação Física rumo à Emancipação Humana¨;
Atividade 6) Elencar meios de exercer praticas pedagógicas que colaborem para a libertação ideológica;
Atividade 7) Análice, reflexão e conclusão das atividades desenvolvidas;
X
86
Apêndice 3 – Ficha de Inscrição-Curso de Formação Continuada
PARANÁ
GOVERNO DO ESTADO
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS -
DPPE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
PROFESSOR PDE: Erlice Morais Meira Rosa
ÁREA/ DISCIPLINA: Educação Física
Instituição: Universidade Estadual de Londrina
Carga horária: 32 horas
Curso de formação continuada:
Educação Física na Escola Contemporânea: da Legitimidade Rumo a
Necessidade Histórica para Alcançar a Emancipação Humana
Ficha de Inscrição
Nome:
Campo de Atuação:
Colégio de Atuação:
Expectativa do curso em formação:
87
Apêndice 4 - Questionário de sondagem
1- Qual seguimento você participa na comunidade escolar?
( ) aluno ( ) professor ( ) equipe pedagógica
( ) direção ( ) funcionário ( ) pais de alunos
2- O que é educação física?
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
___________________________________________________________________
3- O que você sabe sobre a educação física?
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
4- Como ela acontece na sua escola?
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
5- Qual a influência pedagógica que você acredita que a educação física possui no
rendimento escolar dos alunos?
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------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
6- Qual o papel que a educação física tem em sua escola?
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------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------
7- Qual a imagem você tem da educação física ?
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------
8- Haveria alguma diferença se as aulas de educação física fossem retiradas do
contexto escolar?
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------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
9- Existe diferença da pratica pedagógica das aulas de educação física e as demais
disciplinas no currículo? Quais?
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
88
Apêndice 5 - Modelo de Atividade para Reflexão do Vídeo Mito da Caverna
Fonte: Freire (2013).
- Um dos prisioneiros, tomado pela curiosidade, decide fugir da caverna.
Fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões e escala o muro.
Sai da caverna.
- No primeiro instante, fica totalmente cego pela luminosidade do sol, com
a qual seus olhos não estão acostumados; pouco a pouco, habitua-se à
luz e começa a ver o mundo. Encanta-se, deslumbra-se, tem a felicidade
de, finalmente, ver as próprias coisas, descobrindo que, em sua prisão,
vira apenas sombras. Deseja ficar longe da caverna e só voltará a ela se
for obrigado, para contar o que viu e libertar os demais.
- Assim como a subida foi penosa, porque o caminho era íngreme e a luz,
ofuscante, também o retorno será penoso, pois será preciso habituar-se
novamente às trevas, o que é muito mais difícil do que habituar-se à luz.
De volta à caverna, o prisioneiro será desajeitado, não saberá mover-se
nem falar de modo compreensível para os outros, não será acreditado
por eles e ocorrerá o risco de ser morto pelos que jamais abandonaram
a caverna. (Platão: livro VII da República).
89
QUESTIONAMENTO
- O que é a caverna?
- O mundo em que vivemos.
- Que são as sombras das estatuetas?
- As coisas materiais e sensoriais que percebemos.
- Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da caverna?
- O filósofo.
- O que é a luz exterior do sol?
- A luz da verdade.
- O que é o mundo exterior?
- O mundo das ideias verdadeiras ou da verdadeira realidade.
- O que é a visão do mundo real iluminado?
- A filosofia.
- Por que os prisioneiros zombam, espancam e matam o filósofo (Platão
está se referindo à condenação de Sócrates à morte pela assembleia
ateniense?)
- Porque imaginam que o mundo sensível é o mundo real e o único
verdadeiro. (CHAUI, 1999).
90
Apêndice 6 - Endereço do vídeo educação na Idade Média, roteiro de reflexão
Figura 1 – Idade média
Fonte: Educação... (2013).
Roteiro para Reflexão
Pela observação e reflexão das suas principais características,
utilizaremos como proposta o diário, efetuaremos uma produção textual destacando
atos e fatos que solidificaram este momento histórico na prática educativa, que
deverá ser postado no campo diário do ambiente virtual (diário 1).
91
Apêndice 7 – Imagens da Grécia antiga
Figura 2 – Nome da figura Vaso de pintura
Fonte: Alexandre (2012).
Figura 3 – Nome da figura Principe Xerxes ao lado de Dario, imagem a partir de pintura em vaso
Fonte: Alexandre (2012).
93
Apêndice 8 - Descrição da dinâmica, roteiro de reflexão
Figura 5 - Dinâmica
Fonte: Da autora.
Objetivo
1. Refletir sobre o papel da educação frente as injustiças
determinadas socialmente.
2. Refletir sobre o papel do cidadão frente as varias determinações
sociais que rompe com o “contrato social” ;
3. Refletir sobre a desapropriação de bens em ações socialistas.
Material necessário
Bombons (devem ser solicitado 3 bombons por aluno, em aula
anterior);
Vendas para os olhos.
Desenvolvimento
Inicie a aula sem dizer os objetivos, apenas fale que será realizado
uma dinâmica.
Comunique a regra do jogo: ninguém pode emitir nenhum tido de
som durante toda a dinâmica, apenas poderá falar (sim ou não) aqueles que o
professor solicitar.
94
1º momento
Peça que todos coloquem os bombons sobre a mesa. Certamente
alguns não levarão para a aula os bombons solicitados – isso faz parte da dinâmica
(em escola pública, onde as desigualdades sociais são marcantes, a dinâmica
funciona ainda melhor).
Passe recolhendo todas os bombons. Lembrando que ninguém pode
falar nada!
Aleatoriamente, deve ser vendado os olhos de cerca de 1/3 dos
alunos.
Redistribua os bombons de forma desigual (deixe uns alunos que
estão com os olhos vendados sem bombons e outros com um, dois, três, cinco... ).
Obs: coloque em suas mãos para terem ideia (os que estão com os olhos vendados)
que estão recebendo os bombons.
Olhos vendados, bombons redistribuídos, pergunte a alguns alunos
(um de cada vez) se tem se está tudo certo (só podem dizer sim ou não). Comece
com os alunos de olhos vendados que nada receberam (como eles estão de olhos
vendados, não terão nem ideia do que está ocorrendo), depois passe para os de
olhos vendados que receberam mais de 3 bombons (pergunte a eles se estão
satisfeitos, orientando que responda sim ou não, apenas), depois passe para os que
estão com vendas, mas que receberam menos de 4 balas. E por fim, pergunte os
que estão sem vendas. Nesse momento pergunte se estão satisfeitos e o por que.
Mande que tirem as vendas e pergunte novamente (agora deixe eles
falarem o que quiserem a respeito). Certamente agora os que se sentiram
prejudicados reclamarão. Nesse momento explique a importância da educação
(olhos abertos) para compreender o que se passa na sociedade e na Administração
dos recursos angariados por meio de nossos impostos.
2º momento
Como os que pouco receberam estão insatisfeitos e os que mais
receberam estão satisfeitos (especialmente aqueles que não levaram os bombons e
agora ganharam), recolha todas os bombons e coloque na bolsa (como se fosse
levar para casa). E diga que ficará com todos. Isso de forma bem ditatorial.
Nesse momento eles não concordarão. Explique a partir dai, a
importância de questionar o governo quando recolhe os impostos e nada ou quase
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nada faz.
3º momento
Diga que “para todos ficarem satisfeitos, será distribuído igualmente
à todos, como no Socialismo. Faça assim. Haverá reclamação daqueles que
trouxeram 4 bombons e ficaram com menos (devido ao fato de nem todos terem
trazido, e na hora da divisão os que trouxeram 3 bombons ficarão com 2 ou 1
bombom).
A partir dai discuta questões ligadas ao socialismo e a políticas
redistributivas.
Obs: reflita que nem todos contribuem devido as condições de
comprar bombons naquele dia, assim como tem pessoas na sociedade que são
impossibilidades por vários motivos de contribuir economicamente para o Estado.
Seria justo a redistribuição dos recurso públicos de forma igualitária?
Relembre a eles que o socialismo pregava que cada um deveria
contribuir com sua capacidade e receber conforme sua necessidade.
Este texto, lê-lo e ver se as respostas a estas questões são
possíveis de serem dadas a partir do conteúdo do texto. Talvez precisemos pedir a
alguém que o leia e nos diga o que pensa.
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Apêndice 9 - Roteiro de reflexão Currículo
Currículo Está relacionado a seleção, organização de conteúdos a serem
propostos pela instituição escola, historicamente ele vincula os saberes
considerados essenciais aos homens em cada período histórico.
Desde os primórdios da educação ela procurou satisfazer as necessidades de um modelo hegemônico, sua prática foi estabelecida a partir da busca de um modelo estipulado de homem, tendo em vista alcançar resultados previstos para cada segmento social. Essa inserção era considerada natural atendendo as expectativas pré determinadas de liderança, religiosa, utilitária (saúde de combate) entre outras tantas, tendo em vista o ordenamento social estabelecido previamente (OLIVEIRA, 1987, p. 63).
Pensar currículo é conduzir uma série de reflexões a cerca dos
objetivos que visamos atender para cada etapa de ensino, quais valores devemos
ensinar, o porque dessa opção? Quem pode participar dessas decisões que define
os caminhos da escolaridade? Para quais alunos se definiu esses saberes? Quais
interesses estamos atendendo? Com que recursos metodológicos atuaremos? Quais
materiais utilizaremos? Qual tempo espaço devem ser adotados? Quem deve definir
o fracasso ou o sucesso escolar? Como avaliar?
Atividade em grupos refletir:
O que é importante para pensar em currículo:
- Que objetivos o ensino deve perseguir?
- O que ensinar, ou que valores, atitudes e conhecimentos?
- Quem está autorizado a participar das decisões?
- Por que ensinar o que se ensina, deixando de lado muitas
outras coisas?
- Todos estes objetivos devem ser para todos os alunos ou só
para alguns?
- Com que recursos metodológicos, ou com que materiais
ensinar?
- Que organização de grupos, professores/as tempo e espaço
convêm adotar?
- Quem deve definir e controlar o que é êxito e o que é
fracasso no ensino?
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Modelos de Currículo
Teorias - não críticas Teorias - críticas
Teorias - pós-críticas Dimensões do Conhecimento
Filosófico
Científico
Artístico
Currículo disciplinar
A opção do estado do Paraná, visa dar ênfase na escola como lugar
de socialização do conhecimento, pois esta função busca instrumentalizar os
estudantes de classes menos favorecidas que tem nela por vezes a única
oportunidade de acesso ao mundo letrado, conhecimentos específico, reflexão
filosófica e contato com a arte, permeando a sua contextualização estabelecendo
entre eles as relações interdisciplinares (PARANÁ, 2008).
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Apêndice 10 - Endereço do vídeo O que é Educação Física, e roteiro de reflexão
Vídeo acesse em <www.youtube.com/watch?v=foVvpAvJ0LE>
Reflexão:
O que é Educação Física?
O que ela se propõe a ensinar?
A quais interesses dessa forma ela está atendendo?
Porque ela possui esse formato?
Essa disciplina pode atuar na formação política?
Ela pode atuar como colaboradora da transformação social? Como?
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Apêndice 11 - Roteiro de reflexão do texto Ser social
O que funda do ser social?
Quais são os momentos da realidade social?
Qual a relação entre causalidade e teleologia?
O que diferencia o ser social do natural?
Qual relação existe entre o trabalho e os outros momentos que constituem a realidade social?
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A Educação Numa Encruzilhada
Os desafios da Educação Física na Escola
Texto De Ivo Tonet: A Educação Numa Encruzilhada Disponível em: http://www.ivotonet.xpg.com.br/arquivos/A_EDUCACAO_NUMA_ENCRUZILHADA.pdf
Desenvolva uma dissertação a partir do exposto por Tonet em seu texto,
indicando quais as possibilidades de prática pedagógica na Educação Física escolar tendo em vista a emancipação humana.