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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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LITERATURA E DIREITOS DOS IDOSOS: a urgência em (re)significar o olhar para esta demanda.

Professora PDE: Sirlene da Silva

Orientadora: Drª Raquel IIlescas Bueno

Resumo: Este artigo reúne reflexões sobre o tema “literatura e direitos dos idosos”. A partir da compreensão sobre como o adolescente vê o ser humano idoso na sociedade atual, buscou-se implementar um projeto que estimulasse a aquisição de atitudes e ações que contribuam para o reconhecimento e o respeito dessa parcela crescente da sociedade. Para tanto, foram realizadas atividades de articulação entre o debate literário e o Estatuto do Idoso. O Projeto de Intervenção Pedagógica aqui apresentado foi desenvolvido com turmas do primeiro ano do ensino médio do Colégio Estadual Helena Kolody (Colombo/PR), em 2014. Foram respondidos questionários presentes em um caderno pedagógico, dentre os quais selecionamos e analisamos um, para mostrar como os alunos veem o idoso atualmente e de que forma as atividades propostas contribuíram para a mudança de postura e valorização dos idosos pelos alunos participantes.

Palavras-chave: Literatura; Direitos dos Idosos; Alunos.

Introdução

O presente artigo apresenta alguns resultados da pesquisa sobre a

importância da valorização do ser humano idoso, pois o descaso com essa

crescente parcela da população é visível. Sendo assim, surgiu a necessidade de

propormos diversas atividades que levassem os alunos a refletir sobre essa temática.

Para isso, construímos um Caderno Pedagógico, contendo a metodologia de

letramento literário proposto por Rildo Cosson (2006), usando a sequência

expandida: motivação, introdução e a leitura que se divide em interpretação,

contextualização e expansão. Além disso, trabalhamos com alguns vídeos e com os

contos “Feliz Aniversário”, de Clarice Lispector e “O gato”, de Dalton Trevisan, dentre

outros textos literários. E todos esses com foco no idoso.

Nessa perspectiva, debateu-se o Estatuto do Idoso (2013) aliado à literatura,

debate esse que trouxe reflexões sobre os idosos e que possibilitou a aquisição de

atitudes e ações que contribuíram para o reconhecimento e o respeito com os

mesmos.

Dessa forma, para compreendermos a abrangência desse trabalho os alunos

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responderam questionários após cada unidade do Caderno. Nos resultados

apresentaremos a análise de um deles.

A visão apresentada pelos alunos sobre a temática estudada é diferenciada,

no entanto, alguns deles citam a importância de valorizar o ser humano idoso.

Desenvolvimento

As inquietações aqui propostas demandam uma maior atenção para o

significado da palavra respeito1. Para Piaget (1974) o respeito é essencial e constitui

o sentimento que possibilita a aquisição de noções morais. Faz-se necessário que

haja reciprocidade e cooperação entre as pessoas para que se intensifiquem laços

de respeito mútuo e se construa a autonomia. “O respeito mútuo é, portanto, por sua

vez, fonte de obrigações”. (PIAGET, 1974, p. 75)

Sendo assim, este artigo evidenciará as atividades utilizadas para resgatar a

importância e os direitos do idoso, utilizando metodologia diversificada como leitura

de manuais, contos, debates, vídeos, numa tentativa para que os adolescentes,

especificamente de uma turma de primeiro ano do ensino médio diurno, percebam

que o idoso, pela sua fragilidade, tem um tempo próprio que precisa ser respeitado.

Acredita-se que, com essa conscientização, as manifestações de afeto tendem a ser

estimuladas e amplia-se o respeito pela sua experiência.

1. Documentos Oficiais

Nos documentos aqui citados, há alguns apontamentos sobre como é visto o

idoso na contemporaneidade.

Segundo o artigo 3º do Estatuto do Idoso:

É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. (Lei n. 10.741, de 1° de outubro de 2003; Brasil, 2003,

1 1 Segundo o dicionário online da Língua Portuguesa entende-se por respeito: s. m. Ação ou efeito de

respeitar. Sentimento que leva alguém a tratar outra pessoa com grande atenção, profunda deferência,

consideração ou reverência: respeito filial. Obediência, acatamento ou submissão: respeito às leis. Maneira

considerada ao se abordar um assunto, ponto de vista. Que ocasiona alguma coisa; motivo, razão. Sensação

de medo; apreensão. s.m.pl. Homenagens, cumprimentos: apresentar seus respeitos. Dizer respeito a.

Pertencer ou referir-se a; ter relação com: tudo isto diz respeito a um fato de suma importância. loc. prep. A

respeito de; com respeito a; respeito a. Relativamente a, no tocante a, com referência a. (Etm. do latim:

respectu)

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p. 1)

É merecida a conquista da garantia dos direitos dos idosos, como se pode ver

no artigo citado. O mesmo passa a ter seus direitos garantidos, no entanto, a

sociedade ainda vê o envelhecimento de forma preconceituosa, e muitas vezes as

condições básicas de sobrevivência não são garantidas. Para isso é necessário que

o idoso lute pelos seus direitos, para ter seu espaço reconhecido e melhores

condições de vida.

Conforme Beauvoir (1990, p. 265), “é a classe dominante que impõe às

pessoas idosas seu estatuto; mas o conjunto da população ativa se faz cúmplice

dela”.

A longevidade já não é privilégio de poucas pessoas, no entanto, a sociedade

tem preconceitos com relação à idade avançada, por valorizar excessivamente a

competitividade, a capacidade de trabalho, independência e autonomia. Muitas

vezes estes valores não podem ser acompanhados pelos idosos. Oliveira (2002, p.

46) afirma: “um aspecto marcante é o da ansiedade e impaciência características da

sociedade atual. Diante dessa neurose da velocidade, torna-se incompatível e até

perda de tempo aceitar um ritmo mais lento por parte dos idosos”. Desta forma,

preferem executar alguma atividade, em vez de procurar uma maneira que

possibilite ao idoso executá-la.

Segundo Mardegan Jr. (1993, p.73), “a vida é um processo contínuo de

redefinições e redescobertas, um eterno crescimento que não diminui com o passar

dos anos”. A idade chega para todos, o processo de envelhecimento é inevitável, no

entanto, considerar o idoso um ser inútil, levando em conta apenas a sua idade, é

uma suposição muito superficial. Os meios de comunicação já oportunizam para

este público comerciais de remédios, empréstimos bancários, maior participação na

mídia. Além disso, já existem vários pacotes de viagens, bailões entre outros para o

grupo da terceira idade, deixando de reforçar preconceitos, sentimentos de desprezo

ou indiferença por esta fase tão peculiar da vida do ser humano. Ainda assim,faz-se

necessário criar mais oportunidades para este público, com o intuito de acabar com

o modelo negativo relacionado à terceira idade.

Quando se trata de Direitos Humanos, os sujeitos envolvidos devem manter

uma relação de respeito e, para que isso ocorra, o ambiente escolar não pode

distanciar-se dessa questão. Como mostra o PNDH:

A Educação ganha maior importância quando direcionada ao pleno

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desenvolvimento humano, às suas potencialidades e a elevação da autoestima dos grupos socialmente excluídos, de modo a efetivar a cidadania plena para a construção de conhecimentos, no desenvolvimento de valores, crenças e atitudes em favor dos direitos humanos, na defesa do meio ambiente, dos outros seres vivos e da justiça social. ( PNDH, 2003, p. 10)

Para isso, o PDE, que é uma política pública de Estado, regulamentado

pela Lei Complementar nº 130, de 14 de julho de 2010, que estabelece o diálogo

entre os professores do ensino superior e os da educação básica, por meio de

atividades teórico-práticas orientadas, tendo como resultado a produção de

conhecimento e mudanças qualitativas na prática escolar da escola pública

paranaense, vem concretizar a lei da acessibilidade, dentre outras que assegurem

os direitos das pessoas idosas.

2. Literatura

A formação do leitor ativo e responsivo é uma das funções da literatura. Deve-

se formar um leitor, como diz Petit (2009, p. 28), capaz de reescrever, distorcer,

reempregar, alterar sentido, pois o leitor transforma o texto e é transformado por ele,

por meio da reescrita. Por muito tempo a literatura foi ensinada nas escolas

pensando-se apenas em vestibulares entre outras formas de avaliação de

conhecimentos acumulados, perdendo seu foco principal, que é a formação do leitor.

Candido (2002) assegura que a literatura é vista como arte que transforma e

humaniza o homem e a sociedade. E atribui à literatura a função psicológica, a

função formadora e a função social. A primeira permite ao ser humano fugir da

realidade, mergulhar num mundo de fantasias, que lhe possibilita momentos de

reflexão. A segunda assegura que a literatura em si faz parte da formação do sujeito

e atua como instrumento de educação, ao mostrar realidades encobertas pela

ideologia dominante. A terceira função social é a forma como a literatura mostra os

diferentes segmentos da sociedade, é a representação social e humana. (CANDIDO,

2002, p. 77 - 92).

A literatura está internamente ligada à vida social. Ao fazermos uma reflexão

sobre ela não se pode esquecer que a mesma se desdobra em várias tendências e

estilos e se constitui por meio de eixos estruturantes e da leitura considerados

norteadores do trabalho da disciplina de Língua Portuguesa na educação básica,

assim como previsto nas Diretrizes Curriculares Estaduais: a oralidade, a escrita e a

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leitura. O ser humano é fabular, conta histórias porque é capaz de mudar o mundo,

construir hipóteses, por isso a literatura é transformadora. As formas culturais como

o teatro, o cinema, tornam as pessoas mais humanas. Quanto mais inseridos na

cultura, no mundo da palavra, menos bárbaros se tornam.

Para Petit, (2009, p. 115) “Não importa o meio em que vivemos e a cultura

que nos viu nascer, precisamos de mediações, de representações, de figurações

simbólicas para sair do caos, seja ele exterior ou interior.” Ler bons livros é

indispensável, a literatura é um produto cultural, todos têm direito a ler o que existe

de melhor, no entanto, a leitura precisa fazer sentido para o leitor, por isso esta

leitura deve ser feita por intermédio de um mediador, pois a leitura crítica,

contextualizada, faz com que nos tornemos leitores intelectualizados. Como

podemos perceber no trecho a seguir de Petit:

entra aí um bom conhecimento de literatura e um tanto de intuição (como no caso de um livreiro que aconselha). Um pouco como um psicanalista que propõe uma interpretação, transformando o que foi dito, eles levam uma obra, sugerem outra, percebem as reações. E são, às vezes, os próprios leitores que chamam a atenção dos mediadores quando o nível de exigência diminui. (PETIT, 2009, p. 189-190)

Machado (2002, p. 15) diz em seu livro Como e por que ler os clássicos

universais desde cedo que a leitura não deve ser feita por obrigação. Ler é um

direito. A leitura imposta causa aversão aos livros. Afirma também que os clássicos

podem ser lidos em adaptações. Além disto, o mediador, que não precisa ser o

professor, deve ler e discutir a leitura. Segundo a autora, esta será uma “experiência

marcante” para o leitor e “inesquecível” para o ouvinte. “Ouvir contar e sentir que

aquela leitura é um presente, uma iniciação a algo precioso, um ato de amor.”

(MACHADO, 2002, p. 33)

O professor de literatura, dentre outros, como mediador de leitura, deve ler

junto com os ouvintes e discutir, porque ao fazer isto o interlocutor também discute,

compartilha um “tesouro humano”, pois cada leitura tem um tesouro enorme

escondido, a ser decodificado pelas pessoas que partilham o momento da fala, da

leitura, da interação verbal. Bakhtin (1979) contribui muito por intensificar o debate

sobre a polissemia e o dialogismo a partir de uma concepção filosófica sobre

linguística e literatura. Traz para reflexão a construção da subjetividade a partir das

múltiplas vozes com as quais os sujeitos interagem desde o nascimento. Organiza

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as variadas e inesgotáveis formas de comunicação e manifestação do pensamento

por meio de gêneros do discurso.

Assim, cada expressão facial, no olhar, cada gesto, imagem, vestimentas,

atitudes, podem ser considerados textos a serem decodificados e codificados pelos

interlocutores no ato da enunciação. Os gêneros discursivos são procedimentos com

certas características composicionais utilizados como meio de externalização do

pensamento. O filósofo da linguagem chama a atenção para a relação entre

linguagem e o contexto sócio-histórico. Este estrutura o interior do diálogo da

corrente da comunicação verbal entre os sujeitos históricos e os objetos do

conhecimento. Trata-se de um dialogismo que se articula à construção dos

acontecimentos e das estruturas sociais, construindo a linguagem de uma

comunidade historicamente situada. (BAKHTIN. Cit. apud. DCE, 2008, p. 30)

Ao abordar as estruturas que compõem os gêneros discursivos, é possível

encontrar-se em um mesmo texto várias ramificações internas peculiares a

diferentes gêneros. Ainda assim, os textos tendem a apresentar uma estrutura com

predominância maior de um deles. Assim, têm-se os textos que podem ser

classificados como imagéticos, iconográficos, além dos já mencionados referentes

ao repertório comportamental dos indivíduos. Também se podem elencar alguns

como o narrativo, descritivo, dissertativo, informativo, publicitário, a crônica, a carta,

o conto, o romance, histórias em quadrinhos, charges, cartoons, outdoors, a poesia,

os haicais, dentre outros. O conceito de enunciação e enunciado auxilia na

compreensão do contexto intra e extraverbal. A relação dialógica bakhtiniana requer

uma atenção maior para o quanto os interlocutores compartilham e conhecem

determinado assunto no momento e no contexto da enunciação.

O debate sobre a possibilidade de ressignificar o conceito e as relações

conceituais sobre práticas sociais no que se refere ao tratamento da pessoa idosa

pode ser enriquecido a partir das definições bakhtinianas, que abrem um leque de

possibilidades para o trabalho pedagógico, pois várias são as formas de

comunicação e interação verbal capazes de sensibilizar educandos e educadores

para intervirem no cotidiano e disseminarem ideais de cumprimento às legislações

vigentes e respeito aos direitos humanos de todos os indivíduos com os quais a

existência se constrói entrelaçada, especialmente das pessoas que tanto os amam e

tanto têm para ser ensinado e compartilhado a fim de uma vida digna e a salvo de

riscos e condições de vulnerabilidade. Segundo Candido, “A literatura desenvolve

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em nós a quota de humanidade na medida em que nos torna mais compreensivos e

abertos para a natureza, a sociedade, o semelhante” (CANDIDO, 2002, p.180). Por

meio do enredo de cada conto é que percebemos a maneira de escrever de cada

contista. A forma escolhida pelo autor é que determina o sentido e a compreensão

da leitura. No gênero conto, muitas informações são omitidas a fim de que o leitor

complete as omissões propositais feitas pelo escritor.

Na medida em que o leitor vai se inteirando da história, a leitura faz

referências aos personagens, ao tempo e ao lugar, fazendo o leitor refletir e

completar as lacunas a partir de suas experiências. A forma do conto é breve e cada

gesto é calculado na forma de narrar. No conto a lei é sempre de contração e

clareza, a arte é sempre dizer o necessário, caracterizar fortemente de uma maneira

sensível, fazer crer, obter a adesão do leitor, conservá-la a qualquer preço, por mais

longe que se avance (MORENO, 1987, p.71).

A leitura de contos no primeiro ano do Ensino Médio pode contribuir para

intensificar o despertar para a leitura de gêneros literários presentes na Literatura

Brasileira, devido aos elementos composicionais que caracterizam o conto, tais

como o fato de se tratar de uma breve narrativa. Outros textos e diferentes gêneros

discursivos poderão se somar a estas propostas para intensificar o debate.

3. INSTRUMENTO DE PESQUISA

Os instrumentos de pesquisa aqui utilizados foram construídos segundo

instruções direcionadas pelo PDE 2013. Essas atividades de intervenção

pedagógica foram realizadas com os alunos do 1º ano do ensino médio do Colégio

Estadual Helena Kolody, em Colombo/PR. O objetivo principal foi promover o

letramento literário por meio de contos que abordassem a temática do idoso,

correlacionado aos direitos dos mesmos. Elaborou-se um caderno pedagógico

contendo a estratégia de trabalho com a literatura proposta por Rildo Cosson (2006).

Para isso, usou-se a sequência expandida: motivação, introdução e a leitura, que se

divide em interpretação, contextualização e expansão. Articulou-se o debate literário

ao Estatuto do Idoso, propondo uma reflexão sobre como a literatura associada aos

Direitos dos Idosos pode permitir a aquisição de atitudes e ações que contribuam

para o reconhecimento e o respeito ao ser humano idoso.

Além deste material, foi ofertado um curso online, intitulado Grupo de

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Trabalho em Rede (GTR-2014), o qual tinha por objetivo socializar as atividades do

Caderno Pedagógico com alguns professores da rede pública de ensino do Estado

do Paraná.

3.1 CADERNO PEDAGÓGICO

O Caderno Pedagógico é composto por quatro unidades. A primeira consistiu

da apresentação de um trecho do filme Battleship, que mostra a importância da

experiência das pessoas mais velhas num momento de dificuldade, quando um

grupo de personagens jovens não consegue resolver um problema.

Complementando esta unidade, por meio da animação The fantastic flying

books of Mr. Morris Lessmore, foi mostrada a importância da leitura, favorecendo o

compartilhamento de pontos de vista, que promovem reflexões.

Na segunda e terceira unidades foi trabalhado o gênero literário conto,

partindo do livro Teoria do conto, de Nádia Battela Gotlib. As estratégias para o

ensino de literatura possibilitaram um trabalho significativo com os contos “Feliz

Aniversário”, de Clarice Lispector e “O gato”, de Dalton Trevisan. A "motivação"

permitiu sensibilizar os participantes para a "introdução", para a "leitura" e

"interpretação", bem como facilitou a "contextualização" e intensificou a possibilidade

de expandir o horizonte de expectativas", por meio da intertextualidade com outras

obras literárias e com a própria realidade cotidiana.

Na quarta unidade, o trabalho teve início com o vídeo intitulado “Estatuto do

Idoso - Parte 01” que num primeiro momento mostra a trajetória da regulamentação

deste Estatuto, em seguida fala sobre as disposições preliminares e os sete

primeiros artigos.

As unidades tiveram debate sobre o filme e os vídeos assistidos, leituras dos

contos e artigos do Estatuto amplamente discutidos. Além disso, atividades com

questões pertinentes ao tema estudado.

3.2 GTR-2014

O GTR é um curso online ofertado pelo Governo do Estado do Paraná, o qual

busca possibilitar novas alternativas de formação continuada para os professores da

Rede Pública Estadual. Este procura viabilizar mais um espaço de estudo e

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discussão sobre as especificidades da realidade escolar e incentivar o

aprofundamento teórico-metodológico nas áreas de conhecimento, através da troca

de ideias e experiências sobre as áreas curriculares.

Além disso, ele socializa o Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola,

elaborado pelo Professor PDE e discutido com os demais professores da Rede

participantes do curso.

As reflexões feitas pelos participantes do GTR abriram várias possibilidades

de propor um trabalho com diversas sugestões de atividades para o ensino de

Literatura com o enfoque no idoso. As atividades propostas no caderno pedagógico

foram enriquecidas com as contribuições dos colegas que já trabalham o tema e

também com os que conseguiram implementar em sala de aula algumas das

unidades temáticas do caderno pedagógico.

Algumas atividades planejadas tiveram que ser adaptadas devido a

problemas com a utilização do laboratório de informática com acesso a internet, e de

equipamentos como TV multimídia, dentre outras adversidades.

Certamente os diários e fóruns deste curso contêm concepções de educação

e métodos de ensino que muito contribuíram para aprofundar as reflexões que

resultaram neste artigo. A socialização dos saberes mais uma vez fomenta o olhar

para a importância das trocas de experiências, o quanto enriquecedor pode ser a

participação em cursos de formação continuada como estes, bem como o quanto as

potencialidades cognitivas dos participantes são intensificadas.

4. RESULTADOS

A turma que participou desta pesquisa era composta por 35 alunos; destes,

19 responderam o questionário e as suas falas podem aparecer em mais de uma

categoria de análise.

O Quadro 1 ilustra as categorias de análise, suas subcategorias e os alunos

de acordo com as suas respostas, desta forma podemos visualizar um panorama

geral do primeiro questionário analisado.

Quadro 1: Panorama de análise do segundo questionário da primeira unidade

CATEGORIAS SUBCATEGORIAS ALUNOS

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4.1 Perceberam a importância dos livros

2 - 4 - 6 - 7 - 8 - 12 - 13

4.2 Compreensão sobre o que é autobiografia

Todos

4.3 Percepções sobre o vídeo The Fantastic Flying books of Mr. Morris Lessmore

4.3.1 Parte 1 a- História de um personagem que gostava de livros

1 - 6 - 11 - 15

b- Livros 2 - 4 - 7 - 9 – 10 - 17 - 18

c- Incoerente 3 - 5 - 12 - 13 - 14 - 16

d- Pessoas que gostam de ler

8

e- Autobiografia 19

4.3.2 Parte 2 a- Sim 1- 4 - 5 - 6 - 8 - 9 - 10 - 11 - 12 - 13 - 14 - 15 - 16 - 17 - 18 - 19

b- Reconhecimento 2 - 3 - 7

4.4 Percepções sobre o idoso na sociedade atual

a- Sabedoria 1 - 2 - 5 - 10 – 18

b- Frágeis, mas capazes 3 - 15 - 16

c- Preconceito e agressão 6 - 14 - 19

d- Excluídos 11 - 12 - 13 - 14

e- Desvalorizados 1 - 4 - 7 - 8 - 9 - 17

4.5 Reflexões sobre a temática estudada

a- Sim 2 - 3 - 11 - 19

b- A importância dos livros 1 - 9 - 10 - 15 - 17 - 18

c- Importância da leitura 5 - 8 - 16

d- Situação do idoso na sociedade atual

4

e- Valorização do idoso 6 - 7

f- Ensinamentos para os jovens 14

g- Estudo 12 - 13

Os alunos participantes das atividades responderam diversas questões e nos

debates que contemplaram os objetivos do caderno pedagógico, tiraram dúvidas e

fizeram questionamentos. Apresentaremos os resultados do segundo Questionário

da primeira unidade, além disso, analisaremos a Questão 4, a qual remete à relação

do idoso com a família, presente no conto “Feliz Aniversário”, de Clarice Lispector.

Este instrumento foi trabalhado ao final de cada unidade e os resultados aqui

apresentados são de uma das turmas participantes.

As reflexões possíveis a partir da percepção dos alunos a respeito das

categorias elencadas permitiram um trabalho mais significativo que levou os

participantes a perceberem nuances de negligência que se presentifica no ambiente

familiar. Eles mesmos suscitaram a possibilidade da própria família desvalorizar a

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pessoa idosa. Como o valor ao ser humano é atribuído por sua fase produtiva que

ocorre com maior ênfase na fase adulta, muitas vezes não se consideram as

concepções de vida, as opiniões dos idosos. Cabe ressaltar que a implementação

destes estudos ocorreu em uma região metropolitana, num contexto no qual a renda

da família varia entre um a dois salários mínimos aproximadamente. Os

trabalhadores aposentados recebem em torno de um salário mínimo. A falta de uma

renda que favoreça condições de vida mais confortável contribui para acentuar o

processo de desvalorização deste segmento da população.

Ao se sentir desvalorizado, a autoestima da pessoa idosa é reduzida, sua

dignidade enquanto pessoa humana acaba sendo violada. Atitudes de desrespeito

muitas vezes ocorrem devido à falta de um poder aquisitivo maior para contribuir

com a subsistência de filhos e netos. Não raro, os familiares precisam ajudar com a

renda do aposentado na compra de remédios e outros insumos necessários à

existência humana. Isso muitas vezes se torna motivo de discórdias e conflitos entre

filhos e netos quando se começa um jogo de empurra. A pessoa idosa percebe a

geração de situações adversas por conta disso e se sente muito transtornada,

chateada, desmoralizada, inferiorizada, sentimentos e sensações negativas que

contribuem para o desenvolvimento de sintomas psicossomáticos e patologias no

campo psíquico e orgânico.

A exclusão por parte dos familiares, da sociedade e do mercado de trabalho é

outro fator de violação dos direitos humanos. Frequentemente se percebe que noras,

genros, com a anuência camuflada e silenciada dos próprios filhos e filhas, tratam

seus sogros e sogras com gestos e expressões depreciativas que revelam um mal-

estar com relação à presença dessas pessoas. Essa é a violência simbólica que

afeta o psicológico e pode atingir o orgânico biológico do ser humano.

O mercado de trabalho movido pela ânsia do capital discrimina e exclui em

plena luz do dia. Desconsidera-se o lado socioafetivo e moral do ser humano

quando esse se sente em condições de continuar uma vida produtiva e é

sumariamente substituído por outro. Às vezes o assédio moral e os danos causados

por situações de extremo constrangimento são tamanhos, que os trabalhadores com

idade mais avançada acabam por optar “coercivamente” pelo abandono do trabalho.

Recorrem por vezes a uma aposentadoria com direito à remuneração parcial ainda

que contra a própria vontade, devido á falta de conhecimento da legislação

pertinente, ao desgaste emocional sofrido não somente por parte da chefia imediata,

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mas com o consentimento de muitos colegas de trabalho que, motivados pelas

relações de poder, silenciam ou ainda pior, ratificam comportamentos excludentes e

discriminatórios.

Segue uma breve análise descritiva do quadro.

4.1. Perceberam a importância dos livros

Dos 19 alunos, apenas 7 perceberam essa importância no vídeo assistido

(The fantastic flying books of Mr. Morris Lessmore), como é demonstrado nas

anotações de alguns deles: sem a leitura nós ficamos sem cultura, sem o

conhecimento das coisas ao nosso redor, sem a leitura vivemos em uma vida sem

cor. (aluno 4)” ; “após ele conhecer os livros... sua vida teve mais cor, teve mais vida,

foi mais feliz... E quando você lê um livro ele cria vida na sua imaginação, pois você

se entrega ao livro” (aluno 7).

4.2 Compreensão sobre o que é autobiografia

Para essa nova categoria buscou-se compreender o que é autobiografia e

que cena do vídeo eles citam para demonstrar que compreenderam.

Os 19 alunos relatam que compreenderam o que é autobiografia, no entanto,

apenas 9 relatam a cena onde o personagem está escrevendo no livro. Já os alunos

2, 5, 6, 7, 9, 12, 13, 14 não conseguem se expressar quanto a qual cena do vídeo

corrobora com a sua compreensão acerca do que é autobiografia. Para o aluno 17, o

final do vídeo ilustra o que ele compreendeu sobre o que é autobiografia e para o

aluno 19 é o início do vídeo que faz essa ilustração.

4.3 Percepções sobre o vídeo The fantastic flying books of Mr. Morris

Lessmore

Ao analisarmos a primeira parte da questão 3, obtivemos diferentes respostas:

4.3.1 Parte 1

a- História de um personagem que gostava de livros: Para os alunos 1, 6, 11 e

15 o vídeo mostra a história de um personagem que gostava de livros.

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b- Livros: Para os alunos 2, 4, 7, 9, 10, 17 e 18 o vídeo em questão estava

relacionado aos livros. Além disso, o aluno 18 cita a importância desses livros, como

podemos observar em sua anotação: “Sobre os livros e sua importância.”

c- Incoerente: Não conseguimos perceber na fala dos alunos 3, 5, 12, 13, 14 e 16

qual a temática abordada pelo vídeo.

d- Pessoas que gostam de ler: O aluno 8 diz que o vídeo é sobre pessoas que

gostam de ler.

e- Autobiografia: Percebemos na fala do aluno 19 que esse vídeo é uma

autobiografia.

4.3.2 Parte 2

a- Sim: Na análise da segunda parte da questão 3, sobre as pessoas que dedicam

suas vidas aos livros podem ser recompensadas, dezesseis alunos respondem sim,

que as pessoas que dedicam suas vidas aos livros são recompensadas.

b- Reconhecimento: Para o aluno 2 as pessoas que dedicam suas vidas aos livros

obtêm algum reconhecimento. Já para os alunos 3 e 7 essas pessoas são

recompensadas.

4.4 Percepções sobre o idoso na sociedade atual

Durante a análise da questão 4 , Como você vê o idoso na sociedade atual?

Percebemos diversas concepções acerca de como os alunos veem o idoso na

sociedade atual.

a- Sabedoria: Os alunos 1, 2, 5, 10 e 18 dizem que a pessoa idosa possui

sabedoria, no entanto, eles afirmam que essa parcela da sociedade é desvalorizada

(aluno 1), precisam ser respeitados (aluno 2), possuem conhecimento (aluno 5 e 18)

e são pessoas importantes (aluno 10).

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b- Frágeis, mas capazes: Para o aluno 16, o idoso é frágil, mas possui

conhecimento. Já para os alunos 3 e 15, eles só são seres humanos capazes. O

aluno 3 diz que os idosos são dependentes da família. Porém para o aluno 15, assim

como para o 16, eles só possuem conhecimento.

c- Preconceito e agressão: Segundo dois alunos os idosos são importantes para a

sociedade, entretanto, o aluno 6 diz que são vítimas de preconceito e para o aluno

19, assim como para o aluno 14, eles são maltratados.

d- Excluídos: Alguns alunos disseram que os idosos são excluídos. Para os alunos

11, 12 e 13, isso é gerado pela sociedade e para o aluno 14 pelo mercado de

trabalho.

e- Desvalorizados: Para os alunos 1, 4, 7, 8, 9 e 17 a pessoa idosa é desvalorizada

perante a sociedade e essa desvalorização é gerada pela família (alunos 7 e 17),

pela sociedade (aluno 8) e pelo mercado de trabalho (aluno 9).

4.5 Reflexões sobre a temática estudada

A questão aqui analisada apresenta duas categorias de análise, a primeira

para os alunos que responderam apenas sim para a reflexão sobre o tema estudado

e a segunda categoria aborda a importância do estudo.

a- Sim: Os alunos 2, 3, 11 e 19 responderam apenas sim, não justificaram suas

respostas em relação à questão aqui analisada.

b- A importância dos livros: Para os alunos 1, 9, 10, 15, 17 e 18 a justificativa é a

importância dos livros, como podemos observar na fala alguns deles:

Sim, que livros são importantes... (aluno 1) Sim, que se eu me dedicar aos livros... vou conseguir ter um futuro melhor. (aluno 9) Sim, que os livros são recompensas nas nossas vidas. (aluno 17) Sim e muito, pois agora eu entendi mais sobre a importância dos livros para nós. (aluno 18)

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c- Importância da Leitura: Podemos perceber na fala dos alunos 5, 8 e 16 que

justificam a relevância do trabalho através da leitura.

Fez sim e muito, de como é importante à leitura em nossas vidas... (aluno 5) Sim, ... porque tem pessoas que gostam de ler e outras não. (aluno 8)

d- Situação do idoso na sociedade atual: O aluno 4 afirma que a atividade o fez

refletir sobre a situação do idoso na sociedade atual.

e- Valorização do idoso: Para os alunos 6 e 7 o idoso deve ser valorizado pela

sociedade como podemos observar na transcrição de suas falas:

Sim, eu também as vezes acho ruim quando minha vó fala alguma coisa pra mim, porque achava que ela não sabia de nada, mas agora estudando sobre isso, aprendi que nós devemos dar mais valor para os idosos. (aluno 6) Sim, ... sua família valorizam eles. (aluno 7)

f- Ensinamentos para os jovens: O aluno 14 diz que os idosos têm ensinamentos

para os jovens, e que essas contribuições foram as atividades que levaram para a

sua vida.

g- Estudo: Apesar dos alunos 12 e 13 não afirmarem que as atividades os levaram

a refletir sobre a condição do idoso, eles mencionam que essas, contribuíram para a

importância dos estudos em suas vidas.

O Quadro 2 ilustra as categorias de análise da questão 4 da segunda unidade

e os alunos participantes de acordo com as suas respostas, desta forma podemos

visualizar um panorama geral do segundo questionário analisado.

Quadro 2: Panorama de análise da questão 4

CATEGORIAS ALUNOS

4.6 Falta de carinho 1 - 5 - 10

4.7 Falta de paciência 1

4.8 Falta de respeito 5 - 11 - 18

4.9 Falta de amor 5

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4.10 Falta de atenção 12 - 13

4.11 Desprezados 8 - 14

4.12 Maltratados 4 - 15 - 19

4.13 Rejeitados 10

4.14 Sem valor 2

4.15 Desvalorizada 7 - 18 - 19

4.16 Incoerente 3 - 6 - 9 - 16 - 17

A Questão 4 - Como a autora aborda a questão do idoso no conto de Clarice

Lispector? - foi respondida pelos mesmos alunos que participaram do primeiro

questionário aqui analisado e também poderão se enquadrar em mais de uma das

10 categorias de análise.

4.6 Falta de carinho: Para os alunos 1, 5 e 10, os idosos necessitam ser tratados

com carinho e que segundo a autora isso não acontece.

4.7 Falta de paciência: Para o aluno 1, além dos idosos necessitarem ser tratados

com carinho, é preciso ter paciência, pois o idoso necessita de um tempo maior

devido à sua fragilidade.

4.8 Falta de respeito: Três alunos disseram que o conto retrata o ser humano idoso

como pessoas que não são respeitadas. Dentre eles, o aluno 18 disse que a falta de

respeito é gerada pela sociedade.

4.9 Falta de amor: Segundo o aluno 5, a autora refere-se ao idoso como sendo uma

pessoa que necessita de amor.

4.10 Falta de atenção: Os alunos 12 e 13 comentam que o idoso, segundo a autora,

é uma pessoa que não tem a atenção da família.

4.11 Desprezados: Os alunos 8 e 14 expressam em suas falas que as pessoas

quando ficam mais velhas são desprezadas pela sociedade e por seus familiares.

4.12 Maltratados: Alguns alunos dizem que o conto aborda os idosos como sendo

pessoas maltratadas (19), o aluno 4 fala que eles são maltratados pelos familiares.

Para o aluno 15 os idosos são maltratados pela sociedade.

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4.13 Rejeitados: O aluno (10) diz que a autora mostra a idosa como sendo uma

pessoa rejeitada pela família, como podemos observar na fala dele: “quando ficamos

mais velhos ninguém mais gosta da gente, ninguém liga para nós”.

4.14 Sem valor: O aluno 2 afirma que o conto aborda a idosa como sendo uma

pessoa que não é valorizada pela sua família.

4.15 Desvalorizada: Para três alunos participantes dessa pesquisa, o conto “Feliz

Aniversário” aborda o idoso como sendo uma pessoa desvalorizada pela família.

4.16 Incoerente: Cinco alunos não trouxeram em suas falas respostas relevantes à

pergunta feita.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os textos literários trabalhados foram “Feliz Aniversário”, de Clarice Lispector,

e “O Gato”, de Dalton Trevisan, e ambos abordam esse segmento social que é o

idoso. Foi trabalhado a “Constituição Federal Brasileira” e seus artigos 229 e 230

discorrem sobre a condição da pessoa idosa. Também foi oportuno abordar, nas

atividades, os artigos 2º e 4º, parágrafos 1º e 2º da lei nº. 10.741/03, de 01 de

outubro de 2003 do “Estatuto do Idoso”, cujo conteúdo lembra a dignidade do ser

humano idoso. Após a leitura dos artigos das leis aqui citadas promoveu-se um

debate sobre o assunto.

Conhecer leis cujo conteúdo se aplica à vida de todos os cidadãos é

necessário para o exercício da cidadania consciente e participativa, pois espera-se

que compreendendo os seus direitos, em contra partida as pessoas compreendam

seus deveres.

A literatura articulada a variados gêneros permitiu ao aluno experimentar esse

dialogismo e isso contribui para alcançar objetivos no exercício da cidadania,

preparando-os para a vida. Além disso, a leitura dos contos fê-los perceber o idoso,

como um indivíduo que integra a sociedade e que merece respeito. A leitura e a

literatura levam à reflexão e ativam uma atitude responsiva, que fomenta dúvidas,

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questionamentos e nos leva a rever conceitos, de tal maneira que possamos

reconstruí-los de uma forma mais humana.

Rildo Cosson afirma:

Na leitura e na escrita do texto literário encontramos o senso de nós mesmos e da comunidade a que pertencemos. A literatura nos diz o que somos e nos incentiva a desejar e a expressar o mundo por nós mesmos. E isso se dá porque a literatura é uma experiência a ser realizada. É mais que a incorporação do outro em mim sem renúncia da minha própria identidade. (COSSON, 2012, p. 17)

A falta de interesse pela leitura de leis no ensino médio pode ser revertida. O

caminho não é fácil, mas os frutos são bons.

A inserção das atividades com foco no ser humano idoso se justifica tanto

pela lei 10.741, de 1º de outubro de 2003, quanto pela necessidade de se respeitar

as pessoas e consequentemente o idoso.

Ao analisarmos os resultados do questionário referente ao vídeo “The

fantastic flying books of Mr. Morris Lessmore” percebemos a relevância dessa

pesquisa na vida dos alunos participantes. Sete dos alunos participantes enfatizam

que o vídeo os fez refletir sobre a importância dos livros e da leitura. Para outra

parcela de alunos, não foi perceptível o entendimento sobre a temática abordada no

vídeo. Entretanto, percebemos outros fatores relevantes a essa pesquisa na fala

desses alunos, como por exemplo quando mencionaram que as atividades foram

importantes para os seus estudos, que o ser humano revela sabedoria, tendo muito

a nos ensinar. Alguns afirmam ainda que o idoso é desvalorizado pela sociedade

em diversos aspectos e muitas vezes são vítimas de preconceito e agressão

conforme citado em uma das subcategorias de análise. Portanto, os resultados

apresentados na análise das falas dos alunos demonstram a necessidade de se

valorizar essa crescente parcela da sociedade.

Devido à abrangência desta pesquisa e de sua temática aqui estudada,

compreendemos que algumas das questões analisadas necessitam de

reformulações. No entanto, outras trouxeram resultados significativos, tanto para a

pesquisa, como para uma grande parcela dos alunos participantes.

REFERÊNCIAS

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BRASIL, [Leis etc.] Estatuto do Idoso: Lei nº 10.741, de 1º de outubro de 2003 e

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