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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO ... · compreendam a dinâmica do espaço geográfico. Sobre a importância do trabalho de ... Santuário Nossa Senhora

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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TRABALHO DE CAMPO EM ESPAÇO URBANO COMO MÉTODO

PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA CULTURAL

MILAMAR CELESKI PIOVESAN1

LUIS LOPES DINIZ FILHO2

RESUMO - O presente artigo é parte integrante do PDE (Programa de Desenvolvimento

Educacional) e visa contribuir com a escola pública e com as aulas de Geografia. Através do

trabalho de campo em espaço urbano, o qual é um método para o ensino de Geografia Cultural,

pretende-se levar os alunos a observação, a percepção, a conhecer e compreender a organização

deste espaço. Para tanto, delimitou-se um trecho da cidade de Curitiba: da Praça das Nações no

Bairro Alto da Rua XV até a Praça Nossa Senhora de Salette no Bairro Centro Cívico, cujo trecho é

de relevante importância, pois possui elementos histórico-geográficos que servem como referenciais

para a compreensão de um espaço maior que é a cidade de Curitiba.

Palavras-chave: Trabalho de campo. Espaço urbano. Percepção. Cultura.

1 Professora de Geografia do PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional), Núcleo Curitiba-PR.E-mail: [email protected] 2 Prof. Dr. Luis Lopes Diniz Filho, Departamento de Geografia, UFPR. E-mail: [email protected]

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INTRODUÇÃO

O presente artigo descreve o trabalho desenvolvido no PDE-Plano de

Desenvolvimento Educacional, contemplando o Projeto de Intervenção Pedagógica,

a Produção Didático-Pedagógica, a Implementação do Projeto na Escola e o GTR-

Grupo de Trabalho em Rede.

A maioria dos alunos da EJA (Educação de Jovens e Adultos), retomam seus

estudos depois de muito tempo. Conforme minhas observações em sala de aula, os

alunos, pelo fato de ficarem fora do contexto escolar, conhecem e vivenciam apenas

seus espaços de vivência: a casa, o trabalho e o espaço sagrado. E numa

perspectiva cultural, alguns passam a vida inteira sem conhecer os bairros da cidade

e sem saber que existe uma determinada praça, bosques, os diferentes espaços

sagrados, monumentos, etc. Neste sentido, o trabalho desenvolvido e apresentado

neste artigo, dá ênfase a Geografia Cultural, sendo o trabalho de campo, o método

utilizado para que os objetivos fossem atingidos. Assim, um trecho da cidade de

Curitiba foi delimitado para o estudo: da Praça das Nações no Bairro Alto da Rua XV,

seguindo pela Rua XV de Novembro em direção à Praça Portugal no Bairro Alto da

Glória, até a Praça Nossa Senhora de Salette no Bairro Centro Cívico. Delimitou-se

este trecho pela sua multiplicidade de formas e funções, contendo diferentes

elementos de caráter histórico-geográfico. O público-alvo deste trabalho foram os

alunos da EJA-Educação de Jovens e Adultos, da Escola Ceebja Cic-Centro

Estadual de Educação para Jovens e Adultos, em Curitiba, do Ensino Fundamental

fase II no período noturno.

Os objetivos propostos são os seguintes: Propiciar a ampliação das

representações espaciais urbanas dos alunos, através do trabalho de campo.

Destacar a importância de alguns elementos, materiais e imateriais, na formação do

espaço de Curitiba. Observar e registrar as transformações que ocorreram no trecho

escolhido e desenvolver com os alunos um guia de percurso urbano. A escolha

deste tema e o método de análise mostram a relevância do trabalho, pois a relação

entre o tema e o método, proporciona aos alunos a ampliação das representações

espaciais urbanas, fazendo-os reconhecer a importância dos elementos materiais e

imateriais estudados no referido trecho.

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REVISÃO DE LITERATURA

Nos livros de geografia e história vemos muitas ilustrações de quadros,

descrições e observações sobre as paisagens do Brasil. Este trabalho conjunto foi

sendo desenvolvido desde os primórdios da formação do território brasileiro com a

chegada dos portugueses, assim podemos pensar o trabalho de campo como

sendo inerente ao estudo do espaço, isto é, quando é desenvolvido um estudo sobre

um determinado espaço, este vem acompanhado do trabalho de campo. E

posteriormente para a Geografia, tornou-se parte fundamental do método de

trabalho para os geógrafos. O trabalho de campo representa um momento do

processo de produção do conhecimento, e não pode ser considerado apenas como

uma atividade de observação da paisagem ou do lugar de estudo, mas partir desta

observação, sendo mediado pelos conceitos geográficos para que os alunos

compreendam a dinâmica do espaço geográfico. Sobre a importância do trabalho de

campo, LACOSTE (1985, p. 13) citado por Alentejano, Rocha-Leão (2006, p. 62) diz

que “[...] os trabalhos de campo devem ser longos e contínuos, marcados por

caminhadas, e convívio com a realidade,[...]”. E para Suertegaray (2002) “A pesquisa

de campo constitui para o geógrafo um ato de observação da realidade do outro,

interpretada pela lente do sujeito na relação com o outro sujeito”.

Para colaborar na construção de conhecimentos e na formação dos alunos,

podemos citar o trabalho de campo como sendo um método capaz de auxiliar o

professor nessa busca de novas alternativas para o processo de ensino-

aprendizagem. É importante construir com os alunos, um conhecimento cuja visão

de mundo seja integrada. Para Silvone e Tsukamoto (2006, p. 85), “[...]será a partir

do momento em que iniciativas isoladas forem tomadas e tiverem bons frutos que se

desencadearão as grandes mudanças.” As iniciativas isoladas e as grandes

mudanças estão relacionadas com a prática pedagógica diária de cada professor,

pois ao propor métodos diferentes, torna-se sujeito de sua prática social. A prática do

trabalho de campo é antiga e deu à Geografia uma posição de destaque na busca

de um melhor entendimento do espaço. No decorrer do tempo, acredita-se que o

trabalho de campo, não tenha deixado de acontecer, em momento algum. O que

houve foram abordagens diferentes, em determinados momentos foi mais utilizado e

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valorizado que em outros momentos. Nesta prática de ensino,

[...]o trabalho de campo tem se mostrado capaz de: chamar a atenção dosalunos; estreitar a relação destes com os professores; conduzi-los a atitudesnovas, ajudando-os na assimilação e compreensão de conteúdosespecíficos e na formação da personalidade, o que, mais tarde, auxiliará navida social e profissional. (Tomita, 1999, p. 14 citado por Silvone eTsukamoto, 2006, p. 86).

Os grupos humanos desenvolvem suas atividades produtivas apoiadas no

espaço, iniciando-se pela exploração dos meios naturais. Para Claval (1999) a

organização do espaço, efetuada num determinado contexto cultural, permite aos

homens viverem como lhes convêm. Segundo as Diretrizes Curriculares de

Geografia para a Educação Básica do Estado do Paraná (2008), o objeto de estudo

da Geografia é o espaço geográfico, entendido como aquele produzido e apropriado

pela sociedade, composto por objetos naturais, culturais e técnicos; e ações

pertinentes às relações sociais, culturais, políticas e econômicas. Os homens vivem

num espaço. Este tem uma aparência e para a grande maioria das pessoas ele está

pronto e acabado. Mas sabemos que os diferentes espaços que se apresentam são

o resultado de diferentes dinâmicas e estão repletos de historicidade. Uma efetiva

apropriação do espaço por um dado grupo social se expressa através da toponímia;

a qual segundo Corrêa (2007, p. 176), “[...] constitui-se em relevante marca cultural e

expressa uma efetiva apropriação do espaço por um dado grupo cultural. É ainda

um poderoso elemento identitário.” Ela dá nome aos rios, as montanhas, cidades,

bairros, logradouros, etc., envolvendo diferentes etnias ou grupos culturais. Corrêa

(2007) observa que o espaço urbano está impregnado de toponímia. Ele constitui-se

num campo cheio de possibilidades para o estudo das relações entre linguagem,

política territorial e identidade, as quais são articuladas pela toponímia. O significado

do nome de um determinado bairro por exemplo, expressa a relação existente entre

toponímia e identidade. O espaço urbano constitui-se em um ambiente ideal para a

geografia cultural. Corrêa (2007) diz que uma das dimensões que analisa o espaço

urbano é a dimensão cultural, que por seu intermédio conhece-se um pouco mais

sobre a sociedade em termos econômicos, sociais, políticos e ambientais. A cidade

expressa a cultura de um povo através de suas formas, as quais possuem um

simbolismo. De acordo com Corrêa; Rosendahl (2007, p. 28), “A geografia cultural

distingue, descreve e classifica os complexos típicos de aspectos ambientais,

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incluindo aqueles feitos pelo homem, que coincidem com cada comunidade cultural,

[...]”. Para a geografia cultural as transformações causadas pela ação humana na

superfície terrestre tem um grande significado. E quando estas transformações são

estudadas, se considera as diferenças e semelhanças entre as comunidades

humanas, e refere-se aos diferentes modos de vida de cada uma como culturas. A

geografia cultural compara a distribuição das comunidades com alguns aspectos da

superfície terrestre, deste modo ela procura identificar os aspectos ambientais

característicos de uma determinada cultura. Para o geógrafo cultural a explicação do

funcionamento interno da cultura e a descrição completa dos padrões de

comportamento humano não são questões preocupantes, mesmo que estas afetem

a superfície da Terra. Ele preocupa-se,

[…] em avaliar o potencial técnico de comunidades humanas para usar emodificar seus habitats. Para realizar tal avaliação, a geografia culturalestuda a distribuição, no tempo e no espaço, de culturas e elementos dasculturas. (Corrêa e Rosendahl, 2007, p. 31)

A cultura de um povo difere da cultura de outro povo, mas alguns

componentes aparecem e permanecem como sendo comuns às duas, como

exemplo, são as técnicas de produção e os procedimentos que regulam a vida e

asseguram a sobrevivência. A cultura marca os espaços de diversas maneiras, por

exemplo, os espaços são moldados pelas preferências e valores das sociedades

conforme suas capacidades de estruturá-los. É transmitida de indivíduo para

indivíduo; os diferentes grupos a usam e a difundem. Segundo Claval (1999, p. 63)

“A cultura é a soma dos comportamentos, dos saberes, das técnicas, dos

conhecimentos e dos valores acumulados pelos indivíduos durante suas vidas [...]”.

Ela é enriquecida e transformada, é herança transmitida de uma geração para outra.

Para Claval (1999) os homens não se preocupam somente em satisfazer as

suas necessidades e transmitir o que sabem às futuras gerações, eles costumam

dar um significado ou sentido àquilo que os cerca. Algumas vezes a paisagem

valoriza-se em si mesma, pois deixa de ser somente uma expressão da vida social

conferindo identidade aos grupos humanos. E conforme Corrêa e Rosendahl (1998,

p. 108), “Todas as paisagens possuem significados simbólicos porque são o produto

da apropriação e transformação do meio ambiente pelo homem.”

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O TRABALHO DE CAMPO EM ESPAÇO URBANO

As estratégias de ação propostas no Projeto de Intervenção Pedagógica,

serviram de apoio e ponto de partida para a implementação do projeto na escola. As

mesmas estão descritas e detalhadas na Produção Didático-pedagógica, a qual se

apresenta na forma de Unidade Didática e tem como objeto de estudo o trabalho de

campo em espaço urbano, compreendido como um método pedagógico no processo

de ensino-aprendizagem em Geografia. E conforme diz Suertegaray (2002), “A

pesquisa de campo constitui para o geógrafo um ato de observação da realidade do

outro, interpretada pela lente do sujeito na relação com o outro sujeito. Esta

interpretação resulta de seu engajamento no próprio objeto de investigação”.

Conforme descrito na Unidade Didática o trabalho de campo é composto por

três etapas. Na primeira etapa, o pré-campo, as ações foram desenvolvidas em sala

de aula com 20 alunos. Eles responderam ao questionário diagnóstico, o qual

apresentou os seguintes resultados:

Tabela 1 – Resultados da aplicação do questionário diagnóstico

1-Você conhece e/ou já caminhou pelo trecho selecionado para o trabalho de campo?

Sim: 09 alunos Não: 11 alunos

2-Marque com um “X” os elementos abaixo que você já visitou.

Antiga caixa d'água no Alto da Rua XV Nenhum aluno marcou

Polloshop Alto da XV 05

Estádio Major Antônio Couto Pereira 10

Praça Portugal Nenhum aluno marcou

Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro 10

Praça Nossa Senhora de Salette 08

3-Dentre os elementos abaixo relacionados, marque quatro que você gostaria de visitar.

Antiga caixa d'água no Alto da Rua XV 15

Polloshop Alto da XV 08

Estádio Major Antônio Couto Pereira 15

Praça Portugal 12

Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro 13

Praça Nossa Senhora de Salette 12

Fonte: Autora, 2014

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Quanto ao mapa mental observou-se que os elementos que foram

desenhados, apareceram como referenciais do trecho em estudo, isto é, os alunos

desenharam o que lembravam, e um dos elementos que mais apareceu foi o Estádio

Major Antônio Couto Pereira. A leitura e interpretação do texto Paisagem-Cultura-

Percepção, dos textos informativos e dos mapas dos bairros por onde passa o

trecho selecionado, e de alguns mapas antigos de Curitiba, também foram os meios

utilizados em sala de aula para que os alunos compreendessem e também para

sensibilizá-los para a fase do campo. Sobre esta etapa do trabalho de campo Karina

diz o seguinte:

“De posse das informações recentes sobre as localidades que se esperavisitar (de preferência realizando uma excursão prévia) e a partir dapreparação dos alunos para realizar a atividade, o professor cria umprograma de trabalho que norteará o trabalho de campo e, de posse desseprograma, realiza as ações necessárias a sua efetivação”. (NEVES, 2010,p.31).

Na etapa denominada o campo, foi necessário dividir o trecho em duas

partes, o qual foi percorrido em dias diferentes. No primeiro dia do trabalho de

campo, o trecho teve início na Praça das Nações, sendo que primeiramente os

alunos puderam caminhar, observar e tirar fotos da praça. Também puderam

observar a cidade de Curitiba em direção ao Bairro Alto da Glória e o Centro e do

outro lado da praça observaram a Serra do Mar estendendo-se em sentido ao

município de Pinhais. Em seguida, os alunos caminharam pela Rua XV de

Novembro, passando pela linha do trem onde foram realizadas as explicações

necessárias deste local, e dali mesmo puderam observar a localização do Polloshop

Alto da XV. Continuando até o Estádio Major Antônio Couto Pereira, foi realizada

uma visita orientada em todo o estádio; e terminando o trecho deste dia os alunos

conheceram a Praça Portugal e o Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro.

Os comentários e observações dos alunos foram os seguintes:

Aluno 1: “É muito legal ter essas aulas que a gente pode sair”.

Aluno 2: “Nossa, eu nunca tinha vindo neste lado da cidade, é tão diferente”.

Aluno 3: “É a primeira vez que eu entro nesse estádio, eu torço pra outro time”.

O aluno 4 relatou o seguinte: “A aula de campo foi muito boa, andamos

bastante. Começou na Praça das Nações na antiga caixa d'água no Alto da XV e

continuou pelo bairro onde vimos algumas casas antigas e outras reformadas, para

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manter a tradição dos imigrantes europeus. E nós paramos para fotografar uma

delas, pois são lindas e encantadoras. E nós continuamos a caminhada até o

Estádio Couto Pereira, onde fizemos uma visita muito bacana, até ganhamos uma

revista do CFC-Coritiba Futebol Clube no final, e para ficar melhor ainda,

terminamos o passeio no Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro”.

O aluno 5 também relatou: “Fizemos a nossa aula de campo com a

professora Milamar e o pessoal do colégio, foi muito legal. Fomos à antiga caixa

d'água e conhecemos a importância que ela tem. Já abasteceu parte de Curitiba no

início do seu crescimento. Depois seguimos andando e paramos na linha do trem

que está ativa e cruza o centro da cidade. Também vimos as construções antigas no

caminho. Conhecemos o Estádio Major Antônio Couto Pereira, foi muito legal porque

tivemos uma visita orientada, onde nós conhecemos a história desde a sua

construção e também a história do time Coritiba Futebol Clube até hoje. Depois por

fim conhecemos o Santuário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro que também é

muito lindo. Eu adorei esta aula de campo, foi bom conhecer um pouco mais da

cidade de Curitiba”.

O segundo dia do trabalho de campo, teve início onde terminou o primeiro, ou

seja, a partir da Praça Portugal. Seguindo pela Rua Ivo Leão e Avenida Cândido de

Abreu até a Praça Nossa Senhora de Salette no Bairro Centro Cívico. Os alunos

caminharam pela praça e ficaram sabendo da localização das repartições públicas.

Neste dia foi realizada a visita orientada ao Palácio Iguaçú, a qual teve duração de

uma hora. Na parte de trás do Palácio tem o mapa do Paraná construído no chão

com as diferentes altitudes do relevo e a rede hidrográfica, os alunos caminharam

em cima do mapa e este foi mais um elemento que enriqueceu o trabalho de campo,

sendo que os comentários foram os seguintes:

Aluno 6: “Eu nunca tinha entrado aqui, as salas são muito grandes. Os móveis são

muito chic”. Referindo-se ao Palácio Iguaçú.

Aluno 7: “Os móveis são antigos, estilo Luiz XV”.

Aluno 8: “A gente podia ter mais dessas aulas”.

O relato do aluno 9 diz o seguinte: “Foi legal esta visita, mas eu cheguei

atrasado, tinha acabado de começar. Foi bacana, entramos na Capela onde o Papa

João Paulo II rezou a missa quando esteve em Curitiba. Vimos os quadros

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esculpidos na madeira entre outros. Tem uma escada bonita, mas o que mais gostei

foi do mapa do Paraná em feito de cimento nos fundos do Palácio Iguaçú. Tiramos

várias fotos daquele lugar. E para finalizar vimos a escultura na parece lá de fora do

palácio, bem interessante”.

No GTR (Grupo de Trabalho em Rede), os professores participantes

desenvolveram as Temáticas, fizeram a leitura do Projeto de Implementação na

Escola e da Produção Didático-pedagógica e suas contribuições se deram também

através dos relatos e da experiência de levar os alunos para o trabalho de campo.

Alguns relatos dizem o seguinte:

Professor 1: “Olá Milamar, seu projeto ficou muito bom. O movimento da sociedade

produz mudanças em diferentes níveis e diferentes tempos, quanto a economia, a

política, a migração, a demografia, a cultura e a paisagem geográfica, em relação

umas com as outras. Após a leitura do seu Projeto de Intervenção..., deparei com a

nossa realidade, mesmo sendo um município pequeno, nas últimas décadas tivemos

mudanças significativas quanto a demografia, migração, economia, política e a

paisagem geográfica. Sendo assim pretendo trabalhar com meus alunos conforme

você relata em seu Projeto”.

Professor 2: “O lugar possui também íntima relação com os aspectos culturais que

marcam cada sociedade. Os aspectos culturais dão identidade ao lugar; este lugar à

que me refiro é o trecho em estudo. Sendo que existe uma relação direta dos

indivíduos enquanto comunidade residente, com este lugar. É preciso preservar e

fortalecer a identidade local em vez de destruí-la”.

Professor 3: “Para compreender melhor o espaço em que estamos inseridos se faz

necessário percebê-lo. Esta percepção pode se dar através dos cinco sentidos

tradicionais como diz Tuan, onde ele se refere à visão como o sentido que

impulsiona os seres humanos a seguir no mundo. Vivenciá-lo também faz parte

deste caminho de descobertas. Os noticiários diários nos ajudam a entender parte

deste processo de transformação e, a cidade, é resultado de inúmeras

transformações ocorridas ao longo de décadas. Na maioria das vezes estas

transformações são tão rápidas que não conseguimos acompanhá-las. Imagino

estes alunos da EJA que vieram de outras áreas cujo processo de urbanização

ocorre num ritmo consideravelmente lento em relação à capital, tudo o que eles

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vivenciarem a partir de agora ou que já vivenciaram terão um valor significativo para

a compreensão daquilo que não fazia parte da realidade deles. Assim, as noções

espaciais de lugar, território, região, paisagem, etc., passarão a ser entendidas por

eles após a percepção da área em estudo, inclusive ter a compreensão da

diversidade cultural presente naquele meio. Quando o espaço passa a fazer parte da

vida das pessoas, seja ele em função das necessidades, representações,

satisfações ou em decorrência de outros fatores, este se torna mais significativo,

valorizado e defendido por eles. As pessoas, em sua maioria, gostam da cidade em

que vivem ou que escolheram para viver, transmitem aos outros a cultura, os locais

de lazer, visitação e outros atrativos. Este gostar faz parte daquilo que foi vivido,

percebido e, em seguida, concebido. E a cidade é um espaço propício para tudo

isso, pois apresenta uma gama de bens, serviços, aspectos culturais e sociais

capaz de permitir uma análise significativa do espaço em questão”.

Professor 4: “Ao se tratar de informações e conhecimento, as cidades já desde a

antiguidade vêm se demonstrando como centro das visões filosóficas, que, através

das quais se pode incursar e debater acerca da cultura humana. E quanto mais

crescem e se transformam em áreas ou regiões metropolitanas, mais agregam

especificidades aumentando o relacionamento social e econômico dos últimos

tempos. Toda a tecnologia usada em outros espaços, como rural, empresarial,

industrial, por exemplo, é pensado e organizado originariamente no espaço urbano”.

Professor 5: “Como já foi dito o trabalho de campo torna as aulas mais interessantes

e dinâmicas, uma vez que no ambiente urbano, temos um vasto material para

estudo e pesquisa, e de forma pedagógica podemos nos apropriar da análise da

paisagem de forma metodológica para explicarmos por exemplo as transformações

ocorridas no espaço geográfico, onde o homem através de seu trabalho interveio no

meio em que vive.

Gosto muito de trabalhar com aulas de campo, pois desta forma vejo a

possibilidade da construção do conhecimento como nos mostra Celso Vasconcelos,

onde os alunos não se limitam simplesmente a escutar mas sim a tocar e até a

intervir, de acordo com o trabalho a ser feito com os educandos. Desta forma, o

trabalho de campo nos mostra que temos uma grande possibilidade de ações na

escola respeitando a herança cultural de nossos alunos”.

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Professor 6: “O recurso aula de campo em Geografia é fundamental para a

compreensão do espaço geográfico por parte dos alunos, haja visto que na nossa

formação sempre que tínhamos aulas de campo aprendíamos mais. A minha

ressalva quanto a aulas de campo é com relação à responsabilidade do professor

com a segurança dos alunos. Confesso que tenho receio de sair com os alunos pois

atualmente são muitos os problemas que podem aparecer. Com alunos adultos

torna-se mais fácil já que eles são mais responsáveis, então imagino que sua saída

com os alunos será tranquila”.

Professor 7: “O estudo da Geografia, enquanto disciplina curricular nas escolas pode

vir a perder sua importância e significado se a grande maioria dos educandos tem

como principal recepção às informações a audição, vinculada ao ambiente

sistematizado das salas de aula que tem como únicos recursos didáticos: o quadro-

negro, o giz, os materiais de uso individual dos alunos (caderno, livro didático, lápis,

borracha, etc.) e a exposição oral do professor. Importantes estudos que pensam na

aula de campo e na ludicidade como enriquecedoras do processo de ensino

aprendizagem e em experiências colocadas em prática, fazem destes instrumentos

de trabalho importantes aliados. A aula de campo, quando acontece, muitas vezes é

secundarizada e desvalorizada se não efetivada com a devida exploração que a ela

se pode dar. O termo “passeio” é comumente utilizado nas escolas por alunos e

professores, quando se deslocam do ambiente escolar para visitar outro espaço que

não o habitual. Independente da faixa etária (educação fundamental, médio ou EJA)

que se pretende trabalhar em campo, um simples “passeio” também gera

aprendizado e pode enriquecer aquilo que se pretende ensinar, mas vincular a saída

do ambiente escolar à pré-requisitos que englobem desde o comportamento em

lugar distinto do comum, até mesmo a organização para a socialização do momento

da alimentação, além dos conteúdos que permearão a aula, podem revestir esse

momento de uma importante interação entre várias áreas do conhecimento que o

currículo escolar pressupõe e que muitas vezes se perde no âmbito escolar reduzido

às salas de aula. Milton Santos (1988, p. 62) escreve que "A paisagem não é

formada apenas de volumes, mas também de cores, movimentos, odores, sons, etc.

[...] e a percepção é sempre um processo seletivo de apreensão”. Se fizermos uso

de todos os nossos sentidos, poderemos perceber na paisagem (urbana ou não)

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com maior facilidade todo o processo de construção histórica da qual ela é

resultado, inserindo outra dimensão, a da experimentação, para além da visão.

Professor 8: “O trabalho sugerido é muito importante para a disciplina de geografia,

incluir o trabalho de campo como prática pedagógica e utilizar conceitos de

geografia da percepção como, espaço vivido e marcos visuais para a compreensão

desse espaço, dará um caráter mais humano e prático à disciplina”.

No retorno do trabalho de campo, em sala de aula, os alunos foram

motivados a trocar informações entre si, e de como eles perceberam o trecho em

estudo e sobre os lugares visitados. Posteriormente foi feito uma exposição na

escola, mostrando as fotos e os relatos dos alunos sobre o trabalho desenvolvido.

Considerações finais

O trabalho de campo antes de ser aplicado e/ou desenvolvido com nossos

alunos, deve ser planejado. O planejamento envolve as três etapas do trabalho de

campo: pré-campo, o campo e pós-campo.

No questionário diagnóstico aplicado cujos resultados são mostrados na

tabela 1 podemos notar que a maioria dos alunos não tinham caminhado ou

conheciam o trecho em estudo, que nenhum aluno tinha ido à antiga caixa d'água no

Alto da Rua XV e à Praça Portugal, e quanto aos lugares que eles gostariam de

conhecer houve um número maior para a antiga caixa d'água e o Estádio Major

Antônio Couto Pereira.

Não foi possível levar os alunos para subirem até o mirante da antiga caixa

d'água, pois a Sanepar à fechou para visitação. Segundo informações, ela será

reaberta posteriormente.

O trabalho de campo desenvolvido com os alunos da EJA teve uma

motivação maior, pois como eles não tem o hábito de conhecer e/ou visitar alguns

lugares de Curitiba, este trabalho oportunizou a eles uma nova experiência nas

aulas de Geografia, trazendo conhecimento, reflexões e discussões. E esse novo

conhecimento, sobre o trecho em estudo e consequentemente da organização

espacial da cidade, era até então despercebido em suas vivências. A partir deste

trabalho podemos pensar então, que os alunos terão outras atitudes em relação aos

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espaços de vivência e em relação a outros espaços que não fazem parte do seu

cotidiano. Atitudes que possibilitarão a percepção e a ampliação das suas

representações espaciais, as quais poderão ser pesquisas, as visitas a parques,

museus, ruas com casarões antigos e conhecer outros bairros.

REFERÊNCIAS

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