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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Por sua vez, o conto “Negrinha”, de Monteiro Lobato, cuja publicação data de 1920, aborda a questão dos maus-tratos sofridos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

A representação do negro na literatura brasileira: um diálogocom a Estética da Recepção.

Autora: Denise de Lourdes Gallo da Rocha ¹

Orientadora: Prof. Dra. Daniela Silva da Silva ²

Resumo: O presente artigo apresenta a conclusão do trabalho realizado no Programa deDesenvolvimento Educacional (PDE) da Secretaria de Educação do Estado do Paraná noperíodo de 2013/2014 e teve como tema o negro na literatura brasileira, cujo objetivo épromover uma reflexão sobre a literatura como um meio de pensar a questão da discriminaçãoracial no ambiente escolar. A implementação deste projeto na escola deu-se por meio da leiturae da análise do romance O mulato, de Aluísio de Azevedo, objeto de estudo deste projeto. Opoema “Navio negreiro”, de Castro Alves, o conto “Negrinha”, de Monteiro Lobato, e o filmeOrfeu, de Cacá Diegues foram utilizados como material de apoio às discussões sobre o tema.Optou-se por um trabalho com o método recepcional, de Aguiar e Bordini, fundamentado naestética da recepção- formulada por Yauss e Iser- contemplada nas Diretrizes Curriculares doEstado do Paraná, que apresenta normas para o ensino de Língua Portuguesa (2008), a qualconsidera fundamental no processo da leitura a figura do leitor. Pelo viés da teoria da estéticada recepção promoveu-se um estudo a partir dos conhecimentos prévios dos educandosacerca do tema, ampliando assim, seus horizontes de expectativas.id

Palavras -chave: Negro, Literatura, Estética da recepção, Mito.

1. INTRODUÇÂO:

O Brasil é um país no qual predomina a democracia racial, um país dito

não-racista. Contudo, o destaque dado ao negro enquanto personagem da

literatura brasileira reforça mitos e estereótipos. O trabalho realizado, numa

turma de primeiro ano do Ensino Médio, com base nos textos literários,

analisou o papel desempenhado pelo negro, a recepção do mito na literatura e

suas contribuições para a formação da identidade brasileira.

____________________________________________1. Professora PDE lotada no Colégio Estadual João Cavalli da Costa EFM-Palmital/PR

2. Professora Orientadora Dra. Daniela Silva da Silva, Professora do Departamento de

Letras da Universidade Estadual do Centro-Oeste – UNICENTRO. Guarapuava/PR.

A Lei 10.639/2003 de 10 de janeiro de 2003, em seu artigo 26-A altera a

Lei de Diretrizes e Bases da Educação e inclui no currículo oficial da rede de

ensino a obrigatoriedade do ensino da Cultura Afro-brasileira e africana na

Educação Básica, conforme os incisos 1º e 2º.

Tendo por base esta Lei e sua obrigatoriedade no contexto escolar, este

trabalho abordou o tema aplicado ao contexto de ensino de Língua Portuguesa.

Por meio da Estética da Recepção, estudou-se a presença do mito e a

contribuição do negro à cultura brasileira enquanto personagem da literatura,

promovendo uma reflexão sobre a perpetuação da discriminação na sociedade

e, principalmente, no ambiente escolar.

A dívida que a sociedade tem para com os negros é inegável, e a

implementação desta Lei visa à legitimação da questão racial, numa tentativa

de reparar séculos de danos causados aos africanos que foram arrancados de

sua terra e de sua cultura e escravizados num país estrangeiro. A abordagem

deste tema na escola implicou em investigar as causas e as consequências do

preconceito racial, contribuindo para que o aluno compreenda o processo

histórico que deu origem ao preconceito, ou seja, a escravidão, esse período

perverso da história do Brasil, em que o negro era tratado como mercadoria,

não como ser humano, e, a própria igreja legitimava a escravidão por acreditar

que o negro não tinha alma. O branco, por outro lado, era tido como ser

superior, tinha direito à escolarização e à ascensão social. Por isso é comum

que os alunos tragam em sua bagagem cultural esse preconceito tão arraigado

e que muitas vezes expressam no ambiente escolar, por meio de atitudes

discriminatórias.

Por essas razões analisou-se a recepção do mito da cultura negra pela

literatura brasileira, bem como o papel desempenhado pelo negro enquanto

personagem dessa literatura. Buscou-se ainda compreender a história e a

identidade do negro, como ele é visto e como consegue se afirmar enquanto

sujeito participante da história e da identidade nacional.

O negro é tratado com discriminação pela sociedade toda vez que se

fazem piadinhas envolvendo a cor da pele, ou comentários de mau-gosto do

tipo: “fulano é negro, mas, é competente”, como se competência tivesse

relação com a cor da pele. A literatura também registra situações de

discriminação como foi averiguado nas obras selecionadas. Da mesma forma,

tais situações de discriminação na escola são comuns, e, devem ser coibidas

para evitar que perpetuem. Para isso, o aluno precisa conhecer a trajetória do

negro e sua cultura.

O comportamento racista reflete a ideologia do meio no qual o aluno

está inserido e que vem passando de geração a geração. Neste sentido, o

trabalho desenvolvido promoveu leituras, reflexões e discussões, no intuito de

levar o aluno a valorizar e respeitar as diferenças. Sendo a escola um local de

produção do conhecimento é dever desta promover situações de diálogo a

respeito à diversidade cultural, contribuindo para a formação ética e moral do

indivíduo, propiciando o desenvolvimento de atitudes críticas e responsáveis.

2. PRESSUPOSTOS TEÓRICO METODOLÓGICOS:

2.1 O preconceito racial pelo viés da literatura

A definição de literatura geralmente associa-se à ideia de estética.

Portanto, pode-se dizer que um texto é literário quando produz no leitor um

efeito estético ou quando consegue provocar catarse. Segundo Braga,

É importante pontuar que o texto literário dialoga e poetiza a históriasocial, mas nunca a reproduz fielmente. Sendo assim, é precisopromover o ensino de Literatura focalizando-a enquanto produçãoestética, e não enquanto retratos históricos [...] (BRAGA, 2006, p.11)

O preconceito racial surge a partir da ideia equivocada de superioridade

de um determinado grupo sobre outro, em razão da cor da pele. A falta de

leitura crítica leva à aceitação desse mito, que passa a fazer parte do status

quo desse grupo, levando à difusão de valores morais, que são aceitos,

propagam-se e se sustentam. Desse pensamento preconceituoso surgem

atitudes violentas e discriminatórias que podem ocorrer de forma explícita ou

implícita, tanto no ambiente escolar quanto em outras esferas sociais.

O Brasil foi o último país independente do Ocidente a abolir a

escravidão, após muita relutância dos que por ela se beneficiavam, conforme

afirma David Brookshaw, (1983, p.24) no livro Raça & cor na cultura brasileira.

Contudo, a abolição não resolveu o problema dos negros, pelo contrário,

a partir daí outros problemas começaram. O negro, que até então tinha na

senzala abrigo e alimento, ainda que escasso, viu-se do dia para a noite, sem

abrigo, sem alimento, sem trabalho e sem perspectiva de qualidade de vida.

Não houve a preocupação em indenizá-lo ou criar vaga para ele nas escolas,

restou-lhe os trabalhos mais subalternos e mal remunerados, ou seja, viver

praticamente na miséria e, tendo, muitas vezes, que roubar para saciar a fome,

em uma sociedade preconceituosa que o considerava inferior e incapaz, e que

passou a considerá-lo também como vagabundo e ladrão.

Embora mais de um século já tenha transcorrido desde então, muitos

afro-descendentes ainda sofrem discriminação por parte daqueles que se

consideram superiores, tanto pela cor da pele quanto intelectualmente ou

moralmente, numa tentativa da raça branca de impor-se sobre a raça negra.

Os descendentes do europeu colonizador, que se consideram

intelectualmente superiores ao negro, esquecem que tiveram oportunidades de

crescimento intelectual que foram por muito tempo negadas aos

afrodescendentes. Tanto que, até nos dias atuais, o nível de escolaridade de

indivíduos que se declaram brancos é muito superior à dos que se declaram

negros ou pardos, e estes além de sofrerem a discriminação racial, também

sofrem a discriminação social, política e econômica.

A literatura, por seu turno, também tem se preocupado com essas

questões, embora esse conceito de inferioridade seja apregoado, pois, a

presença do negro na literatura brasileira surge quase sempre com

estereótipos negativos. Os personagens negros da literatura são geralmente

vistos como marginalizados, o que evidencia o ponto de vista da ideologia

dominante, visão estereotipada que vai se reforçando ao longo do tempo,

sendo representado de forma negativa durante o século XIX e inicio do século

XX.

Em 1881 Aluísio de Azevedo publica o romance O mulato, obra de

estudo deste projeto. O personagem que dá título ao romance é Raimundo.

Mesmo sendo “branqueado” e rico, pois é filho de um homem branco e herda

os bens do pai, continua sendo alvo de discriminação e humilhação, devido ao

fato de sua mãe ser uma escrava, com quem o pai se envolveu, para

escândalo da sociedade atual.

Conforme afirma Domício Proença (2004), ao analisar o romance de

Azevedo:

Raimundo faz uma severa auto-avaliação, na cena de suaquase renúncia, que só não se consuma por força do determinismobiológico e circunstancial que comanda os comportamentos noromance:

- Tens toda a razão... perdoa-me se fui grosseiro contigo! masque queres? Se soubesses, porém quanto custa ouvir cara-a-cara:"Não lhe dou minha filha porque o senhor é indigno dela, o senhor éfilho de uma escrava!" Se dissessem: "É porque é pobre!" que diabo!Eu trabalharia! Mas um ex-escravo, um filho de negra, um mulato!

– E como hei de apagar a minha história da lembrança de todaesta gente que me detesta?

As palavras do pai de Ana Rosa ecoam na memória deRaimundo, reafirmando sua situação de inferioridade perante a moça:

- Recusei-lhe a mão de minha filha, porque és... filho de umaescrava...És um homem de cor.. .Infelizmente esta é a verdade.(PROENÇA,2004,p.03)

Aos olhos da sociedade maranhense, aristocrática e escravocrata,

representante neste romance de toda a sociedade brasileira do século XIX,

Raimundo tinha o pior de todos os defeitos: era filho de uma escrava. Portanto,

mesmo que fosse um rapaz bonito, culto e filho de um imigrante português, e

que tivesse herdado uma respeitável fortuna, não era digno de casar-se com

Ana Rosa, moça branca, bonita e educada, de acordo com os rigores e

preceitos cristãos.

Para dialogar com o romance escolhido, foram analisadas também

outras obras da literatura brasileira, a saber: o poema “Navio Negreiro”, o conto

“Negrinha” e o filme “Orfeu”. O poema publicado em 1868, vinte anos antes da

abolição da escravatura, quando o tráfico já tinha sido proibido, reflete os

horrores vividos pelos negros durante o transporte da África até o Brasil. A

escravidão não poupa mulheres nem crianças. Vale ressaltar que o eu lírico do

poema é branco, ou seja, é um poeta branco, que em versos denunciava os

maus tratos sofridos pelos escravos durante a viagem. Neste poema ele clama,

por meio de seus versos, a Deus e à natureza para que afundem o navio,

pedindo o fim do sofrimento dos negros que são açoitados ao som de gritos,

gemidos e chicotes, num inferno, contrastante com a vida livre e heróica que

levavam em sua terra natal:

Dizei-me vós, Senhor Deus!Se é loucura... se é verdade,Tanto Horror perante os céus?!Ó mar por que não apagasCo'a esponja de tuas vagasDe teu manto este borrão?...Astros! noites! Tempestades!Rolai da imensidades!Varrei os mares tufão! ( ALVES, 1983, p. 76)

Optou-se por este fragmento da obra por ser justamente o que retrata a

saga dos negros durante o percurso, transportados como animais, amontoados

em porões e sujeitos a toda privação, bem como ao risco de contrair doenças e

morrer antes de chegar ao porto.

Por sua vez, o conto “Negrinha”, de Monteiro Lobato, cuja publicação

data de 1920, aborda a questão dos maus-tratos sofridos pela criança negra

por parte de sua patroa branca e cristã. Temente a Deus e zelosa de seus

deveres, a velha praticava toda sorte de crueldades contra a indefesa menina,

que era proibida de brincar para não fazer barulho e incomodar a patroa. Numa

passagem da narrativa em que ela se atreve a levantar-se de seu canto para

brincar com as crianças brancas, fascinada pela alegria delas, é brutalmente

chamada à realidade:

Mas a dura lição da desigualdade chicoteou-lhe a alma:- Já para o seu lugar, pestinha! Não se enxerga?Com lágrimas dolorosas, menos de dor física que de angústia moral -sofrimento novo que se vinha acrescer aos já conhecidos - a tristecriança encorujou-se no cantinho de sempre. ( LOBATO, 1994, p.25)

Ao contrário de Raimundo, homem feito, livre e rico, Negrinha, a

personagem de Monteiro Lobato, é uma pobre órfã, vítima indefesa dos maus

tratos de uma senhora cruel, que a pretexto de fazer caridade, acolhendo a

pobre menina em sua casa, usa-a para serviços domésticos e a espanca,

descarregando nela sua ira. Contudo, aos olhos dos parentes e conhecidos a

boa senhora passa por caridosa e dedicada.

Promovendo uma reflexão acerca do tema, buscou--se aprofundar

também a leitura e discussão sobre o preconceito e a discriminação no

ambiente escolar, criando espaço que permita ao educando reconhecer e

valorizar a cultura afro-brasileira, respeitando e valorizando o negro, enquanto

sujeito atuante de sua cultura e sua história.

No entanto, não é uma tarefa fácil, visto que, o preconceito racial é o

reflexo do ambiente em que vive o indivíduo preconceituoso. Segundo Nilma

Lino Gomes:

aprendemos na cultura e na sociedade a perceber as diferenças, acomparar, a classificar. Se as coisas ficassem só nesse plano, nãoteríamos complicadores . O problema é que, nesse mesmo contexto,aprendemos a hierarquizar as classificações sociais, raciais, degênero entre outras. Ou seja, também vamos aprendendo a tratar asdiferenças de forma desigual. (GOMES, 2005, p.62)

Portanto, quando o aluno age de forma discriminatória na escola está

apenas refletindo posturas predominantes no ambiente em que se insere. É no

contexto familiar, primeiramente, e depois no social que se formam os

conceitos, sejam eles positivos ou negativos, os quais se refletirão, via de

regra, no ambiente escolar.

Em relação ao mito, presente no filme Orfeu, encontra-se no dicionário

Aurélio a seguinte definição: “Mito é um fato histórico, ou personagem real,

exageradamente representado pela imaginação popular, algo lendário, coisa

inacreditável”. (AURÉLIO, 2004, p.896)

Segundo Valadares (2004), “Jung reconhecia os mitos como percepção

do simbólico que levaria o homem das trevas para a luz, como imagens

retiradas da consciência[...] marcos referenciais das raízes arquetípicas.”

Os povos gregos antigos utilizavam os mitos para explicar fatos da

realidade e fenômenos da natureza, as origens do mundo e do homem, que

não eram compreendidos por eles.

Conforme o Dicionário de Símbolos:

Os mitos utilizam de simbologia, personagens sobrenaturais, deuses eheróis. São misturados a fatos reais, características humanas epessoas que realmente existiram. Um dos objetivos do mito eratransmitir conhecimento e explicar fatos que a ciência ainda não havia

explicado, através de rituais em cerimônias, sacrifícios e orações.(CHEVALLIER & GHEERBRANT, 1999. p. 508)

Por meio desses símbolos pode-se pensar na formação da identidade e

cultura de um povo. Pode-se ainda entender o mito como um meio caminho

entre fé e razão, numa tentativa de explicar a origem do homem e do mundo. É

inegável na cultura brasileira a presença dos mitos da ancestralidade africana,

que embora tenham sofrido todo tipo de repressão perduram nos rituais

sagrados - praticados principalmente na Bahia - e também na capoeira, nas

rodas de samba, no carnaval e em outras festividades.

O filme Orfeu retrata, além da história de amor de Orfeu e Eurídice, a

saga do negro e sua luta para manter suas tradições, suas crenças e

divindades, cujo cenário é uma comunidade do Rio de Janeiro, com seus

conflitos e sua dura realidade.

Numa referência à mitologia grega, Orfeu desce ao inferno, no caso, ele

desce uma ribanceira, para resgatar o corpo de sua amada aí atirado pelo seu

antagonista, após matá-la com um tiro. Esta passagem é uma alusão ao Orfeu,

personagem da mitologia grega que era um artista completo, sendo músico,

poeta e possuindo habilidade com a Lira encantava até animais e plantas.

De acordo com o Dicionário de mitologia grega e romana:

Sua esposa Eurídice, ao ser perseguida por Aristeu, acaba sendomorta por uma picada de serpente. Orfeu parte numa incrível viagemao mundo dos mortos (Hades). Com seus talentos musicais,consegue convencer os deuses a levar Eurídice de volta para a vida,mas a condição é que ele não olhasse para trás até que os doistivessem saído da escuridão. Contudo, Orfeu se vira no momento quechega na luz, Eurídice ainda não havia cruzado a fronteira entre osmundos. Com esse ato, ele a perde para sempre. ( KURY, 2008.p.251)

Pierre Brunel, por sua vez, destaca:

A descida de Orfeu aos infernos para buscar Eurídice reforça aevolução do morto ou sua representação emblemática. [...] Volta-se aencontrar a estrutura do mito. É verdade que aí é o mito literário queredobra o mito propriamente dito. Se o mito de Orfeu traz algumconsolo, isso se deve à continuidade do canto que suplica pelapresença, ou pelo menos pela presença evocativa da bem-amada:“Eurídice, Eurídice”, clama por duas vezes Orfeu... ( BRUNEL, 1997.p.766)

O estudo e a reflexão referente ao mito da cultura africana é algo novo

para o público-alvo deste projeto, o que implicou numa ruptura e,

posteriormente, na ampliação de seus horizontes de expectativa, conforme

esclarecem Bordini e Aguiar:

O leitor desempenha um importante papel em relação à arte literária,em que ler é participar ativamente do texto, é contemplar a obra, poisa interpretação se concretiza no momento em que o leitor atribui umsentido àquilo que leu, o que lhe permite situar a obra de acordo como contexto em que se insere, mas, em perfeita consonância com avisão temática expressa, seja em qual época for. (AGUIAR eBORDINI, 1998, p. 53)

Optou-se por um trabalho com a estética da recepção porque esta

proporciona um olhar mais amplo sobre o texto e torna possível a determinação

do horizonte de expectativas da turma, a fim de prever estratégias de ruptura e

transformação deste horizonte.

2.2 Reflexão e discussão acerca da metodologia desenvolvida

A apresentação do projeto e do caderno didático para a direção e equipe

pedagógica da escola ocorreu durante a Semana Pedagógica, no início do ano

letivo. Foi realizada por meio de projeção de slides e discussões referentes ao

tema.

Na primeira semana de aula foi apresentado o projeto para a turma, com

explanação sobre o tema, objetivo do projeto e motivação para a realização

das atividades em sala de aula, bem como das atividades a serem realizadas

na página do Facebook, criada especificamente para este fim e apresentada

aos alunos neste momento. Na sequência, os alunos responderam ao

questionário de sondagem acerca dos seus conhecimentos sobre o tema em

estudo, cujas respostas foram arquivadas para comparação com as respostas

dadas ao mesmo questionário, no final da implementação. Com as atividades

descritas realizou-se a Determinação do Horizonte de Expectativas da turma,

pois, conforma Aguiar e Bordini,

As características desse horizonte podem ser constatadas peloexame dos conhecimentos e leituras anteriores dos alunos, através detécnicas variadas como: observação direta do comportamento,expressões em debates e discussões, respostas a entrevistas equestionários, ou outras manifestações quanto a sua experiência dasobras. (AGUIAR e BORDINI, 1993. p. 88)

Posteriormente, exibiu-se o vídeo “Negros”, com pausa para

questionamentos sobre o que eles imaginavam que aconteceria a seguir. Neste

ponto, as respostas foram quase unânimes, com exceção de dois alunos, um

menino e uma menina, os demais disseram que os jovens negros que corriam

em direção ao carro iam assaltar o motorista, um senhor branco. Os dois que

discordaram sugeriam que iam ajudar o motorista, empurrando o carro. Ao final

do vídeo ficaram surpresos, ninguém pensou na possibilidade de estarem

tentando salvar uma vida. E, concluíram que tinham sido preconceituosos: “É

galera a gente é racista mesmo, se os jovens fossem brancos e o motorista

negro a gente ia pensar diferente”.

Na aula seguinte, iniciamos com a apresentação do romance, principal

obra de estudo do projeto e leitura, no telão, do primeiro capítulo do livro, com

parada para discussões e entendimento de palavras diferentes, em virtude da

necessidade de contextualização da linguagem. Antes do inicio da leitura

houve breve explanação sobre o autor e a obra, bem como leitura do não-

verbal, analisando a capa do livro que estampa o jovem mulato de olhos azuis

e uma cena do Mercado de Escravos, como era, o que era comercializado, as

condições em que os negros ficavam expostos como se fossem mercadoria.

A leitura do primeiro capítulo do romance foi realizada de forma

sequenciada, cada parágrafo lido por um aluno, com breves pausas para

explicações de termos desconhecidos do português antigo e do latim, bem

como de alguns costumes da época, que causaram indignação na turma, como

o fato dos negros atravessarem a cidade com latas de dejetos na cabeça, para

serem jogados no mar.

Os alunos participaram ativamente da atividade, lendo, questionando e

demonstrando grande interesse, especialmente, pela questão do amor proibido

entre uma jovem branca e um rapaz negro.

Somente o primeiro capítulo foi lido em conjunto, na sequência os alunos

foram à biblioteca e emprestaram os livros para continuação da leitura, em

casa, sabendo que deveriam responder aos questionamentos sobre a obra na

página do Facebook. Embora haja entre os alunos certa resistência à leitura de

obras literárias mais densas, todos os alunos leram e comentaram, tanto em

sala quanto na página de estudos, a obra lida, uma vez que esta atividade tinha

caráter avaliativo.

A atividade posterior teve por base a leitura e explanação sobre “O que é

mito?” e “O mito de Orfeu”, bem como a motivação para trabalhar com o filme.

Esta etapa visou ao Atendimento ao Horizonte de Expectativas da turma e,

consistiu em proporcionar à classe experiências com gêneros textuais que

satisfaçam as suas necessidades, conforme orienta a teoria de Aguiar e

Bordini. Considerando o que propõem as autoras, foi selecionado para esta

etapa o filme Orfeu, gênero textual utilizado como material de apoio ao

aprofundamento do tema em estudo.

O professor precisa perceber os elementos temáticos ou estruturaisque atraem a atenção e o prazer dos alunos, buscando similares paraos mesmos nas obras literárias de que dispõe, podendo trazer para asala de aula: filmes, músicas, vídeo clipes e outros gêneros atrativos àturma e que abordem o tema estudado nos livros. ( Aguiar e Bordini,1993. p. 89)

Ao iniciar o trabalho de apresentação do filme, os alunos foram

questionados em relação ao mito do Orfeu grego e o que sabem sobre

mitologia, esta atividade teve como objetivo desenvolver a oralidade, não

havendo, portanto, necessidade de produção escrita dos alunos. Ao conceituar

mito e, como esse mito demonstra um pensamento universal enfatizou-se que

o filme em questão é uma versão criada para o cinema e que possui

intertextualidade com a mitologia grega.

Após a exibição do fragmento do filme - que mostra a descida de Orfeu

ao inferno para resgatar sua amada - e discussões acerca do tema, os alunos

responderam, em grupo, às questões de interpretação, houve socialização das

questões e ilustrações do filme.

Para esta etapa foram previstas atividades de Ruptura do Horizonte de

Expectativas, introduzindo textos e atividades que abalem as certezas e

costumes dos alunos, seja em termos de literatura ou de vivências culturais.

O importante é que os gêneros trabalhados nesta etapa apresentemmaiores exigências do aluno, quer seja por discutirem a realidade,quer seja por utilizarem técnicas compositivas mais complexas.( AGUIAR e BORDINI, 1993.p. 90)

Para que haja uma compreensão dos textos literários selecionados para

o desenvolvimento deste projeto, é mister que, primeiramente, o aluno saiba o

que é literatura. Assim sendo, foram apresentados diversos conceitos de

literatura, apresentados por diferentes autores, com o objetivo de levar o aluno

a compreender e formar seu próprio conceito, pois, de acordo com as Diretrizes

Curriculares para o ensino de Língua Portuguesa (2008) “a Literatura, como

produção humana, está intrinsecamente ligada à vida social e o entendimento

do que seja o produto literário está sujeito a modificações históricas”.

Ou seja, o entendimento que o aluno fará do texto literário não

dependerá apenas de sua constituição, mas das relações dialógicas com

outros textos e com o contexto de produção, a linguagem, a cultura, dentre

outros.

Após essa conceituação, discutiram-se os termos Discriminação e

Preconceito procedeu-se a leitura da Lei 10.639 e do Artigo 26 A da LDB que

inclui o Estudo da Cultura Afro-brasileira e Africana no currículo da Educação

Básica, bem como a criação de cotas para negros nas universidades,

enfatizando que não foi um benefício concedido gratuitamente pelo Governo

Federal, mas, sim o resultado de uma luta intensa do Movimento Negro no

Brasil.

Nas aulas seguintes, iniciou-se o trabalho com o poema Navio Negreiro,

atividade que envolveu leitura, discussão, ilustração, leitura dramatizada e

ensaios para posterior declamação. Recebemos a visita de uma jovem

convidada, que declamou para a turma o poema na íntegra, motivando-os a

ensaiarem, para declamação ao final da implementação do projeto.

A próxima etapa contemplou o Questionamento dos Horizontes de

Expectativa da turma. Com base no material literário já trabalhado, foi realizada

uma análise do tema abordado, identificando os níveis de dificuldades

encontrados, de descobertas realizadas e de níveis de satisfação atingidos.

Executada a análise comparativa das experiências de leitura, a turmadebaterá sobre seu próprio comportamento em relação aos textoslidos, detectando os desafios encontrados , processos de superaçãorelativos à composição ou sentido dos mesmos. Esta etapa implicaem retomada das leituras, questionamentos, discussões, anotações eproduções individuais ou coletivas realizadas nas etapas anteriores. (AGUIAR e BORDINI, 1993. p. 90-91)

O texto trabalhado na sequência foi o conto “Negrinha”, iniciando com

leitura silenciosa, questionamentos, leitura coletiva, comentários, discussão

dirigida e produção de texto referente ao tema e aos sentimentos que a leitura

despertou. Novamente, os alunos manifestaram repulsa ao comportamento

cruel da “Boa senhora” em relação à menina.

Na etapa de Ampliação do Horizonte de Expectativas, os alunos tomam

consciência das alterações, ocorridas em relação ao conhecimento que tinham

do tema abordado e da ampliação desse conhecimento, como resultado das

leituras, pesquisas e debates realizados.

Cotejando seu horizonte inicial de expectativas com os interessesatuais, verificam que suas exigências tornaram-se maiores, bemcomo sua capacidade de decifrar o que não é conhecido foiaumentada.[...] Com o aprimoramento da leitura, numa percepçãoestética e ideológica mais apurada, e com visão crítica, o aluno torna-se agente da própria aprendizagem...(AGUIAR e BORDINI, 1993. p.91)

Foi realizada, posteriormente, uma pesquisa on-line sobre

personalidades negras no Brasil e no mundo, posteriormente os alunos

produziram relatos e ilustrações para o mural. Realizaram-se, ainda, produções

de textos poéticos, informativos e dissertativos sobre o tema, reescrita e

correção dos mesmos para posterior exibição e publicação na página do

Facebook.

A seguir, houve a exibição do vídeo-clipe “Racismo é burrice” e biografia

do autor, com ênfase na crítica social que o mesmo sempre realiza em suas

canções. Após esta atividade os alunos responderam a uma atividade de

interpretação com questões objetivas sobre a letra da música, além de

produzirem um novo vídeo-clipe com a música e ilustrações para a confecção

do mural e dos móbiles a serem apresentados à comunidade escolar no

encerramento do projeto.

A confecção do mural e dos móbiles para decoração da sala, os ensaios

para declamação do poema e a organização do espaço para apresentação

final, foram atividades realizadas com grande entusiasmo pela turma, visto que

representavam o momento de apresentar à comunidade escolar o resultado do

trabalho. A apresentação durou cinco horas-aula em virtude do espaço limitado

e do grande número de pessoas a serem contempladas. Optou-se pela

apresentação na sala de aula, pois, em local fechado houve melhor

aproveitamento e acústica adequada para a declamação.

Conforme estava previsto, ao final da implementação, os alunos

responderam novamente ao mesmo questionário respondido no inicio das

atividades. Ao analisar as respostas percebem-se mudanças de conceitos e

opiniões referentes ao tema. A turma consegue ter um olhar mais crítico sobre

os fatos ao invés de simplesmente reproduzirem discursos que retratam o

senso comum.

Com os professores do Grupo de Trabalho em Rede (GTR) foram

socializados o Projeto de Intervenção Pedagógica e a Produção Didático-

pedagógica o que possibilitou a troca de experiência e discussões pertinentes,

bem como o estudo dos fundamentos teóricos e a reflexão sobre a relevância

da Produção Didático-Pedagógica para a realidade da escola pública, sendo o

GTR composto por 15 professores de Língua Portuguesa e outras disciplinas,

diferentes regiões do estado do Paraná, cujas experiências partilhadas e

sugestões de leituras e atividades vieram a somar e agregar conhecimentos

para o grupo.

Trabalhar a temática da cultura africana e afro-brasileira a partir da

literatura, de acordo com os participantes do GTR, é uma forma de levar o

educando a perceber e reelaborar os conceitos e pré-conceitos impostos a eles

pela sociedade. Ou seja, a literatura é uma importante aliada nesse estudo. A

Lei 10.639 de 2003, por sua vez abre espaço para esta discussão nas escolas

brasileiras. Ainda segundo eles, perceber representações negativas do negro

na literatura é condição indispensável para compreender que há

representações literárias positivas tanto dos afrodescendentes quanto das

culturas e conhecimentos por eles produzidos.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente projeto foi previsto para ser implementado numa turma de

Segundo Ano do Ensino Médio, conforme consta no Projeto, contudo, por uma

questão de organização da escola não foi possível. Sendo assim, feitas as

devidas adequações e com anuência da professora orientadora – cuja Carta de

Anuência foi encaminhada aos órgãos responsáveis em tempo hábil- foi

adaptado e implementado numa turma de primeiro ano do Ensino Médio,

composta por trinta e cinco alunos, sendo que, 90% são oriundos da zona rural

e a grande maioria não dispõe de computador e acesso à internet. Assim

sendo, as atividades de pesquisa on-line e postagem na página do Facebook

foram realizadas quase que exclusivamente na escola, ou em Telecentros e

Lan Houses.

As atividades previstas no Projeto foram todas realizadas a contento,

com exceção da produção de paródias sobre a música Racismo é burrice. Em

substituição à paródia os alunos optaram pela realização de um vídeo-clipe

como novas imagens sobre a música. Outra atividade não prevista foi realizada

a pedido da turma, a encenação do fragmento do filme Orfeu em que ele, após

resgatar o corpo da amada, entra na comunidade com ela nos braços e é morto

por Mira, sua ex-namorada. A encenação foi registrada em vídeo e exibida para

a comunidade escolar.

Ao promover a leitura e a discussão acerca do papel do negro em nossa

literatura, enquanto personagem da história do Brasil, seus mitos, suas crenças

e sua contribuição para a formação da sociedade e da cultura brasileira, tendo

por base a diversidade de gêneros textuais elencados percebeu-se que, os

alunos expressaram sua indignação diante dos textos lidos, saindo assim do

seu horizonte de expectativas em relação aos textos, ampliando sua

capacidade de expressar-se por meio da oralidade e da escrita.

No decorrer da implementação do projeto os alunos trouxeram à

discussão casos de racismo ocorridos recentemente no país, e que

repercutiram na mídia. Foram incluídos fatos e noticias ao tema como o caso

de discriminação racial sofrido pelos jogadores de futebol Daniel Alves e

Arouca. Embora não estivessem previstas, essas discussões foram pertinentes

e contribuíram para enriquecer os conhecimentos dos alunos.

A implementação destas atividades foi realizada por unidades. Cada

unidade contemplou uma das etapas da Estética da Recepção e necessitou de

aproximadamente seis aulas, com exceção da primeira e da última unidade que

demandaram uma aula a mais cada, totalizando assim as trinta e duas aulas

previstas. Vale ressaltar que os alunos realizaram atividades em casa, como a

leitura do romance. Os ensaios para encenação e declamação, por sua vez,

foram realizadas na escola, em contra-turno.

Ao final das apresentações realizadas em diversas seções, para atender

ao grande número de expectadores, os alunos foram muito elogiados pelos

colegas, professores e direção do colégio e ao realizarem a auto-avaliação

declararam estar satisfeitos e orgulhosos dos resultados, pois, não se

imaginavam capazes alcançá-los. Portanto, foi uma atividade muito proveitosa

e que contribuiu para elevar a auto-estima da turma e melhorar o rendimento

dos alunos, inclusive em outras disciplinas, conforme afirmação dos

professores.

Questionados ao final do projeto sobre os conhecimentos adquiridos e o

que pretendem fazer ele, os alunos afirmaram que participar deste projeto

agregou conhecimentos e que pretendem transmiti-los aos familiares e amigos

e, repensar atitudes como piadas e comentários racistas.

Portanto, a implementação do projeto, bem como a realização do Grupo

de Trabalho em Rede( GTR), permitiu um estudo acerca da questão do negro

na literatura brasileira e possibilitou discussões e reflexões sobre a questão da

discriminação. Tal trabalho suscitou nos alunos e professores participantes do

GTR um novo olhar sobre a temática, bem como o despertar do senso crítico

dos participantes.

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