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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Seguindo a orientação de Gasparin ... professoras das disciplinas de Artes e Geografia aliaram-se ao projeto no auxílio e

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

CARTAS NA ESCOLA:um resgate que revive a emoção de ler e

escrever cartas.

Angela Dondoni1

Prof.ªDra Maria Elena Pires Santos2

“A carta é uma expressão cultural que não pode ser substituída pelas tecnologias, ela traz uma

essência pura e verdadeira da dedicação e do sentimento de quem escreve. Carta é um registro, uma

recordação”.

(Oraide, ScarlatAssunção).

Resumo

O presente artigo tem como finalidade apresentar uma análise dos resultados da aplicação do projetode intervenção pedagógica intitulado: Leitura e análise do gênero carta e suas variações, e aplicadono 3°ano A do Ensino Médio do Colégio Estadual do Campo Alberto Santos Dumont,vinculado aoPrograma de Desenvolvimento Educacional (PDE). O objetivo do projeto foi desenvolver atividadesde leitura,análise, escrita e refacção de cartas, com a finalidade de ampliar a apropriação deconhecimentos sobre as especificidades desse gênero. A metodologia utilizada teve como ancoragema proposta do Plano de Trabalho Docente de Gasparin (2003). Nas atividades desenvolvidas sobre ogênero, além do foco na leitura foram observados o contexto de produção e o propósito comunicativo,por meio da análise linguística, produção textual e refacção. É importante ressaltar ainda que oprojeto teveenfoque interdisciplinar,mobilizando e envolvendo toda a escola em atividades de leitura eescrita do gênero proposto.

Palavras Chave: Leitura. Gêneros. Discursivos. Prática. Social.

Introdução

Esse artigo propõe-se a apresentar a aplicação do projeto de intervenção

pedagógica que faz parte do programa de formação continuada do Estado do

Paraná, Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), que teve como objetivo

o ensino do gênero discursivo carta, com ênfase na leitura, considerando-se a

importância desseprocessono contexto escolar, tendo em vista que, a leitura, é um

processo interdisciplinar, pois implica em que todos os professores das diferentes

áreasa tomem principalmente, como conteúdo de suas disciplinas.

1Aluna PDE, professora da rede Estadual de ensino, habilitação em língua portuguesa.

2Professora Orientadora PDE- docente da UNIOESTE.

O projeto teve como justificativa a necessidade de formarmos leitores críticos

na escola pública, sendo imprescindível um trabalho que satisfaça as

necessidadessociais, de saber ler e escrever com competência, pois a sociedade

atual exige do indivíduo muito além da decodificação de palavras.

É função da escola proporcionar meios para uma aprendizagem voltada para

as reais necessidades de seus alunos e, para isso, devemos nos questionar sobre

quais conteúdos são relevantes para o aluno da escola pública. A leitura é, sem

dúvida, um conteúdo que deve ser priorizado, tornando-se a formação de leitores,

um projeto comum a todos. Para Kleimam (2007, p.23) “[...] o ensino e a prática da

leitura, atividade constitutiva da aprendizagem, deve fazer parte de todas as

atividades, e que todo professor é em ultima instância, professor de leitura”.

Formar leitores na sociedade em que vivemos pode ser uma empreitada

difícil,e se o professor de língua estiver solitário, essa prática pode ser ainda mais

penosa. Porém, se todos os educadores tomarem-na como opção em seu trabalho

estará mais próximode alcançarmos o que pretendemos, ou seja, formar leitores na

escola com a finalidade de que está se torne uma prática social também fora da

escola.

Tomando como foco o papel dos professores de todas as áreas do

conhecimento como sendo em primeiro lugar, professores de leitura e escrita,

oprincipal objetivo do projeto aqui apresentado foi promover a leitura e também,

aescritado gênero carta.

A relevância do projeto se justifica pela contribuição de um trabalho com os

gêneros discursivos, pois estes são entidades pelas quais nós falamos, escrevemos

nos comunicamos e interagimos estando presentes na sociedade, como produtos da

interação e práticas sociais humanas. Como afirma Marcuschi (2002,p.29),a partir

das leituras que faz de Bronckart (1999) “[...] a apropriação dos gêneros é um

mecanismo fundamental de socialização, de inserção prática das atividades

comunicativas humanas”.

Os gêneros discursivos são construídos socialmente e caracterizam-se por

sua plasticidade, mas também, se percebe nestes certa regularidade. Assim, o

domínio desses mecanismos sociais que perpassam pelo domínio e utilização da

leitura e escrita tornam-se essenciais para a vida em sociedade. Vale a pena lembrar

o que sugerem as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná a respeito,

“O aprimoramento e a competência linguística do aluno acontecerá commaior propriedade se lhe for dado conhecer nas práticas de leitura, escrita eoralidade o caráter dinâmico dos gêneros discursivos” [...] “O trabalho comos gêneros, portanto deverá levar em conta que a língua é um instrumentode poder e que o acesso ao poder, ou sua critica, é legitimo e é direito paratodos os cidadãos.” (PARANÁ, 2008, p.53).

Levando em consideração o caráter dinâmico dos gêneros, o projeto aqui

apresentado seguiu uma orientaçãointerdisciplinar, como já mencionado,

considerando-se que, a leitura deveria ser conteúdo obrigatório de todas as

disciplinas. Para isso, acreditamos que propostas e planos de trabalho docentes

devem ser construídos coletivamente e envolvendo outras áreas do conhecimento,

tornando-se importante que deixemos pra trás antigas práticas como a fragmentação

dos conteúdos. Pensemos então que, na perspectiva interdisciplinar, pode-se optar

por um ensino mais eficaz também de língua materna.

Para reforçar esta discussão, podemos citar o que propõe Kleiman (2007,

p.30), no sentido de que “a leitura poderia ser caracterizada como uma atividade de

integração de conhecimentos contra a fragmentação”. A autora complementa que,

“devido à abertura que o texto proporciona ao leitor para relacionar o assunto que

está lendo a outros assuntos que já conhece, ela favorece, no plano individual, a

articulação de diversos saberes”(KLEIMAN,2007, p.30).

Quando se trata de interdisciplinaridade, ao se propor a não fragmentação

docurrículo é interessante pensar a leitura como atividade ou prática que “costura”,

amarra todas as áreas do conhecimento. Talvez seja laborioso desgarrar-se de uma

herança que há séculos está arraigada na sociedade e em consequência na

escola.Porém é papel da escola pública e educadores oferecer ao aluno uma

formação mais integral que satisfaça suas necessidades individuais e sociais, pois,

“quem propõe os conteúdos, portanto é a própria sociedade. Cabe aosprofessores, nesse caso, ler as necessidades sociais e, de acordo com elas,selecionar os conteúdos historicamente produzidos que maisadequadamente satisfaçam às exigências do grupo” (GASPARIN,2003,apudLUNARDELLI,2012, p.66).

Dessa forma, conteúdos trabalhados desconectados das demais áreas do

conhecimento já não alcançam um ensino aprendizagem esperado. Pensando nisso

é que se justifica um projeto de ensino voltado leitura, à interdisciplinaridade e aos

gêneros discursivos, com atividades de linguagem que correspondam a situações

cotidianas reais de interlocução.

Considerando o exposto, a aplicação do projeto iniciou-se com a construção de

uma produção didático pedagógica, material desenvolvido para a aplicação do

projeto em sala, que neste caso em particular se desenvolveuem forma de um Plano

Trabalho Docente, na perspectiva de Gasparin (2012), como a seguir.

1. Prática social inicial: de acordo com Gasparin seria o momento de

preparação para a construção do conhecimento escolar, o primeiro contato

do aluno com o tema que será trabalhado, verificando também o

conhecimento que o aluno tem sobre o assunto.

2. Problematização: é a segunda etapa do plano de trabalho, momento da

passagem entre a prática social inicial e as necessidades dos alunos

questionando a realidade e a importância do conteúdo. Nessa etapa

podem-se mostrar as múltiplas facetas do conteúdo, como: dimensão

histórica, cultural, social, política, etc.

3. Instrumentalização: é o momento de sistematização do conteúdo, quando o

conteúdo é colocado para que o aluno assimile-o e consiga torná-lo

instrumento.

4. Catarse: após apropriar-se do conteúdo o aluno apropria-se de uma nova

visão sobre a realidade. O aluno consegue demonstrar na prática aquilo que

apreendeu aquilo que assimilou, e transformou, apropriando-se do

conhecimento.

5. A última etapa do PTD é denominada Prática Social final, que é um

recomeço, um novo ponto de partida e busca por novas descobertas, por

outros conhecimentos, quando aparecem novas questões. É uma nova

maneira de agir e interferir sobre a realidade a partir do conhecimento novo.

Com essa organização dos conteúdos, busca-se um ensino mais eficaz, uma

aprendizagem construída levando em conta, como já salientamos as necessidades

sociais dos alunos, a partir de uma prática social inicial como também propõe

Kleiman (2006).

APONTAMENTOS E RESULTADOS OBSERVADOS DURANTE O PROCESSO DE

APLICAÇÃO

Seguindo a orientação de Gasparin (2012), o ponto de partida do projeto de

intervenção pedagógica, ou seja, a prática social inicial foi uma conversa com os

alunos sobre o tema do projeto (cartas) em seguida estes responderam a algumas

questões para que fosse diagnosticado o conhecimento prévio dos alunos em

relação ao tema,somado a isso, foi realizada uma pesquisa por meio de entrevistas

a serem feitas com a família pelos próprios alunos referentes aos hábitos de

recebimento e de escritas de cartas nas famílias.

Com o resultado da pesquisa, percebemos que algumas dessas famílias

entrevistadas possuem o hábito da escrita, envio e recebimento de cartas.

Descobrimos ainda, que o gênero era conhecido e utilizado como prática cotidiana

em algumas famílias. Independente da idade, tanto os pais como os adolescentes

dessas famílias, escrevem e recebem cartas pelo correio. Isso causa surpresa, se

pensarmos que vivemos em uma época de tecnologias as quais, esses mesmos

jovens e seus paistêm acesso, como email, via internet por exemplo. A pesquisa foi

socializada em sala e os alunos leram os resultados das entrevistas e explicaram o

que os pais e/ou demais familiares responderam.

Destacamos o resultado de uma das questões respondidas por uma das

mãese irmã de um dos alunos, que nos chamou a atenção e que está colocada

como epígrafe, no início do trabalho:“A carta é uma expressão cultural que não pode

ser substituída pelas tecnologias, ela traz uma essência pura e verdadeira da

dedicação e do sentimento de quem escreve. Carta é um registro, uma recordação”.

Percebemos que em algumas famílias a prática do uso de cartas é comum,

comocarta pessoal, de reclamação, de felicitações entre outras.Nesse caso é

interessante lembrar o que afirma Kleiman (2007) em relação aos textos que

circulam no lar e na escola, estes de acordo com a autora, são fundamentais para a

progressão curricular.

Assim um projeto de letramento se constitui como um conjunto de atividadesque se origina de um interesse real na vida dos alunos e cuja realizaçãoenvolve o uso da escrita, isto é a leitura de textos que, circulam nasociedade e a produção de textos que serão realmente lidos. (Kleiman,2007 apud Kleiman, 2000 p.16).

As cartas são exemplos de gêneros que circulam socialmente, pois, estas se

originam de necessidades reais e estão presentes no contexto familiar

envolvendoum interlocutor real, presente, como ficou constatado durante a

realização do projeto. É importante ressaltarmos que os gêneros utilizados pelas

famílias dos alunos são atrativos para eles, podendo ser utilizados como ponto de

partida para novos conhecimentos.

Destaco então, que desde a apresentação do projeto, houve um grande

engajamento por parte dos alunos para o desenvolvimento do mesmo.

É relevante ainda, comentar que durante toda a aplicação do projeto houve a

presença do dialogo entre os alunos, professora da turma e demais professores,

direção, equipe pedagógica e agentes educacionais, expandindo-se para além da

escola, com a participação de pais e familiares dos alunos, desde a prática social

inicial até a última etapa, sendo que a voz do aluno e da família esteve sempre

presente através da participação, com sugestões, observações e contribuições que

enriqueceram o projeto.

É importante destacar também que, na fase da instrumentalização, as

professoras das disciplinas de Artes e Geografia aliaram-se ao projeto no auxílio e

criação do correio da escola (Correio Colégio Estadual Alberto Santos Dumont-

CEASD). A ideia foi envolver toda a escola no projeto, levando uma extensão deste

também para além da sala de aula. A proposta do correio atendia à prática da leitura

e escrita em situações reais do uso da linguagem, motivando a interação entre

todos.

O trabalho de instrumentalização em sala de aula iniciou-se com a “carta

pessoal”, O primeiro exemplo do gênero carta a ser lido foi umacarta de amor escrita

por Olavo Bilac a sua noiva, que impressionou os alunos. Em seguida, foram

realizadasinúmeras leituras de cartas pessoais trazidas pelos alunos e com leituras

autorizadas, de épocas e pessoas diferentes. Observamos nas cartas as

características do gênero tais como: tema, forma composicional e estilo, conforme

propõe Bakhtin(1992) o que aguçou o gosto da turma pela leitura de cartas. Ao final

de todas as leituras e atividades com carta pessoal, foi sugerido os alunos que

produzissem suas próprias cartas para o correio.

Abaixo, apresentamos a foto da primeira caixa de correio da escola (foto 1): a

foto de organização das cartas para serem distribuídas aos destinatários (foto 2): a

ampliação do espaço para as cartas produzidas (foto 3) e uma foto das cartas (foto

4). As caixas de correio foram confeccionadas pelos professores de Artes, Geografia

e alunos.

1- Foto - Correio da Escola

Fonte: acervo pessoal

Osprofessores durante as aulas divulgaram o correio na escola e como ele

iria funcionar. Durante toda a semana eram produzidas cartas por todos os

segmentos da escola, as quais eram depositadas na caixa de correio destinada a

elas.

Os responsáveis pela organização, separação (as cartas eram selecionadas

por turnos, turmas e séries) e entrega das cartas eram os alunos do 3° ano A

auxiliados pela a professora de geografia. Nesses momentos percebia-se que os

alunos realizavam essa atividade com muito entusiasmo e curiosidade.

02- FOTO – Alunos de 3º A selecionando e organizando as cartas

Fonte: acervo pessoal

O material era organizado da seguinte forma: primeiro as cartas eram

separadas por turno (matutino, vespertino e noturno), depois por série e turma.

As cartas eram entregues no mesmo dia da seleção aos seus destinatários.

As cartas eram entregues uma vez por semana, (terças-feiras). Em algumas

situações foram necessárias duas entregas (terças e quintas) devido ao volume de

cartas. Com o tempo houve a necessidade da caixa do correio ser substituída por

uma mais espaçosa.

03 - FOTO - Ampliação do espaço para as cartas produzidas

Fonte: acervo pessoal

Além do grande número, de cartas, estas também chamavam a atenção por

algumas particularidades que eram observadas durante a seleção: os envelopes

eram confeccionados pelos próprios alunos que através das cores, desenhos,

recortes, colagens e dobraduras tornavam cada uma delas única e original.

04 - FOTO - Cartas escritas pelos alunos

Fonte: acervo pessoal

Essa atividade aconteceu durante toda a execução do projeto, que foi de

fevereiro de 2014 a maio do mesmo ano. O correio da escola continua sendo

mantido até o presente momento desse registro, apesar de o projeto vinculado ao

PDE, já haver sido finalizado.

Na fase da instrumentalização também, ocorreram muitas leituras de “cartas,

do leitor” e “cartas eletrônicas (e-mails)”, com observações pontuais e aprofundadas

sobre a plasticidade do gênero e suas regularidades em cada uma das variações,

tais como: tema, forma composicional e estilo, percebendo que “[...] os gêneros não

são instrumentos estanques e enrijecedores da ação criativa. Caracterizam-se como

eventos textuais altamente maleáveis, dinâmicos e plásticos.” (MARCUSCHI, 2002,

p. 19).

A intenção dessas atividades foi para que o aluno percebesse os gêneros

como “[...] ações sócio discursivas para agir sobre o mundo e dizer o mundo [...]”

(MARCUSCHI, 2002, p. 22).

Acrescentando-se a essas práticas, ainda na instrumentalização, trabalhou-se

análise linguística da Carta do Leitor, da revista Carta Capital, n°771, da sessão

Cartas Capitais da reportagem intitulada: Victório e a saúde pública no Brasil. Foram

analisados, nesta carta, além do contexto de produção, circulação e

recepção,verbos e adjetivos utilizados pelo autor da carta e seus efeitos de sentido

no contexto desta.

A contribuição da análise linguística (AL) para ampliar a visão crítica sobre o

texto lido é de suma importância, conforme compreendida por Mendonça (2009):

“[...] pode-se dizer que a AL é parte das práticas e letramento escolar,constituindo uma reflexão explícita e sistemática sobre a constituição e ofunciona mento da linguagem nas dimensões sistêmicas (ou gramatical),textual, discursiva e também normativa, com o objetivo de contribuir para odesenvolvimento de habilidades de leitura/escuta, de produção de textosorais e escritos e de análise e sistematização dos fenômenos linguísticos”(MENDONÇA,2009, p.208).

Ainda segundo a autora, a análise linguística pressupõe “o fato de que a

aquisição da linguagem se dá a partir da produção de sentidos em contextos de

interação específicos e não da palavra isolada” (MENDONÇA, 2006, p. 205).

Tendo em vista, essa perspectiva ressaltamos a importância da análise

linguística para a construção de sentidos pela interação entre autor/leitor, mediada

pelo texto.

Argumentando na mesma direção, Antunes(2010, p.59) afirma que “o apelo

maior deve ser orientado para a descoberta e a compreensão dos sentidos, das

intenções e da função com que as coisas são ditas. O fundamental, portanto, é

perceber a função pretendida para cada uso, para cada escolha” (ANTUNES, 2010,

p. 59). Sendo assim, a análise linguística contribui para que a leitura se torne mais

eficaz, pois ela auxilia na construção de sentido daquilo que está sendo lido.

Dando prosseguimento à exposição das atividades desenvolvidas no projeto,

após a sistematização do gênero carta, no período denominado por Gasparin(2012)

de catarse percebemos os alunos com uma maior disposição para a escrita, pois

notamos também que a turma em geral buscava e sugeria novas leituras,propondo

que se lesse em sala cartas trazidas por eles ou leitura de livros de literatura infanto-

juvenil do tema proposto, para serem feitas durante as aulas. Durante todo o projeto,

os alunos traziam para a sala livros e recortes de revistas que encontravam e que

tratavam do tema que estava sendo trabalhado, demonstrando que, em razão do

interesse despertado, eles também estavam pesquisando além do que estava sendo

trabalhado em sala.

Na última fase da aplicação do projeto, denominada por Gasparin (2012)de

prática social final, os alunos em duplas realizarampesquisasna internet, por

sugestão deles próprios, aprofundando seus conhecimentos sobre o tema carta, o

que evidencia o interesse despertado para a busca de novas descobertas. Através

da pesquisa, descobriram e conheceram outras variações desse gênero utilizadas

socialmente. A pesquisa sobre o gênero carta abriu margem para novos

questionamentos sobre o tema estudado, tornando-se a prática socialfinal, um

recomeço para novas investigações, o que muito contribuiu para ampliar o

conhecimento dos alunos e também da professora. Após a pesquisa, cada dupla

socializou o resultado de suas investigações com a turma, apresentando novas

variações do gênero carta, como por exemplo,carta aberta, carta de recomendação,

carta de reclamação, entre outras que sãoutilizadas na sociedade atual.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do projeto aqui apresentado foi desenvolver atividades que

instigassem a leitura e produção escrita na escola, procurando a apropriação das

especificidades do gênero carta e também envolver professores de outras disciplinas

a abraçar a leitura como conteúdo de suas próprias disciplinas. Por esse motivo,

durante a aplicação do projeto foi feita a opção por um ensino de língua materna que

necessita ser trabalhado na escola pública, mostrando que a línguaé uma

ferramenta ou forma para o aluno agir socialmente e através dela, buscar seus

direitos e contribuir para a sociedade em que vive. Como sugere Rojo (2012, p. 182):

“É indispensável um ensino de língua Portuguesa que desenvolva umprocesso de leitura/escrita em que o aprendiz se coloque como leitor críticoe autônomo, um processo cujas atividades ultrapassem uma prática demera decodificação verbal, para privilegiarem a compreensão de textossegundo caráter responsivo da linguagem e do discurso.”

Saber ler criticamente e com autonomia é uma necessidade do educando e

da sociedade de seu tempotanto em todas as disciplinas do contexto escolar, como

em outros contextos, tão diversificados de aprendizagem não formal.

Por isso, todas asatividades planejadas em conjunto e de forma

interdisciplinar, permitiram um trabalho com leitura e escrita de forma

contextualizada e ainda, levaram os alunos a perceberem que a linguagem é prática

social e por meio dela eles podem entender e influenciar o meio social onde vivem,

podem posicionar-se diante de questões diversificadas,sabendoargumentar e se

fazer entender como aconteceu durante o projeto nas atividades de leitura e escrita

das cartas.

Outro fator importante foi associar o trabalho com a leituraaos gêneros do

discurso. Eles foram objeto de estudo nas atividades com a língua afinal, aparecem

de acordo com as necessidades e atividades humanas dentro de um

contextocultural, histórico e social um exemplo disso, é que com o surgimento das

tecnologias, houve o aparecimento de inúmeros gêneros.

Assim, a escolha do trabalho com a leitura edogênero carta, possibilitou aos

educandos a leitura, análise e produção escrita dentro de um contexto real e com

textos que circulam socialmente. Mostrar a diversidade de gêneros, priorizando a

leitura e trabalhando de forma interdisciplinar foi fundamental no trabalho com a

linguagem porque, mais importante do que o aluno identificar as características

dogênero é saber ler com autonomia e saber utilizar adequadamente, para fins de

ação social, pois afinal, “[...] trabalhar a leitura promovendo a formação de leitores

na escola pública é ensinar novas culturas, dar oportunidade aos alunos de

conhecer novas maneiras e diferentes modos de se expressar, opinar, narrar, sentir

e entender o mundo” (DONDONI, 2013, p. 6).

Quando um aluno recebia uma carta, logo sentia o desejo de abrir o envelope

para ler e na maioria das vezes responde-la. O correio da escola trouxe motivação

para as produções escritas dos alunos e não só deles, mas de todos os envolvidos.

O engajamento e a participação dos alunos, pais, direção, equipe pedagógica,

professores de diferentes áreas do conhecimento,foi essencial para a realização, de

um projeto coletivo, diferenciando-se das práticas isoladas e solitárias que

geralmente acontecem no contexto escolar.

Para concluir, é fundamental deixar claro que o projeto aqui apresentado, não

está sendo considerado como um ponto final, pelo contrário, abre margem para

outros enfoques, podendo ser utilizado para dar continuidade a outras pesquisas ou

outras aplicações.

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