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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
O GOLF-7 NO PROCESSO DE APRENDIZADO DOS ALUNOS EM SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAL TIPO I: POSSÍVEIS EFEITOS
Renato Vieira Junior1 Valéria Lüders 2
RESUMO: Este artigo apresenta o relato de intervenção pedagógica implementado no Colégio Estadual Otalípio Pereira de Andrade, em Campo Largo/PR, para investigar teórica e metodologicamente, a ferramenta pedagógica golf-7. O objetivo da atividade desenvolvida foi proporcionar aos alunos com deficiência intelectual que frequentam a sala de recursos multifuncional do tipo I, a utilização do golf-7 no processo de ensino e aprendizagem, para o desenvolvimento das habilidades motoras, a melhora em dificuldades de relacionamento e melhoria dos fatores psicológicos, comportamentais e de personalidade, culminando com a melhora no aprendizado destes alunos incluídos no ensino comum. Essa intervenção pedagógica contribuiu para que outros professores possam utilizar esta ferramenta pedagógica em futuros planejamentos.
PALAVRAS-CHAVE: Ferramenta Pedagógica. Golf-7. Deficiência Intelectual. Aprendizagem.
INTRODUÇÃO Este artigo é resultado de estudo realizado no Programa de Desenvolvimento
Educacional - PDE, relacionado ao Golf-7, uma atividade lúdica que contribui no
desenvolvimento das habilidades globais para alunos com deficiência, buscando
concentração, paciência, calma e que reconheçam as partes do seu corpo, além de
ser um ótimo instrumento de socialização.
Há três, anos o autor desse artigo desenvolve atividades envolvendo o Golf-7
no estado do Paraná, em cursos de formação de professores que trabalham em
escolas de educação especial e também em atividades com alunos nos jogos
escolares, atuando na organização e arbitragem. Com a participação no PDE, surgiu
1 Professor PDE, Especialista em Educação Especial com Ênfase em Deficiências. 2 Professora Orientadora, Doutora em Educação (UNICAMP), Graduação em Psicologia (PUC-Campinas), Graduação em Pedagogia (UNICAMP), Professora da Universidade Federal do Paraná, Setor de Educação, Departamento de Teoria e Fundamentos da Educação, na área de Psicologia de Educação.
a oportunidade de investigar mais profundamente tanto do ponto de vista teórico
quanto metodológico, a atividade citada.
A educação especial é uma modalidade de ensino que deve ser oferecida
preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com necessidades
especiais (BRASIL, 1996) e faz parte de todos os níveis da educação na escola.
Todos os alunos estudando na mesma escola e em salas comuns de ensino é a
determinação da Política Nacional de Educação Especial inclusiva (BRASIL, 2008),
incluindo os alunos com qualquer deficiência nestas salas.
Para esses alunos, existem serviços de apoio por meio das Salas de
Recursos Multifuncionais-tipo I, as quais se integram ao estudo comum desde 1988,
como serviços de apoio complementar à escolarização no contexto da escola
regular. Sendo um atendimento educacional especializado de natureza pedagógica,
essas salas servem para complementar a escolarização de alunos que apresentam
deficiência intelectual ou transtornos e que estão matriculados no ensino
fundamental e médio. Essas salas devem trabalhar de maneira diferenciada em
comparação com as classes de ensino comum. Não devem ser confundidas com
reforço escolar, mas sim propiciar condições para o desenvolvimento de habilidades
cognitivas básicas indispensáveis à aprendizagem dos conteúdos disciplinares
trabalhados na escola, bem como de habilidades práticas, sociais e conceituais.
Os conteúdos escolares defasados devem ser trabalhados com estratégias e
metodologias diferenciadas, auxiliando o aluno a aprender o que é necessário para
ultrapassar as barreiras impostas pela deficiência. A ação pedagógica deve ser
diversificada, realizadas de forma individual ou em pequenos grupos, de forma a
estimular o desenvolvimento das funções cognitivas do aluno durante a realização
da atividade.
Essa intervenção utilizou a ferramenta pedagógica Golf-7 buscando auxiliar
no processo ensino/aprendizagem dos alunos que frequentam as salas de recursos
multifuncionais do tipo I.
Teve por objetivo geral proporcionar aos alunos das salas de recursos a
utilização do golf-7, procurando desenvolver as habilidades motoras, a superação de
dificuldades de relacionamentos e contribuição na melhoria dos fatores psicológicos,
comportamentais e de personalidade, culminando com a melhora no aprendizado
destes alunos incluídos no ensino comum.
Os objetivos específicos da intervenção foram: a) trabalhar o golf-7 como
recurso pedagógico para o desenvolvimento das habilidades motoras dos alunos
das salas de recursos; b) superar as dificuldades de relacionamentos existentes
entre os alunos com deficiência intelectual que frequentam as salas de recursos; c)
melhorar a autoestima dos alunos com deficiência intelectual incluídos no ensino
comum, propiciando aos mesmos a participação nos jogos escolares e; d) contribuir
no processo ensino/aprendizagem dos alunos das salas de recursos quando
estiverem frequentando as salas de ensino comum, melhorando a concentração e a
atenção.
O GOLF-7 NO PROCESSO DE APRENDIZADO DOS ALUNOS EM SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAL TIPO I: POSSÍVEIS EFEITOS
Conforme as Diretrizes da Política Nacional de Educação Especial na
Perspectiva da Educação Inclusiva, o atendimento educacional especializado tem como função identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que elimina em as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas. As atividades desenvolvidas no atendimento educacional especializado diferenciam-se daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela (BRASIL, 2008).
A Constituição Federal determina a garantia a todos os alunos de
frequentarem o ensino comum, recomendando que as práticas de ensino atendam a
cada aluno em suas individualidades. Se as práticas convencionais não conseguem
atender a esses alunos, estas precisam ser mudadas. As avaliações devem refletir o
progresso de cada aluno em diferentes áreas do conhecimento, e com toda certeza
muitas dificuldades aparecerão, pois não existem receitas prontas para atingir os
resultados esperados. Cada aluno é um ser único, apresentando deficiência ou não,
e este ponto deve ser levado em consideração quando se recebe crianças para um
novo período escolar.
O medo de enfrentar o novo deve ser considerado entre os professores, mas
muitos afirmam não estarem preparados, sinalizando que as diferenças são muito
grandes no processo ensino/aprendizagem. Na verdade, muitas vezes qualquer
problema rotineiro é encarado como algo muito grave e difícil de resolver.
O apoio aos professores é sempre muito importante. A equipe pedagógica e
os professores mais experientes que estejam na mesma escola devem discutir e
tentar minimizar esses problemas e inquietações.
Todos os alunos precisam ser aceitos e respeitados, porque os tempos de
aprendizagem são diferentes entre eles. Não é admissível querer que todos os
alunos aprendam as mesmas coisas no mesmo espaço de tempo.
Ensinar é, de fato, uma tarefa complexa e exige dos professores
conhecimentos novos que muitas vezes contradizem o que lhes foi ensinado e o que
utilizam em sala de aula (MANTOAN, 2009).
As Salas de Recursos Multifuncionais são definidas como: [...] uma ação do sistema de ensino no sentido de acolher a diversidade ao longo do processo educativo, constituindo-se num serviço disponibilizado pela escola para oferecer o suporte necessário às necessidades educacionais especiais dos alunos, favorecendo seu acesso ao conhecimento (BRASIL, 2006).
De acordo com a Resolução CNE/CEB n. 4/2009 que instituiu as Diretrizes
Operacionais para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica,
modalidade Educação Especial: O AEE é realizado, prioritariamente, na sala de recursos multifuncionais da própria escola ou em outra escola de ensino regular, no turno inverso da escolarização, não sendo substitutivo às classes comuns, podendo ser realizado, também, em centro de Atendimento Educacional Especializado da rede pública ou de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas sem fins lucrativos, conveniadas com a Secretaria de Educação ou órgão equivalente dos Estados, Distrito Federal ou dos Municípios (BRASIL, 2009).
Nesse sentido, a sala de recursos multifuncional ofertada na educação
básica, serve para complementar a escolarização de alunos com deficiência
intelectual e transtornos, estando devidamente vinculada ao Projeto Político
Pedagógico (PPP) da escola, atendendo as necessidades específicas dos alunos,
sem, contudo possuir objetivos acadêmicos tradicionais, e sim fazer com que os
alunos melhorem sua auto estima, sua criatividade, consigam sua autonomia e
independência na escola, na família e na sociedade. Para isto, o professor deve
arriscar e propor atividades diferenciadas, tendo sempre o apoio dos demais
membros da equipe pedagógica.
O Golf-7 é uma atividade diferenciada, que permite ao aluno com deficiência
intelectual, uma atividade desportiva, que melhora a qualidade motora, cognitiva e
também sua inclusão socioeducativa. Surgiu em Curitiba, no ano de 2005, na Escola
Educação Especial Fênix, adaptado pela professora de Educação Física Fátima
Alvez da Cruz, em parceria com a Federação Paranaense de Golfe.
Desde a sua criação, a modalidade golf-7, jogada na forma de buraco e
tacada, vem sendo inserida em várias escolas especiais do estado do Paraná, em
campeonatos (2005), jogos Especiais do Município de Curitiba (2006), 1° Jogos
Abertos Paradesportivos - PARAJAP’s (2012) e nos Jogos Escolares do Paraná
(2013 e 2014).
A ferramenta pedagógica Golf-7 contribui para o desenvolvimento das
habilidades globais de alunos com deficiência, buscando concentração, paciência,
calma e objetiva também, o reconhecimento de partes do seu corpo, além de ser um
ótimo instrumento de socialização. O golf-7 apresenta várias possibilidades
pedagógicas, entre elas:
ü pode ser desenvolvido em diversas áreas;
ü ajuda os alunos com deficiência intelectual a se relacionar com os outros,
além de estabelecer regras;
ü proporciona explorar a individualidade, noções temporais e espaciais do aluno
durante a mecanização da atividade em ação motora concreta;
ü a participação integrada do aluno possibilitando sua inclusão na comunidade
escolar, viabilizando sua integração como cidadão;
ü possibilita aos alunos aprender e experimentar os benefícios que o desporto
desenvolve, atenção e concentração, melhorando a autoestima e
autoconfiança dos alunos.
MATERIAL E MÉTODOS
As atividades foram realizadas no período de fevereiro a julho de 2014, com
quatro alunos da sala de Recursos do Colégio Estadual Otalípio Pereira de Andrade,
localizado no distrito de Bateias, município de Campo Largo-PR.
Antes de iniciar a implementação, foi realizada uma consulta aos laudos
psicológicos dos alunos e verificado as dificuldades e recomendações dos
avaliadores. As dificuldades encontravam-se na postura ao sentar, no andar e no
falar, transtornos de comportamento e relacionamento, inquietude motora, falta de
atenção, concentração e dificuldade em esperar. Foram sugeridas atividades que
explorassem a expressão corporal (consciência do seu corpo, gestos e mobilidade),
agilidade, relaxamento, equilíbrio estático e dinâmico, coordenação (motora fina,
global dinâmica e visomotora), noções de espaço e tempo, lateralização e
movimento, raciocínio, memória, concentração, percepção, criatividade, imaginação,
capacidade de elaborar e encontrar soluções para os problemas, motivação pessoal,
descobertas individuais, socialização, interação com o grupo e respeito.
Essa intervenção pedagógica foi realizada em etapas, conforme segue:
Na primeira etapa, foi apresentado o Projeto de Intervenção Pedagógica à
comunidade escolar e aceito para fazer parte do Projeto Político Pedagógico. Na
ocasião da apresentação à comunidade escolar, foram explicitados os objetivos para
o referido trabalho, sendo o objetivo geral, o de identificar possíveis efeitos da
utilização do Golf-7 ao processo de aprendizagem. Como objetivos específicos,
foram apresentados os seguintes:
ü Desenvolver habilidades motoras;
ü Propiciar interação entre os alunos;
ü Colaborar na melhoria do processo de aprendizagem em língua portuguesa e
matemática;
ü Desenvolver atenção e concentração.
Posteriormente, foi explicado aos alunos como funciona o jogo golf-7 por meio
de fotografias e vídeos, pois o mesmo já está inserido em várias escolas especiais
do estado do Paraná, tendo sido incluído até mesmo no 1° PARAJAP’s (Jogos
Abertos Paradesportivos) em 2012 e com sua inclusão confirmada nos Jogos
Escolares do Paraná no ano de 2013.
Na segunda etapa, foram explicadas as condutas de comportamento para um
“atleta” de golf-7, o qual deve ser praticado de maneira leal e amigável.
A terceira etapa constitui-se da construção do campo e familiarização com os
materiais utilizados no jogo e sua funcionalidade, conforme mostra a figura 1.
Figura1: Materiais Fonte: arquivo pessoal.
Os alunos da sala de recursos ajudaram no processo de construção do
campo acompanhando passo a passo, conforme figura 2.
Figura 2: Construção do campo de Golf-7. Fonte: arquivo pessoal.
A partir daí aconteceu o jogo propriamente dito, sendo esta uma etapa que
ocupou a maior parte do tempo de intervenção do projeto, como apresentado na
figura 3.
Figura 3: Prática de Golf-7. Fonte: arquivo pessoal.
As atividades propostas no projeto de intervenção Pedagógica constam
detalhadas na Produção Didático-Pedagógica intitulada “O Golf-7 como ferramenta
pedagógica” e foram compartilhadas com os professores participantes do Grupo de
Trabalho em Rede.
RESULTADOS DA IMPLEMENTAÇÃO
A implementação do Golf-7 cumpriu o seu objetivo de proporcionar aos alunos
das salas de recursos multifuncional tipo I a utilização do golf-7, procurando
desenvolver as habilidades motoras, a superação de dificuldades de
relacionamentos e contribuição na melhoria dos fatores psicológicos,
comportamentais e de personalidade, culminando com a melhora no aprendizado
destes alunos incluídos no ensino comum.
O Golf-7 possibilitou explorar a individualidade, noções temporais e espaciais
do aluno durante a mecanização da atividade propriamente dita em ação motora
concreta.
Consequentemente, interferiu positivamente na vida dos alunos com
deficiência, no que se refere à mudanças de humor, melhora na concentração,
atenção, percepção, habilidades motoras, individualidade, potencialidade e
sociabilidade.
Faço minhas as palavras de Freire (2014, p.142) “[...] para ensinar, para
conhecer, para intervir, que me faz entender a prática educativa como um exercício
constante em favor da produção e do desenvolvimento da autonomia de educadores
e educandos”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo constitui uma inovação ao utilizar o Golf-7 como ferramenta
pedagógica na sala de recursos multifuncional do tipo I, com alunos incluídos no
ensino comum.
Ao comparar as possibilidades pedagógicas do Golf-7 com as dificuldades
apresentadas pelos alunos e as sugestões de atividades pelos avaliadores, é
notável a eficácia desta modalidade de esporte no processo de ensino e
aprendizagem, de considerável contribuição para o desenvolvimento das habilidades
globais para alunos com ou sem deficiência.
Como afirma o grande educador Paulo Freire (2014, p.24) a reflexão crítica
sobre a prática educativa se torna uma exigência da relação teoria e prática e “que
ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua
produção ou a sua construção”.
Essa intervenção pedagógica foi aprovada pela comunidade escolar,
socializada a um grupo de Trabalho e Rede formado por professores da Rede
Básica de Ensino e servirá de referência a outros professores para que possam
utilizar esta ferramenta pedagógica em futuros planejamentos. REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases
da educação nacional. Diário Oficial [da República Federativa do Brasil], Brasília,
DF, v. 134, n. 248, 23 dez. 1996.
_______. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira – INEP. Censo Escolar da Educação Básica, 2006. ______. Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: Ministério da Educação, 2008. _______.Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Básica.
Resolução n. 4, de 02 de outubro de 2009. Diretrizes Operacionais para o
Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, modalidade Educação
Especial. Brasília, 2009.
CRUZ, Fátima Alvez da. Regras do Golf-7.1ªed. Curitba Prefeitura Municipal de
Curitiba, 2009.
FÁVERO, Eugênia Augusta Gonzaga; PANTOJA, Luísa de Marillac P.; MONTAN,
Maria Teresa Eglér. Atendimento Educacional Especializado: Aspectos Legais e
Orientações Pedagógicas. São Paulo: MEC/SEESP, 2007.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários á prática docente.
48 ed. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2014. MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Caminhos pedagógicos da Educação Inclusiva. In
GAIO, Roberta; MENEGHETTI, Rosa G. Krob. Caminhos pedagógicos da Educação Especial. 5ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Departamento de
Educação Especial e Inclusiva; MAKISHIMA, Édne Aparecida Claser; ZAMPRONI,
Eliete Cristina Berti (Org). Atualização em Salas de Recursos Multifuncional – Tipo I. Material Curso EaD. Curitiba: SEED, 2012.