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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

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ADMINISTRAÇÃO OU GESTÃO ESCOLAR: QUAL A VISÃO E

PRÁTICA DOS MEMBROS DOS SEGMENTOS DA GESTÃO?

Andréa de Fátima Bueno Murbach1

Douglas Ortiz Hamermüller2

Resumo:

Sabe-se que a gestão não é neutra. Por ela perpassam questões de ordens sociais, políticas e pedagógicas que se disseminam em várias outras. Diante disso pesquisou-se a administração/gestão escolar. Nas primeiras leituras, constatou-se que os conceitos de administração e de gestão escolar vêm sendo empregados como sinônimos quando se trata da condução dos trabalhos do diretor escolar. No entanto, ao se aprofundar nos estudos dos dois conceitos, percebeu-se empiricamente que eles são diferentes, mas o fato de serem diferentes não significa que são totalmente desconectados. Pelo contrário, eles são intimamente ligados e mantêm estreita relação. Sendo assim, este trabalho visou explanar sobre a questão: Há diferença entre os processos de administração e de gestão escolar no campo da pesquisa? Como metodologia, na fase de “Implementação PDE” foi desenvolvido um Caderno Temático como instrumento para dialogar com os atores do campo da pesquisa, versando com maior profundidade sobre a fundamentação teórica do tema, objetivando maiores esclarecimentos para os diretores escolares e demais membros dos segmentos da gestão, em relação aos preceitos da gestão, com foco nas práticas sociais, políticas e pedagógicas. Baseando-se num dos objetivos do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, articulação da teoria com a prática no contexto do ambiente de pesquisa, principalmente voltado para a realidade escolar, o citado conteúdo foi implementado ao público alvo: diretores, pedagogos e demais interessados, por meio de um curso de 32 horas, no formato de grupo de estudos, nos quais ocorreram momentos de discussão e execução das atividades propostas, no Caderno Temático.

Palavras-chave:

Direção. Gestão. Administração. Pedagogia. Educação.

1 Professora PDE – Núcleo de Curitiba – Turma 2014.

2 Professor Orientador – Universidade Federal do Paraná – Setor Litoral.

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1. INTRODUÇÃO

A pesquisadora autora deste artigo, trabalho final, apresentado para

conclusão do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE da Secretaria de

Estado da Educação do Paraná, teve a oportunidade de atuar em várias escolas

durante sua trajetória na carreira do magistério. Por isso, presenciou diferentes

estilos de administração/gestão. A cada experiência pedagógica pode verificar que a

condução do diretor gerava diferentes resultados para o processo educacional,

afetando alunos, professores, funcionários e demais integrantes da comunidade

escolar, conforme o estilo de gestão.

Cada diretor, com seu estilo, tratava as questões da escola com uma

dinâmica diferenciada, nas quais ficava claro que o papel do administrador/gestor é,

inegavelmente, um sinalizador de como a escola e seus componentes se enxergam

como agentes de mudança da sociedade em que estão inseridos e para a qual

formam seus estudantes.

Por isso, decidiu-se pesquisar se há diferenças entre os conceitos de

Administração e Gestão Escolar.

Nas primeiras leituras, constatou-se que os conceitos de administração e de

gestão escolar vêm sendo empregados como sinônimos quando se trata da

condução dos trabalhos do diretor escolar. No entanto, ao aprofundar-se nos

estudos dos dois conceitos, percebeu-se empiricamente que eles são diferentes,

mas o fato de serem diferentes não significa que são totalmente desconectadas.

Pelo contrário, eles são intimamente ligados e mantêm estreita relação. Talvez o que

colabore para esta dificuldade em dissociar um termo do outro seja o fato de que nos

dois casos há processos operacionais similares ou até mesmo idênticos, e as

diferenças estejam na maneira como é exercida a influência sobre os

administrados/geridos. Essas influências podem ser mais rígidas ou mais

democráticas.

Baseando-se em um vasto referencial teórico que perpassa por Arroyo, Cury,

Klaus, Kuenzer, Lück e Paro, foi-se percebendo que, notadamente, o termo gestão

vem tendo destaque no Brasil nos últimos anos. Como consequência o termo

administração vem perdendo força. Entretanto, quando se questiona sobre a

diferença dos dois termos citados surgem dúvidas.

Cotidianamente estas palavras são usadas como sinônimos, porém, quando

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se analisa com profundidade, encontram-se diferenças, principalmente no âmbito

escolar.

Portanto, este trabalho visará explanar sobre a questão: Há diferença entre os

processos de administração e de gestão escolar no campo da pesquisa?

Na busca por respostas foi constituído um referencial teórico, com o objetivo

de fundamentar a pesquisa, composto por meio de levantamento bibliográfico sobre

o tema. Como fruto deste estudo elaborou-se um Caderno Temático que foi utilizado

como base para a Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola,

uma das atividades propostas pelo Programa. Essa prática foi pensada como

proposta de trabalho em curso de formação continuada para fomentar reflexão sobre

a temática em membros de comunidades escolares. Dessa forma, a

“Implementação” visa demonstrar na prática a importância da Gestão Democrática

para a construção de uma Educação Escolar coletiva, participativa, que

gradualmente vá superando as práticas defasadas da administração escolar

autoritária.

2. ASPECTOS TEÓRICOS

Em todas as leituras efetuadas foi possível perceber que a Administração teve

origem na necessidade de organizar os meandros do trabalho fabril. Porém, advinda

do processo evolutivo social traz em seu bojo a divisão do trabalho como sendo

intrínseca ao ser humano, negando, por sua vez, que fosse na verdade originária de

um produto social.

Sendo assim, a Administração Escolar, indubitavelmente, sofreu grande

influência da Administração Geral, ou seja, teve forte vínculo com o sistema de

produção capitalista.

Num sentido restrito, nessa visão, o administrador estaria limitado a comandar

e controlar, num aspecto prático de quem opera sobre a unidade escolar e nela

interfere de modo distanciado dos desejos e sentimentos alheios, objetivando a

manutenção de sua própria autoridade, centrada em sua figura de diretor.

Porém, a partir da década de 60, com o advento das Pedagogias Críticas,

houve severos questionamentos a esse modelo de organização.

Anísio Teixeira defendia esse modelo de gestão e afirmava que (1961, p. 2):

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Sem administração, a vida não se processaria. Mas há dois tipos de administração: e daí é que parte a dificuldade tôda. Há uma administração que seria, digamos, mecânica, em que planejo muito bem o produto que desejo obter, analiso tudo que é necessário para elaborá-lo, divido as parcelas de trabalho envolvidas nessa elaboração e dispondo de boa mão-de-obra e boa organização, entro em produção. É a administração da fábrica. É a administração, por conseguinte, em que a função de planejar é suprema e a função de executar, mínima. E há outra administração - à qual pertence o caso da Administração Escolar - muito mais difícil.

Entretanto, é inegável que este modelo de regime acaba por ser efetivo, não

do enfoque da participação coletiva, mas da organização, disciplina e cumprimento

de metas. Russo (2004, p. 37), baseado em Paro, discorre sobre o assunto:

A irracionalidade observada na escola decorre dos conflitos e contradições entre os pressupostos da administração capitalista e a natureza do processo de produção pedagógica. Este último é restritivo à aplicação integral dos pressupostos da administração empresarial na escola, segundo Paro (op. cit). Não se trata, como esclarece o autor, de não reconhecer a importância que a administração empresarial teve para o desenvolvimento do capitalismo, e sim de reconhecer que sua aplicação na escola é produtora de dificuldades ao desenvolvimento do processo educativo em razão de seu caráter de prática social fundada na exploração do trabalho e no uso da manipulação ideológica para ganhar a adesão dos trabalhadores aos interesses das empresas. A educação, como prática humana de formação de sujeitos históricos, exige formas de organização do trabalho que priorizem as relações solidárias e cooperativas, fundadas nos princípios do diálogo e da persuasão, isto é, de relações entre iguais.

Dessa ideia pode-se concluir que a administração quando é executada com

base no enfoque da educação será muito mais efetiva ao pleno exercício da

cidadania, do que no sentido da organização. Entretanto, a efetivação deste

processo estará sempre sujeita a quem a pratica, pois, como afirmou Teixeira (1961,

p. 1) “A função de administrador é função que depende muito da pessoa que a

exerce; o administrador depende de quem êle é, do que tenha aprendido e de uma

longa experiência. Tudo isto é que faz o administrador.”

Com o passar dos anos e, principalmente, com a reabertura político-

democrática em nosso país, houve um movimento de novas elaborações sobre a

administração escolar, dando-se maior destaque ao enfoque político pedagógico,

numa busca pela democracia, cidadania e participação popular, em detrimento ao

enfoque tecnocrático, enfatizado até então.

Miguel Arroyo foi um dos autores que mais defenderam esta mudança de

caráter da administração, conforme o texto de (1979, p. 46):

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O problema, pois, é como encontrar mecanismos que gerem um processo de democratização das estruturas educacionais através da participação popular na definição de estratégias, na organização escolar, na alocação de recursos e, sobretudo, na redefinição de seus conteúdos e fins. Fazer com que a administração da educação recupere seu sentido social.

Pode-se perceber, claramente, que a abordagem capitalista, visando entender

a escola como empresa vai perdendo terreno. Muitos outros autores estudiosos da

educação passam a dar maior visibilidade à administração como meio de fazer com

que a escola seja instrumento de equalização social.

Paro, em seus trabalhos, também defendeu e defende veementemente esta

vertente, criticando a escola a serviço do capitalismo, encarada como empresa e não

como entidade isenta, que visa levar o conhecimento científico socialmente

acumulado aos estudantes. E nesse caminhar de essência política e de cuidado com

o pedagógico que começa a surgir o enfoque na gestão escolar, como uma maneira

de dar ênfase à abordagem técnica que neste ínterim vinha tendo a administração

escolar.

Na escola, há que ficar claro que a atuação do diretor não pode se basear no

autoritarismo, na força de sua posição hierárquica, mas na proposição do trabalho

coletivo, que é muito diferente do egocentrismo carregado de arbítrios individuais,

causadores da inclinação à fragmentação das ações.

Conforme Lück (2000, p. 15),

[...] Essa mudança de consciência está associada à substituição do enfoque de administração, pelo de gestão. Cabe ressaltar que não se trata de simples mudança terminológica e sim de uma fundamental alteração de atitude e orientação conceitual. Portanto, sua prática é promotora de transformações de relações de poder, de práticas e da organização escolar em si, e não de inovações, como costumava acontecer com a administração científica.

A partir desse contexto, percebe-se a tendência acentuada do uso do termo

gestão, em detrimento ao da administração e o anseio de uma sociedade

democrática e participativa.

Em se tratando da Gestão Escolar o conceito é relativamente novo e vem

sendo empregado no sentido de defender uma escola que atenda os anseios da

população, que possua vida social ativa e que deseja formar cidadãos participativos

e comprometidos com a comunidade em geral.

Neste sentido, verificou-se que segundo Lück, (2006, p. 33-34):

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A gestão educacional é uma expressão que ganhou evidência na literatura e aceitação no contexto educacional, sobretudo a partir de década de 1990, e vem se constituindo em um conceito comum no discurso de orientação das ações de sistemas de ensino e de escolas. [...] O conceito de gestão resulta de um novo entendimento a respeito da condução dos destinos das organizações, que leva em consideração o todo em relação com as partes e destas entre si, de modo a promover maior efetividade do conjunto.

Almeida (2009, p. 25), por sua vez, conceitua gestão escolar como sendo:

A gestão escolar, como área de atuação, constitui-se, pois, em um meio para a realização das finalidades, princípios, diretrizes e objetivos educacionais orientadores da promoção de ações educacionais com qualidade social, isto é, atendendo bem a toda a população, respeitando e considerando as diferenças de todos os seus alunos, promovendo o acesso e a construção do conhecimento a partir de praticas educacionais participativas, que fornecem condições para que o educando possa enfrentar criticamente os desafios de se tornar um cidadão atuante e transformador da realidade sociocultural e econômica vigente, e de dar continuidade permanentemente aos seus estudos.

Portanto, numa visão ampla, a gestão escolar abarca o trabalho da direção da

escola, dos pedagogos, dos professores, dos agentes educacionais (I e II), dos

alunos e dos pais, enfim, todos aqueles que fazem parte da comunidade escolar,

numa busca efetiva de uma educação que privilegie os conceitos da democracia,

cidadania, autonomia e respeito à diversidade, o que ficará evidente ou não, pelo

comprometimento de todos nas tomadas de decisões.

Freire, citado por Castells (1996, p. 58), enfatiza a necessária participação de

todos para que se efetivem as decisões pedagógicas colegiadas:

[...] constitui uma franca contradição, uma clara incoerência, uma prática educativa que se pretende progressista, que é realizada, porém, dentro de modelos tão rígidos, verticais, nos quais não existe lugar para a menor possibilidade de dúvida, de curiosidade; de crítica, de sugestão, de presença viva, com voz, de professores e professoras que devem ficar submissos aos ‘pacotes’; dos alunos, cujo direito se resume ao dever de estudar sem indagar, sem duvidar, submissos aos professores; dos zeladores, dos cozinheiros, dos vigilantes, que, trabalhando na escola, também são educadores e necessitam ter voz; dos pais, das mães, que são convidados a visitar a escola ou para festas nos fins de semestres ou para receber queixas sobre seus filhos ou para encarregar-se dos consertos, das reparações do prédio escolar ou até para ‘participar’ dos pagamentos do material escolar, etc. Nos exemplos que dou, temos por lado, a proibição ou inibição de participação; de outro, a falsa participação.

Não é uma questão de quantidade de participação e envolvimento, mas uma

questão de qualidade, em que fique clara a importância de cada sujeito envolvido no

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processo, pois segundo Mendonça (1998, p. 76), um diretor comprometido com seu

trabalho,

participa (da gestão) como presidente do Colegiado, quando se coloca como um líder participativo, socializando informações, compartilhando os problemas e tarefas, dando um enfoque prospectivo à gestão pela antecipação de eventuais dificuldades que poderão surgir no decorrer do processo, utilizando de seu próprio potencial de liderança, comunicação, negociação, planejamento e avaliação, assumindo o papel de aglutinador do processo de co-gestão.

Sob outro enfoque Lima (2002, p. 40), enfatiza a necessidade de o diretor

envolver-se também com as questões pedagógicas da escola, priorizando seu lado

professor, que deve estar concatenado com as questões curriculares e

principalmente na condução do Projeto Político Pedagógico,

o diretor é um educador e, se nas últimas décadas, a função de direção assumiu um caráter exclusivamente burocrático, agora é o momento exato de recuperar sua dimensão pedagógica. Sem a atuação do diretor como educador, não há possibilidade de se levar adiante nenhum projeto pedagógico.

A escola é o ponto de encontro entre as políticas e as diretrizes do sistema e

o trabalho direto na sala de aula, enquanto o diretor tem a atribuição de agregar sua

organização interna, de forma a estabelecer relações positivas entre ambas. É de

suma importância que as formas de encaminhamento das situações peculiares, ou

não, ocorridas sobre o currículo, os métodos de ensino, as relações interpessoais de

professores, pedagogos, alunos, funcionários, responsáveis e sua própria, sejam

efetuadas sob o aspecto da mediação e incentivo ao bom relacionamento e

atingimento da grande meta da escola: a aprendizagem dos alunos.

Ao se fazer uma análise no sentido histórico da Gestão Democrática,

constata-se que após a reabertura político-democrática em nosso país, pós Ditadura

Militar (1964 - 1985), principalmente com o advento da Constituição Federal de

1988, o início da abordagem do termo “gestão democrática do ensino público, na

forma da lei”, foi demarcado como sendo um de seus princípios (Art. 2006, Inciso

VI).

Já em 1996, o princípio da gestão democrática foi reforçado como matéria da

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN 9394 – de 20 de

Dezembro de 1996, que em seu artigo 14, reza que:

Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática

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do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I – participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.

Diante disso, houve grande evolução no aspecto da gestão dos

estabelecimentos de ensino. Este tema foi extensamente estudado por diversos

autores, destacados nas referências deste trabalho, os quais fazem diferenciadas

abordagens, porém todos compactuam com a afirmativa de que a gestão

democrática não se efetiva por meio de decretos e leis. O fato de ela estar

assegurada tanto na Carta Magna como na Lei maior da educação nacional, não

garante sua plena efetivação em todas as escolas do território nacional.

Saviani, autor que estudou com ênfase este tema, afiançou em (2000, p. 77)

que “o grau de democratização atingido no interior das escolas deve ser buscado na

prática social”.

Ainda neste sentido, ele afirma que esta prática social deve ser vivenciada por

todos os componentes da comunidade escolar, visando o atingimento da prática

social global em uma via de mão dupla, ou seja, como “[...] condição de se distinguir

a democracia como possibilidade no ponto de partida e a democracia como

realidade no ponto de chegada.” (2000, p. 78).

Não apenas com a participação dos pais e demais integrantes da comunidade

escolar na formalização de decisões já tomadas pelo diretor em sua sala e conforme

suas conveniências, mas o incentivo da verdadeira participação e interesse dos

usuários da escola, de forma consistente, visando seu desenvolvimento e sucesso,

buscando a participação advinda do interesse e não apenas da mera obrigação.

A participação na escola pode e deve ser encarada como um fim e um meio.

É por meio dela que se dá a sensação de continuidade, de responsabilidade com o

processo educacional. Quanto mais participação acontece, mais o processo

democrático vai sendo instituído verdadeiramente, vão se criando ambientes de

reflexão, de trocas e de ajuda recíproca.

Evidencia-se aí um trabalho grande do diretor, para que juntamente com os

demais componentes da comunidade escolar, principalmente o pedagogo, realize

uma gestão democrática e participativa que propicie a participação coletiva,

efetivamente, pois segundo Cury (2005, p.18), “a gestão democrática da educação

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é, ao mesmo tempo, transparência e impessoalidade, autonomia e participação,

liderança e trabalho coletivo, representatividade e competência”.

Portanto, não é um trabalho solitário, mas uma ação que pressupõe a

participação dos diversos componentes da escola, numa atitude de compromisso

com o avanço escolar de todos os estudantes, sem deixar de lado as demais

pessoas que estão em atividade naquele ambiente escolar, buscando o exercício de

pensar juntos todas as ações da escola, evitando compartimentalizar a relação do

pedagógico com o burocrático e do burocrático com a comunidade escolar, numa

mudança de mentalidade e modo de agir, sem a qual a escola não se concretiza em

seu papel social.

A gestão democrática não é uma tarefa fácil, pois a educação institucional

pela qual a maioria dos atuais atores que dirigem as escolas passou, foi carregada

dos resquícios da escola tradicional que existia durante a ditadura militar, quando se

devia obedecer e não questionar em nada as decisões tomadas pelos superiores.

Diante desse fato pode-se afirmar que está implantado um processo de mudança

gradativo e lento, no qual os novos preceitos poderão ser incorporados e colocados

em prática por grande parte da população.

Percebe-se diante disso que há muitos ranços arraigados na escola, tanto de

autoritarismo, como de permissividade.

Sobre isso Paro (2003, p. 101), afirma que:

Não há dúvida de que, se o problema é a falta de tradição democrática, é com a insistência em mecanismos de participação e de exercício da democracia que se conseguirá maior envolvimento de todos em suas responsabilidades.

O mesmo autor (2003, p. 126) defende ainda que para se reforçar o processo

democrático de gestão, possibilitando a existência de um diretor que atue como:

[...] coordenador geral da escola que não seja o único detentor da autoridade, mas que esta seja distribuída, junto com a responsabilidade que lhe é inerente, entre todos os membros da equipe escolar.

Portanto, refletir sobre a gestão democrática da educação, faz com que seja

necessário repensar suas características, as quais são complexas em virtude da

pluralidade que pode propiciar possíveis disputas e até mesmo interesses opostos,

levando-se em conta que não é o processo de escolha de diretores pela comunidade

que em si democratiza a escola, mas sim, o entendimento de todos de que esse

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procedimento é apenas uma parte do processo de participação da comunidade.

Sendo assim, há que se considerar uma forma de gestão que vise evolução

da administração para a gestão escolar, não ignorando os possíveis conflitos que

poderão advir de opiniões diversas dos componentes da comunidade escolar,

antagonismos estes que deverão ser bem geridos pelo diretor e pelo pedagogo para

que se garanta a transformação de possíveis embates em novas possibilidades.

Gerando assim, uma escola que forme cidadãos críticos, socialmente ativos e

comprometidos com suas ações e decisões, assim como, capazes de tomarem

decisões pautadas em conhecimentos aprendidos durante sua estada na instituição

escolar de forma participativa, criativa e bem sucedida.

Segundo Kuenzer (2014), infelizmente, perdura na educação a dificuldade em

se ouvir os estudantes. Eles geralmente são afastados dos momentos de discussão

e decisões coletivas sobre os planos da escola, tanto no sentido estrutural como

curricular. Porém ao agir assim, a escola perde a oportunidade de trabalhar junto

aos estudantes os aspectos de auto-organização, autogestão, de que construam sua

personalidade de forma autônoma.

Afinal, se o jovem aprender durante o processo educacional a ser autônomo

em sua formação geral e integral, ele vai se encontrar mais preparado para as

questões de fora da escola, do mundo lá de fora. Ser autônomo por um lado e

entender a construção coletiva por outro, isso leva a propiciar a gestão democrática

verdadeira e por consequência, a formação e promoção da cidadania.

Durante o estudo procurou-se traçar um paralelo entre as nomenclaturas –

Administração e Gestão Escolar, demonstrando através da pesquisa, a transição do

entendimento dos conceitos.

Klaus (2011) em sua tese de doutorado, efetuou extensa pesquisa histórica

para encontrar o ponto focal da alteração da visão administrativa para a visão de

gestão sofrida pela educação em nosso país, demonstrando que historicamente, os

termos administração e gestão escolar vêm sofrendo alterações, sendo que se

evidencia principalmente entre as décadas de 30 a 70 uma visão estritamente

administrativa da educação, demarcando a necessidade de controle e disciplina. De

1930 até 1945, aproximadamente, houve um momento educacional bem demarcado,

período em que foi focada a contabilização da população educável.

A lógica piramidal foi primordial nesta época. O que se visava eram a

linearidade, a rotina e o planejamento da educação.

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Assim, a educação vai evoluindo e ao longo das décadas de 70 e 80, o

enfoque passa a ser reestruturação econômica e o ajuste político e social. Porém, o

viés administrativo continuava bastante ativo, até mesmo na Lei de Diretrizes e

Bases da Educação 5692/71, o termo administração era utilizado, reforçando as

condições de amplo controle das ações da escola por parte do administrador que

devia centralizar o poder, bem como, as decisões.

Ao longo dos anos, com a queda da Ditadura Militar, os marcos econômicos,

sociais e políticos se alteraram e houve um avanço no significado das ações

educacionais. O neoliberalismo se assentou no cenário nacional e com sua

conjuntura as concepções mudaram, trazendo o termo gestão que passa a ser

utilizado por ser considerado mais amplo.

Dessa forma, foi possível ao diretor de uma escola abarcar e realizar as

várias tarefas, sozinho ou em conjunto com sua equipe diretiva. Essa questão foi

abordada na Constituição Federal de 1988 e na atual Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional – 9394/96, já citadas neste Caderno.

Neste sentido, Kuenzer (2014, p.1) aborda com precisão a mudança

epistemológica ocorrida:

Estabelecem-se novas relações entre trabalho, ciência e cultura, a partir das quais constitui-se historicamente um novo principio educativo, ou, seja um novo projeto pedagógico por meio do qual a sociedade pretende formar os intelectuais/trabalhadores, os cidadãos/produtores para atender às novas demandas postas pela globalização da economia e pela reestruturação produtiva. O velho principio educativo decorrente da base técnica da produção taylorista/fordista vai sendo substituído por um outro projeto pedagógico, determinado pelas mudanças ocorridas no trabalho, o qual, embora ainda hegemônico, começa a apresentar-se como dominante.

Há, porém, que se ter o cuidado de evitar o simplismo em afirmar que um

termo foi sendo usado como substituto do outro. Conforme afirma Vieira (2000, p.

41).

Assim, não por acaso, o diretor e/ ou a unidade administrativa dirigente, passam a ser chamados de ‘gestor’, ‘núcleo gestor’ e expressões congêneres. Não se trata, aqui, de uma simples troca de nomes. Na verdade, o que está a ocorrer é o reconhecimento da escola enquanto instituição caracterizada por uma cultura própria, atravessada por relações de consenso e conflito, marcadas por resistências e contradições.

As mudanças citadas levaram anos para ocorrer, aliás, em educação o tempo

é sempre figura constante, as ações efetivadas hoje, acarretarão resultados em

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longo prazo. Conforme Saviani (2000, p. 73), “A educação, portanto, não transforma

de modo direto e imediato e sim de modo indireto e mediato, isto é, agindo sobre os

sujeitos da prática”.

Seguindo neste princípio, é importante salientar a responsabilidade do diretor

em gerir sua comunidade escolar de forma que se atinja o pleno desenvolvimento

educacional de seus alunos, como afirma Alonso (2004, p. 2):

Os modernos conceitos de gestão, contrariamente ao proposto pela administração clássica não separam o planejamento da execução, de tal forma que não se pode pensar em dois grupos distintos de trabalhadores. Uma das premissas dessa concepção clássica é que ao dividirem-se responsabilidades entre aqueles que concebem, ou planejam, e aqueles que executam o que foi planejado, se isenta o trabalhador da responsabilidade pelo sucesso ou fracasso constatado nos resultados finais do seu trabalho. Essa divisão de responsabilidades traz como conseqüência um desconcerto geral no desempenho escolar e coloca os dois grupos – planejadores e executores - em campos separados, às vezes antagônicos, por sustentarem pontos de vista divergentes sobre a importância das medidas a serem adotadas, o que dificulta, ou pelo menos impede, a liberação de recursos e o provimento das condições essenciais à realização do trabalho pedagógico.

Infelizmente, porém, por vezes, ao longo desta pesquisa, notou-se uma

vertente de diretores que acabam por priorizar o aspecto administrativo financeiro

em detrimento do pedagógico. Isto se justifica pela responsabilidade que os

diretores sofrem com a descentralização de recursos financeiros por meio do MEC e

demais entidades financiadoras das escolas. Fato este bem evidenciado por

Fernandes e Muller (2006, p. 131-132):

O que deve ficar claro para o gestor escolar é que o administrativo deve estar a serviço do pedagógico, isto é, deve servir de suporte para a consecução dos objetivos educacionais da unidade escolar. Entretanto, na gestão de uma escola, a preponderância dos aspectos pedagógicos sobre os aspectos administrativos ainda é, para muitos gestores, um grande desafio a ser vencido. Isso se dá devido à forma como a gestão das escolas públicas está estruturada. O papel que o diretor deve ocupar, nesse momento, difere, em muito, daquele burocrata, centralizador do poder, que está a serviço da burocracia e do Estado ou do Município. Ao diretor, cabe romper com essa postura autoritária e de passividade diante das orientações vindas de cima para baixo, como se fosse um funcionário burocrático do sistema. Esse diretor, aqui entendido como sinônimo de gestor deve enxergar em si mesmo um representante de um projeto político-social de educação que passa pela ruptura com um sistema seletivo, excludente, e forjar uma gestão escolar mais aberta, arejada para os anseios populares.

Não se pretende com esta afirmação macular a imagem dos diretores

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escolares, mas pelo contrário, ir a sua defesa, evidenciando os diversos desafios

pelos quais passam ao longo de seus mandatos, para dar o melhor de si à

comunidade escolar que os elegeram para protagonizar os interesses comuns.

Ainda neste sentido, Alonso (2004, p. 2-3) considera que:

[...], nunca é demais advertir que o trabalho de gestão não comporta separação das tarefas administrativas e pedagógicas nos moldes em que costuma ocorrer. Mesmo porque, o trabalho administrativo somente ganha sentido a partir das atividades pedagógicas que constituem as atividades-fim, ou propósitos da organização escolar. Assim vista a questão, torna-se inaceitável a divisão, muito frequente, de atribuições em que o diretor responde pelo trabalho administrativo rotineiro, burocrático e de representação, sem qualquer compromisso com o trabalho pedagógico, visto como responsabilidade exclusiva dos professores e especialistas do ensino.

Souza (2006, p. 276), em sua pesquisa de doutorado, evidencia que:

[...] O perfil do diretor e da gestão escolar são elementos que se somam a

um conjunto de outros aspectos responsáveis pelos resultados escolares, mas não deixam de ser variáveis importantes para a compreensão dos resultados estudantis, permitindo-se concluir que ha uma espécie de efeito gestão nas escolas publicas de educação básica no Brasil [..]

Outra abordagem possível de se demonstrar é a evolução tecnológica a que

os alunos têm tido acesso e que acabam por alterar sobremaneira o público alvo da

educação. Sobre isso Kuenzer (2014, p. 9), afirma que:

Essas mudanças permitem uma série de reflexões sobre o espaço escolar. A primeira delas respeito à constatação da vertiginosa ampliação dos espaços pedagógicos propiciados pelo avanço científico e tecnológico em todas as áreas, reduzindo os espaços e tempos nas comunicações, agora on line e permitindo o acesso imediato a qualquer tipo de informação pelos mais diversos meios. Mais do que nunca, o processo de aprender escapa dos muros da escola para realizar-se nas inúmeras e variadas possibilidades de acesso ao conhecimento presentes na prática social e produtiva. Surgem novas tecnologias educacionais e novos materiais, o que, se não diminuem a importância da escola e o papel da relação entre professor e aluno, as transformam substancialmente.

Portanto, o diretor cada vez deve que ter uma postura agregadora que

possibilite o sucesso no processo ensino aprendizagem a todos, e não apenas

garantir o acesso e a permanência dos alunos na escola. Nossa sociedade está em

constante evolução e alteração, o que exige constantes atualizações de

pensamentos e de ações pedagógicas.

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Como resolução dessa questão é possível investir na formação continuada

em serviço, a ser ofertada aos diretores. Isso certamente viria ao encontro dos

anseios de vários profissionais que ainda têm muitas dúvidas acerca de suas

funções e atividades possíveis de serem executadas, pois Alonso (2004, p. 7), afirma

com propriedade que: “Os gestores, por sua vez, nada mais são do que educadores

que, em dado momento, se tornaram responsáveis pela condução desse processo.”

Sendo assim, nada mais justo que ao longo de seu mandato ele receba

informações e bases teóricas que venham a sustentar suas ações práticas como

dirigente da escola, pois segundo Russo (2004, p. 34):

[...] a teoria, ao mesmo tempo que reflete a realidade, da qual se nutre para isso, tem de servir de guia orientador das ações que se realizam na prática com vistas ao seu aperfeiçoamento, segundo uma opção axiologicamente determinada. Essas transformações que, orientadas pela teoria, introduzirão mudanças na realidade, precisam ser reincorporadas por ela para que possa continuar refletindo a nova realidade daí resultante. Por sua vez, a teoria modificada orientará novas transformações, criando-se, assim, um movimento circular de etapas sucessivas, de idas e vindas entre teoria e prática que, combinado com o movimento permanente da transformação qualitativa de ambos, resultará num movimento espiral.

3. IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO DE INTERVENAÇÃO PEDAGÓGICA NA

ESCOLA

Buscando responder ao tema pesquisado, elencaram-se os objetivos gerais

de pesquisar e evidenciar as diferenças entre administração e gestão escolar por

meio: - dos conceitos de administração escolar; - dos conceitos de gestão escolar; -

da relevância da gestão democrática; e, - do paralelo entre as nomenclaturas –

administração e gestão escolar.

Produziu-se para tanto, um Caderno Temático reflexivo e interativo, focado à

realidade escolar, falando diretamente aos atores escolares, dialogando com eles,

abordando com maior profundidade a fundamentação teórica, visando maiores

esclarecimentos em relação aos preceitos do assunto estudado, com foco nas

práticas sociais, políticas e pedagógicas.

O material produzido foi distribuído em quatro capítulos, da seguinte forma:

No primeiro tratou-se da Administração Escolar, trazendo uma busca

bibliográfica sobre o conceito.

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No segundo abordou-se a Gestão Escolar, no qual procurou-se evidenciar ao

longo da história da educação o termo “gestão”, aplicado à educação.

No terceiro aprofundaram-se os conceitos de Gestão Democrática, buscando

traçar uma linha de evolução dos preceitos da gestão democrática e a importância

no encaminhamento das ações da equipe diretiva.

No quarto e último buscou-se traçar um paralelo entre as nomenclaturas –

Administração e Gestão Escolar, demonstrando através da pesquisa, a transição do

entendimento dos conceitos.

O Caderno foi idealizado para ser utilizado tanto pelos diretores como também

e, principalmente, pelos pedagogos. Afinal os pedagogos, “cientistas da educação”,

são profissionais polivalentes e coadjuvantes ao diretor, os quais atuam de maneira

bastante efetiva nas decisões da escola e podem fazer uso das conceituações

teóricas que estão contidas na pesquisa.

Ao longo de sua composição foram indicadas paradas intencionais, as quais

se deram pelas proposições de exercícios, vídeos e de leituras de textos

complementares, buscando a expressão da realidade por meio das concepções

teóricas tratadas, centradas no objetivo da problematização, que toma como foco as

ocorrências naturais e concretas dos afazeres de gestão da escola.

Baseando-se num dos objetivos do Programa, articulação da teoria com a

prática no contexto do ambiente de pesquisa, principalmente voltado para a

realidade escolar, o citado conteúdo foi implementado ao público alvo: diretores,

pedagogos e demais interessados (integrantes da comunidade escolar do Colégio

alvo da pesquisa), por meio de um curso de 32 horas, no formato de grupo de

estudos, nos quais ocorreram momentos de discussão e execução das atividades

propostas, no Caderno Temático para aprofundamento teórico.

A Implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola foi um

grande sucesso.

A pesquisadora contou com o pleno auxílio da direção para aplicação da

implementação. Houve incentivo, inclusive de que o convite fosse estendido aos

responsáveis, representantes da APMF e do Conselho Escolar.

Por fim, atenderam ao convite cinco integrantes da APMF e Conselho Escolar,

além de nove integrantes da equipe do Colégio, sendo quatro pedagogos, quatro

agentes educacionais e o diretor.

Dessa forma, teve-se a oportunidade de trabalhar com um grupo muito bom,

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interessado e heterogêneo, característica que forneceu qualidade ao Grupo de

Estudos, pois pode-se vislumbrar vários pontos de vista sobre a gestão do Colégio.

Todos tiveram vez e voz, foi muito gratificante! Nunca conseguimos encerrar o

encontro no prazo estipulado, sempre havia algo mais a falar, comentar, discutir.

Como primeira atividade buscou-se coletar dados dos integrantes sobre o que

pensavam ser Administração Escolar e Gestão Escolar, objetivando detectar o

conhecimento prévio que os cursistas tinham sobre o assunto.

A grande maioria, apesar de empiricamente, demonstrou que a Administração

Escolar é mais voltada ao controle e direcionamento das tarefas a serem exercidas,

a partir de uma hierarquia, partindo do pressuposto que uma ordem deve ser

cumprida, ao passo que a Gestão Escolar está mais voltada ao gerenciamento do

trabalho com maior atenção ao pedagógico e pessoal, de maneira participativa,

envolvendo todos os segmentos da escola, buscando uma educação de qualidade.

Já no final do Grupo de Estudos, a última atividade proposta no Caderno

Temático solicitava:

MÃOS À OBRA! Você constatou no estudo propiciado ao longo deste Caderno uma série de questões acerca da administração e da gestão escolar. Agora, trace um paralelo entre os conceitos aprendidos e suas ações na escola. Como podemos sintetizar a relação entre administração e gestão escolar? Exponha de forma objetiva sua compreensão:

Ao que obtivemos as seguintes respostas efetuadas em grupos:

1) Podemos sintetizar a relação entre administração e gestão na medida em que observamos que um conceito é complementar ao outro. Administramos quando pensamos em toda organização da escola e fazemos gestão quando definimos ações em conjunto, considerando o todo. A administração parece ter um fim em si, ao passo que a gestão visa contemplar o bem comum. O administrador apenas “administra”, mas o gestor, além de administrar, planeja, organiza, considera as demandas do coletivo, de modo mais democrático, que também o levam a refletir sobre as questões humanas que envolvem a todos os que atuam na realidade escolar. 2) Não existe gestão sem administração. Para uma boa gestão há a necessidade de uma administração utilizando a delegação e funções. O bom gestor envolve-se com seus colaboradores, conseguindo resultados coletivos. Administração é mais operacional e a gestão mais intelectual, mais pessoal, sendo que uma escola só funciona com a excelência necessária com a união do operacional e do humano (intelectual). 3) A administração e a gestão escolar são interdependentes. A administração visa partes, já a gestão visa ao todo, prioriza o desenvolvimento do aluno. Em suma, uma administração bem feita vai poder gerenciar melhor o trabalho do diretor dentro do colégio.

Verifica-se, portanto, que todos os integrantes ao longo do Grupo de Estudos

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foram se apercebendo da diferença das nomenclaturas Administração e Gestão

Escolar, diferença esta evidenciada logo a seguir por meio dos aspectos teóricos

estudados ao longo da pesquisa.

4. CONSIDERACÕES FINAIS

No âmbito educacional, pode-se afirmar que um conceito contém, pelo menos

implicitamente, uma infinidade de respostas possíveis, pois irão depender de muitas

variáveis, tais como concepções, pontos de vista, práticas realizadas e/ou

vivenciadas, além de imensuráveis interpretações.

Diante desse fato, não há a pretensão de esgotar os conceitos possíveis

diante de tema tão importante e de possibilidades intrincadas, conforme o contexto

ideológico em que é entendido ou abordado, muito menos, de exaltar um em

detrimento de outro, o que não cabia no contexto desta pesquisa.

Ao encerrar o presente Trabalho Final, pretendeu-se deixar claro que ao se

falar em administração ou gestão escolar, o veio central diz respeito à organização

do trabalho pedagógico nas instituições de ensino públicas estaduais do Estado do

Paraná, alvo do PDE, principalmente o Colégio onde foi efetuada a implementação.

Pretende-se, portanto, fomentar a reflexão sobre o papel dos diretores frente

às suas escolas, voltando o olhar para a sua prática, a qual deve envolver tanto o

aspecto administrativo, quanto o pedagógico, buscando uma gestão escolar ampla e

efetiva.

Ressalta-se que a prática realizada com a Implementação do Projeto de

Intervenção Pedagógica na Escola corroborou a teoria pesquisada de que é muito

importante uma gestão democrática, compartilhada (verdadeiramente) que propicie a

participação de todos os envolvidos.

Percebeu-se que a visão e prática dos membros dos segmentos da gestão

são de que a Administração Escolar é mais voltada ao controle e direcionamento das

tarefas a serem exercidas, a partir de uma hierarquia, partindo do pressuposto que

uma ordem deve ser cumprida. Ao passo que a Gestão Escolar está mais voltada ao

gerenciamento do trabalho com maior atenção ao pedagógico e pessoal, de maneira

participativa, envolvendo todos os segmentos da escola, buscando uma educação

de qualidade.

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