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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas Versão Online ISBN 978-85-8015-079-7 Cadernos PDE II

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

Versão Online ISBN 978-85-8015-079-7Cadernos PDE

II

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Ficha para identificação da Produção Didático-pedagógica – Turma 2014

Título: A relação entre educador e educando pode amenizar a problemática da evasão nas turmas da EJA?

Autor: Ana Graziela Schmitz Disciplina/Área:(ingresso no PDE)

Gestão Escolar

Escola de Implementação do Projetoe sua localização:

C E E B J A – Francisco Beltrão/Pr.

Município da escola: Francisco Beltrão/Pr.

Núcleo Regional de Educação: Francisco Beltrão/Pr.Professor Orientador: André Paulo Castanha Instituição de Ensino Superior: UNIOESTERelação Interdisciplinar:(indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)Resumo:(descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)

Este estudo pretende desenvolver atitudese metodologias que tornem a sala de aulaum ambiente acolhedor e familiar para oeducando, onde ele sinta-se encorajado aexpor o que pensa e receber o que precisapara seu desenvolvimento cognitivo eintelectual. Acreditamos que ofortalecimento das relações afetivas podeamenizar a evasão escolar nas turmas deEducação de Jovens e Adultos, um sérioproblema das nossas escolas atualmente.

Palavras-chave:(3 a 5 palavras) Afeto; cognição; professor; aluno; evasãoFormato do Material Didático: Unidade DidáticaPúblico:(indicar o grupo para o qual o material didático foi desenvolvido: professores, alunos, comunidade...)

Professores e Equipe Pedagógica do CEEBJA de Francisco Beltrão

APRESENTAÇÃO

A maioria dos estudos realizados em relação à Educação de Jovens e Adultos trata

de conceitos e ideais que atendem uma demanda diferenciada. São documentos como

Diretrizes Curriculares, Leis, Resoluções, Deliberações que garantem o acesso e

permanência de quem não conseguiu concluir seus estudos em tempo regular. Tem por

objetivo criar normas que facilitem o acesso à escola, levando em consideração

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dificuldades de tempo e defasagem educacional.

Nesta Unidade Didática pretendo aprofundar o que muitos estudos não citam, que

é a estreita relação afetiva entre educador e educando. Relação esta que considero

fundamental para que o aluno veja a escola como um ambiente acolhedor, de verdadeira

harmonia, e o professor como uma figura fraterna, o recebendo com carinho, com um

olhar afetuoso, fazendo com que ele se sita seguro. Acredito que esta postura, esta

receptividade pode amenizar a evasão, um grande problema, principalmente na EJA.

É diante de uma constatação alarmante de pessoas que buscam os CEEBJAS e as

APEDs, matriculando-se ano a ano e voltando a desistir novamente a cada ano, que

sentimos a necessidade de um olhar atento a este problema. Temos consciência de que

inúmeros fatores contribuem para esta situação, tais como, dificuldade de conciliar os

horários de estudo com o trabalho, vergonha por não ter estudado no tempo

correspondente a sua idade, isto por uma série de fatores de ordem social, financeira ou

de localização e ainda há os que não acompanham os conteúdos nas escolas de ensino

regular e por isso acabam procurando a modalidade. Todos estes são fatores importantes

sim, mas acredito que sobre eles, pouco ou quase nada podemos interferir. Penso que

podemos cativar aqueles que lá estão, pois significamos muito para eles, somos, sem

dúvida, para eles a peça principal dentro da sala de aula. E isto nos engrandece, não

quero com isso afirmar que a responsabilidade do sucesso ou fracasso do aluno cabe

apenas e somente ao professor. Somos parte importantíssima, mas não a única, no

entanto, nós somos professores e podemos viver esta relação, que tão gratificante é – a

de ensinar.

Ao tratar do tema de relação afetiva, tomo as palavras de Rubem Alves no livro

Alegria de ensinar, para nortear minha proposta:

O nascimento do pensamento é igual ao nascimento de uma criança: tudocomeça com um ato de amor. Uma semente há de ser depositada no ventrevazio. E a semente do pensamento é o sonho. Por isso os educadores, antesde serem especialistas em ferramentas do saber, deveriam ser especialistasem amor: intérpretes de sonhos (2006, p.69).

Reconheço que a realidade da sala de aula tem sido difícil e, por muitas vez, acaba

com esta vontade inata do professor de sonhar, de ver um mundo melhor para seus

alunos, de acreditar que pode contribuir para isto. Vivemos um sistema de reprodução de

conteúdos com o intuito de ter notas boas para avançar e ser selecionado por estas

notas, em um mundo competitivo que assusta, amedronta, principalmente a quem conta

não com artifícios que facilitem esta seleção. Nos sentimos então, muitas vezes frustrados

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por saber que nosso aluno, pelo menos a maioria deles não tem grandes chances de

competir, apesar de, nos últimos tempos, tivemos algumas conquistas importantes que

auxiliam o acesso dos mais desfavorecidos a faculdades e cursos que antes jamais

sonhariam.

Porém, aqui, queremos uma trégua, queremos sim que eles atinjam objetivos e

consigam bons empregos, mas queremos mais, queremos Alegria. Alegria de ensinar,

alegria de aprender. Por isto, os autores escolhidos para este estudo são; Rubem Alves,

pela sensibilidade, pelo amor, o afeto, pelo olhar atento ao aluno, pelo carinho que ele

considera, assim como eu, fundamental, e Paulo Freire, pela incansável luta por aqueles

que foram excluídos por um sistema cruel, aqueles oprimidos, que merecem a chance de

conquistar um espaço, de serem reconhecidos como cidadãos e que, assim como eu, via

na escola, a única forma de conseguir isto. Podemos defini-lo através de uma entre tantas

frases maravilhosas que ele nos deixou: “Eu sou um intelectual que não tem medo de ser

amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo

que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade” (Freire, 2006, p.85).

É encantador trabalhar com estes autores, e é este encanto que quero levar aos

participantes do meu grupo da Implementação Pedagógica, através dos textos de Rubem

Alves e Paulo Freire, mas, além disto, trabalharemos, ao longo de 08 encontros, que

totalizarão 32h, questões práticas e metodológicas, como o currículo, numa perspectiva

freiriana, porém contrastando com a Proposta Pedagógica Curricular-PPC da escola do

CEEBJA de Francisco Beltrão, que eles trabalham, bem como uma análise das Diretrizes

Curriculares da Educação de Jovens e Adultos – DCEs.

Esta Unidade contém atividades que serão implantadas na escola através de uma

Formação de professores e equipe pedagógica, certificada pela Unioeste. A metodologia

aplicada tem como objetivo principal o envolvimento efetivo do grupo. Em todos os

encontros, eles terão participação o tempo todo, através da leitura, da discussão, da

opinião, da troca de ideias. Não busco convencê-los de uma única verdade, mais sim

discutir as nossas verdades e, pautando-se nos estudos, nos autores e documentos,

chegarmos a uma unidade, uma consciência da grandeza e boniteza do nosso trabalho, o

trabalho com gente, que assim como nós, sonha espera, busca e quer ser feliz.

Para tanto, organizei esta Unidade Didática em oito etapas, com fundamentação,

problemática, objetivos e atividades para cada encontro, as quais estão apresentadas

abaixo:

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UNIDADE DIDÁTICA

Etapa 01

Tema Central da Atividade: Relação afetiva do educando com a escola e com a figura

do professor.

Objetivos:

• Mostrar aos professores como os alunos veem a escola e a figura do

professor;

• Sensibilizar o professor diante desta visão do aluno e diante de sua

profissão.

Fundamentação:

Por estarmos tratando de alunos que, por um ou outro motivo, não estão na escola

pela primeira vez, buscamos nos próprios alunos os principais motivos para que isto

esteja acontecendo. Detectamos que sua história de vida tem influência direta em sua

trajetória escolar. Os motivos que o levaram por mais de uma vez a ingressarem e

desistirem são geralmente ligados ao trabalho ou a condições precárias de subsistência.

Em meio a relatos deles salientamos a importância da figura do professor e

podemos verificar o respeito e a consideração que eles têm em relação aos seus

professores, principalmente os que trabalham com eles atualmente no CEEBJA de

Francisco Beltrão.

Apesar disso, há alunos que apresentam bastante timidez e se mostraram felizes

com o fato de poderem falar de suas vidas e compartilhar com os colegas de situações

semelhantes. A demonstração de interesse pela história deles, pelos anseios, sonhos e

planos os fez sentir-se valorizados. A lembrança da família, das dificuldades e superações

os fortalece, isto ficou visível em um encontro de 4horas, reforçando a ideia de que

estabelecer laços afetivos e promover a emoção é altamente significativo em sala de aula.

A atitude de ouvir o outro e falar de si é importantíssimo para a autoestima do educando,

por isso quero tratar do afeto e da emoção, que acredito ter forte influência no processo

cognitivo. Considerando a abordagem de Vygotsky, citada por Kohl no livro Afetividade na

escola:

a questão da emoção é essencialmente dialética, monista edesenvolvimentista, os processos cognitivos e afetivos, os modos de pensar esentir, são carregados de conceitos, relações e práticas sociais que osconstituem como fenômenos históricos e culturais”. (KOHL, 2003, p. 28).

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Como a afetividade está diretamente ligada ao despertar das emoções, é possível

realizar atividades simples e agir com afetividade em sala de aula. Em seu estudo sobre a

expressividade e emoções, segundo a perspectiva de Wallon, Izabel Galvão observa que

a emoção pode ser desencadeada por fragmentos de situações aparentemente fortuitos,

como acontece, por exemplo, quando uma pessoa, ao escutar determinada música,

mergulha num intenso estado emocional, o mesmo que viveu em determinada situação

em que ouvira a canção. (2003, p.76).

Este pressuposto nos permite um leque de sugestões metodológicas para a EJA. A

música, por exemplo, tem um poder incrível de despertar lembranças agradáveis ou

marcantes na vida do adulto. Estas lembranças tiram o aluno da maçante e cansativa

realidade cotidiana, remetendo-o a um tempo bom, a uma emoção vivida. Estas

sensações torna-os leves, tranquilos e, consequentemente, mais afetivos. A afetividade

proporciona um clima de emoção e até mesmo de integração do grupo. A música pode ser

apenas um momento de descontração e relaxamento, ou até mesmo, introduzir um

conteúdo que pode envolver qualquer disciplina, seja português, história ou outra que se

encaixar ao tema.

Segundo Wallon (1938, citado por Izabel Galvão, 2003, p.78): “A emoção

estabelece uma relação imediata dos indivíduos entre si, independentemente de toda

relação intelectual”. Nesta concepção walloniana, abordada por Izabel Galvão, as

emoções tem um poder contagiante, o que Wallon chama de simbiose afetiva, na qual os

parceiros parecem mergulhar em um diálogo tônico. Isto explicaria a facilidade, pela qual

a atmosfera emocional domina eventos que reúnem grande concentração de pessoas,

como comícios ou rituais religiosos, situações que podem levar à profunda comunhão e

solidariedade entre as pessoas ou, até mesmo à manipulação de pessoas.

Proporcionar um clima semelhante na sala de aula, sem pretensão de manipular,

mas sim de aflorar as emoções a favor da prática pedagógica, da aproximação entre

educador e educando e da relação de confiança entre o grupo todo, é condição que só

tem a contribuir para o desenvolvimento cognitivo e a aquisição de conhecimento. A

escola objetiva formar cidadãos críticos e esta criticidade só acontece em um clima de

confiança e segurança, o que pode ser resultado de uma atmosfera afetiva. A partir disto,

pretende-se que o educando se sinta encorajado a expor opiniões e discutir ideias.

Atividade:

Neste primeiro encontro realizaremos uma dinâmica com o intuito de facilitar a

comunicação e aproximar os participantes. Este será um momento para refletir a prática e

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verificar os depoimentos dos alunos em relação à escola e aos professores. Também

faremos a leitura de textos que tratam da Afetividade na escola, complementando com

música e trecho de filme.

Descrição da atividade:

1. Dinâmica da cara metade: cada participante recebe uma figura pela metade.

Estas imagens contém pessoas e remetem a cenas de amizade, afeto, amor,

ajuda. O participante deve encontrar o outro que está com a metade da sua

imagem. A partir disto, eles conversarão sobre si mesmos, falando de sua vida e

trajetória profissional, enfatizando o trabalho atual, que é com alunos da EJA.

Então, em pares, virão à frente da turma, onde um falará o que o outro acabou de

relatar, o que conversaram.

2. Leitura e análise dos textos dos alunos: Os textos produzidos pelos alunos que

estudam atualmente em uma turma do CEEBJA, feitos em um momento anterior,

originários da mesma dinâmica, serão entregues aos professores. Isto nos

proporcionará fazer um comparativo e uma constatação dos motivos que os levam

a estar na EJA, bem como dos motivos que os levaram a desistir de estudar no

passado. Assim também os professores serão instigados a pensar sua prática e

seu olhar a estes alunos.

3. Assistir dois vídeos do Portal Dia a dia Educação, que são trechos do filme:

Um sonho possível. O filme trata da relação professor-aluno, e tem como foco o

aluno com dificuldade de aprendizagem e limitações devido a sua precária

subsistência.

Estes são os links dos vídeos:

http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?video=12602

http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?video=12604

Os vídeos fecham as atividades, servindo como reflexão e sugestão de filme.

Avaliação:

A atividade busca observar a reação dos professores em relação à questão do

afeto. Como eles agem em situações que envolvem emoção. Se eles consideram a

afetividade um fator importante para o aprendizado. Como reagem à leitura dos textos dos

alunos da própria escola, com foco à vida escolar e aos desafios que os fizeram desistir

de estudar no passado e aos motivos que os levam a estar novamente na escola, assim

como o que esperam da escola e de seus professores.

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Bibliografia:

GALVÃO, Izabel. Expressividade e emoções segundo a perspectiva de Wallon. InARANTES, Valéria Amorim. Afetividade na escola: alternativas teóricas. 3ª edição, SãoPaulo, Summus Editorial, 2003.

KOHL, Marta. Vygotsky e as complexas relações entre cognição e afeto. InARANTES, Valéria Amorim. Afetividade na escola: alternativas teóricas e práticas. SãoPaulo: Summus Editorial, 2003.

Portal Dia a dia Educação. Um sonho possível (parte01). Disponível emhttp://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?video=12602, acessado em 06 de outubro de 2014.

Portal Dia a dia Educação. Um sonho possível (parte02). Disponível em

http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?video=12604, acessado em 15 de outubro de 2014.

Etapa 02

Tema Central da Atividade: A alegria de ensinar.

Objetivos:

• Conhecer a forma de pensar a educação do autor e escritor Rubem Alves.

• Rever a forma que cada professor tem de pensar a educação.

Fundamentação:

Rubem Alves, mineiro, nasceu em Boa Esperança, em 15 de setembro de 1933.

Pedagogo; Filósofo (doutorado na Universidade de Princeton -USA); Teólogo;

Psicanalista; Professor emérito da Unicamp; Acadêmico (Academia Campinense de

Letras); Cronista do cotidiano; Contador de histórias; Cidadão honorário de Campinas e

um dos mais respeitados intelectuais do país. Faleceu em 19 de julho de 2014.

Para Samuel Ramos Lago, no livro: O melhor de Rubem Alves, isto é muito

pouco!!!

Além de tudo isso, se conheço um pouco do amigo Rubem Alves, sei que ele:ama a simplicidade; ama as histórias; ama a ociosidade criativa; ama osbrinquedos e as ferramentas; ama a beleza; ama a vida; ama a música; ama apoesia; ama as coisas que nos dão alegria; ama a natureza e a reverênciapela vida; ama os mistérios; ama a educação como fonte de esperança etransformação; ama a libertação ecumênica e a busca de uma novahumanidade; ama todas as pessoas, mas tem um carinho especial pelosalunos e professores (2008, p. 5).

Em seu livro: A alegria de ensinar, Rubem Alves nos encanta com a lindeza da

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nossa vocação. Em uma coletânea de crônicas, ele nos leva a viajar neste mundo

maravilhoso que é a mente humana e nos questiona sobre como “matamos” a capacidade

criativa de nossas crianças, jovens e idosos. O quanto o sistema escolar manipula uma

sociedade inteira para que ela se pareça uma linha de produção. Acho fantástico quando,

na crônica: Sobre vacas e moedores, ele brinca com a função da escola, comparando-a

a um moedor de carne

Olhei para a carne cortada, o moedor, os rolinhos e vi outra coisa: escolas!Assim são as escolas.. As crianças são seres oníricos, seus pensamentos temasas. Sonham sonhos de alegria. Querem brincar. Como as vacas de olhosmansos, são belas, mas inúteis. E a sociedade não tolera a inutilidade. Comoas vacas, tem que passar pelo moedor de carne. Pelos discos furados, asredes curriculares, seus corpos e pensamentos vão passando. Todas vão setransformando em uma pasta homogênea. Estão preparadas para se tornarsocialmente úteis. ( 2006, p. 43).

Sei que há quem questione; “sim, agora teremos que abolir os currículos e viver

em um mundo colorido de sonhos e vacas e pássaros?”. Quem conhece Rumbem Alves,

sabe de suas metáforas, de seu mundo dos bichos e das plantas. É assim que ele vê a

educação: através dos olhos dos seus alunos e, principalmente, de seus sonhos,

pensamentos. Confesso que não consigo ver diferente, já vi com olhos de moedor de

carne, achando-os preguiçosos, desinteressados, queria eu que se interessassem em

quê? Em conteúdos estanques, fora do mundo deles, obrigando-os a decorar datas e

nomes. Queria que fossem ótimos, aprendessem tudo o que eu e a escola

considerávamos importantíssimo, que tirassem ótimas notas e partissem rumo a tirar

outras ótimas notas e arrumassem seus empregos e tivessem seus filhos que também

teriam que tirar ótimas notas, para quê? Para saírem da escola odiando a escola e o

sofrimento de entender uma série de coisas que não conseguiam ver sentido algum.

Estou vendo os olhos críticos de quem me ouve: “o que ela pretende então?” Não

pretendo abolir os currículos, que poder teria eu? A princípio, como educadora, me

permito vislumbrar uma escola que ensine conteúdos sim, mas que estes sejam antes

despertados aos olhos dos alunos, que eles sintam curiosidade em saber, necessidade de

aprender e uma finalidade em sua vida. Parece difícil, impossível até, pois os mais

“realistas” diriam: eles não querem é saber de nada!!! Eles não aprendem nada!!! Será?

Olha que há coisas que eles sabem muito, muito mais que nós, retorno a Rubem Alves:

“Quer dizer que o que eu aprendi fora da escola não vale nada para a escola? Se eu fizer

uma pergunta a um professor e ele não souber a resposta, eu posso lhe dar uma nota?

Há boletins onde alunos dão notas a seus professores? (2006, p. 33).

Seria ousadia demais, não é mesmo? No entanto, nos deparamos constantemente

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em sala de aula com certas situações que evidenciam isto, o que gera um desconforto

imenso e até mesmo uma rivalidade, sendo que o que jamais podemos ser é rivais de

nossos alunos, mas não é isto que se apresenta por muitas vezes? Professores,

detentores do saber, repassando este a seus alunos, “ignorantes” do saber, aí mais

poderosos ainda ficamos, quando aplicamos as temerosas provas, a palavra já é forte:

prove que você sabe reproduzir exatamente o que eu lhe ensinei ou então te dou uma

nota baixa e você pagará o preço vergonhoso de fracassar diante de seus colegas e ser

sacrificado a repetir até aprender, entre linhas: você é incapaz, a escola não serve para

você ou, ainda pior, você não serve para nada. Pois para a sociedade, o que vale é

transformar alunos em utilidade para o capitalismo.

Esta reflexão que faço, exagerada até, pode-se dizer, do ponto de vista prático e

técnico, faço por um único motivo: acredito no poder de percepção e de aprendizado de

cada criança, jovem ou adulto. Acredito mais ainda na capacidade que cada um de nós,

educadores, temos de olhar para cada um deles e sentir e captar o que pode fazer com

que ganhemos a confiança deles para dar o melhor de si, para conhecer melhor o mundo

a sua volta, os seus semelhantes e, principalmente a si mesmos. No momento em que

tocamos a alma de um aluno, certamente conseguiremos que ele tenha vontade de saber

o que temos para lhe dizer. Concluo com esta frase: “lembrem-se de que vocês são

pastores da alegria, e que sua responsabilidade primeira é definida por um rosto que lhes

faz um pedido: Por favor, me ajude a ser feliz” (Rubem Alves, 2006, p. 19).

Atividade:

Este segundo encontro será iniciado com a apresentação de um vídeo de Rubem

Alves, intitulado de Escutatória. A seguir, realizaremos a leitura de crônicas do Livro

Alegria de ensinar, deste mesmo autor. Esta leitura será discutida em pares e

apresentada ao grupo de uma forma criativa.

Descrição da atividade:

1. Cada professor receberá impressa uma das crônicas do livro Alegria de

ensinar de Rubem Alves. Após a leitura silenciosa, eles encontrarão o colega

que tem a mesma crônica.

2. Assim que discutirem o texto, terão um tempo para pensar em uma forma de

apresentar aos colegas esta crônica. Pode ser em forma de frase, palavra,

imagem, poesia, contando uma história, ou seja, a forma que julgarem ser a

mais criativa para a apresentação.

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3. Concluiremos com a leitura da Fundamentação que escrevi nesta atividade.

Avaliação:

Aqui pretendemos observar a opinião do professor em relação à metodologia

aplicada nas escolas atualmente. Como este projeto analisa as causas da evasão escolar,

e por acreditarmos que a metodologia e a relação professor-aluno estejam estreitamente

ligadas ao sucesso da aprendizagem e a continuidade do aluno na escola, é que

esperamos que ao final deste encontro, esta indagação os acompanhe de volta às suas

casas.

Bibliografia:

ALVES, Rubem. A alegria de ensinar. 10ª edição, São Paulo, Papirus Editoria, 2006.

LAGO, Samuel Ramos. O melhor de Rubem Alves. 22ª edição, Curitiba, Editora NossaCultura, 2008.

Etapa 03

Tema central da atividade: A metodologia aplicada em sala de aula, considerando uma

pedagogia ligada ao universo do aluno, o que Rubem Alves chama de Pedagogia dos

caracóis.

Objetivos:

• Refletir sobre o sistema de ensino a que estamos subordinados e contemplar

outras possibilidades.

• Buscar uma metodologia que vá além do objetivo de tirar notas, mas sim uma

forma de despertar a curiosidade em nosso aluno.

Fundamentação:

Rubem Alves inicia o livro Pedagogia dos caracóis, realizando uma comparação de

currículo a uma cebola. “A cebola cortada me sugeriu a forma como o currículo escolar

deveria ser organizado – como os anéis de uma cebola, na ordem certa. O que estaria

contido no primeiro anel? A resposta é fácil: o primeiro anel que abraça a criança é a sua

casa”. Rubem Alves (2010, p. 10). Mesmo trabalhando com jovens e adultos, acredito que

esta concepção se adapta tranquilamente aos nossos alunos de EJA, pois um educando,

seja ele criança, adolescente, jovem, adulto ou idoso, todos tem, além de grande

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capacidade de aprender sempre, uma sensibilidade original de qualquer ser humano.

Não apenas o aluno, mas todos nós temos como referencial a nossa casa.

Obviamente que para a criança, isto se intensifica mais ainda, pois ela descobre o mundo

a partir da sua casa. Nesta concepção, Rubem Alves pensa na simplicidade e utilidade de

iniciar um conteúdo, partindo do que nos rodeia, como diz ele, nos abraça. Ali temos todas

as disciplinas compactadas, interligadas, a própria estrutura física, o tijolo o cimento, a -

formação e transformação destes elementos a serviço da química, da física. As medidas a

cozinha, um verdadeiro ambiente químico, banheiros, o lixo e sua decomposição. O

entendimento, as relações, a proteção física e emocional que a nossa casa nos

proporciona. Rubem Alves diz não gostar do termo disciplinaridade, ele não consegue

estabelecer esta separação que aí se ligaria.

Com duas frases curtas, a menina me explicou o jeito de se aprender na suaescola, a Escola da Ponte, em Portugal. Era a minha primeira visita, e tudo meespantava e me fazia perguntar. As crianças estavam todas misturadas numaúnica sala, pequenas, grandes, crianças com síndrome de Down. Numaparede estavam escritas palavras com letras grandes, referentes à descobertado Brasil - era o ano de 2000. Apontei com o dedo e perguntei: “E aquelasfrases?” Ela me respondeu sem titubear: É que os miúdos estão a aprender aler. Aqui não aprendemos nem letras nem sílabas, só aprendemos totalidades”.(Rubem Alves, 2010, p. 63)

O que ele aponta aqui é um conhecimento abrangente das coisas e estas, segundo

ele, deveriam ter uma nova organização e seriam ensinadas mediante a curiosidade do

aluno. O professor então despertaria antes esta curiosidade e aí sim, o aluno teria prazer

em receber o ensinamento, que só não será esquecido se fizer sentido a ele.

Para nós é bastante difícil imaginar um outro tipo de organização, uma escola

diferente, como esta Escola da Ponte, em Portugal. Muito já ouvimos sobre ela e

sabemos que é uma escola respeitada e teve resultados positivos, grande mérito mundial.

Aí vem o nosso chamado “choque de realidade”, reforçando a nossa metodologia,

reafirmando que está tudo bem assim. Aí me questiono mais uma vez: por que tantos

alunos desistem? Tantos outros reprovam? Tantos, que não é o caso da EJA, mas é a

nossa escola brasileira, são aprovados por conselho de classe. Por que mesmo sendo um

Sistema que infelizmente prepara para Vestibular, ENEM e uma série de classificações,

nossos alunos ficam tão mal classificados? Tanto alunos quanto professores não podem

ser julgados desta forma, se estamos fracassando e estamos, nosso Sistema Educacional

precisa ser revisto imediatamente. Não podemos usar as velhas frases: “Eles não querem

nada com nada”. Ou “Os pais não estão nem aí”. Desculpem, mas estas justificativas

nunca levaram e nem nos levarão a solução alguma.

Felizmente trabalhamos com EJA e estes problemas são mais fáceis de

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administrar, principalmente por tratarmos com alunos mais maduros, com certa

objetividade. Por isso mesmo, cada vez mais, lancemos nossos olhares carinhosos a

eles, que possamos os acalentar em tantas dúvidas, medos e inquietações que trazem

consigo. Que possamos usar de sensibilidade ao elencar nossos conteúdos e escolher

nossa metodologia. Que eles amem estar conosco e sintam saudades.

Atividade:

O encontro será iniciado com uma dinâmica que trabalha as mais famosas frases

de Rubem Alves, porém nesta atividade priorizo a leitura de trechos do livro A Pedagogia

dos caracóis. Neste livro, Rubem Alves analisa a Educação brasileira na perspectiva da

metodologia e da elaboração do currículo. A partir das leituras, é que serão realizados

comentários e relatos dos professores, fazendo uma análise das ideias do autor e

daquelas que eles consideram pertinentes ou não. Completaremos com dois vídeos que

ilustram a pedagogia de Rubem Alves e com sugestões de novas leituras.

Descrição da atividade:

1. O grupo sentará em círculo e ao centro serão distribuídas frases, extraídas do

livro: O melhor de Rubem Alves, do escritor e professor Samuel Lago. Cada

um escolherá uma destas frases e, relacionando com sua prática docente, dirá

porque a escolheu.

2. Em uma produção de slides, serão apresentadas citações do autor, extraídas

do livro A Pedagogia dos Caracóis, estas citações servirão de base para as

discussões com o grupo sobre currículo e metodologia.

3. A atividade será encerrada com o vídeo de Rubem Alves: O papel do

professor. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=_OsYdePR1IU

acessado em 09/11/2014.

Avaliação:

Neste momento já ouve uma familiaridade com o autor Rubem Alves e com a

importância que a relação de afeto entre professor e aluno tem para o sucesso da

aprendizagem. Espera-se que os professores tenham reconhecido esta importância e

tenham se encantado pelo autor. Também que tenham pensado a metodologia e a

proposta curricular da sua disciplina e da escola que trabalham.

Bibliografia:

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ALVES, Rubem. A pedagogia dos caracóis. 1ª edição, Campinas, SP, Verus Editora,2010.

LAGO, Samuel Ramos. O melhor de Rubem Alves. 22ª edição, Curitiba, Editora NossaCultura, 2008.

Etapa 04 e 05

Tema central desta etapa: O ensino e a ligação com a realidade do aluno da EJA em

uma perspectiva Freiriana.

Objetivos:

• Analisar se provocamos a criticidade de nossos alunos e levamos em consideração

sua experiência de mundo;

• Reconhecer Paulo Freire como um ícone da Educação de Jovens e Adultos e sua

sensibilidade em lutar por aqueles que, de uma forma ou de outra, foram em algum

momento excluídos.

Fundamentação:

Quando tratamos da Educação de Jovens e Adultos, principalmente ao

relacionarmos esta educação a um processo que envolve afeto, amor, não podemos

deixar de falar em um dos pensadores mais notáveis da história da Pedagogia mundial:

Paulo Freire. Engajado em problemas políticos e sociais brasileiros, defensor dos

oprimidos, sensível às injustiças, Paulo Freire soube olhar aqueles que não eram vistos

como indivíduos merecedores de atenção, respeito e cidadania. Através da Pedagogia

Libertadora e Humanista de Freire, é que muitos puderam se reconhecer no mundo,

deixando de viver à marginalidade da sociedade, reconhecendo que também eram

capazes de pensar, agir e, através do conhecimento, transformar a realidade em que

vivem. Para ele, a Formação do Professor é essencial para o sucesso da aprendizagem,

esta formação exige criticidade e, neste caso, precisa estar voltada às particularidades do

público que constitui a EJA. Em seu livro Pedagogia da Autonomia, Freire discute as

principais exigências do ensinar. Dentre elas, a rigorosidade metódica, a criticidade, a

pesquisa, a assunção da identidade cultural, a ética, a alegria, a curiosidade. Para Freire

(1996) o educador tem a função de ensinar e não de transferir conhecimento.

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Quando entro em uma sala de aula, devo estar sendo um ser aberto aindagações, à curiosidade, às perguntas dos alunos, a suas inibições; um sercrítico e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tenho – a de ensinar e não ade transferir conhecimento (1996, p. 47).

Diante disto, ele destaca que neste papel de ensinar cabe uma rigorosidade de

nosso pensar, quem ensina está formando ideias e estas ideias, estes posicionamentos

se estendem às esferas sociais, econômicas e políticas. O educador pode estar tomado

de posições radicais em seu pensar, algo que o torna contrário a conceitos que não sejam

os dele. Este é um processo de responsabilidade e coerência. O discurso de um educador

pode ser democrático e destituído de preconceitos, porém sua ação pode ser o oposto

disto. Na prática pedagógica é fácil ocorrer comentários racistas e preconceituosos pelo

educador. O simples uso de uma conjunção pode nos dar a ideia de um pensamento

contrário àquele que ele “diz”. Esta realmente não é uma tarefa fácil, assumir equívocos

ou ceder a uma posição que argumente algo contrário ao pensar já é difícil a qualquer

indivíduo, mais difícil ainda quando ocorre a um educador.

Como pretendemos despertar no educador esta necessidade de sua formação

estar voltada à tarefa de ensinar, respeitando a vivência e as especificidades do educando

de EJA, bem como reforçar o valor afetivo das relações escolares, é que levaremos à

discussão a teoria e os textos de Paulo Freire.

Pouco ou nenhum sentido faz a um adulto ir à escola receber conhecimento solto e

descontextualizado. Além disso, o aprender do aluno não pode estar desvinculado de sua

curiosidade sobre as coisas do seu mundo:

Na verdade, a curiosidade ingênua que, “desarmada”, está associada ao saberdo senso comum, é a mesma curiosidade que, criticizando-se, aproximando-sede forma cada vez mais metodicamente rigorosa do objeto cognoscível, setorna curiosidade epistemológica. (1996 p. 31).

Assim, para ensinar é preciso despertar a curiosidade de aprender. E como estará

alguém curioso em aprender algo que em nada lhe é peculiar? Que se distancia

totalmente do seu mundo? A discussão de assuntos que lhe são familiares, mesmo que

por meio de exemplificação, o aproximam do tema e despertam seu interesse. Isto é o

que Paulo Freire chama de curiosidade ingênua, a do senso comum, mas é a busca de

significação, através do estudo, da pesquisa é que a torna curiosidade epistemológica. Os

temas podem ser de ordem histórica, social, de saúde ou violência, o que os torna

interessantes é a relação estabelecida com a realidade. Esta aproximação gera uma

satisfação, uma sensação de progresso no caminho do conhecimento científico. Esta

sensação é que trará energia para que ele busque cada vez mais o saber, uma vez que

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tomou consciência de sua capacidade intelectual.

O papel do educador aqui é de caráter formador de ideias e opiniões, exigindo

ética, pesquisa, respeito à autonomia do educando, bom senso e humildade. Vários são

os perigos enfrentados, perigo de quem ensina, pensar que pensa certo. O pensar certo é

coerente, é baseado em argumentação, é aberto ao novo, é destituído de preconceitos. O

educador que atende a esta perspectiva consegue propor e mediar discussões

significativas, consegue manter uma unidade e situar a turma de onde o debate saiu e

que contribuições ele trouxe para a conclusão desta discussão.

Como sustenta Freire, as discussões tem um poder de transformação muito forte.

Debates sobre políticas e ideologias colocam em dúvida a ação de políticos e lideranças

públicas. Podem causar reflexões da condição de vida de quem mora nos bairros e de

quem mora em lugares privilegiados das cidades, por exemplo. Onde é investido este ou

aquele recurso público. Quem deveria zelar pelo bem-estar da população realmente o

faz? Onde estão os deveres de ordem pública de assegurar condições de saúde,

segurança, moradia e educação? A escola é um dos únicos lugares possíveis de elucidar

estas questões e por que não as faz? Muito se fala em aluno crítico, mas formariam

alunos críticos, professores alienados? Este não é um processo fácil, tratar destas

questões exige ética e decência, profundidade e não superficialidade. A superficialidade

da mídia, por exemplo, que costuma ser tendenciosa e a serviço de quem detém o poder.

Mais uma vez, confirma-se a necessidade de uma boa formação do educador, com o

papel de discutir, inclusive o que é veiculado pela mídia e o que realmente acontece, isto

exigirá dele pesquisa para argumentar e sustentar seu discurso, que com certeza, tem

como função um caráter formador. (FREIRE, 1996).

1ªAtividade: Esta atividade consiste em aprofundar o conhecimento sobre o mais

significativo autor e escritor para a Educação de Jovens e Adultos: Paulo Freire.

Trataremos do autor e sua inegável importância para a modalidade

Descrição da atividade:

1. Será entregue um questionário para sondar o quanto os educadores conhecem

Paulo Freire e suas contribuições para a Educação de Jovens e Adultos;

2. A seguir assistiremos o vídeo Paulo Freire http://www.youtube.com/watch?

v=60c1RapBN7U

3. Então realizaremos a leitura da Fundamentação desta atividade, que fala da vida

de Paulo Freire e de sua luta em favor dos oprimidos.

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2ª Atividade: Nesta atividade faremos uma análise aprofundada do livro Pedagogia da

Autonomia.

Descrição da atividade:

1. Cada participante receberá uma citação de Paulo Freire, extraída do livro

Pedagogia da Autonomia. Esta tarefa visa uma abordagem profunda das ideias do

autor contidas neste livro. A partir disto, cada um lança uma discussão sobre a sua

frase, estabelecendo ligação com sua prática docente.

2. A discussão será concluída com base nas considerações do próprio livro.

Avaliação:

Através das respostas do questionário e da discussão lançada por cada um,

pretende-se observar o entendimento do professor em relação à pedagogia que Paulo

Freire defende. Importante também saber se ele concorda com o autor, se segue a

mesma linha ou se, pelo menos, comunga dos ideais de valorização do ser humano, da

busca pelo reconhecimento e respeito a todo indivíduo. É um momento de trazer à tona

preconceitos, ideias e conceitos unilaterais.

Bibliografia:

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. 31 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

Etapa 06

Tema central da atividade: Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos –

DCEs.

Objetivos:

• Rever os pontos fundamentais das DCEs, confrontando com a prática pedagógica;

• Discutir os entraves que o dia a dia apresenta no cumprimento do que propõe as

DCEs.

Fundamentação:

Inicialmente, tomaremos um breve histórico da Educação de Jovens e Adultos no

Brasil, baseando-se principalmente nas Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e

Adultos – DCEs do estado do Paraná, o que nos proporciona uma visão do perfil do

educando e da necessidade de uma modalidade específica que atenda ao público adulto.

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Os Programas e Projetos voltados à Educação de Jovens e Adultos se deram

inicialmente para erradicar o analfabetismo. No final do século XIX e início do século XX

se enfatizou a obrigatoriedade da educação de adultos, isto principalmente devido a

Constituição de 1891 impedir o voto do analfabeto. Nesta época estima-se que 85,21%

dos brasileiros eram iletrados. Como a Constituição Federal de 1934 tornou obrigatória a

gratuidade do ensino primário a todos, incluindo os que não a cursaram em seu tempo

regular, a taxa de analfabetismo, que em 1920 era de 69,9%, em 1940 passou a ser de

56,2%. Em 1960 a oferta da EJA estendeu-se ao curso ginasial e em 1964 o Governo

Federal promoveu uma Política Nacional de EJA em todo o país, coordenada por Paulo

Freire. Todavia ela não se efetivou, devido ao Golpe Militar de 1º de abril de 1964. Mas a

política de alfabetização de Freire foi muito significativa e suas consequências são

positivas até hoje. Apesar dos avanços, em 1980, 30% da população ainda era

analfabeta, levando o governo a abrir um debate sobre a qualidade deste ensino. Diante

disto, em 1985 o Governo Federal rompeu com a Educação de Jovens e Adultos e em

1986 o Ministério da Educação do MEC passou aos estados e municípios a

responsabilidade com a alfabetização de Jovens e Adultos.

No Paraná, nesta mesma época foram criados os CEEBJAS – Centros Estaduais

de Educação Básica para Jovens e Adultos. Em 1988, a EJA passou a ser reconhecida

como Modalidade específica da Educação Básica, sendo gratuita. A partir disto, muitas

Leis e Resoluções foram aprovadas para o fortalecimento da modalidade, entre eles

destacam-se: Lei n. 9394/96, que a caracterizou como modalidade de Educação Básica

Fundamental e Média, com especificidades próprias. Somado a isto, foi aprovada a Lei n.

2618, de 1 de novembro de 2001, que proibiu as matrículas noturnas no Ensino

Fundamental Regular e, principalmente a RESOLUÇÃO Nº 313, DE 16 DE MARÇO DE

2011, em seu Art. 6º em que a idade mínima para o ingresso nos cursos presenciais e

para a realização de exames supletivos correspondente aos anos finais do ensino

fundamental é de 15 (quinze) anos completos, e, ao ensino médio, de 18 (dezoito) anos

completos.

No ano de 2005 foi realizada uma avaliação das Propostas Pedagógicas

Curriculares da EJA quanto à adaptação de horários e organização do tempo escolar

correspondente às suas necessidades e expectativas. Para garantir esta característica, a

partir de 2006 a Proposta Pedagógica Curricular contempla 100% de carga horária

presencial. 1.200h ou 1.440h/a – coletivo ou individual. O coletivo preferencialmente aos

que podem frequentar regularmente as aulas. O individual aos que não podem, como:

caminhoneiro, trabalhador rural ou trabalhador que troca turno.

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A Educação de Jovens e Adultos (EJA), como modalidade educacional queatende a educandos-trabalhadores, tem como finalidades e objetivos ocompromisso com a formação humana e com o acesso à cultura geral, demodo que os educandos aprimorem sua consciência crítica, e adotem atitudeséticas e compromisso político, para o desenvolvimento da sua autonomiaintelectual (PARANÁ DCEs da EJA 2006,p. 27).

Justamente por ser um público trabalhador, que precisa frequentar as aulas por

exigência do trabalho e, ao mesmo tempo, é obrigado a conciliar os estudos com o

trabalho, é que deve pautar a autonomia do educando. Não apenas autonomia de estudo,

mas consequentemente, a autonomia de ser cidadão, uma vez que, a maioria deles já

está inserida na sociedade e tem noções de relações sociais, sendo a escola o lugar de

aprimorar seus conceitos, suas visões de mundo e reconhecem sua capacidade de

interagir. Eles já sabem dos desafios para levar seus estudos adiante. A sensibilidade do

professor em perceber as dificuldades enfrentadas por eles faz muita diferença. Enfrentar

o medo do fracasso é um desafio tanto para o educando como para o educador, que terá

que passar confiança e, principalmente, credibilidade a seu aluno, evitando que recaiam

sobre ele novamente os mesmos motivos para a evasão e repetência escolar.

A EJA tem recebido também um número significativo de adolescentes, reflexo da

Deliberação n. 008/00 do CEE – Conselho Estadual de Educação – PR, que permitiu e

permite até hoje, o ingresso aos 14 (Fundamental) e aos 17 anos (Médio). Isso se

apresenta como mais um desafio ao trabalho do professor, pois as diferenças aumentam

e a metodologia precisa ser adequada. Questionamos então, como proceder para que

todos tenham realmente aproveitamento cognitivo e sejam atendidos em suas

especificidades? Como usar uma metodologia que agrade a todos e que seja ideal a cada

um deles? Este é um ponto crucial, que exige dos professores flexibilidade na didática, no

trato com os conteúdos, e também na organização do tempo.

Nesta inter-relação entre professores e alunos para atender essa gama de

diversidades é que as Diretrizes da EJA foram organizadas em eixos: Cultura; Trabalho e

Tempo. Assim, os conteúdos e a metodologia que formam a Proposta Política Curricular

da escola devem obrigatoriamente respeitar estes princípios. Na perspectiva histórico-

cultural, o currículo não pode ser pensado fora das relações sociais e a prática

pedagógica terá que produzir identidades sociais. Por isso é tão importante explorar a

história do aluno, seu mundo e a realidade que ele vive. Todas estas informações são

significativas no processo e aproximam o educando do conteúdo, uma vez que, ao se

identificar com o tema, ele consegue interagir e se ver como parte importante da aula,

percebendo que sua história, por mais insignificante que possa ter parecido até então, é

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reconhecida e é importante.

A relação com o trabalho e com o tempo também exercem forte influência na

aprendizagem, o aluno trabalhador precisa de um tempo diferenciado, onde ele possa, ao

mesmo tempo estudar e trabalhar. Esta necessidade está garantida na Proposta Política

Curricular-PPC da EJA e é regulamentada pelas Diretrizes Curriculares da Educação de

Jovens e Adultos -DCEs. No que diz respeito ao trabalho, supõe-se que, apesar de o

educando voltar à escola geralmente por questões relacionadas ao trabalho, a escola não

deve estar pautada numa preparação para o trabalho, mas sim levar este educando a

compreender sua condição em relação ao trabalho e seu poder de mudar essa relação.

Estabelecer elos entre o conteúdo e o trabalho do educando é bastante pertinente, uma

vez que o trabalho é parte de sua vida. Todavia é preciso ter cuidado para não cairmos

numa tendência tecnicista e bancária, a serviço do mundo do trabalho. Ou seja, levar

estes eixos em consideração é indispensável na educação de adultos.

Atividade: Este encontro tem por finalidade a leitura de pontos cruciais das DCEs para a

prática pedagógica da EJA. Estes pontos serão discutidos e confrontados, levando em

consideração as diferentes opiniões que devem surgir em relação a um mesmo tema,

neste caso, a uma mesma afirmação, lei ou citação extraída das DCEs.

Descrição da atividade:

Em uma apresentação de slides, colocaremos citações e trechos das DCEs com questões

referentes para serem respondidas em duplas:

• A Educação de Jovens e Adultos (EJA), como modalidade educacional que atende a

educandos-trabalhadores, tem como finalidades e objetivos o compromisso com a formação

humana e com o acesso à cultura geral, de modo que os educandos aprimorem sua

consciência crítica, e adotem atitudes éticas e compromisso político, para o desenvolvimento

da sua autonomia intelectual (PARANÁ DCEs da EJA 2006,p.27).

1. Você vê a possibilidade de aprimorar a consciência crítica e adotar atitudes éticas e

compromisso político dentro da sua disciplina dentro de sala de aula ou em sua

função na escola? Como você faz isso? Se não o faz, considera importante

repensar este ponto, como o faria?

2. Como você analisa o trabalho na escola com o compromisso político? Você

acredita ser capaz de trabalhar política sem tendência partidária? Qual importância

tem a política na vida do nosso aluno de EJA?

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• O tempo diferenciado do currículo da EJA em relação ao tempo do currículo na escola regular

não significa tratar os conteúdos escolares de forma precarizada ou aligeirada. Ao contrário,

devem ser abordados integralmente, considerando os saberes adquiridos pelos educandos ao

longo de sua história de vida. De fato, os adultos não são crianças grandes e, portanto, têm

clareza do porquê e para que estudar. Assim, os conteúdos estruturantes da EJA são os

mesmos do ensino regular, nos níveis Fundamental e Médio; porém, com encaminhamento

metodológico diferenciado, considerando as especificidades dos(as) educandos(as) da EJA; ou

seja, o tempo curricular, ainda que diferente do estabelecido para o ensino regular, contempla

o mesmo conteúdo. ( DCEs, p. 26)

1. Você concorda que os conteúdos da EJA sejam os mesmos do ensino regular? Se

concorda, o que diferencia a EJA do Ensino Regular então? Caso não concorde,

qual seria sua sugestão?

2. Você sente que a escola atende às reais necessidades dos alunos de EJA?

Acredita que os conteúdos não são tratados de forma precarizada ou aligeirada e

que consideram os saberes adquiridos pelos educandos ao longo de sua história

de vida? Que exemplos seus ou da escola retratam isto?

• Com relação às perspectivas dos educandos e seus projetos de vida, a EJA poderá colaborar

para que eles ampliem seus conhecimentos de forma crítica, viabilizando a reflexão pela busca

dos direitos de melhoria de sua qualidade de vida.( DCEs, p. 29)

1. É possível citar algum projeto que a escola ou algum professor tenha feito neste

sentido?

2. Na elaboração do Projeto Político Pedagógico– PPP ou na elaboração da Proposta

Pedagógica Curricular– PPC isto foi levado em consideração? De que forma?

• A Lei n. 9394/96, em seu artigo 38, determina que, no nível de conclusão do Ensino

Fundamental e Médio, a idade seja, respectivamente, 15 e 18 anos. De acordo, ainda, com a

Deliberação n. 008/00, do CEE-PR, o ingresso na EJA pode se dar aos 14 anos para o Ensino

Fundamental e aos 17 para o Ensino Médio. Essa alteração da idade para ingresso e

certificação na EJA, dentre outros fatores, ocasionou uma mudança significativa na

composição da demanda por essa modalidade de ensino, sobretudo pela presença de

adolescentes. ( DCEs, p. 30)

1. Em um ambiente tão diversificado, onde encontramos jovens de 14 anos até

adultos com 70 anos, como proceder para que todos tenham realmente

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aproveitamento cognitivo e sejam atendidos em suas especificidades?

2. Como usar uma metodologia que agrade a todos e que seja ideal a cada um

deles?

3. E por fim, você consegue estabelecer um clima de harmonia, uma troca de afeto

entre os alunos e entre você e eles mesmo diante da realidade que se apresenta?

Você acredita que isto mantém seus alunos animados e estimulados a

permanecerem em sala, evitando assim a evasão escolar – tema de nosso estudo?

Avaliação:

Com esta atividade, observaremos se o professor tem conhecimento de um

documento feito para nortear o seu trabalho. Como analisamos alguns pontos mais

ligados ao tema em estudo na Implementação, que é a relação professor-aluno,

queremos ver como o professor vê estes pontos. A forma de questões, é justamente para

refletir a prática pedagógica do professor e sua postura em relação aos educandos.

Bibliografia:

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes curriculares da educação dejovens e adultos no estado do Paraná. Curitiba: SEED/PR, janeiro de 2006.

PARANÁ. CEE. Resolução nº 313, de 16 de março de 2011, disponível em: http://www.sinprors.org.br/arquivos/legislacao/Resolução_CEEd_313_2011.pdf

Etapa 07 e 08

Tema central desta etapa: O currículo na educação de jovens e adultos – uma

perspectiva Freiriana e intercultural de educação em contraste com a PPC do CEEBJA de

Francisco Beltrão.

Objetivos:

• Refletir a prática pedagógica e suas implicações curriculares na EJA como forma

de evitar a evasão, valorizando o educando, sua individualidade, sua sensibilidade

e sua relação com o mundo e os demais a sua volta;

• Analisar e discutir a PPC da própria escola, estabelecendo relações com o artigo

estudado.

Fundamentação:

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O artigo de Valdo Barcelos: O currículo na educação de jovens e adultos – uma

perspectiva Freiriana e intercultural de educação em estudo nesta atividade propõe

uma análise de currículo que vai além da ação de elencar conteúdos, mas principalmente

analisar se o que levamos em consideração ao escolhermos tais conteúdos corresponde

aos anseios e vontades que compõe o íntimo do nosso educando. A proposta deste

estudo é evidenciar a necessidade de se elaborar um currículo específico para a EJA.

A posição apresentada pelo autor, no artigo em estudo para esta atividade, é de

defender a reelaboração de um currículo para a modalidade. Para ele:

a ênfase nessa, ou em qualquer outra modalidade de ensino, não pode serexclusivista, mas, sim, precisa pautar-se pela busca de uma formação aberta àdiversidade. Contemplando, dessa forma, as diferentes dimensões epossibilidades do humano, tais como a afetividade, o conhecimento geral sobreos processos culturais, o acesso aos bens e valores sociais e ecológicos domundo em que vive. Enfim, educação para ser educação, precisa estarenvolvida com o desejo de instituição de pessoas que não só busquem umposto de trabalho, mas, que, estejam buscando, também, a realização de seusdesejos e mesmo de seus sonhos.“( Valdo Barcelos p. 3)

Ao tratarmos o currículo para além do desejo de apenas buscar um posto de

trabalho, mas sim a realização de seus desejos e de seus sonhos, é preciso levantar

algumas questões:

• Em um mundo de intensas, e cada vez mais cotidianas relações

interculturais, como planejar um currículo que tenha como objetivo a troca de

experiências e de conhecimentos sem a discriminação e exclusão do outro?

• Deve existir um currículo especial para a modalidade da Educação de

Jovens e Adultos?

• Que currículo seria esse?

• Quem ou que grupos sociais e acadêmicos serão os propositores, os

principais

narradores destas propostas?

• Quem e que interesses eles representam como narradores?

• A que grupos de poder eles estão ligados e, por isto, representam?

• Como seriam escolhidos os conteúdos básicos do mesmo?

• Em que esses conteúdos básicos se diferenciariam dos demais nas outras

modalidades do processo educativo?

• A partir de que referências curriculares, existentes, elaboraríamos um

currículo para a educação de jovens e adultos?

• Teríamos que pensar a partir de outras diretrizes curriculares?

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O autor nos chama a atenção que, na maioria das vezes, ao tratar de currículo na

EJA, a maior preocupação se dá com mudanças estruturais e organizacionais. Enfim,

deixa-se de lado a importância de modificações que implicam a relação educador e

educando, a escolha de conteúdos a partir da realidade do educando, alterações de carga

horária, avaliação de conteúdos e demais fatores que envolvem o educando como ser

humano e central do processo.

A pesquisadora de currículo, numa perspectiva cultural e intercultural, Marisa

Vorraber da Costa, propõe um outro olhar para esta questão. Para essa autora,

O currículo é constituído de um conjunto de componentes, sim. Contudo,devem ser tomados de forma articulada, na medida em que os mesmos estãoorientados por uma determinada ordem e por concepções de educação e demundo. Ordem, e concepções, essas, que se estabelecem como resultado deum embate que ocorre permanentemente numa “Arena em que estão em lutavisões de mundo e onde se produzem, elegem e transmitem representações,narrativas, significados sobre as coisas e seres do mundo” (COSTA, 2005: p. 5e 6).

Reconhecer e valorizar estas diversas concepções de mundo dentro de um mesmo

ambiente, é sem dúvida uma tarefa para um educador com uma postura receptiva de

opiniões e considerações que, muitas vezes, diferem da sua e do grupo. Saber articular e

discutir isto, mantendo respeito é uma arte de mestre. Neste aspecto, reconhecemos o

preparo deste educador, que levará em consideração este desafio desde o momento que

está pensando a aula e pensando a discussão que aquele conteúdo desencadeará na

sala de aula.

Nesta atmosfera de inter-relação do conteúdo com o universo do aluno, partindo do

seu conhecimento de mundo, impossível não referenciar Paulo Freire, é justamente este o

ponto principal de sua obra – o educando e a possibilidade de sair do papel de oprimido,

excluído para a papel de cidadão capaz de mudar o seu mundo e o mundo da sua

comunidade através do conhecimento adquirido na escola. É a oportunidade de sair da

curiosidade ingênua para a curiosidade epistemológica. Para muitos a única forma de ser

reconhecido e conquistar sua cidadania. Ele não concebe uma educação desvinculada da

experiência do educando. Para Freire,

Ao pensarmos nossas práticas pedagógicas há que se levar em consideraçãoesta proposição, pois, ela nos possibilitará abrir espaços para que asexperiências trazidas pelos educandos(as) se manifestem e, mais que isso:sejam escutadas e levadas em consideração no momento de refletirmos sobreo que realmente faz sentido e tem relevância para justificar sua inclusão numadeterminada configuração curricular. E quando me refiro à experiência estouconsiderando, como tal, todo um conjunto de acontecimentos que tocam, queproduzem alterações, nas mais complexas dimensões do humano, ou seja, as

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emoções precisam estar no centro de nossas preocupações quando refletimose, consequentemente, formulamos proposições curriculares, bem como seusdesdobramentos em nossas práticas educativas. (2006, citado por ValdoBarcelos, p. 03)

A proposição que Freire se refere é o encadeamento entre as atitudes e as

experiências das pessoas, do cotidiano que produz o mundo de cada ser humano e deve

assim ser levado em consideração. É a partir das ideias destes diferentes autores que

tratam do currículo da EJA que reforço meu ideal de estudo: a importância de olhar o ser

humano que está a nossa frente com olhos atentos a sua individualidade, seus medos,

anseios e desejos, e mais que tudo isso, o tratamento ao nosso aluno com carinho,

respeito e, principalmente afeto.

Em relação a Proposta Pedagógica Curricular do CEEBJA de Francisco Beltrão,

observa-se já em sua Introdução uma preocupação com o perfil diferenciado do

educando, dando ênfase a adaptações curriculares a alunos com necessidades

educacionais especias – com destaque a surdos, cegos e alunos com limitações

intelectuais. A PPC da escola afirma que a estes será dado apoio material e

acompanhamento de profissional especializado. Ela entende que o cidadão não poderá

sofrer nenhuma discriminação, sendo esta uma garantia estabelecida pelos Direitos

Humanos. Segundo Mario Volpi,

A educação para o respeito aos direitos humanos deveria ser o conteúdo maisbásico, essencial, fundamental e inicial de qualquer processo educativo. Afinalde contas, respeitar (o) a outro (a) pela simples condição de ser uma “pessoaigual a mim” (humana) deveria ser a primeira e mais importante dasaprendizagens da vida de qualquer pessoa. (citado pela PPC do CEEBJA,2010, p. 5).

Este ideal de respeito ao ser humano, como bem cita Mario Volpi, é o que a escola

reconhece em sua clientela, que em sua grande maioria, necessita, além de respeito,

amparo, acolhimento e apoio de uma instituição criada exatamente para isto, para além

da reprodução mecânica de conteúdos. Para esta escola,

O processo educativo deve visar a formação de personalidades autônomas,intelectual e afetivamente, sujeitos de deveres e direitos, capazes de julgar,escolher, tomar decisões, serem responsáveis e prontos para exigir que nãoapenas seus direitos, mas também os direitos dos outros sejam respeitados ecumpridos. (PPC do CEEBJA -Francisco Beltrão, p.6)

A PPC da escola propõe que as disciplinas trabalhem os desafios educacionais

contemporâneos, tais como: Educação Ambiental; Prevenção ao uso indevido de drogas;

Legislação; Educação Fiscal; Enfrentamento à violência na escola; Gênero. Esta

perspectiva vai de encontro às ideias trabalhadas até então, ela reforça os conceitos de

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nossos autores, tanto de Freire, quanto de Rubem Alves. Para este último, são assuntos

como estes que devem ser levados à discussão. Em seu livro Pedagogia dos Caracóis, já

citado na primeira etapa desta Unidade, ele compara o currículo escolar a uma cebola,

esta comparação se dá devido ao mundo da criança se parecer a uma cebola, onde tudo

começa com o primeiro anel que é a sua casa. Em um outro capítulo, intitulado: A

pedagogia dos caracóis, título do livro, inclusive, ele nos chama a atenção a forma que

tratamos estes assuntos, à nossa forma acelerada de dar conta, de passar adiante, de

quantificar o ensino,

A lentidão é uma virtude a ser aprendida num mundo em que a vida é obrigadaa correr ao ritmo das máquinas. Gastar tempo conversando com os alunos.Saber sobre sua vida, seus sonhos. Que importa que o programa fiqueatrasado? A vida é vagarosa. Os processos vitais são vagarosos. Quando avida se apressa, é porque algo não vai bem. (Rubem Alves, 2010, p. 79)

Quando tratamos de EJA, esta ideia se torna mais forte ainda, pois sabemos que

nossos educandos, em sua maioria, já tiveram vários obstáculos no processo de

aprendizagem e, com certeza, um deles foi a dificuldade de acompanhar tantos conteúdos

ao mesmo tempo. Neste momento em que voltam à sala de aula, precisam de calma, de

paz e segurança, precisam de um ritmo condizente ao seu, e atender a este ritmo não é

perder tempo, mas sim ganhar a confiança deles e, consequentemente, poder seguir

adiante com maior satisfação e até mesmo será possível ensinar mais e melhor.

1ªAtividade: Esta atividade consiste na leitura e análise do artigo: O currículo na

educação de jovens e adultos – uma perspectiva Freiriana e intercultural de

educação.

Descrição da atividade:

1. Leitura completa da Introdução do artigo, ressaltando os pontos principais e

elencando os mesmos no quadro.

2. Cada participante elabora respostas para seis perguntas sobre a necessidade de

um currículo especial para a modalidade da Educação de Jovens e Adultos? Estas

perguntas estão no artigo em análise nesta atividade.

3. Contando histórias e refletindo sobre práticas pedagógicas na EJA. Após a leitura

silenciosa de três histórias contidas no artigo, os participantes serão convidados a

ler uma das histórias em voz alta, relacionando-a a um fato semelhante que eles

conhecem.

2ªAtividade: Discussão do artigo trabalhado na aula anterior, relacionando o mesmo à

Proposta Curricular da escola e à prática pedagógica da equipe e professores.

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1. Cada participante fará uma análise do currículo da sua disciplina, tal qual está

posto na Proposta Curricular da escola – PPC do CEEBJA de Francisco Beltrão.

Se houver mais professores de uma mesma disciplina, o ideal é que esta análise

seja realizada em duplas ou grupo daquela disciplina.

2. Momento de apresentar aos colegas como estão dispostos os conteúdos da sua

disciplina, no intuito de estabelecer semelhanças e diferenças entre as demais,

assim como rever se esta forma é a mais adequada à modalidade.

Avaliação:

Neste último encontro esperamos que tudo o que foi trabalhado durante o curso se

reflita aqui. Isto pode ser observado, principalmente, quando o professor falar da sua

disciplina, dos conteúdos que ela abrange, das considerações ao elencar estes

conteúdos, se ele coloca a individualidade, a história, os medos, desejos e anseios do

educando como ponto central do seu trabalho e se a metodologia que ele aplica condiz

com o a relação de afeto entre educador e educando, tanto falada, lembrada e discutida

nesta Implementação Pedagógica.

Bibliografia:

Barcelos, Valdo. O currículo na educação de jovens e adultos – uma perspectivafreireana e intercultural de educação. Disponível emhttp://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/713/238

acessado em 18/11/2014.

CEEBJA – Centro Estadual De Educação Básica Para Jovens E Adultos. PropostaPedagógica Curricular. Francisco Beltrão – PR.