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OS DESAFIOS DA LOGÍSTICA
REVERSA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
DOMICILIARES NA ÁREA RURAL DO
SERTÃO BAIANO
Cynthia Marise dos Santos Mattosinho (FASETE )
Fabiana Pereira Martins (FASETE )
Este artigo analisou a cadeia reversa de pós-consumo dos resíduos
sólidos domiciliares na área rural do município de Paulo Afonso-BA,
buscando apresentá-la como uma alternativa que possa minimizar a
incidência de impactos sociais e ambientaais, pois essas localidades
também demandam pelo tratamento e gerenciamento dos resíduos
sólidos, uma vez que se encontram submetidas a deficientes condições
de saneamento básico e, na maioria das vezes, não dispõe dos meios
adequados para efetuar o descarte, ficando totalmente vulneráveis aos
riscos oferecidos pela exposição e contato com esses materiais. Os
métodos de pesquisa utilizados foram o bibliográfico e a pesquisa de
campo, possuindo uma abordagem descritiva. A coleta dos dados foi
efetuada contemplando uma amostra de 891 domicílios situados em
povoados diversos, estabelecidos através de uma estratificação, aos
quais foi aplicado um formulário junto aos moradores. Os resultados
adquiridos por meio desta pesquisa apontaram que a destinação final
adotada na área estudada se dá de maneira incorreta. Porém, em
virtude do perfil encontrado, ou seja, jovens com níveis de
escolaridade e renda baixas, identifica-se a oportunidade de investir
em ações educativas com vistas a sensibilizar essa população para
adoção da logística reversa, cabendo também incentivar a presença de
uma maior quantidade de atravessadores que possam garantir uma
periodicidade regular para o recolhimento e comercialização dos
materiais, haja vista que é explorada em pequena escala e de forma
desestruturada, atingindo um público pequeno, se comparado ao
potencial existente.
Palavras-chaves: Resíduos domiciliares, Logística reversa, Rural.
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
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Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
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1. Introdução
É importante ressaltar que, apesar de ser um assunto bastante debatido, não há muitas
informações sobre os resíduos sólidos domiciliares rurais, já que são estes o foco do estudo,
antes são vistos somente aqueles provenientes das atividades agropecuárias. Deste modo, se
faz necessário enfatizar, que os aspectos, mencionados acima, são inerentes a sociedade em
sua totalidade, se estendendo da cidade até do campo, uma vez que os hábitos de consumo da
população se assemelham e, portanto os problemas provenientes dessas práticas acometem
tanto o meio urbano como o rural, pois de acordo com Barbosa (citado por FRATA et. al,
2010, p.2), o meio rural não é mais um espaço onde são desenvolvidas atividades
exclusivamente agrícolas. Esse meio tem passado por intensas mudanças, que induzem a
pluralidade, fazendo com que o espaço seja tido como uma continuação da zona urbana.
Entretanto, segundo prerrogativa estabelecida na Constituição Federal, fica a cargo do poder
público municipal, através de seus órgãos de atuação, realizar as ações necessárias para
proporcionar a coleta e destinação adequada dos resíduos gerados dentro de seu território,
portanto a cobertura desses serviços deve se estender também para essas áreas, é o que afirma
o IBGE (citado por SANTOS, 2008) ao declarar que a responsabilidade pela proteção do meio
ambiente, pelo combate à poluição e pela oferta de saneamento básico a todos os cidadãos
brasileiros está prevista na Constituição Federal, que deixa ainda, a cargo dos municípios,
legislar sobre assuntos de interesse local e de organização dos serviços públicos. Por isto, e
por tradição, a gestão da limpeza urbana e dos resíduos sólidos gerados em seu território é de
responsabilidade dos municípios.
Em resposta a necessidade de remediar os problemas originados a partir dos resíduos sólidos,
de modo geral, empreende-se esforços no sentido de desenvolver mecanismos com tal
finalidade, sendo que uma das formas é fazer vigorar as sanções legais, que surgem para
regulamentar à utilização dos recursos naturais, é o caso da aprovação da Política Nacional de
Resíduos Sólidos (PNRS), que estabelece o controle sobre esses materiais, isto é, regulamenta
sua geração e posterior destinação, a fim de minimizar os impactos negativos advindos dessas
ações. Andrade (2008, p.6) reforça que “a legislação ambiental está cada vez mais rígida,
obrigando uma maior preocupação ambiental.”
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Inserida neste cenário tem-se o município de Paulo Afonso, local onde foi desenvolvida a
pesquisa, possuindo uma população total de 108.396 pessoas, destas 93.404 são da zona
urbana e 14. 992 são da rural (13,8% - IBGE, 2011). Esta última, por sua vez, distribuí-se em
4.120 domicílios que produzem resíduos todos os dias, porém em apenas 3 desses o destino
do lixo é feito em caçamba de serviço de limpeza e em 374 é realizado diretamente por
serviço de limpeza na propriedade de residência e no entorno (SEI, 2010), sendo que o
restante, 3.743, recebem outro tipo de descarte, ou seja, a maioria absoluta não recebe a
destinação apropriada, representando assim uma demanda que necessita ser atendida.
Seguindo esse foco, este artigo tem como propósito principal, apresentar a logística reversa
como um mecanismo de promoção, por meio de suas atividades, da preservação ambiental e
da qualidade de vida das pessoas, voltando-se para a causa dos resíduos sólidos domiciliares
produzidos na zona rural do município de Paulo Afonso/BA.
Em termos gerais, esta pesquisa mostra uma análise da situação atual dos resíduos sólidos
domiciliares rurais, onde identificou a destinação que é dada aos mesmos, seguindo por
avaliar a percepção da população residente nos povoados acerca das questões ambientais, e
mais diretamente dos problemas alavancados em decorrência da geração de resíduos nas
propriedades, bem como verifica as medidas que estão sendo tomadas pelo órgão público
municipal para sanar os danos incorridos, já que é de sua incumbência tal responsabilidade.
Tendo, por fim, buscado evidenciar a necessidade da prática da logística reversa de pós-
consumo ser estruturada nessas áreas, tantas vezes, negligenciadas e desassistidas.
Tendo em vista o contexto apresentado, esta pesquisa procurará responder ao seguinte
questionamento: como a logística reversa pode influenciar no processo de descarte correto dos
resíduos domiciliares rurais do município de Paulo Afonso de maneira que minimize os
impactos socioambientais?
2. Referencial Teórico
2.1 A logística reversa
Mediante as novas necessidades e mudanças que estão ocorrendo em nível mundial, nota-se
que o foco da logística está sofrendo modificações. Considerando esse contexto, percebe-se a
relevância que a preservação ambiental ganhou, principalmente frente às catástrofes
enfrentadas nos últimos anos em toda parte. Em virtude desses aspectos e levando em conta
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seu escopo de atuação, a logística tem dado ênfase ao gerenciamento dos fluxos reversos, é o
que afirma Dornier et. al. (2000), no início o investimento em logística focou-se
principalmente nos fluxos das empresas para os mercados. Preocupações crescentes para
proteger o ambiente e conservar recursos criaram a necessidade de gerenciar fluxos reversos –
dos mercados de volta à empresa. A ênfase aqui é na reutilização, reembalagem, renovação ou
disponibilização de artigos usados.
Para Rogers e Tibben-Lembke (1999) a logística reversa já começou a ganhar contornos
melhor delineados, destacando as atividades que a compõe, além de revelar a finalidade da
prática de forma mais ampliada, então, foi assim conceituada, processo de planejamento,
implementação e controle da eficiência, do custo efetivo do fluxo de matérias-primas,
estoques de processo, produtos acabados e as respectivas informações, desde o ponto de
consumo até o ponto de origem, com o propósito de recapturar valor ou adequar o seu destino.
Os canais reversos lidam diretamente com o retorno do produto do ponto final de consumo
para o ponto de origem. Os materiais ao fazerem esse percurso devem ganhar a destinação
mais apropriada, podendo seguir caminhos diferentes, a depender de suas condições e
propriedades, que vai desde a reciclagem, remanufatura ou o descarte final.
De forma sucinta, pode-se dizer que a principal diferença entre ambas se encontra nas
condições de uso dos materiais: no começo ou no final de seu ciclo de vida útil, pós-venda e
pós-consumo, respectivamente. Considerando essa característica, é adotado o processo para
revalorização desse material que, de acordo com a área, possui etapas distintas.
2.2 A logística reversa e o gerenciamento dos resíduos sólidos domiciliares na área rural
Uma definição mais restrita do que vem a ser resíduo rural é citada por Mattosinho et.
al.(2011) como sendo todos os tipos de resíduos gerados pelas atividades produtivas nas zonas
rurais, distinguindo-se três categorias: os resíduos agrícolas que são aqueles produzidos no
campo, provenientes do processo de colheita dos produtos agrícolas, os quais na maioria das
vezes acabam sendo incorporados no solo usado para o cultivo; os florestais que se
caracterizam por ser aqueles gerados e deixados na floresta, resultantes da extração de
madeira; e os pecuários, sendo aqueles formados por esterco e outros produtos advindos da
atividade biológica dos animais (bovino, suíno, caprino e outros)
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Os tipos de resíduos, citados acima, são aqueles que comumente eram encontrados em maior
quantidade na área rural, e não representam alto grau de risco para as pessoas ou para o meio
ambiente, pois podem ser aproveitados e absorvidos pela própria natureza, seja em forma de
adubo, produção de fertilizantes naturais ou outras finalidades, promovendo sua
sustentabilidade. Porém percebe-se que em decorrência das modificações nos modos de
produção, com a chegada da modernização no campo, vê-se a composição do lixo ser
alterada, enquadrando-se nos novos padrões de consumo, espelhados nos hábitos urbanos,
assim:
Pode-se dizer que o meio rural brasileiro se urbanizou nas duas últimas décadas, como
resultado do processo de industrialização da agricultura, de um lado, e, de outro, do
transbordamento do mundo urbano naquele espaço que tradicionalmente era definido como
rural. (SILVA, 1997).
Além de todos os tipos de lixo normal, que incluem a matéria orgânica do dia-a-dia, restos de
alimentos, o material reciclável (vidros, latas, papel e plásticos), entre outros mais comuns,
alguns tipos não despertam cuidados e podem causar sérios danos ao ambiente da
propriedade, por conter elementos químicos na forma iônica que são absorvidos e acumulados
pelo organismo. São elementos presentes nas pilhas e baterias, que lança níquel e cádmio no
ambiente; nas lâmpadas que possuem mercúrio, um metal pesado e tóxico que pode
contaminar solos e a água; nas pastilhas e lonas de freios, que contêm amianto e se acumula
nos pulmões; nos adubos químicos, que são ricos em fósforo; nas embalagens de agrotóxicos
e produtos veterinários, além de dejetos de animais com especial atenção para suínos e aves.
(DAROLT, 2008).
No entanto, de acordo com dados revelados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) em pesquisa realizada em 2010, tem-se que no Brasil, a despeito das condições do
serviço de coleta do lixo, nos domicílios das áreas urbanas está acima de 90%, variando de
93,6% no Norte a 99,3% no Sul, um cenário bem diferente do encontrado na zona rural,
apesar da ampliação em comparação com 2000, passando de 13,3% para 26,0%, em média.
Esse fato pode ser justificado em razão da “questão do gerenciamento dos resíduos sólidos
rurais é pouco estudada e consideravelmente menos abordada que a gestão dos resíduos
urbanos” (OLIVEIRA E FEICHAS, 2007)
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Na ausência da disponibilidade desse mecanismo de disposição são adotadas outras formas de
destino, haja vista a dificuldade e o alto custo da coleta dos resíduos rurais, que tornam a
opção de queimá-lo a mais adotada pelos moradores dessas regiões. Essa alternativa cresceu
em torno de 10%, passando de 48,2% em 2000 para 58,1% em 2010. No tocante a solução de
jogar o lixo em terreno baldio, que em 2000 era adotada por moradores de 20,8% dos
domicílios rurais, reduziu para 9,1% em 2010. (IBGE, 2010).
Para tanto é necessário disseminar as informações pertinentes a cada um dos elos da cadeia
reversa dos resíduos sólidos domiciliares rurais, levando-se em conta as especificidades
desses locais, com a finalidade de assegurar o seu efetivo funcionamento, pois somente por
meio da participação de cada um dos integrantes, principalmente da população, já que esta é a
detentora do material a ser direcionado para o ciclo produtivo, é possível gerar os resultados
pretendidos, uma vez que as atividades da LR estão atreladas a três dimensões: [...]
reutilização dos produtos, recuperação de produtos e reciclagem de materiais – que podem
significar a redução de recursos em um sistema e representar um caminho para retorno e reuso
de resíduos gerados. Essa é uma importante ferramenta no gerenciamento integrado dos
resíduos sólidos permitindo a reintrodução dos materiais na cadeia de produção. (MATOS,
2011, p. 33).
Diante do exposto, enfatizando a ineficiência dos sistemas de coleta e de disposição final,
ambos com a configuração atual se constituem em modelos falidos de gerenciamento dos
resíduos sólidos, de modo geral, reforçam o quanto é oportuno lançar mão das ações ofertadas
por meio da logística reversa para suprir as lacunas existentes.
3. Metodologia
Foi feito o delineamento dos aspectos referentes ao descarte dos resíduos sólidos nos
domicílios da área rural de Paulo Afonso, evidenciando suas características, porém sem
intervir nesse cenário.
Os critérios para estabelecer a população e a amostragem a serem estudados começou por
selecionar um dos elos da cadeia reversa para ser analisado profundamente, sendo que essa
escolha foi feita tanto no intuito de dar representatividade a presente pesquisa quanto em
virtude da extensão da área geográfica e pela quantidade de comunidades diferentes, além de
considerar que não há dados científicos que comprovem a existência de um canal reverso de
pós-consumo nessa área, assim optou-se pelo consumidor final, que nesse caso são os
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moradores da zona rural do município. São eles os que podem afirmar de maneira segura a
respeito da comercialização de resíduos sólidos, e também possuem papel decisivo enquanto
agentes participantes da logística reversa, já que são os que fazem uso dos bens e efetuam a
destinação final, então da conscientização desses depende o funcionamento efetivo do canal
reverso.
Foram considerados os dados dispostos pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística) coletados no censo demográfico 2010, tendo, portanto, um universo formado por
4.120 domicílios particulares permanentes ocupados, que estão situados nos vários povoados
e aglomerados rurais, que juntos, por sua vez, constituem os 33 setores rurais.
Em virtude da elevada quantidade de domicílios que formam o universo se fez necessário
estabelecer uma amostra, que segundo Lakatos e Marconi (2001, p. 163), “é uma parcela
convenientemente selecionada do universo (população); é um subconjunto do universo.” O
tamanho da amostra foi apontado conforme o quadro 01, que determina a amplitude e as
margens percentuais de erro.
Quadro 01 - Quadro pra determinar a amplitude de uma amostra tirada de uma população
finita com margens de erro de 1%, 2%, 3%, 4%, 5% e 10% na hipótese de p= 0,5. Coeficiente
de confiança de 95,5%.
Fonte: Tagliacarne (citado por GIL, 2002, p.124).
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Assim, baseado na população de 4.120 domicílios permanentes ocupados na zona rural foram
aplicados um total de 891 formulários, possuindo uma margem de erro de 3% e grau de
confiabilidade de 97%, contemplando 17 setores rurais, sendo representados por 14 povoados
definidos a seguir.
Desta forma foram escolhidos alguns desses locais, primeiramente, segundo o critério de
localização, ou seja, se buscou atingir pontos em cada extremidade da extensão territorial que
abrange toda a zona rural, em função de obter uma amostra representativa. Após essa etapa
optou-se por aquele povoado, contido no setor, com maior número de domicílios. Por
conseguinte, as comunidades onde foram aplicados os formulários estão dispostas na tabela
01.
Tabela 01 - Povoados com aplicação de formulários.
Povoado Número de
domicílios
Porcentagem de
representatividade
Número de
questionários a ser
aplicado
Caiçara I 277 8,57% 93
Arrastapé 249 7,72% 87
Baixa Funda 206 6,39% 56
Campos Novos 102 3,05% 42
Juá 885 27,40% 142
Malhada Grande 204 6,31% 74
Riacho 710 21,99% 120
Rio do Sal 72 2,22% 27
Salgadinho 53 1,65% 23
São José 74 2,29% 31
Serrote 85 2,63% 38
Sítio do Lúcio 215 6,65% 72
Sítio do Tará 48 1,48% 20
Várzea 152 4,70% 66
Total: 14 3331 100,00% 891
Fonte: Baseado em dados do IBGE (2010).
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Para efeitos dessa pesquisa foi feita a aplicação formulário, o qual segundo Andrade (1999),
por também ser “constituído por uma série de perguntas, mas não dispensa a presença do
pesquisador”, sendo estes direcionados para os domicílios. Ressalta-se que esse instrumento
foi escolhido em virtude de vislumbrar a necessidade de esclarecimento das questões junto
aos respondentes. A aplicação se deu no período compreendido entre 01 julho a 10 de
setembro de 2012, composto por 23 questões, destas 22 fechadas e 1 aberta.
4. Apresentação e Análise dos Resultados
4.1 Análise dos resultados da pesquisa com os produtores rurais
O município de Paulo Afonso ocupa uma área territorial de 1.700,40 quilômetros quadrados.
Nessa área distribui-se a cidade, a zona rural e áreas não povoadas (REIS, 2004). A
localidade, procurada como pouso de boiadas, começou a exigir desenvolvimento comercial
que atendesse à solicitação de gêneros, por parte, não só dos viajantes, como da população
local. O lugarejo já era expressivo núcleo demográfico do município de Glória, quando o
Governo Federal, em 15 de março de 1948, criou a Companhia Hidrelétrica do São Francisco,
com a finalidade de aproveitar a energia da Cachoeira de Paulo Afonso. Em torno das
instalações da usina cresceu a cidade. Porém, foi somente em 28 de julho de 1958, que a Lei
Estadual n.° 1.012 deu ao Distrito de Paulo Afonso autonomia política tornando-o município,
já que antes pertencia a Glória. (IBGE, 2012).
4.2 Análise dos resultados com os moradores dos povoadosados
4.2.1 Tipos de materiais e modo de descarte
Nesse tópico do formulário as perguntas foram elaboradas a fim de traçar o panorama atual da
geração de resíduos sólidos, buscando avaliar em que situação se encontra o descarte e as
formas pelas quais é realizado, principalmente, em casos de não dispor de mecanismos
apropriados para a destinação final.
Dentro desse contexto, quando se perguntou qual a destinação, mais comumente, dada aos
resíduos produzidos no domicílio, a resposta foi condicionada às alternativas que a população
dessas localidades possuem, ou seja, apenas dois dos povoados pesquisados dispõem de
coleta, os mais populosos, sendo o Juá e o Riacho, por isso o alcance do percentual de 24%,
considerado alto se comparado aos demais. Porém, a prática mais comum, indicada por 65%
dos respondentes, é a queima dos resíduos, na própria propriedade. Ainda foram citadas as
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destinações em que os resíduos são enterrados (na própria propriedade), somando 5%, e a que
são jogados em terreno baldio ou logradouro, correspondendo a 6%, conforme disposto no
gráfico 01. Situação também constatada pelo IBGE (2010), a nível nacional, segundo o qual
“a dificuldade e o alto custo da coleta do lixo rural tornam a opção de queimá-lo a mais
adotada pelos moradores dessas regiões.”
Gráfico 01 - Destinação final dos resíduos sólidos domiciliares rurais.
Fonte: Pesquisa de campo realizada
Outra problemática envolvida nessa atividade é a disposição, que também se efetiva de forma
incorreta, haja vista que os resíduos são colocados em contato direto com o solo, próximo às
matas nativas e das terras cultiváveis e usadas para a criação de animais. Além disso, há a
incidência de outros fatores, isto é, como ficam acumulados até atingir certo montante, sofrem
a ação do vento que leva os materiais, como sacolas plásticas e papéis, para as propriedades
próximas, existindo animais nessas áreas que podem vir a ingerir esses itens causando
acidentes e a perda desses, trazendo prejuízos. Outro fator climático que também influi é a
chuva, pois quando molhados, esses resíduos não podem ser queimados, permanecendo por
mais tempo a céu aberto, que causa o aumento da proliferação de insetos e o risco da
transmissão de doenças por meio de vetores que aí se propaguem, onde as pessoas podem vir
a serem acometidas.
Na sequência tem-se a destinação final, que também não é considerada a mais adequada, que
trata-se da queima a céu aberto, pois de acordo com a PNRS (Brasil, 2010), essa alternativa
somente é indicada em casos extremos.
Percebe-se que diante da inexistência de mecanismo de descarte apropriado busca-se
alternativas diversas, conforme evidencia a figura 01, que pelo alto grau de indicação,
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sinaliza que a presença dos resíduos sólidos representa um incômodo, uma vez que a maioria
dos respondentes procura adotar a forma que mais se aproxima da destruição total desses
materiais (queima).
Outra informação relevante reside no fato que mesmo naqueles povoados que indicaram a
existência de coleta, um bom número da população ainda persiste em queimar o lixo na sua
propriedade, e muito mais que isso, ainda jogam em terrenos baldios ou logradouros, isso
reafirma, mais uma vez, a necessidade de ações educativas que promovam a informação
dessas pessoas para alertá-las que comportamento devem adotar, tendo em vista que a PNRS
institui a responsabilidade compartilhada e isso inclui a participação efetiva desses agentes no
processo de descarte e da logística reversa dos resíduos sólidos.
Figura 01 – A, B - Tipos de destinação final dos resíduos sólidos domiciliares rurais nos
povoados: Sítio do Lúcio (A) - enterrado; Serrote (B) - jogado a céu aberto.
A B
Fonte: Pesquisa de campo.
Dando sequência a avaliação dos meios de descarte adotados na zona rural, questionou- se
sobre a utilização de algum recipiente para acondicionamento dos resíduos, a fim de
minimizar o contato desses com o ambiente, principalmente com o solo, as pessoas e os
animais.
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Conforme mostra o gráfico 02, denota-se que metade da população amostral (50%) afirmou
que acondiciona os materiais a serem descartados em sacolas plásticas ou em outros
recipientes, como caixas de papelão, sacos de nylon, etc., geralmente, reaproveitados. O
intuito é não deixar que o lixo se espalhe pela propriedade e manter o domicílio e o entorno
limpos, além de facilitar o manuseio no momento de queimar ou enterrar, porém não quer
dizer, propriamente, que receba esse destino. Já nas demais residências, 26% declarou jogar
os resíduos diretamente no solo, e isso significa que ele pode estar ficando a céu aberto, sem
receber nenhuma destinação final, ou fica sendo acumulado para então ser queimado e/ou
enterrado. O restante, que corresponde a 24% das pessoas, é o valor diretamente relacionado
aos povoados Juá e Riacho, pois, apenas esses possuem coleta, logo somente eles poderiam
acondicionar os resíduos em recipientes para serem coletados.
Gráfico 02 - Acondicionamento dos resíduos sólidos para serem descartados.
Fonte: Pesquisa de campo
Além dessas contribuições, percebe-se que o grande número de pessoas que se preocupam em
acondicionar os resíduos sólidos, enquanto são acumulados para receberem a destinação final,
pode representar uma oportunidade quando se trata da coleta seletiva ou até mesmo da
logística reversa, pois demonstram disponibilidade, possivelmente, desses agentes realizarem
a separação desses materiais e de direcioná-los e conduzi-los para os locais adequados de
recolhimento e descarte.
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Outro ponto que merece destaque é que, uma vez identificado o descarte de pilhas, baterias,
lâmpadas e produtos eletrônicos, percebe-se a necessidade de estruturar medidas que
viabilizem a destinação correta desses materiais pela população rural, pois para estes itens,
entre outros, o processo de logística reversa é obrigatório, conforme disposto no Art. 33 da
PNRS, [...] são obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante
retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público
de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes.[...] (BRASIL, 2010).
A revenda de resíduos sólidos pode ser um fator que impulsione o retorno desses materiais ao
ciclo produtivo, por isso foi verificado a existência dessa alternativa na zona rural, além de
obter os subsídios iniciais para começar a delinear a estrutura da cadeia de logística reversa
que pode estar operando nessas comunidades. Para isso, investigou-se, a princípio, a
ocorrência desse comércio, em tempo presente ou passado, e assim se tornou conhecido que
88% das pessoas nunca venderam materiais no fim de sua vida útil, ou seja, o que caracteriza
os canais reversos de pós-consumo. No entanto, os 12% restante são adeptos dessa prática.
Salienta-se que apesar de ser um número, relativamente, baixo, é totalmente condizente com a
situação encontrada a nível nacional, haja vista que uma pequena quantidade dos resíduos
sólidos gerados no Brasil são reaproveitados, se comparado ao que é produzido, havendo
muito no que avançar, em termos de disseminação e efetiva prática da logística reversa e das
demais diretrizes estabelecidas na PNRS. Basta considerar os números conseguidos através
das iniciativas de reciclagem, que de acordo com a CEMPRE (Compromisso Empresarial para
Reciclagem, 2010) é um mercado que movimenta cerca de R$ 12 bilhões por ano, mas o
Brasil ainda perde outros R$ 8 bilhões por não reaproveitar os resíduos que são destinados aos
lixões ou aterros controlados. Cerca de 70% das cidades brasileiras descartam o lixo dessa
forma.
Em uma visão geral, tem-se a tabela 02, que sintetiza e expõe a representatividade de cada
tipo de resíduo comercializado com relação à amostragem, dessa forma, aproximadamente
3%, de todas as possibilidades potenciais de revenda, se concretiza, havendo, portanto um
vasto campo para se propagar. Nesse cenário, o item que se destaca como mais vendido está o
alumínio, seguido por “ferro-velho”, as garrafas pet, o vidro, e por último, o papelão.
Tabela 02 - Tipos de resíduos comercializados na área rural.
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COMERCIALIZAÇÃO DE RESÍDUOS
TIPO DE
MATERIAL
N º DE PESSOAS QUE
COMERCIALIZAM
Nº TOTAL DE
PESSOAS PORCENTAGEM
Alumínio 93 891 10,44%
Vidro 4 891 0,45%
Papelão 2 891 0,22%
Pet 10 891 1,12%
Ferro-velho 13 891 1,46%
TOTAL 122 4455 2,74%
Fonte: Pesquisa de campo
Em relação ao alumínio é o item vendido no maior número de povoados, 12 deles, exceto na
Várzea e na Baixa Funda. Esse dado retrata o cenário nacional, pois segundo o IBGE (2010),
“é o campeão de reciclagem no país, com índice de 90%”, destaque para as latinhas que
“aproximadamente 98% da produção nacional de latas consumidas foi reciclada em 2010.”
(CEMPRE, 2011).
A comercialização desse item, na zona rural do município, se dá ao preço médio de R$ 1,25,
cuja periodicidade mais freqüente é a anual e os principais compradores são aqueles que vêm
de outras localidades, normalmente, da área urbana, sendo eles mesmos que se dirigem até os
povoados para comprarem os resíduos, seguido pelo transporte destes para outros locais.
Destaca-se o Rio do Sal com o maior percentual de pessoas que participam desse processo, e
o Arrastapé é o menos envolvido, com 2% de representatividade, embora, neste último, o
preço de revenda do alumínio seja praticado a um preço superior, R$ 2,00, quando comparado
aos demais, que mesmo assim possuem um percentual de participação mais elevado.
O vidro é comercializado em apenas 2 dos povoados, a um preço médio de R$ 0,45/kg,
semestralmente e para atravessadores de outras localidades. Seu potencial, atual de
comercialização, é explorado somente em 2%. No Brasil 47% das embalagens de vidro foram
recicladas em 2010, somando 470 mil ton/ano. (CEMPRE, 2011).
O papelão é vendido somente no Riacho, atingindo apenas 2% de sua população potencial, ao
preço de R$ 0,15/kg, mensalmente, e para atravessadores do próprio povoado. Diferentemente
da média do país, em que 70% do volume total de papel ondulado (papelão) consumido no
Brasil em 2010 foi reciclado. (CEMPRE, 2011). Pode se explicar em virtude do preço de
comercialização desse material ser baixo.
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As garrafas pet, por sua vez, são vendidas em 3 dos 14 povoados, a um preço médio de R$
0,25/kg, com periodicidade mensal e, em sua maioria, para atravessadores de outras
localidades. Conforme a CEMPRE (2011), 56% das embalagens pós-consumo foram
efetivamente recicladas em 2010, totalizando 282 mil toneladas. As garrafas são recuperadas
principalmente através de catadores e cooperativas, além de fábricas e da coleta seletiva
operada por municípios.
Já os materiais que são denominados, popularmente, como ferro-velho, trata-se do ferro e
derivados presente em inúmeros itens, é revendido em 5 povoados, ao preço médio de R$
0,40/kg, em alguns locais mensalmente em outros semestralmente, para clientes de outras
localidades. Atinge 4% de seu potencial de comercialização.
Percebe-se, de modo geral, e em conformidade com o resultado total encontrado e discutido
na tabela 03, que é baixo o percentual dos domicílios potenciais atingidos, para todos os
materiais, além da periodicidade de comercialização se dá de forma irregular, apontando para
a necessidade de promoção de campanhas para sensibilização e informação da comunidade e
também de uma estruturação do canal reverso de pós-consumo, adequado as particularidades
da região, de maneira que assegure sua funcionalidade e alcance os resultados pretendidos, em
termos de benefícios para a sociedade e para o meio ambiente.
Essa iniciativa demonstra uma oportunidade interessante, servindo de modelo a ser
implantado nos demais povoados, pois ao suscitar um responsável, residente na comunidade,
funcionará como ponto de referência e concentração de todo o material arrecadado ou
comprado, direcionado pelos próprios moradores, de maneira que irá facilitar a execução de
todo o processo de recolhimento, acondicionamento e transporte dos resíduos para o local
onde possa receber a destinação mais adequada, promovendo efetivamente a responsabilidade
compartilhada, tão defendida na PNRS.
Logo abaixo, na figura 02, segue uma esquematização, para melhor visualização e
entendimento, do processo de comercialização de resíduos que é executado na zona rural do
município, com base nos dados explanados anteriormente.
Figura 02 - Processo de comercialização de resíduos na área rural.
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APJ
AOL
APP
DOMICÍLIO
*AOL= Atravessador de outras localidades; *APP= Atravessador do próprio povoado; *APJ=
Atravessador do povoado Juá.
Fonte: Pesquisa de campo
Com a totalidade das informações obtidas, até então, a respeito do descarte dos resíduos
sólidos domiciliares rurais, e considerando o escopo e o objetivo da presente pesquisa, pode-
se dar início ao delineamento de sua cadeia reversa de pós-consumo, assim apresenta-se o
fluxograma, na figura 03, que demonstra as alternativas adotadas, atualmente, para os
referidos materiais no final de sua vida útil.
Figura 03 - Fluxograma da cadeia reversa de pós-consumo dos resíduos sólidos domiciliares
rurais.
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DOMICÍLIO
Existe a coleta?
Coleta
SIM
Transporte
Local de
deposiçaõ
Estar nas
condições ideais?
Acumular
NÃO
NÂO
INÍCIO
Queimar FIM
Acondicionar
Acumular
Acumular
NÂO
COMERCIALIZAÇÃO
Comercializar
com AOL?
NÂO
SIM
Jogar a céu
aberto?
Queimar?
NÃO
Enterrar
Comercializar
com APP?
NÂO
Revender para
AOL?
Revender para
AOL?SIM
SIM
SIM
SIM
NÂO
SIM
SIM
SIM
NÃO
SIM
NÃO
Comercializar
com APJ
*AOL= Atravessador de outras localidades; *APP= Atravessador do próprio povoado; *APJ=
Atravessador do povoado Juá.
Fonte: Pesquisa de campo
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4. Considerações finais
No tocante ao processo de descarte efetuado nos domicílios rurais foi evidenciada a aplicação
de algumas práticas, sendo que todas essas possuem algum agravante que resulta em danos e
prejuízos, seja para a população ou para o meio ambiente. Até mesmo naquelas localidades
em que existe a coleta há a incidência de malefícios, pois não são usados os meios adequados
para realizá-la e a destinação final recebida é a queima, a céu aberto, do montante de materiais
recolhidos e acumulados, em área situada no próprio povoado, lançando gases tóxicos no ar,
além de não ser aplicável para todo e qualquer item, pois há aqueles que não são destruídos
completamente (alumínio, vidro, etc.) e após esse processo ainda permanecem resíduos que
continuam dispostos no solo.
Mediante a execução da pesquisa foi possível identificar os impactos sociais e ambientais
decorridos da geração dos resíduos e que estão incidindo sobre a área estudada, uma vez que,
por meio desta, conheceu-se o quadro de ocorrência de enfermidades e de acidentes com
animais e crianças, bem como o grau de risco e exposição ao qual estão submetidos. Também
foram relatadas as condições de uso do solo cultivável e da água de consumo, que apesar das
melhorias na forma de abastecimento do recurso hídrico e da redução da utilização das terras
para a produção agrícola, houve o registro de casos em todas essas variáveis investigadas,
sinalizando para a contaminação desses fatores e o comprometimento da saúde pública em
virtude do contato direto e indireto com os resíduos sólidos.
No que concerne a prática da logística reversa na zona rural do município de Paulo Afonso,
foi comprovada sua existência, todavia em números não muito expressivos e de forma
desestruturada. Contudo, revela a possibilidade de ser ampliada por meio da mobilização da
população acerca dos benefícios advindos, pois, dificilmente, percebem outras contribuições,
em termos ambientais e sociais, sendo mais evidente o lado financeiro do processo. Em razão
do pouco conhecimento demonstrado, já que descartam todo tipo de material junto do lixo
comum, também, é preciso alertá-las sobre aqueles materiais que tem canal reverso
obrigatório e instituído em lei, uma vez que o estabelecimento de marcos regulatórios, como a
PNRS, dão outra dimensão de debate para o assunto, ganhando mais ênfase. Mas para que as
pessoas cumpram com esse papel, considerando a responsabilidade compartilhada, precisa-se,
além da informação, disporem de postos de coleta mais acessíveis a essas localidades.
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