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3678 OS DIREITOS DE PERSONALIDADE EM FACE THE RIGHTS OF PERSONALITY IN LIGHT OF FROM SCRATCH FROM DIGNITY FROM PERSON HUMANA José Sebastião de Oliveira Mariângela Pennacchi RESUMO Os direitos da personalidade são direitos subjetivos da pessoa humana, incluídos aqui aspectos de ordem física, psíquica e moral. Comportam várias espécies: direito à vida, à liberdade, ao nome, à honra, à imagem, à privacidade, ao corpo, dentre outros. O presente artigo fará um estudo acerca dos três últimos (imagem, privacidade e direito ao corpo), trazendo seus conceitos, características e as limitações que sofrem os exercícios desses direitos. Limites estes intrínsecos, quando demarcados pela própria lei que estabelece o seu conteúdo, e extrínsecos, quando resultantes da conjugação de outras situações protegidas, tendo em vista que os interesses protegidos pelos direitos da personalidade podem conflitar com outros direitos e poderes protegidos na ordem jurídica. O mais importante é que, embora não sejam limitados, tais direitos, quando exercitados, devem respeitar a dignidade da pessoa humana, princípio constitucional de maior valor do ordenamento jurídico brasileiro, base de toda a ordem principiológica. PALAVRAS-CHAVES: PALAVRAS-CHAVE: DIREITO AO PRÓPRIO CORPO, HONRA, DISPONIBILIDADE, IMAGEM, PERSONALIDADE, PRIVACIDADE. ABSTRACT The rights of the personality are right subjective here of the person human being, enclosed aspects of physical, psychic and moral order. They hold some species: right to the life, the freedom, the name, the honor, the image, the privacy, the body, amongst others. The present article will make a study concerning the three last ones (image, privacy and right to the body), bringing its concepts, characteristics and the limitations that suffer the exercises from these rights. Limits these intrinsic ones, when demarcated for the proper law that establishes its content, and extrinsic, when resultant of the conjugation of other protected situations, in view of that the interests protected for the rights of the personality can conflict with other rights and powers protected in the jurisprudence. Most important it is that, they are even so not limited, such rights, when Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.

OS DIREITOS DE PERSONALIDADE EM FACE THE RIGHTS … · constitucional, pode-se afirmar que é integrante do Direito Civil Constitucional. No artigo 12, o Código Civil tratou de um

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OS DIREITOS DE PERSONALIDADE EM FACE

THE RIGHTS OF PERSONALITY IN LIGHT OF FROM SCRATCH FROM DIGNITY FROM PERSON HUMANA

José Sebastião de Oliveira Mariângela Pennacchi

RESUMO

Os direitos da personalidade são direitos subjetivos da pessoa humana, incluídos aqui aspectos de ordem física, psíquica e moral. Comportam várias espécies: direito à vida, à liberdade, ao nome, à honra, à imagem, à privacidade, ao corpo, dentre outros. O presente artigo fará um estudo acerca dos três últimos (imagem, privacidade e direito ao corpo), trazendo seus conceitos, características e as limitações que sofrem os exercícios desses direitos. Limites estes intrínsecos, quando demarcados pela própria lei que estabelece o seu conteúdo, e extrínsecos, quando resultantes da conjugação de outras situações protegidas, tendo em vista que os interesses protegidos pelos direitos da personalidade podem conflitar com outros direitos e poderes protegidos na ordem jurídica. O mais importante é que, embora não sejam limitados, tais direitos, quando exercitados, devem respeitar a dignidade da pessoa humana, princípio constitucional de maior valor do ordenamento jurídico brasileiro, base de toda a ordem principiológica.

PALAVRAS-CHAVES: PALAVRAS-CHAVE: DIREITO AO PRÓPRIO CORPO, HONRA, DISPONIBILIDADE, IMAGEM, PERSONALIDADE, PRIVACIDADE.

ABSTRACT

The rights of the personality are right subjective here of the person human being, enclosed aspects of physical, psychic and moral order. They hold some species: right to the life, the freedom, the name, the honor, the image, the privacy, the body, amongst others. The present article will make a study concerning the three last ones (image, privacy and right to the body), bringing its concepts, characteristics and the limitations that suffer the exercises from these rights. Limits these intrinsic ones, when demarcated for the proper law that establishes its content, and extrinsic, when resultant of the conjugation of other protected situations, in view of that the interests protected for the rights of the personality can conflict with other rights and powers protected in the jurisprudence. Most important it is that, they are even so not limited, such rights, when

Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.

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exercised, must respect the dignity of the person human being, constitutional principle of bigger value of the Brazilian legal system, base of all the principles of the Federal Constitution.

KEYWORDS: KEY-WORDS: RIGHT TO THE PROPER BODY; AVAILABILITY; IMAGE; PERSONALITY; PRIVACY.

INTRODUÇÃO

Os direitos da personalidade do homem são compostos por três elementos: psíquicos, físicos e morais, e são estes elementos que protegem a convivência do homem em sociedade (aspecto externo), bem como seus aspectos internos da personalidade, como o direito à imagem, direito ao nome, ao seu próprio corpo, direito à privacidade, à inviolabilidade de correspondência, dentre tantos outros.

Portanto, os direitos da personalidade ou personalíssimos não possuem conteúdo econômico, não são destacáveis do ser humano, a exemplo da propriedade, que é um direito destacável da pessoa de seu titular, mas sim, são direitos que integram o próprio ser humano, são ligados a ele e, portanto, não se destacam de sua pessoa, a exemplo do direito ao próprio nome, à liberdade, à vida, ao corpo.

O presente artigo tratará de algumas espécies dos direitos da personalidade: direito à imagem, direito à privacidade e direito ao próprio corpo, objetivando apurar a margem de liberdade do particular na realização de negócios jurídicos que tenham por objeto tais direitos, ou seja, até onde o ser humano pode dispor dos direitos de personalidade, e em que circunstâncias ou, ao contrário, até onde tais direitos são indisponíveis.

Para tanto, será inaugurado com breves considerações gerais acerca dos direitos da personalidade, abarcando seu conceito e características.

Na seqüência, será dado enfoque às espécies dos direitos da personalidade, acima referendadas, bem como demonstrar até onde tais direitos são disponíveis pelo homem, ou seja, a autonomia jurídica individual desses direitos (imagem, personalidade e direito ao próprio corpo).

Para tanto, na presente pesquisa será aplicada a metodologia histórico-dedutiva, desenvolvida com base em consultas e pesquisas por meio de obras doutrinárias, sites da internet, artigos publicados em revistas técnicas e jurisprudências, em legislação pertinente ao tema, bem como qualquer outro apoio metodológico que se fizer necessário.

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1 DIREITOS DA PERSONALIDADE

1.1 Conceito de Direitos da Personalidade

Os direitos da personalidade, conforme foi mencionado no intróito deste artigo, tratam de direitos não integrantes da órbita patrimonial do indivíduo, e sim, constituem todo e qualquer direito subjetivo pessoal, que não podem ser aferidos monetariamente, pois, quando agredidos, atingem a esfera moral do indivíduo. Nesse sentido, Sílvio de Salvo Venosa ensina:

Esses direitos da personalidade relacionam-se com o Direito Natural, constituindo o mínimo necessário do conteúdo da própria personalidade. Diferem dos direitos patrimoniais porque o sentido econômico desses direitos é absolutamente secundário e somente aflorará quando transgredidos: tratar-se-á, então, de pedido substitutivo, qual seja, uma reparação pecuniária indenizatória pela violação do direito, que nunca se colocará no mesmo patamar do direito violentado. Os danos que decorrem da violação desses direitos possuem caráter moral. Os danos patrimoniais que eventualmente podem decorrer são de nível secundário. Fundamentalmente, é no campo dos danos morais que se situa a transgressão dos direitos da personalidade. De fato, em linhas gerais, não há danos morais fora dos direitos da personalidade.[1]

Dessa feita, aquele que ofende outrem em sua esfera moral, está agredindo a personalidade do indivíduo, que pode acarretar um dano extrapatrimonial, mas também, indiretamente uma lesão patrimonial. E diz o art. 5º, incisos V e X, da Constituição Federal:

V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

[...]

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito de indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.[2]

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Outros artigos da Constituição de 1988 tratam dos direitos da personalidade, a exemplo do caput do artigo 5º, que prevê o direito à vida, à liberdade, direito moral do autor (artigo 5º, IX); direito ao sigilo de correspondência e comunicações – privacidade (artigo 5º, XII), dentre outros. É a constitucionalização dos direitos da personalidade. Conforme diz Eliana Saad Castelo Branco:

A Constituição Federal de 88 assegura a proteção de direitos personalíssimos (art. 5, V e X), acrescido da promoção social, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, alçando ao patamar constitucional à dignidade humana, a teor do artigo 1º, III[3] e 3º, IV[4] da Lex Legum.[5]

Os direitos da personalidade se fundamentam no valor conferido à pessoa humana pelo texto constitucional: dignidade da pessoa humana.

Nesse sentido, Sílvio Romero Beltrão define direitos da personalidade “como categoria especial de direitos subjetivos que, fundados na dignidade da pessoa humana, garantem o gozo e o respeito ao seu próprio ser, em todas as sus manifestações espirituais ou físicas”.[6]

A personalidade, portanto, consiste num conjunto de características próprias das pessoas. Assim sendo, pode-se dizer que ela não trata de um direito, pois ligados de forma perpétua e permanente ao indivíduo. Sílvio de Salvo Venosa observa que “a personalidade não é exatamente um direito; é um conceito básico sobre o qual se apoiam os direitos”.[7]

Maria Helena Diniz corrobora com este entendimento ao dizer:

A personalidade não é um direito, de modo que seria errôneo afirmar que o ser humano tem direito à personalidade. A personalidade é que apóia os direitos e deveres que dela irradiam, é objeto de direito, é o primeiro bem da pessoa que lhe pertence como primeira utilidade, para que ela possa ser o que é, para sobreviver e se adaptar às condições do ambiente em que se encontra, servindo-lhe de critério para aferir, adquirir e ordenar outros bens.[8]

Nas palavras de Miguel Reale:

Poderíamos dizer, em suma, que são direitos da personalidade os a ela inerentes, como um atributo essencial à sua constituição, como, por exemplo, o direito de ser livre, de ter livre iniciativa, na forma da lei, isto é, de conformidade com o estabelecido para todos os indivíduos que compõem a comunidade.[9]

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E, como direito subjetivo da pessoa, esta tem direito a defender o que lhe pertence, isto é, sua identidade, sua reputação, honra, liberdade, entre outros direitos que integram a personalidade.

Para arrematar, cita-se o posicionamento de Adriano de Cupis[10], “ a personalidade, se não se identifica com os direitos e com as obrigações jurídicas, constitui a precondição deles, ou seja, o seu fundamento e pressuposto.”

Ressalte-se que o Código Civil de 2002 reservou um Capítulo para tratar dos direitos da personalidade: é o Capítulo II, Título I – artigos 11 a 21, portanto, são direitos subjetivos de natureza privada, salientando que, por ser matéria também tratada no texto constitucional, pode-se afirmar que é integrante do Direito Civil Constitucional. No artigo 12, o Código Civil tratou de um direito geral de personalidade. Trouxe previsão de direitos especiais da personalidade: a) nos artigos 13 a 15, tratou da incolumidade física (direito ao próprio corpo); b) no artigo 16, do nome; c) no artigo 20, da imagem, honra e intimidade; e, d) no artigo 21, da privacidade.

1.2 Características dos Direitos da Personalidade

O próprio artigo 11 do Código Civil traz os caracteres inerentes à personalidade, ao prever: “Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária”.[11]

Tem-se, diante da leitura do artigo retro, três características: intransmissibilidade, irrenunciabilidade e indisponibilidade. Esta última, embora não escrita explicitamente no texto, pode-se retirá-la do final do artigo “não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária”. Nessa linha de raciocínio, Paulo Luiz Netto Lôbo observa:

O novo Código Civil brasileiro refere à intransmissibilidade, à irrenunciabilidade e à impossibilidade de limitação voluntária, que pode ser entendida como indisponibilidade, pois a limitação apenas pode ocorrer por ato de disposição.[12]

São intransmissíveis, ou seja, intransferíveis, pois pertencem à pessoa. Por exemplo, não há como transmitir ao outro o nome, a dignidade, a imagem etc. Também são direitos irrenunciáveis, mesmo que não sejam exercidos, jamais poderão ser renunciados. São indisponíveis, isto é, a pessoa não pode dispor dos direitos inerentes à sua personalidade.

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Embora o Código Civil se refira somente a estas três características, podem-se citar outras referentes aos direitos da personalidade: a) inatos ou originários, uma vez que são adquiridos assim que a pessoa nasce, independentemente de sua vontade; b) vitalícios, perenes ou perpétuos, tendo em vista que duram por toda a vida; c) absolutos, “no sentido de que podem ser opostos erga omnes”.[13]

Além disso, os direitos da personalidade são imprescritíveis, isto é, não se perdem pelo decurso do prazo, não prescrevem, pois, como direitos personalíssimos que são, sempre serão exercíveis e exercidos. Ainda, são também inalienáveis, pois intransferíveis e inegociáveis, seja a título gratuito ou oneroso, posto que não são de conteúdo econômico-patrimonial. Sílvio de Salvo Venosa complementa:

Diz-se que os direitos da personalidade são extrapatrimoniais porque inadmitem avaliação pecuniária, estando fora do patrimônio econômico. As indenizações que ataques a eles podem motivar, de índole moral, são substitutivo de um desconforto, mas não se equiparam à remuneração ou contraprestação. Apenas no sentido metafórico e poético podemos afirmar que esses direitos pertencem ao patrimônio moral de uma pessoa.[14]

Washington de Barros Monteiros, sobre as características dos direitos da personalidade, afirma:

Realmente, não podem ser objeto de transação, nem se transmitem a qualquer títutlo aos sucessores do seu detentor, que também a eles não pode renunciar, nem estabelecer limites voluntários. Se houver limitações, somente por lei poderão ser fixados. Assim, nem mesmo o titular está autorizado a estabelecer autolimitação a seu exercício.[15]

Enfim, os direitos da personalidade protegem a dignidade da pessoa humana, não podendo o indivíduo, de forma voluntária, transmitir, renunciar, dispor ou alienar tais direitos, “com exceção dos casos previstos em lei”, conforme prevê a primeira parte do artigo 11, do Código Civil.

2 ESPÉCIES DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE E SUA AUTONOMIA JURÍDICA INDIVIDUAL

2.1 Direito à imagem

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Conforme já foi visto anteriormente, o direito à imagem, além de ser previsto no texto constitucional, também é tutelado pelo Código Civil. A Constituição Federal faz menção à imagem no artigo 5º, em três incisos: V, X e XXVIII. Os dois primeiros, embora já transcritos, vale registrá-los novamente:

V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

[...]

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito de indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.

XXVIII – são assegurados, nos termos da lei:

a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas (grifos acrescentados).[16]

No Código Civil, o direito à imagem está previsto no artigo 20:

Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se destinarem a fins comerciais (grifo acrescentado).[17]

A imagem da pessoa, além do aspecto físico (denominada imagem- retrato), envolve, também, a exteriorização da personalidade da pessoa em seu conceito social (denominada imagem-atributo). Nessa mesma linha de raciocínio, distinguindo a imagem-retrato da imagem-atributo, Maria Helena Diniz traz o seguinte conceito de imagem:

A imagem é: a) a representação física da pessoa, como um todo ou em partes separadas do corpo (rosto, pernas, seios, olhos [...], etc.), desde que identificáveis, ou seja, desde que possam implicar o reconhecimento de seu titular, por meio de fotografia, escultura, desenho [...], etc., que requer autorização do retratado para sua divulgação. Trata-se da imagem-retrato, tutelada pela CF/88, art. 5º, X, que é relativa ao retrato físico da pessoa. É, não só, a reprodução gráfica, plástica ou fotográfica da pessoa, bem como a sua representação dinâmica, cinematográfica ou televisionada. [...]; b) o conjunto de atributos cultivados pela pessoa, reconhecidos socialmente. É a visão social a respeito

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do indivíduo. Hipótese em que se configura a imagem-atributo, imagem social, ou, ainda, imagem moral, protegida pelo art. 5º, V, da CF/88 [...]; c) a reprodução biográfica, que não pode conter dados mentirosos, sob pena de responsabilidade civil por dano moral e, até mesmo, patrimonial.[18]

Nas palavras de Jacqueline Sarmento Dias:

O direito à imagem consiste na faculdade do titular permitir ou não a reprodução, exposição ou divulgação de sua imagem. A imagem é a exteriorização da personalidade. É a concretização dessa abstração física e moral. Não se reduz ao rosto, às feições da cada um, mas inclina-se por todos os modos de ser físicos e psíquicos do homem.[19]

Não é diferente o pensamento de Zulmar Antonio Fachin sobre o direito à imagem:

A imagem-retrato é a imagem física da pessoa, apta a ser reproduzida por fotografia, escultura, pintura, filmagem ou por outros meios alcançados por técnicas cada vez mais sofisticadas. [...] É objetiva, é a imagem decorrente da expressão física do indivíduo. A imagem-atributo é subjetiva, é o conjunto de características apresentadas socialmente por determinado indivíduo.[20]

De 1808 (ano em que ocorreu o primeiro acontecimento importante da imprensa falada e escrita no Brasil – circulação do primeiro jornal em língua portuguesa no País, denominado “Correio Brasiliense”[21]) até os dias hodiernos, os órgãos de imprensa – inicialmente limitados aos jornais e periódicos – evoluíram para um sistema de comunicação social, incorporando a radiodifusão, com emissoras de rádio e televisão, além da transmissão eletrônica de dados – a rede mundial de computadores, Internet. Tendo em vista o incrível desenvolvimento da telemática, da informática e da editoração eletrônica, com técnicas avançadas de jornalismo, permitindo a edição simultânea de jornais em pontos distantes, o direito à imagem tornou-se alvo de destaque dentre as espécies dos direitos da personalidade.

Respeitado o direito à liberdade de imprensa, também assegurada em princípio constitucional, ela deve estar restringida à convivência pacífica dos cidadãos, devendo o jornalismo atuar com responsabilidade e lealdade, pois, a ninguém é permitido quebrar a harmonia social, nem tampouco expor a privacidade e intimidade dos indivíduos de forma a denegrir a imagem dos mesmos.

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Haja vista as características do direito à imagem, já alhures estudado, o titular da imagem deve consentir o seu uso, afastando, assim, qualquer pretensão à indenização por uso indevido da imagem, desde que utilizada nos termos consentidos. Nas palavras de Maria Helena Diniz:

A representação externa da pessoa em Internet, através de sites, filmes, revista, jornal, TV, vídeo, etc., requer a devida permissão do titular, porque o expõe a um público variado e não a um certo grupo de pessoas, podendo exigir um contrato escrito, ou verbal, externando o consenso para a divulgação onerosa, ou gratuita [...]

[...]

O titular da imagem tem o direito de aparecer se, quando e como quiser, dando, para tanto, seu consentimento, e também tem o direito de impedir a reprodução, exposição e divulgação de sua imagem, e, ainda, o de receber indenização por tal ato desautorizado.[22]

O Superior Tribunal de Justiça assim se posiciona:

EMENTA. DIREITO À IMAGEM. MODELO PROFISSIONAL. UTILIZAÇÃO SEM AUTORIZAÇÃO. DANO MORAL. CABIMENTO. PROVA. DESNECESSIDADE. QUANTUM. FIXAÇÃO NESTA INSTÂNCIA. POSSIBILIDADE. EMBARGOS PROVIDOS.

I – O direito à imagem reveste-se de duplo conteúdo: moral, porque direito de personalidade; patrimonial, porque assentado no princípio segundo o qual a ninguém é lícito locupletar-se à custa alheia.

II – Em se tratando de direito à imagem, a obrigação da reparação decorre do próprio uso indevido do direito personalíssimo, não havendo de cogitar-se da prova da existência de prejuízo ou dano, nem a conseqüência do uso, se ofensivo ou não.

III – O direito à imagem qualifica-se como direito de personalidade, extrapatrimonial, de caráter personalíssimo, por proteger o interesse que tem a pessoa de opor-se à divulgação dessa imagem, em circunstâncias concernentes à sua vida privada.

IV – O valor dos danos morais pode ser fixado na instância especial, buscando dar solução definitiva ao caso e evitando inconvenientes e retardamento na entrega da prestação jurisdicional.[23]

O posicionamento do Superior Tribunal de Justiça é o mesmo quando a imagem publicada não tem intenção exploratória:

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EMENTA. CIVIL. USO INDEVIDO DA IMAGEM. INDENIZAÇÃO DE DANOS MORAIS. O uso não autorizado de uma foto que atinge a própria pessoa, quanto ao decoro, honra, privacidade, etc., e, dependendo das circunstâncias, mesmo sem esses efeitos negativos, pode caracterizar o direito à indenização pelo dano moral, independentemente da prova de prejuízo. Hipótese, todavia, em que o autor da ação foi retratado de forma acidental, num contexto em que o objetivo não foi a exploração de sua imagem. Recurso especial não conhecido.[24]

Há casos em que esse consentimento é dispensado. Sílvio de Salvo Venosa apresenta o seguinte exemplo: “Não há abuso e não deve ferir suscetibilidade, por exemplo, a divulgação de imagem de alguém pela imprensa, com mero cunho jornalístico”.[25]

Entretanto, a mesma divulgação pode ser prejudicial se este alguém for uma pessoa que recebe proteção de assistência a vítimas e a testemunhas ameaçadas (Lei nº 9.807/99). Assim, conforme preleciona Jacqueline Sarmento Dias:

O consentimento é um dos limites do direito à imagem. Ele pode variar por duas vertentes, ou seja, tanto pode ser uma permissão para exercitar determinado ato como pode ser um acordo bilateral para formaçãoo de uma relação jurídica contratual. Por outro lado, o consentimento pode ser tácito ou expresso. [...]. Exemplo de presunção do consentimento tácito: João está em uma solenidade, ao lado de um Ministro. Várias fotos são tiradas e divulgadas em jornais. Neste caso, não há abuso do direito de imagem, pois João ficou ao lado de uma pessoa pública, sabendo que correria o risco da captação também de sua imagem.[26]

Assim sendo, esse direito à imagem não é ilimitado, ou seja, há situações em que a divulgação da imagem do indivíduo não necessita de sua autorização e/ou consentimento. Isto ocorre nos casos em que o interesse coletivo se sobrepõe ao direito individual. Por exemplo, pode ser utilizada a imagem de pessoa notória para fins informativos, desde que não haja objetivo comercial, publicitário ou especulativo, nem tampouco invasão em sua vida privada. Da mesma forma, a imagem também pode ser utilizada para fins de informações culturais, científicos, didáticos, tendo em vista que tais informações são direitos que se sobrepõem ao direito de imagem do indivíduo, desde que, obviamente, respeitados os objetivos da notícia e com as ressalvas feitas no caso anterior, por exemplo, mostrar a imagem da pessoa em conferências, exposições de obras artísticas etc.

Outra exceção quando à indisponibilidade do direito à imagem está contida no próprio texto do artigo 20 do Código Civil, ou seja, ela pode ser utilizada para atender a administração da justiça e manutenção de ordem pública. Por exemplo: se a pessoa, condenada criminalmente, estiver foragida da justiça e tiver sua imagem exposta em algum programa de televisão, não poderá insurgir-se contra tal divulgação. Outro

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exemplo que dispensa a autorização do titular da imagem é no caso de pessoa que exerce cargo público, não podendo impedir seja fotografado nem filmado, salvo na sua intimidade. Ainda, quando há necessidade de resguardar a saúde pública, por exemplo, pessoa portadora de doença contagiosa, sem ter conhecimento, colocando em risco a coletividade, não pode impedir que o órgão da saúde pública fixe cartaz, noticiando esse fato.

Maria Helena Diniz afirma:

Existem certas hipóteses em que o direito à imagem não é absoluto, pois, ante o fato da prevalência do direito à informação, da manutenção da ordem pública ou da segurança nacional e do atendimento do interesse público ou social, a imagem poderá ser divulgada sem o consenso do seu titular. Há uma relativização do direito à imagem, que sofre algumas restrições em prol da coletividade.[27]

No mesmo sentido, Regina Saham apontam como limites do direito à imagem:

Notoriedade e cargo da pessoa, além das exigências de polícia ou de justiça. [...], finalidades científicas, didáticas ou culturais, ou quando a reprodução se der em lugares públicos, ou por fatos de interesse público ou ocorridos publicamente. Pode-se impedir a “pública” exposição quando importarem em prejuízo da honra, reputação e decoro.[28]

É bom ressaltar o texto do parágrafo único do artigo 20 do Código Civil, que prevê, no caso de ofensa à imagem de pessoa morta ou ausente, a legitimidade ao cônjuge, aos ascendentes ou aos descendentes, para requerer a proteção.

A partir do exposto, pode-se dizer que o direito à liberdade de informação, traduzida na liberdade de expressão e manifestação de pensamento, deve ser respeitado. Informar e divulgar fatos, difundir conhecimentos, cultura, iluminar as consciências, canalizar as aspirações populares, é importante, pois cabe à imprensa informar, cumpre-lhe, todavia, fazê-lo com total responsabilidade, dentro de certos limites, sem ofender a imagem das pessoas.

A imagem das pessoas pode ser utilizada, desde que com expressa autorização do seu titular, de forma gratuita ou onerosa, salvo algumas exceções, pois o direito à imagem não é limitado, podendo, em alguns casos, ser utilizada mesmo sem o consentimento do titular, desde que respeitados os elementos morais.

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2.2 Direito à privacidade

A Constituição Federal prevê o direito à privacidade no inciso X, do artigo 5º, já tão mencionado neste artigo: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas [...]” (grifos acrescentados).

Na lei infraconstitucional, ou seja, no Código Civil, a matéria foi tratada em seu artigo 21, que dispõe: “A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a esta norma”.[29]

Inclusive, a Declaração Universal dos Direitos Humanos[30] e o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos[31] prevêem o direito à privacidade, em seus artigos 12 e 17, respectivamente:

Art. 12. Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques a sua honra e reputação. Todo o homem tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Art. 17.

1. Ninguém poderá ser objeto de ingerências arbitrárias ou ilegais em sua vida privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua honra e reputação.

2. Toda pessoa terá direito à proteção da lei contra essas ingerências ou ofensas.

A privacidade relaciona-se com a esfera individual da pessoa, de sua vida social familiar, aqui incluídos parentes e amigos, aos quais é dado liberdade para compartilhar situações vedadas a estranhos. Maria Helena Diniz diz que “a intimidade é a zona espiritual íntima e reservada de uma pessoa ou de um grupo de indivíduos”[32]. Sidney Guerra observa:

Vida privada, à luz da Constituição Federal de 1988 é o conjunto de modo de ser e viver, como direito de o indivíduo viver sua própria vida. Consiste ainda na faculdade que cada indivíduo tem de obstar à intromissão de estranhos na sua vida privada e familiar, assim como de impedir-lhes o acesso a informações sobre a privacidade de cada um, e também que sejam divulgadas informações sobre esta área da manifestação existencial do ser humano.[33]

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O direito à privacidade impede que qualquer pessoa invada a esfera privada ou íntima: invasão de domicílio alheio (artigo 5º, XI[34]); violação de correspondência (art. 5º, XII[35]), invasão por intermédio da comunicação eletrônica, a exemplo do uso inadequado do correio eletrônico (e-mail), interceptação e fiscalização ilegal de mensagens, venda de listagens com endereços sem consentimento de seus usuários; interceptação de conversas telefônicas (art. 5º, XII).

Ressalte-se que há limitação do direito à vida privada. Quanto à invasão domiciliar, esta é permitida em três casos: a) flagrante delito ou desastre; b) prestar socorro a alguém, por exemplo, se o domicílio estiver pegando fogo, a pessoa pode nele adentrar para salvar as vítimas; c) por ordem do juiz, com o respectivo mandato (2ª parte do inciso XI, art. 5º). Quanto à violação de correspondência e interceptação telefônica, é admissível por determinação judicial para fins de investigação criminal ou instrução processual penal (2ª parte do inciso XI, art. 5º).

Carlos Alberto Bittar, sobre as limitações do direito à privacidade, observa:

Limitações existem ao direito à privacidade, em razão de interesses vários da coletividade e pelo desenvolvimento crescente de atividades estatais: exigências de ordem histórica, científica, cultural ou artística; exigências de cunho judicial ou policial; exigências de ordem tributária ou econômica; exigências de informação, pela constituição de bancos, empresas [...]; exigências de saúde pública e de caráter médico profissional e outros.[36]

Outra disposição contida no texto constitucional está no artigo 226, § 7º, que confere proteção à família, vedando a intromissão do Estado ou do particular:

§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.[37]

A jurisprudência tem se utilizado muito do direito à privacidade em relação ao sigilo bancário.[38] Abaixo, parte do Agravo Regimental no Recurso Especial 2006/0003481-8. Relator Ministro José Delgado. Órgão Julgador: Primeira Turma. Data do Julgamento: 18/05/2006. Data da Publicação / Fonte DJ 08.06.2006, p. 145:

A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é pacífica e remansosa no sentido de que: - “O contribuinte ou o titular de conta bancária tem direito à privacidade em

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relação aos seus dados pessoais, além do que não cabe ao Judiciário substituir a parte autora nas diligências que lhe são cabíveis para demandar em juízo.”[39]

Neste sentido, o Agravo Regimento no Agravo de Instrumento 2005/0108345-1; o Recurso Especial 2005/0098382-1; o Agravo Regimental no Recurso Especial 2005/0072753-7.

Enfim, o direito à vida privada está relacionado com a garantia de não ingerência do Estado na esfera individual e a consagração da dignidade humana. Em outras palavras, tem relação com garantia de respeito à dignidade da pessoa humana de forma a limitar o poder estatal, e também, a intromissão indevida dos particulares.

2.3 Direito ao próprio corpo

O direito ao próprio corpo representa o direito que as pessoas têm de não sofrerem violações, agressões ao seu corpo, ou seja, têm direito à integridade física. De acordo com os ensinamentos de Carlos Alberto Bittar, o corpo é o “instrumento pelo qual a pessoa realiza a sua missão no mundo fático. Configura também direito disponível, mas sob limitações impostas pelas conotações de ordem pública”.[40]

O art. 15 do Código Civil prevê que “ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica”; e, a Constituição Federal, em vários dispositivos, resguarda e/ou confere proteção ao corpo humano. São os casos, por exemplo, do art. 5º, incisos III, XLVII[41]. No Código Civil, além do art. 15, retro mencionado, o direito ao próprio corpo está previsto também nos artigos 13 e 14.

Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar bons costumes.

Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.

Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.

Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.

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Quanto à integridade física, que compreende, por sua amplitude, o direito ao próprio corpo, assim como o direito à imagem e à privacidade, sofre limitações, conforme pode-se verificar nos dispositivos constitucionais e infraconstitucionais alhures transcritos. Em relação à pena de morte, a 2ª parte do inciso XLVII diz que ela é admissível no caso de guerra, nos termos do art. 84, XIX da Constituição.[42]

No pertinente ao artigo 13 do Código Civil, é proibido à pessoa dispor do próprio corpo, exceto por exigência médica (caput), ou para fins de transplante (parágrafo único, art. 13). De acordo com o art. 9º, da Lei nº 9.434/97, que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento:

Art. 9o É permitida à pessoa juridicamente capaz dispor gratuitamente de tecidos, órgãos e partes do próprio corpo vivo, para fins terapêuticos ou para transplantes em cônjuge ou parentes consangüíneos até o quarto grau, inclusive, na forma do § 4o deste artigo, ou em qualquer outra pessoa, mediante autorização judicial, dispensada esta em relação à medula óssea. (Redação dada pela Lei nº 10.211, de 23.3.2001).

Ainda, conforme art. 199, § 4º, da Constituição Federal:

Art. 199. A assistência à saúde é livre à iniciativa privada.

§ 4º A lei[43] disporá sobre as condições e os requisitos que facilitem a remoção de órgãos, tecidos ou substâncias humanas para fins de transplante, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfusão de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercialização.[44]

O art. 14 permite a disposição gratuita do corpo para fins científicos ou altruísticos, para depois da morte, porém, a qualquer tempo a pessoa pode revogar o ato de disposição. A Lei nº 8.501/92 dispõe sobre a utilização de cadáver não reclamado, para fins de estudos ou pesquisas científicas.

Vale registrar as palavras do Ministro Relator Francisco Rezek, em votação ao habeas corpus 71.373-4, do Rio Grande do Sul, sobre investigação de paternidade, uma vez que o pai, neste caso, recusava-se a realizar o exame de DNA:

[...] vale destacar que o direito ao próprio corpo não é absoluto ou ilimitado. Por vezes a incolumidade corporal deve ceder espaço a um interesse preponderante, como no caso da vacinação, em nome da saúde pública. Na disciplina civil da família o corpo é, por vezes, objeto de direitos. Estou em que o princípio da intangibilidade do corpo humano,

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que protege um interesse privado, deve dar lugar ao direito à identidade, que salvaguarda, em última análise, um interesse também público.

Além disso, ressaltou o Ministro o art. 27 do Estatuto da Criança e do Adolescente[45], que dispõe sobre o direito personalíssimo da criança em saber seu estado de filiação.

A jurista Roxana Cardoso Borges, acerca dessa temática, doutrina:

A dignidade da pessoa humana deve ser o principal limite dessa diponibilidade. Mas se deve compreender que a dignidade da pessoa huma não é um conceito objetivo, absoluto,geral, possível de ser abstraído em padrões morais de conduta e a serem impostos a todos as pessoas.

Portanto, o exercício do direito ao próprio corpo não está limitado somente à vontade individual, uma vez que há legislação especial, de ordem pública, que prevê a disposição de partes do corpo humano, seja por exigência médica, seja para remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento, seja para utilização de cadáver não reclamado, para fins de estudos ou pesquisas científicas, ressaltando que a questão dos transplantes ainda levantam dúvidas éticas, morais, religiosas e jurídicas, situações que ensejam muitas controvérsias na doutrina e em nossa jurisprudência pátria.

CONCLUSÃO

Os direitos da personalidade relacionam-se com os valores físicos, psíquicos e morais inerentes ao ser humano, à dignidade da pessoa humana e, dentre as suas espécies, o presente artigo analisou o direito à imagem, à privacidade e direito ao próprio corpo.

Todos os direitos da personalidade revestem-se das seguintes características: intransmissíveis, irrenunciáveis, indisponíveis, inatos ou originários, vitalícios, absolutos, imprescritíveis e inalienáveis.

Entretanto, não existe direito totalmente limitado. Em princípio, os direitos da personalidade são insuscetíveis de limitação voluntária, mas há exceções previstas em lei, seja para o direito à imagem, ao próprio corpo ou à privacidade, admitindo-se, assim, a disponibilidade relativa para determinados casos, legalmente previstos e autorizados.

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Obviamente, devem ser respeitados os interesses e fins sociais da ordem jurídica, porquanto o princípio geral da preservação da dignidade humana e o respeito ético da pessoa humana, como atributo de uma cláusula geral, salientando que os casos devem merecer tratamentos específicos.

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[1] VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: parte geral. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 172, v. 1.

[2] Constituição Federal – Código Civil – Código de Processo Civil. Yussef Said Cahali (Org.). 7. ed. São Paulo: RT, 2005, pp. 21-22.

[3] Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] III – a dignidade da pessoa humana [...]. In Constituição Federal – Código Civil – Código de Processo Civil. Yussef Said Cahali (Org.). 7. ed. São Paulo: RT, 2005, p. 19.

[4] Art. 3º. Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: [...] IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. In Constituição Federal – Código Civil –

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Código de Processo Civil. Yussef Said Cahali (Org.). 7. ed. São Paulo: RT, 2005, pp. 19-20.

[5] BRANCO, Eliana Saad Castelo. Nova legislação reforça direito de privacidade de artistas. In Revista Consultor Jurídico, 13 de fevereiro de 2004. Disponível em: <http://www.buscalegis.ufsc.br/arquivos/Mundo%20da%20fama.doc>. Acesso em: 25 Ago. 2007.

[6] BELTRÃO, Sílvio Romero. Direitos da personalidade: de acordo com o novo Código Civil. São Paulo: Atlas, 2005, p. 25.

[7] VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: parte geral. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 171, v. 1.

[8] DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 18. ed. São Paulo Saraiva, 2004, p. 75, v. 7.

[9] REALE, Miguel. Os direitos da personalidade. 17/01/2004. Disponível em: <http://www.miguelreale.com.br/artigos/dirpers.htm>. Acesso em: 25 Ago. 2007.

[10] CUPIS, Adriano de.Os Direitos da Personalidade.Campinas: Edt. Romana Jurídica, 2004.

[11] Constituição Federal – Código Civil – Código de Processo Civil. Yussef Said Cahali (Org.). 7. ed. São Paulo: RT, 2005, p. 296.

[12] NETTO LÔBO, Paulo Luiz. Danos morais e direitos da personalidade. Teresina, ano 7, n. 119, 31 out. 2003. Disponível em: <http://jus2.uo.com.br/doutrina/texto.asp?id=4445>. Acesso em: 23 Ago. 2007.

[13] VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: parte geral. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 173, v. 1.

[14] Idem, Ibidem.

[15] MONTEIRO, Washington de Barros. Direito civil: parte geral. 33. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 97, v. 1.

[16] Constituição Federal – Código Civil – Código de Processo Civil. Yussef Said Cahali (Org.). 7. ed. São Paulo: RT, 2005, pp. 21-22 e 24.

[17] Idem, p. 297.

[18] DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 18. ed. São Paulo Saraiva, 2004, pp. 152-153, v. 7.

[19] DIAS, Jacqueline Sarmento. O direito à imagem. Belo Horizonte: Del Rey, 2000, p. 71.

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[20] FACHIN, Zulmar Antonio. A proteção jurídica da imagem. São Paulo: Celso Bastos Editor: Instituto Brasileiro de Direito Constitucional, 1999, pp. 47-48.

[21] TOLEDO, Eduardo. História da imprensa: a imprensa escrita no Brasil. Disponível em: <http://www.pareasmaquinas.com.br/histbrasil.htm>, 2000, p. 1. Acesso em: 22 Ago. 2007.

[22] DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 18. ed. São Paulo Saraiva, 2004, p. 153, v. 7.

[23] Superior Tribunal de Justiça. Embargos de divergência no Recurso Especial 2001/0104907-7. Relator Ministro Salvio de Figueiredo Teixeira. Órgão Julgador: Segunda Seção. Data do Julgamento: 11/12/2002. Data da Publicação / Fonte DJ 04.08.2003, p. 216. Disponível em: <http:www.stj.gov.br>. Acesso em: 24 Ago. 2007.

[24] Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 1996/0002388-3. Relator Ministro Ari Pargendler. Órgão Julgador: Terceira Turma. Data do Julgamento: 19/11/1999. Data da Publicação / Fonte DJ 13.12.1999, p. 140. Disponível em: <http:www.stj.gov.br>. Acesso em: 24 Ago. 2007.

[25] VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: parte geral. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 179, v. 1.

[26] DIAS, Jacqueline Sarmento. O direito à imagem. Belo Horizonte: Del Rey, 2000, pp. 125-126.

[27] DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 18. ed. São Paulo Saraiva, 2004, p. 158, v. 7.

[28] SAHAM, Regina. Direito à imagem no direito civil contemporâneo. São Paulo: Atlas, 2002, p. 158.

[29] Constituição Federal – Código Civil – Código de Processo Civil. Yussef Said Cahali (Org.). 7. ed. São Paulo: RT, 2005, p. 297.

[30] Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/direitos/deconu/textos/integra.htm>. Acesso em: 23 Ago. 2007.

[31] Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos. Disponível em: < http://www.aids.gov.br/legislacao/vol1_2.htm>. Acesso em: 23 Ago. 2007.

[32] DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: responsabilidade civil. 18. ed. São Paulo Saraiva, 2004, p. 150, v. 7.

[33] GUERRA, Sidney. O direito à privacidade na internet: uma discussão da esfera privada no mundo globalizado. Rio de Janeiro: América Jurídica, 2004, pp. 55-56.

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[34] XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial. In Constituição Federal – Código Civil – Código de Processo Civil. Yussef Said Cahali (Org.). 7. ed. São Paulo: RT, 2005, p. 22.

[35] XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal. In Constituição Federal – Código Civil – Código de Processo Civil. Yussef Said Cahali (Org.). 7. ed. São Paulo: RT, 2005, p. 22.

[36] BITTAR, Carlos Alberto. Os direitos da personalidade. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003, pp. 114-115.

[37] Constituição Federal – Código Civil – Código de Processo Civil. Yussef Said Cahali (Org.). 7. ed. São Paulo: RT, 2005, p. 144.

[38] ROQUE, Maria José Oliveira Lima. Sigilo bancário & direito à intimidade. 1. ed. (4ª tiragem). Curitiba: Juruá, 2004.

[39] Disponível em: <http://www.stj.gov.br>. Acesso em: 22 Ago. 2007.

[40] BITTAR, Carlos Alberto. Os direitos da personalidade. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003, p. 82.

[41] III – ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante”; XLVII – “não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis. In Constituição Federal – Código Civil – Código de Processo Civil. Yussef Said Cahali (Org.). 7. ed. São Paulo: RT, 2005, pp. 21 e 26.

[42] Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: [...] XIX – declarar guerra no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida nos intervalos das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional. In Constituição Federal – Código Civil – Código de Processo Civil. Yussef Said Cahali (Org.). 7. ed. São Paulo: RT, 2005, pp. 74-75.

[43] A lei a que se refere o § 4º é a Lei nº 9.434/97.

[44] Constituição Federal – Código Civil – Código de Processo Civil. Yussef Said Cahali (Org.). 7. ed. São Paulo: RT, 2005, pp. 131-132.

[45] Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer restrição, observado o segredo de Justiça.