27

Os Enganados

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Livro de Nelson Tenório

Citation preview

Page 1: Os Enganados
Page 2: Os Enganados

OS ENGANADOS

A maior rasteira política de Maringá

Nelson Tenório

Page 3: Os Enganados

O AUTOR

Nelson Nunes Tenório (Nelson Tenório) é pernambucano de Venturosa, cidadezinha do sertão nordestino, localizada entre as cidades de Garanhuns e Arcoverde.Nasceu no dia 21 de maio de 1951.Mudou-se com os pais e irmãs para Palmeira dos Índios-AL, em 1963, onde começou a traba-lhar em rádio como repórter, noticiarista e apresentador no final de 1967. É radialista, jornalis-ta e artista tendo trabalhado em várias cidades do país como: Curitiba, Toledo, Rio de Janeiro, São Paulo, Iporã, Cuiabá, Rondonópolis, Sorriso... sempre militando na mídia impressa ( jor-nais e revistas) e eletrônica (rádio e televisão). Mas foi em Maringá, onde chegou em janeiro de 1969, que viveu e desenvolveu a maior parte do seu trabalho. Estudou filosofia (letras anglo-portuguesas) na UEM e escreveu poesias, crônicas, pensamen-tos e discursos mantendo-os guardados sem nunca publicá-los.Com este livro-documento, Os Enganados - a maior rasteira política de Maringá, revela nuan-ças de um período da política maringaense que vale a pena ler, meditar e nunca esquecer.Com uma linguagem simples e direta, transporta o leitor para o vórtice de uma história que talvez renda muitas outras ainda, porque a maioria dos personagens que permeiam seus pará-grafos continuam vivos e, de uma maneira ou de outra, escrevendo a história de Maringá.Com certeza, o tempo contará. E quem viver, lerá.

Boa leitura

Page 4: Os Enganados

DEDICATÓRIA

Este livro é dedicado à minha esposa Célia e aos meus filhos Nelson Junior e Crístian, pelos mais de duzentos e oitenta domingos que não pudemos almoçar juntos. Dedico-o especial-mente ao Crístian, que me acompanhou por muitos domingos na Boca Maldita, leitor dos

grandes autores e mestres e principal incentivador desta ideia.

Carinhosamente,

Nelson Tenório

Page 5: Os Enganados

PREFÁCIO

A ideia de escrever este livro sobre importante e polêmico período da política maringaense, surgiu da velha máxima de que o povo tem - na sua grande maioria - memória curta.Este foi o ponto de partida para debruçar-me sobre as velhas e amargas lembranças e contar o que “eu vivi, vi e ouvi” no espaço de tempo que vai de meados de 1986 até meados de 1993.A narrativa abrange um período de sete anos e conta como Ricardo Barros, um filho de ex--prefeito e engenheiro que pouco construiu que incursionou nos meios de comunicação de Maringá (foi dono de três emissoras de rádio), obsessivo por ser político e vaidoso desme-suradamente, articulou e montou um grupo político, em grande parte formado de jovens na idade ou pelo menos, debutantes na política, denominado de Grupo da Renovação; encantou o eleitorado que o assistia pela televisão, aproveitou-se da briga dos adversários, chegou ao po-der, brincou de ser prefeito, saiu fugido pela janela do seu gabinete, passou a maior rasteira nos seus companheiros - derrubou a todos como num espetacular golpe de capoeira - e firmou-se como um dos principais políticos de Maringá, carregando junto a segunda mulher, Cida, ex--assessora de Alcenir Guerra.

Page 6: Os Enganados

Capítulo I

Tudo começou em meados de 1986. Eu acabara de voltar para Maringá, vindo de Iporã, onde encerrara o sonho de ser proprietário de uma emissora de rádio nem que fosse numa cidade-zinha do interior.Ricardo Barros havia rompido uma sociedade com os primos e tio, na Maringá FM, e comprara a Rádio Jornal de um grupo societário que também se desfizera, sobrando apenas um: Jorge Fregadolli.Aquinhoado com o cargo de diretor-técnico da Urbamar, uma deferência especial do então prefeito Said Ferreira que atendia a um pedido de sua mãe, dona Bárbara, Ricardo Barros, com olhos de águia, enxergou naquele cargo, a oportunidade única de construir sua almejada e tão ambicionada carreira política.Sem poder gerenciar a Rádio Jornal e precisando de alguém para cumprir a tarefa, chegou até a mim. Conversamos e fechamos o negócio.Eu fui ser o gerente da sua emissora, o diretor de programação, de jornalismo, o locutor, o apre-sentador, o redator de texto, o tudo, até o seu confidente.Quando assumi a função, sentamos, conversamos e recebi a missão: o principal objetivo era fazer a Rádio Jornal ser a divulgadora e promotora do seu nome, da pessoa de Ricardo Barros, das virtudes, das qualidades e da tradição de Ricardo Barros, filho do ex-prefeito Sílvio Barros e da ex-primeira-dama, dona Bárbara, pessoa muita querida, admirada e respeitada na socie-dade maringaense. Numa etapa posterior, deveria ser mostrada a sua aptidão política e fazê-lo, de fato, um político. Pra começar, um vereador, mas talvez - se os ventos soprassem favoravel-mente -, prefeito.Comecei a trabalhar as alterações da prog mente da políticas local) para divulgar Ricardo Bar-ros, até então, pouco afeito ao microfone.Foram criados o Jornal do Meio Dia e o Jornal das Sete (da manhã), muitas reportagens durante a programação cobrindo todos os fatos, principalmente os políticos, de Maringá. Numa outra etapa, também o noticiário político da região, especialmente da região metropolitana. Mas foi o programa da “Boca Maldita”, transmitido aos domingos das dez ao meio dia e às vezes, até duas da tarde, que mais movimentou a programação do domingo; se não como líder de audiência, mas com prestígio político, credibilidade, difusor de todas as correntes político-ideológicas e divulgador das idéias, pensamentos e propostas de Ricardo Barros que começava, como sem-pre dizia, “a vender o peixe”. O peixe começou a ser vendido. Com muita habilidade, ele começou a falar do seu nome, como uma opção da política local e estadual. Ele, dizia, significava essencialmente, uma proposta de renovação do desgastado e velho quadro político, sempre com as mesmas caras e as mesmas figurinhas carimbadas. Lançava balões de ensaio; jogava uns contra os outros procurando tirar conclusões de quem tinha pretensões verdadeiras de concorrer à Prefeitura de Maringá, ou quem estava apenas blefando, querendo apenas se aparecer, se valorizar e negociar vantagens na hora certa.Como empregado do ex-prefeito Said Ferreira (diretor-técnico da Urbamar - cargo de confian-ça nomeado pelo Said), no começo elogiava a postura do chefe, porém, essa harmonia duraria pouco tempo. Com a proximidade das eleições municipais, começou a detonar o Said até o rompimento da relação de trabalho quando foi exonerado, deixando o Turco inconformado

Page 7: Os Enganados

com tamanha ingratidão. Para Ricardo Barros, o fato em si, já o promovia duplamente: popu-larmente e politicamente.Na Boca Maldita, inicialmente na lanchonete do Macoto Sato, na avenida Getúlio Vargas, ao lado do Cine Maringá, e, depois, na Banca do Massao; em seguida, no Restaurante e Lancho-nete Nápoli, também do Macoto, transcorreram-se seis longos anos de transmissões ao vivo, mesmo em épocas de eleições sem quaisquer preocupações com a legislação eleitoral vigente e com as possíveis punições que pudessem advir, caso algum entrevistado ferisse a lei. Eu pessoalmente comandei e transmiti os programas por todo esse tempo, sem ter o direito de almoçar com a minha família por mais de duzentos e oitenta domingos. Sem hora extra, nem salário extra mesmo. Se fosse meu estilo entrar com reclamatória trabalhista, numa espetacular ação na Justiça do Trabalho, com certeza, a Rádio Jornal que passou a ser chamada de Rádio Metropolitana e hoje é Rádio Nova Ingá, não seria nem do Pinga Fogo e nem do Ricardo que ainda tem participação societária. Afora isso, existia toda uma carga de trabalho com jornadas que começavam às sete da manhã e invariavelmente terminavam às nove, dez da noite, quando acabávamos as reuniões de avaliação do trabalho do dia, e ainda eu ficava ouvindo por mais tempo, suas mágoas e queixas do primeiro casamento desfeito.Na Boca Maldita, todos falavam aos microfones da Rádio Jornal/Metropolitana. Não havia censura à ninguém, à assunto nenhum. Todos os domingos, infalivelmente, lá estávamos nós... microfone aberto, programa no ar e Ricardo Barros presente, dando o seu recado, vendendo o seu peixe. Ele levava a tiracolo aqueles que queria ao seu lado. Foram chegando entre tantos outros, Moi-sés Carolino, Vanderlei de Almeida César, Chiquinho Ribeiro, Marco Antônio Rocha Loures, Amauri Meneguetti, Paulo Magalhães, Odilon Populin, Miro Falkemback, Eloi Víctor de Melo, José Alfredo Singh, Antônio Santo Mamprim, Cambará, Paulo Porpíglio, Chico Cimetal, Jaldeir da Silva Gonçalves, Edmundo Albuquerque, Edson Marassi (Edmundo e Marassi trabalharam na Rádio Jornal comigo), Renato Tavares, Airton Furlaneto, etc, etc, etc... que formariam o tão decantado Grupo da Renovação. Eu citei estes nomes para dar consistência ao parágrafo; uns vieram antes e outros depois, mas não considerando a ordem de chegada, todos ouviram o canto da sereia e entraram de cabeça na proposta de renovação da política maringaense, o tom forte e único da conversa de Ricardo Barros, antes, durante e depois da sua eleição para prefei-to de Maringá, num dos mais bonitos e ao mesmo tempo, mais tristes episódios da história da política local.Bonito pela forma como aconteceu e triste pela maneira como terminou. Foi a maior falácia, a maior enganação, a maior rasteira política já registrada na história eleitoral de Maringá.

Page 8: Os Enganados

Com Ricardo Barros e Marco Túlio Vargas

Com Willy Taguchi, então vice-prefeito

Page 9: Os Enganados

Capítulo II

No início de 1988, meses de março e abril, o prefeito Said Ferreira já tinha definido o seu can-didato, João Preis, que fazia um trabalho elogiado na secretaria de Indústria e Comércio do município. João Preis, apesar de outros pretendentes ganhava a dianteira e era o candidato à sucessão de Said, praticamente imutável. Mas outros nomes eram citados e disputados por gru-pos políticos, entre eles, o ex-prefeito João Paulino - o mais forte de todos -, Aníbal Bianchini e Ademar Schiavone, além de outros, que não passavam de outros apenas.Com a Rádio Jornal já tendo se firmado no espaço jornalístico falado da cidade, com audiência obrigatória dos políticos e pretendentes, Ricardo Barros incumbiu-me, como principal repór-ter político da sua emissora e âncora do jornalismo, de sondar as pretensões de João Paulino e Aníbal Bianchini. Se João Paulino saísse candidato a prefeito, Ricardo Barros sairia candidato a vereador; não se confrontaria com o experiente e hábil político, com quem se aconselhava volta e meia. Se Aníbal Bianchini saísse candidato, ele também o respeitaria pela credibilidade e simpatia popular, afinal, era o Homem da Companhia (Companhia Melhoramentos Norte do Paraná) e o Jardineiro da Cidade. Mas se nenhum dos dois quisesse disputar a prefeitura de Maringá, Ricardo Barros toparia o desafio de sair candidato contra o todo poderoso Said, da época, para ao menos, fazer o seu nome visando mais tarde, disputar o mandato de deputado estadual ou federal. Como sempre dizia, “não tinha pressa”. Tinha o tempo ao seu favor, vanta-gem que os outros - bem mais velhos - jamais teriam.Por várias vezes fui à casa de João Paulino ouvi-lo com reportagem ao vivo ou gravada sobre sua decisão de ser ou não candidato a prefeito. O experiente JP, era evasivo e reticente nas suas respostas; sempre com muito respeito a mim, como profissional e pessoa, dizia que na “hora certa”, quando da sua decisão, eu seria o primeiro a saber e a informar. E não foi diferente. Quando João Paulino desistiu de ser candidato me chamou para dar o furo de informação. Pouco tempo depois, Aníbal Bianchini também desistiu de ser candidato e lá estava eu, nova-mente, para dar o furo de reportagem, ouriçar os meios políticos de Maringá e fazer a alegria de Ricardo Barros. Quando os dois mais fortes nomes desistiram de suas candidaturas, Ricardo abriu um largo sorriso. Sorriso maroto de quem maquinava o presente e pretendia advinhar o futuro. Seus olhos reluziam. Sentado na cadeira giratória da sua sala na Rádio Metropolitana, já na Tiradentes esquina com João XXIII, olhou-me com sorriso discreto e ambicioso e disse-me: ”agora eu serei candidato a prefeito de Maringá”.Mas a notícia da sua pretensão não foi divulgada oficialmente, como era e é do estilo Ricardo Barros. Foram lançados na mídia local, muitos balões de ensaio.Ele queria saber da repercussão do seu nome como candidato a prefeito, junto às lideranças maringaenses, principalmente junto aos empresários, grandes formadores de opinião, futuros e prováveis apoiadores e financiadores da sua campanha. Como também costumava dizer: “não podia correr o risco de queimar cartuchos”.De microfone na mão, ao vivo ou gravado, lá fui eu, ouvir Alcides Siqueira Gomes que fora presidente da ACIM - Associação Comercial e Industrial de Maringá, bem como Carlos Ajita que presidia a entidade naquele ano (1988). Hélio Costa Curta, presidente da SRM - Sociedade Rural de Maringá. Joaquim Romero Fontes, membro da SRM, cidadão respeitável e influente da cidade e tantos outros presidentes e dirigentes de entidades de classes e sindicatos. Ricardo Barros ouvia as reportagens, conversávamos sobre a aceitação ou resistência ao seu

Page 10: Os Enganados

nome, principalmente sobre a resistência ou rejeição ao seu nome. Como era esperado, a maio-ria dos entrevistados achava a intenção de Ricardo Barros um tanto ousada e pretensiosa de-mais. Por duas razões: ele era muito jovem e nunca havia sido candidato a nenhum cargo político.Tirando essas duas alegações, ninguém se opunha, mesmo porque, ninguém de sã consciência acreditava que Ricardo Barros vencesse uma eleição para prefeito de Maringá. Quando muito, e talvez muito mesmo, ganhasse para vereador e olha lá.Não era o que estava escrito nas estrelas e nas linhas do destino da cidade canção. Nem nas vidas de Ricardo Barros e de um grupo de pessoas jovens que acreditavam piamente, numa renovação política em Maringá.

Page 11: Os Enganados

Capítulo III

Como gerente de sua emissora, repórter e âncora do jornalismo da rádio e principal confidente, amigo e companheiro, acompanhei as marchas e contramarchas de todas as fases desta jornada até a surpreendente vitória.Num determinado dia, Ricardo chamou-me para ir à Brasília. Fomos. Lá, ele conversou com o senador Marco Maciel, com Antônio Carlos Magalhães, com Ulysses Guimarães e com quem encontrou nos gabinetes do Congresso Nacional, fosse deputado, senador ou assessor.Ousado, abusado e desprovido de qualquer cerimônia, quando Ricardo chegava a um gabinete e a secretária começava a enrolar para anunciá-lo, ele aproveitava-se da porta aberta e enfiava a cara, aliás enfiava a cara e o corpo, enfiava-se todo, sem que o parlamentar pudesse reagir. E já que ali estava (deviam pensar) deixa ficar. A secretária ficava desconcertada sem saber o que dizer ao chefe, sobre aquela invasão indesejada. Finalmente era atendido. Com eles (deputados e senadores), Ricardo Barros falava da pretensão de ser candidato a pre-feito de Maringá, se aconselhava, recebia incentivos, como do tipo: “você não tem nada a per-der”, e saía cada vez mais convencido de que “aquela era a hora”.Feita a visita à Brasília, na volta, conversando, ele voltou-se para mim e sentenciou: “faça um flash ao vivo para a rádio e anuncie que eu sou candidato a prefeito de Maringá”. De um ore-lhão, do meio da estrada - numa parada de ônibus -, peguei o telefone público e disquei a cobrar para a emissora, dei a informação e quando chegamos a Maringá, no dia seguinte, os jornais destacavam a decisão. Era tudo o que Ricardo queria.A notícia corria a cidade e polemizava nos meios políticos mais conservadores, merecendo a observação do prefeito Said Ferreira: “esse moleque imberbe é muito ousado. Agora acha que pode ser o prefeito de Maringá!”.Said tinha razão de reagir da maneira que reagiu. Primeiro, porque Ricardo Barros ingressara na vida pública por suas mãos, quando atendeu o pedido da dona Bárbara e o nomeou diretor--técnico da Urbamar. Segundo, porque desafiava o ex-chefe e afrontava o seu candidato, João Preis. Era muito para a cabeça do Said. O turco ficou bufando. Quando fui entrevistá-lo sobre o fato, ele desabafou na gravação, mas antes de começar a gravar a entrevista, disse cobras e lagartos sobre o mais novo desafeto político. Foram palavras impublicáveis.A partir daquele momento, a relação Ricardo - Said arruinou definitivamente. Não só com o Said, mas com todos os membros da administração municipal, ex-colegas de Ricardo, partidá-rios e simpatizantes de Said Ferreira.Alheio às reações e feliz com a repercussão, Ricardo Barros dava asas aos seus ambiciosos so-nhos. Convocava e conquistava aliados para comporem o famigerado “Grupo da Renovação”.Continuava articulando com mestria sua candidatura a prefeito de Maringá e convenceu lide-ranças do Partido Liberal (PL) a aceitarem sua filiação.Depois de muitas restrições, a filiação foi aceita, e era só o que faltava e tudo o que Ricardo Barros sonhava e queria. Mas no PL tinha Ademar Schiavone- que seria o candidato a prefeito e Ricardo não podia en-frentá-lo; perderia na convenção do partido. Então, ardilosamente, descobriu Moisés Carolino, presidente do Partido da Frente Liberal (PFL), e abrigou-se lá, para disputar e vencer a eleição.

Page 12: Os Enganados

Otávio Dias Chaves e Ricardo Barr9os

Nelson Tenório e Willy Taguchi

Page 13: Os Enganados

Capítulo IV

No PFL, Ricardo Barros estava em casa. Aliás, era o próprio dono da casa. Fazia e desfazia; dava de dedo, se preciso fosse e a executiva aceitava com docilidade e subserviência. O presidente Moisés Carolino não tinha como dizer não, diante da decisão do jovem cacique e no final, pre-valecia sua decisão.Para compor e acomodar a situação no PFL, Ricardo Barros teve que ceder - e não pôde ser diferente - à vontade do velho samurai Kazumi Taguchi, vereador por vários mandatos, líder na Colônia Nipo-Brasileira de Maringá e uma das principais lideranças dentro do partido pe-felista, e aceitou o igualmente jovem e debutante na política, Willy Taguchi, herdeiro natural da tradição política do velho Kazumi.Diz o ditado popular e é um fato da química, que água e azeite não se misturam; mas Ricardo e Willy deram uma boa mistura, mais em função do segundo do que do primeiro elemento. São incomparáveis as posturas ética, política e pessoais de ambos. O primeiro, é ambicioso dema-siadamente e o segundo, singelo e despretensioso demais.A conclusão viria no futuro, e apenas comprovaria o dito popular e fato da química, que: “água e azeite não se misturam”, mesmo, nem na política; ao menos em relação à Ricardo Barros e Willy Taguchi.Com a mudança de Ricardo Barros, do PL para o PFL, cometendo sua primeira infidelidade, começaram a balançar as estruturas do “Grupo da Renovação”.Eu, Edmundo Albuquerque e Edson Marassi, colegas de comunicação (trabalhamos juntos na Rádio Jornal/Metropolitana), que acreditamos na proposta de renovação apregoada por Ricar-do e que por esta razão, e pela primeira vez, nos filiamos a um partido político (os três no PL), por princípio, não aceitamos mudar para o PFL, como o fez Ricardo Barros por ambição pesso-al e política. Descobrimos naquele momento, que a fidelidade partidária só existia na retórica. Sofremos nós, os três mosqueteiros, nossa primeira desilusão política. Descobrimos também que na política, entre a ambição de ser e a razão de ser, há um buraco negro inimaginável.Por esta razão não nos elegemos, nem eu, nem Edmundo, nem Marassi, vereadores de Marin-gá, na eleição municipal de 1988. Para nós valia mais a ética, a fidelidade e o princípio da carti-lha programática do PL, do que o cargo ou o salário, nada desprezível, de vereador. Talvez seja por isso mesmo que existam pessoas e pessoas; princípios e princípios; diferenças e diferenças.Ricardo Barros e Willy Taguchi foram homologados na convenção do PFL - candidatos a pre-feito e vice-prefeito e foram vitoriosos, na mais espetacular disputa eleitoral da história política de Maringá.Foi uma disputa inusitada. Ricardo Barros saiu com cerca de 2% da preferência do eleitorado, índice irrisório, supostamente impossível de avançar e mais impossível ainda, de alcançar ou superar o candidato da situação João Preis, que se aproximava dos 40% da preferência do elei-torado maringaense. Mas como disse o poeta Drummond, “no meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho”. Essa pedra era o candidato do PL, Ademar Schiavoni e era também a ex-traordinária invenção de um punhado de gado magro que João Preis teria roubado do vizinho. Invenção pra boi dormir, mas que funcionou tão bem como o Ferreirinha do Requião contra o Martinez. Como no caso da eleição estadual em que a maioria do povo paranaense acreditou

Page 14: Os Enganados

Campanha de Miro Falkemback a prefeito

Evento realizado pela administração

Page 15: Os Enganados

no Ferreirinha, a maioria do povo maringaense acreditou no roubo de gado praticado por João Preis. Foi daí que o caldo entornou e da noite para o dia, o moleque imberbe do Said, tornou-se o mais jovem prefeito da história do município de Maringá.

Page 16: Os Enganados

Capítulo V

Homem de comunicação já definido, com faro e feeling, Ricardo Barros apostou todas as suas fichas ou o dinheiro que não possuía (fez muitos papagaios bancários e tomou dinheiro em-prestado de empresários e amigos), na mídia e no seu suposto carisma: aparecia sempre com cara de ingênuo, sorriso que transparecia sinceridade e franqueza, fala mansa, sem nunca falar mal de ninguém nem atacar os adversários. Fez o tipo bonzinho durante toda a campanha eleitoral.Seria através do rádio, jornal e televisão, principalmente da televisão, que sua campanha su-peraria a falta de dinheiro para o embate crucial contra a máquina municipal comandada por Said Ferreira, que jamais duvidou da vitória de João Preis, até aparecerem no meio do caminho, as malditas vacas magras que resolveram mudar de pasto no momento mais impróprio.Com pesquisas na mão - sempre trabalhou com pesquisas -, Ricardo Barros investiu no pro-grama de televisão. Se o programa não era o mais perfeito tecnicamente, sem dúvida, era o mais perfeito em conteúdo emocional e apelativo.A parte de áudio foi fácil fazer. Tinha a Rádio Jornal/Metropolitana, seus locutores e operado-res. Fomos à luta.Quando começou o horário gratuito da Justiça Eleitoral no Rádio e na Televisão, tudo foi tran-qüilo. Parecia até que seria uma campanha eleitoral civilizada, de propostas e convencimento do eleitor.Ricardo Barros provou logo de início todo o seu talento para a propaganda e marketing político e mostrou no seu programa de tv, um bom formato visual, recheado de saudosismo com ima-gens do seu pai, Sílvio Barros; a aparição da sua mãe, dona Bárbara, a família (apesar de já está em vias de separação da primeira esposa, Débora), imagens da cidade amada e querida - torrão natal - e muitas, muitas crianças.Conduzindo pessoalmente, a produção do programa de tv, Ricardo ia encaixando suas idéias e dando o tom do conteúdo que queria passar para o telespectador. Como era o esperado, o telespectador-eleitor gostou; a audiência cresceu. Os números das pesquisas e a popularidade do candidato também cresceram. Começou o desespero dos outros candidatos. O desespero aumentava à proporção que a popularidade de Ricardo Barros subia e as pesquisas o favoreciam a cada nova coleta de dados.O pau quebrou entre Ademar Schiavone e João Preis, atônito e insone com o inacreditável caso das vacas. A pedra no caminho do João foi o punhado de gado que teria sido surrupiado do vizinho. O caso virou piada na cidade. Ademar sorria, João chorava, o povo vibrava e Ricardo comemorava e clamava aos céus, apesar de meio incréu, a boa colheita eleitoral que estava por vir.Na Boca Maldita e na boca corrente da população, a situação era típica do dito popular: a cam-panha estava igual à massa de pão - enquanto Ademar batia no João, Ricardo crescia. Foi o que aconteceu. Ricardo Barros e Willy Taguchi se tornaram na eleição municipal de 1988, prefeito e vice de Maringá, os mais jovens da história política da cidade, na mais surpreendente disputa já havida. Enquanto João Preis e Said juntamente com todo o seu grupo, lamentavam o desastre eleitoral, Ricardo e Willy juntamente com o Grupo da Renovação, comemoravam e festejavam a espeta-cular vitória que deveria marcar uma nova era na política maringaense, sepultando definitiva-mente, os velhos caciques, as velhas e velhacas raposas.

Page 17: Os Enganados

Para agradecer ao povo, Ricardo Barros fez o show da vitória no Jardim Alvorada, na avenida Pedro Taques, próximo da praça Farroupilha. E lá estava eu, apresentando o evento. Presentes os eleitos, o povo e o Grupo da Renovação, todos se regozijando, se jactando da vitória. Todos juntos, eufóricos, uníssonos, cantando o jingle da campanha, as músicas da banda, festejando, sorvendo com sofreguidão aquela conquista impressionante, inacreditável.

Page 18: Os Enganados

Evento promovido pela administração

Evento promovido pela administração

Page 19: Os Enganados

Capítulo VI

Para curar a ressaca da festa da vitória, no Jardim Alvorada, Ricardo Barros juntamente com Amauri Meneguetti foi curtir as águas cálidas do litoral nordestino na praia de Maria Farinha, perto da ilha de Itamaracá, a convite do amigo, companheiro e futuro secretário municipal de comunicação, Edmundo Albuquerque.Lá, entre um mergulho e outro; entre um gole de água de coco gelada e outro; uma caipiroska e um hula-hula (vodka no abacaxi com leite condensado e gelo batido), começavam a ser esco-lhidos os futuros secretários e assessores do famigerado Governo da Renovação.Dias depois, Ricardo Barros estava de volta, pronto para assumir a prefeitura e cumprir um dos mais tumultuados, turbulentos e polêmicos mandatos da história de Maringá.A administração Ricardo Barros que tinha como lema: Maringá merece o melhor, foi recheada de fatos novos e polêmicos. Alguns exemplos: escola e creche cooperativas, terceirização da coleta do lixo, IPTU considerado pelo contribuinte, extorsivo; relação prefeito-servidor muni-cipal impregnada de discórdias, insatisfações e intolerâncias; briga com empresários e profis-sionais liberais; relações estremecidas com as associações de classes e sindicatos, e assim por diante.Foi criado o Grupo dos Treze (treze vereadores), base de sustentação do prefeito para poder aprovar projetos polêmicos e, em tese, revolucionários e inovadores; um grupo de vereadores para dar sustentação aos delírios administrativos e gerenciais do prefeito, na câmara municipal. Marco Antônio Rocha Loures, presidente da casa, segurou a batata quente com a coragem e a fidelidade de um cão de guarda. Ele era uma das expressões no famigerado Grupo da Reno-vação e nunca falhou no cumprimento da sua missão. Vestiu a camisa e pagou um alto preço como todos os outros que orbitaram em volta de Ricardo Barros.A fidelidade canina do Grupo dos Treze vereadores empurrou para o fundo da gaveta do ar-quivo morto, da Câmara Municipal, o processo de cassação de Ricardo, depois de uma sessão tumultuada, de muitos protestos e ameaças.Sempre arrogante e com ar de superioridade, Ricardo Barros olhava por cima companheiros e adversários; olhava com a frieza de um bloco de gelo ártico.A humildade do início da formação do Grupo da Renovação e da Campanha eleitoral vitoriosa havia evaporado como éter ao sol.Ele fazia tudo e de tudo para polemizar e dizia com raro cinismo, “que o importante era estar na mídia”, contrariando as posturas e comportamentos de secretários, assessores, colegas da administração e companheiros de partido. Nem sua mãe conseguia aplacar seu rompante de cinismo e desdém das pessoas e das coisas que o cercavam.Pedia opinião, ouvia os interlocutores, mas por fim, fazia sempre o que queria. Fez e desfez com a maior naturalidade, sem se preocupar se o seu ato, a sua atitude, iria atingir a uma pessoa ou a todas as pessoas. Como administrou sua emissora de rádio passou a administrar a prefeitura de Maringá. Quan-do não havia recurso para determinada obra ou ação gerencial, argumentava encerrando o as-sunto: “vamos fazer. Depois a gente acerta”. Uma maneira estranha de gerenciar a coisa pública; no mínimo irresponsável e inconseqüente.Comprou brigas homéricas quando o assunto era dar aumento aos servidores municipais, mas gastou centenas de milhares de reais (dinheiro de hoje), para fazer publicidade em rede regio-nal, estadual e nacional.

Page 20: Os Enganados

Para a publicidade não havia limites de gastos. Para satisfazer seu ego e sua vaidade, se não houvesse disponibilidade de recursos, tinha de aparecer o dinheiro de algum lugar. Daí algu-mas parcerias com empresas para viabilizar a publicidade oficial do município, em que o foco principal era a divulgação de suas qualidades pessoais e administrativas como homem público. Um verdadeiro egocêntrico e narcisista.Pelo servidor, não. Mas por ele, sim.Durante uma greve reivindicatória de aumento salarial dos servidores municipais, Ricardo Barros, para afrontar e provocar os grevistas, contratou um carro de som, e como eu era o apre-sentador oficial do cerimonial da prefeitura juntamente com Ângela Abrão, pediu-me para que fosse ao microfone e ao vivo, na frente do Paço Municipal, exortasse o servidor que quisesse trabalhar e estava impedido por piquetes dos grevistas, a peitar o paredão humano, adentrar ao prédio e cumprir sua tarefa funcional.Fui xingado, provocado, humilhado e ameaçado de linchamento. Só não o fizeram porque não quiseram ou por falta de coragem mesmo. Foi um momento duro, difícil, tenso e constrange-dor. Tudo em nome da administração de “Maringá merece o melhor”.A administração Ricardo Barros (Grupo da Renovação) ia navegando por mares tempestuosos. Muitas críticas e insatisfações por parte da grande maioria da sociedade organizada como um todo. Povo e lideranças esperneavam com as traquinices, a pompa, a indiferença e a ousadia de Ricardo Barros na condução dos destinos da cidade, do município.Esbanjando o dinheiro do contribuinte, ele trouxe para cá, muitas autoridades e artistas famo-sos. Entre tantos, trouxe Rosane Collor (mulher do ex-presidente Fernando Collor), Dorotéia Werneck (ex-ministra do Trabalho), Renato Aragão, dos Trapalhões e o próprio Collor de Melo (ex-presidente) deposto pelas falcatruas do Paulo César Farias e por exigência do povo brasi-leiro.Em todos estes momentos lá estavam eu e Ângela Abrão como apresentadores do cerimonial e do evento.Foi gasta uma montanha de dinheiro para trazê-los e para recebê-los com pompa e muita festa. O dinheiro para pagar a festança e a gastança era coletado junto a empreiteiros através de Paulo Magalhães, o PC do Ricardo - salvaguardadas as devidas proporções, se comparado com o PC Farias, do Collor -, ajudado ora por Miro Falkemback, ora por José Alfredo Singh, ora por qualquer outro de plantão na escala da coleta financeira de ocasião. Tudo em nome de “Maringá merece o melhor”. A administração Ricardo Barros de muitas viagens nacionais e internacionais, muitas fantasias, encantos e sonhos seguia em frente, apesar da polêmica geral, da chiadeira de empresários e do povo, do pau diário na imprensa, até que veio a eleição de 1990, para deputado. Aí o barco do Grupo da Renovação começou a fazer água. Amauri Meneguetti, considerado e conhecido como o “Primeiro Ministro” de Ricardo Barros, concorreu e perdeu (por pouco) para deputado federal.A derrota provocou insatisfações dentro do combalido grupo porque teria sido desejada, mes-mo sem parecer, por Ricardo, que de fato, não queria sombras para si. Amauri, eleito deputado federal, lhe faria sombras, dividiria o prestígio político. Esta suspeita seria comprovada mais tarde.Na campanha de Amauri Meneguetti, lá estava eu, no palanque, como o apresentador dos comícios e locutor de toda a propaganda de rua do candidato. Tudo em nome do Grupo da Renovação.

Page 21: Os Enganados

Campanha eleitoral de 1988

Campanha eleitoral de 1988

Page 22: Os Enganados

Mas foi na campanha da sucessão municipal em 1992, que o projeto do Grupo da Renovação ruiu, definitiva e irremediavelmente. E ruiu propositadamente. Era carta marcada de um jogo sórdido, sujo, em que dezenas de pessoas estavam sendo enganadas.Naquela disputa, aperceberam-se todos, da farsa, da falácia, da mentira e enganação engendra-das por Ricardo Barros para dizimar e finalmente aniquilar todo o Grupo.O candidato escolhido foi Miro Falkemback, depois de algumas marchas e contramarchas para oficializar a candidatura, porque haviam outros pretendentes à sucessão do jovem cacique. Depois de muito vai-e-vem, prevaleceu o nome do Miro.No curso da campanha foram muitas as crises e as discussões, já que Miro não subia nas pes-quisas: havia empacado em cerca de 15% da preferência do eleitorado, enquanto Said Ferreira que queria voltar a ser prefeito para dar o troco àquele “moleque imberbe”, estava disparado na frente.Numa entrevista que me concedeu para a rádio, Said Ferreira afirmou que não desejava ser novamente candidato a prefeito. Teria resolvido se candidatar para salvar Maringá da admi-nistração inconsequente de Ricardo Barros, e para corrigir as mazelas que ele havia praticado durante o seu mandato.Novamente, lá estava eu, no palanque do Miro; no programa de tv; no programa de rádio; na propaganda de rua; nas chamadas de comício. E foi naquela campanha que levei meu primeiro calote financeiro. Como profissional contratado verbalmente, não recebi o combinado.Odilon Populin era o financeiro da campanha; Paulo Magalhães, José Alfredo Singh entre ou-tros, os homens encarregados da arrecadação.Quem ordenava as despesas e os pagamentos era a primeira dama Cida Borghetti; e foi ela mesma quem se esqueceu de me pagar o combinado - com certeza, se esqueceu de propósito e por decisão de Ricardo Barros que dava a palavra final em tudo, principalmente para arrecadar e para pagar.Mas sobrevivi para levar outros dois calotes: em Rondonópolis-MT, com o candidato Agosti-nho de Freitas, e, em Maringá, com Jairo Gianoto quando disputou o segundo mandato.Só que as consequências para mim foram graves. Não recebi pelo meu estafante trabalho e paguei um preço muito alto. Como fiz os programas de televisão que atacavam Said, violenta-mente, fiquei estigmatizado e como vendeta, depois que o Turco assumiu, fui tirado de todos os veículos de comunicação. Como era a voz oficial da malfadada administração Ricardo Barros, durante dois anos, não consegui gravar, sequer, um comercial; muito menos apresentar algum evento em Maringá ou região, como costumava fazer. Literalmente quebrei, inadimpli, fali. Al-guns amigos como o saudoso Pacheco, José Sanches Filho, Emydio de Brito e Alcides Siqueira Gomes, entre outros, me socorreram nas emergências da subsistência.Sem alternativa por aqui, fui para Cuiabá. Lá, pude trabalhar no rádio, na tv, no jornal, em assessorias e no cerimonial do governo do estado. Pude trabalhar como profissional e em paz.Durante a campanha eleitoral em que o Miro era o candidato, todos percebemos que Ricardo Barros, na verdade, torcia o nariz para a eleição do Miro - Miro que se lixasse. Isso ficou com-provado quando uma nova rodada de pesquisa - toda semana tinha uma - mostrou os mesmos números. Miro não decolava. Estava prestes a pagar com a iminente derrota, pelos erros do Grande Chefe. Miro era o boi de piranha de Ricardo Barros. Ia se sacrificar, para ele poder atravessar o rioNa ante-sala do gabinete, travou-se uma discussão acalorada e nervosa entre Ricardo Barros, Miro, Willy, Amauri e mais alguns. Eu assistia a tudo, atento e impassível.A discussão questionava o destino da campanha e a derrota iminente do Miro para o Said.

Page 23: Os Enganados

Foi quando Ricardo Barros encerrou a celeuma deixando todos, inclusive eu, atônitos, se en-treolhando pasmos. Disse secamente, friamente: “pouco me importa se o Miro vai ganhar ou perder a eleição. A minha estrela tem brilho próprio”.Nos entreolhamos mais uma vez e saímos arrasados.Compreendemos naquele exato momento, que todos nós, estávamos sendo usados sob o argumento da construção de um novo projeto político, que não passava de um golpe rasteiro, para beneficiar apenas uma pessoa: Ricardo Barros, o mentor do Grupo da Renovação. Miro Falkemback perdeu a eleição para Said Ferreira, e Maringá viu se desfazer o Grupo da Renovação, uma invenção ardilosa de Ricardo Barros para se promover, e sozinho, reinar no cenário político de Maringá e do Estado.Eleito Deputado Federal (primeiro mandato), capitalizou ainda mais, ficando mais personalis-ta do que nunca. Para completar e mostrar seu real propósito, deixou o PFL, sepultou seus an-tigos amigos, companheiros e colaboradores, filou-se ao PPB, dominou o diretório do partido, se reelegeu no último pleito, e elegeu a mulher Cida Borghetti Barros deutada estadual.Mais do que nunca, nós todos, entendemos agora, e muito tempo depois, que o sentido de Grupo de Ricardo Barros, não foi, não é, e nunca será coletivo. Grupo, no conceito de Ricardo Barros, resume-se a “ele” e a “esposa”.Aqueles que sonharam com mudanças e renovação na política maringaense, se frustraram, e sem qualquer dúvida, foram vítimas da “maior rasteira política de Maringá”.Mas ninguém consegue enganar a todos, todo o tempo. E o próprio tempo, é o senhor da ver-dade.

Page 24: Os Enganados

Epílogo

Como se tivessem sido vítimas de uma maldição, a quase totalidade das pessoas que estiveram junto com Ricardo Barros, que se destacaram, que sonharam com um projeto político sério e verdadeiro, pagou um preço extremamente alto, e, praticamente, sumiram do cotidiano políti-co de Maringá.Uns morreram, alguns faliram, outros se recolheram e não querem mais falar, nem ouvir falar de Ricardo Barros, nem do Grupo da Renovação. De todos é impossível falar, mas alguns me-recem ser citados no fechamento desta história, desta narrativa de melancólica lembrança, para despertar no leitor, outros nomes que você conhece e que já nem se lembrava mais.Miro Falkemback - quebrou. Vive para o trabalho e sobrevivência. Já foi proprietário de uma construtora bem sucedida antes de ser vítima da maldição ricardiana.Willy Taguchi - que foi vice-prefeito de Ricardo e ocupou duas secretarias, pessoa séria e com-petente, sequer, conseguiu eleger-se vereador da cidade. Perdeu duas das eleições que disputou. Cuida hoje, de uma empresa de turismo. Encerrou sua carreira política desiludido com tanta sacanagem.Marco Antônio Rocha Loures - foi presidente da Câmara Municipal e fiel escudeiro de Ricardo Barros. Encerrou sua carreira política desiludido, igualmente, com tanta malandragem e safa-deza. Hoje, dedica-se apenas ao seu consultório médico. Marco Antônio é uma pessoa séria, de quem só se pode falar bem.Airton Furlaneto e Elói Victor de Melo morreram. Não chegaram a ver atualizado, o projeto de monstro que ajudaram a criar.Renato Tavares - recolheu-se à vida privada e nunca mais apareceu em nenhum evento político da cidade.Vanderlei de Almeida César - crédulo e homem de bem, continua apenas como dentista junta-mente com o filho. Para Vanderlei, a decepção foi medonha.Edmundo Albuquerque - que chorou quando deixou a secretaria de imprensa - sente vergonha e revolta com tantas mentiras ditas, tanta enganação. Não quer nem ao menos se lembrar dos bons momentos, na praia de Maria Farinha, em Pernambuco.Amauri Meneguetti - o ex-intitulado primeiro-ministro, foi cuidar dos seus negócios. Se so-nhar com Ricardo Barros, acorda sobressaltado, tem pesadelo.Edson Marassi - se recolheu à Cianorte, onde possui um canal de televisão. Não quer viver ou-tra experiência dessa, jamais.José Alfredo Singh - dono de construtora, faliu e sumiu. Sumiu não de medo de nada nem de ninguém, mas de vergonha. Deve se perguntar: como uma pessoa com bom nível de inteligên-cia pode se meter em tamanha fria.?Jaldeir da Silva Gonçalves - que filiou Ricardo Barros ao PL (primeiro partido), faliu em Marin-gá, e mudou-se para Camboriú-SC. Possuía uma importante imobiliária na cidade.Paulo Magalhães - o homem encarregado de arranjar dinheiro para as orgias políticas de Ricar-do e para sua promoção pessoal, quase quebrou. Capenga até hoje, e vê na sua contabilidade, o imenso prejuízo sofrido, o estrago causado pela maldição ricardiana. Paulo Porpíglio - que insistiu em ficar perto do Ricardo, envolveu-se em fatos policiais e che-gou a ficar preso. Foi motorista do Ricardo, prefeito; ouviu muita coisa interessante e cabeluda. Complicou-se na vida.Para Porpíglio, a maldição de Ricardo Barros teve conseqüências mais desastrosas, danosas e

Page 25: Os Enganados

infelizes.

Page 26: Os Enganados

Reunião de secretariado

Evento promovido pela administração

Page 27: Os Enganados

Com Ricardo Barros e Marco Túlio Vargas