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Experimenta com gelo e limão. 3 NOSTRA UNIVERSITAS Para que serve uma licenciatura? E o que tem a música a ver com isso? Por detrás dos Livros 7 MEGAFONE Entrevista: Jorge de Silva Melo Dois dias de luto Fluorescente Reportagem: MTV 15 SISÍFONIA Ler os Russos The Scarecrow B.F, A Terra Efervescência Pouco me lembro da escuridão O Olho Bom do Luís 21 CULDEX 23 ESTATUTOS 24 BANDA-DESENHADA Ingredientes: Março. 2012 Jornal da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 71 Distribuição Gratuita

Os Fazedores de Letras #71

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Março de 2012

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Experimenta

com

gelo e limão.

3 NOSTRA UNIVERSITAS

Para que serve uma licenciatura?E o que tem a música a ver com isso?Por detrás dos Livros

7MEGAFONE

Entrevista: Jorge de Silva MeloDois dias de luto FluorescenteReportagem: MTV

15SISÍFONIA

Ler os RussosThe ScarecrowB.F,A TerraEfervescênciaPouco me lembro da escuridãoO Olho Bom do Luís

21CULDEX

23ESTATUTOS

24BANDA-DESENHADA

Ingredientes:

Março. 2012

Jornal da Associação de Estudantes

da Faculdade de Letras da

Universidade de Lisboa

nº 71

Distribuição Gratuita

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ficha técnica

DIRECÇÃO:Bernardo ÁlvaresMaria TeixeiraMarta GilNelson P. Ferreira

ESCREVEM:Ana Isabel Milhanas MachadoAndreína MeloBalva ResCátia AraújoCristiana AlvesDiogo EstevesJoão Pedro PinheiroLúcia ChambelNelson P. FerreiraPatrícia AlmodôvarRafael Coelho do NascimentoSofia Freire

COLABORAM:Ana Isabel Milhanas MachadoAna MendesAndreia QueridoAndreína MeloCarlota BichoCátia AraújoCristiana AlvesDiogo EstevesHelena RodriguesJoão Pedro PinheiroJoana OliveiraLúcia Chambel

Maria João FernandesMarta HenriquesMarta OchôaMiguel Ribeiro Niara SouzaPatrícia AlmodôvarPaulo InácioRafael AlvesRafael Coelho do NascimentoRaquel MoraisRui CarvalhoSofia Freire

DESIGN, CAPA E IMAGEM:Nádia PascoalSara Brás

AGENDA:Ana Isabel Milhanas MachadoMaria TeixeiraRui Carvalho

BD:Nádia Pascoal

REVISÃO:OFL

CONTACTOS:Os Fazedores de LetrasAssociação de Estudantes de Universidade de LisboaAlameda da Universidade, 1600-214 LisboaTlf: 217 990 530Email: [email protected],Blog: osfazedoresul.blogspot.comFacebook: facebook.com/osfazedoresdeletrasRegisto na Entidade Reguladora para a Comunicação Social: 121256Depósito Legal: 128598/98

Os artigos assinalados são da responsabilidade exclusiva dos autores.

TIRAGEM: 4000

IMPRESSÃO:Litografia Amorim

APOIOS:

editorial Bonitos leitores,

Sabeis que os estudantes que representam este jornal académico individualmente lutam pela valorização e reconhecimento dos jovens portugueses perante a generalização da ideia de que as academias estão obsoletas. É um dogma dos nossos tempos pensar que os universitários não querem trabalhar ou tão pouco sair da boémia do percurso Bairro Alto e casa dos pais.Se vós sois um daqueles que partilha de tal pensamento, vós estais tremendamente correctos.Assumimos perante vós este editorial como um manifesto da nossa ressaca geracional. Os jovens não estão minimamente preparados para entrar no mercado de trabalho e qualquer estágio não remunerado é um acto de caridade que eleva qualquer “empregador” ao nível de um Nobel da Paz.Nunca nos ensinaram a resolver a Lei de Murphy ou a desconstruir o darwinismo da incompetência social impregnado nas camadas mais jovens (o fundo da cadeia alimentar).Concluindo, recordai connosco as sábias palavras de Nietzsche: “Nadah de boum xairá dax huniverçidadex”.

A Direcção

71

Descobrir

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Descobrir o mundo

falsos floreadosde

Nádia Pascoal | Sara Brás

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Cantigas em MaioO festival “Cantigas em Maio”, que ocorreu no dia 6 de Maio, foi organizado pela AEFLUL e inicialmente teve lugar no jardim do Pavilhão Novo (PN). Os Fazedores de Letras estiveram presentes e levaram na algibeira a pergunta “Para que serve uma licenciatura?” para dis-tribuir pelos músicos.O espectáculo da Inoportuna (tuna da FLUL) foi o primeiro da tarde e começou por encher o espaço com uma união incontestável, conseguida pela segurança e o à-vontade dos músicos. Foram também os primeiros a responder à nossa pergunta, mostrando uma opinião um tanto crítica, mas bem humarada, respondendo, entre gargalhadas, que uma licenciatura “serve para trabalhar na caixa do Lidl mas com muito mais estilo”.Seguiram-se as actuações de Coelho Radioactivo e João Nada que, confrontados com a questão, defenderam que uma licenciatura serve para nos orientar para o futuro. Nas palavras de João Nada, “a licenciatura serve para irmos percebendo para o que é que pode servir”. Mencionaram também o papel dos professores universitários, que conside-ram ser de grande importância. Coelho Radioactivo afirmou que “os professores são os nossos mestres. (…) Há muitos professores que facilitam mas também há os que dificultam, o que, se calhar, ainda ajuda mais.”As horas passaram e com elas chegaram os concertos d’O Cão da Morte, de Éme, de Chão da Feira e de Azevedo

serve uma

Nunca é tarde para reviver o que é bom e, assim sendo, Os Fazedores de Letras sugerem que voltemos ao mês de Maio e recordemos dois eventos que pautaram musicalmente a Faculdade de Letras e toda a comunidade académica de Lisboa.

E o que tem a música a ver com isso?licenciatura

Para que

?-4 ]nostras universitas [3

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Silva. Entretanto, apesar de não ter sido interrompido ne-nhum espectáculo, a chuva fez com que o festival passasse para dentro do Pavilhão Novo, causando algumas compli-cações e desistências por parte da audiência. No entanto, os concertos prosseguiram com o mesmo tom festivo. Quando questionados sobre a função de uma licenciatu-ra, O Cão da Morte, Éme e as Chão da Feira, partilhando as mesmas bases de resposta, afirmaram que o importan-te é a aprendizagem, seja ela sobre o curso ou sobre o que está para vir. Para O Cão da Morte, “devemos apro-veitar e aprender o máximo possível.” Éme explica que “devemos aproveitar a faculdade para aprender coisas que noutro contexto não aprenderíamos.” Chão da Feira, ao concordar com todas as opiniões da-das, resumiu que “uma licenciatura serve para preparar para o mercado de trabalho e para a vida” e que “é ape-nas um ponto de partida”. Numa linha de pensamento similar, Azevedo Silva acrescentou que a licenciatura “é uma aprendizagem de coisas diversas, não apenas teoria ou prática relacionada com os diferentes cursos”.

Noite da Cafetra Records na FLULAlguns dias depois, deu-se mais uma noite de festival, desta vez com uma temática mais específica. A noite foi dedicada somente a uma editora relativamente recente (activa desde 2008) de nome “Cafetra Records”, cuja

constituição é um vasto grupo de amigos que tanto parti-lham bandas como a paixão pela música.A Noite da Cafetra Records ocorreu no dia 21 de Maio no bar Novo da FLUL. Mais uma vez a entrada era livre o que, no entanto, não foi o suficiente para atrair uma multidão.Neste festival mais íntimo, destacava-se um ambiente fami-liar invulgar e incontornável. O ambiente era de amizade e não houve cerimónias, o que permitiu que não fossem ape-nas as bandas que constavam no cartaz a tocar em palco.Como previsto, tocaram as bandas: 100 Leio, Os Passos em Volta, Pega Monstro, Kimo Ameba e Éme, tendo ainda contado com as participações de S for Seward, Putas Bê-bedas e Egícios.

Outros eventos na FLULMas nem tudo o que alia música e faculdade faz parte de um passado longínquo. O início deste ano lectivo já contou com o festival Rock in Letras, com um dia dedicado ao rock e outro ao metal, e com a primeira Matinée Ex-perimental, que privilegiou tanto a música experimental como a projecção de imagens.

Cristiana Alves V.

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-6 ]nostras universitas [5

Entrevista ao Dr. Pedro Estácio, chefe de divisão e biblio-tecário principal da Biblioteca da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Há quanto tempo é chefe de divisão da biblioteca da FLUL?-Sou chefe de divisão e bibliotecário principal desde Maio de 2007.Existe uma separação entre direcções - uma de carácter mais científico e outra de gestão de terreno, que é susten-tada pelo chefe de divisão.

Visto que não é uma empresa, como é que se gere uma instituição

como a biblioteca da FLUL?-A Faculdade de Letras tem assumido que a biblioteca presta um serviço fundamental e essencial para o cumpri-mento da sua missão de ensino e de investigação. Mesmo em período de contenção orçamental tem sido permitido, à biblioteca, um conjunto de recursos financeiros que nos vão garantindo o cumprimento da nossa missão, que é es-sencialmente social. Apesar de a nossa preocupação não ser o cumprimento financeiro, temos uma gestão rigorosa das verbas dos dinheiros públicos que são atribuídos para aquisições e para o funcionamento da nossa biblioteca.

O equilíbrio entre o compromisso social, cultural e financeiro é feito através do empenho do director da biblioteca, do director da

faculdade e dos técnicos do serviço da divisão.Os doadores oferecem ajudas monetárias à biblioteca?

- Não, os doadores da biblioteca são doadores pessoais ou institucionais - de bens que complementam as nossas

aquisições. Recebemos essencialmente publicações, mo-nografias, livros, publicações periódicas, cd´s e dvd´s.

Como é feito o processo de filtragem das doações? -Quando se trata de grandes doações, geralmente pedimos ajuda a um ou mais especialistas, dependendo de a bibliote-ca ser mais especializada numa área. Normalmente, profes-sores da Faculdade de Letras, conhecedores das matérias, fazem a avaliação de um determinado tema e emitem o seu parecer. Em função desse parecer, positivo ou negativo, a bi-blioteca incorpora o todo, uma parte ou então nada de tais doações. O que não for útil à Faculdade de Letras poderá ser útil a outra faculdade.Quando são pequenas doações, dez livros por exemplo, não há necessidade de reunir uma comissão - a própria bi-blioteca avalia, através de pessoas com capacidades técni-cas, se as acolhe ou não, sendo o critério sempre científico.

As pessoas cujo nome está exposto na entrada da biblioteca da FLUL são os maiores doadores ou todos aqueles que já

contribuíram até hoje para o património da biblioteca?-Há grandes doadores institucionais, pontuais, unipessoais ou familiares. Os nomes que estão expostos são de pes-soas que fizeram as doações pós-morte. Os nomes das instituições referem-se às que ofereceram o maior número de livros à biblioteca (acima de 500 títulos).Nalguns casos foram oferecidos muito mais de quinhentos livros; doações na ordem dos milhares, entre os três mil e os seis mil exemplares. Neste caso são colecções privadas.Entre Janeiro e Junho de 2011, a biblioteca recebeu duas

Entrevista: Biblioteca FLUL

livros

Detrás dos Por

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doações que no seu conjunto representam onze mil livros novos, em áreas como literatura portuguesa e estrangeira (sobretudo americana e inglesa), estudos africanos, filoso-fia e ciência política. Também recebemos o espólio de Mário Barradas na área do teatro, na qual a Fundação Calouste Gulbenkian com-prou e posteriormente decidiu doar à Faculdade de Letras. Como se consegue manter as obras antigas do arquivo histórico? - Uma observação prévia: o arquivo histórico é uma coisa e a biblioteca é outra. O arquivo histórico está ligado à produção administrativa da casa. A Faculdade de Letras tem vários núcleos de arquivos espalhados por vários espaços dos diferentes edifícios da faculdade. No arquivo histórico reunimos documentação produzida pela organização Curso Superior de Letras e FCL ao longo da sua vida, ou seja, livros, actas, corres-pondência, fichas, livros de sumários e livros. A documen-tação vai desde 1859 até à actualidade.

Os documentos mais antigos podem ser consultados livremente?-Estamos a desenvolver um projecto faseado de uma bi-blioteca digital. Esta plataforma oferece aos investigado-res obras do século XV e XIX e peças de teatro do século XIX, sobre as quais não recai qualquer tipo de direitos de autor. A partir do momento em que digitalizamos os docu-mentos, os originais deixam de ficar acessíveis. Em algumas ocasiões, o original pode ser consultado fisicamente, mas tem de ser apresentada uma justifica-ção bem fundamentada, como por exemplo, em caso

de investigações que necessitam do manuseamento do original e em que a consulta de uma cópia digital não se revela suficiente; mas é importante referir que a cópia digital (em jpeg e pdf) é absolutamente fiel ao original. Se a obra e/ou o documento estiverem bem conserva-dos, o leitor pode contar com o original. As obras de acesso reservado podem ser consultadas a partir de um requerimento prévio e a leitura é feita na zona dos depósitos (piso subterrâneo na biblioteca da FLUL). As obras e/ou os documentos não podem ser fotocopiados, mas podem ser fotografados pelos nossos leitores. Pontualmente, as obras de acesso reservado po-dem ser digitalizadas, desde que seja garantida a con-servação desses documentos.

Qual foi a oferta mais valiosa?-Tenho dificuldade em eleger um documento, devido à ri-queza da nossa colecção, na qual existem obras raras desde o século XV. No entanto, há uma que, devido à sua carga simbólica e cultural, se destaca: a primeira edição da obra Peregrinação de Fernão Mendes Pinto. Esta edi-ção é do século XVII e foi oferecida à FLUL pelo professor Marcelo Caetano.

Entrevista por: João Pedro Almeida Dores Correia Pinheiro.Agradecimentos: Dr. Pedro Estácio

livros A biblioteca é um espaço de estudo e cultura por excelência. Mas o que está a priori de tudo isto? De onde vêm os livros? O dinheiro? O que estará nos reservados e quais as obras mais valiosas?

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-8 ]megafone [7

Soube que fez parte do Teatro de Letras, quais as aprendizagens e experiências que retirou desta fase da sua vida?

-No momento em que participei no Grupo de Letras deu-se uma reviravolta no Teatro Universitário… Ao contrário de grupos mais estruturados como o CITAC ou o Cénico de Direito, o grupo de Letras era uma associação sem quadros dirigentes, nem órgãos, nem estatutos. Tinha existido impulsionado por Claude Henri Frèches, um pou-co como um grupo francês, de apoio ao curriculum dos cursos. Quando começamos (eu, o Luís Miguel Cintra, a Eduarda Dionísio, o Nuno Júdice, entre outros) não era isso o que queríamos. Nem queríamos os profissio-nais da profissão a vir ensaiar-nos. Queríamos começar pelo princípio. E foi um marco histórico. Tudo feito or-gulhosamente por nós, sem professores, nem curadores, nem “especialistas”, feito em casa, e, triunfalmente aco-lhido pelo público desde a estreia, no Teatro Vasco San-tana. O que aprendi? Que podemos tomar a vida nas nossas mãos, correr riscos, ousar. E que não há prazer maior do que esse: fazer aquilo que queremos e fazê-lo bem. Nesse sentido, a formação do Teatro da Cornu-cópia em 1973 e a dos Artistas Unidos em 1995 são a consequência lógica dessa aprendizagem única - auto-aprendizagem, diria eu agora.

Como é trabalhar com os Artistas Unidos?-Já foi estimulante… Quando, durante dois anos, estive-mos no edifício A CAPITAL e quando connosco se cru-zavam tantos destinos, tantos desejos… Quando éramos

umas cem pessoas todos os dias naquele edifício aban-donado do Bairro Alto. A saída desse edifício ordenada pelo Dr. Santana Lopes veio pôr fim a uma experiência única e transformou definitivamente a companhia. Dá agora imenso trabalho insistir em que os Artistas Unidos não são mais uma companhia de autor, não são uma em-presa para o Jorge Silva Melo fazer mais uns espectá-culos, não são uma companhia de teatro, mas sim uma plataforma de criadores - que podem ser actores, pinto-res, cenógrafos, mas são ARTISTAS e são UNIDOS. Não é fácil e estes últimos anos (sem casa, estreando em salas mais ou menos institucionais) criaram um grande vazio, um enorme cansaço, um suave desespero. Pode ser que alguma coisa mude com a próxima cedência do Teatro da Politécnica: mas nunca voltaremos a ser os que estiveram na Capital. É que isso foi há 11 anos. E o tempo é inexo-rável, e as coisas passam.

Na peça Um homem falido trabalhou em conjunto com António Simão… No seu ponto de vista o trabalho de encenação é mais

produtivo em grupo ou quando trabalha sozinho?No teatro, felizmente, nada é feito a sós. E no caso de UM HOMEM FALIDO servi de crítico/analista do traba-lho que António Simão ia fazendo. É muito normal o encenador perder-se na monotonia dos ensaios. E é bom surgir alguém - eu ia aos ensaios 2 vezes por semana, todos os dias na parte final - que serve de espectador, e diz “não ouvi, não percebi”, antes de chegarem os espectadores autênticos. Não gosto de homens sós, “no

Jorge Silva Melo

Entrevista:

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man is an island” e por isso mesmo se criaram os Artistas Unidos - e não o Artista Solitário. O teatro tem isso de extraordinário…É feito por muita gente diferente e com saberes muito diferentes uns dos outros. E eu gosto de ver um espectáculo a ser feito - e sei interpretar aquilo que ainda está balbuciante, dar-lhe forma. É o que mais gosto de fazer.

Tendo como exemplo a peça Um homem falido, hoje em dia a leitura do espectáculo teatral pretende ser livre ou conduzida

de forma a levar o publico a chegar a um determinado conjunto de conclusões?

-Como diz William Gaskil, o grande encenador britânico, o trabalho teatral é apenas o de colocar “words into ac-tion”, encontrar as acções que se escondem nas palavras, as que elas inventam. Não se trata de ilustrar, nem de co-mentar, nem de utilizar, trata-se de encontrar. O trabalho de encenação é assim mais próximo da hermenêutica do que da tradicional visão do artista. Trata-se de analisar um texto, verificar as suas linhas de força, testá-lo com a acção, encontrar as acções propostas.

Isso condiciona o espectador? -Sim, tudo condiciona: ele está a ver esta e não outra peça de teatro. Mas aquilo que mais me interessa é que as condi-cionantes sejam aquelas que o autor colocou na elaboração do seu texto, não outras, nem mesmo diferentes. O que me interessa é que as palavras se soltem nas acções que elas incluem. Simples? Difícil.

Sei que trabalha muito em cinema… Que diferenças existem em dirigir um actor em cinema e um actor em teatro?

-Dizia Truffaut - e eu concordo - que não gostava de usar a expressão “direcção de actores”, que isso é terminolo-gia militar e que ele foi refractário (eu também). Prefiro auscultar-lhes o coração, sentir o que eles intuitivamen-te imaginaram, ouvir-lhes o murmúrio. Claro que a mo-bilidade de pontos de vista do cinema não é a mesma coisa que o ponto de vista único do teatro… Claro que as condições acústicas são diferentes, mas também entre o São Luiz e o Teatro da Politécnica são bem diversas as condições. Pensa-se muitas vezes que no teatro tem de se fazer “maior” e que no cinema se faz “mais peque-no”. Não é verdade. Num plano geral em que se vê uma rua inteira, aquilo que é pedido ao actor é que simplifi-que os seus gestos de forma a tornar visível a acção (e é o mesmo que peço a quem venha representar comigo uma super-produção no palco maior do CCB, por ex.); num grande plano estaremos muito longe do que pedimos a um actor que vá fazer teatro na Casa Conveniente, mas depois há o repertório… É claro que quando pensamos em “cinema” pensamos num repertório “realista”. Mas My Fair Lady ou Os Dez Mandamentos são cinema... E serão muito diferentes do teatro musical?

12 de Junho de 2011 Patrícia Almodôvar

Jorge Silva Melo é actor, encenador, cineasta e director artístico de uma das mais importantes companhias de teatro português, os Artistas Unidos. Frequentou a Faculdade de Letras de Lisboa e a sua passagem por esta instituição foi assinalada pela irreverência e pela necessidade de criação que permitiu uma reviravolta no teatro universitário em Portugal. Há quem se inspire nele e na sua interminável obra, porém também ele tem as suas inspirações e memórias…Desta forma, nada melhor do que ouvi-lo na primeira pessoa…

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“Finalmente, foi feita justiça”, foram as palavras utiliza-das por José Rodrigues dos Santos para descrever o as-sassinato de Osama Bin Laden, na abertura do Telejornal.Eu, que sempre encarei a justiça como algo cuja comple-xidade ultrapassa o universo dos juízos de facto, creio – o que pode ser um excesso de cepticismo da minha parte – que a frase “Finalmente, foi feita justiça.”, deve-ria permanecer inutilizada no contexto jornalístico, por se tratar, penso que indiscutivelmente, de um juízo de valor incompatível com a imparcialidade e, portanto, apenas utilizável no mais desprezível e tendencioso jornalismo (ou seja, o não-jornalismo), que é quase todo o jornalis-mo existente no nosso país e no mundo.Tudo isto, que já retomarei, aconteceu no dia que se seguiu ao primeiro de Maio, dia do Trabalhador. Fez, nesse dia, 125 anos que milhares de trabalhadores se uniram em Chi-cago, em luta por um direito em particular: a redução da carga horária para 8 horas de trabalho diárias. Hoje, se olhamos para esse direito como algo intocável, para além de estarmos enganados – por já ter faltado mais para que no-lo furtem – temos o dever ético, quanto a mim, de res-peitar, festejando, juntamente com as restantes pequenas vitórias alcançadas pelos trabalhadores de todo o mundo que, ao longo dos tempos, canalizaram forças alimentadas pela coragem e se uniram, essa conquista que, embora trôpega e ameaçada, chega aos nossos dias.Devemos, para além de sair à rua, apelar à consciência histórica, respeitar-nos a nós, respeitando e celebrando os antepassados que, lutando por si, lutaram por nós. De-vemos, em vez de esperarmos, como é nosso hábito, que façam algo por nós, lutar, mostrando-nos dignos e mere-cedores dos nossos desejos e das nossas reivindicações.Houve manifestações, mas não é aos manifestantes que devo endereçar, hoje, as minhas palavras. Esses, com

maior ou menor noção, tomaram uma posição, uniram-se de forma justa, embora por vezes mal encabeçados. Referir-me-ei antes aos que esperam passivos por uma queda galáctica de um mundo cor-de-rosa, dirigindo, por sistema, o olhar apenas ao espelho e a acção a um comodismo conformado e decadente. Esses, no primeiro de Maio – mesmo não sendo todos iguais, tendo-o feito uns movidos pelo medo, outros pela ignorância, outros simplesmente pelo comodismo de que falei – festejaram (apenas) o dia da mãe. Não que seja mal festejado ou menos importante. É simplesmente muito mais fácil de fes-tejar, por ser um cliché contra o qual ninguém se impõe. Porém, quando são alcançadas vitórias por quem correu o risco de dar o corpo ao manifesto, essas englobam-nos, a esses que nada fizeram, e eles gozam delas também.E esses são, infelizmente, uma maioria. Uma maioria que, sem saber, despreza o semelhante que faz jus à máxi-ma de Albert Camus: “Revolto-me, logo existimos.” Uma maioria que, sem saber, espezinha, impávida, quem, ao resistir, lhe deu a relativa liberdade de que hoje goza e que ignora quem, por todos os que trabalham, não se acomoda ou resigna, não desiste de gritar mesmo entre os cassetetes e os chicotes reais ou imaginários da re-pressão policial ou patronal. Uma maioria que, no dia do trabalhador, gozando do feriado aparentemente intangí-vel, se passeia por centros comerciais e hipermercados, desconhecendo que às pessoas que a atendem foi rouba-do o feriado que é símbolo da sua classe, o feriado que deveria ser uma fiesta, como lhe chamam os espanhóis.É essa maioria, ou parte dela, que forma uma massa pes-tilenta que atinge também parte das restantes pessoas, que aceita, cega, a frase “Finalmente, foi feita justiça.”, referente ao assassinato de Trotsky, ordenado por Stal… perdão, de Bin Laden, ordenado por Obama. É a mesma

TEXTO DE OPINIÃO:2dois dias

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coisa, no fundo.Essa maioria, presa pelas amarras da sua ignorância e/ou do seu medo, acorrentada a si mesma, fazendo da sua vida uma mísera existência e de si uma mera ferramenta, aceita cegamente e cegamente obedece, comendo o que lhe dão, ouvindo o que lhe oferecem, fazendo o que lhe ordenam, cuspindo na unicidade da própria personalidade.Anos e anos depois do início da discussão da justiça da pena de morte – que, felizmente, vai diminuindo no mun-do (a pena, não a discussão) – um dos mais respeitados jornalistas do nosso país adjectiva-a de justa, como se se tratasse de um facto inquestionável, de um dogma.O resto (o 11 de Setembro, etc.), são episódios cujos culpados ainda estão por encontrar e julgar. Por enquanto, há um bode expiatório, talvez criado por Manobras na Casa Branca, tornado cadáver, ao que se diz.A verdade é que o golpe foi tempestivo, tal como o foi o ataque às torres gémeas. Numa altura em que Obama via o eleitorado a fugir-lhe como ao chão debaixo dos pés, mor-re Osama e o povo venera-o como a um herói salvador da pátria, festejando, batendo em latas, saltando de alegria não sabe bem pelo quê, olhando as platónicas sombras em que vivemos sem conhecer a realidade, enquanto o sistema e os seus tiranos se vão alimentando das mentiras que nos dão à boca, e nós nos vamos contentando com “pão e circo”.E tudo isto aconteceu uns dias depois de mais uma bizar-ria, da paragem de meio mundo para ver um casamento em que toda a luxúria foi permitida e vangloriada ao mes-mo tempo que se louvava a deus, perante o olhar insciente do povo, que observou aquele proscénio, feliz, inocente, enquanto uma noiva belíssima era beijada por um rapaz que nada fez pela sua condição senão nascer. O mesmo que fizeram pelas suas as crianças que vão morrendo na

Líbia, no Afeganistão, no Iraque… países que, no “dia em que o mundo se tornou um lugar mais seguro”, continuam a ser bombardeados por mísseis e interesses de imperia-listas impiedosos, entre os quais se encontra o Nobel da Paz. Mas que importa? Bin Laden morreu e toda a guerra feita pelos países “civilizados” é legítima! Nós fazemos guerra, os outros, terrorismo. Quanto a mim, estou de luto por este mundo. Mante-nho uma posição e não tenho, embora o possa ter dado a entender erradamente, como inimigos, a maioria de que falei. Essa maioria, que vai legitimando todo este circo enquanto se auto-destrói, é apenas vítima de ma-nipulação. Não são meus inimigos tal como não é meu inimigo um soldado de um país inimigo do meu: porque são-me semelhantes e não sabem simplesmente, ainda, quem os defende verdadeiramente. Não é contra eles que me ergo, mas contra quem os manipula. Na verdade, é o sistema; o capitalismo que se esconde por detrás da máscara desta falsa democracia onde nenhuma das mais mesquinhas atrocidades foi abolida, onde a economia não se encontra ao serviço de quem produz, antes pelo contrário. Onde são todos muito democratas quando têm a maioria do seu lado. É fácil ser-se democrata assim. E o meu luto por este mundo podre, à beira do caos, é flu-orescente. É fluorescente porque, como disse em tempos sóbrios Manuel Alegre, “Mesmo na noite mais triste / Em tempos de servidão / Há sempre alguém que resiste / Há sempre alguém que diz não”.

Rafael Coelho do Nascimento, 02/05/2011

de luto fluorescente

dias

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-12 ][11megafone

reportagem:mtvNo passado mês de Setembro, a MTV Portugal divulgou os nomeados para o prémio “Best Portuguese Act” 2011: Amor Electro, Aurea, Diego Miranda, Expensive soul e The Gift. Nomes bem conhecidos da nossa praça. Os Amor Electro lançaram o seu primeiro álbum em Abril deste ano e demonstraram que é possível fazer Música Pop Portuguesa. A banda conjuga temas origi-nais que revelam as suas influências, e nos quais parti-cipam músicos distintos da cultura portuguesa. O álbum homónimo de Aurea depressa chegou a pla-tina, surpreendendo e cativando pela sua voz e sono-ridade que lhe é característica. Um trabalho musical que demonstrou ser eclético, num registo pop/soul que apresenta apontamentos de diversos estilos musicais. Temas como “Ibiza for Dreams” ou “Just Fly”, bem conhecidos do DJ/produtor Diego Miranda são já um marco da música dança em Portugal. Em 2006, o DJ arrecadou o prémio Portugal Night Awards na catego-ria de DJ revelação. Os Expensive Soul assumiram o risco e auto-editaram o álbum “B.I”, materializando a paixão que os dois amigos New Max e Demo desde cedo nutrem pela música. Símbolo da nova música portuguesa, esta é a segunda vez que a banda esteve nomeada para o “Best Portuguese Act” dos “European Music Awards”. Juntos desde 1994, os The gift, já contam com um longo percurso no panorama musical que inclui a passagem

por vários palcos internacionais, desde o continente eu-ropeu ao americano. São uma banda que se pode ca-racterizar como alternativa e cujos elementos já tinham um forte elo de ligação quando decidiram juntar-se, a amizade, que para eles “é a base de tudo”. Seis anos depois de ter vencido este prémio, a banda esteve mais uma vez na corrida. E o vencedor é…Aurea! O público votou de forma ex-pressiva no site da MTV e ficou clara a preferência. Em comunicado à MTV Aurea agradece: “Obrigada a todos vocês que me acompanham pela vossa força, dedicação e carinho incondicionais, à minha família e a toda a minha equipa, Rui, João, Ricardo, músicos e técnicos por me aturarem por essa estrada fora e me fazerem sentir sempre em casa onde quer que esteja.” Recorde-se que em Maio, Aurea venceu o globo de ouro na categoria de melhor intérprete individual e mais re-centemente actuou em Taipé, Taiwan no “Henessy Artis-try Taiwan 2011”. Questionada sobre o que achou do público chinês a cantora salienta que: ”estava à espera de um público mais contido, mas surpreendi-me muito!.. muito calorosos!” No dia 24 de Outubro ficamos a saber que Aurea não passou à fase seguinte, tendo sido Lena (artista alemã de 19 anos) a eleita para representar o continente eu-ropeu na categoria de Worldwide Act na cerimónia do MTV EMAs, que se realizou dia 6 de Novembro em Belfast. Ainda assim, é de realçar que a artista natural de São Tiago do Cacém cativou o público português e está a dar cartas a nível internacional.

Andreína Melo

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antes

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A N T E S

Page 17: Os Fazedores de Letras #71

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sisífonia -16 ][15

Ela está sentada com o caderno aberto no colo e o lápis ocupa-se a rematar o traço. Faz sombras, borra a cor cinza com a gema dos dedos. Não quer ser notada mas também não consegue ser discreta. À frente dela está um velho. Os olhos levantam do papel para o velho e baixam do ve-lho para o papel. E se a espreitassem pelas costas como fiz, veriam um rabisco dele a ler um jornal.O velho é outro velho, penso. É mais um que se prepara para a cova e se ocupa como pode. O tempo deve passar devagar para pessoas da idade dele. Fosse o contrário, não perdia tempo com pasquins. E ele enrola o jornal e coloca-o entre o sovaco e fica a olhar por todos os cantos.Julgo ser modelo digno se me sentar à frente e virado para ela. Se puxar um conto de Gógol e me puser a fingir que o leio. O polegar apoia o queixo e o indicador cobre os lábios, pautando o virar da página com um cofiar de barba. Estou feliz por não ser um adolescente imberbe. A barba, penso, e uns óculos de massa fazem-me um intelec-tual de esquerda. E então fingindo-me imerso no Avenida Névski. Ela desconfia lá que sou o tipo de gajo que al-guém consegue detestar com facilidade.Está tudo disposto à minha vontade. Se fosse obra do Dostoiévski, era capaz de pousar o caderno e convidar-me para um copo. Eu diria, É o texto original em russo, acho pecado ler uma tradução. Ficaria rendida, Quero fazer amor contigo, dás-me tesão, diria. Quem seria eu para recusar. Sobre o Dosto, continuaria, É como se o conhecesse durante uma vida inteira. Sinto que o co-nheço com profunda intimidade. Acontecem destas coisas quando se lê no original. Aí, a moça soltaria, apaixona-da, Vamos largar a nossa vida na cidade para vivermos

ler os Russos

numa quinta no meio do mato e ter filhos, pequenos litera-tos russos tal qual ao pai. Sento-me e rogo para que ela desvie o olhar do velho para mim. Que me rabisque com imperfeições e me borre a cara com a gema dos dedos tentaculares. Parece co-meçar a fazê-lo. Sorri com magreza na minha direcção. Olha para mim e olha para o papel. Para o papel e para mim. Finjo não olhá-la nos olhos, até que o fingimento passa a distracção e não a olho mesmo. Pareci mais con-centrado no livro, a viver o meu papel por galardoar. Até chego a ler umas linhas. Levanto os olhos. Está acompanhada por um espertalhão. Entrelaçam as línguas e quase se engasgam. Selvagens. Bardajona. Qual é a ideia dela? Eu, tu, o lápis, o Dosto espreitar-nos enquanto me montas em casa dos teus pais. A vida pela frente. E agora ri-se alto, e ele também. Riem-se como porcos grunhem. Eles olham para o papel e olham para mim e riem-se. Se calhar desenhou-me uns cornos, se calhar fez-me careca, se calhar desenhou-me mamas em vez de olhos ou uma pila em vez de nariz.Levanto-me com pressa e colho o livro para dentro do bol-so. O mundo precisa de menos artistas, penso. Apresso-me a sair. Lá fora as pessoas estão cinzentas, talvez pelo reflexo do céu ou pelo fumo dos canos de escape em hora de ponta. E os prédios velhos não prestam para nada. Ninguém presta.

Nelson P. Ferreira

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The Scarecrow

In the rainy fields of a no man’s land a scarecrow livedcrucifyed and soiled in wooden bloodyet he scared no crows at allfor he was a sad puppet of broken wood and ragged soultied to a stick and seven feet tallthe scarecrow lived, damp from the floodand his destiny I narrate, and Hélas, it was foul... Begotten by the good old gardenerthe scarecrow came from rags and sticksand ghoulish were the bones that stood himup from the field, gazing into the impassive landsdisenboweling his own hay stuffing with claw-like handsbutton eyes and no smile at allstood the ragged scarecrow, up against the dawning wallall twilight, dusk and at aurora’s scrawlimpassioned puppet the scarecrow wasstuck to his cross, at the good old gardener’s demandsscared no crows but saddened the surrounding landsup in the cliff, Golgotha and the valley bellowthe scarecrow to die named king of the blues and the herdseternal death faced like a late-time Prometeus wraithfor the compassionate rebirth of all starving birdssad the scarecrow, thus was its fate.

Lúcia Chambel

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-18 ][17sisífonia

A voz soa no seio do autocarroA rapariga sonha com os olhos postos na

paisagemO homem da frente revira-se no banco

À procura do aconchego.A bebé grita porque a estrada é má

E a mãe jovem segura-a e cala-a baixinho.a estrada é má já se disse

mas o autocarro leva sempre a rapariga que sonha

o homem que se aconchegae hoje a bebé que chora.

Ana Isabel Milhanas Machado

A Terra

B.F.

me lembro do deserto e

da escuridão.

As sombras na estrada rudeO chapéu de palha ao sol

As velhinhasConversam sobre batatas em cubos

As batatas vêm da terraAs velhinhas vão para a terraO chapéu de palha ao solSó estava lá para assegurar a sombra

Sofia Freire

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PoucoPouco me lembro do deserto e da escuridão, onde apenas se faziam ouvir os passos lentos do coração. Não me recordo da leveza do nada e do bem-estar da cegueira provocada pela nuvem que me sustinha. Ainda assim, sinto a invasão de um batalhão em agonia, ansioso por me defender, gritos ausentes que já perderam expressão. Mesmo que ao longe, consigo ouvir euforias e espasmos, sussurrando-me ao ouvido numa sedução penosa. Senti-me tentado e deixei-me levar. Do nada e para o todo, enquanto acarinhado por músculos, colados à minha pele, músculos que também eram a minha pele. Até que o meu amparo foi rasgado por barulho que me perfurava o tímpano, por carne insincera que ainda resta. Fui perdendo a força no corpo e senti os dedos esfriar. O meu coração arritmado começou a bater impetuosamente mais rápido, parecendo querer acabar comigo. Sinto ainda que senti um formigueiro no cérebro, a pele a contrair e a desistência de um esforço vão. Deixei as pálpebras pesar e esbocei um sorriso cansado, marcado por um suspiro que mais ninguém sentiu. Nasço, para poder agora ressacar.

Cátia Araújo

me lembro do deserto e

da escuridão.

Na noite sedenta de ilusões pagãs,vagueia a preta no breu e pernoita,à maré de uma onda que açoita,no rapaz dormido até amanhã.

Entra uma brisa pela janela entreaberta,e o vento demanda a assoprar.Não te afeiçoes, rapaz, à preta,porque a noite só é noiteenquanto a noite durar.

Diogo Esteves

Eferves-cência

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-20 ][19sisífonia

O seu humor assemelhava-se à escrita do poeta Carlos WiliamsResidia no enunciar a coisa mais simples trabalhando e esculpindo a norma

Satirizava qual Friedrich Wilhelm NietzscheE enchia a boca dos outros de palavras que julgavam ser suas

Brincava com uma inocência de Mao Tsé-TungSobre a mesa dispunha com geometria militar caneta, jogo e caderno

Comia como GautamaE sua alma tinha a forma do ChileMontanhas chamava rios procurava

Debaixo da regra métricaO som duma porta a ranger

Correntes de arAssombrações...

Camões desceu aos seus sonhos para o atormentarMas ele subiu a montanha e arrancou-lhe o olho bom

Viu para além do marDebaixo da terra há toupeiras mas não há fantasmas.

Em terra de cegos quem tem um olho é rei e ele tinha o olho de CamõesReclamou o submundo a Hades e juntou um exército:

Bartók coloriu as legiõs de vermelho e de brancoGaudí arquitectou o plano

E Picasso de camisa negra liderou o ataque

No mundo do Sol as pessoas não resistiram ao OlhoUns foram petrificados

Outros tornados zombiesPoucos desceram acorrentados para as trevas.

O caminho emana luz de trompetes plantados em filaEscadas

Bunkers escavados em grutasFrio de bombas

Explosivos fabris a vaporO marchar de máquinas-de-escrever

Uma artilharia comandada por Kafka e Luis BorgesFerreiros a bater em espadas vão desenhando o império

Tribunais & Labirintos

O som dos grilhões perde-se na imensidão abafada da piscina OlímpicaPrisioneiros de vestes brancas eram postos a dançar

Cada qual em sua divisóriaSuspensos em água termal

As bolas de ferro afundam-se no tempo & espaço.Olhos pendem nos pescoços de treinadoras velhas

Poseídon depilado em Speedos é chicoteadoCinquenta e dois segundos e três centésimas

– Mais, mais, mais!Apitam no olhoPoseídon pára

Ouve-se ao longe metal a ecoar repetidamente.

Ol hO

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Ele manteve-se no seu trono a escrever leisDe olho & caneta

Páginas que alimentam os prisioneiros eDão força aos soldados.

Dez vinte trinta e quinhentos mandamentosHierarquia das artes

PoetasCompositores

PintoresEscultores

ActoresCineastas

...FrancesesFrançois Truffaut divide o Ministério dos Mandamentos com Jean-Luc Godard

Bergman assume a secretaria de estado da alimentação espiritualE Tarkovsky a pasta da propaganda metafísica.O jovem Stravinsky alistou-se nos serviços secretos –Dizem que assassinou seis homens com uma batuta e,Consta,Italo Calvino matava bispos com peças de xadrez.O Desporto assume a excelência máxima da expressão humanaA arte com a regra no topo da hierarquiaBatalhões aeróbicos azul-bebé foram destacadosMilhões de balõesSolRasgam nuvensDestoadoDesbotadoCachos de uvas saqueiam os céusTempestade de cimentoCinzentoEncontram Zeus a preto e brancoUm mandamento definiu que o deus trovão deveria contracenar com Charlot

Uma prisão de dominó ergueu-se e tapou a luz dos vitraisO verde amarelo e azul ficaram à mercê do Ministério das CoresAos mortos-vivos e às estátuas foi-lhes só permitido ver a preto e brancoDepois veio o cientista Beckett que lhes controlou as mentesE vem brincando com as cores dos sonhosOra brancos,Ora pretos,Ora vermelhos;

Aos prisioneiros deu-se-lhes a escolha cromáticaE não mais se lhes pediu do que a escravidão.

Balva Res

do LuísBomOl h

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culdex -22 ][21

CICLO DE JORNADAS

Conhecer para Intervir – Sucesso e Abandono Escolar no Ensino Superior: O Caso da ULDia: 9 Março 2012 | Hora: 9h30 – 17h30Local: Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa

Convidados: vários (ver programa)Organização: Equipa de Investigação do Projecto PTDC/ESC/64875/2006, Conselho de Garantia da Qualidade e Gabinete de Garantia da Qualidade Entrada livre, sujeita a inscriçãoContactos: 21 011 3400 | [email protected]

CONFERÊNCIA

Can Viruses Make us Human? Addiction and Social Cooperation as ViralDia: 20 Março | Hora: 18h Local: Auditório 3.2.14, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa

Convidado: Luís P. Vilarreal (University of California at Irvine, EUA)Organização: Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de LisboaEntrada livreMais informações: http://cfcul.fc.ul.pt/bio/conferenceI.html

CINEMA

Coeur fidéle (1923), Jean Epstein Dia: 23 Março | Hora: 18hLocal: Anfiteatro IV, FLUL

Convidado: Fernando GuerreiroOrganização: Cineclube FLULContacto: [email protected]

GALERIA/EXPOSIÇÃO DE ARTE GAB-A (Galerias Abertas das Belas-Artes. Mostragem de Jovens Artistas)Dia(s): 24 e 25 Março 2012 | Hora: 14h- 22h Local: Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa

Organização: Prof. Dr. João Castro Silva, Prof. Dr. Ilídio Salteiro e alunos da FBAULEntrada livreContactos: 21 325 2108 | [email protected]

CINEMA

The Mothering Heart (1913), D. W. GriffithDia: 30 Março | Hora: 18hLocal: Anfiteatro IV, FLUL

Convidado: Mário AvelarOrganização: Cineclube FLULContacto: [email protected]

AULA ABERTA

Controlo Atmosférico do Clima GlobalDia: : 6 Abril 2012 | Hora: 11h -12h Local: Sala 6.1.36, FCUL

Professor Pedro Miranda (Geofísico, IDL)Organização: Departamento de Geologia da FCUL

Info: Vik, exposição temporáriaMUSEU COLECÇÃO BERARDO

Vik MUNIZ

Culdex

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“Entre nesta aventura: ouse e reinvente seu olhar”: é desta forma que abre a exposição Vik do artista plástico brasileiro Vik Muniz, no Museu Colecção Berardo, em Lisboa. Um caracol feito de algodão ou um soldadinho recheado de brinquedos são uma pequena amostra do que podemos encontrar ao percorrer os corredores cheios de cor do Museu, que, daí a três passos, nos mostram uma Elizabeth Taylor feita de diamantes ou um Frankenstein de caviar. Estas e outras peças, como um grande atlas do Mundo composto por materiais electrónicos, questionam-nos acerca do papel do lixo e a nossa atitude perante aquela que é a nossa única e verdadeira casa: o Planeta Terra.”

Texto: Ana Isabel Milhanas MachadoFotografia: Rui Carvalho

Info: Vik, exposição temporáriaMUSEU COLECÇÃO BERARDO

RETROSPECTIVA DO 1º SEMESTRE

Vik MUNIZ

COLÓQUIO INTERNACIONAL

Revisitar o Mito / Recycling MythsDia(s): 2 a 4 de Maio, 2012Local: Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

O colóquio organiza-se por sessões plenárias, com participantes convidados, e sessões paralelas de comunicação por inscrição.Comissão científica: Vanda Anastácio, Teresa Casal, Raquel Fernandes, Abel do Nascimento Pena, Maria de Jesus C. Relvas, José Pedro SerraMais informações: http://www.fl.ul.pt/

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estatutos -24 ][23

EstatutosOs Fazedores de LetrasJornal da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.Elaborados de acordo com: -a proposta-base aprovada na generalidade pela RGA de 6 de Novembro de 1997 -os princípios estatutários definidos pela RGA de 6 de Novembro de 1997 -o deliberado, em termos de especialidade, pela RGA de 20 de Novembro de 1997 (aprovação feita até ao 4.8) -o acordado durante a Sessão Plenária de 25 de Novembro de 1997 -a aprovação na especialidade feita pela RGA de 13 de Março 1998-a revisão ordinária de 1999-a revisão ordinário de 2001

Nota: No final há um glossário com todas as abreviaturas

Capítulo IArtigo 1ºPropriedadeOs Fazedores de Letras (OFL) é uma publicação pertença de todos os estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), representados na figura institucional da Associação de Estudantes da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (AEFLUL).Artigo 2ºOFL é um jornal feito por e dirigido a:1º- estudantes da FLUL.2º- outras entidades colectivas ou individuais da FLUL.3º- entidades individuais ou colectivas do meio universitário, das quais se destacam os estudantes.

Capítulo IIDOFLArtigo 3ºOFL é gerido pela Direcção de Os Fazedores de Letras (DOFL).Artigo 4ºA DOFL é constituída unicamente por alunos inscritos na FLUL.Artigo 5ºA DOFL é um colectivo aberto e dinâmico quanto à sua constituição, isto é, está em permanente renovação recebendo novos elementos e perdendo outros.Artigo 6ºA DOFL é constituída por um mínimo de três elementos, cabendo a estes decidir sobre a eventual nomeação de um Director de entre elesArtigo 7º.A entrada de novos elementos para OFL e para a DOFL, assim como a sua demissão, está unicamente dependente da DOFL.Artigo 8ºA DOFL é independente da Direcção da AEFLUL (DAEFLUL) em questões ideológicas e editoriaisArtigo 9ºMudanças na constituição da DAEFLUL não têm repercussões na constituição da DOFL.Artigo 10ºA DOFL é politicamente neutra. A filiação dos seus elementos numa ou noutra lista da faculdade, a preferência de cada um dos seus membros em relação a qualquer lista, são aspectos irrelevantes para o funcionamento da DOFL e não podem constituir argumento para a nomeação ou não nomeação de novos elementos para a DOFL, assim como para a demissão dos mesmos.Artigo 11ºQuestões de hierarquia ou sua inexistência no interior da DOFL e questões de organografia no interior da DOFL, são decididas no interior da própria DOFL.Artigo 12ºTransparência da actividade da DOFL1- Todos os arquivos, capas, documentos e ficheiros informáticos de OFL são públicos e não confidenciais.a)- Abre-se uma excepção ao ponto anterior no que diz respeito a documentos em que haja informações de cariz pessoal sobre qualquer indivíduo. Só terão acesso a esses documentos membros da DOFL, do Conselho Fiscal da AEFLUL e da Mesa da RGA. Violações a este ponto poderão levar à demissão da DOFL e ao eventual cumprimento da lei em vigor.b)- Por razões práticas e de segurança, o acesso aos arquivos é controlado e vigiado.c)- Mediante requisição nesse sentido, qualquer aluno pode consultar, nas instalações da AEFLUL, todos os arquivos, pastas, documentos e ficheiros informáticos de OFL.2- A DOFL tem obrigação de prestar todos os esclarecimentos a qualquer aluno sobre qualquer assunto concernente a OFL.Artigo 13ºA DOFL está directamente dependente da Reunião Geral de Alunos (RGA). O único órgão com competência para impor directrizes à DOFL, demiti-la ou nomear uma nova.DOFL e RGA.

Capítulo IIIAssembleia de Colaboradores de OFL.Artigo 14ºA ACOFL é constituída por todos os alunos inscritos na FLUL cujo nome alguma vez tenha sido referido na Ficha Técnica de algum número de OFL e que não tenham sido remunerados pela sua colaboração.Artigo 15º1- A ACOFL reúne-se por iniciativa da DOFL ou quando a DOFL é demitida.2- Quando a DOFL é demitida a ACOFL reúne para definir estratégias de nomeação de uma nova DOFL e apurar quais os alunos interessados em participar na nova DOFL.3- A ACOFL reunirá durante a RGA de nomeação de uma nova DOFL.4- A ACOFL poderá ser convocada extraordinariamente por:a) dois membros da DOFL.b) um membro da DOFL e dois da ACOFL (não pertencentes à DOFL).c) cinco membros da ACOFL (não pertencentes à DOFL).

Artigo 16ºA ACOFL elaborará um regimento interno de funcionamento, se achar necessário.Artigo 17ºAs decisões da ACOFL são tomadas por voto secreto.Artigo 18ºAs decisões da ACOFL são tomadas por maioria de dois terços.Artigo 19ºA ACOFL só se pode realizar se estiverem presentes pelo menos cinco dos seus membros não pertencentes à DOFL.Artigo 20ºA ACOFL só se pode realizar se pelo menos metade dos seus membros presentes não pertencer à DOFL.Artigo 21ºOs elementos da DOFL em funções são considerados elementos da ACOFL sem direito a voto.Artigo 22ºA ACOFL deverá reunir pelo menos duas vezes em cada ano lectivo: a primeira durante o primeiro mês em que se realizem aulas, a segunda durante a última quinzena de Fevereiro.Artigo 23ºA ACOFL pode determinar a publicação em OFL de textos recusados pela DOFL.Artigo 24ºA ACOFL pode propor a demissão da DOFL. A proposta é redigida constando nela os motivos que a originaram, enviada à mesa da RGA, à DAEFLUL e afixada pela faculdade.Artigo 25ºA ACOFL pode propor uma directiva à DOFL. A proposta é redigida constando nela a descrição da directiva a aprovar e os motivos que originaram a sua proposta. É enviada à mesa da RGA, à DAEFLUL e afixada pela faculdade.Artigo 26ºA ACOFL pode propor a alteração dos Estatutos Gerais de OFL. A proposta é redigida constando nela as alterações a serem votadas e os motivos que a originaram. É enviada à mesa da RGA, à DAEFLUL e afixada pela faculdade.Artigo 27ºNo caso de a ACOFL entender que há, por parte da DOFL, uma violação do estabelecido no Artigo 37º ou no Artigo 51º destes estatutos, pode fazer acompanhar uma proposta de demissão da DOFL por um Bloqueio Editorial a OFL (BEOFL). Uma vez decretado o BEOFL:a) A DOFL não pode editar mais nenhum número de OFL.b) A DOFL não pode assumir compromissos financeiros.c) A conta bancária de OFL só pode ser movimentada para pagamento de compromissos financeiros assumidos antes do decreto do BEOFL ou para ser creditada.d) A mensagem abaixo transcrita será afixada pela faculdade, enviada à DAEFLUL, à mesa da RGA e lida por um elemento da ACOFL escolhido para o efeito na primeira RGA que se realize e em todas as que se seguirem até ao levantamento do bloqueio (independentemente de nessas RGA’s se discutirem ou não questões relativas a OFL).A Assembleia de Colaboradores de Os Fazedores de Letras informa os estudantes da FLUL de que a edição de Os Fazedores de Letras se encontra bloqueada de acordo com o estabelecido no ponto 4.14 dos Estatutos Gerais de Os Fazedores de Letras e de que não poderá ser editado mais nenhum número desse jornal enquanto os estudantes da FLUL não se pronunciarem em Reunião Geral de Alunos sobre a proposta de demissão da Direcção de Os Fazedores de Letras enviada à mesa da RGA por esta assembleia no dia .../.../...e) Só pode ser levantado depois de ter sido tomada uma decisão em RGA sobre a proposta da ACOFL que originou o BEOFL.f) No caso de a proposta de demissão da DOFL ser recusada pela RGA, a ACOFL não poderá fazer uso do BEOFL durante o resto do ano lectivo em curso.Artigo 28ºO logotipo do jornal constante na primeira página de cada número, as medidas das páginas do jornal e o número de cores usadas são elementos só alteráveis pela Assembleia de Colaboradores ou pela RGA.

Capítulo IVTutela da RGAArtigo 29ºA RGA da FLUL é o órgão tutelar de OFL com quatro poderes distintos: a demissão da DOFL, a nomeação de uma nova DOFL, a directiva à DOFL e a aprovação e alteração dos Estatutos Gerais.Artigo 30ºDemissão da DOFL1- As propostas de demissão da DOFL são apresentadas em forma de moção à Mesa da RGA.2- A Mesa da RGA recebe propostas de demissão da DOFL da Assembleia de Colaboradores de OFL (ACOFL), da DAEFLUL ou de cento e cinquenta alunos devidamente identificados em abaixo-assinado.3- Uma proposta de demissão da DOFL aprovada por maioria de dois terços em RGA acarreta a demissão em bloco dessa DOFL, aplicando-se assim o mesmo critério usado na demissão da DAEFLUL pela RGA segundo os Estatutos da AEFLUL de 31/1/1980 (artigo décimo terceiro). 4- Um elemento de uma DOFL demitida em RGA perde o direito de fazer parte da DOFL e da ACOFL por um período mínimo de seis meses. A sua eventual e posterior reintegração na DOFL, caso o deseje, deve ser cuidadosamente ponderada pela DOFL em funções.5- A demissão de uma DOFL não afecta o trabalho de mais nenhum colaborador da publicação, mantendo-se assim todas as equipas em funcionamento. Da mesma forma, não há mudanças de série nem de volume do jornal, continuando a numeração dos números a fazer-se da mesma forma.6- Desde o momento da demissão todas as actividades editoriais são suspensas, a Mesa da RGA assume o controlo do jornal e do processo de nomeação da nova DOFL, que deve ser o mais breve possível.Artigo 31ºNomeação de uma nova DOFL

1- A Mesa da RGA organiza e dirige uma ACOFL com o fim de constituir as propostas de futura DOFL a levar a RGA.2- A Mesa da RGA divulga a possibilidade de apresentação de candidaturas à DOFL.3- A Mesa da RGA recebe candidaturas para a futura DOFL até ao início da ACOFL. Todas as candidaturas são individuais.4- Serão anuladas as candidaturas de alunos não presentes na ACOFL.5- A ACOFL tentará reunir os candidatos individuais num grupo candidato ou, se isso não for possível, em vários.6- A Mesa da RGA declarará grupos candidatos todos os que respeitem o Artigo 4º e o Artigo 6º destes estatutos.7- A ACOFL apoiará um dos grupos candidatos.8- Cada um dos grupos candidatos terá de recolher cento e cinquenta assinaturas de apoio até à realização da RGA (ver próximo ponto) ou será eliminado.9- A Mesa da RGA organizará uma RGA para nomeação da nova DOFL (ou incluirá esse assunto numa RGA).10- A RGA elegerá um dos grupos candidatos (sabendo qual deles a ACOFL apoia) por metade dos alunos mais um.Artigo 32ºDirectiva à DOFL.1- As propostas de directiva à DOFL são apresentadas em RGA pela ACOFL, pela DAEFLUL ou cem alunos da FLUL devidamente identificados.2- A directiva é aprovada por maioria de dois terços (abre-se assim uma excepção ao estatuído no artigo décimo terceiro dos Estatutos da AEFLUL de 31/1/1980).3- O não cumprimento de uma directiva aprovada em RGA por parte de uma DOFL implica a sua demissão.4- Cada directiva à DOFL é assinada pelos membros da Mesa da RGA, sendo anexada uma cópia da directiva a estes estatutos e outra entregue à DOFL.Artigo 33ºAlteração dos Estatutos Gerais de OFL1- É feita sob proposta da DOFL, da ACOFL ou de duzentos alunos devidamente identificados em abaixo-assinado.2- A alteração só é aprovada em RGA se conseguir uma maioria de dois terços, aplicando-se o mesmo critério usado na alteração dos Estatutos da AEFLUL segundo o artigo décimo terceiro dos Estatutos da AEFLUL de 31/1/1980.3- Uma cópia dos Estatutos Gerais de OFL já emendada deverá ser anexada aos Estatutos Gerais da AEFLUL.

Capítulo VPeriodicidadeArtigo 34ºOFL é uma publicação de periodicidade mensal enquanto decorre o ano lectivo.Artigo 35º1- O facto de não sair no primeiro ou no último mês do ano lectivo, ou em meses em que haja um período de férias superior ou igual a dez dias, não é considerado grave. 2- O facto de não sair em um dos outros meses é considerado grave.Artigo 36ºQuando o jornal (ainda que devido a um BEOFL) não sair num dos meses acordados com um patrocinador:a) Deverá ser devolvida aos patrocinadores a quantia financeira relativa ao mês ou aos meses em que o jornal não saiu.b) Sem que o ponto anterior deixe de ser cumprido, outras contrapartidas reparatórias adicionais poderão ser negociadas entre a DOFL e cada patrocinador.Artigo 37º1- A DOFL deverá ser demitida em RGA quando o jornal não sair:a) Em três meses consecutivos.b) Em dois dos meses considerados graves.c) Pelo menos seis vezes durante o ano lectivo.2- Abre-se excepção às alíneas anteriores quando o jornal não sair devido a um BEOFL.

Capítulo VIResponsabilidade sobre os conteúdosArtigo 38ºTodos os artigos assinados são da exclusiva responsabilidade dos autores.Artigo 39ºTodos os artigos não assinados são da exclusiva responsabilidade da DOFL.Artigo 40ºTodas as inserções publicitárias são da exclusiva responsabilidade da DOFL.Artigo 41ºAs fotografias são da exclusiva responsabilidade do autor do texto quando a sua inserção dependeu de uma instrução do mesmo.Artigo 42ºAs fotografias são da exclusiva responsabilidade da DOFL quando a sua inserção dependeu de uma decisão da mesma.Artigo 43ºAs fotografias são da exclusiva responsabilidade do autor das mesmas quando a sua inserção não se destinou a ilustrar um artigo ou a publicitar um produto.

Capítulo VIIFinanciamentoArtigo 44ºOFL é um jornal sem fins lucrativos.Artigo 45ºOFL é uma publicação gratuita.Artigo 46ºA gestão de todos os recursos financeiros de OFL é competência exclusiva da DOFL.Artigo 47º1- OFL depende logística e financeiramente da AEFLUL.2- A DAEFLUL deve veicular a OFL, dentro das suas possibilidades, as condições financeiras e logísticas necessárias ao seu funcionamento.3- Quando a DAEFLUL, por qualquer motivo, não veicular as condições financeiras ou logísticas necessárias ao

bom funcionamento do jornal a DOFL não poderá ser responsabilizada pelos danos ou deficiências de edição daí resultantes. A DOFL poderá informar os alunos da FLUL sobre esse facto da forma que mais achar conveniente.Artigo 48ºHaverá ordinariamente, no início de cada semestre, uma reunião entre a DOFL e a DAEFLUL para efeitos de orçamento do jornal e respectiva contribuição financeira da parte da DAEFLUL para esse semestre.Artigo 49ºTodas as despesas extraordinárias são propostas pela DOFL à AEFLUL, cabe à direcção desta atender às propostas dando-lhes cobertura financeira ou decliná-las.Artigo 50º1- Será criada uma conta bancária, em nome da AEFLUL ou do próprio jornal, para uso exclusivo de OFL.2- A conta só poderá ser gerida por elementos da DOFL e movimentada com as assinaturas de dois elementos da DOFL e de dois elementos da DAEFLUL.3- Todos os elementos da DOFL são considerados responsáveis pelos movimentos da conta.4- Qualquer dinheiro que seja entregue para uso exclusivo de OFL (proveniente de patrocínios, subsídios, pagamentos, apoios financeiros da AEFLUL ou de outras proveniências) é depositado nesta conta bancária.5- A conta bancária de OFL, bem como o seu saldo, sendo a conta de um órgão informativo da AEFLUL, é entendida como propriedade da AEFLUL e deverá estar submetida ao mesmo sistema de fiscalização financeira a que está submetida a DAEFLUL.6- O saldo e os movimentos da conta bancária de OFL são do conhecimento público.7- Todos os pagamentos de despesas de OFL são feitos a partir da conta bancária de OFL.Artigo 51ºQualquer irregularidade financeira cometida pela DOFL (por exemplo, despesas saídas da conta bancária de OFL e não devidamente justificadas) deverá levar à demissão da DOFL e ao eventual cumprimento da lei em vigor aplicável à situação específica.Artigo 52ºA DOFL tem a obrigação de constantemente tentar captar patrocínios, investimentos publicitários, subsídios e outros tipos de apoios financeiros.Artigo 53ºTodos os proveitos financeiros obtidos para OFL apenas poderão ser utilizados em proveito de OFL. Artigo 54ºTodos os produtos oferecidos a OFL em troca de inserções publicitárias ou de outras contrapartidas são propriedade da AEFLUL para uso prioritário mas não exclusivo de OFL.Artigo 55ºNa ficha técnica de cada número de OFL deve constar:a) Tiragem do númerob) Custo total do número.c) Percentagem do custo total do número suportada pela AEFLUL.Artigo 56ºNenhuma informação relativa às finanças de OFL poderá ser ocultada pela DOFL, sob pena da sua demissão.Artigo 57ºNa mesma RGA em que é apresentado o Relatório de Contas da AEFLUL, é igualmente apresentado pela DOFL um Relatório de Contas de OFL relativo a todos os movimentos financeiros que tiveram lugar desde a apresentação do último relatório.

Capítulo VIIDisposições finaisArtigo 58ºOs Estatutos Gerais de Os Fazedores de Letras são aprovados e alterados em RGA e averbados aos Estatutos da AEFLUL. O seu não cumprimento por parte da DOFL deve acarretar a sua demissão.Artigo 59ºNo primeiro número de OFL de cada ano lectivo serão obrigatória e integralmente publicados estes estatutos, assim como todas as Directivas à DOFL que, à data, estejam em vigor.Artigo 60ºDurante os três primeiros meses de cada ano de número ímpar haverá uma revisão ordinária destes estatutos (respeitando o estatuído no ponto 2 do Artigo 33º: só haverá alteração com maioria de dois terços) conjuntamente com uma reaprovação ou revogação de cada uma das directivas em vigor (respeitando o ponto 2 do Artigo 32º: só será reaprovada uma directiva com maioria de dois terços).Moção de criação dos Estatutos Gerais de Os Fazedores de Letras:Considerando que os Estatutos da AEFLUL, celebrados em escritura pública a 31 de Janeiro de 1980, são omissos em relação ao modo de funcionamento e de gestão do Jornal da AEFLUL Os Fazedores de Letras e de acordo com o artigo quinquagésimo terceiro dos mesmos, os alunos da FLUL, reunidos em RGA no dia 13 de Março de 1998:a) determinam que o Jornal da AEFLUL Os Fazedores de Letras seja de hoje em diante unicamente regido por estes Estatutos Gerais de Os Fazedores de Letras, excepto nos casos de omissão em que se recorrerá ao estabelecido nos Estatutos da AEFLUL ou sobre os quais deliberará a RGAb) determinam que estes estatutos sejam averbados aos Estatutos da AEFLUL já referidos

Glossário:FLUL:Faculdade d letras de LisboaAEFLUL:Associação de Estudantes da FlulDAEFLUL:Direcção da AEFLULOFL:Os Fazedores de LetrasDOFL:Direcção geral de OFLACOFL:Assembleia de Colaboradores de OFLBEOFL:Bloqueio Editorial a OFLRGA:Reunião Geral de AlunosProposta base por: Anick Bilreiro, Carlos Moreira, Francisco Frazão, Joaquim Sousa, Luís Pedro Fernandes, Pedro Barros e Vasco Resende.

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71sem corantes nem conservantes.