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1 OS HOMENS CORDIAIS NA SOCIALIZAÇÃO DOS PEDRINHOS DE LOBATO E LOURENÇO FILHO: O NEGRO SABIDO, A EXCELENTE NEGRA DE ESTIMAÇÃO E O VELHO CABOCLO Raquel de Abreu Universidade Federal de Santa Catarina UFSC [email protected] Palavras chave: Homem cordial. Livros infantis. Lourenço Filho/Monteiro Lobato. Em Raízes do Brasil, a partir da matriz sociológica weberiana, Sérgio Buarque de Holanda constrói tipos ideais para instrumentalizar sua interpretação da realidade social brasileira. O tipo ideal - Idealtypus - “consiste em enfatizar determinados traços da realidade [...] até concebê-los na sua expressão mais pura e consequente, que jamais se apresenta assim nas situações efetivamente observáveis (COHN, 1999, p. 8). Sendo assim, Holanda isola metodicamente seus tipos brasileiros ideais, infla-os para poder observá-los com a clareza necessária em busca de respostas para questões em torno de fenômenos construídos nas relações sociais que identificam o caráter do povo. Um dos “tipos ideais” concebidos pelo sociólogo é o homem cordial, o que resulta do encontro cultural entre práticas personalistas e patrimonialistas que marcam a cultura brasileira desde a chegada do colonizador português em terras tropicais. Tais práticas desenharam uma cordialidade simples e ingênua, em que os relacionamentos são marcados pela pessoalidade, pela negação da padronização advinda das civilidades do mundo moderno ocidental. Na sociedade do homem cordial, as fronteiras simbólicas entre o público e o privado são frágeis e o Estado, uma instituição tão estranha e distante para alguns, quanto muito próxima e benevolente para outros. Este texto tem como objetivo discutir e analisar como o tipo ideal homem cordial” pode ser identificado nas representações de personagens adultos inseridos na obra infantil de dois intelectuais brasileiros, Monteiro Lobato (1882-1948) e Lourenço Filho (1897-1970). Para tanto, são selecionados os livros O Saci e Geografia de Dona Benta, de Lobato, e a obra didática Série de leitura graduada Pedrinho (1953-1970), de

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OS HOMENS CORDIAIS NA SOCIALIZAÇÃO DOS PEDRINHOS DE

LOBATO E LOURENÇO FILHO: O NEGRO SABIDO, A EXCELENTE

NEGRA DE ESTIMAÇÃO E O VELHO CABOCLO

Raquel de Abreu

Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC

[email protected]

Palavras chave: Homem cordial. Livros infantis. Lourenço Filho/Monteiro Lobato.

Em Raízes do Brasil, a partir da matriz sociológica weberiana, Sérgio Buarque

de Holanda constrói tipos ideais para instrumentalizar sua interpretação da realidade

social brasileira. O tipo ideal - Idealtypus - “consiste em enfatizar determinados traços

da realidade [...] até concebê-los na sua expressão mais pura e consequente, que jamais

se apresenta assim nas situações efetivamente observáveis” (COHN, 1999, p. 8). Sendo

assim, Holanda isola metodicamente seus tipos brasileiros ideais, infla-os para poder

observá-los com a clareza necessária em busca de respostas para questões em torno de

fenômenos construídos nas relações sociais que identificam o caráter do povo. Um dos

“tipos ideais” concebidos pelo sociólogo é o homem cordial, o que resulta do encontro

cultural entre práticas personalistas e patrimonialistas que marcam a cultura brasileira

desde a chegada do colonizador português em terras tropicais. Tais práticas desenharam

uma cordialidade simples e ingênua, em que os relacionamentos são marcados pela

pessoalidade, pela negação da padronização advinda das civilidades do mundo moderno

ocidental. Na sociedade do homem cordial, as fronteiras simbólicas entre o público e o

privado são frágeis e o Estado, uma instituição tão estranha e distante para alguns,

quanto muito próxima e benevolente para outros.

Este texto tem como objetivo discutir e analisar como o tipo ideal “homem

cordial” pode ser identificado nas representações de personagens adultos inseridos na

obra infantil de dois intelectuais brasileiros, Monteiro Lobato (1882-1948) e Lourenço

Filho (1897-1970). Para tanto, são selecionados os livros O Saci e Geografia de Dona

Benta, de Lobato, e a obra didática Série de leitura graduada Pedrinho (1953-1970), de

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Lourenço Filho. As análises específicas da série de Lourenço Filho resultam de estudos

desenvolvidos em minha dissertação de mestrado A Série de Leitura Graduada

Pedrinho (1953-1970) e a perspectiva de socialização em Lourenço Filho, defendida

em julho de 2009.

Nos livros, dois personagens-meninos, com nomes em comum – Pedrinho -, são

socializados num Brasil idealizado por cada um dos intelectuais. Esses processos de

socialização são, muitas vezes, conduzidos através dos personagens Tio Barnabé e Tia

Nastácia (de Lobato) e Chico Tião (de Lourenço Filho), que podem aqui ser

identificados como um tipo ideal de brasileiro - o homem cordial -, categoria criada por

Sérgio Buarque de Holanda.

OS PERSONAGENS

Tio Barnabé faz parte de uma única obra de Lobato,

O Saci. O personagem tem participação decisiva na

apresentação da cultura popular brasileira nos primeiros

capítulos do livro. É ele quem primeiro fala ao personagem

Pedrinho sobre a cultura oral do imaginário brasileiro, a

cultura dos seres que transitam entre humanidades,

divindades e animalidades. São seres mitológicos que nascem

nas matas e habitam livremente o ambiente doméstico de

sítios, fazendas e vilas do Brasil daqueles dias. Além de

apresentar o Saci, tio Barnabé dá seu testemunho sobre sua

existência e a possibilidade de serem vistos por alguns

homens: “- Eu, por exemplo, já vi muitos. Ainda no mês

passado andou por aqui um saci mexendo comigo – por sinal

que lhe dei uma lição de mestre...” (LOBATO, 1941, p. 15).

Figura 1: Tio Barnabé. Ilustração de J.U. Campos

Fonte: O Saci. 1941, p.15.

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Assim como tio Barnabé, a personagem tia Nastácia, que já

fora escrava, é a cozinheira do sítio, descrita muitas vezes como

“amiga” de dona Benta. Ela tem idade aproximada à da patroa e faz

parte da maior parte dos livros infantis de Lobato. Além de

excelente quituteira, tem papel importante na socialização dos

personagens-crianças; em muitas ocasiões é apresentada como o

adulto que protege e orienta as crianças-personagens dos livros. Tia

Nastácia é marcada por uma religiosidade ingênua, supersticiosa e

caricata. Um exemplo está em Geografia de Dona Benta, quando

ela se surpreende com as edificações da cidade de Nova Iorque: “-

Nossa Senhora! Exclamava ela. Aquilo é arte do diabo, sinhá! Pois

onde é que já se viu casas desse tamanho? [...] – Arranha-céu? Pois

então é mesmo o que eu disse – arte do diabo. Onde já se viu andar

arranhando o céu de Nosso Senhor? Credo!...” (LOBATO, 1935, p.

107).

Já Chico Tião, de Lourenço Filho, é apresentado

como um agregado de uma fazenda de um familiar de

Pedrinho. O personagem é um “caboclo”, resultado da

miscigenação entre a matriz indígena e a portuguesa. Chico

Tião é alegre, conversador, bem-humorado e tem toda a

confiança dos adultos quando se trata de orientar os

meninos personagens nas aventuras empreendidas pelo

grupo. O autor, na voz do personagem tio Damião, descreve

o velho caboclo no volume 2 da Série de leitura graduada

Pedrinho: “Era um homem idoso, alegre e conversador. [...]

O Chico Tião é um bom amigo que eu tenho, disse tio

Damião. Sabe mil coisas. Histórias, então, nem se fala! Diz

que ele já andou pelas terras do Brasil todo, e que é descendente de um bandeirante”

(LOURENÇO FILHO, 1955, p. 58). Sua personalidade é construída em meio a

hospitalidade, generosidade e emotividade.

Figura 3 – Chico Tião. Detalhe da ilustração de Oswaldo Storni Fonte: Aventuras de Pedrinho.

1961, p. 37.

Figura 2: Tia Nastácia. Detalhe da ilustração de J.U. Campos Fonte: Geografia de Dona

Benta, 1935, p.118.

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O Pedrinho, de Monteiro Lobato, “nasce” no livro O

Saci, que tem sua primeira edição publicada em 1921. O

personagem é primo de Narizinho, filho de Tonica, uma

filha de Dona Benta. Pedrinho reside no Rio de Janeiro e

passa as férias escolares no sítio da avó, o Sítio do Pica-Pau

Amarelo. O personagem tem entre oito e dez anos de idade;

é corajoso, responsável, honesto, gentil, ativo, curioso,

criativo, gosta de ler, é interessado por temas históricos e

científicos, como também por conteúdos informativos de

jornais e revistas. Conforme Penteado (1997, p. 211), “o que

se encaixa de certa forma no estereótipo contemporâneo de Lobato para um „menino‟ e

o aproxima, provavelmente, do que teria sido o próprio Lobato em garoto [...]”.

O personagem-menino de Lourenço Filho é

protagonista da série didática destinada à escola

primária brasileira, publicada entre 1953 e 1970, a

Série de leitura graduada Pedrinho. O personagem

faz parte de uma família representada por pai, mãe,

irmãos, avó e tio. Pedrinho apresenta um perfil de

personalidade muito aproximado ao do personagem-

menino de Monteiro Lobato: é corajoso, responsável,

honesto, gentil, aprecia a leitura de jornais e revistas e

é interessado por assuntos “sérios” e científicos.

Pedrinho tem entre sete e onze anos - a idade

indicada pelo autor para utilização da série graduada.

O personagem de Lourenço Filho apresenta uma relação estreita e valorizada

com os ideais de uma educação escolar por ele pensados. No volume 1 – Pedrinho -, as

lições iniciais elegem família, amigos, casa e escola como temas centrais:

O Pedrinho gosta muito da casa dele. Mas também gosta muito da

escola onde estuda. Todos os dias ele aí aprende muitas coisas. E

diverte-se com os colegas na hora do recreio. E ouve bons conselhos da sua professora, a Dona Amélia. Assim ele vai conhecendo o que é

certo e o que é errado, o que é bom e o que é mau, o que deve fazer e

o que não deve. Em outros tempos, a avó de Pedrinho também foi

professora (LOURENÇO FILHO, 1961, p. 30).

Figura4: Pedrinho. Ilustração de J.U Campos

Fonte: O Saci. 1941, p. 24.

Figura5: Pedrinho. Ilustração de J.U Fonte: Pedrinho e seus amigos. 1955,

p. 20.

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Sob esse aspecto, os meninos-personagens se distanciam nas narrativas de cada

um dos autores. Mesmo com características de personalidades quase idênticas e a

mesma valorização dos interesses intelectuais de cada um, a perspectiva educacional se

distancia quando os dois autores abordam as relações entre a criança e as instituições

que a cercam. Cabe ressaltar que o personagem de Lobato desenvolve seu aprendizado

durante as férias escolares, enquanto que o personagem de Lourenço Filho adquire

conhecimentos tanto nas férias como no período letivo.

NOS LIVROS, OS MENINOS E OS HOMENS CORDIAIS

Na versão definitiva de O Saci de Lobato, o personagem que dará detalhes sobre

os sacis (seres encantados que habitam o imaginário dos brasileiros), é Tio Barnabé,

apresentado inicialmente na voz de Tia Nastácia da seguinte forma:

Não existe negro velho por aí, desses que nascem e morrem no meio

do mato, que não jure ter visto saci. Nunca vi nenhum, mas sei quem

viu. – Quem? – O Tio Barnabé. Fale com ele. Negro sabido está ali! Entende de todas as feitiçarias, e de saci, de mula sem cabeça, de

lobisomem – de tudo. Pedrinho ficou pensativo. Tio Barnabé era um

negro de mais de 80 anos que morava no rancho coberto de sapé lá junto da ponte. Pedrinho não disse nada a ninguém e foi vê-lo.

Encontrou-o sentado, com o pé direito num toco de pau, à porta de sua

casinha, esquentando-se ao sol (LOBATO, 2007, p. 21).

Ainda na oitava edição do livro (1941), a apresentação de Tio Barnabé é

realizada por Lobato, na voz do narrador, da seguinte forma: “Quem contou a Pedrinho

as primeiras histórias do saci foi tio Barnabé, um negro velho que morava perto da

ponte e fora escravo do pai de dona Benta. Pedrinho tinha ido visitá-lo certo dia,

expressamente para saber coisas do saci” (LOBATO, 1941, p. 14).

A teia de relações que envolvem os personagens Tio Barnabé, Tia Nastácia, e o

saci, e que vai refletir na narrativa em torno de uma variedade de mitos brasileiros -

mesmo que Lobato faça revisões e algumas modificações entre a primeira edição de

1921 e a definitiva, de 1947 -, a trama é fundamentalmente a mesma. Ao mencionar os

acréscimos que Lobato realiza na sexta edição do livro, em 1938, e a aproximação da

obra a aspectos didáticos, Camargo (2008, p. 93) registra:

[...] valendo-se do Saci como „professor‟, Lobato inclui, de maneira didática, quase enciclopédica, animais típicos de nossa fauna – a onça,

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a sucuri, a muçurana, a cascavel -, alguns insetos e espécies vegetais,

além de „discussões filosóficas‟ entre o Saci e Pedrinho.

Na versão definitiva do livro, podem-se identificar também aspectos que

retratam a diversidade linguística brasileira para nomear brinquedos infantis do período,

como no exemplo do capítulo 2, quando Lobato amplia significativamente o texto com

que descreve minuciosamente o sítio e, no intervalo de duas páginas, registra nomes

diferentes para o mesmo objeto: “bodoque” e “estilingue”, a arma-brinquedo que

Pedrinho utilizou para quebrar a cabeça de uma cegonha de louça que decora o jardim

do sítio. O que pode revelar uma estratégia editorial do autor, para compreensão dos

conteúdos de uma obra infantil com público leitor em todo o território nacional.

A Série de leitura graduada Pedrinho é uma coleção composta por cinco livros

didáticos infantis, quatro dos quais para leitura graduada e uma cartilha, aliados aos

respectivos Guias do Mestre, manuais endereçados aos professores para orientação e

aplicação dos conteúdos em sala de aula. A série foi publicada pela Edições

Melhoramentos e editada na seguinte ordem: volume 1 - Pedrinho; volume 2 - Pedrinho

e seus amigos; volume 3 - Aventuras de Pedrinho: volume 4 - Leituras de Pedrinho e

Maria Clara e, por último, a cartilha Upa, cavalinho!.

No caso do personagem Chico Tião, no terceiro volume da série didática,

Aventuras de Pedrinho, o autor aprofunda a descrição do personagem:

Chico Tião era um homem fora do comum. Ninguém conhecia, por

exemplo, qual era sua idade. Nem ele próprio! [...] A verdade é que

devia ter pouco mais de sessenta anos. Mas, como era forte! Fazia inveja a muitos moços: trabalhava de sol a sol, sem mostrar cansaço.

Sabia ler e escrever. Lá isso sabia muito bem. Contava que havia

aprendido com um frade que, há muito tempo, andara pelas matas

civilizando índios (LOURENÇO FILHO, 1969, p. 10).

O destaque ao processo de alfabetização de Chico Tião, que não frequentou uma

escola - instituição concebida no mundo civilizado, republicano e moderno como locus

destinado ao ensino e à aprendizagem do “ler, escrever e contar” (como no caso do

personagem Pedrinho, da criança leitora e do professor que ministra as lições de

Lourenço Filho) – pode ilustrar aspectos contraditórios e uma naturalização toda

particular do que é aceitável e permitido a alguns brasileiros velhos, não-brancos e

moradores do Brasil rural.

De acordo com Darcy Ribeiro (2009, p. 405), “essa massa de mulatos e

caboclos, lusitanizados pela língua portuguesa que falavam, pela visão do mundo, foi

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plasmando a etnia brasileira e promovendo, simultaneamente, sua integração na forma

de Estado-Nação.” Com base nesse processo, o personagem Chico Tião pode reproduzir

a face positivada e aprimorada dessa massa de caboclos que, por séculos, já dominava a

língua portuguesa falada, mas que no Brasil moderno, pensado por Lourenço Filho,

também domina os códigos escritos de uma pretendida modernidade.

Na primeira edição de A menina do narizinho arrebitado (1920), Monteiro

Lobato, na voz do narrador, faz a apresentação da personagem Tia Anastácia que, nas

edições e demais obras, tem suprimido o “A” do nome, ganhando, assim, características

mais aproximadas a uma alcunha. “Além de Lucia, existe na casa a tia Anastácia, uma

excelente negra de estimação [...]” (LOBATO, 1920, p. 3-4). Tudo indica que a

personagem foi inspirada numa antiga babá dos filhos de Monteiro Lobato. Em

Geografia de Dona Benta, o autor aprofunda as explicações sobre a origem da

“excelente negra de estimação” no sítio de dona Benta:

Tia Nastácia conta que a mãe dela veio da África, dum lugar chamado Angola, lembrou Narizinho. Também conta que foi escrava sua,

quando moça, vovó. – Pois foi, confirmou dona Benta. Foi minha

escrava, sim. Meu marido, que Deus haja, comprou-a por 2:500$000,

lembro-me muito bem...(LOBATO, 1935, p. 192-193).

Os personagens masculinos adultos Tio Barnabé e Chico Tião têm idades

aproximadas, da mesma maneira que seus nomes próprios, “aproximados”, na forma de

diminutivos e marcados pela pessoalidade cordial através dos tratamentos “tio” e “tia”

(em Lobato). Estas características, as das identidades sedimentadas, podem refletir a

herança marcante da sociedade brasileira, especialmente a sociedade rural dos tempos

coloniais, que teima em sobreviver, já no século XX, na literatura infantil e didática dos

dois autores.

Entre os homens cordiais que socializam os Pedrinhos é representativa a

ausência de nomes de família e a utilização de diminutivos. No caso de Chico Tião,

como se não bastasse omitir seu nome de família (sobrenome), o que não acontece com

os demais personagens adultos da Série Pedrinho, o “velho caboclo” é identificado por

dois diminutivos derivados do nome de batismo: Chico (Francisco) e Tião (Sebastião).

Num processo de “domesticação e familiarização”, a forma de identificar o personagem

é naturalizada e valorizada como privilégio para compartilhar da amizade do “velho

caboclo”. Os laços de afeto, próprios da vida familiar, são estendidos à intimidade de

tratamento autorizada entre os personagens dos livros, adultos e crianças. A

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modernidade pensada para o Brasil de Lourenço Filho, uma sociedade industrializada,

desenvolvida, capitalista, em que as iniciativas individuais são incentivadas, apresenta

elementos da família patriarcal, com as “crias da casa”, os “velhos amigos”, que

prestam favores e onde as vontades particulares e as generosidades se espraiam por

todos os espaços. Lourenço Filho não poupa o velho caboclo das “gostosas

gargalhadas”, da galhofa e das brincadeiras tão características do humor dos brasileiros,

que não fazem questão de controlar pulsões e emoções. É ele, Chico Tião, o

personagem que socializa a criança brasileira de Lourenço Filho por 39 lições dos

volumes 2 e 3 da Série Pedrinho.

Nos três personagens, as marcas de uma determinada cordialidade são

valorizadas, tanto por Monteiro Lobato como por Lourenço Filho. Aos três personagens

é outorgada uma autorização, pela legitimidade de origem, para falar desse país de

relações pessoalizadas, de traços arcaicos que convivem com o Brasil moderno pensado

pelos dois autores.

Em Lourenço Filho, uma marca da valorização da cordialidade está registrada,

de forma significativa, na sétima lição do 3º volume da Série Pedrinho: “Compadre pra

lá e compadre pra cá...”:

O velho caboclo gostava de que o tratassem assim, de compadre. E era

assim também que ele respondia aos meninos, salvo quando estivesse

aborrecido com algum deles. Nesse caso, separando muito as sílabas, e engrossando a voz, dizia: Se-nhor Pe-dro dos San-tos Pe-rei-ra...Se-

nhor Al-ber-to... E-me-ren-ci-a-no de Vas-con-ce-los...Fora disso,

era compadre pra cá e compadre pra lá... (LOURENÇO FILHO, 1969,

p. 19-20. Grifos do autor).

O destaque ao compadrio num livro didático – material que divulga e reproduz

valores culturais, sociais e ideológicos - sugere que, entre os brasileiros, os processos

civilizatórios representados pela racionalização, polimento e impessoalidade nas

relações sociais só são necessários e imprescindíveis em ocasiões singulares e adversas.

A lição, em que o exercício de “separar em sílabas” está objetivado, as referências às

intimidades pessoalizadas, com origem nas relações de amizade e compadrio, estão

subjetivadas no conteúdo do texto. A racionalização dos nomes acompanhados por

sobrenomes, que muda a ordem identitária do brasileiro, é algo penoso, imposto por

uma lógica da modernidade. Ordem imposta e importada, necessária nos momentos

extremos. Conforme Martins, “a modernidade (e não o moderno) é um fenômeno

historicamente recente, marcado, sobretudo, pela diluição das identidades, como as

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identidades nacionais, pela composição heterogênea do cultural e do social”

(MARTINS, 2008, p. 29).

No livro O Saci, o “negro velho” descreve os sacis por suas características: usa

uma carapuça vermelha, tem uma perna só e, como costume, traz um pito sempre aceso.

Lobato, na voz de tio Barnabé, afirma que os diabretes devem ser escravizados.

Curiosamente, a descrição inicial não registra a origem étnica ou cor de pele do

diabrete; porém, nas ilustrações, o saci é representado com características físicas que

marcam os descendentes dos escravos africanos - cabelos encaracolados, pele escura e

lábios grossos. Tudo indica que há uma naturalização na negritude do ser que deve ser

caçado, aprisionado e posteriormente escravizado pelo menino personagem. Na oitava

edição de 1941, as representações do saci são aproximadas ao padrão caricatural

registrado nas ilustrações do negro adulto, tio Barnabé, do mesmo livro de Lobato.

O pequeno ser transita entre as coisas dos mundos do concreto e do abstrato e

tem permissão para explicar o que Pedrinho precisa saber para sobreviver num Brasil

natureza, o Brasil das matas e mitos. O saci, descrito inicialmente como um ente

maligno, caraterizado por um caráter negativo, ao longo da narrativa demonstra ser um

bom companheiro que conquista a confiança de

Pedrinho. O saci cumpre suas promessas, auxilia

Pedrinho na resolução de problemas inesperados,

cozinha para o menino e o protege dos perigos enquanto

estão perdidos na mata. As gentilezas exercitadas pelos

dois personagens são estabelecidas a partir de um pacto

de confiança entre o menino e o diabrete, que o liberta,

na esperança de ser protegido dos perigos da mata. O

fato narrado pode revelar a intenção do autor, mesmo

que subjetiva, de educar a criança valorizando a

construção de alianças entre indivíduos e/ou grupos

sociais. Quanto às travessuras - as pequenas maldades

exercidas pelo Saci - pode-se estimar que fossem aceitas e toleradas por Pedrinho por

serem travessuras aceitas, toleradas e muitas vezes até valorizadas como pilhérias

recorrentes entre os brasileiros.

Figura 6: O Saci. Ilustrações de J.U. Campos

Fonte: Saci. 1941, p. 30.

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Uma marca emblemática nos homens cordiais de

Lobato, Tia Nastácia e Tio Barnabé é a explícita

manifestação, em ambos, de uma crença religiosa popular.

Tio Barnabé acredita em seres invisíveis que povoam

todos os espaços. Tia Nastácia acredita em sacis e lembra

que essas são crenças partilhadas somente por “negros” e

que os “brancos da cidade” negam. Mesmo que os

“brancos da cidade neguem”, Pedrinho quer conhecer os

pormenores das crenças que só os negros dominam e que

só os velhos podem partilhar com meninos curiosos, como

ele. Na alegoria do Sítio do Pica-Pau Amarelo, a crença

em sacis é narrada por Tio Barnabé:

Pois, Seu Pedrinho, saci é uma coisa que eu juro que “exeste”. Gente

da cidade não acredita – mas “exeste”. A primeira vez que vi saci eu

tinha a sua idade. Isso foi no tempo da escravidão, na Fazenda de Passo Fundo, que era do defunto Major Teotônio, pai desse Coronel

Teodorico, compadre de sua avó, Dona Benta. Foi lá que vi o primeiro

saci. Depois disso, quantos e quantos! (LOBATO, 2007, p. 21).

Crenças e “crendices” ganham palavras e gestos nas vozes de Tio Barnabé e Tia

Nastácia. São recorrentes as descrições em que Tia Nastácia se benze, “pelo sinal”,

exclama “credo!” ou “cruzes!” e apresenta outros sinais de uma religiosidade muitas

vezes identificada como folclórica, ou simplória, a religiosidade do povo brasileiro. O

gestual e os significados do pelo sinal, credo e cruzes repetidos por Tia Nastácia podem

ser identificados com a “religiosidade de superfície” de que fala Sérgio Buarque de

Holanda (2002, p. 150) quando a identifica no povo brasileiro: “[...] o nosso culto sem

obrigações e rigor, intimista e familiar, a que se poderia chamar, com alguma

impropriedade, de „democrático‟ [...]”. O gestual característico incorporado por tia

Nastácia pode revelar uma apropriação popularizada dos rituais sofisticados do

catolicismo. Na apropriação ritualística, representada pela personagem, o gestual não

estaria relacionado diretamente ao significado conceitual da liturgia católica, mas mais

aproximado da eficácia da ação propriamente dita. Os hábitos “inocentes”, os gestos,

assim como as palavras utilizadas por tia Nastácia podem dar indicações sobre um

Figura 8: O Saci. Ilustrações de J.U. Campos

Fonte: O Saci. 1941, p. 31.

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quadro cultural e social bastante complexo. Portanto, os sinais repetidos pela “boa

negra” produzem sentidos específicos no grupo social a que ela pertence.

O livro Geografia de Dona Benta teve sua primeira edição publicada pela

Companhia Editora Nacional em 1935. O livro é direcionado ao público infantil, é

estruturado em trinta capítulos, em que a turma do Sítio do Pica-Pau Amarelo viaja num

navio faz-de-conta por mares e continentes do planeta Terra. Dentre os trinta capítulos,

seis são dedicados a uma Geografia do Brasil, em que os conteúdos são não só

geográficos, mas históricos e culturais. Por ocasião da “visita” do grupo à cidade de

Nova Iorque, Tia Nastácia associa o idioma falado por ela à cor da sua pele e, quando

avista pessoas negras, puxa conversa na língua por ela dominada, o português. Quando

chega à conclusão de que não é compreendida, assim se expressa:

E esses negros que só falam inglês? É outra coisa que parece arte do

diabo. Ontem criei coragem e saí e cheguei até a esquina. Estava

olhando aquelas casas que somem na altura quando passou por mim uma negra tal e qual a Liduina, cozinheira do seu compadre

Teodorico. Eu arreganhei uma risada de gosto. Uma negra! Uma

patrícia minha! E me dirigi a ela dizendo: “Como vai?” Pois há de crer que a diaba não entendeu? Olhou para mim, como quem olha bicho do

mato, e disse uma palavra que seu Pedrinho depois me ensinou: Ai

donte anderstande que é como quem diz que não está entendendo

nada. Já se viu uma coisa assim? Fiquei desapontada, porque nunca imaginei que negro falasse inglês. Desde que nasci só vi negro falando

brasileiro [...] (LOBATO, 1935, p. 114).

Em muitos trechos do livro, como no exemplo acima, a atuação de tia Nastácia é

associada ao humor ingênuo, à incapacidade de aprendizado e à incompreensão do

mundo civilizado que é apresentado à personagem. Tia Nastácia é necessária ao grupo,

pois é ela quem garante a transformação de farinhas, ovos, feijões e peixes em “quitutes

deliciosos” e sua participação mais característica é marcada pelo servilismo e os

conhecimentos, relacionados a um determinado mundo Brasil do passado, agrário,

povoado por crenças desvalorizadas pelo grupo naquele empreendimento específico: um

texto de Lobato, em que os conteúdos escolares são valorizados.

Já Chico Tião de Lourenço Filho, além de dominar os segredos de um Brasil

rural e antigo, tem certa familiaridade com alguns “saberes científicos”. Para socializar

a criança nos mistérios das matas brasileiras, ele lança mão da improvisação para a

solução de problemas, “prega peças” nas crianças e, ao mesmo tempo, demonstra

conhecimentos sobre História do Brasil, e conteúdos com base científica, relacionados à

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classificação dos seres vivos que habitam as matas brasileiras. Suas explicações são

simples e diretas:

[...] Vocês sabem que todos os animais grandes ou pequenos,

domésticos ou selvagens, podem ser primeiramente separados em dois grandes grupos: o dos animais que têm ossos e o dos animais que não

têm ossos. [...] por sua vez, os animais de cada um desses grupos

podem ser separados em diferentes classes [...] (LOURENÇO FILHO,

1969, p. 21).

O relativo distanciamento entre Chico Tião e os dois personagens de Monteiro

Lobato pode estar relacionado à especificidade original de cada obra, pois a Série

Pedrinho, de Lourenço Filho, mesmo valorizando o imaginário infantil, é

exclusivamente didática, com objetivos científicos e enciclopédicos. Enquanto a obra de

Lobato, mesmo que utilizada no espaço escolar, apresenta um compromisso artístico

maior com a literatura infantil.

CONSIDERAÇÕES

Com base nessas observações, é possível pensar nos personagens tio Barnabé,

tia Nastácia e Chico Tião, das obras infantis de Monteiro Lobato e Lourenço Filho,

como emblemáticos nos processos de socialização aos quais os demais personagens são

submetidos. Sem deixar de destacar que tal processo se estende, especialmente, à da

criança leitora dos livros em tela. Nos três personagens, Tia Nastácia, Tio Barnabé e

Chico Tião, algumas características são comuns, como:

1) Os três são personagens sem nome de família e, para sua identificação,

são utilizados alcunhas ou diminutivos dos nomes próprios.

2) Os três são personagens idosos e somente Tia Nastácia tem a idade

definida na versão definitiva de O Saci (66 anos). Tio Barnabé “tem mais

de 80 anos”. No caso do personagem Chico Tião, de Lourenço Filho, está

relatado que nem o próprio personagem conhece sua verdadeira idade.

3) Nenhum deles possui uma família consanguínea e nenhum deles tem

descendentes. Tia Nastácia é filha de uma africana angolana. Chico Tião,

descendente de “bandeirantes”. Tio Barnabé é um agregado que “fora

escravo do pai de dona Benta”.

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4) Nenhum deles é branco. Tio Barnabé é negro; Tia Nastácia é negra e

Chico Tião é caboclo, resultado da confluência étnica entre o indígena –

o negro da terra - e o colonizador português.

5) Tio Barnabé, tia Nastácia e Chico Tião estão vinculados ao Brasil das

grandes propriedades rurais; são apresentados como empregados ou

agregados de sítio ou fazenda.

As marcas das personalidades registradas por cada um dos autores, nos três

adultos socializadores, estão impregnadas por características de uma determinada

personalidade coletiva de parte da população brasileira. São marcas destacadas e

valorizadas em ocasiões diversas pelo grupo, especialmente quando relacionadas ao

universo conhecido por esses “homens cordiais”: os espaços do Brasil rural e arcaico.

Tais marcas só são desvalorizadas quando as relações sociais se estabelecem num

ambiente estranho, como no exemplo do comportamento de tia Nastácia nas ruas de

uma cidade do mundo moderno e desenvolvido, representado pela cidade de Nova

Iorque.

Algumas características aproximam os três personagens, como as identificações

nominais, as atividades profissionais, as idades aproximadas, a ausência de familiares e

o local de moradia. Assim, a forma como os três são descritos e tratados pelos autores

pode revelar quem tem autoridade para falar sobre determinadas temáticas e qual o

lugar apropriado para discussão dessas temáticas.

Os tratamentos íntimos e afetivos identificados entre criança e adulto, como, no

caso, tio, tia e compadre, podem revelar a valorização das pessoalidades quando se trata

de alguns adultos. Assim, as referências à intimidade e ao favorecimento, advindas das

relações de amizade e compadrio, são bem-vindas e devem ser partilhadas entre os

brasileiros, crianças e adultos. É importante destacar que os autores, através dos

personagens, podem indicar que o processo de racionalização e modernidade

demonstrado nas impessoalidades não apresenta solo fértil nas relações sociais entre os

brasileiros.

Sem deixar de considerar a tensão homem cordial versus racionalidade, na

promoção das aventuras em cada livro - como também na promoção de projetos de

modernidade para a nação, impressos no conjunto da obra de cada um dos autores -, o

que se pode perceber nas representações dos “homens cordiais” são processos que

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hibridizam o novo e o velho, valorizados ou desvalorizados em algumas ocasiões nas

relações informais narradas nos livros.

Pode-se também considerar que nos projetos educacionais modernos, pensados

por Monteiro Lobato e Lourenço Filho - alicerçados nas ideias de educação ampla de

toda a população para o ingresso do país num mundo moderno e desenvolvido -, são

permitidas “brasilidades” como as que tia Nastácia, tio Barnabé e Chico Tião

representam: a cultura de uma cordialidade, herdada dos antepassados e o saber popular

que podem ou não estar aliados ao saber enciclopédico e científico.

REFERÊNCIAS

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perspectiva de socialização em Lourenço Filho. 258 p. Dissertação (Mestrado em

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______. Aventuras de Pedrinho. 7. ed. Ilustrações: Oswaldo Storni. São Paulo:

Edições Melhoramentos: 1961. (Série de Leitura Graduada Pedrinho, v. 3).

______. Aventuras de Pedrinho. 12. ed. Ilustrações: Oswaldo Storni . São Paulo:

Edições Melhoramentos, 1969. (Série de leitura graduada Pedrinho, v. 3).

_____. Guia do Mestre (vol.2). São Paulo: Edições Melhoramentos, 1968. (Série de

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