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Os imigrantes do Núcleo Colonial de São Bernardo e a constituição do subúrbio paulistano (1877-1902) Alexandre Alves Introdução A criação de Núcleos Coloniais em São Paulo foi um processoque se insti- tuiu dadas as necessidades de alteração dos mecanismos de recrutamento de mão-de-obra na transição para o trabalho livre. A partir de 1847 foram funda- das colônias particulares de terras que seriam cultivadas pelo sistema de parce- ria, pelo qual os colonos tinham direito a 50% da renda da colheita. Este siste- ma apoiava-seno processoimigratório, deslocando trabalhadores europeus de diferentes regiões, que deveriamfazer a América, fugindo das crisesde abasteci- mento de regiões como o Veneto ou a Calábria na recém unificada Itália. As colônias apareciam como possibilidade de ascensãosocial a camponeses ou trabalhadores manufatureiros, ou de liberdade aos anarquistas perseguidos por problemas políticos. Entretanto aspromessas de ganhos fáceiseram logo perdi- das, pois os imigrantes tinham, já na chegada ao Brasil, que reembolsar os gastos com suas passagens da Europa, com alimentação, médico e moradia, acabando por serem aprision~dos por dívida. Até a década de 80 do séc.XIX a vinda de imigrantes ainda era pouco significativa, mas a partir de 1884 o gover- no passoua subvencionar esse translado em larga escala para asfazendas de café, cultivadas pelo sistema do colo nato - pelo qual os imigrantes ganhavam con- forme a quantidade de café colhido, estimulando o trabalho familiar. Conforme já fora definida desde a política de doação de terras para es- trangeiros por D. João VI em 1808, quando introduziu 1.500 imigrantes alemães no Espírito Santo, os Núcleos coloniais objetivavam o povoamen- to de áreas novas, tais como os núcleos i~stituídos no sul do país - baseados no cultivo de terras em pequena propriedade.

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Os imigrantes do Núcleo Colonial deSão Bernardo e a constituição do

subúrbio paulistano (1877-1902)

Alexandre Alves

Introdução

A criação de Núcleos Coloniais em São Paulo foi um processo que se insti-

tuiu dadas as necessidades de alteração dos mecanismos de recrutamento de

mão-de-obra na transição para o trabalho livre. A partir de 1847 foram funda-

das colônias particulares de terras que seriam cultivadas pelo sistema de parce-

ria, pelo qual os colonos tinham direito a 50% da renda da colheita. Este siste-

ma apoiava-se no processo imigratório, deslocando trabalhadores europeus de

diferentes regiões, que deveriam fazer a América, fugindo das crises de abasteci-

mento de regiões como o Veneto ou a Calábria na recém unificada Itália. As

colônias apareciam como possibilidade de ascensão social a camponeses ou

trabalhadores manufatureiros, ou de liberdade aos anarquistas perseguidos por

problemas políticos. Entretanto as promessas de ganhos fáceis eram logo perdi-

das, pois os imigrantes tinham, já na chegada ao Brasil, que reembolsar os

gastos com suas passagens da Europa, com alimentação, médico e moradia,

acabando por serem aprision~dos por dívida. Até a década de 80 do séc. XIX a

vinda de imigrantes ainda era pouco significativa, mas a partir de 1884 o gover-

no passou a subvencionar esse translado em larga escala para as fazendas de café,cultivadas pelo sistema do colo nato - pelo qual os imigrantes ganhavam con-

forme a quantidade de café colhido, estimulando o trabalho familiar.

Conforme já fora definida desde a política de doação de terras para es-

trangeiros por D. João VI em 1808, quando introduziu 1.500 imigrantes

alemães no Espírito Santo, os Núcleos coloniais objetivavam o povoamen-to de áreas novas, tais como os núcleos i~stituídos no sul do país - baseados

no cultivo de terras em pequena propriedade.

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/.;.~~7,-.;..~-::-;;;r:= dor que se oferecesse a grande lavoura nas fases.(;,'",.~. ~y;'o,-' o ~,... de vacância e, finalmente, que atuasse como meio

propagandístico para a imigração estrangeira, di-vulgando a oportunidade de se adquirir um lote aos imigrantes que se des-

locassem para as fazendas de café do interior),Os quatro núcleos estabelecidos em torno da Capital no séc. XIX - São

Caetano, São Bernardo, Glória e Santana - faziam parte de um plano do

governador da Província, João Teodoro Xavier, de reforma do espaço urba-no da cidade e criação de um cinturão agrícola estruturado para atender aoabastecimento de gêneros alimenrícios em São Paul02, Essa reforma preten-dia europeizar a cidade - centro político-financeiro e morada da elite cafeeira- constituindo ao seu redor um banlieu coloniafe3 encarregado de promo-

ver o abastecimento através de um anel rural, que atuasse como uma espé-cie de filtro entre o núcleo urbano e o sertão inculto. O projeto foi inspira-do em Curitiba, onde a partir de 1867 instalaram-se 35 núcleos coloniaisnos arredores da cidade, formando um verdadeiro "cinturão verde"4. A rela-ção que se estabelecia era assim, entre cidade, como sede do comando, e

subúrbio, como seu espaço complementar.Porém as funções reais desses núcleos eram ambíguas, por isso sua existên-

cia acabou tendo mais um caráter experimental. Com efeito, o fracassodessa tentativa de divisão do trabalho entre as fazendas de café monocultorase os Núcleos Coloniais policultores (produtores de alimentos) acabou ex-pondo os camponeses a uma situação crítica, lançando-os a atividades econô-

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micas marginais de natureza igual às dos posseiros e foreiros da área naépoca da fazenda dos beneditinos.

Em 1874, foi criado o Núcleo Colonial de São Caetano, emancipadoem 1879, vivendo nos limites da miséria durante aquele período. Foi so-mente em 1887, quando promoveu-se a reativação do Núcleo (com imi-grantes recém-chegados devido à política da "grande imigração" do gover-no), que esgotou-se a venda de lotes de terra do Núcleo Colonial. A ativida-de principal foi a vitivinicultura (plantio de uva e fabricação de vinho),atividade arrasada em 1888 quando uma praga destruiu as videiras. A par-tir daí a atividade industrial pass~u a ser uma válvula de escape para oconstante crescimento demográfico do Núcleo de São Caetano.

A mesma praga atingiu o Núcleo Colonial de São Bernardo entre 1893 e1894. Naquele período a lavoura era uma atividade quase inviável devidoàs grandes dificuldades no desbravamento do terreno, coberto de matasvirgens e à má qualidade dos solos. Assim, a produção de vinho e alimentosfoi substituída pela extração de madeira e fabrico do carvão como únicaatividade disponível aos colonos no momento, embora fosse uma atividadeilegal e punida pela chefia do Núcleo Colonial. Apesar disso, cresceu onúmero de serrarias operando na área.

Isolado pelo abandono do antigo Caminho do Mar e pela distância daferrovia, o Núcleo ficou décadas subsistindo de atividades de pequena ex-pressão. Segundo o Censo de 1920, 50% da área total dos estabelecimentosrurais ainda era ocupada por matas na região do ABC.

As primeiras levas de imigrantes para São Bernardo estabeleceram-se entre1876 e 1886, na Sede Colonial e nas regiões rurais limítrofes, com grandesdificuldades, como as linhas Jurubatuba e São Bernardo Novo. Para chegarà linha Capivary, por exemplo, em 1888, os imigrantes tiveram que percor-rer de vinte a trinta quilômetros de picada na mata e, foram precisas trêstentativas para a sua instalação nessa linha.

Em 1889, a região de São Bernardo à qual pertencia o Núcleo, foi eleva-da de Freguesia a Vila e em 1902 de Vila a Município. Esse crescimentodeve-se à diversificação de funções dos imigrantes, que deixavam de se de-dicar exclusivamente à agricultura, ao rápido aumento da população (em1874 tinha 2.782 habitantes, em 1886 tinha 3.667 e em 1900 tinha 10.124)e à possibilidade de absorção contínua de mão-de-obra, seja na agricultura,~

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no comércio ou na indústria5. Dos quatro núcleos, o de São Bernardo foi o

que permaneceu ativo por mais tempo.Naquele contexto, os imigrantes trazidos para os núcleos foram entendi-

dos como potenciais agentes da europeização da cidade no processo de trans-formação que a elite cafeeira esperava da mudança do regime e da implan-tação do trabalho livre na Província. Esse imaginário republicano das elitespaulistas desmascara-se com os conflitos, que no decorrer da implantaçãodos núcleos, ocorreram entre o governo e os colonos. Revelou-se a distânciaentre os projetos concebidos e a realidade histórica, refletindo-se na mu-dança de função dos núcleos suburbanos de São Paulo após 1886, quandopassam a servir como meio propagandístico para a atração de mão-de-obrano contexto da "Grande imigração" das décadas de 80 e 90.

Nas páginas seguintes analisaremos os conflitos entre o governo e osimigrantes, acompanhando a atitude ambígua do governo, assim como ascorrespondentes reações dos imigrantes, ora de submissão, ora de revolta.Perpassa esses conflitos a mudança de função dos subúrbios de São Pauloentre a época da implantação dos núcleos (décadas de 70, 80 e 90) e onovo contexto industrial da cidade de São Paulo, com a constituição debairros operários ao longo da via férrea (Brás, Mooca, Ipiranga, etc). De"banlieu coloniale" os ex-núcleos coloniais tornaram-se fornecedores demão-de-obra, de matéria-prima e locais privilegiados para a implantação

da indústria em São Paulo.A partir das fontes que analisamos, estabelecemos dois períodos para a

fast: de implantação do Núcleo Colonial (1876-1902): de 1876 a 1886, dafundação do Núcleo ao seu abandono e sua reativação; e de 1887 a 1902,da fundação de novas linhas de colonizaçã06 até sua emancipação definiti-va, quando ele foi devolvido à jurisdição da municipalidade.

Nos dois anos após a instalação do Núcleo de São Bernardo, 1878-79,diversos conflitos entre o governo e os colonos ocorreram, pela falta depagamento dos seus salários, falta de condições de moradia, de ruas carro-çáveis, médico e igreja no Núcleo e pela desilusão dos colonos face à terrade má qualidade que adquiriram. Naquele período inicial as levas? de imi-grantes - na maior parte italianos, alguns alemães - eram exp°I'ltâneas, ou

seja, eles próprios custeavam suas despesas de viagem. O governo apenas seobrigava a pagar salários aos colonos por um ano - antes da primeira co-

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lheita - pelos serviços de infraestrutura que deveriam realizar nas terras. De

1879 a 1886, a colônia foi parcialmente abandonada pelo Estado, que não

introduziu mais imigrantes uma vez que o governo foi assumido por um

grupo político que não via a imigração para o Núcleo como fundamental.

De 1887 a 1891 foi retomada a política imigratória anterior. Foram inau-

guradas mais seis linhas de colonização, ampliando os limites do núcleo e

introduzindo novas levas de imigrantes. Desta vez, o governo subsidiou, na

sua maior parte, as passagens dos colonos, porém eles não recebiam salários

pelas obras que tinham de realizar para o governo. Com as novas levas de

imigrantes que ingressaram no Núcleo, de imigrantes italianos, poloneses e

húngaros, entre outras nacionalidades minoritárias, houve maior diversifi-

cação e novos conflitos. Podemos observar na tabela (próxima página) o

total de imigrantes vindos para o Núcleo, porém tivemos que dividir os

dados em duas tabelas devido às numerosas nacionalidades que contribuí-

ram para o povoamento de São Bernardo.

A chegada dos últimos grupos de imigrantes promoveu uma série de con-

flitos de menor amplitude que o grande conflito de 1878-79 por falta de

pagamento dos salários. Estes conflitos passaram a ser da responsabilidade do

controle da região, que para isso construiu a cadeia pública e a seu lado o Paço

Municipal. Em 1894 e 1897, inauguram-se as duas últimas linhas de coloni-

zação: Campos Salles e Bernardino de Campos. As linhas anteriores emanci-

pam-se em 1898, as novas linhas em 1902, quando cessa a responsabilidade

estatal sobre o Núcleo, devolvendo suas terras ao controle municipal.

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o problema da sobrevivência

Os colonos viviam no núcleo em condição de isolamento, sendo cons-tantemente vigiados e eventualmente punidos por seu comportamento.Havia cuidado constante com a sua saúde, dando-lhes assistência, pois elesdeveriam ser uma espécie de barreira entre o interior paulista - local daindolência, das doenças e da insalubridade, e a cidade -local da cultura, daordem e do trabalho. Não se concebia que os imigrantes europeus seadoentassem ou sobrevivessem da mesma forma que os sertanejos do interior,de atividades marginais - como o corte de lenha para fazer carvão e a cultura

de subsistência. Ao contrário, o seu trabalho deveria ser vigiado, seu compor-

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TABELA A - Imigrantes de São Bernardo(Ano x Nacionalidade)

Ano/Procedência(nO de processos) ~I~~ha

, ,Austrlo TOTAL

Nacional(local de origem)

61876

1877

61

63216597 19

30 I 22 521878

5 241879 13 6

17 171880

1882 5

201883 15~

11 (Pilar) 111884

13 7 201885. 1886

2222

58 2531887 253

115 1151888

46 481889

8 2 (Ceara) 281890 18

811891 35 17 19

40 3

10 (Santo Amaro)

14 (Santo Amaro) 571892

711893 22 32 17

241894 15()

34 341895

17 181896

361897 35

37 1535

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OBSERVAÇÓES:1) Os dados são referentes apenas aos colonos que adquiriram e pagaram lotes, excluindo os

ainda não estabelecidos na terra e os não residentes em São Bernardo. Consideramos o ano

de estabelecimento do colono na terra e não o ano da chegada ou da compra do lote.

2) Na nacionalidade italiana foram incluídos os tiroleses, pois apesar da região perrencer

administrativamente ao Império Austro-Húngaro, seu habitantes são na maior parte italia-

nos (o Titol foi devolvido à Itália em 1919).

3) Na nacionalidade austríaca foram incluídos apenas os imigrantes desta procedência com

sobrenome alemão.

4) Na nacionalidade polonesa foram incluídos os imigrantes russos vindos através da Polônia.

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OBSERVAÇÃO: exceções ao fluxo geral de imigrantes: vieram os seguintes migrantes (trabalhadores

nacionais): 24 da antiga Colônia de Santo Amaro. 2 pessoas do Ceará e 11 da cidade de Pilar;

reemigrados: 13 alemães de Santa Catarina e 2 armênios que vieram reemigrados da Argentina.

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I tamento controlado,I direcionado para as

atividades "produtivas",

como a agricultura, para

a produção de vinho,

cereais e verduras o abas-

tecimento da cidade.

Deste modo, a proi-

bição de cortar a lenha-- nas matas antes do pa-

gamento dos lotes e,depois de emancipado o núcleo, proibição municipal de cortar qualquer

lenha das matas em torno da povoação ("Mata Atlânticà') , sem a permissão

do município, formam circunscrevendo os limites de ação destes morado-

res. Ofício de 1902 pediu a criação do cargo de "zelador das matas", para

impedir a destruição destas. O cargo já havia sido pedido antes, em 1897, o

que atesta a permanência do problema. Porém, o cuidado do governo não

visava a preservação da mata virgem. Basicamente as medidas tinham três

finalidades: fixar os colonos na terra, impedir que os imigrantes se emanci-

passem exercendo uma atividade lucrativa (venda de madeira) e impor a

ideologia do trabalho. Dados geográficos atestam o processo de destruição

da Mata Atlântica paralelo ao processo de ocupação da região. A madeira

era utilizada para a construção civil, em dormentes para a ferrovia, para o

fabrico de móveis e principalmente como fonte de energia na maior parte

dos lares: o carvão. Com efeito, em 1920, já 50% das matas da região do

atual ABC haviam sido destruídas8. O Engenheiro Chefe do Núcleo Colo-

nial escreveu um ofício em 1887 onde afirmou:

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"Enquanto não seja emancipada a parte deste núcleo colonial, econsequentemente removida a Sede da Administração para uma daslinhas recém-colonizadas que mais carecem de fiscalização, torna-sedifícil fazer-se observar o Regulamento em vigor [sobre o corte damata], por quanto, pela extensão da Colônia, muitas vezes dão-sefatos reprováveis, que só muito mais tarde chegaram ao meu conhe-cimento... À vista do exposto venho pedir-vos, como uma boa pro-vidência, a admissão de um empregado de confiança, ao qual fiqueincumbida a fiscalização das estradas coloniais, para observância do

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artigo 31 e 32 do Regulamento Colonial e bem assim, impedir adestruição das matas dos lotes não pagos, fato este que aqui, apesarde todas as medidas tomadas, constitui um verdadeiro abuso, quemuitas vezes não pode ser coibido pois, quando chega ao meu co-nhecimento já o indivíduo destruiu a mata do lote e retirou-se clan-destinamente da colônia".

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A destruição das matas era vista como uma atividade predatória, típicados antigos foreiros da fazenda dos beneditinos, uma atividade marginal,não condizente com a visão e o papel que se atribuía aos colonos europeus.Encarregados de serem portadores da "civilização", eles deveriam implantaras técnicas agrícolas européias para o cultivo da terra9. Isto não era possívelporque a Europa não tinha uma agricultura tropical com terras virgens eárvores imensas. A culpa do empreendimento agrícola ter falhado foi atri-buída pelas elites governantes à ignorância e mau caráter dos colonos e nãoaos verdadeiros fatores: a acidez das terras e a total falta de infraestruturaagrícola. Quando, na década de 90 uma praga, a fiLoxera, devastou os vi-nhedos da região, único produto exportável no momento, eles passaram ase dedicar exclusivamente à extração de madeira para produção de tábuas,caixas e carvão1O. Como j~ foi dito, estas eram as únicas atividades querestavam aos imigrantes, mesmo sendo consideradas pelas elites como pre-datórias, não produtivas e relacionada à população marginal que secular-

mente habitou a região.Face à sua condição geográfica de isolamento, longe da ferrovia, São

Bernardo não se industrializou antes da década de 40, permanecendo comosubúrbio rural, ampliando a atividade de extração de madeira para a fabri-cação de dormentes para a ferrovia, de material para construção civil e fa-bricação de móveis. Já São Caetano e Santo André começaram a se indus-trializar na década de 10, devido à sua maior proximidade com São Paulo esua facilidade de comunicação, por estarem próximos da ferrovia.

Os antigos colonos adaptaram-se à nova função do subúrbio: industrial- local de terrenos baratos, com mão-de-obra abundante e facilidades de

comunicação para a produção. Fora abandonada a idealização do subúrbiocomo "jardim da cidade", assim como dos imigrantes com seu trabalhofamiliar e agrícola como padrão moral ideal. A partir da nova situação eco-nômica, os colonos foram colocados sob o signo da periferia e da negativi-

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dade, sendo considerados apenas como mão-de-obra disponível. Com efei-to, nas décadas seguintes, continuou a migração para a região, mas compredominância de nacionais, principalmente do nordeste, misturando-seaos descendentes dos colonos na mesma luta diária pela sobrevivência

Tensões e conflitos com os poderes locais

Por um contrato com os colonos, o governo se obrigava a dar-Ihes subsí-dio diário para os trabalhos de infraestrutura, além de fornecer-lhes alimen-tação durante um ano, antes da primeira colheita. No início de 1878 houveuma revolta que se alastrou também por São Caetano e Santana por falta decumprimento dessas obrigações do governo. Os colonos invadiram a Sedecolonial e seqüestraram o Engenheiro Chefe dos núcleos coloniais - LeopoldoJosé da Silva - exigindo a intervenção do governo provincial sobre sua situa-

ção. O Engenheiro Chefe estava desprovido do poder de punir na ocasião,pois encontrava-se em situação de risco - constrangido a escrever ao gover-no pelos colonos que o seqüestraram - foi obrigado a admitir que eles ti-

nham razão, por causa do contrato efetuado com o governo, como diz nesteofício dirigido ao Presidente da Província:

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"Levo ao conhecimento de V. Ex a que há três dias me acho neste

Núcleo, afim de conter os colonos que estão desesperados com ademora do pagamento de seus salários. Hoje invadiram a casa daadministração, porque alguns ignorantes acreditaram que recebi odinheiro para este fim e que não o quero entregar. Consta-me quehoje fazem uma deputação a V. Ex a afim de solicitarem o pronto

pagamento e significaram-me bem claro o seu desejo para que euficasse aqui até sua volta. Estou portanto retido e peço a V. Ex a

prontas providências sobre o dito pagamento, afim de evitar confli-tos que podem dar-se a todo o momento".

Posteriormente o Engenheiro Chefe expôs - por ocasião de outra revol-ta, pouco mais de um ano depois - seu verdadeiro pensamento a respeito

dos imigrantes e expressou a necessidade de'Controlá-los e puní-Ios para amanutenção da ordem. Conforme o discurso do Engenheiro Chefe, os co-lonos "ignorantes" demandavam a benevolência do governo, que se via

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desincumbido de paga-Ios já que os subsidiara por um ano, como podemosler no ofício abaixo dirigido por Leopoldo José ao governo:

"Tenho a honra de levar ao conhecimento de V a Ex a que algunscolonos do Núcleo de São Bernardo em número de 109, sendo oscabeças do motim, os colonos de nomes ...{seguem-se 6 nomes ita-lianos)..., obrigando os outros com ameaças a acompanharem-nospara perturbarem a ordem, como verbalmente comuniquei a V a

Ex a pedindo providências, continuam do mesmo modo.

Os empregados estão sendo perturbados e ameaçados, não poden-do livremente encarregarem-se em seus serviços de medições. Rogoa V a Ex a para providenciar afim de que sejam punidos os cabeças,

para a ordem e a garantia, considero a estada deles como inconve-niente ao núcleo...Como oficiei a Va Ex a e verbalmente informei, o Governo marcou o

prazo de 6 meses dentro do qual daria a diária que for estipulada, ecumprida, finalizando o prazo marcado os colonos de S. Bernardo eS. Caetano fizerão uma petição ao Governo que remeti ao Dr. Chefeda Diretoria de Agricultura o que se aguarda solução, não fazendo-seincluídos, senão os mais necessitados; mas os colonos de S. B. enten-dem que devem perturbar a ordem com suas pertinazes reclama-ções, sem quererem aguardar a deliberação do favor que pedem".

63

A atitude esperada de quem recorria ao paternalismodo governo seria ahumildade e não a revolta, como demonstra-se no rrecho abaixo, redigidode próprio punho pelos imigrantes italianos, justificando sua revolta emrazão da fome e da miséria e apelando à magnanimidade do governo parasocorrê-los. Há uma adaptação do discurso do~ imigrantes em relação aodo governo, após o choque enrre ambos marcando o início de uma assimila-ção (lingüística inclusive) - recurso de sobrevivência dos imigrantes num

meio social hostil.

" ... nós vimos aos pés do Isenlentíssimo governo desta província

para que nos seja socorrido - ou com gênero ou com dinheiro - osabacho assignados - pede este socorro por mais 6 meses e esperamos

no Isenlentíssimo governo não nos fartar com esta caridade paraque nos tiver de barulho e desgraça, porque a miséria e a fome nãotem lei nem justiça; e a quando recebemos as nossas colônia era forade tempo de fazer plantações, somente pudemos lavra poucos tereno- estes foi afim deste ano não ser Dossível colher lavora e Doresta farta

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é que não temos estas misérias de sofrimentos poranto esperamos noIsdentíssimo governo que não nos farte com esta mizericordia edinvindade e a quem pode nos livrar de todos os mal que pode-seproceder nestes pobre agricultores que abacho se assignão"

Este processo permite a verificação da atitude ambígua das elites paulistas

em relação aos imigrantes, concebendo-os como desejados e temidos: dese-

jados pois deviam ser os agentes da construção do regime republicano, da

nova ordem que se pretendia implantar, e temidos quando contrariassem as

expectativas e agissem de forma autônoma, tornando-se para as elites, en-

tão, geradores de "desordem"II.A República passava naquelo momento a

institucionalizar o sentido da ordem pela célebre definição da questão soci-

al ser "caso de políciá'.

Conflito semelhante ocorreu no processo de implantação dos imigrantes

alemães na colônia de Santo Amaro em 182712. Nesse caso, o temor das

elites em relação aos imigrantes era ainda mais claro. Eles foram da mesma

forma isolados do núcleo urbano e vigiados por um Engenheiro Chefe,

pois temia-se que realizassem uma revolta armada contra a cidade de São

Paulo. Este temor se justificava pelos soldados alemães que na mesma época

se revoltaram no Rio de Janeiro por falta de pagamento do governo imperi-

al pela sua participação na guerra pela Província Cisplatina, no sul do país.

A estratégia de vigilância foi semelhante, dispersando os colonos tidos como

"inconvenientes" e mantendo a localidade em isolamento.Houve também conflitos de menor envergadura opondo os colonos -

que exigiam um mínimo de sociabilidade no subúrbio - e os poderes locais,

o Engenheiro Chefe, o

Município e a SPR (The

São Paulo Railway

Company).Um ofício de

1894 do delegado da

Vila e outro de 1903 do

presidente da Câmara

Municipal de São Ber-

nardo pediam que "não

se faça a inumação de

cadáveres sem o devido

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registro", ou seja, sem o pagamento do certificado e da sepultura. Em 1898,conforme outro ofício, os colonos pediam a construção de um "cemitério,templo e residência para um sacerdote católico" - pedido negado, pois a

constituição da República vetava que "cultos religiosos fossem subven-cionados pelo estado". O cemitério foi concedido, por razões sanitárias,mas a igreja foi negada.

Ao lado do controle estrito do governo sobre o Núcleo, através da figurado Engenheiro Chefe, havia total falta de assistência religiosa, social oucultural aos imigrantes - formas elementares de sociabilidade. Também não

havia edifícios para o exercício das funções públicas na Vila dos imigrantes.O vigário de São Bernardo (elevada de freguesia a Vila em 1889), pediu noano de 1889 que o governo mandasse construir edifícios para o Paço Munici-pal e a Cadeia pública já que eles eram obrigatórios segundo lei provincial de1885. O pedido foi indeferido pois esses edifícios deviam ser construídos "àsexpensas do povo"13. Houve freqüentes reclamações a respeito do "estadosanitário" da colônia, denunciando casos de tifo e outras infecções. Mesmoapós a emancipação do Núcleo Colonial em 1902, a iluminação pública e osserviços de esgoto ainda eram extremamente precários - situação que se agra-

vara muito após o início da industrialização da região na primeira décadadeste século. Para o discurso secular da República, era primordial manter aordem, a salubridade e impor a ideologia do trabalho nas colônias, mas não aassistência religiosa, hospital, água encanada e a educação primária dos filhosdos colonosl4.

Tais problemas, de resto comuns entre as colônias do interior do Estado,denunciaram a condição suburbana de São Bernardo, após o abandono doprojeto oficial para os Núcleos Coloniais dos arredores de São Paulo. Doidílico projeto - inspirado na cidade de Curitiba - de construir um banlieu

coloniale ao redor da cidade, passou-se à concepção do subúrbio como "re-fugo da cidade", abrigo da indústria - atividade ligada à poluição e à sujeira

no imaginário das elites e por isso, isolada, posta "à margem"15.Naquele contexto - entre essas duas concepções do subúrbio: como "jar-

dim da cidade" e como "refugo da cidade" - vieram se inserir os imigrantes,

também eles marcados pela ambigüidade: desejados e temidos, indolentes emorigerados, agentes da ordem e da desordem.

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Diadema nasceu no Grande ABC: História Retrospectiva da Cidade Vermelha

Houve conflitos também devidoà existência do trabalho obrigatóriodos imigrantes nas estradas da Vila,envolvendo desta vez problemas con-sulares, que exigiram a intervençãodo Presidente da Província. Confor-me o Regulamento Colonial, os co-lonos eram obrigados a trabalhar umnúmero variável de dias por mês no serviço de estradas, gratuitamente,supondo-se que seria do seu interesse construir caminhos carroçáveis parasua produção. Após a emancipação do núcleo, a municipalidade passou a seutilizar do trabalho dos colonos para seus serviços públicos, dando orige~a reclamações e a um incidente consular com os colonos húngaros da linhaBernardino de Campos. Na ocasião, o cônsul do Império Austro-Húngaroremeteu ofício ao Presidente da Província, pedindo satisfação sobre as re-clamações dos colonos. Eles foram obrigados a trabalhar em obras de SãoBernardo, dois ou três dias por mês, sob ameaça de prisão. Da mesma for-ma, os colonos poloneses, definidos em outro trecho como "morigerados"escreveram um abaixo assinado para recusar o trabalho nas estradas muni-cipais. Veja como segue:

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"Como nem roubamos, nem salquegamos e nem conduzimos ma-deiras, não temos tanto interesse nos melhoramentos deste cami-nho. Demais temos pagos os nossos lotes e cumpridos com as dis-posições legais, e os caminhos que passam por nossos lotes são quaseque exclusivamente utilizados e estragados pelos gatunos, salquega-dores e carroceiros de madeiras, ficando-nos, além disso, ainda im-pedidos na exportação de nossos produtos...podemos perguntar porque direito devemos trabalhar para esses últimos, dos quais a maiorparte nem quer pagar, nem quer ficar nos lotes; que nos seja permi-tido, uma vez este estado de coisas acabado, trabalhar nos consertosdos nossos caminhos, mas só dentro da linha de Capivari'.

É notório neste documento como os imigrantes poloneses resistiram emserem assimilados ao meio e adaptarem-se aos modos tradicionais de vidada população local (extração e transporte de madeiras), ao contrário dosimigrantes italianos e espanhóis que adaptaram-se com maior facilidade'6.

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Diadema nasceu no Grande ASC: História Retrospectiva da Cidade Vermelha

Os poloneses consideravam estes últimos (italianos e espanhóis) os ditos"gatunos, saqueadores e carroceiros" que destruíam os caminhos, revelandodiferentes formas de assimilação ao meio e diferentes recepções do discursodos poderes locais pelos grupos nacionais do Núcleo.

Após a emancipação do Núcleo, os conflitos continuaram ocorrendo,porém agora direcionados a outras dimensões sociais, num nível mais coti-diano, mais microssocial, com relações menos claras. Tomemos comoexem-pIo um conflito de carroceiros da Vila de São Bernardo com a São PauloRai/way Company - empresa que realizava as obras da construção da ferro-

via - pela utilização da ponte sob o Ribeirão dos Meninos, destruído pelas

obras da ferrovia. Um abaixo assinado dos negociantes do Alto da Serra

alega que

a "Companhia Ingleza tem a sua linha atravessando plena povoação[ou seja, a parte habitada e necessária como passagem aos colonos],estabelecendo fechos ilegais, não dando passagens necessárias"; pe-dem que a câmara intervenha para que a Companhia "restabeleça asprimitivas passagens e aumente o viaduto para boa regularização daliberdade de comércio".

67

Ou seja, exigiam a reconstrução da ponte e a demolição das barragensfeitas para os trabalhos da ferrovia. No embate de poderes entre o grandecapital inglês e o humilde comércio dos carroceiros, que transportavamcarvão ou madeira, o fator alegado por estes era a "liberdade de comércio",

adaptando o discurso liberal das elites como fator de con-testação nas atividades do seu cotidiano~

A atitude ambígua das elites

o~ imigrantes foram investidos no imaginá-rio das elites paulistas de um duplo atributo:desejado ~ temido, conforme fossem idealiza-dos como agentes da ordem que se pretendiaimplantar ou como desordeiros e vadios. Sãodiversos os termos negativos aplicados a eles nosdocumentos, principalmente aos imigrantes ita-

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lianos. São tratados como "ignorantes", "indolentes", "insubmissos" e

"atravessadores", o termo oposto seria o "trabalhador morigerado", como o

tipo ideal de imigrante que se desejava receber.

a duplo atributo idealizado dos colonos lhes confere ora o "favor e a

graça" do governo, ora a sua desconfiança, refletida num sistema de vigilân-

cia e punições que, durante o período de implantação do Núcleo, pretendia

disciplinar os colonos. Era necessário excluir do corpo do Núcleo, do seu

"quadro colonial" os indivíduos "inconvenientes", perturbadores da ordem- ou seja, as células que comprometessem a saúde do Núcleo, contaminan-

do outros indivíduos, paralisando o trabalho. Esta preocupação é paralelaao cuidado com a saúde pública no núcleo - morte de crianças, casos espo-

rádicos de loucura, infecções eram entendidos como fatores compromete-

dores do sucesso da experiência dos núcleos coloniais suburbanos. No iní-

cio de 1879 foi providenciada a contratação de um médico para atender osnúcleos de São Bernardo e São Caetano, o médico contratado - Dr. Hortênciode Mendonça Uchôa - informava periodicamente em ofícios ao Engo Chefe

sobre as "condições sanitárias" dos núcleos, como no ofício abaixo:

68 "Permita-me V.Ex a que eu faça algumas reflexões sobre o serviço

sanitário nos núcleos coloniais. Os núcleos de Glória e de SantaAna, além de emancipados, estão muito próximos da cidade e porisso no caso de necessidade podem ser recolhidos à. Santa Casa daMisericórdia os colonos q' enfermarem.... Os núcleos de São Caetano e S. Bernardo acham-se em condiçõesdiversas. Além da distância, em que estão da cidade, não se podemconsiderar emancipados e por isso entendo que durante o tempo,em que o Governo pagar aos colonos diária para subsistirem até aprimeira colheita, deve igualmente prestar-lhes socorros médicos.Além de desumano, seria prejudicial aos interesses do País deixarmorrer quase ao abandono colonos estabelecidos sob a proteçãooficial e já de posse desse favor... ouso lembrar a v: Ex a a conveni-

ência de ser contratado um médico q. semanalmente visite os núcle-os de S. Caetano e de S. Bernardo".

Um documento redigido três dias antes pelo pr6prio Engenh~iro Chefeexpressava com clareza o paralelismo da preocupação médica e da preocu-pação com a saúde do corpo social nos núcleos coloniais:

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):_-'--- ~~.~~.. nn ~rnnrl.. lJ.RC. Hiotnri" R"tr~~~"ctiva da Cidade Vermelha

Ia visita que faço neste núcleo, verifiquei que sete famílias insis-n no propósito de recusar os lotes de terra, livres de contestação,e lhe tem sido oferecidos.,mei a resolução de intimar-lhes o prazo de 24 horas para que,ntro do perímetro do núcleo escolham a terra que melhor lhesnvenha, sob pena de, não o fazendo dentro do prazo fixado, se-n eliminados do quadro colonial e expulsos do núcleo.ém dessas famílias que considero verdadeiro foco de insubordi-ção e indolência, há 8, cujos chefes por s~u repreensível compor-nento agravam ainda mais a situação atual do núcleo. A respeito4, que podem corrigir-se em outra parte, aconselhei o engenhei-chefe da comissão incumbida da medição de lotes e estabeleci-ento de colonos, a entender-se com o diretor da f-íbrica de ferroIpanema, no sentido de recebê-los ali.

uanto aos outros, estou resolvido a expulsá-los do núcleo, se não

udarem de conduta.~I:) w.~';\"""~~,,,\.~ ~ \.( . ~'! ~ ~,"I:)~~~","\'I:)., I:.w. ~\\.I:. ~~I:)\\' d.1:. ~~~I:.t\.d.l:.t ';}.

rltrega do auxílio gratuito e o abono da diária às famílias, cujosflefes não querem estabelecer-se ou procedem mal.

no!;!;lvel aue esta medida produza alguma agitação."9

o corpo colonial deveria estar sob constante vigilância e ser submetido àpunição, os elementos recalcitrantes isolados e disciplinados ou excluídos

~m último caso. Esse mecanismo de po-der, que visava construir uma "sociedadedisciplinar" às margens da cidade (comouma espécie de experiência), não condiziacom a concepção que as elites tinham dapopulação sertaneja do interior do Estadoe dos antigos moradores da região da Vilade São Bernardo. O corpo dessa população- no pensamento dessa elite - era doente,

"indolente", desordenado, incivilizado e porisso merecia apenas desprezo, devendo sermantido à distância da cidade "sã" e orde-nada. Por isso, a localização dos núcleos su-burbanos de São Paulo também foi conce-hic1:1 como um cordão isolante. uma barrei-

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Diadema nasceu no Grande ABC: História Retrospectiva da Cidade Vermelha

ra entre o sertão dos caboclos - onde grassam as infecções, e a cidade - local

privilegiado da cultura e da sociabilidade.A idealização do imigrante como trabalhador levou à estratégia da puni-

ção pelo isolamento e pelo trabalho, na idéia de que o trabalho é disciplinador

e a disciplina instaura "ordem'. Isto é expresso nos qualificativos opostos

atribuídos aos colonos: "indolente e insubmisso"f "trabalhador morigera-

do". "Morigerar" sendo moderação dos costumes, moralização, disciplina-

mento, exemplaridade.O paternalismo do governo, pelo qual os imigrantes ficavam durante

alguns anos submetidos ao regime de tutela, estritamente vigiados e disci-plinados, pretendia fazer dos colonos esse "trabalhador ideal" - agente da

constituição deste novo corpo social a ser implantado na cidade de São

Paulo e cujo primeiro passo foi a urbanização a partir de 1872, chamada

também de "segunda fundação" da cidade.Uma carta anônima, dirigida ao Presidente da Província, faz um apelo ao

paternalismo do governo, à propósito da atitude do Engenheiro Chefe em

relação à uma viúva com filhos recém estabelecida no Núcleo, negando-lhe

o subsídio dado pelo governo aos imigrantes durante o primeiro ano de seu

estabelecimento. Uma viúva, com efeito, diverge do padrão ideal do traba-

lhador que o Engenheiro esperava receber no Núcleo: agricultor, com vári-

os membros masculinos na família e pacífico ou "morigerado" (o que inclui

abster-se de reclamações):

70

"Patma Pizami, emigrante italiana, estabelecida na colônia de S.Bernardo, desta capital, que tendo chegado apenas há três meses daItália, e não podendo portanto ainda obrigar os lotes de terra quelhe deram naqude núcleo a dar-lhe a alimentação necessária para suasubsistência e de seus filhos, não compreende o motivo por que o enge-nheiro diretor das colônias nega-se a dar-lhe alimentação. O mesmoengenheiro declarou que - se a suplicante não quisesse sujeitar-se a isso

(tradução: se não quiser morrer de fome), retire-se da colônia.Oras, abusar assim da ignorância dos colonos é um ato inqualificável,além de ser uma falta de caridade. Iludir pobres estrangeiros, trasê-los para esta província, e pretender obrigá-los a atos impossíveis - é

reduzí-los a uma escravidão pior que a dos nossos cativos.A suplicante, não sabendo assignar o seu nome, leva este fato aoconhecimento de v: Ex a para dar as providências necessárias, certa

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de que no Brasil não é intuito trocar escravos brancos por escravospretos. É uma obra de caridade, que muito distinguirá a adminis-tração de V. Ex a atender a suplicante".

71

Essa crítica veicula um discurso liberal e abolicionista, ligado à facção daelite paulista que propugnava a pequena propriedade do imigrante europeucomo meio para o desenvolvimento da agricultura no Estado. O apelo aoideal humanista que teria inspirado o projeto imigratório - o de abolir a

desumanidade da escravidão e de construir o regime republicano com tra-balhadores livres, isentos do ranço da velha mentalidade escravista - pressu-põe que o imigrante não seja uma mera mão-de-obra, mas seja tratadocomo parceiro do governo na construção do novo regime. A "ignorânciados colonos" ressoa com o adjetivo pejoratiyo aplicado noutro documentoaos imigrantes que se revoltaram em 1878 .pela falta de pagamento do sub-sídio. Nos dois casos há idealização dos imigrantes, ora como agentes daordem que se pretendia estabelecer com o regime republicano, ora comocomprometedores da ordem disciplinar imposta na gestão d0 Núcleo Co-lonial. Reflete-se aí a atitude ambígua básica dos poderes locais em relaçãoaos colonos: paternalismo e desprezo.

Por vezes, os conflitos entre os colonos e os poderes locais revestiram-sede diferentes faces conforme o processo de assimilação de imigrantes denacionalidades diferentes. Os chamados colonos "polacos" estabeleceram-se principalmente nas linhas de colonização Capivary, Rio Pequeno e Cam-pos Salles. Eles fizeram parte da segunda leva de imigrantes para o Núcleoquando ele foi reativado em 1887, como atesta o ofício abaixo do lntendentedos Núcleos Coloniais:

"... foi reiniciado o serviço (da colônia) a 8 do mês que se findou.dando começo no marco n o 8 da Linha Dr. Campos Salles afim dedar caminho aos colonos da mesma linha; estes colonos são os no-vos slavosj os quais nesta colônia do Capivary tem sido o exemplona construção de suas casaSj morigerados; observadores do artigo18 do Regulamento".

Devido aos vários conflitos ocorridos na primeira fase de existência doNúcleo entre o governo e os imigrantes italianos, agora experimenta-se outrasnacionalidades como, além dos poloneses, os húngaros e austríacos (cf. ta-

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belas A e B acima). Nesse período os italianos são qualificados nos docu-mentos de "atravessadores" -- ou seja, carregadores de carvão e madeira

extraída das matas, único meio de sobrevivência à sua disposição na época.A assimilação, a adaptação ao meio de vida tradicional dos ~cupantes anti-gos da região acaba relacionando a sua imagem - no imaginário da eliteimigrantista - à dos sertanejos do interior, ao seu corpo social "indolente",

avesso ao trabalho "produtivo". Por isso, a atividade de "carroceiro", ou"mercador de madeiras" é reprimida e duramente tachada pela câmara deSão Bernardo - esquecendo-se de que é a única fonte de energia tanto para

os lares quanto para as pequenas indústrias na regiãol7. Porém, como indi-cam os dados de entrada de imigrantes na colônia (cf. tabela B, acima), ositalianos mantiveram os números na segunda leva, pelo procedimento doscolonos já estabelecidos requisitarem ao governo a colocação na colônia (ocusteio das passagens) de seus parentes residentes na Itália. Conflitos seme-lhantes com o poder local levaram a atitudes diferentes por parte dos imi-grantes italianos e dos imigrantes poloneses e húngaros. Os primeiros adap-taram-se aos meios de vida suburbanos, já os outros isolaram-se em seuslotes e recorreram ao consulado de seus países, como no problema do traba-lho obrigatório nas obras do município. Isso talvez explique em parte por-que preservou-se uma memória histórica local dos imigrantes italianos enenhuma memória dos "polacos" no Grande ABC.

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Considerações Finais

No percurso que realizamos, talvez alguns dados pareçam um pouco

desconexos: uma revolta e muitas pequenas contestações que permeavam o

cotidiano dos imigrantes na sua luta diária pela sobrevivência. Porém, con-

trariamente à grande história político-social das revoluções e grandes movi-

mentos populacionais, a história local exige outras preocupações, como acen-

tua o sociólogo José de Souza Martins:

"Na história local e cotidiana estão as cirscunstâncias da História. Énesse sentido que a história do subúrbio é uma história ~ircunstan-cial. O que permite resgatá-Ia como História? A junção dos frag-mentos da circunstância - quando a circunstância ganha sentido, o

sentido lhe dá a História."

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Diadema nasceu no Grande ABC: História Retrospectivo do Cidade Vermelho

Juntando os fragmentos dessa história da derrocada de um projeto daselites rurais e das contestações dos colonos contra os que pretendiam fazerdeles apenas peças de um sistema, podemos fazer uma idéia dos sujeitossociais que deram origem à atual região do Grande ABC - precursores dos

operários que décadas depois preservariam a tradição de luta pela autode-terminação e pela sobrevivência.

Nos apoiamos na hipótese básica de que a mudança do discurso dospoderes locais em relação à função do subúrbio e de seus imigrantes acom-panha a adaptação desses imigrantes ao meio, no Núcleo Colonial de SãoBernardo. Essa adaptação é compreendida no discurso das elites comonegadora da sua concepção de trabalho e do imigrante como "trabalhadorideal" e "construtor da ordem".

A atitude ambígua em relação aos imigrantes, concebendo-os ao mesmotempo como desejados e temidos, agentes da ordem e da desordem, é gera-da pela sua idealização como objeto das elites, como "personagens 6ccionais"do seu imaginário.

Na medida em que o investimento de desejo das elites nos imigrantes écontrariado pelas reações destes diante dos problemas do seu cotidiano, ouseja, quando se autonomizam, aquele imaginário passa igualmente do pater-nalismo ao desprew pelos colonos. Essa passagem discursiva é também pas-sagem do subúrbio da função rural para a função industrial, acompanhadade suas representações no imaginário: jardim de cidade e refugo da cidade.

A mudança do discurso em relação ao subúrbio e aos imigrantes é acom-panhada pelo processo de proletarização destes, dedicando-se às novas ati-vidades surgidas: a indústria - como operários da ferrovia, das serrarias, das

olarias ou das primeiras indústrias de transformação da região.

73

Notas

I Cf GADELHA, Regina M. A. F. Os núcleos coloniais e o processo de

acumulação cafeeira (1850-1920): contribuição ao estudo da colonização

em São Paulo, São Paulo, 1982 (tese de doutoramento apresentada ao de-partamento de História da USP) e MIYOCO, Makino - "Contribuição ao

estudo da legislação sobre núcleos coloniais no período imperial" in: Anaisdo Museu Paulista, São Paulo, USP, Tomo XXV, p: 81-130.

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2 Cf. LANGENBUCH, Juergen R. "OS Núcleos de colonização oficial

implantados no planalto paulistano em fins do século XIX" in: BoletimPaulista de Geografia, n° 46, p: 88-106, dez/1971.3 Banlieu Coloniale é uma expressão geográfica francesa, significa subúrbio

rural, refere-se ao cinturão verde construído ao redor de algumas cidades.4 Cf. BERNARDES, Lysia M. C. "Problemas da utilização da terra nosarredores de Curitibà' in: Revista Brasileira de Geografia, Ano XVIII, N o

2, p:169-76, abril/junho de 1956.5 Cf. AGAZZI, Constantino. Das regiões lombarda e vêneta ao Núcleo

Colonial de São Bernardo: acompanhando o imigrante italiano (tese demestrado ao departamento de História da USP), p.99.6 Linhas de colonização eram as áreas em que foi dividido o Núcleo para a

divisão dos lotes de terra, deram origem aos atuais bairros de São Bernardo,como Bernardino de Campos e Rudge Ramos.7 Chamamos de levas aos grupos numerosos de imigrantes que chegavam

anualmente ao Núcleo.s Cf. SCIFONI, Simone. O verde do ABC: reflexões sobre a questão

ambiental urbana (tese de mestrado ao departamento de Geografia da USP),

p: 56-78.9 Cf. HOLANDA, Sérgio Buarque de. "Persistência da lavoura de tipo pre-

datório" in: Raizes do Brasil, São Paulo, Companhia das Letras, 1996, p:

66-69.]0 Em 1900 foram produzidos no Núcleo total de 7720 tábuas para soalho,

forro, caibros ou vigas; 120 mil caixas para charutos, macarrão, velas e sa-bão e 15750 sacos de carvão, totalizando 160: 388 200 reis de exportação.I1 Cf. ZENHA, Edmundo - '~ colônia alemã de Santo Amaro, sua instala-

ção em 1829" in: Revista do Arquivo Municipal, Ano XVI, Vol. CXXXII,p: 53-106, março de 1950.]2 Cf. Ofício do Vigário da Vila de São Bernardo, Tomás Inocêncio Lustosa,

ao Presidente da província de 11-8-1889, Arquivo do Estado, Ofícios di-versos - São Bernardo (1823-1889), caixa 462, n o de ordem: 1257.

13 Cabe exemplificar a necessidade de vigilância do trabalho pela constru-

ção de um Panopticon em Paranapiacaba, na época pertencente à Vila- de

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Diadema nasce_~_~~AB~~istória Retrospectiv~a~idade Vermelha

São Bernardo. Havia uma torre de observação no ponto mais alto da vilaferroviária, onde residia o Engenheiro Chefe da ferrovia, as casas eramconstruídas em forma de anel em torno desse ponto, constituindo um espa-ço de visibilidade total, em que cada um era vigiado por todos os outros. cf.FOUCAULT, Michel- "O olho do poder" in: Microftsica do Poder, Rio de

Janeiro, Ed. Graal, 1996, p: 209-227.14 C( MARTINS, José de Souza - Subúrbio - Vida cotidiana e História no

subúrbio da cidade de São Paulo: São Caetano, do fim do Império ao fimda República Velha. São Paulo, Hucitec, 1992, p: 110-118.15 C( MARTINS, José de Souza - "A imigração espanhola para o Brasil e a

formação da força de trabalho na economia cafeeira: 1880-1930" in: Revis-

ta de História, São Paulo, n° 121: 5-26, ago/dez. 1989.16 C( Abaixo assinados de carroceiros da Vila de São Bernardo de 1-8-1902

e de mercadores de lenha de Ribeirão Pires de 7-2-1902, pedindo dispensade pagar o "imposto de mercador de lenhà'; c( também Abaixo assinadodos produtores de carvão vegetal de São Bernardo contra o aumento de80% do imposto municipal sobre o carvão, 20-11-1923, Museu de Santo

André, Avisos ao procurador da Câmara, localização: S18(M1).75