Os Incríveis Seres de Dois Mundos

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    Jardim

    OO ss IInn cc r r í í vv ee ii ss

    SS ee r r ee ss dd ee DD oo ii ss MM uu nn dd oo ss

    1ª edição

    Santiago - RSDelci Jardim da Trindade

    2012

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    FICHA CATALOGRÁFICA

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Índices para catálogo sistemático:1. Ficção : Literatura brasileira 869.93

    ISBN 978-85-906590-1-3

    DIREITOS RESERVADOS PARADelci Jardim da Trindade

    [email protected]

    http://seresdedoismundos.blogspot.com

    REGISTRADO NA BIBLIOTECA NACIONAL

    JardimOs incríveis seres de dois mundos / Jardim. --

    1. ed. -- Santiago, RS : Ed. do Autor, 2012.

    ISBN 978-85-906590-1-3

    1. Ficção brasileira I. Título.

    12-13838 CDD-869.93

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    AGRADEÇO

    – A todos os que, de alguma maneira, tenham feito parte de minha vida.Alguns laços prendem as relações por mais tempo e outros devemos deixarque o fluxo da vida os desate.

    – Aos amigos que ficaram anônimos e perdidos em outros tempos.

    – Aos amigos desta vida, que emprestaram conscientemente ou não ofluido do amor para me tornarem o que sou.

    – Em especial para Fátima Friedriczewski, pela leitura cuidadosa e seu

    inestimável auxílio na correção do texto. – Aos meus pais, que agora estão em outras vidas, e aos meus irmãos

    terrenos, desta vida, que tão amorosamente me acolheram e ensinaram.Quero que saibam de minha sincera gratidão.

    – Aos meus sobrinhos e enteados que são, de alguma maneira, os filhose irmãos que precisava encontrar.

    Agradeço profundamente à minha esposa Marta Chagas de Abreu, porseu carinho e compreensão em todos os momentos. Uma companheira deantes, de sempre e de depois.

    A ela dedico este livro.

    Por fim, e para iniciar:

    Este livro é para todos os que anseiam por encontrar a si mesmos.

    E o resto eu direi nas páginas que seguem.

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    ÍNDICE

    AGRADECIMENTO 3

    CARTA PARA MEU BOM AMIGO 7

    PRIMEIRA PARTE - O VALE DA VERDADECAPÍTULO I – O SUCESSO 11CAPÍTULO II – ZOILO 13CAPÍTULO III – O ENCONTRO 15CAPÍTULOIV – A CASA DA GUARDA 18CAPÍTULO V – A JORNADA 21CAPÍTULO VI – A CASA DAS SEARAS 23

    CAPÍTULO VII – O TEMPLO SUPREMO 26CAPÍTULO VIII – A PREPARAÇÃO 28CAPÍTULO IX – A INICIAÇÃO 29CAPÍTULO X – O MESTRE DO TEMPLO 31CAPÍTULO XI – DA ORIGEM DO UNIVERSO 40CAPÍTULO XII – PERDIDO SEM TEMPO 50CAPÍTULO XIII – LEMBRANÇAS COMEÇAM 61

    SEGUNDA PARTE – JANELAS DO INCONSCIENTECAPÍTULO XIV – JANELAS DO INCONSCIENTE 67CAPÍTULO XV – JANELA 1 – TRÊS MIL ANOS ATRÁS 71CAPÍTULO XVI – ENTRE JANELAS 1 79CAPÍTULO XVII – JANELA 2 – NA NOITE NEGRA 82CAPÍTULO XVIII – ENTRE JANELAS 2 – QUATRO COISAS PARA ENTENDER 94CAPÍTULO XIX – ENTRE JANELAS 3 – COISAS DO OUTRO LADO 105CAPÍTULO XX – JANELA 3 – O COMERCIANTE 118CAPÍTULO XXI – ENTRE JANELAS 4 – UMA CENA DE RESGATE 136CAPÍTULO XXII – JANELA 4 – O HOMEM DO ESPELHO 140CAPÍTULO XXIII – JANELA 5 – O MÍSTICO PROFESSOR 165

    CAPÍTULO XXIV – JANELA 6 – UM GRUPO DE AMIGOS 180CAPÍTULO XXV – JANELA 7 – O OUTRO LADO DA VIDA 209CAPÍTULO XXVI – ENTRE JANELAS 5 – INTEGRAÇÕES E REVELAÇÕES 226

    TERCEIRA PARTE – OS INCRÍVEIS SERES DE DOIS MUNDOSCAPÍTULO XXVII – A NAVE DOS LIBERTOS 237CAPÍTULO XXVIII – OS INCRÍVEIS SERES DE DOIS MUNDOS 252CAPÍTULO XXIX – PONTO FINAL 273

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    CARTA PARAMEU BOM AMIGO

    Meu caro amigo, respondo com minhas palavras ao que tanto meindagas, tentando lançar uma luz ao que procuras. Vives dizendo que tenho asabedoria que tu gostarias também de possuir e que meus atos são a própriamanifestação do Bem.

    Confesso-te: sinto-me lisonjeado com tuas palavras. Entretanto, não mesinto realmente assim. Busco a cada dia aperfeiçoar-me mais e mais. Tenhomuitos defeitos, mas como sou um homem voltado à espiritualidade, procurosublimá-los.

    Dizes, ainda, que não reconheces o Bem nas palavras dos outros, quenão encontras alguém com quem possas manter um diálogo produtivo. Massaiba: todas as pessoas têm algo de bom, apenas não o manifestam porquelhes falta justamente a espiritualidade, que torna os homens contritos, comsuas mentes e corações abertos e prontos para mostrarem suas emoções.

    Como a ti, há muito tempo também me fascinavam os mistérios douniverso. Hoje, porém, não há mais mistérios para mim: só realidade. Percorrium longo caminho para atingir a compreensão que tu mesmo afirmas que

    possuo e que corroboro ao falar de minha nova realidade.Colhi muito da Árvore do Conhecimento, sempre discernindo asinformações que pudessem acrescer algo à minha vida e consciência. Destaforma, abstive-me de muitos prazeres e paixões, para que a satisfação maiorfosse minha paz interior. Estudei, analisei e experienciei coisas boas esaudáveis que contribuíram para fazer de mim o que sou hoje, e nunca penseiem desistir, por mais difícil que estivesse minha senda.

    Digo-te, caro amigo, que a Sabedoria maior a que tanto aspiras, pode vir

    pelos meios mais incomuns, mas sempre será o reflexo do teu interior econforme tua capacidade de interpretá-la.

    Como sabes, venho sorvendo lentamente do legado das mais antigastradições e, como mérito, delas recebo as maiores revelações, aprendendotécnicas milenares que, pelo homem moderno, foram esquecidas e colocando-as a serviço de minha evolução interior. A partir da assimilação correta dessastécnicas, podemos adquirir a sabedoria como consecução. Com isso, criamos,reinterpretamos essas técnicas, e tornamo-las vivas, palpáveis e mais próximasdos ideais pelos quais elas foram estabelecidas. Até mesmo aquilo que é

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    manifestação do imutável sofre alterações conforme a situação dahumanidade, sua capacidade de interpretação e seu nível de consciência.

    Minhas maiores revelações aconteceram numa maravilhosa experiência,com a qual senti definitivamente a grandiosidade da Inteligência Divina, e ondecomecei a entender do Caminho da Verdade. Relato-a, meu caro, ciente de tuadiscrição, para que tu possas, também, adquirir algum conhecimento e paraque ela traga outras ainda mais reveladoras a ti.

    Atenta principalmente às informações simbólicas ou alegóricas inclusasem cada detalhe, em cada cena descrita, em cada diálogo...

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    PRIMEIRA PARTE

    O VALE DA VERDADE

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    CAPÍTULO IO SUCESSO

    Como de súbito, finalmente minhas experiências haviam dado certo.Depois de vários anos de estudo, práticas e tentativas frustradas, eu me

    sentia suspenso e leve.Desprendia-me de meu corpo com uma grande sensação de leveza e

    tranquilidade. Imaginei-me como uma ave, rompendo a casca do ovo que atéentão a continha; como uma pessoa que retira uma roupa muito apertada,muito ligada ao corpo. Jamais, antes, havia pensado assim, sempre tive meucorpo como ideal.

    De meus sessenta quilos, apenas alguns miligramas agora era o que euparecia pesar. Logo depois, nem isso. Uma incrível sensação de intimidadecomigo mesmo e com o ambiente ao meu redor dominou-me completamente.Sentia-me suspenso, solto, leve e tranquilo. Via-me saindo, deixando meucorpo... Subindo...

    Tão alto, mas tão agradável, nem frio nem quente, brisa suave. Tudo deum branco que não ofuscava, mas que era simplesmente limpo, sem nuvens,

    nem névoa, mas branco. Estava em paz. Sem medo, eu podia contemplar e veraté onde quisesse, com nitidez absoluta.Bem ao longe, construções enormes que, se fixasse o olhar, poderia

    definir tudo, cada detalhe, como se tudo fosse um filme e meus olhos umacâmera, com poderosas lentes que me davam closes fantásticos. As imagensestavam em mim...

    Encontrava-me acima, bem no topo de uma cadeia ininterrupta de

    montanhas, que pareciam formar uma muralha divisória, dando a impressãode que cortavam aquele lugar de leste a oeste, formando um todo estranho eintrigante.

    Descendo a uma velocidade razoável em sua superfície, assim que toqueio solo, percebi que o cume da montanha era formado por uma rocha quedeveria ter aproximadamente sessenta metros de largura. Andei até aextremidade e vi que o declive da montanha era absolutamente vertical, comalgumas plataformas ao longo de sua encosta, tornando a descida impossívelpara qualquer aventureiro.

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    Dei meia-volta e dirigi-me à outra extremidade, mas era ainda pior: haviaplataformas ao longo de sua encosta somente a uns cinquenta metros abaixo eestava recoberta por uma densa floresta, com imensas árvores.

    Virei-me novamente e percebi que das plataformas formadas na encostaà minha direita, brotavam vários templos, de diferentes tamanhos. Segui parao leste, pois tinha visto alguns prédios naquela direção e como não haviamesmo jeito de descer da montanha, resolvi procurar ajuda e saber ondeestava.

    O sol, localizado um pouco atrás de mim, era ameno, como se apenasaquecesse carinhosamente a tudo... A vegetação apresentava-se muito densa,mas rasteira. Sentia-me só, não ouvia nada, nem mesmo um pequeno ruído.

    Também não via nenhuma pessoa ou ser que fizesse daquele lugar suamorada.À minha direita, surgiu um belíssimo vale, do qual pude ver uma grande

    extensão, coberta por vários prédios, muitos deles com formato piramidal,várias árvores e arbustos, além de outras edificações não menos belas eestranhas que o ambiente geral daquele magnífico universo no qual eu estavainserido.

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    CAPÍTULO IIZOILO

    Sempre caminhando, a cada passo mais e mais perguntas se formavamem minha mente, que procurava sem cessar, respostas para todas aquelascoisas lindas que eu podia ver. Na verdade, queria saber onde estava... e oporquê!

    Foi então que tive a sensação de não estar mais só, de que havia alguémpor perto. Olhei à minha volta mas não vi ninguém. Entretanto, quando olheipara cima, percebi algo se aproximando lentamente. Assustado,impulsivamente pensei em lançar-me atrás de um arbusto, o que foi inútil, pois

    quando pensei em correr, ouvi uma voz que disse: – Hei! Espera por mim!Fiquei ainda mais confuso e assustado, sem saber o que fazer, quando

    percebi formas humanas naquele ser que desceu do nada. Olhei com atenção evi que aquele não era um habitante daquele mundo, nenhum ser estranho – além do normal – ou algo do gênero, mas sim Zoilo, um amigo, que tambémrealizava a experiência e, não sei como, fora parar naquele mundo comigo.

    Passada a ansiedade e o medo, senti-me contente, pois a partir dali teria

    companhia. Combinamos conhecer o lugar juntos, mas a ideia ainda assustavamuito ao Zoilo.Ele era uma pessoa esquisita, do tipo que nunca sabemos se é

    absolutamente confiável, se é que sou claro... Entretanto, um lado de seucaráter – ou falha dele – fazia com que ele fosse um sujeito quase submisso,daqueles que ficam escondidinhos, ali... como que observando tudo, talvezpara aprender ou para copiar alguma coisa... Mas era um bom sujeito: muitomagro e alto, cabelos pretos, um pouco ondulados, muito simples.

    Zoilo também não soube dizer como chegara naquele lugar, ou por quesua experiência era conjunta com a minha e não cansava de manifestar suaapreensão.

    Continuamos em frente. Não encontrei nenhum inseto ou animalrastejante pelo caminho, nada me incomodava, exceto os constantesresmungos do Zoilo que, depois de aproximadamente duas horas, deixou meusouvidos cansados. Chegamos, então, ao primeiro prédio que encontramos. Eleera pequeno, apenas quatro paredes, mas muito bem ornado e decorado. Emseu interior estava tudo vazio e silencioso, sem nenhum habitante. Parecia uma

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    Zoilo continuava manifestando, cada vez mais intensamente, seu desejode retornar para casa. Quanto a mim, tinha como único objetivo obterrespostas. Queria saber o que significavam todas aquelas inscrições, para ondelevava aquela escadaria, quem a construíra e quem habitava naquele mundo.Como poderia sentir alguma coisa além da necessidade de respostas?

    Assim que parei com as divagações e contive um pouco a emoção porestar naquele lugar, observei que Zoilo estava se concentrando para retornarao nosso mundo. Ouvi apenas um “ até logo” e em seguida ele sumiu.

    Naquela época, nós fazíamos parte de um grupo de estudos esotéricos

    que se reunia sempre que possível para debater sobre alguns conceitos queficassem sem a devida resposta, sem, no entanto, privarmo-nos de nossaspróprias conclusões através da intuição. Por isso, antes e depois de cada umadaquelas reuniões, realizávamos alguma experiência. A que partilhávamos naocasião, era a de mentalização e harmonização com outros planos oudimensões da realidade. Já havíamos feito várias outras tentativas sem, noentanto, termos obtido qualquer tipo de sucesso. Aquela noite, porém,havíamos conseguido atingir, inexplicavelmente juntos, um dos grandes

    objetivos de nossos estudos e esse era justamente o motivo que não medeixava entender como Zoilo poderia ter desistido deles.

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    CAPÍTULO IIIO ENCONTRO

    Prosseguindo dentro do prédio, descobri uma espécie de elevador. Erauma cabine cilíndrica transparente, com muitas inscrições e um tipo dealavanca que deduzi fosse a chave para que ele funcionasse. Suportaria cincopessoas no máximo.

    Assim que coloquei o pé dentro daquela “ coisa”, muitas luzes acenderame uma porta, feita com um material transparente desceu silenciosamente,lacrando o elevador. Puxei a alavanca e, estranhamente, ele começou a semover. As sensações não eram as mesmas que se tem em um elevador

    comum, além do mais, para mim aquele lugar não era comum. Desse modo, sópude constatar que realmente descia, quando, ao olhar para trás, vi o interiorda montanha através da transparência da cabine.

    Passado algum tempo, o elevador parou e a porta abriu. Meu coraçãodisparou. Dois passos à frente e o tão esperado aconteceu, mas achei quepoderia ter demorado mais algum tempo – pelo menos alguns anos! Pensei:“agora não dá mais prá fugir, era isto o que eu estava esperando e o que

    realmente queria que acontecesse”. Fiquei perplexo: não sabia se seriam amigáveis ou se causariam algumdano a mim. Não sabia se falava alguma coisa ou esperava que aquele serfalasse primeiro. Não sabia se devia me proteger ou ficar simplesmente paradoali...

    O fato é que ali estava, bem à minha frente, incontestavelmente, oprimeiro habitante daquele estranho mundo. Ali, na minha frente, estava ocomeço das respostas para todas as minhas dúvidas. Ele era estranho, sem

    cabelos, com um tipo de capacete transparente do qual saiam alguns tubosfinos. Media cerca de um metro e setenta centímetros de altura, era magro,com traços delicados e transmitia de suas faces muita tranquilidade e pureza...

    Mas quando olhei para suas mãos, o medo foi o sentimento que medominou, pois possuía apenas três dedos em cada uma. Olhei fixamente paraseu rosto. Notei que havia certos traços em sua estrutura que o tornavamdiferente dos humanos, mas nem por isso, deixava de transparecer certaharmonia.

    Trazia entre as sobrancelhas uma espécie de pingente, fixada a umaestranha coroa tubular fina e transparente, fixada à cabeça por baixo do

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    capacete. Pintadas em suas faces, estavam duas listras de cada lado: uma azule outra vermelha e dos lados de sua fronte, uma meia-lua verde. Ele olhoufixamente para mim e, de seus lábios, docemente saíram algumas palavras:

    – Estávamos à tua espera. Por favor, acompanhe-nos.

    Naquele momento, senti-me como um intruso, invadindo sem licença,propriedades alheias. Nos devaneios que se formavam em minha mente, nãoconseguia definir o modo pelo qual souberam da minha presença. Concebiinúmeras possibilidades, mas nenhuma era suficientemente lógica paraexplicar. Inesperadamente, obtive uma resposta daquele espantoso ser:

    – Aqui, somos bastante desenvolvidos psiquicamente. Nossos sentidos enossa mente subjetiva vem sendo estudada e pesquisada por várias gerações

    para esse propósito. Este tipo de comunicação oral que estamos mantendo, foisubstituído por outros mais eficientes, mais rápidos e mais confiáveis. Comeles, além de sermos mais facilmente compreendidos, podemos saber comcerteza que todos são sinceros e auxiliamos mais diretamente a quemnecessite. Tua chegada, portanto, foi partilhada por muitos de nós.

    Pela sua resposta aos meus mais íntimos pensamentos, obtiveconstatação imediata de sua capacidade e, um pouco tímido, tremulamenteperguntei-lhe:

    – Para onde tu irás me levar? – Como verás, nosso povo sofreu vários tipos de mutações. Temos váriostipos étnicos, cada um cumprindo o propósito que lhe condiz, seja guardandonossos valores mais sagrados ou servindo como meio ao seu próprioaprimoramento. Entretanto, isto é tudo o que deves saber por enquanto.Acalma-te. Levar-te-ei ao Chefe-da-Guarda.

    Mas eu não conseguia manter a calma. Minha mente estava ofuscada

    pelo deslumbre de tamanha revelação e eu me sentia ao mesmo tempoextasiado e apreensivo pelo fato de ser conduzido para conhecer um mundonovo e intrigante, com seres fantásticos.

    – E tu, quem és? – perguntei ao ser que me conduzia. – Sou apenas o Guardião da Montanha Sagrada. – respondeu-me.

    Quando ele disse “Montanha Sagrada ”, falou com tanta solenidade, comum sentimento de respeito tão profundo, que tive a impressão de ter infringidoalguma lei daquele povo.

    – Sou um prisioneiro? – perguntei-lhe.

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    – Estou conduzindo-te ao Chefe da Guarda. Não tema. Ele saberá o quefazer por ti. Vem!

    Ao ouvir suas palavras, meu coração disparou e meu pensamento ficouainda mais confuso. Pensei em Zoilo e que talvez ele fosse o mais sensato denós dois, ao ir embora sem tentar invadir um lugar estranho. Não sabia o queestava a minha espera, nem se seria bem-vindo, pois a amabilidade dispensadaa mim pelo guardião poderia ser explicada como parte do seu encargo de meconduzir. Assim pensando, meus sentimentos oscilavam entre a calma, atranquilidade, a vontade de conhecer aquele povo e o pânico que odesconhecido me trazia.

    Por algum tempo, terríveis fantasias tomaram conta do meu ser

    enquanto eu imaginava as formas mais cruéis de tratamento que aqueles seresusariam ao me interrogarem. Depois, respirando fundo e apaziguando minhasemoções, decidi desfrutar o possível daquele lugar e me entreguei a apreciaraqueles momentos, quando passava entre colunas e portais incríveis, cada ummais ornado que o outro. Entramos noutro elevador, em cujo interior estavammais dois guardiões, os quais posicionaram-se à minha frente. Descemos. Logoque saímos dele, já no sopé da montanha, havia uma verdadeira recepção, commuitos seres esquisitos: alguns alados, outros com corpos de felinos, outros

    ainda, eram mistura de animais conhecidos.Ali compreendi o que quisera dizer o guardião sobre as mutações do seupovo. Apesar de estranhos a mim, assim como eu devia ser para eles, nãohouve a mínima aversão por nenhuma das partes. Não me trataram comsurpresa. Uma breve olhadinha curiosa foi tudo o que fizeram e imediatamentevoltaram às suas funções anteriores.

    Aos três guardiões que se dispunham à minha frente, mais quatrohaviam agora juntado-se a eles: um de cada lado e dois atrás. Andamos um

    pouco para a frente e chegamos a uma pequena escadaria. Descemos seusdegraus e pude ver, à minha esquerda, uma parte daquele vale que apreciei decima da montanha. Vi pouco de sua extensão, pois estava repleto deedificações. À minha direita, haviam entradas que davam acesso ao interior damontanha, todas muito bem iluminadas desde cima até embaixo. Nelastrabalhavam alguns seres alados. Adiante, encontramos um veículo dispostosobre uma espécie de trilho, a alguns metros abaixo do solo. Entramos,sentamos confortavelmente nele e seguimos sob o solo em direção a umdaqueles grandes prédios.

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    CAPÍTULO IVA CASA DA GUARDA

    Como aquele veículo se deslocava em alta velocidade, nós chegamos empouco tempo. Eu estava tranquilo, graças ao guardião que me conduzia, poisele falava, com a calma e a gentileza própria de sua natureza, que seriaagradável minha estada em seu mundo.

    Assim que descemos, percebi que haviam muitos seres semelhantes aosguardiões. Nenhum diferente.

    Houve uma troca da escolta, mas o guardião que me encontroupermanecia comigo. No novo grupo, a parte de baixo do uniforme era mais

    comprida e estreita, chegando às canelas. Sobre a túnica, na parte de cima,usavam uma faixa de quatro cores que cruzava seus corpos da esquerda para adireita. A cor de suas túnicas era ciano, como no grupo anterior, com adiferença que a desse era mais brilhante.

    Entramos pela lateral, mas os quatro lados daquele belíssimo prédioeram absolutamente iguais. Tinha no primeiro portal um frontão imenso,entrecortado com frisos ricamente ornados e disposto de forma que trêspilones ficassem empilhados, cada qual com maior riqueza de detalhes que o

    outro, dando acesso a pavimentos diferentes. Descemos uma escadaria, o quenão faltava, demos alguns passos e paramos frente a um lindo pórtico. Umguardião abriu a porta e nós entramos.

    O interior era um verdadeiro palácio: várias colunas, poucos utensílios,reposteiros separando as salas internas... beleza sem muito luxo, mas comriqueza de detalhes indescritível. Assim que adentramos um grande salão, fuiorientado a aguardar pelo Chefe da Guarda.

    Perguntei ao guardião que lugar era aquele e ele me disse que era a Casa

    da Guarda, morada de seu tipo étnico e de onde supervisionavam o trabalhorealizado na Montanha Sagrada, sendo aquela seção específica, a morada doChefe da Guarda.

    O grupo de guardiões que fazia a minha escolta foi novamente trocado.Eles eram tão bem organizados que no exato momento em que um grupocruzava a porta que estava a minha frente imediatamente um novo grupoentrava pela direção contrária e assumia sua posição. Este grupo erasemelhante ao último, exceto pelo fato de que possuíam asas como outros queeu vira na saída da Montanha Sagrada. Um detalhe chamou bastante minha

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    atenção: em nenhum instante, por breve que fosse, percebi qualquer um deles,nem mesmo estes últimos guardiões, portando algum tipo de arma. Não noteiqualquer ação brusca ou grosseira em nenhuma ocasião.

    Logo atrás do novo grupo de guardiões, vinha o Chefe da Guarda. Ele eramuito parecido com o que me conduzira até ali, porém um pouco mais alto erobusto. Trazia na cabeça um estranho capacete, assemelhado a uma daquelascoberturas que usavam os antigos egípcios, porém com uma saliência de cadalado da fronte, que se estendia por sobre os ombros, indo terminar no peito,como aquelas longas cabeleiras usadas por magistrados ingleses.

    Fomos conduzidos pelo guardião a uma sala lateral. Lá, o Chefe da

    Guarda perguntou-me de onde eu vinha e qual era o meu propósito. Faleisobre as minhas experiências e que não sabia onde estava. Disse-lhe, também,que gostaria de conhecer aquele lugar, pois aparentava ser fantástico. Elepareceu gostar do que falei e disse-me, em tom sério:

    – Tenha paciência. Conhecerás nossa terra, já que és verdadeirobuscador de conhecimentos. Mas agora, será melhor acomodar-te. Pelamanhã, já descansado, o guardião Perfas, o mesmo que te trouxe até aqui, televará ao Guia Real e com eles partirás em jornada por nossas terras.

    Fiquei, ao ouvir tão compreensíveis palavras, tomado de emoção. Aquelepovo, a cada instante, trazia uma nova surpresa, fazendo com que meuspróprios valores fossem repensados, pois pensei que o Chefe da Guarda fariaum grande interrogatório e que ficaria até mesmo agressivo com minhainvasão...

    Continuou a falar, então, o Chefe da Guarda:

    – Nosso desenvolvimento psíquico não pode ser subestimado!Conseguimos chegar a um nível muito aguçado de evolução. Ao longo demuitos anos desenvolvemos nossa capacidade de percepção para podermoscompreender os mais íntimos sentimentos dos que estão em nosso meio.Desta forma, vivemos em paz tanto interior quanto exteriormente.

    Realmente eu havia subestimado sua capacidade de percepção. Mascomo eu poderia ter certeza absoluta de suas reações? Além do mais, era tudomuito novo, muito diferente...

    Logo em seguida, Perfas conduziu-me até a seção onde passaríamos anoite. Passando por escadarias e colunas, portais e salas sempre ricamente

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    CAPÍTULO VA JORNADA

    Acordei, horas depois, com alguém batendo à porta. Era Perfas. Saí doquarto e ele levou-me a uma sala onde havia uma grande mesa e, sobre esta,uma grande quantidade de comida: frutos e sucos de vários tipos, cores,odores e sabores. Todos deliciosos, belos e cheirosos. Muitos guardiõesestavam ali, partilhando conosco daquele agradável desjejum. Sentei-me àponta. No outro extremo, o Chefe da Guarda. À minha direita estava Perfas e àesquerda, Viciterris, o Guia Real. O ambiente estava agradabilíssimo,perfumado...

    Enquanto fartávamo-nos, um ente dedilhava um tipo de saltério, do qualextraía encantadoras melodias.Assim que terminamos a refeição, Viciterris perguntou-me: – Pronto para o passeio? – Sim. – respondi. – Então vamos, temos muito para olhar.

    Dirigimo-nos então à seção de veículos da Casa da Guarda que estava

    situada no centro dela. Lá, vários tipos de veículos ficavam à disposição. – Quem irá conosco? – perguntei-lhe. – Tu irás comigo em um veículo. Perfas nos acompanhará em outro. – Iremos pelo subsolo? – indaguei. – Apesar da viagem subterrânea ser mais rápida, escolhi levá-lo às outras

    Casas em um veículo especial, para que aprecies um pouco da paisagem. – falou-me o Guia Real.

    Naquela seção, além de muitas inscrições por todo lado, tinha tambémuma estação subterrânea com diversas linhas. Perfas, sempre atento à minhacuriosidade, falou-me que aquelas linhas ligavam as várias partes de uma Casa,possibilitando o transporte de cargas e de entes de todas as seções e de todasas Casas com segurança e rapidez.

    – Sim, podemos ir. – disse Viciterris para Perfas.Achei estranho. Não tinha escutado a pergunta de Perfas. Vi apenas ele

    fazer alguns movimentos com o rosto e, logo após, ouvi a resposta de Viciterris. – Vamos partir? – perguntou-me Viciterris.

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    – Certo. – disse-lhe, meio assustado com o formato do veículo. – Não fica assustado. Este veículo é muito seguro. – tranquilizou-me o

    Guia Real.O veículo era o que eles chamavam “Discóide Flutuante” e sua aparência

    era a de uma biga sem cavalos. Ele servia para o transporte de duas pessoas nomáximo.

    – Qual o tipo de energia utilizada por este veículo? – indaguei.Perfas explicou-me com vários termos técnicos e eu fiquei meio confuso,

    mas compreendi, no entanto, que possuíam um equipamento, naquele mundo,que era capaz de captar e armazenar energia solar. Depois de armazenada,essa mesma energia passava por um processo de compressão e era conservada

    para utilização futura na forma de pequenos blocos sólidos, em suas casas eveículos. Disse-me que cada Casa possuía uma seção responsável pelarealização desse processo.

    Por segurança, Viciterris deu-me um capacete transparente e orientou-me a colocá-lo, pois iríamos nos deslocar em alta velocidade e por altitudesvariáveis. Subi no veículo, logo atrás de Viciterris. Ficamos em pé. Por umaesteira, deslizamos até a saída lateral da Casa da Guarda. Dali, seguimos em

    direção leste, paralelamente à Montanha Sagrada. Fomos para a Casa dasSearas, situada não muito distante. A vegetação era muito rasteira, desértica,mas observei que em alguns locais cresciam árvores parecidas com as nossasráfias, sagueiros e jubéias.

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    CAPÍTULO VIA CASA DAS SEARAS

    Para que eu pudesse admirar um pouco mais daquela área, Viciterrispassou pela frente da Casa das Searas e deu a volta no prédio. Passando pelaparte de trás, sobrevoamos uma imensa estufa contendo inúmeros tipos deplantas.

    Tendo o formato de uma pirâmide de degraus, parecia que, aoconstruírem aquela Casa, empilharam vários prédios de tamanho cada vezmenor sobre os anteriores. Seguimos pela lateral e entramos numa outra seçãode veículos. Viciterris falou-me que ali não poderíamos ficar muito tempo,

    porque os entes daquela casa não tinham acomodações próprias para nós eque ele apenas me mostraria como eram produzidos os frutos e as searas. Logoà entrada, percebi porque eles não deveriam ter acomodações para nós: osentes daquela casa eram semelhantes a furões, um pequeno mamífero usadopara caçar coelhos, mas estes tinham a função de extrair os frutos dos galhosaltos de certas plantas ali cultivadas. Eles eram extremamente altos, mediamcerca de dois metros e cinquenta centímetros de altura, com o corpo fino ecomprido, membros inferiores do tamanho do corpo e membros superiores

    bem mais longos, o que fazia com que ficassem ainda mais altos. Eram muitomagros e realmente estranhos. Caminhamos até um elevador. Subimos até ocentro daquela Casa e lá Viciterris mostrou-me como eram realizadas aspesquisas sobre as plantas, o modo de desenvolvimento das máquinas e asmelhores formas de adaptação do solo. Além disso, havia um amplo espaçodedicado aos registros daquelas mesmas pesquisas e projetos para outras emandamento. Todas as instalações eram muito simples e amplas, quase semdecorações.

    Em um pavimento subterrâneo ficavam armazenadas as searas colhidas,o material para a colheita e as sementes. Este mesmo pavimento ainda contavacom conexões que ligavam vários ambientes individuais, com clima artificial eoutros meios dos quais dispunham para armazenagem e estocagem. Pordentro, a Casa parecia bem maior do que por fora. Todos os espaços eram bemaproveitados, muito organizados e limpos. Por vezes passava um ou outro entee eu sempre os olhava com surpresa, pois eram muito incomuns. Perfas,notando o meu comportamento, falou-me que eles tinham plena consciênciada aparência estranha que possuíam e não se incomodavam com isto, aocontrário, orgulhavam-se muito, no sentido mais nobre deste termo, pois

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    escolhiam sua função antes de nascerem, por um processo que eu poderiaconhecer na devida hora e no lugar certo: bastaria merecê-lo. Outra vez me viconfuso.

    Fomos, então, para a seção interna de veículos, que servia para fazer acomunicação entre as diversas seções da Casa e, principalmente, para otransporte de cargas. Subimos os três juntos num tipo de veículo parecido comaquele no qual nos deslocamos da Montanha Sagrada até a Casa da Guarda.Esse, porém, era menor e mais lento. Dirigimo-nos para a seção de produçãode searas, a qual se assemelhava a uma estufa. Suas dimensões, entretanto,eram imensas. O lugar onde cultivavam as plantas era subterrâneo, mas aimensa abóbada transparente que o cobria ficava disposta acima da superfície.Dentro daquela imensa estufa, tanto a luz quanto o clima eram totalmente

    controlados em conformidade com as necessidades de cada tipo de cultura.Pude observar muitas máquinas interessantes, que realizavam quase todo otrabalho de carregamento. Vi outro tipo de entes muito curioso: eramparecidos com Lucanos, insetos lamelicórneos, com pinças muitodesenvolvidas e que cumpriam várias funções, uma das quais era o corte de umtipo de seara gigante que crescia a uma altura bastante elevada do solo.

    Uma coisa, entretanto, não conseguia entender: com tantas máquinas,com tanto desenvolvimento tecnológico, eles ainda continuavam fazendo um

    trabalho primitivo, sendo que as máquinas, com apenas algumas modificações,poderiam realizar todo o trabalho sozinhas. Por quê? Por tradição? Porcarinho? Cuidado?

    Muitas coisas, muitos fatos pareciam sem nexo para mim. De uma Casapara outra as coisas mudavam completamente e eu não conseguia entendê-las.Todos, entretanto, inclusive Viciterris e Perfas, que estavam ao meu lado,pareciam radiantes e compreender todo o processo. E aquela era realmente aminha vontade: compreendê-los totalmente.

    Então, como que lendo meus pensamentos, falou-me Viciterris: – Levar-te-ei a um lugar, a um sábio, nosso Mestre do Templo. Com ele,

    tudo o que for possível ouvirás e aprenderás, desde que sejas merecedor. – Onde iremos encontrá-lo? – perguntei-lhe entusiasmado. – No Templo Supremo. – respondeu-me – Lá estão guardados os

    segredos do nosso povo, a Lei do Sol e os enigmas deste mundo. – continuouViciterris.

    – Quando chegaremos lá? – indaguei a Perfas.

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    – Chegar lá é rápido. Contudo, somente com a devida preparação é quepoderás provar se estás apto a receber a sabedoria a que aspiras. – respondeu-me Perfas.

    – Mas... como? Como provarei estar apto a recebê-la? – insisti. – Realizando a devida cerimônia ritualística. – explicou-me Perfas. – Uma Iniciação! – completou Viciterris. E continuou: – Mas iremos para

    o Templo Supremo à tarde. Até lá, ficaremos por aqui.

    Fomos para o terraço da Casa das Searas. O Sol estava bem acima denossas cabeças. O panorama era deslumbrante: podia ver prédios, árvores, aMontanha Sagrada, entes em seus Discóides Flutuantes cruzando rapidamentee acenando, uma parte da Casa da Guarda... como era alta! Sobre uma delicada

    mesa, preparada para nós em uma pequena área coberta, onde tambémpodíamos ter uma bela e ampla visão do Vale, sentamos em grandes almofadase nos deliciamos com um apetitoso almoço. Bebemos deliciosos refrescos,enquanto apreciávamos a paisagem. Por vezes, o encantamento que Perfas eViciterris deixavam transparecer por aquele lugar, fazia com que esquecessemde mim. Eu também, confesso, muitas vezes parecia entorpecido, entregue empensamentos sobre as maravilhas que se descortinavam a mim naquelemundo.

    Perguntei, então, a Viciterris: – Quando passarei pela Iniciação? – O Ritual de Iniciação começará após o de Purificação, logo ao nascer do

    Sol. Entenda: somente a persistência fará com que sejas digno de receberes oconhecimento pelo Mestre do Templo. – disse-me Viciterris.

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    CAPÍTULO VIIO TEMPLO SUPREMO

    Após um breve descanso, entremeado por momentos de verdadeirodeleite naquelas paragens, entramos no Discóide e nos dirigimos para oTemplo Supremo. Ele se situava a sudeste da Casa das Searas, a uma distânciade aproximadamente doze quilômetros. No caminho, vimos muitasconstruções, muitas estações e templos. Um destes era muito parecido com oTemplo do Sol em Palenque, no México. Passamos também por pequenasconstruções cúbicas que serviam de reservatórios de água para uma eventualnecessidade. Daquele lado da Montanha Sagrada não havia nenhum rio,

    apenas grande quantidade de lençóis subterrâneos, daí a razão da existênciadaqueles pequenos prédios.À medida que nos aproximávamos do Templo Supremo, percebia alguns

    detalhes interessantes como, por exemplo, imensas estátuas que apareciamem aberturas como janelas. Estas estátuas eram semelhantes às esfingesegípcias, a não ser pelo fato que elas tinham a face voltada para o lado e nãopara a frente como as egípcias. Disposto com a fachada para o oeste, aqueletemplo possuía uma grande escadaria que conduzia ao topo, fazendo ligação

    entre as várias divisões nos pavimentos. Mas quem subiria todo aquele sem-número de degraus? O Templo Supremo deveria ter no mínimo trezentosmetros de altura e, de base, um pouco menos. Bem à sua frente, um imensopórtico, solto no vale, sem nenhuma ligação com o tempo, sem muralhas, nemmesmo uma simples proteção à sua volta. Passamos por ele... um sinal dereverência. Seguimos pela frente do templo até o lado sul. Lá havia umaentrada guardada por dois guardiões posicionados um de cada lado daabertura. Cingia-lhes a cintura uma fina trança feita de material opaco, meio

    prateado, sobre uma alvíssima veste que lhes cobria o corpo e a mesma faixaquadricolor também possuíam aqueles guardiões. Suas cores eram muitovibrantes e chamavam bastante a atenção: amarelo-ouro; verde claro;vermelho fogo; azul-marinho.

    Entramos em outra seção de veículos, descemos do Discóide e andamosaté sairmos do pequeno túnel que formava aquela entrada. Pude perceber,naquele instante, a grandiosidade do Templo Supremo: cada pavimento tinhauma altura de vinte e sete metros, segundo Perfas. E mais: havia doze desses,afunilando-se cada vez mais, o que fazia parecer, externamente, uma imensa

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    torre, como dos templos indianos do Tirukalukundram, dedicadas a Shiva. Emseu interior, muitas plataformas, elevadores, salas transparentes, muitasportas, entes ocupados – alguns alados -, escadas, painéis, muitas luzes,clarabóias laterais, inscrições diversas e o mais interessante: uma “ esteirarolante ”, por onde os entes iam e vinham, deslizando horizontalmente.Subimos os três em uma daquelas esteiras e nos dirigimos a um elevador,também cilíndrico e transparente como os da Montanha Sagrada.

    Dois andares acima paramos e descemos. Deslizamos sobre uma outraesteira até o local onde eu seria preparado para os rituais. Fomos para osalojamentos. Em uma sala que dava acesso a eles, dois sacerdotes trouxeram-me uma roupa e disseram para que eu a vestisse. Em minha alcova, percebique ela misturava as características de uma túnica e de um albornoz e era

    confeccionada com levíssimo tecido branco. Assim que a vesti, voltei à salaonde Perfas e Viciterris me aguardavam.

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    CAPÍTULO VIIIA PREPARAÇÃO

    Sentados em torno de uma mesa, Viciterris, Perfas e alguns sacerdotesme aguardavam ansiosos. Eles vestiam uma longa túnica e tinham na cabeçaum turbante que apresentava as mesmas quatro cores das faixas dosguardiões. Sobre a mesa, vários tipos de pães, sucos e guloseimas.

    Assim que ocupei meu lugar, um sacerdote iniciou a entoação debelíssimas melodias. Sua afinação era tamanha que se tornava impossível fugirao seu magnetismo e tentar concentrar-me em outra coisa. Terminada aentoação, começamos a comer. Sem exageros, desfrutamos também de outros

    deliciosos petiscos.Uma suave música entrou pela sala, vindo de trás de uma cortinatransparente. Logo, levemente, aproximaram-se os músicos, dedilhando seusinstrumentos, os quais em muito se assemelhavam a outros por mimconhecidos, tais como: tiorba, sistro, lira, soltério... Os músicos extraíam delesmelodias belíssimas, encantadoras, magistralmente harmoniosas. Novamenteum canto. Um perfumador foi trazido por outro sacerdote. O ambiente estavaconvidativo à reflexão profunda.

    A luz foi diminuída, ficando apenas algumas velas com suas chamas aoscilar e deixando as sombras embalarem o pensamento... A música... Ocanto... A interiorização... A luz... O perfume agradável...

    Com o som da pancada de um tantã uma densa névoa, formada pelafumaça do perfumador se desfez, ao mesmo tempo que recuperei minhaconsciência. Ainda com a vista embaraçada foi erguido por Viciterris e Perfas eeste me falou que já estava quase amanhecendo. Quase letárgico e

    semiconsciente eu estava também, perplexo: haviam-se passado horas – teriaeu dormido ou simplesmente desmaiado?

    Um sacerdote que estava parado à minha frente me explicou que euhavia passado por uma experiência mística e que demoraria certo tempo atéque eu pudesse me lembrar dela em seus pormenores, mas que havia sido,sem sombra de dúvida, muitíssimo reveladora. Perfas acrescentou que naquelemomento tinha sido completada a primeira parte do ritual, a purificação, e queeu estava preparado para o ritual de iniciação.

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    CAPÍTULO IXA INICIAÇÃO

    Seguindo por um elevador e depois por uma esteira rolante, fuiconduzido à parte leste do Templo Supremo. Estava tudo preparado: tochasem volta de um pequeno lago, seguradas por sacerdotes encapuzados; umaltar ao fundo com um grande disco dourado resplandecente acima dele;dezenas de outros sacerdotes contornando o lago, entoando inspiradorasmelodias.

    Vários pilares serviam como perfumadores, fazendo com que o ambienteficasse mais introspectivo, exalando um aroma diferente de cada um. Um

    Sacerdote se dirigiu ao lago, abaixou-se e encheu com sua água uma pequenatigela. Fez um sinal para que eu me aproximasse. Perfas falou em voz baixapara que eu fizesse o que ele mandava. Contornei o lago e, estando em frenteao altar, fiz uma breve reverência, conforme sugeriu o Sacerdote. Virei-me defrente para o lago, adentrei suas águas, ajoelhei-me e a água da tigela foiderramada sobre minha cabeça.

    Quando o Sol recém começava a derramar seus primeiros raios emdireção àquela terra, contornei o lago novamente e fiquei parado em frente a

    uma outra escadaria, igual à da fachada do Templo. Motivo: como parte finalda iniciação, eu deveria subir toda aquela escadaria. Degrau por degrau. Nãohesitei. Queria o conhecimento. Sabia que eles tinham a chave de outrosenigmas. Queria saber tudo sobre aquele povo. Queria conhecer todo aquelevale. Queria aprender com o Mestre do Templo. Comecei a subir.

    Ao final de dois lanços da escadaria, ouvi um sacerdote bradar: – Pare! O teste está terminado!Desci. Lá embaixo, Perfas andou em minha direção e parou na minha

    frente. Ele fixou seu olhar no meu e, com ar gracioso, falou-me: – Tu foste aprovado! Receberás o conhecimento.O teste consistia em submeter-me, sem hesitar, a subir aquela escadaria,

    manifestando assim, meu verdadeiro desejo de receber o Conhecimento. Fuiaprovado por não ter desanimado e por estar convicto de que aquela era umaimportante etapa a ser ultrapassada para conseguí-lo.

    Entramos novamente no Templo Supremo, pegamos um elevador esubimos até o sétimo pavimento. Lá, caminhamos em direção a um grandeportal ricamente ornado e com várias inscrições. Paramos diante dele. Doisentes alados vieram ao nosso encontro. Suas vestes, assim como suas faces,

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    eram alvas, soltas sobre seus delicados corpos. Assim que chegaram perto,acenaram discretamente: era o sinal para que transpuséssemos aquele portal.Seguimo-los por um pequeno corredor alumiado por tochas em toda suaextensão. Em frente a outro portal mais alto que o primeiro e com a passagemfechada por uma linda e pesada porta, paramos. Os entes entraram. Instantesdepois saíram, seguindo em direção ao elevador, fazendo sinais para que nósentrássemos. Perfas, vendo que a porta estava aberta, instruiu-me a entrar. Elefez um sinal de reverência e retirou-se. Entendi: a partir daquele instante,dependeria somente de minha própria capacidade. Somente a pureza desentimentos faria com que o máximo do que pudesse ser relatado tivesseprofunda influência em meu ser e, somente por essa mesma capacidade meudesenvolvimento interior se manifestaria imediatamente ou com a necessária

    assimilação dos ensinamentos que estava prestes a receber.

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    CAPÍTULO XO MESTRE DO TEMPLO

    Cruzei o portal. Lá estava ele: de costas, olhando por uma janela, no finalda sala. Vestia uma túnica como a que haviam dado para eu vestir, muitosimples, também sem detalhes, cingida à cintura por uma grossa cordatrançada e com alguns nós. Ele virou-se. Fitou-me e sorriu. Do capuz, que lheescondia parte do rosto, pude perceber alguns cabelos brancos e uma barba.Puxou um pouco para trás o capuz. Descobriu boa parte do rosto, um rosto queemitia uma pureza tal que parecia estar iluminando a sala toda, como se todasas luzes dali estivessem com seus feixes direcionados para ele ou que seu

    próprio rosto fosse a fonte de toda aquela luminosidade. Aparentava setentaanos, mas, ao mesmo tempo, parecia não ter idade, parecia jovem e velho aomesmo tempo. Era o Mestre do Templo!

    A sala era grande. Caminhamos um ao encontro do outro. Fixei meuolhar em seu olhar. Ele posicionou-se ao meu lado, à minha esquerda e tocoulevemente meu ombro. Senti fluir em mim toda a alegria do Universo. Vibreiem consonância com os sentimentos mais puros, os quais jamais penseiexistirem. Tudo pareceu mais claro a minha volta: não tinha dúvidas, não tinha

    medos, não tinha pecados. Parecia estar mais leve, puro, solto, como umafolha ao vento, como uma gota de chuva que cai no oceano, como uma estrelano céu infinito... Compreendi o verdadeiro significado do Amor, o Amor Divino,que atrai e une, e todas as suas manifestações vieram à minha consciência – não como palavras, mas como lembranças e emoções, como ações; todas ascontribuições que não pedissem retorno; todas os doações sem cobranças...puro amor.

    Quando o Mestre do Templo tirou sua mão do meu ombro, foi como se

    uma grande ventania tivesse cessado e causado um arrebatador sentimento deprofunda paz e quietude. Pura emoção. Sentia-me, entretanto, vibrante,revigorado e casto. Dúvidas, certezas, esclarecimentos, sabedoria... tudo àvelocidade do pensamento, à velocidade da vontade canalizada e direcionada.Tudo em um breve instante, numa mescla de sensações... e emoções.

    Olhei para o Mestre do Templo, querendo saber se todos naquelemundo tinham capacidade de irradiar tão grande energia benfazeja e por queeram uns tão diferentes dos outros, já que pareciam tão superiores. Com umolhar profundo e compreensivo, ele me falou:

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    – Aqui, todos fazemos parte de um só ideal e unidos nos tornamosfortes. Todos têm a livre escolha, dentro do que merecem, a partir de seupróprio estágio evolutivo. Se alguns são diferentes em manifestação, aindaassim são iguais aos outros, pois passamos por experiências idênticas.Entretanto, todo aquele que optar por não tê-las ao chegar aqui, simplesmenteadiará algo que não pode ser modificado ou suavizado, pois em verdade, nadado que foi experimentado poderá servir como sofrimento, ao contrário, servirácomo desapego e libertação.

    Todas as suas palavras eram proferidas com extrema doçura. Contudo,eu, em minha ignorância, não entendia como poderia alguém livrementeescolher provas tão grandes de desprendimento e libertação. Qual seria overdadeiro propósito?

    Continuou, então, o Mestre do Templo: – Nesta terra, as evidências do desenvolvimento são indiscutíveis. Nossasociedade é exemplo típico de aprimoramento espiritual.

    “Todos os que, de alguma forma evoluídos, aqui se propõe a seguir suaEvolução Maior, além de saberem das verdades por eles mesmos, a cadapasso, por experimentação e vivência, têm como espelho e inspirador apoio odesenvolvimento daqueles que atingiram ou estão atingindo a Real Sabedoria,consecução das aspirações de todo Buscador na trilha do conhecimento.

    “Assim vivem todos, no Vale da Verdade, não dando lugar a crendices ousuperstições e cada um atingindo, pelo seu próprio esforço, o ponto onde podediscernir entre a realidade da natureza de sua própria alma e as coisas queforem externas a ela , as coisas fora deste caminho.”

    Ao ouvir suas palavras, um verdadeiro feixe de inspiração atingiu-me.Meu ser vibrou em resposta àquelas palavras. Senti um fluxo enorme deenergia em todo o meu corpo, fazendo-me leve e dinâmico. Daquele influxo,

    proveio uma íntima compreensão das suas palavras: quantos, pensei, já nãohaveriam sentido o mesmo que eu sentia? Compreendi que a Sabedoria éimutável, pois expressa as verdades da alma em cada um de nós. Compreendi oque faziam aqueles seres, pois para sabermos se agimos sabiamente, a maneiramais básica, mais fácil, é observar os exemplos de pessoas ou procurarmoscoisas que sejam expressão desta sabedoria e por outras práticas que só trarãoalegria, prosperidade e, acima de tudo, uma maior compreensão daInteligência Divina que, em si, é perfeita. Depois, pela introspecção, analisamosmais a fundo o nosso meio de manifestação dessas coisas – nossa condutamoral, física e, principalmente, nossos pensamentos – e, então, inevitável e

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    indubitavelmente, chegaremos à conclusão de que as coisas que sãomanifestação da Sabedoria, do aperfeiçoamento dos seres, são coisas queproporcionam saúde, coisas que proporcionam, aos que querem ver, maioralegria e certezas, e que as coisas que contrariem quaisquer das qualidades doreto viver, devem ser, de todo, eliminadas.

    Naquele estado de exaltação em que me encontrava, bastava olhar parao Mestre do Templo e as respostas, em forma de inspiração, a mim eramconcedidas. Sentindo o exagero de minha sede, o Mestre do Templo meaconselhou a ficar calmo, pois eu teria tempo para saciá-la enquanto visitasse oTemplo Supremo.

    – Então conhecerei segredos do Templo? – perguntei. – Segredos, enigmas... conhecerás a ti próprio. Não há segredos no

    conhecimento, apenas uma radical modificação em nossos próprios conceitos.Conduzir-te-ei por entre as salas e pavimentos do nosso Templo Supremo.Aprenderás por ti o que estiveres pronto para aprender. – concluiu o Mestre.

    Daquela sala, o Mestre tinha controle sobre todos os outros pavimentose sobre cada uma das salas que os compunham. Falou-me que em cada umdeles, um tipo de entes trabalhava, em prol da evolução de sua espécie e,como consequência, das demais. Cada ente fazia parte daquele trabalho,agindo como peça principal. Cada um como um pilar, como pedra fundamental,

    sem o qual tudo o mais desabaria. A harmonia era uma constante.Tive permissão para caminhar livremente entre os pavimentos e salas doTemplo Supremo, sendo que onde parava, era instruído a olhar, analisar einterpretar. Via cada prática, cada tentativa, cada aspiração e consecução deum determinado trabalho. Todos eram amáveis. Chegava a ser carregado pelosbraços por alguns entes alados, os quais diziam alegremente: “É para andarmais rápido...”.

    Logo que comecei a me integrar aos entes do Templo Supremo, perdi

    completamente a noção de tempo. Não tinha consciência de quando seria diaou noite, nem mesmo queria sabê-lo. Os entes manifestavam a mesmasuspensão. Entretanto, suas faces emitiam certeza, segurança e confiança.Começara uma experiência atemporal. Cada sala estava relacionada a umassunto diferente e abrangiam todas as áreas de conhecimento, todas as quepreocupam ou que dão prazer. Faziam experiências químicas, estudavammatemática, linguagem, música, política, sociologia, tecnologia, culinária,medicina, filosofia, agricultura, etc. Em cada área de conhecimento, realizavamdiversas experiências: sempre se reuniam em torno de quem começava adescrever um fato. Cada um dos que estavam presentes fazia uma experiência

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    que nós, na Terra, chamaríamos mística, diferente, constatando se a ideia seriaou não bem sucedida. Na medida em que subia um pavimento, apesar de onúmero de salas e de participantes ser menor, as experiências eram maisnumerosas e mais rápidas. Não havia conhecimento que ficasse fora do alcancedeles, mas todos os resultados eram cuidadosamente transmitidos aos outros,dentro do pavimento em que eram realizadas as experiências. Os queestivessem em escala inferior não tinham acesso às pesquisas dos pavimentossuperiores, mas recebiam, indiretamente, os benefícios das que fossem bem-sucedidas, pois eram dirigidas ao aprimoramento interior de cada um deles.Havia uma ação recíproca, harmoniosa e feliz.

    Eu caminhava livremente por entre as salas do Templo Supremo.Comecei a pesquisar com os entes. Vivia por eles e com eles. Encontrei salas

    enormes, as chamadas “ Salas de Registro”. Nelas, estavam arquivados osregistros do aprimoramento dos seres daquele e de outros mundos. Eu aindanão tinha acesso a elas, apenas aos “Registros Atuais” das pesquisas doTemplo. Por vezes, sentia a presença do Mestre comigo, como se estivesse aomeu lado, instruindo-me ou me incentivando a continuar percorrendo o lugar.Outras vezes, via que ele, de longe, observava enquanto eu bisbilhotava, porentre portas e janelas, o trabalho de Registro. Seu olhar era meu conselheiro.Numa ocasião, o Mestre me falou que as Salas de Registro guardavam

    informações pertinentes somente a cada sociedade em particular do Universoe que somente aos seus representantes interessariam. Disse-me ainda: – Na realidade, todas as informações ali guardadas, são registros das

    experiências bem ou mal sucedidas que foram realizadas por cada uma dessascivilizações. Aqui, alguns de seus representantes tentam encontrar meios paratransmitirem às pessoas certas, a maneira pela qual os erros delas não serepitam e, desta forma, ajudar para que um número maior de seres possaevoluir e continuar sua missão, mais aperfeiçoados e próximos da Inteligência

    Divina.Desci ao primeiro pavimento e segui em direção ao leste, quase ao

    extremo do Templo Supremo. Havia uma pequena sala com a portaentreaberta. Ouvi vozes saírem de lá. Aproximei-me. Um grupo de entes, comorelhas pontudas, olhos amendoados, nariz fino e comprido, muito esbeltos emuito alvos, quase diáfanos, parecendo envoltos por uma roupa muito ligadaao corpo, assistiam a imagens holográficas de experiências biológicas, ligadas àorigem da vida. Quase não conseguia ver nada, mas pude ouvir claramenteuma parte da explicação:

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    -... e então isto serve para explicar que o homem, primeiramente, não éuma obra direta da Criação, mas fruto da emanação de seu fluxo, de origemDivina. Tendo seu início no movimento da Perfeição e pela consequentedifusão e propagação de suas partículas... (...) ... e essas mesmas partículas,após inúmeras transformações e agrupamentos, foram desenvolvendo-se ecomeçaram a procurar formas que tornariam possível sua manifestação...

    “Rastreando pelo Universo outros elementos que já estivessem sendoanteriormente emanados de uma mesma fonte e que esperassem por umnúmero maior de partículas de sua espécie, ou que estivessem maisaperfeiçoados, começaram a se agrupar, formaram um ambiente próprio e amanifestação da Vida começou... e a partir da Vida, o desenvolvimento dasespécies, por adaptação, espec ialização... aperfeiçoamento...” .

    Não cheguei a ouvir o final da mensagem, senti uma vertigem fortíssimaque me levou ao chão. O barulho do meu corpo, ao cair, chamou a atençãodaqueles entes, os quais aproximaram-se rapidamente de mim.

    – O que aconteceu? – perguntou um deles. – Não sei. De repente tudo brilhou, como faíscas em minha frente, meus

    ouvidos... um zumbido, então o brilho começou a sumir, sumir e... caí! – expliquei – Mas já estou bem, não se preocupem – completei.

    Levantei e rapidamente segui em frente. Na realidade, não foi só a

    sensação de vertigem. Acredito que soubessem. Ouvi a porta fechar-se. Narealidade, foi como se tivesse ouvido todas aquelas palavras antes, com todosos detalhes, como se tivesse presenciado aqueles fatos. Sentei em uma cadeiramuito bonita, de madeira, com enfeites dourados. Refleti um pouco. Foi umasensação estranha aquela, como se conhecesse... Como se... fosse parte demim... Ouvi estranhos ruídos, como o miar de filhotes de gatos. Levantei acabeça. Vi uma sala enorme, onde outros entes trabalhavam. Pareciam felizese admirados. Levantei e fui até eles. Parei à porta. Abri-a um pouco mais.

    – Entra! Não teme! – disse-me um deles.Entrei. Era uma sala incrível, com várias plataformas, uma piscina no

    centro, várias saletas, como incubadoras, mas de tamanhos variados etransparentes. Bem aci ma, no teto, havia uma enorme “b olsa”, uma bolha viva,que se mexia. Era uma massa amorfa e colorida, rodando lentamente emsentido horário... muito lentamente.

    – Mas... o que é aquilo? – perguntei a um dos entes daquela sala. – Deixa que eu respondo! – falou o Mestre do Templo, entrando

    apressadamente. Aproximou-se e continuou: – Esta é uma parte condensada e

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    materializada de uma camada energética que envolve o lado oeste destemundo.

    – E qual é o objetivo dela estar no teto? E o que fazem estes entes? – perguntei.

    – Explico-te: daí saem pequenos seres, os quais são resultado de umatransformação complexa, dessa camada de energia, fruto da “sobra” do nossoaperfeiçoamento, de nossas mutações corporais e espirituais. Dessa “sobra” canalizamos, através de captadores energéticos, uma quantidade razoável queesteja mais densa, até esta e outras salas idênticas. A partir disto, começamoso trabalho de desenvolver espécies semi-conscientes e úteis para amanutenção e conservação do planeta, seja como preparação do solo,cuidados com a vegetação, com a alimentação, ou simples reparos.

    – Mas isso não é cruel? – protestei. – De forma alguma. Veja: aqui, não temos seres inferiores, mas animaissemi-conscientes, úteis a nós e a eles próprios. E mais: criados a partir de suaprópria essência, e do que deixaríamos desperdiçado na atmosfera – o quepoderia prejudicar o mesmo trabalho que a havia formado. Quer dizer:aproveitamos a parte impura de nossa evolução criando espécies que tambémcomeçam a evoluir num ciclo harmonioso e de utilização recíproca.

    Parecia impossível que tudo o que o Mestre dizia fosse verdade. No

    entanto, estava tudo ali, à minha frente, fui testemunha, vi como eratransformada aquela camada energética em novos seres. Constatei, então, quenem todos aqueles seres que havia visto na base da Montanha Sagrada, ouauxiliando em determinadas seções, eram seres sobre-humanos, mas quefaziam parte integrante de todo aquele aperfeiçoamento. Constituíam umabase para futuras civilizações.

    A maioria dos animais ali desenvolvidos era estranha. Muitos eramformados por partes de animais que conhecia na Terra. Contudo, eram mais

    evoluídos. Observando o máximo possível daquela maravilhosa sala, aproximei-me de uma pequena caixa transparente, como uma incubadora gelatinosa.Dentro dela, um enorme gato miava. O gato fixou seu olhar no meu, miandocada vez mais forte, mas lentamente. Fiquei preso àquele olhar. Perdi minhaconsciência naquela imagem. Uma onda enevoada começou formar-se emtorno da cabeça do animal, que começou a transformar-se: o miado, cada vezmais se assemelhava a um choro; eu estava preso àquela experiência, haviacerta ligação, uma íntima complacência de minha parte; o gato não tinha maispelos e sim pele; começava a parecer uma criança; seu choro era mais forte,

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    mais audível; seu olhar tornou-se mais terno: uma diáfana criaturinha pedindocolo... O gato... Tornou-se humano!

    Quando recuperei minha consciência, estava sentado em uma cadeira,num corredor de algum dos pavimentos do Templo.

    – Não fica assustado. Logo tudo ficará claro em tua mente. Procura soltartuas dúvidas, envolve-te com o ambiente e assim terás a resposta para o queaconteceu contigo aqui e anteriormente. – aconselhou-me o Mestre doTemplo.

    Compreendi que o “anteriormente ” havia sido uma referência avertigem sentida em frente àquela Sala de Registro. Pensei que eu já soubessede tudo. O que mais poderia querer saber? Tinha ouvido e visto coisas que

    jamais poderia ter imaginado. Não compreendia a que respostas o Mestre sereferia.Perguntei-lhe, confuso: – Mestre, porque devo ter tanto conhecimento? Tenho aprendido coisas

    lindas, mas que são incompatíveis com o meu mundo. Por que, Mestre,compreendê-las ainda mais?

    – As pedras não querem ser simplesmente amontoadas em uma carroça,querem pertencer ao lugar em que se desintegrem e façam parte do ambiente.

    Se bastasse apenas saber da existência das coisas boas, se bastasse apenasconhecer os efeitos dessas mesmas coisas, o Universo seria o reflexo da maispura harmonia, seria a manifestação de nossos ideais mais profundos, poistodos os seres seriam perfeitos.

    “Todos os povos, dessa maneira, estariam em paz e não haveriaignorância, nem inveja, nem falsos propósitos. Haveria somente o domínio detodas as coisas, de todas as manifestações divinas. E isto é o que deveriaconduzir a cada ser individualmente: o domínio de todas as manifestações

    cósmicas e a consequente perfeição dos seres, para atingirem a harmonia doUniverso.”

    Em minha confusão mental, não podia perceber a profundidade do queele me revelava naquele instante. Cheguei a achar que era hipocrisia, semsentido, que eram apenas palavras e que não tinham sentido verdadeiramenteprático. Perguntei-lhe:

    – Se o objetivo é, então, alcançar um nível assim tão elevado de domíniodas coisas do Universo, por que, Mestre, aqueles guardiões ficamsimplesmente parados à entrada do Templo Supremo, sem uma função que

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    demonstre seu trabalho em se aperfeiçoarem? Em que sentido aquela funçãopoderia auxiliar o desenvolvimento daqueles seres?

    – Eles não ficam assim parados o tempo todo, como estás pensando. Naverdade, somente em casos especiais, como no caso de uma visita, porexemplo. Ficar lá, realmente, não serviria de grande auxílio para oaprimoramento deles. Não aqui nesta terra. Quando não há nada excepcional,seu trabalho é voltado para dentro de sua própria consciência, como fazemtodos, principalmente os que já estão aqui, no Templo Supremo. – explicou-mepacientemente o Mestre do Templo.

    – Então os que vivem aqui no Templo recebem consideração especial? – indaguei-lhe novamente.

    – O caso não é o de receberem, como dizes. Ainda que estejam aqui no

    Templo Supremo, que possam desfrutar de conhecimentos sem limites, nãoexiste nisso qualquer forma de privilégio, pois é o fruto direto de suastribulações e desenvolvimento passados.

    Naquele momento, as únicas certezas que queria aceitar eram asminhas. Duvidava do Mestre e de sua sabedoria. Achava pouco importante oque ele pudesse me ensinar . Estava “inflacionado”, cheio de confiança, com umexagerado senso de autossuficiência.

    O Mestre do Templo percebeu logo o que se passava comigo e falou: – Compreender o que as palavras alheias querem dizer, é uma das maissublimes experiências que qualquer ser do universo pode querer atingir.

    “Quando as pessoas interpretam um pensamento alheio com os olhosexternos, baseadas em aparências, sem analisar os sentimentos que queremexpressar cada palavra, por falta de visão interior, suas mentes ficam fechadasao significado real delas que, então, são distorcidas e finalmente traduzidascom um significado muitas vezes contrário ao propósito inicial.

    “Porém, o cuidado deve ser ainda maior quando se começa a saberinterpretá-las com a visão interior. Assim, também devemos analisar nossosvalores pessoais.

    “O Bem, por exemplo, que é por toda pessoa bem-intencionadadirecionado à outra, se não for realizado com propósito de satisfazer a valoresinteriores, reais, de seu ser, de sua alma, de nada adiantará. E mais: poderá ter,inclusive, consequências contrárias, prejudiciais ou maléficas a essa pessoa. ”

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    Fiquei envergonhado. Em minha inflação, pensei tudo saber, pensei jápossuir a chave da Sabedoria. Pensei possuir a chave para todos os enigmasdesvendar.

    Tive outra forte tontura. Vi uma luz, como um flash em minha frente eouvi o som de um tantã dentro de minha cabeça.

    – Mestre, o que há comigo? – perguntei-lhe assustado. – Ouve tua voz interior! Deleita-te com suas palavras... Concentra-te. –

    aconselhou-me o Mestre do Templo.Segui seu conselho: concentrei-me... Lembrei! – Fumaça... cantos... e luz... O ritual de Purificação! – falei.

    Havia esquecido aquelas horas perdidas, entre o Ritual de Purificação e a

    Iniciação propriamente dita. Durante toda a minha observação do TemploSupremo e do meu convívio com os entes que nele habitavam, preocupei-meapenas com o que via e com as sugestões falhas que dava a eles. Preocupando-me mais em ter ideias, pelo que aprendia, esqueci que não era um Mestre: eraum discípulo, um aprendiz. Do contrário, teria consciência total dos fatos queocorreram e compreenderia a todos.

    O Mestre, em sua paciência, conduziu-me facilmente à lembrança doque havia acontecido. Só assim pude atingir um estágio de maior compreensão

    de mim mesmo, do que ele me falou e do que presenciei naquela terra. – Relata-me toda a experiência, com calma. Concentra-te. – pediu-me oMestre.

    Sentei-me. Fechei meus olhos. Relaxei.Comecei a lembrar. Era como um sonho: começou sem sentido, mas foi

    tomando consistência, ficando complexo...

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    CAPÍTULO XIDA ORIGEM DO UNIVERSO

    Misturando o som de um canhão ao de um tantã, poderia dar umadefinição do estranho barulho que ouvi.

    Ouvia o barulho, ele me invadia completamente, tomava conta de todosos meus pensamentos, mas não causava nenhum incômodo, nenhuma dor.

    Encontrava-me em um lugar enevoado, cinzento e úmido, com umaatmosfera fria e hostil. Havia pouca claridade e não parecia haver uma fonte deonde a luz emanasse.

    Caminhei. Sempre em frente, o ambiente parecia não mudar. Era comose andasse no mesmo lugar. Fiquei amedrontado, sentindo-me desprotegido,fraco e inseguro. Não conseguia organizar meus pensamentos; não conseguianem mesmo saber se andava em uma ou em várias direções. A névoa estavadensa... cada vez mais...

    Cada passo parecia levar muitos minutos para se alternar a outro; meucorpo estava pesado.

    Imagens começaram a se formar e imediatamente se dissipar na minha

    frente, todas sem nitidez, apenas pareciam estar a meu lado, como formasconfusas e amontoadas, sem sentido. Distinguia alguns tons diferentes, porisso pareciam, por vezes, tomarem formas humanas ou de animais. Algumaspassavam com grande rapidez dos dois lados do meu corpo.

    Fui ficando cada vez mais confuso...Percebi que certas imagens eram formas que transmitiam alegria; outras

    transmitiam tristeza. Pouco tempo depois não sentia mais nada, simplesmenteandava, leve, sem entender o que acontecia.

    Quando a claridade aumentou tive maior discernimento.A névoa que me envolvia, ao som de um trovão, em um ponto apenas

    começou a se concentrar.Naquele momento, tomado de grande surpresa, vi que meu corpo, eu

    mesmo, não estava em terra firme, mas no espaço a flutuar.A névoa antes concentrada concentrou-se ainda mais, para logo após se

    dissipar por todo o firmamento.Muitos pontos se formaram, com brilho incandescente.Para um deles fui atirado como se fosse estrela cadente.

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    Nada senti: nem dor, nem medo; nenhum sofrimento me assolou.O brilho provinha do movimento dos gases, do interior da esfera

    enevoada.Tornou-se incandescente, ardendo, modificando-se, dinâmica e

    aglomerada.Transformação natural, sublimação, adaptação: um choque violento fê-la

    esfriar – condensou.Agora, massa: inerte na aparência, mas ainda em transformação.Dos sólidos minerais, dos gases, da aquosidade e do calor interior, uma

    nova manifestação...

    Um planeta era o que via, à luz de flashes, desenvolver.Entre claros e escuros, muitas formas de energia tudo insuflaram e tudoenvolveram.

    A essas, outras se fundiram, provindas de lugares onde há muito seexpandiram.

    Pela harmonia das forças e da predisposição por evoluir, algo novocomeçou a aparecer.

    Como canal para a manifestação presente e futura,

    A vida o animou, com todos os seus ingredientes, da forma mais pura.

    Por todas as suas qualidades, ainda que sendo preparado, fora o planetaescolhido para acrescentar à evolução contínua, uma nova etapa.

    Não sabia por que o via, nem onde estava exatamente, via somente umaúnica e imensa massa de terras por muita água limitada.

    E aquela líquida morada, berço de inúmeras possibilidades, pela vidafora então habitada.

    Proveniente de sua própria formação e da adaptação que a antecipa,Via microscópicos seres começando a se originar.E eu estava com eles, era um deles, flutuando pelo mar, e o que viria a

    partir de então tentava imaginar.

    Vegetais, vida aquática... aeróbica: a cada passo uma nova preparação.De apenas uma semente, agora tudo estava povoado,Bastava olhar para o lado.De tantas espécies, uma modificou-se e para a terra recebeu adaptação.Da água, plantas e seres brotaram e na terra formaram mais.

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    Via incansável e incessantemente, a natureza no aperfeiçoamento dosanimais.

    Pequenos, médios e grandes, todos os animais manifestaram a vida, acada novo ciclo um pouco mais.

    A natureza, a atmosfera, estava completaNa água, no ar, na terra, por todo o planeta.Enchiam-se meus olhos com tantas coisas lindas, coloridas, fenomenais.Tudo o que surgia, crescia ou se desenvolvia, fazia parte de mim, em

    tudo eu participava.Tive, então, uma enorme surpresa; uma grande revelação: soube que era

    na Terra, o nosso planeta, que eu estava.

    Um forte vento soprou, levando algumas árvores a distânciasconsideráveis.

    A noite se tornou dia e o sol parecia estar caindo.O brilho foi tão forte que ofuscou meu olhar ao que estava vindo.Um enorme objeto desceu no planeta, provindo de lugares a distâncias

    incalculáveis.Como meta final, como consequência do alto grau de perfeição que

    aqueles seres haviam atingidoTrouxeram as sementes de sua própria natureza, para que um novo ciclocomeçasse em um lugar escolhido.

    Deixaram suas sementes e partiram novamente.Mas em conjunto com novas vidas surgidasMuitas, pelos vírus que aqui deixaram, foram perdidas.O tempo passou e a Terra fertilizou aquelas sementes.

    Haviam plantado certo, misturadas às espécies que já existiam tantasMas sua missão era maior, faziam parte do universo e como começo da

    diferença, surgiram duas espécies de primatas.

    Neste momento algo estranho aconteceu e eu perdi a concentração,posso dizer assim. Senti como se estivesse com uma febre muito alta, semconseguir organizar os pensamentos. Vi alguns vultos, tive certeza de que umdeles era o do Mestre do Templo, mas imediatamente, ou quaseinstantaneamente, entrei novamente naquele estado de consciência e comeceia ouvir, a ver e a sentir aquilo que era projeção de mim mesmo.

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    Soube, entretanto, que aquela breve distração ocasionou a perda deuma parte da história. Como se uma página inteira de um livro tivesse sidoarrancada. Voltei à vivência.

    Os outros colonizadores, sem consciência da situação,Chegaram ao local e encontraram só ruínas.O desespero daqueles seres, ao massacrarem os colonizadores, marcaria

    sua sina.Tentaram controlá-los, mas desistiram – era demais sua degeneração.O trabalho verdadeiro, de espalhar sabedoria, poderia estar arruinado.Aqueles seis grupos tinham sofrido misturas aos maus: estavam

    desajustados.

    Primeiro, pensaram em juntar a todos – os doze num grupo único.Depois, perceberam o mal que fariam aos que tinham natural

    desenvolvimento.Queriam, ainda, que fossem herdeiros, todos, de seus conhecimentos.Decidiram que a única maneira seria deixá-los sem influência e ir embora

    seria o prático.Reproduziam-se rapidamente todos os grupos de seres.

    Seis evoluindo, seis adaptando-se, ao ambiente e à natureza oferecidospelos colonizadores.

    Pelos túneis, entre as áreas estabelecidas, espalharam suas marcas,como guias para as raças futuras.

    Informações precisas seriam usadasAssim que pudessem ser interpretadas.Sabiam que chegaria o dia que certo equilíbrio entre todas haveria e,

    assim, o usariam para se tornarem mais puras.Algumas já estavam misturadas entre si.Algumas conservavam grande pureza até ali.

    Foram embora todos os colonizadores, deixando seu legado.Não eram culpadas as criaturas, precisavam de auxílio.Partiram deixando todas juntas para se unirem em sabedoria – o erro

    seria deixá-las no exílio.Mas ao saírem daquele mundo, levando o que trouxeram, deixaram

    marcas profundas e um plano abalado.

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    Seis colônias detinham o verdadeiro aprimoramento,E a esperança de serem a exata medida do conhecimento.

    As seis rebeldes proliferaram-se, encontraram outras, que eram noveagora.

    Três das que progrediam viviam separadasAs rebeldes as encontraram e as fizeram dominadas.De uma grande transformação estava perto a hora.Alguns sinais dos colonizadores as rebeldes encontraram.Precisavam de ajuda, pois interpretar não conseguiam.

    Muito tempo havia passado

    As três dominadas ainda resistiam à pressão.Deveriam livrar as rebeldes da errônea interpretação.Um erro por comparação dos colonizadores com os fenômenos naturais

    foi criadoComo louvores, crenças e danças feitasPara manifestarem a eles – medo, respeito e outras coisas tantas.

    Com o passar das gerações, foram de todo vencidas.

    Mas havia ainda três isoladas, que resistiam ao tempo.Isoladas, viviam em seu próprio campo.E as vencidas, fundiram-se às outras – formaram um só grupo com as

    verdades distorcidas.As que ainda estavam isoladas haviam atingido enorme aperfeiçoamentoHaviam encontrado os túneis dos colonizadores, com sua maior herança:

    o verdadeiro conhecimento.

    A ameaça era uma constante.Haviam criado pequenas edificaçõesOnde mais tarde surgiram as maiores civilizações.Ataques poderiam vir a qualquer instante.Protegeram a fonte de sua inspiração;Lacraram os túneis para maior proteção.

    Vários ataques sofreram até que foram dominados.Os nove grupos invasores destruíram o que não conheciam.

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    Mas por sentirem a nobreza daqueles seres, logo com símbolos sagradospareciam.

    Foram eleitos os verdadeiros intérpretes dos símbolos antesencontrados.

    Mas a sabedoria maior estava protegidaPor aquelas raças ainda não devia ser utilizada.

    A imagem do domínio ainda se fazia clara quando todas as novesentiram a força daquelas criaturas:

    Planos simples traçaramE em bem pouco tempo, escaparam.Reuniram alguns seres que dentre os outros se destacavam e seguiram

    para onde começariam suas vidas futuras.Para muitos lugares foram aqueles seresConstruíram os primeiros monumentos aos colonizadores.

    Haviam se distribuído por todo o planeta, mas principalmente nos dozepontos originais.

    Sabiam que naqueles pontos estratégicos estariam protegidos.Com as ligações subterrâneas escondidas, esperavam novamente serem

    atacados.Por mais que as outras nove colônias houvessem aprendido, aindatinham certas qualidades próprias dos animais.

    Tudo contribuía para que tivessem aquela reação:Além de terem sido aprisionados, observaram suas vidas, crenças e erros

    em sua sabedoria, raiz da superstição.

    Outros colonizadores vieram trazendo a todos maiores esclarecimentos.

    As nove reunidas não entenderam suas verdades.Aquilo contribuiu ainda mais para errôneas atitudes.Apenas as que se isolaram compreenderam seus ensinamentos.Utilizaram o que puderam e o restante preservaram para mais tarde,Quando houvesse harmonia, evolução e humanidade.

    E assim todos fizeram a partir de tempos remotos: espalharam-se comseus conhecimentos pelo planeta inteiro.

    Alguns grupos, entretanto, estavam tão despreparados, tão malestruturados,

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    Que criaram comportamento impuro, interpretando assim o sublimecaráter da fraternidade daqueles seres iluminados.

    Bem ou mal interpretados, todos foram produto de um conhecimentoprimeiro.

    E assim tem sido até os nossos dias: dois tipos de verdade.Mas só recentemente a ordem começou a surgir para que todos

    novamente pudessem conhecer a realidade.

    O maior número foi de errados, que achavam-se corretos.Surgiu de todos, grande mescla e enorme proliferação.Espalhados pelo mundo, formavam grande população.Dúvidas os percorreram e os errados eram certos.

    Eis que um grande encontro aconteceu:Sua natureza verdadeira, ainda que confusa por tantos acontecimentos,apareceu.

    Receberam muitas outras visitas,Sempre confusos ficavamMas algo profundo abrigavam,Mas não alcançavam compreensão do por quê eram feitas.

    O medo não as deixava verQue como eles já deveriam ser.

    A verdade era poisQue com eles eram doisCom a mesma e clara missãoDe continuar a evoluçãoCaminhando para difundir pelo espaço

    A Sabedoria do Universo.

    Novamente sentia-me confuso. Dias e noites alternavam-seinstantaneamente. O mundo, o chão que pisava, parecia plástico, parecia mole.Sentia náuseas; um calor percorria o meu corpo, que me fazia suar e ao mesmotempo me tornava frio, gelado...

    Não queria fechar meus olhos, o mundo parecia ser uma massa dentrode uma batedeira e eu, o garfo... ou a tigela.

    Minha boca estava seca, minhas mãos úmidas. Sentei.

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    Um ruído forte ouvi. Sentia fortes palpitações, meu coração pareciabater dentro de minha boca.

    Tudo estava enevoado novamente, com uma névoa vermelha comoarrebol.

    Levantei, comecei a ficar mais calmo: minhas mãos secaram, meu corpoficou mais quente, meu coração batendo mais devagar, mas não enxergavanada, apenas o arrebol em todo canto e à minha volta.

    Algum tempo ainda passei naquele mesmo jeito; confuso e sem direção.Estava meio sonolento, com o corpo pesado. Levantei a cabeça e um

    Viking surgiu à minha frente. Ele era enorme, com mais de dois metros dealtura e uma espada na mão. Levantou-a e gritou muito alto... Assustado, griteitambém. Ele veio, voando em minha direção. Preparei-me para correr, mas tive

    medo de sua arma. Abaixei minha cabeça. Ele desapareceu. O sol surgiu. Umdia claro em minha frente. Corri contente naquele paraíso. Havia algumaspessoas fazendo um piquenique. Corri para elas. Um homem aproximou-se acavalo. Aumentou a velocidade e passou por cima das pessoas. Fiqueiapavorado. Ele me viu, levantou sua espada e correu em minha direção. Gritei.Quando o cavalo dele já estava passando por cima de mim, elesdesapareceram.

    Eu estava, agora, em um dia nublado, próximo a uma praça. Sobre um

    palanque, um homem de chapéu e bigodes grandes falava alto, enquantovárias pessoas em volta o olhavam e ouviam suas palavras. Quando eleterminou o discurso, as pessoas subiram no palanque, arrancaram-no de lá e oespancaram furiosamente. Alguns chegaram pisotear o homem, todos gritandomuito. Quando eles cansaram daquilo, começaram a descer. Já estavam saindoquando uma pessoa gritou: “Lá está o outro!” .

    Todos olharam para mim. Correram em minha direção, com pedras epedaços de madeira nas mãos. Chuva de pedras sobre mim. Cheguei a sentir

    algumas em minha cabeça. Muitos gritos. Corri mais uma vez, tentando meproteger. Caí no chão. Não vi mais nada. Voltou o arrebol e o barulho.

    Por um breve momento senti tranquilidade. Pisei em um chão mais duroe aparentemente seguro. Senti um ambiente mais acolhedor, sem frio nemcalor.

    Olhei para a esquerda, olhei para a direita. Nada ou ninguém. Mas, tinhacerteza que estava acompanhado, mesmo sem perceber alguém.

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    Como se estivesse dentro de minha cabeça, ouvi a voz do Mestre doTemplo. Como se tivesse uma forma estranha, fluídica e me desse umaconsciência mais normal.

    – Mestre, se estás aqui, podes explicar-me o que está acontecendo? – perguntei-lhe.

    – São as respostas que começam a surgir. São as lembrançasaparecendo. – falou-me desde dentro de minha cabeça.

    – O que eram aquelas cenas? O que era aquele poema? Onde estou? – Aquela história é a tua percepção de toda uma história ainda maior do

    teu próprio mundo. Representa a tua integração com o plano ou a dimensãoque estás inserido. Existem muitas outras histórias que se manifestaram,criadas por seres que vieram bem depois, mas se inseriram no contexto. Alguns

    conseguiram esquecer que vieram de outros lugares. Então, muitas pessoastêm imagens de acontecimentos ocorridos em algum tempo e em algum lugar,mas não sabem localizar em qual destas realidades elas se inserem.

    “Vou facilitar um pouco mais para ti, ainda que não importe muito acompreensão consciente do que viste, leste e ouviste. Mas posso elucidar-te,neste ponto de tuas memórias, que dois grupos originais deram origem a dozecolônias. Seis de um grupo não deram certo e as outras se afastaram. Três seisolaram e nove se juntaram, mas sempre em conflito. As três originais foram

    as que entenderam de onde provieram e que tipo de seres eram os aquichamados deuses. Das nove que se juntaram, três tinham certa consciência,originada das seis que deram certo, mas ainda assim deixaram o erroperpetuar-se para aproveitar a situação. E assim construíram-se os reinos e ascivilizações.

    “A parte que falta no teu relato diz muito sobre uma fase de tua própriaconsciência que foi simbolicamente perdida por ti. Foi justamente a fase ondeestes seres se agregaram ao planeta e criaram histórias paralelas. Então, os

    grupos originais tornaram-se doze e não apenas nove.“A partir daí que, em cada templo erguido, começou a existir três

    principais classes de seres: um positivo, um negativo e um neutro. Mas isto éuma história que tu ainda vais aprender mais adiante. Quando eu não for maisteu guia nestas vivências. Agora fica apenas a ideia...”.

    Pareceu-me outro disparate do Mestre. Preferia ter ficado perdido naminha própria confusão mental anterior. Não entendi onde ele teria feitoalguma elucidação de algum ponto da história... Mas tudo bem, ele era oMestre, eu o perdido. E realmente perdido. Ademais, estava sentindo um

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    CAPÍTULO XIIPERDIDO SEM TEMPO

    O dia estava bonito, o céu azul, sem nuvens. O sol aquecia meu rostonaquele final de tarde.

    Eu estava próximo a um galpão, um galpão com muito material deconstrução. Estava perdido. Havia perdido o ônibus que me levaria de voltapara minha cidade, Alegrete, com o pessoal de uma excursão ao Cerro do Tigre.Via-me confuso, tentando encontrar o caminho para a cidade.

    Aquele teria sido um final de semana comum, quase sem nada para

    fazer, a não ser ouvir música ou ler algum livro interessante. Mas surgiraaquela excursão: passar um dia no Tigre, um lugar tranquilo, com águas rasas eum vento suave, onde, como em poucos lugares, pode-se desfrutar de ar puro,água limpa e da beleza da natureza. Eu sempre gostei de passear às margensde um rio, ou qualquer lugar sossegado e que tivesse por perto muita água.

    Gosto de percorrer trilhas, descobrir lugares. Constatei, nestas minhascaminhadas, que existem dois tipos de trilhas: as normais, por onde todomundo passa, querendo chegar rápido ao seu destino, e as paralelas a essas,

    mais antigas, que estão em desuso ou aparecem naturalmente na paisagem.Estas trilhas não levam a nenhum lugar específico. Às vezes, terminam logo,doutras, um pouco mais adiante. O fato é que sempre se descobre lugaresdiferentes seguindo-se por elas. Eu sempre procurava as trilhas que fossemassim, que descortinassem, mesmo nos lugares mais conhecidos, certosbarrancos ou entradas nas margens dos rios.

    Naquela tarde, seguindo por uma dessas trilhas, encontrei um lugarsemicoberto, uma formação incomum de alguns galhos e raízes. Podia ver o

    riacho e algumas pessoas que passavam embaixo, sem que elas me vissem.Sentei, tirei minha mochila das costas, tomei um suco que trazia, comi umsanduíche. Dormi.

    Quando acordei, horas depois, não via mais pessoas lá embaixo, nãoouvia o som de suas vozes, nem de suas risadas. Haviam partido. Como eu nãoconhecia a ninguém, era apenas mais um na lotação, não deveriam terpercebido minha ausência no grupo. Além disso, sentava sempre atrás, e obanco ao meu lado estava vazio.

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    Foi então que saí de lá a pé, tentando chegar no Alegrete e avistei aquelegalpão com material de alvenaria abandonado.

    Já estava anoitecendo. Percebi que, de todo, aquele lugar não estavaabandonado. Ele era