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Os julgamentos perceptuais são influenciados por fatores relacionados ao potencial do observador em agir no ambiente e os gastos energéticos associados a essa ação. Evidências experimentais sugerem que fatores, tais como o esforço, as intenções e o tamanho corporal do observador afetam a percepção da configuração espacial (Stefanucci et al., 2008). Por exemplo, sabe-se que a percepção de distâncias e tamanhos em um espaço próximo pode ser influenciada e até mesmo alterada pelo tamanho corporal do observador. O mundo pode parecer menor para um observador maior porque o esforço para interagir com o ambiente diminui, e vice-versa (Stefanucci & Geuss, 2009). A abertura de uma porta parece menor, quando observada por indivíduos anoréxicos em comparação a indivíduos não anoréxicos (Guardia et al., 2010). Este estudo investigou o efeito do tamanho corporal nos julgamentos de passibilidade. Adicionalmente, comparou o desempenho espacial entre os sexos. RESULTADOS DISCUSSÃO Participantes: 20 homens (M=21,60±2,44 anos) e 20 mulheres (20,24±2,19anos) (n=40). Procedimentos: A tarefa era iniciada com o participante posicionado em frente a uma parede, onde a imagem de uma porta era projetada (Figura 1). Em seguida, ele/ela era orientado a olhar fixamente a imagem e imaginar-se passando pela abertura dessa porta, e prontamente responder, se sim ou não passaria pela porta. O tamanho da abertura da porta projetada era aumentado de 5 em 5 centímetros, até o sujeito responder afirmativamente que passaria por ela (Figura 2). Finalizada a tarefa, a largura do ombro do participante e a medida da abertura estimada eram mensuradas com uma trena. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS EFEITO DO TAMANHO CORPORAL NA PERCEPÇÃO DE PASSABILIDADE Amanda M. Alves*, Bianca O. de Macedo*, Larissa L. da Costa*, Leticia A. Loureiro*, Patricia Consolo** e Sérgio S. Fukusima Laboratório de Percepção e Psicofísica, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP INTRODUÇÃO OBJETIVOS MÉTODO Análise : As estimativas de passibilidade, as medidas da largura do ombro (tamanho corporal) e os IMCs de cada um dos participantes do estudo foram computados e agrupados em função do sexo do participante (Tabela 1). Para verificar possíveis diferenças na passabilidade percebida entre homens e mulheres em função do tamanho corporal, foram utilizados testes t-Student para amostras independentes tendo como variável dependente os valores das estimativas de passibilidade emparelhados aos valores do tamanho do ombro. Também, foram conduzidas correlações de Spearman entre passabilidade percebida e tamanho corporal (medida do ombro). O nível de significância utilizado foi de 5%. E-mail de contato: [email protected] Figura 1. Representação esquemática do espaço experimental Guardia, D., Lafargue, G., Thomas, P., Dodin, V., Cottencin, O., & Luyat, M. (2010). Anticipation of body-scaled action is modified in anorexia nervosa. Neuropsychologia, 48(13), 3961-3966. Stefanucci, J. K., & Geuss, M. N. (2009). Big people, little world: The body influences size perception. Perception, 38(12), 1782. Stefanucci, J. K., Proffitt, D. R., Clore, G .L., &, Parekh, N. (2008). Skating down a steeper slope: Fear influences the perception of geographical slant. Perception ,37, 321- 323. Swim, J. K., Hyers, L. L., Cohen, L. L., & Ferguson, M. J. (2001). Everyday sexism: Evidence for its incidence, nature and psychological impact from three daily diary studies. Journal of Social Issues, 57, 31–53. Figura 2. Exemplo de desenho de duas das portas projetadas com diferentes aberturas Os resultados sugerem que a abertura de uma porta parece menor, quando observada por mulheres em comparação aos homens. Isso sugere que as participantes do estudo superestimaram suas estimativas em relação ao seu tamanho corporal. De forma interessante, a maioria dessas participantes apresentaram IMCs dentro do peso normal. É possível que as pressões sociais enfrentadas por mulheres, em relação a forma e o tamanho do seu corpo, resultem em uma menor consciência corporal, uma vez que a mulher tem a tendência de ver o seu corpo maior do que realmente ele é (Swim et al., 2001). Independente da interpretação, os dados sugerem uma relação entre a representação do espaço corporal feminino e o espaço externo. Conclui-se assim que o presente estudo ampliou descobertas anteriores sobre a percepção espacial de tamanho e distância e tamanho corporal, além de confirmar estudos realizados que relacionaram a estimativa de passabilidade por uma abertura com o tamanho corporal de observadores. Os testes t-Student indicaram diferenças significativas entre os sexos para a variável tamanho do ombro (p=0,0001). Não foram observadas diferenças entre as estimativas de passabilidade de homens e mulheres (p=0,929). Curiosamente, ainda que a medida do tamanho do ombro dos homens (M=46,43±2,85) seja significativamente maior do que das mulheres (M=40,75±2,75), as estimativas de passabilidade não se diferenciaram entre homens (M=52,125±12,57) e mulheres (M=51,85±10,59). O coeficiente de correlação de Spearman identificou correlação positiva significativa entre passabilidade percebida e tamanho corporal para as mulheres (r=0,561, p=0,010), isso implica que quanto maior o tamanho do ombro, maior a passabilidade percebida. Os dados demonstram que a percepção de abertura e a percepção do tamanho corporal das mulheres são relacionadas. Para os homens, nenhum dos valores atingiu níveis estatisticamente significativos, indicando ausência de correlação entre as variáveis analisadas (p≥0,05). Estimativas de passibilidade (cm) Largura do ombro (cm) IMC 70 46 27,54 55,5 45 20,83 55,5 43 20,32 48 49 23,03 70 49 34,39 55,5 48,5 23,61 85 45 23,34 41 43 22,65 48 46 22,77 55,5 47 20,31 55,5 45 18,90 48 45 24,60 41 43 20,32 41 46 20,70 48 46 21,04 32 44 22,49 48 55 23,03 41 50 17,57 41 46 22,48 63 47 16,84 Tabela 1. Estimativas de passibilidade (em cm); medida de tamanho do ombro (em cm) e índice de massa corporal para os participantes do sexo masculino (A) e feminino (B). Estimativas de passabilidade (cm) Tamanho do ombro (cm) IMC 55,5 45 22,69 41 43 20,71 55,5 42 22,20 48 41 28,08 79 48 26,82 55,5 40 21,20 55,5 41 16,98 63 39 22,65 55,5 40 22,09 41 41 23,88 55,5 40 21,22 48 38 22,03 41 39 18,38 63 42 23,18 48 41 20,06 41 42 23,51 48 41 23,96 32 35 27,78 63 40 20,91 48 37 23,88 Os valores de IMC em vermelho indicam homens dentro do peso normal (20,7 - 26,4) ou marginalmente acima do peso (26,4 - 27,80). Os valores de IMC em vermelho indicam mulheres dentro do peso normal (19,1 - 25,8) ou marginalmente acima do peso (25,8 - 27,3). A B

Os julgamentos perceptuais são influenciados por fatores relacionados ao potencial do observador em agir no ambiente e os gastos energéticos associados

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Os julgamentos perceptuais são influenciados por fatores relacionados ao potencial do observador em agir no ambiente e os gastos energéticos associados a essa ação. Evidências experimentais sugerem que fatores, tais como o esforço, as intenções e o tamanho corporal do observador afetam a percepção da configuração espacial (Stefanucci et al., 2008). Por exemplo, sabe-se que a percepção de distâncias e tamanhos em um espaço próximo pode ser influenciada e até mesmo alterada pelo tamanho corporal do observador. O mundo pode parecer menor para um observador maior porque o esforço para interagir com o ambiente diminui, e vice-versa (Stefanucci & Geuss, 2009). A abertura de uma porta parece menor, quando observada por indivíduos anoréxicos em comparação a indivíduos não anoréxicos (Guardia et al., 2010).

Este estudo investigou o efeito do tamanho corporal nos julgamentos de passibilidade. Adicionalmente, comparou o desempenho espacial entre os sexos.

RESULTADOS

DISCUSSÃO

Participantes: 20 homens (M=21,60±2,44 anos) e 20 mulheres (20,24±2,19anos) (n=40). Procedimentos: A tarefa era iniciada com o participante posicionado em frente a uma parede, onde a imagem de uma porta era projetada (Figura 1). Em seguida, ele/ela era orientado a olhar fixamente a imagem e imaginar-se passando pela abertura dessa porta, e prontamente responder, se sim ou não passaria pela porta. O tamanho da abertura da porta projetada era aumentado de 5 em 5 centímetros, até o sujeito responder afirmativamente que passaria por ela (Figura 2). Finalizada a tarefa, a largura do ombro do participante e a medida da abertura estimada eram mensuradas com uma trena.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

EFEITO DO TAMANHO CORPORAL NA PERCEPÇÃO DE PASSABILIDADE

Amanda M. Alves*, Bianca O. de Macedo*, Larissa L. da Costa*, Leticia A. Loureiro*, Patricia Consolo** e Sérgio S. Fukusima

Laboratório de Percepção e Psicofísica, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, SP

INTRODUÇÃO

OBJETIVOS

MÉTODO

Análise :As estimativas de passibilidade, as medidas da largura do ombro (tamanho corporal) e os IMCs de cada um dos participantes do estudo foram computados e agrupados em função do sexo do participante (Tabela 1). Para verificar possíveis diferenças na passabilidade percebida entre homens e mulheres em função do tamanho corporal, foram utilizados testes t-Student para amostras independentes tendo como variável dependente os valores das estimativas de passibilidade emparelhados aos valores do tamanho do ombro. Também, foram conduzidas correlações de Spearman entre passabilidade percebida e tamanho corporal (medida do ombro). O nível de significância utilizado foi de 5%.

E-mail de contato: [email protected]

Figura 1. Representação esquemática do espaço experimental

Guardia, D., Lafargue, G., Thomas, P., Dodin, V., Cottencin, O., & Luyat, M. (2010). Anticipation of body-scaled action is modified in anorexia nervosa. Neuropsychologia, 48(13), 3961-3966.Stefanucci, J. K., & Geuss, M. N. (2009). Big people, little world: The body influences size perception. Perception, 38(12), 1782. Stefanucci, J. K., Proffitt, D. R., Clore, G .L., &, Parekh, N. (2008). Skating down a steeper slope: Fear influences the perception of geographical slant. Perception ,37, 321- 323.Swim, J. K., Hyers, L. L., Cohen, L. L., & Ferguson, M. J. (2001). Everyday sexism: Evidence for its incidence, nature and psychological impact from three daily diary studies. Journal of Social Issues, 57, 31–53.

Figura 2. Exemplo de desenho de duas das portas projetadas com diferentes aberturas

Os resultados  sugerem que a abertura de uma porta parece menor, quando observada por mulheres em comparação aos homens. Isso sugere que as participantes do estudo superestimaram suas estimativas em relação ao seu tamanho corporal. De forma interessante, a maioria dessas participantes apresentaram IMCs dentro do peso normal. É possível que as pressões sociais enfrentadas por mulheres, em relação a forma e o tamanho do seu corpo, resultem em uma menor consciência corporal, uma vez que a mulher tem a tendência de ver o seu corpo maior do que realmente ele é (Swim et al., 2001). Independente da interpretação, os dados sugerem uma relação entre a representação do espaço corporal feminino e o espaço externo. Conclui-se assim que o presente estudo ampliou descobertas anteriores sobre a percepção espacial de tamanho e distância e tamanho corporal, além de confirmar estudos já realizados que relacionaram a estimativa de passabilidade por uma abertura com o tamanho corporal de observadores.

Os testes t-Student indicaram diferenças significativas entre os sexos para a variável tamanho do ombro (p=0,0001). Não foram observadas diferenças entre as estimativas de passabilidade de homens e mulheres (p=0,929). Curiosamente, ainda que a medida do tamanho do ombro dos homens (M=46,43±2,85) seja significativamente maior do que das mulheres (M=40,75±2,75), as estimativas de passabilidade não se diferenciaram entre homens (M=52,125±12,57) e mulheres (M=51,85±10,59). O coeficiente de correlação de Spearman identificou correlação positiva significativa entre passabilidade percebida e tamanho corporal para as mulheres (r=0,561, p=0,010), isso implica que quanto maior o tamanho do ombro, maior a passabilidade percebida. Os dados demonstram que a percepção de abertura e a percepção do tamanho corporal das mulheres são relacionadas. Para os homens, nenhum dos valores atingiu níveis estatisticamente significativos, indicando ausência de correlação entre as variáveis analisadas (p≥0,05).

Estimativas de passibilidade (cm) Largura do ombro (cm) IMC

70 46 27,54

55,5 45 20,83

55,5 43 20,32

48 49 23,03

70 49 34,39

55,5 48,5 23,61

85 45 23,34

41 43 22,65

48 46 22,77

55,5 47 20,31

55,5 45 18,90

48 45 24,60

41 43 20,32

41 46 20,70

48 46 21,04

32 44 22,49

48 55 23,03

41 50 17,57

41 46 22,48

63 47 16,84

Tabela 1. Estimativas de passibilidade (em cm); medida de tamanho do ombro (em cm) e índice de massa corporal para os participantes do sexo masculino (A) e feminino (B).

Estimativas de passabilidade (cm) Tamanho do ombro (cm) IMC

55,5 45 22,69

41 43 20,71

55,5 42 22,20

48 41 28,08

79 48 26,82

55,5 40 21,20

55,5 41 16,98

63 39 22,65

55,5 40 22,09

41 41 23,88

55,5 40 21,22

48 38 22,03

41 39 18,38

63 42 23,18

48 41 20,06

41 42 23,51

48 41 23,96

32 35 27,78

63 40 20,91

48 37 23,88

Os valores de IMC em vermelho indicam homens dentro do peso normal (20,7 - 26,4) ou marginalmente acima do peso (26,4 - 27,80).

Os valores de IMC em vermelho indicam mulheres dentro do peso normal (19,1 - 25,8) ou marginalmente acima do peso (25,8 - 27,3).

A B