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INTRODUÇÃO
Para muitos, a era dos macabeus é como uma “caixa-preta” escondida entre o
término da escrita dos últimos livros do Antigo Testamento e a vinda de Jesus Cristo.
Da mesma forma que certos detalhes são revelados quando a caixa-preta de um avião é
analisada após um desastre, podemos obter certo entendimento fazendo uma análise
detalhada da era dos macabeus — um período de transição e transformação para a nação
judaica. Quem eram os macabeus? Que influência exerceram sobre o judaísmo antes da
vinda do predito Messias? — Daniel 9:25, 26.
Os macabeus (do hebraico מכבים ou ,makabim ou maqabim ,מקבים "martelos";
em grego: Μακκαβαῖοι, AFI: [makav'εï]) foram os integrantes de um exército
rebelde judeu que assumiu o controle de partes da Terra de Israel, até então um Estado-
cliente do Império Selêucida. Os macabeus fundaram a dinastia dosHasmoneus, que
governou de 164 a 63 a.C., reimpuseram a religião judaica, expandiram as fronteiras de
Israel e reduziram no país a influência da cultura helenística.
Seu membro mais conhecido foi Judas Macabeu, assim apelidado devido à sua
força e determinação.
Os macabeus durante anos lideraram o movimento que levou à independência
da Judéia, e que reconsagrou o Templo de Jerusalém, que havia sido profanado pelos
gregos. Após a independência, os hasmoneus deram origem à linhagem real que
governou Israel até sua subjugação pelo domínio romano em 63 a.C..
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I. A ONDA DO HELENISMO
Alexandre, o Grande, conquistou territórios desde a Grécia até a Índia (336-323
AEC). Seu vasto império contribuiu para a expansão do helenismo — o idioma e a
cultura da Grécia. Os oficiais e os soldados de Alexandre casaram-se com mulheres
locais, causando uma fusão da cultura grega com as culturas estrangeiras. Depois da
morte de Alexandre, seu império foi dividido entre seus generais. No início do segundo
século AEC, Antíoco III, da dinastia greco-selêucida, na Síria, arrebatou Israel do
controle dos Ptolomeus gregos do Egito. Que influência o governo helenista teve sobre
os judeus em Israel?
Um historiador escreve: “Visto que os judeus não podiam evitar o contato com
seus vizinhos helenizados e muito menos com seus próprios irmãos no exterior, a
absorção da cultura e do modo de pensar dos gregos foi inevitável. . . . Não dava nem
para respirar, no período helenista, sem absorver a cultura grega!” Os judeus adotaram
nomes gregos e — uns mais outros menos — adotaram também os costumes e a
vestimenta gregos. O poder sutil da assimilação estava em ascensão.
II. CORRUPÇÃO DOS SACERDOTES
Os sacerdotes estavam entre os judeus mais suscetíveis à influência helenista.
Muitos deles achavam que aceitar o helenismo significava permitir que o judaísmo
acompanhasse a evolução dos tempos. Um desses judeus era Jasão (chamado Josué em
hebraico), irmão do sumo sacerdote Onias III. Enquanto Onias estava em Antioquia,
Jasão ofereceu um suborno às autoridades gregas. O que ele queria? Que eles o
nomeassem sumo sacerdote em lugar de Onias. O governante greco-selêucida Antíoco
Epifânio (175-164 AEC) rapidamente aceitou a oferta. Os governantes gregos nunca
haviam interferido no sumo sacerdócio judaico, mas Antíoco precisava de dinheiro para
suas campanhas militares e também gostava da idéia de ter um líder judeu que
promovesse a helenização de maneira mais ativa. A pedido de Jasão, Antíoco concedeu
a Jerusalém o status de cidade grega (polis). E Jasão construiu um ginásio de esportes
onde judeus jovens e até sacerdotes participavam de competições.
2
III. TRAIÇÃO GERA TRAIÇÃO
Três anos depois, Menelau, que pode não ter sido da linhagem sacerdotal,
ofereceu um suborno maior e Jasão fugiu. Para pagar Antíoco, Menelau tirou grandes
somas de dinheiro do tesouro do templo. Visto que Onias III (exilado em Antioquia)
manifestou-se contra isso, Menelau providenciou que fosse assassinado.
Quando se espalhou um boato de que Antíoco havia morrido, Jasão voltou a
Jerusalém com mil homens na tentativa de tirar o sumo sacerdócio de Menelau. Mas
Antíoco não estava morto. Quando soube do que Jasão tinha feito e da agitação entre os
judeus em desafio à sua política de helenização, Antíoco reagiu com muita dureza.
A. A REAÇÃO DE ANTÍOCO
Em seu livro The Maccabees (Os Macabeus), Moshe Pearlman escreve:
“Embora os registros não sejam específicos, parece que Antíoco concluiu que permitir
aos judeus uma certa liberdade religiosa tinha sido um erro político. Em sua opinião, a
recente rebelião em Jerusalém não se tinha originado de razões puramente religiosas,
mas do sentimento pró-Egito existente na Judéia, e esses sentimentos políticos tinham
se manifestado de forma perigosa exatamente porque, de todo o povo sob seu domínio,
somente os judeus tinham procurado e conseguido obter uma ampla medida de
separatismo religioso. . . . Ele decidiu que isso iria acabar.”
O estadista e erudito israelense Abba Eban resume o que aconteceu a seguir:
“Numa rápida sucessão durante os anos 168 e 167 [AEC], os judeus foram massacrados,
o Templo foi saqueado e a prática da religião judaica foi proscrita. A circuncisão e a
observância do sábado eram punidas com a morte. O insulto final veio em dezembro de
167, quando Antíoco ordenou a construção de um altar dedicado a Zeus, dentro do
Templo, e exigiu que os judeus sacrificassem carne suína — obviamente impura, de
acordo com a lei judaica — ao deus dos gregos.” Durante esse período, Menelau e
outros judeus helenizados continuaram em suas posições, oficiando no templo agora
profanado.
Embora muitos judeus aceitassem o helenismo, um novo grupo, autodenominado
hassidins — os pios — incentivava a obediência mais estrita à Lei de Moisés. Revoltado
com os sacerdotes helenizados, o povo cada vez mais tomava o lado dos hassidins.
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Estabeleceu-se uma era de martírio à medida que os judeus, em todo o país, eram
forçados a escolher entre adotar os costumes e sacrifícios pagãos e a morte. Os livros
apócrifos dos Macabeus relatam numerosos episódios de homens, mulheres e crianças
que preferiram morrer a transigir.
B. A REAÇÃO DOS MACABEUS
O extremismo de Antíoco fez muitos judeus lutarem por sua religião. Em
Modi’in, ao noroeste de Jerusalém, perto da moderna cidade de Lode, um sacerdote
chamado Matatias foi convocado ao centro da cidade. Ele era respeitado pelos
habitantes da região e, por isso, o representante do rei tentou convencê-lo a participar
num sacrifício pagão — a fim de salvar sua própria vida e estabelecer um exemplo para
o restante das pessoas da região. Quando Matatias recusou-se a fazer isso, um outro
judeu se apresentou, pronto para transigir. Indignado, Matatias pegou uma arma e o
matou. Atordoados pela reação violenta desse homem idoso, os soldados gregos
demoraram para reagir. Em poucos segundos ele matou também o oficial grego. Os
cinco filhos de Matatias e os habitantes da cidade dominaram as tropas gregas antes que
se pudessem defender.
Matatias gritou: ‘Quem tiver zelo pela Lei, que me siga!’ Para evitar represálias,
ele e seus filhos fugiram para as montanhas. Assim que isso se tornou conhecido, judeus
(incluindo muitos hassidins) se juntaram a eles. Matatias encarregou Judas, seu filho,
das operações militares. Talvez devido à sua bravura militar, Judas foi chamado
Macabeu, significando “martelo”. Matatias e seus filhos foram chamados de asmoneus,
nome derivado da cidade de Hesmom ou de um ancestral que tinha esse nome. (Josué
15:27) Judas Macabeu tornou-se o personagem central durante a rebelião e, por isso, a
família inteira veio a ser chamada de Macabeus.
C. A RETOMADA DO TEMPLO
Durante o primeiro ano da revolta, Matatias e seus filhos conseguiram organizar
um pequeno exército. Em mais de uma ocasião, tropas gregas atacaram grupos de
guerreiros hassidins no sábado. Embora fossem capazes de se defender, não violariam o
sábado. Isso resultou em massacres. Matatias — agora encarado como autoridade
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religiosa — instituiu uma norma permitindo que os judeus se defendessem no sábado.
Essa norma não só deu um novo alento à rebelião, mas também estabeleceu no judaísmo
o precedente de permitir aos líderes religiosos adaptar a lei judaica de acordo com as
circunstâncias. O Talmude reflete essa tendência na declaração posterior: “Deixe-os
profanar um Sábado para que possam santificar muitos Sábados.” — Yoma 85b.
Após a morte de seu idoso pai, Judas Macabeu tornou-se o líder incontestado da
revolta. Percebendo que não conseguiria derrotar seus inimigos numa batalha em campo
aberto, ele desenvolveu novos métodos, semelhantes aos que os guerrilheiros usam
atualmente. Ele atacou os exércitos de Antíoco em regiões onde não poderiam recorrer
aos métodos de defesa a que estavam acostumados. Numa batalha após outra, Judas foi
bem-sucedido em derrotar exércitos tremendamente maiores que o seu.
Por causa das rivalidades internas e do crescente poder de Roma, os governantes
do império selêucida não estavam muito preocupados em aplicar os decretos contra os
judeus. Isso abriu caminho para Judas investir contra os próprios portões de Jerusalém.
Em dezembro de 165 AEC (ou talvez 164 AEC), Judas e suas tropas tomaram o templo,
limparam seus utensílios e o rededicaram — exatamente três anos após sua profanação.
Os judeus comemoram esse evento anualmente durante o Hanucá, a festividade da
dedicação.
D. INTERESSES POLÍTICOS SE SOBREPÕEM À DEVOÇÃO
Os objetivos da revolta tinham sido alcançados. As proibições contra a prática
do judaísmo foram removidas. A adoração e os sacrifícios no templo haviam sido
restaurados. Satisfeitos, os hassidins deixaram o exército de Judas Macabeu e voltaram
para casa. Mas Judas tinha outros planos: por que não usar seu exército bem treinado
para estabelecer um Estado judeu independente? As causas religiosas que
desencadearam a revolta foram agora substituídas por incentivos políticos. Por isso a
luta continuou.
Buscando apoio em sua guerra contra a dominação selêucida, Judas Macabeu fez
um acordo com Roma e, embora tenha sido morto numa batalha em 160 AEC, seus
irmãos continuaram a luta. Jonatã, irmão de Judas, manobrou as coisas para que os
governantes selêucidas concordassem com sua nomeação para o cargo de sumo
sacerdote e governante na Judéia, embora ainda sujeito à soberania deles. Quando
Jonatã foi enganado, capturado e assassinado em resultado de uma trama dos sírios, seu
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irmão Simeão — o último dos irmãos macabeus — assumiu o comando. Sob o governo
de Simeão, os últimos vestígios do domínio selêucida foram removidos (em 141 AEC).
Simeão renovou a aliança com Roma e os líderes judeus o aceitaram como governante e
sumo sacerdote. Dessa maneira, estabeleceu-se nas mãos dos macabeus uma dinastia
asmonéia independente.
Os macabeus restabeleceram a adoração no templo antes da vinda do Messias.
(Note João 1:41, 42; 2:13-17.) Mas a confiança no sacerdócio, já minada por causa do
comportamento dos sacerdotes helenizados, foi ainda mais abalada sob os asmoneus. Na
verdade, o governo exercido por sacerdotes de mentalidade política, em vez de por um
rei da linhagem do fiel Davi, não trouxe verdadeiras bênçãos para o povo judeu. — 2
Samuel 7:16; Salmo 89:3, 4, 35, 36.
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IV. INICIO DA REVOLTA
Com a proibição em 167 a.C. da prática do judaísmo pelo decreto de Antíoco
IV e com a introdução do culto do Zeus Olímpico no Templo de Jerusalém, muitos
judeus que decidem resistir a esta assimilação acabam sendo perseguidos e mortos.
Conforme diz o 1 Macabeus 1:56-64 :
"Quanto aos livros da Torá, os que lhes caíam nas mãos eram rasgados e
lançados ao fogo. Onde quer que se encontrasse, em casa de alguém, um livro
da Aliança ou se alguém se conformasse à Torá, o decreto real o condenava à
morte. Na sua prepotência assim procediam, contra Israel, com todos aqueles
que fossem descobertos, mês por mês, nas cidades. No dia vinte e cinco de cada
mês ofereciam-se sacrifícios no altar levantado por sobre o altar dos
holocaustos. Quanto às mulheres que haviam feito circuncidar seus filhos, eles,
cumprindo o decreto, as executavam com os mesmo filhinhos pendurados a seus
pescoços, e ainda com seus familiares e com aqueles que haviam operado a
circuncisão. Apesar de tudo, muitos em Israel ficaram firmes e se mostraram
irredutíveis em não comerem nada de impuro. Eles aceitaram antes morrer que
contaminar-se com os alimentos e profanar a Aliança sagrada, como de fato
morreram. Foi sobremaneira grande a ira que se abateu sobre Israel".
Entre os judeus que permanecem fiéis à Torá, está o sacerdote Matatias,
chamado de Hasmoneu devido ao nome do patriarca de sua linhagem (Hasmon).
Recusando-se a servir no templo profanado, Matatias se exila com sua família em sua
propriedade em Modin. Matatias tem cinco filhos: João, Simão, Judas, Eleazar e
Jônatas. Convocados para os sacrifícios sacrílegos, Matatias acaba matando o emissário
real e um sacerdote que se propõe a oficiar os sacrifícios. Convoca então os judeus fiéis
à Torá e foge com seus filhos para as montanhas, iniciando o movimento de resistência
contra o domínio estrangeiro, destruindo altares, circuncidando meninos à força e
recuperando a Torá das mãos dos gentios.
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A Revolta dos Macabeus
Um dos períodos menos conhecidos da História Hebraica pelos cristãos é a
Revolta dos Macabeus (aprox. 170-140 AC). Os cristãos não conhecem porque os
protestantes hereticamente acabaram por tirar os dois excelentes livros dos Macabeus de
suas Bíblias. Os católicos não conhecem porque somos terrivelmente relaxados com os
assuntos de Bíblia (aliás, quase em todos os assuntos!). Os judeus conhecem bastante,
celebram anualmente o Chanucá em homenagem a repurificação do Templo por Judas
Macabeu.
Contudo, a Revolta marcou profundamente Israel e a cara do Antigo
Testamento. A sociedade hebraica na época de Jesus está indelevelmente marcada pelos
eventos da época da Revolta. Além de ser o período de transição que prepara a ascensão
romana.
Resumindo, os israelitas haviam voltado do exílio na Babilônia no início do
Império Persa, reconstruindo Jerusalém. Viveram em relativa paz na época persa. Após
as campanhas de Alexandre, o Grande, a Judéia terminou na mão do Império Selêucida
da Ásia. O rei Antíoco IV Epífanes iniciou uma política de helenização forçada da
Judéia não sem uso de força, incluindo a profanação do Templo de Jerusalém e sua
dedicação a Júpiter, o que provocou a Revolta.
A revolta foi bastante sangrenta, com diversas batalhas e trocas de lealdade nas
constantes usurpações e golpes de estado na dinastia dos Selêucidas. Nessa época os
judeus selaram a aliança com os romanos, que vitoriosos na Segunda Guerra Púnica e
na Terceira Guerra Macedônica, começavam a dominar o Mediterrâneo.
Como resultado da revolta, os judeus saíram vencedores, e tiveram sua
independência reconhecida pelo Império Selêucida e o Egito Ptolomaico. Viveram
numa rara independência, governados pela dinastia sacerdotal dos hasmoneus, herdeiros
dos Macabeus... até que Pompeu Magno conquistou a Judéia para o Império Romano.
A luta por manter a identidade nacional contra a helenização forçada explica, na
minha honesta opinião, muita coisa do caráter do judaísmo. Se observarmos Israel pré-
exílio, veremos bastante tolerância com os costumes estrangeiros, especialmente
cananeus e egípcios. Porém depois da revolta é claro o viés nacionalista e religioso que
os judeus tomaram, o que culmina em grupos como os fariseus e zelotes na época
romana.
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Explica-se também a mágoa mortal que os judeus que os sentiam dos romanos.
Como a Palestina é uma convergência estratégica entre Egito, Mesopotâmia, Arábia e
Ásia Menor, o estado de Israel apenas conheceu a independência em época de desordens
dos grandes Impérios. Sempre que um grande Império se estabelecia, a Palestina era
sujeita. O Êxodo se deu no crepúsculo do Novo Império Egípcio, a ascensão da Assíria
destruiu o reino de Israel; da Babilônia, o reino de Judá. A reconstrução de Jerusalém e
seu Templo foi feita sob patrocínio político e financeiro dos imperadores persas, dos
quais ficaram súditos. A independência pós-Macabeus só foi possível com a desordem
dos impérios helenísticos. Teria vida curta, contudo, com a ascensão do Império
Romano, o maior dos impérios (então República). Ainda que a sujeição tenha sido
facilitada pelas próprias guerras civis dos judeus, que recorreram a eles. Porém a época
romana não foi homogênea, Israel teve uma relativa liberdade durante as guerras civis
dos romanos. E depois dos romanos, os Impérios dos árabes e otomanos dominaram a
Palestina. Mesmo o Israel moderno apenas sobrevive pela fraqueza dos países a sua
volta.
Também temos que pensar que a vitória na Revolta dos Macabeus inspirou
certamente as desastrosas rebeliões judaicas na época romana, que custaram muito caro,
com a definitiva destruição do Templo. Antíoco apenas profanou, os romanos
arrasaram. É verdade que o Novo Testamento oferece uma perspectiva sobrenatural à
destruição do Templo, ele não seria mais necessário. Há quem diga que a própria
dinastia dos hasmoneus, isto é, pós-Macabeus, sucumbiu a helenização de que os
macabeus tanto lutaram contra. Uma coisa interessante de se resistir é que o Herodes
Magno, aquele que mandou matar as crianças de Belém, era um rei judeu herdeiro dos
hasmoneus, mas um total vassalo de Roma e um homem totalmente versado nos
costumes de seus senhores latinos.
Outro ponto importante é a ascensão da literatura apocalíptica no Antigo
Testamento, especialmente a profecia de Daniel. Essa profecia de Daniel já deu muito
pano para manga, inclusive às viagens dos Adventistas e sua falsa profetisa e plagiadora
literária Ellen White. A profecia de Daniel tem duas camadas, tanto pode ser encarada
falando da época dos Macabeus quanto da vinda do Cristo. Há biblistas que afirmam
que o livro de Daniel foi escrito exatamente na época dos Macabeus, pois suas profecias
se encaixam com perfeição nos eventos da época (pondo por terra a afirmação de
que não haveriam livros inspirados após o tempo de Esdras).
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A Teologia da Libertação adora a época dos Macabeus. Deliciam-se falando do
povo oprimido lutando contra o Império do Mal. Não duvidem, na boca desses teólogos
Antíoco IV tem a cara do Tio Sam dizendo I WANT YOU FOR THE US ARMY. A
Judéia é a América Latrina para eles, e e o Templo de Jerusalém é o Foro São Paulo.
Há ligações entre o Novo Testamento e o tempo dos Macabeus. A carta aos
Hebreus cita uma passagem das torturas que os judeus sofriam naquela época (as mães
carregando os filhos partidos ao meio). Cristo fala da Abominação da Desolação posta
no Templo. O profeta Daniel também fala dela. E no livro dos Macabeus explica o que
é, o ídolo de Júpiter Olímpico, colocado no Santo dos Santos do Templo. Porém no
Evangelho há a segunda camada profética, a figura da Abominação da Desolação é
reeditada como a profanação do templo pelos soldados romanos, assim como foi quando
da instalação do Júpiter. Não duvido que Deus, vendo todo o tempo, falou prevendo
ambas profanações.
Além de que na época dos Macabeus já se antevêem profeticamente os primeiros
conceitos do Cristianismo, como a ressurreição. Schopenhauer dá uma criticada nos
monoteísmos por assumirem a criação de uma alma imortal do nada, ao contrário da
metempsicose dos orientais. Porém é rigorosamente na época dos Macabeus que esse
conceito da imortalidade da alma e do julgamento no Além surge.
É curioso que tanto a profecia do Apocalipse de Daniel, assim como sua gêmea,
o Apocalipse de São João, falam da destruição do Império Final pelo reino de Deus.
Quando Daniel fala que o Império de Ferro torna-se um misto de ferro e barro que não
se mistura tanto se refere a Alexandre e os reinos helenísticos quanto ao Império
Romano e os reinos europeus. É fato que o Império Selêucida foi ferido de morte,
porém o Império Romano permaneceu firme e forte séculos após a destruição do
Templo e exílio dos judeus.
Voltando ao tema do Império Romano que me é tão caro, acho curioso que
realmente o Império Romano não foi destruído, mas convertido. É como aquelas vespas
que colocam larvas na cabeça dos besouros. As larvas crescem comendo o besouro que
abandonam morto quando chega sua vida adulta (tipo Alien, o oitavo passageiro). Em
certo sentido, se não houvesse a Pax Romana, o Cristianismo não teria conseguido se
espalhar. O Império Romano conquistou e unificou implacavelmente o mundo a sua
volta. Bateu na Igreja Católica como uma massa de pão, quanto mais sovou, mais
cresceu. Por fim, não sem eventos miraculosos (Constantino viu algo sim, não se pode
explicar sua conversão meramente por política, porque o ônus que ele pagou foi muito
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alto), a população do Império quase que completamente converteu-se ao Cristianismo e
tornou-o sua religião oficial com o imperador Teodósio Magno. Quando a larva cristã
da Igreja estava forte, morreu o Império hospedeiro. Morreu? Morreu nada, converteu-
se em nós. Carrego Roma nesta língua que escrevo...
E por ironia do destino, é Roma, a destruidora e profanadora definitiva do
Templo de Deus, a sede da Igreja Católica e a herdeira de todo Antigo Testamento e
contribuição do judaísmo. É Roma que conseguiu finalmente o união com o pensamento
grego que tanto atrito teve na época dos macabeus. Nossa sociedade ocidental se baseia
na matriz Judaico-Grega, um bipolo só unificado pelo Cristianismo bebendo das duas
fontes. Cultural, teológica e filosoficamente a Igreja uniu a divisão de mundos
irremediavelmente conflitada na época dos Macabeus. Em certo sentido, o mundo a
época macabaica não estava preparado para esta união, e nem ela estava sendo conduzia
direito, com a helenização debaixo de porrada de Antíoco. Viva sim os Macabeus!
Essa é minha análise da História dos Macabeus. Realmente vê-se uma dinâmica
da História que me faz ser tentado até por uma abordagem da dialética histórica
hegeliana (Hegel, bah! Viva Schopenhauer!!!). Não é a toa que um dos atributos de
Deus é Senhor da História. Tudo estava nos planos dentro de planos dentro de planos
de Deus...
O Senhor desfaz os planos das nações. E os projetos que os povos se propõe.
Mas os desígnios do Senhor são para sempre.
E os pensamentos que ele traz no coração.
De geração em geração vão perdurar. (Sl 32,10-11)
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V. JUDAS MACABEU
Matatias morre em 166 a.C., e seu filho Judas assume a liderança da resistência.
Judas desenvolve técnicas de guerrilha, que vence as contínuas tropas selêucidas
enviadas. Apesar de alguns explicarem tal como "intervenção divina", Antíoco também
tinha de se preocupar com outras revoltas em seu império. Em 164 a.C., Judas e seus
homens conseguem tomar Jerusalém e rededicar o Templo, no que ficaria conhecida
como a Festa de Chanucá.
"No dia vinte e cinco do nono mês - chamado Casleu - do ano cento e quarenta
e oito, eles se levantaram de manhã cedo e ofereceram um sacrifício, segundo as
prescrições da Lei, sobre o novo altar dos holocaustos que haviam construído.
Exatamente no mês e no dia em que os gentios o tinham profanado, foi o altar
novamente consagrado com cânticos e ao som de cítaras, harpas e címbalos (…)
E Judas, com seus irmãos e toda a assembléia de Israel, estabeleceu que os dias
da dedicação do altar seriam celebrados a seu tempo, cada ano, durante oito
dias, a partir do dia vinte e cinco do mês de Casleu, com júbilo e alegria". (1
Macabeus 4:52-54,59)
Com a morte de Antíoco IV em 164 a.C., a luta de resistência prossegue
contra Antíoco V (164-162 a.C.), seu filho, e o regente Lísias e, a seguir, contra
Demétrio I Sóter (161-150 a.C.).
12
VI. DINASTIA HASMONEIA
Com a morte de Judas, a liderança da família e da revolta contra o Império
Selêucida passa para o seu irmão Jônatas. Jônatas faz vários acordos e alianças com
vários países, como Esparta e inclusive com a potência da época, a República Romana,
para que fosse reconhecida a situação de Israel como nação livre perante o
império selêucida. Jônatas prossegue com a revolta, até que no ano de 153 a.C. ganha o
cargo de sumo sacerdote de Israel por decreto de Alexandre, rei selêucida. Jônatas se
aliara a Alexandre, na tentativa deste de usurpar o trono de Demétrio I Sóter. Quando
Alexandre consegue o trono, ele recompensa Jônatas, a qual permite governar quase que
com total independência a Judéia. Entretanto, o rei sucessor de Alexandre, o rei Antíoco
VI, torna-se hostil aos judeus, o que provoca nova guerra, dessa vez liderada por Simão,
irmão de Jônatas e atual sumo sacerdote.
Por fim, a real independência da Judéia vem no governo de João Hircano I, filho
de Simão, que se tornou sumo sacerdote e foi coroado rei da Judéia. João Hircano ainda
enfrentou uma nova tentativa de invasão do Império Selêucida sob o comando do
rei Antíoco VII. De acordo com a lenda, o rei João Hircano I, abriu o sepulcro do
Rei Davi e de lá retirou três mil talentos, que entregou a Sidetes para que esse poupasse
Jerusalém. Antíoco, então, atacou a Pártia, apoiado pelos judeus, e, por um curto tempo,
recuperou a Mesopotâmia, Babilônia e a região dos Medos, antes de cair em uma
emboscada e ser morto por Fraates II de Pártia. O reino Selêucida, então, se restringiu
à Síria. Com isso a independência da Judéia como um reino independente sob a dinastia
Hasmoneia é assegurada.
Durante o reinado de João Hicarno I e de Alexandre Janeu, há uma expansão do
reino judeu, que incorpora regiões importantes da Palestina,
como Mádaba,Samega, Siquém, Adora, Marisa e a Idumeia. Nesse processo, há uma
ajudaização forçada das populações conquistadas. Por essa época é que surgem os três
grandes partidos políticos da Judéia: Fariseus, Saduceus e os Essênios. As crueldades
cometidas por João Hircano I contra as cidades conquistadas e as populações
forçadamente judaizadas provocam a primeira reação dos Fariseus contra os
governantes Macabeus. A partir deste momento João Hircano I alia-se aos saduceus e
rompe com os fariseus. Durante os próximos reinados, de Alexandre Janeu (104-103
a.c) e de Aristóbulo I (103-76 a.c), os governantes Hasmoneus se apóiam nos Saduceus
contra os Fariseus. Entretanto, durante o reinado da rainha Salomé Alexandra (76-66
13
a.c), há um aproximamento da monarca com o partido Fariseu, em detrimento dos
Saduceus.
VII. DECLÍNIO HASMONEU E A SUBJUGAÇÃO ROMANA
A relativa independência dos judeus termina com a ascensão de Aristóbulo II ao
trono. Seu irmão, João Hircano II, inicia uma guerra civil que termina com a
intervenção do general romano Pompeu no ano de 63 a.C., sob o pretexto de pacificar a
região. Pompeu coloca Hircano II como sumo sacerdote, entretanto lhe retira o título
real e transforma a Judéia em um reino cliente subordinado a um procurador romano.
No ano de 37 a.C., Marco António entrega o trono da Judéia a Herodes, o Grande, um
príncipe idumeu filho do procurador romano, Antipater. Para se legitimar no trono,
Herodes se casa com Mariana, a única filha e herdeira do sumo sacerdote
Hasmoneu Antígono, filho de Hicarno II. Entretanto, com medo de conspirações por
parte da elite judaica e dos seus filhos com Mariana, manda executar a esposa e acusa
seus filhos, Alexandre e Aristóbulo IV de alta traição, que são julgados e executados
em 7 a.C..
VIII. LISTA DE REIS E GOVERNANTES HASMONEUS
Judas Macabeu - 164-160 a.C. - Lidera a sua família e os rebeldes contra
o Império Selêucida.
Jônatas - 160-143 a.C. - Governou como sumo sacerdote.
Simão - 142-134 a.C. - Governou como sumo sacerdote.
João Hircano I - 134-104 a.C.
Aristóbulo I - 104-103 a.C.
Alexandre Janeu - 103-76 a.C. - Primeiro Hasmoneu a tomar o título de rei, além
de sumo sacerdote.
Salomé Alexandra - 76-66 a.C.
Aristóbulo II - 66-63 a.C. - Deposto pelos romanos. Seu irmão, João Hircano II,
foi feito sumo sacerdote em seu lugar.
João Hircano II - 63-40 a.C. - Colocado no governo como sumo sacerdote pelos
romanos.
14
Antígono - 40-37 a.C. - Deposto pelos romanos, foi eleito Herodes, o
Grande como rei da Judéia.
15
BIBLIOGRAFIA
http://pt.wikipedia.org/wiki/Macabeus
http://bibliotecabiblica.blogspot.com.brna revista Notícias de Israel, março de 2005.
16