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PRO
JETO
DE
LEIT
URA
Autor:ZiraldoPoemas:Humberto Ak’abalTítulo:Os Meninos MorenosIlustrador: Ziraldo; Borjalo e telas de Portinari.Formato: 15,5 x 23 cm
No de páginas: 96Elaboração: Sonia Maria Soares dos Reis
Ficha
Gênero: prosa poética/poesia
Palavras-chave: meninos morenos, aldeia, pueblo, cidadezinha, infância
Temas transversais: direitos humanos, pluralidade cultural, saúde
Interdisciplinaridade: Língua Portuguesa, Artes, Ciências, História e Geografi a
Quadro sinóptico
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Ziraldo Alves Pinto nasceu em Caratinga, Minas Gerais. Desde a mais tenra idade, Ziral-do já demonstrava pai-xão pelo desenho. De-senhava em todos os lugares – nas calçadas, nas paredes, na sala de aula... Outra de suas paixões é a leitura. Lia tudo o que lhe caía nas mãos: Viriato Correa, Mon-teiro Lobato e todas as revistas em qua-drinhos da época.A carreira de Ziraldo começou na re-vista Era Uma Vez... Depois, ele tra-balhou em diver sos jornais e re-vistas: Folha de Mi nas, A Cigar-ra, O Cruzeiro, Jornal do Brasil. Ziraldo fez também cartazes para vários fi lmes do cinema brasileiro; por exem-plo, Os Fuzis, Os Mendigos, Selva Trá-gica etc.Por causa da diversidade de sua obra, não é possível limitá-lo apenas às artes gráfi cas. Ele é um artista que tem, ao longo dos anos, desenvolvido várias fa-cetas de seu talento. Ziraldo é cartazis-ta, pintor, jornalista, teatrólogo, char-gista, caricaturista e escritor.Atualmente, sua arte está presente em nosso cotidiano e pode ser identifi cada,
O autorem centenas de camisetas, cartazes da Feira da Providência, selos comemorati-vos do Natal, dos Correios e Telégrafos, campanhas do PNLD etc.Na literatura infantil, o autor estreou com Flicts, publicado em 1969. Com o máximo de cores e o mínimo de pala-vras, nesta obra Ziraldo conta a história de uma cor que não encontrava seu lu-gar no mundo. Já na obra Os Meninos Morenos, publicada em 2003, o diálogo entre a prosa poética de Ziraldo e a poe-sia de Humberto Ak’abal está marcada-mente registrado.
Os Meninos Morenos – Ziraldo
Segundo o próprio Ziraldo, a obra Os Meninos Morenos é uma tentativa de revelar para o mundo quem somos. Para isso, as lembranças da infância de dois meninos cor de terra – um na Gua-temala, outro no Brasil, dois países des-te enorme continente de meninos mo-renos – são reveladas. O menino more-no do Brasil tece a narrativa com pas-sagens de sua avó pescando lagosta e de seu avô que, um dia, lhe explicou a música que a chuva toca (“É a chuva, meu fi lho, tocando sua música”). Esses dizeres do avô marcaram fortemente o
Resenha
>>11anos
INDICAÇÃO:
leitor crítico:
ensinofundamental
a partir de
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– Afi xe na sala de aula um cartaz que contenha a famosa frase de Ziraldo: “Ler é mais importante do que estu-dar”.
– Refl ita com os alunos por que o autor defende a ideia de que ler é mais im-portante do que estudar.
– Faça um levantamento com eles so-bre os benefícios da leitura. O que ela proporciona? Entretenimento, lazer, aquisição de conhecimentos, amplia-ção do horizonte de experiências são algumas possibilidades de resposta.
– Brinque de “Marcha, soldado” com os alunos e, em seguida, leia para eles o poema de Fátima Miguez:
Texto de dimensão profunda, que não se submete à história particular do escritor nem à época delimitada e a espa-ço preciso, atravessa os tempos, apresen-ta-se sempre atual, justifi cando-se como eterno. Este livro confi rma que a arte é uma afi rmação da essencialidade.
personagem; até hoje, toda vez que ouve a chuva tamborilando no telhado, o moreno Ziraldo sente uma enorme sensação de aconchego e segurança. Zi-raldo relembra também o dia em que seu pai decidiu despachar o cachorro Zulu de trem... A imagem do pobre cão chorando como criança, justo Zulu, que sempre fazia festa como quem não sabe o que é guardar rancor... Há, ainda, re-cordações do nascimento de um de seus seis irmãos pelas mãos do avô parteiro; da primeira vez em que seu pai foi ao ci-nema com ele e tantas outras recorda-ções poéticas que preenchem o coração de nosso narrador. Enfi m, Os Meninos Morenos é uma homenagem a várias fi guras importantes da vida do autor – seus pais, seus avós, seu tio João Gual-berto, além de seus amigos Zé Mamo-na, João Permanente, Zé Biscoito, João Bobo e João Barbeiro – todos fi éis habi-tantes da terra dos meninos morenos de sua infância. Ao mesmo tempo, o me-nino moreno da Guatemala empresta alguns de seus belos e sensíveis versos, também relatando trechos de sua infân-cia, para, ao longo do livro, compor a ternura e o brilho do universo “moreno-cêntrico” apresentado por Ziraldo.
Os Meninos Morenos aborda a temá-tica da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena da Lei n.11.645, promulgada em 10 de março de 2008.
Na perspectiva de Roland Barthes, o livro é um mundo. Nessa simples consi-deração, se reconhece a especifi cidade do mundo da arte, garantida pelo escri-tor que cria as suas próprias dimensões, avançando os limites estéticos e sociais convencionais, para transformar a rea-lidade conhecida e transfi gurar a ima-gem do mundo. A arte, nesses termos, é uma ruptura que permite a redesco-berta e reelaboração das coisas que es-tão aí prontas, padronizadas; a ela não se impõem os limites da História e a ré-plica de situações vigentes.
Considerando a defi nição de Julia Kris-teva do texto como um diálogo de có-digos que se produz, simultaneamente, em nível de escritura e leitura, elucida--se a atitude criadora quanto aos rumos que ela possa seguir ao intertextualizar linguagens, experiências etc. A evocação daquilo que o escritor lê, quando escre-ve, transformando o que evoca, pode preencher o espaço do discurso com re-miniscências, fatos lineares, descritivis-mo de paisagens e situações que o em-pobrecem pela ênfase especular. Como pode, também, ir além da fi xação da fo-tografi a de dados realistas ou pessoais para transgredir a reprodução pela tes-situra de um universo simbólico. É nessa segunda situação que inserimos a obra Os Meninos Morenos, do escritor Ziral-do, com versos de Humberto Ak’abal.
o poema de Fátima Miguez:
“A infância avança/ de espada na mão.../ Na liderança,/ um menino-capi-tão/ abre o desfi le/ com seu cavalo-in-venção/ soltando as rédeas/ da diverti-da fantasia/ de soldado-folião!/ O cor-neteiro anuncia/ a harmonia da festa,/ o ritmo empresta/ uma marcha marcial./
i d l d hConversa com o professor
Preparando a leitura
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O momento da sensibilizaçãoSugerimos que instigue seus alunos,
apresentando alguns textos variados de Humberto Ak’abal e fragmentos do tex-to em prosa de Ziraldo, como os que se-guem. Deixe que eles conversem livre-mente sobre as impressões que tiveram.
Trabalhando a leitura
“Quando nasci, as cidades de minha infância eram exatos pueblos. E tinham rios. Mais belos do que o Tejo. Era bo-nito, ainda que mortal, o pequeno rio da minha primeira aldeia, o lugar onde nasci.” (p. 10)
“Mi pueblo é grande. É preciso esfregarSua terra nas mãos,Sentir-se árvore entre bosques,Reverenciar seus rituais...” (p. 7)
“Mamãe dizia que ele era puri. Na re-gião do Brasil de onde eu vim, o Vale do Rio Doce, havia dois grupos indígenas que foram dizimados pelo colonizador: os coroados e os puris. Na minha infân-cia mais remota, vivendo ainda às mar-gens do grande rio, lembro-me de que descendentes dos puris, às vezes, apare-ciam na rua – como as populações rurais chamavam o povoado – vendendo arte-sanato, cestas, tacapes, fl echas, enfeites de pena, artefatos de barro.” (p. 44)
É tempo de carnaval!/ ”Marcha, solda-do,/ cabeça de papel!Quem não marchar direito/ vai preso pro quartel.”/ Marcham meninos/ cumprindo seus destinos,/ na valente brincadeira de soldados libertos/ pela alegria passageira./ Mesmo descal-ços,/ o sonho calça/ a carência do dia a dia/ em três dias de folia.”
(Fátima Miguez)
– Depois, localize no livro Os Meninos Morenos alguns fragmentos que tra-zem o mesmo tema: as cantigas e as brincadeiras infantis.
“De barata a gente não gostou nun-ca. Mas os besouros, estes eram nossos amigos.
Primeiro era fácil brincar de boizinho com os besouros que a gente pegava caídos ao pé do poste, nas noites de ve-rão. Com uma linha amarrávamos uma caixa de fósforos no seu dorso e fazía-mos com que ele a puxasse como se fosse um burrinho de carga...” (p. 50)
“O canto dos pássaros está bem escrito, qualquer um pode senti-lo.” (p. 94)
Antecipe aos alunos que o livro que vão ler trata das lembranças infantis dos meninos morenos Ziraldo, brasileiro, mi-neiro do Vale do Rio Doce, e Humberto Ak’abal, guatemalteco, do povo indígena maya k’iche.
Após a leitura dos fragmentos acima, indague sobre as afi nidades entre os dois meninos artistas: o fato de ambos serem americanos (sul e central), a miscigena-ção nacional, as memórias da infância...
Localize a Guatemala no mapa: o que ha-veria em comum entre os dois países? >>
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Outras atividades de sensibilização podem aguçar a curiosidade dos leito-res. Veja sugestões:
• Leve para a sala de aula fotos dos dois artistas e mostre aos alunos. Apresen-te, ainda, outros livros de Ziraldo para que eles possam folheá-los.
• Chame a atenção para alguns títulos e capas dos livros de Ziraldo: O Menino Maluquinho, O Menino Quadradinho, O Menino Mais Bonito do Mundo, O Menino da Lua... Quantos meninos! Converse sobre “a presença do meni-no” na narrativa de Ziraldo.
• Finalmente, proponha uma sessão de cinema para os alunos com o fi lme O Menino Maluquinho, produzido em 1995. Converse com os alunos sobre a adaptação do texto de Ziraldo feita por Helvécio Ratton para a arte cine-matográfi ca.
Primeira etapa do trabalho: da lei-tura semântica
Embora pertença ao universo da cultu-ra infantil, com elementos lúdicos (brin-cadeiras, cantigas, jogos), o livro Os Me-ninos Morenos extrapola esse universo: faz dialogar diferentes artistas e poetas de séculos diferentes, de lugares dife-rentes. Nele estão presentes elementos das culturas brasileira, portuguesa, gua-temalteca... Assim, o livro oferece opor-tunidade para percebermos a história dos meninos morenos sob vários pon-tos de vista: – No início do livro, o escritor reproduz
um poema de Humberto Ak’abal, tor-nando evidente a intenção de dar ao texto e às suas reminiscências sentido poético, predispondo o leitor a uma leitura sensível, que ultrapassa o limite da expressão comum, puramente in-formativa, e da narração de fatos de dimensão mais objetiva. O resultado é uma obra reveladora de um estado poético, decorrente da pureza da alma e da espontaneidade do ser livre.
Os meninos morenos, que estão em qualquer tempo e espaço, são coloca-dos numa relação direta com elementos da natureza – o riozinho, a chuva (tam-borilando no telhado), o ar, o vento e os pássaros – elementos de sentido me-
“A chuva era muito forte, mas meu avô estava protegido por sua enorme capa gaúcha, que cobria, também, o dorso do animal que ele montava: con-tra a luz dos raios, a silhueta que se de-senhava parecia ser a de um só animal.
Acomodado sobre a cabeça do arreio, na altura dos meus três anos, eu ia en-colhidinho sob a capa que cobria o avô e o cavalo. Ia ouvindo o tamborilar da chuva caindo sobre a grossa gabardine de que a capa era feita. Paciente, o avô explicava ao menino curioso: ‘É a chuva, meu fi lho, tocando sua música’. Sua voz parecia vir do céu, lá fora.” (p. 13)
Explorando a leiturataforicamente poético, igualando-se ao estado natural, bruto, misterioso e ilimi-tado da realidade, onde existe poesia.
O escritor explora o relacionamento poético dos meninos morenos com coi-sas miúdas e com a natureza, envolve-se nesse processo de captação da atitude in-fantil, reassumindo a relação primeira, ori-ginária, mítica e poética da criança com o mundo. Ele concilia o adulto, amadureci-do para o seu intento criador, com o me-nino, mergulhado na magia da infância:
“O Jarinho falava com os animais. Ao lado das plantas de seu pai, no seu quin-
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Atividade práticaO narrador-personagem é um meni-
no com uma história particular, vivida ao lado de seu pai, Geraldo; sua mãe, Zizinha; avô, avó, irmãos; entretanto, o texto imprime a essa história um caráter universal. Ele é uma criança que experi-menta a vida com toda a liberdade da infância, descobre e cria coisas insólitas, entende o mundo no dinamismo do seu crescimento em diferentes estágios (p. 22 – o menino tem 6 anos), adentran-do a realidade a cada momento com mais profundidade. Tem espírito curio-so e sensível, é observador, manifestan-do, por meio do desenho, a sua índo-le inventiva, pronta para o inesperado e para a transformação do esperado.
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tal, havia um pequeno jardim zoológico que me matava de inveja (...).
Principalmente, o Jarinho tinha passa-rinhos nas inúmeras gaiolas penduradas na grande varanda dos fundos, na sala da casa, nas janelas.
Sua casa era uma sinfonia, e Jarinho imitava os cantares de todos os seus passarinhos.” (p. 45)
• Estimule os alunos a pensar sobre a vida deles mesmos. Seus alunos são de cidade do interior? A cidade é um grande centro urbano ou não? Do que eles brincam? Onde brincam? Depois, incentive-os a fa-zer uma comparação da infância dos ga-rotos do interior com a dos garotos dos grandes centros urbanos: como vivem e o que gostam de fazer? Quais os hábitos e costumes das crianças que vivem em ou-tros países como Portugal e Guatemala?
• Explique aos alunos que os historiado-res estudam documentos e todo tipo de pista deixada pelas pessoas. Depois, em livros e exposições, expõem o signifi cado dessas pistas, para que também possa-
mos conhecer a História. Proponha aos alunos que eles sejam “historiadores” e pesquisem como vivem os garotos de Portugal, na região do Tejo, e como vi-vem os garotos da Guatemala. Eles vão refl etir sobre os modos de vida em di-ferentes épocas e lugares: como se ves-tem, o que comem, como se divertem, como são suas casas e suas famílias. A vida dessas crianças é muito diferente da vida do menino do Vale do Rio Doce?
• Monte um grande painel com mapas desses lugares e fotos ou desenhos de crianças em seu dia a dia, em seus res-pectivos países.
Geografi a e História
Artes e Língua Portuguesa
• Dê oportunidade de a criança se colocar na própria sala de aula e relatar suas ex-periências. Para isso, ela pode usar brin-quedos, brincadeiras, jogos, fotografi as, relatos por escrito sobre sua família: avô, pai, mãe, irmãos etc.
• Proponha aos alunos que contem a “His-tória de sua vida” por meio de:
n-s, ô,
p
– textos em versos;– desenhos das recordações mais
importantes;– relatos memorialísticos;– colagens de lugares, cenas;– álbuns de fotografi as.
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Artes e Língua PortuguesaBrinquedos e brincadeiras existem há muitos e muitos anos. Não sabemos quem os in-
ventou, só sabemos que eles são até hoje transmitidos por meio da cultura popular, de boca em boca, de pai para fi lho, em todos os lugares de nosso planeta.
Criar brinquedos e brincadeiras é uma tarefa interessante e divertida: cada brinquedo pode apresentar uma forma, um tamanho, uma cor diferente... de acordo com a imagi-nação de quem o constrói.
Ziraldo conta no seu livro Os Meninos Morenos que o seu negócio era fi car desenhan-do (p. 72), enquanto todos os seus amigos faziam seus brinquedos (carrinho de rolimã, pião, pipas, gaiola etc.) e desenvolviam brincadeiras (soltar papagaio, jogar bola de gude, rodar pião, pegar passarinho etc.).
• Divida a turma em dois grupos. O gru-po 1 fi cará encarregado de confeccionar brinquedos folclóricos com sucata – ma-deira, latas, garrafas etc. E seus compo-nentes poderão contar com a participa-ção de pessoas da família/comunidade para orientá-los. O grupo 2 deverá re-colher as cantigas e brincadeiras popu-lares (não só brasileiras, mas também de outros povos). Você, professor, poderá
colaborar trazendo gravuras e fotos de brinquedos populares para ajudá-los em suas criações artísticas.
• Organize, com os brinquedos confeccio-nados, uma exposição para ser vista por toda a comunidade escolar. Durante o evento cultural, as cantigas e brincadei-ras pesquisadas devem ser compartilha-das com o público.
Segunda etapa do trabalho: da lin-guagem visual
A propensão para o jogo e para o ima-ginário é tipicamente da criança e viabi-liza ao escritor, por meio da recupera-ção da potencialidade lúdica do mun-do infantil, atingir o plano poético na sua criação: a sua linguagem sensível é fértil de signifi cações metafóricas e de construções que se apoiam na explora-ção sonora e gráfi co-visual. No livro Os Meninos Morenos, a comunicação se faz de forma plástica, ampla, por meio de signifi cações contidas na forma, na cor, na disposição da palavra no espaço em branco entre um fragmento e outro. Chame a atenção do aluno para:ç p
– o uso de capitulares;– as belíssimas e sugestivas vinhetas;– os diferentes tipos de letra utiliza-dos no diálogo entre texto em verso e texto em prosa;– o emprego dos recursos gráfi cos (p. 46-47/64);– o diálogo com outras artes.
Educação Físicaç
• Professor, para envolver os alunos, você pode organizar suas aulas em eventos como: “Hoje é dia dos brinquedos...”; “Hoje é dia das brincadeiras...”; “Hoje é dia de sessão de fi lmes...”. E, sempre que
possível, estabeleça comparações entre o universo das experiências infantis dos participantes e o dos meninos morenos de Ziraldo.
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Atividade práticaA arte tem muitos segredos. Para desvendá-los, temos de aprender a observar o mundo
à nossa volta como se fosse a primeira vez que fi zéssemos isso. É preciso aguçar os sen-tidos; não só a visão, mas também o tato, o paladar, o olfato e a audição.
Também é preciso conhecer a arte e os artistas, ver as reproduções de obras em livros e revistas e ler poemas e narrativas. É interessante ler, também, o que dizem os críticos a respeito dos artistas e de suas respectivas obras.
Artes e Língua Portuguesa
• Organize uma aula em que os alunos tenham a oportunidade de apreciar os mais diversos objetos (caixinhas, balan-gandãs, desenhos, lenços, instrumentos musicais, carrinhos, bonecas, fotogra-fi as, selos etc.). Coloque esses objetos em uma grande caixa no centro da sala, reúna a turma e peça a todos que ob-servem os objetos ali colocados. Depois, peça que cada um retire da caixa o obje-to que mais lhe agrada. Estabeleça com os alunos uma conversa sobre a escolha feita por eles: o que (cor, textura, for-ma, tema etc.) o levou a escolher aquele objeto e não outro? Mostre a eles que nós estabelecemos relações com tudo o que nos cerca por meio de laços afetivos, sensações, referências.
• Traga um cartaz com uma paisagem, uma cena ou um conjunto de objetos que te-nha correspondência com os da história de Os Meninos Morenos. Peça à turma que o observe bem, a fi m de memorizar.
Escolha um aluno que, depois de obser-var o cartaz, fi que na frente da turma, de costas para o cartaz, descrevendo-o de acordo com o que fi cou registrado em sua memória.
• O próximo passo é fornecer histórias em quadrinhos aos alunos. Peça que ob-servem as cores usadas nos quadrinhos (elas se repetem ou não?), os recursos gráfi cos, os tipos de balão (fala, de li-nhas quebradas, uníssono, cochicho, re-tangular etc.), a paginação e o que eles expressam. Em seguida, discuta com os alunos a frase:
“(...) o verdadeiro artista não pode vi-ver sem sua forma de expressão”.
• Informe aos alunos que, em outubro
de 1960, a empresa gráfi ca O Cruzeiro passou a publicar uma revista de quadri-nhos genuinamente brasileira. Tratava--se de O Pererê, criação de Ziraldo Alves Pinto, que enfocava uma fi gura bastante
conhecida de nosso folclore, o Saci--Pererê.
• Convide os alunos a fazer uma relei-tura, por meio de desenhos, dos per-sonagens da Turma do Pererê.
Com o livro Os Meninos Morenos, po-demos constatar a forma de expressão de Ziraldo. Então:
• Convide seus alunos a observar as ilustrações do livro e o projeto gráfi co. Há todo um cuidado, toda uma arte na composição do texto de Ziraldo. O projeto gráfi co é variado, cada pá-gina parece ter um desenho próprio (verifi que os detalhes, admire os tons das cores, descubra os traçados).
• Organize uma seleção de livros ilustra-dos por Ziraldo. Apresente-os aos alu-nos, comentando o uso de recursos expressivos da linguagem visual. Cha-me a atenção para o “estilo” de Ziral-do. Compare os livros. Organize uma exposição na sala ou no pátio. Peça aos alunos que escolham uma ima-gem/cena e, individualmente, façam, por escrito, uma pequena descrição da “imagem” escolhida e do estilo do artista. Coloque os textos correspon-dentes ao lado de cada desenho para que todos possam ler.
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Terceira etapa do trabalho: da leitura intertextualEm termos menos específi cos, a intertextualidade signifi ca um diálogo entre textos,
porque quem escreve deixa afl orar, de forma intencional, certas experiências, e outras afl oram inconscientemente; em outras palavras, aquilo tudo que foi lido e recolhido e, portanto, faz parte do universo do autor, é transformado no momento da produção do texto.
O escritor, ao escrever, lê experiências, vivências de âmbito particular, revê a realidade existencial, sociocultural e histórica e textos de outros autores que são convenientes a sua escritura.
Retomando a leitura do texto Os Meninos Morenos, observamos que o discurso de Ziraldo se estrutura sobre o diálogo da narrativa com a poesia, transgredindo o limite do gênero literário puro. Além do diálogo da narrativa com a poesia, no livro cruzam--se também:
Atividade práticaA leitura do livro permite a interpre-
tação de várias realidades (Fernando Pessoa – Portugal/Aldeia; Humberto Ak’a bal – Guatemala/Pueblo; e Ziraldo – Minas Gerais/cidadezinha) e determina associações que condicionam leituras variadas, detectáveis, ora em termos de semelhanças entre tais realidades, ora de oposições. Assim, o escritor lê a própria vida e a de todos os seus irmãos, meni-nos morenos, no seu transcurso simples e, ao mesmo tempo, profundo, imbri-cando a realidade simbólica do menino, principiante – aprendiz na trajetória da vida.
Nessa trajetória, os olhares dos artistas se cruzam. Ziraldo, Humberto Ak’abal e Portinari reconhecem diferentes formas de injustiça social contra os meninos morenos e, também, contra os homens americanos. Portanto, oferecer suas obras aos alunos é uma forma de sensi-bilizá-los para questões que demandam solidariedade:
“A Lua busca algum buraquinho nas casas de pau a pique, entra e se senta no chão.” (p. 56) >>
se também:
– cantiga popular: Meu pai foi menino de origem muito humilde, pobre, pobre, pobre, de marré, marré, marré. (p. 34);
– fotografi as: (p. 88-89); – documentos ofi ciais: auto de cartório
(p. 34);– citações de marchinha de carnaval:
Meu periquitinho verde, tire a sorte, por favor..., de Nássara e Sá Roriz (p. 16);
– epígrafe: Eu também já fui brasileiro, / moreno como vocês, de Carlos Drummond de Andrade (abertura do livro, p. 4);
– telas de Portinari: Café, 1935 (p. 30); e Brodowski, 1958 (p. 84-85);
– desenho de Portinari: Menino, 1950 (p. 55);
– Hino da Marinha: Qual cisne branco/ que em noites de lua/ vai navegando no lago imenso... (p. 24);
– paráfrase da “Canção do exílio”, de Gonçalves Dias: Pois é: minha terra ti-nha palmeiras onde, em vez de sabiá, cantava o melro. E, como a gente chegava muito cedo para a aula, os melros ainda estavam cantando a sua canção matinal. Era como se estivessem saudando os me-ninos morenos, que também chegavam em bando para a escola. (p. 45);
– ilustração de Borjalo: cartum (p. 79);– texto de Fernando Pessoa: O Tejo é
mais belo que o rio que corre pela mi-nha aldeia./ Mas o Tejo não é mais belo que o rio/ que corre pela minha aldeia./ Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia. (p. 10);
– canção: pauta de Sérgio Ricardo para o tema da fi ta Deusa de Joba (p. 86);
– citação: nomes de fi lmes e heróis (p. 83-84). >>
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“João Permanente morava num bar-raco miserável, de pau a pique e sapé (...)”. (p. 56)
“Os meninos morenos daqueles dias morriam muito: por causa da água ou por falta de água. As doenças que os matavam eram provocadas pelos ver-mes que habitavam o rio de muito pou-ca água (...). Ou eram causadas pela de-sidratação dos recém-nascidos, por fal-ta de informação das populações po-bres dos cantos de rua.” (p. 60)
Artes, Filosofi a e Geografi a
• Converse com os alunos sobre a “Declaração Universal dos Direitos Humanos” (aprovada pela Assem-bleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948) e “Os Di-reitos da Criança” (Declaração pro-clamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20 de novembro de 1959). Leia alguns fragmentos do documento e questione se esses di-reitos têm sido respeitados.
– “Todos os homens nascem livres. To-dos os homens nascem iguais e têm, portanto, os mesmos direitos.”
– “Todas as crianças têm o direito de crescer protegidas, queridas e bem tratadas. Como as plantinhas de que a gente cuida com amor e carinho para que cresçam bonitas e viçosas!”
– “Mesmo sendo muito diferentes umas das outras e morando em luga-res também muito diferentes, todas as crianças têm o direito de ir à escola para aprender. E o direito de brincar, brincar bastante, para crescerem pes-soas bem felizes.”
• Leve para a escola reproduções de te-las de Cândido Portinari (sugestões: a série Os Retirantes e telas de crian-ças de Brodósqui: Meninos Soltando Pipa, 1943; Futebol, 1935 e outras) para que os alunos observem as emo-ções que as telas suscitam. Como o artista retrata o seu povo, a sua gen-te? Quem são as pessoas retratadas? Como vivem? A sociedade e as au-toridades públicas dispensam os cui-dados devidos às crianças, às suas fa-mílias?
• Procure informações sobre algum programa de melhoria no padrão de vida das pessoas mais pobres de seu
município (nas áreas de educação, saúde, habitação, transporte ou mes-mo na oferta de alimentos ou criação de empregos). Elabore um boletim informativo com as informações obti-das. Associe os artigos do boletim com imagens de Portinari e com trechos da “Declaração Universal dos Direitos Humanos”.
• Selecione poemas de Humberto Ak’abal e fragmentos do livro Os Meninos Mo-renos que dialoguem com as telas de Portinari, com a “Declaração Universal dos Direitos Humanos” e com os “Di-reitos da Criança”. Organize um painel com as telas de Portinari na sala de aula ou no pátio, associando o texto verbal ao texto pictórico por meio de aproxi-mação dos temas.
QUER SABER MAIS?Para um trabalho mais aprofundado
sobre a obra de Ziraldo e sobre as pro-postas pedagógicas, consulte os termos técnicos de leitura visual e a bibliografi a sugerida.
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Pequeno glossário
Capitular é a letra que inicia um capí-tulo ou poema. Pode ser do mesmo tipo usado no texto, em tamanho maior, em negrito ou itálico; ou de tipo diferente; ser ornamentada ou acompanhada por um desenho relativo ao texto.
Ilustração é toda imagem que acom-panha um texto. Pode ser um desenho, uma pintura, uma fotografi a, um gráfi -co etc.
Projeto gráfi co é o planejamento de qualquer impresso: cartaz, embalagem, folheto, jornal, revista etc. No caso do li-vro, o projeto gráfi co abrange: formato, número de páginas, tipo de papel, tipo e tamanho das letras, mancha (a par-te impressa da página, por oposição às margens), diagramação, encadernação (capa dura, brochura etc.), tipo de im-pressão etc.
Vinheta é uma ilustração pequena, até cerca de um quarto do tamanho da página. Pequena estampa ou fi gura que se coloca no princípio de um livro, inter-calada no texto, no princípio ou no fi m de qualquer divisão ou subdivisão dele. Do francês vignette, “pequena vinha”, esses ornamentos representavam, na
origem, cachos e folhas da videira, sím-bolo da abundância.
Bibliografi a básicaARNHEIM, R. Arte e Percepção Visual
– Uma psicologia da visão criadora. São Paulo: Pioneira. USP, 1980.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Cria-ção Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
CAMARGO, Luís. Ilustração do Livro Infantil. Belo Horizonte: Lê, 1995.
READ, H. Educação pela Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1977.
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Metodologia da InterpretaçãoVivemos em uma sociedade grafocêntrica, embora se saiba que essa posição conferida à palavra escrita não signifi ca exclusividade; não só porque há culturas que dela prescindem, mas também porque, na atualidade, confere-se à imagem uma nova dimensão. Mas isso não impede que nos aproximemos da escrita informativa ou poética – com certo respeito.Com o objetivo de possibilitar a constru-ção da compreensão de diferentes textos, que abordam dos fatos mais simples aos mais complexos, dos mais concretos aos mais abstratos, valemo-nos da metodolo-gia dos três olhares – Metodologia da In-terpretação para auxiliar o ato da leitura. Essa metodologia tem sido vista como uma unidade tripartida em compreensão, inter-pretação e aplicação.
Assim, o primeiro momento, o da compre-ensão, quando se faz o primeiro contato com o texto e a apreensão dos seus refe-renciais, corresponderia ao nosso nível de leitura literal, no qual o aluno deverá reco-nhecer os elementos da superfície do texto, como personagens, espaço, tempo. Para isso, faz-se necessário, evidentemente, ter domínio do código da língua portuguesa.
O segundo momento, o da interpretação, quando o aluno, pelo exercício da herme-nêutica, dialoga com o texto, dá-se pela concretização de uma leitura mais apura-da, tendo por base o horizonte de expec-tativa da primeira leitura. Esse momento corresponde, para nós, ao nível da leitura
contextualizada, no qual o aluno deverá interpretar o texto narrativo.
O terceiro momento, o da aplicação, for-mado pelos dois precedentes, é o da re-cepção efetiva do texto, quando há forma-ção de julgamento estético e, com ele, a atualização do texto. Esse momento abar-ca dois níveis de leitura: o nível da leitura crítica, no qual o aluno deverá apreender o discurso temático e ampliar o seu hori-zonte de expectativa, dialogando com ou-tros textos, formadores de sua história de leituras e que abordem o mesmo tema, e o nível da metaleitura, no qual o aluno de-verá ter o domínio do conhecimento, pela apropriação do discurso metalinguístico.
Conceitos e teoria dessa metodologia po-dem ser aplicados à leitura do texto verbal e não verbal, uma vez que ela admite a inter-textualidade e a interdisciplinaridade; enfi m, o dialogismo entre textos de áreas diferen-tes, mas de conteúdos complementares.
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MOMENTOS DO OLHAR
1o MOMENTOOlhar receptivo
2o MOMENTOOlhar mediador
3o MOMENTOOlhar ativo
O que acontece Encontro do leitor com um mundo que não conhece
Encontro do leitor com o mundo signifi cativo
Encontro do leitor com o mundo
novo que agora conhece
O que faz
Uma leitura que apanha os elementos signifi cativos,
sinais, referentes
Uma leitura de diálogo com o texto, por meio
da pergunta e da resposta
Uma leitura de cruzamento do ver e do sentir, do exterior e do interior, ou seja,
cruzar experiências
Como faz Olha e vê Olha, vê, interroga e busca
Olha, encontra, associa, reúne,
interioriza, vê e lê
O que importa
Reconhecer os elementos signifi cativos,
sinais, referentes
O exame da realidade
representada, por meio do
questionamento da busca dos porquês, causas e motivos
A integração do novo que se vê e do antigo que é a experiência
do já visto, fusão de horizontes, ampliação de conhecimento
O que resultaCompreensão
VER-POR--CONHECER
InterpretaçãoVER-E-PENSAR
AplicaçãoVER-PENSAR-LER
Bibliografi a:
JAUSS, H. R. A História da Literatura como Provocação à Teoria Literária. São Paulo: Ática, 1994.LONTRA, Hilda Orquídea Hartmann (org.) Leitura e Literatura Infantil - Questão do ser, do fazer e do sentir. Ofi cina Editorial do Ins-tituto de Letras da UnB: FINATEC, 2000.ZILBERMAN, Regina (org.). Leitura - Pers-pectivas interdisciplinares. São Paulo: Ática, 1988.
Método dos três olhares à luz da estética da recepção apresentado no quadro a seguir:
Este projeto de leitura está com a Nova Ortografi a conforme o Acordo Ortográfi co da Língua Protuguesa.